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Psicologia em Revista

versão impressa ISSN 1677-1168

Psicol. rev. (Belo Horizonte) vol.25 no.1 Belo Horizonte jan./abr. 2019

http://dx.doi.org/10.5752/P.1678-9563.2019v25n1p239-257 

ARTIGOS

DOI - 10.5752/P.1678-9563.2019v25n1p239-257

 

Quando morre o animal de estimação: um estudo sobre luto

 

When a pet dies: a study about mourning

 

Cuando muere el pet: un estudio de luto

 

 

Márcia Núbia Fonseca Vieira*

 

 


Resumo

Este escrito resultou de pesquisa realizada com pessoas que perderam seus animais de estimação em decorrência de morte. A sua realização teve como objetivo a compreensão do processo de enfrentamento do luto vivenciado por essas pessoas, ao experimentarem as perdas dos seus animais de estimação. Para isso, valeu-se do enfoque qualitativo, empregandose entrevistas semiestruturadas, e recorreu-se a fundamentos da teoria do apego, de John Bowlby, e das tarefas do luto, de W. Worden, para a análise dos dados colhidos. Com base nessas referências, foi possível concluir que os participantes da pesquisa estabeleceram fortes vínculos de apego com seus animais de estimação, bastante semelhantes àqueles construídos com seres humanos. Pode-se concluir que, devido a essas fortes vinculações, nas quais foram depositadas intensas expectativas de ordem afetiva, todos os processos de luto vivenciados por essas pessoas apresentaram características semelhantes àquelas presentes em processos de luto decorrentes da perda de pessoas significativas.

Palavras-chave: Luto. Apego. Animais de estimação. Luto não autorizado.


Abstract

This study is the result of a survey carried out among people whose pets had died. The objective was to understand the process of facing the loss of their pets. A qualitative approach with semi-structured interviews, applying some fundamentals from John Bowlby’s attachment theory and W. Worden’s mourning tasks were tools used for the analysis of the collected data. According to these references, it was possible to conclude that the survey participants established strong attachment bonds with their pets, quite similar to those present in human beings. It can be concluded that, due to these strong attachments in which intense expectations of affective nature were filled, all the processes of grief that were experienced by the subjects had the similar characteristics to those presented in the mourning processes arising from the loss of meaningful people.

Keywords: Mourning. Attachment. Pets. Not allowed mourning.


Resumen

Este trabajo trata de un estudio sobre las personas que han perdido sus mascotas debido a la muerte. Tiene como objetivo comprender el proceso del duelo vivido por estas personas. Para esto, fue utilizado el enfoque cualitativo, mediante entrevistas semiestructuradas, y se recurrió a los fundamentos de la teoría del apego de John Bowlby y del proceso del duelo y sus tareas de W. Worden para el análisis de los datos recolectados. A partir de estas referencias, se concluye que los participantes de la investigación establecen vínculos afectivos con sus animales domésticos bastante similares a los construidos con los seres humanos. Debido a estos vínculos fuertes, en el que se depositan las expectativas de intensas relaciones afectivas, los procesos de duelo que experimentan estas personas tienen características similares a aquellos que resultan de la pérdida de personas significativas.

Palabras clave: Duelo. Apego. Mascotas. El duelo no autorizado.

1 INTRODUÇÃO

Nos centros urbanos das sociedades contemporâneas, é possível constatar a existência de um número cada vez maior de animais de estimação, principalmente de cães e gatos, em lares de todas as classes sociais (Archer, 1997).

De acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação ("Abinpet", 2014), a população mundial de animais de estimação, em 2012, era de 1,51 bilhão. Desse total, 288,2 milhões encontravamse na China, que ocupava o primeiro lugar entre os países com a maior população de animais de estimação. Os Estados Unidos e o Reino Unido ocupavam o segundo e terceiros lugares, respectivamente. No quadro geral, o Brasil estava em quarto lugar, desde 2008, com 106,2 milhões.

Apesar de muito antiga, a interação entre homem e animais de estimação vem sofrendo intensas modificações e adquirindo características bastante peculiares em nossa época. Se, anteriormente, os animais moravam nos quintais das casas e se alimentavam das sobras, ocupam, hoje, os interiores dos lares, como o quarto do dono ou a sala de televisão, e desfrutam de alimentação especial e de cuidados médicos. Outro aspecto bastante interessante é que se antes os animais eram adotados por razões utilitárias e práticas, hoje os motivos para tê-los são bem diferentes. Entre eles podem-se destacar: a existência de menos contatos sociais e a solidão das grandes cidades; a busca de prazer no vínculo com outro ser vivo (Archer, 1997); a busca de senso de segurança, de entretenimento e companhia; e o desejo veemente de contato, de comportamento protetor e de troca emocional (Delarissa, 2003).

Muitas vezes, ainda, os animais se tornam substitutos de crianças. Dessa maneira, os animais de estimação acabam por desempenhar diversos papéis na vida dos seres humanos e tornam-se depositários de diferentes expectativas da ordem do afetivo e do simbólico (Faraco, 2008).

É importante destacar que o vínculo homem-animal de estimação traz inúmeros benefícios para o ser humano; entre eles, podemos citar a diminuição dos fatores de risco para doenças cardíacas, como o aumento da pressão arterial e da glicose no sangue, e o favorecimento do exercício de atividades físicas que ocorrem pelo simples fato de levar o animal para caminhar (Lynch, 2006, Zasloof, 1996, citados por Gómez, Atehortúa, & Orozco, 2007). Além de se tornarem companheiros incondicionais nos momentos de tristeza, estresse, dor e isolamento social, os animais de estimação facilitam a integração entre as pessoas e, por conseguinte, atenuam os sentimentos de solidão (Lynch, 2006, citado por Gómez et al., 2007).

Contudo convém lembrar que todos esses efeitos benéficos à saúde estão diretamente relacionados ao apego que o indivíduo tem com o animal, uma vez que meramente ter um animal de estimação não exerce todos esses impactos positivos sobre a saúde de um ser humano (Martins et al., 2013).

A fim de entender a interação afetiva do ser humano com o animal de estimação e o consequente impacto emocional advindo do rompimento ou da perda do vínculo, faz-se necessário compreender o significado do apego na perspectiva de Bowlby (2004a; 2004b).

De acordo com a teoria do apego de Bowlby, nascemos com tendência a construir fortes vínculos afetivos com determinadas pessoas, principalmente com aquelas que cuidam de nós nos primeiros anos de vida. Recorrendo a diversos paradigmas teóricos, entre eles a etologia, Bowlby concluiu que bebês humanos, assim como outros mamíferos, são biologicamente programados para manifestar determinados comportamentos que objetivam despertar e manter a proximidade do cuidador, entre eles chamar, agarrar-se e chorar. Isso ocorre, principalmente, em momentos de cansaço, fome e estresse, que demandam por maior atenção e cuidados. Além desses comportamentos a que Bowlby denominou de comportamentos de apego, os estudos do etólogo austríaco Konrad Lorenz (1903-1989) mostraram que o bebê também nasce com determinadas características físicas que são mecanismos inatos liberadores de afeto e de cuidado em adultos, de modo que há um impulso biológico para cuidar e proteger. Bowlby concluiu, então, que o apego ocorre tanto no cuidador principal quanto na criança, sendo que ao cuidador cabe cuidar e proteger, e à criança buscar por segurança e proteção.

O apego pode ser definido, portanto, como uma tendência dos seres humanos a desenvolver e manter ligações com pessoas específicas, cumprindo uma função biológica que é a sobrevivência da espécie. Muito embora se iniciem na infância, os comportamentos de apego estarão presentes em toda a existência do indivíduo.

É nesse processo de construção das primeiras ligações afetivas que desenvolvemos um modo de funcionamento segundo o qual nos vincularemos a outras pessoas nas demais etapas de nossas vidas. É nele que se instauram os nossos sensos de segurança e de confiança em relação a outros significativos. Isso, é claro, se apreendemos um modelo seguro de vinculação.

Inicialmente, por meio da teoria do apego, estudava-se a formação e o rompimento dos vínculos entre pais e filhos. Contudo essa teoria pode ser igualmente válida e utilizada como ferramenta importante na compreensão dos vínculos, em geral estabelecidos por adultos, inclusive dos vínculos estabelecidos com animais de estimação.

Encontram-se presentes na vinculação entre homem e animal de estimação características de apego, entre elas o fato de os animais serem uma fonte de segurança assim como objetos de cuidados (Archer, 1997). Os seres humanos tendem a perceber o seu vínculo com os animais de estimação de modo semelhante a um relacionamento com uma pessoa, pois nele vivenciam sentimentos de segurança, de afeto e de bem-estar, e com eles formam vínculos de apego.

Esse tipo de apego aos animais de estimação está bastante evidenciado em diversas pesquisas (Archer, 1997; Martins et al., 2013) nas quais se observaram índices altíssimos de forte apego aos animais de estimação por seus donos, que os consideravam como parte importante de suas vidas. De modo que, em algum momento, milhões de pessoas sofrerão pela morte de um animal de estimação. E, diante do rompimento do vínculo de apego, precisarão lidar com o luto por essa perda.

Conceituamos o luto como um conjunto de respostas físicas, emocionais e comportamentais diante de uma perda significativa para o indivíduo. Tais perdas, sejam elas "simbólicas" ou concretas, trazem medo, tristeza, ruptura e desorganização psíquica (Kovács, 2009). Ocorre que é fundamental vivenciar o luto para que o indivíduo consiga reorganizar-se psiquicamente assim como para reestruturar sua vida sem aquela presença significativa.

Bowlby (2004a; 2004b) define o luto como uma forma de ansiedade de separação na qual estão presentes o protesto e a procura pelo objeto perdido, e o descreve como um processo dividido em quatro fases:

a) entorpecimento: caracteriza-se por choque e pela não aceitação da perda; pode ser interrompido por acessos intensos de consternação ou raiva; b) anseio e saudade: busca pela pessoa perdida; o indivíduo já sabe que a pessoa morreu, embora haja momentos de descrença em relação a isso, e é acometido de intensa raiva por não conseguir reavê-la; c) desorganização e desespero: apatia, depressão, isolamento e perda do desejo pela vida social; d) reorganização: aceitação da perda; não há esquecimento daquele que morreu, mas o indivíduo já consegue se adaptar ao mundo sem a presença física do falecido. Não há esquecimento, uma vez que ocorre a ressignificação do falecido no contexto da vida do enlutado. <br>

Segundo Parkes (1998), embora a vivência do luto seja marcada pelas singularidades de cada ser humano, é possível observar, na maior parte dos casos, as fases e características do luto, propostas por Bowlby, configurando-se o luto como um "processo psicológico distinto" (Parkes, 1998, p. 24).

É importante salientar que a divisão do luto em fases objetiva tão somente a sua compreensão didática, uma vez que, na realidade, trata-se de um processo dinâmico e determinado por múltiplos aspectos da vida do indivíduo (Casellato, 2013). Nesse processo, o indivíduo deverá aceitar a nova realidade da perda e lidar com os sentimentos (Bowlby, 2004a, 2004b; Worden, 2013).

Worden (2013) propõe que o luto implica a realização de determinadas tarefas, por se tratar de um trabalho de elaboração psíquica. De acordo com essa perspectiva, a primeira tarefa consiste em aceitar a realidade da perda, encarar o fato de que a pessoa que se foi não voltará nunca mais; a segunda, em processar a dor do luto, enfrentando os sentimentos; a terceira, em ajustar-se a um mundo sem a pessoa morta, ou seja, o indivíduo deverá ajustar-se à nova realidade, tanto interna como externamente, aprendendo a viver no mundo sem a pessoa, adaptando-se, inclusive, a novos papéis e à reconstrução da própria identidade; a quarta tarefa consiste em reposicionar simbolicamente o falecido, mantendo com ele uma conexão duradoura, e, ao mesmo tempo, reinvestir em afetos e novos interesses.

Nesse sentido, de acordo com Worden (2013), o indivíduo não "passará" simplesmente pelo luto. Ao contrário, ele deverá agir e trabalhar para conseguir retomar sua autoconfiança e renovar sua energia vital para seguir em frente.

Em síntese, os vínculos de apego trazem, inevitavelmente, um processo de luto, quando há rupturas, exigindo-se do indivíduo uma atitude de enfrentamento a fim de que se reorganize psiquicamente e elabore sua perda.

Tomando-se tais implicações como igualmente válidas para o rompimento de vínculos entre pessoas e animais de estimação, este artigo apresenta o resultado de uma pesquisa cujo objetivo foi compreender, num enfoque qualitativo, o processo de enfrentamento do luto vivido a partir da experiência de perda, por morte, de animais de estimação.

2 Método

Uma vez que, nesta pesquisa, priorizamos as experiências e as emoções bem como a interpretação que os sujeitos participantes conferem a suas vivências de luto em relação à morte de animais de estimação, optamos pelo enfoque qualitativo.

Nesse método de pesquisa, os dados descritivos são obtidos pela relação direta entre pesquisador e pesquisado. Privilegia-se o processo e não o produto, e interessa-se em evidenciar o ponto de vista dos participantes (Ludke & André, 1986).

2.1 Participantes

Os oito participantes, sendo 5 mulheres e 3 homens, que perderam cães de estimação, em casos de morte, foram contatados por meio de uma loja de pet shop da cidade em que foi realizada a pesquisa. Pelo telefone, explicou-se o objetivo, a importância e como seria realizada a investigação. Com o intuito de preservar a identidade dos participantes, foram-lhes atribuídos nomes fictícios.

2.2 Instrumentos

Utilizou-se a entrevista semiestruturada como instrumento de coleta de dados, com princípios gerais conectados ao tema da pesquisa, de modo a suscitar as falas pelas quais os participantes expressassem seus sentimentos, crenças, ideias e lembranças em relação aos tópicos pesquisados.

As entrevistas foram realizadas nas residências dos participantes, nos períodos de setembro de 2014 a novembro de 2015, com duração média de uma hora e meia.

2.4 Procedimentos para a análise dos dados

Partindo dos pressupostos explicitados na proposta de análise de conteúdo de Bardin (1977), foram construídas, aprioristicamente, algumas categorias para análise e interpretação. Outras categorias, não definidas previamente e que emergiram espontaneamente das falas dos próprios sujeitos, foram igualmente analisadas, uma vez que eram bastante relevantes para este estudo.

Após várias audições das gravações, leituras das entrevistas transcritas bem como de várias leituras das categorias de análise e das abordagens teóricas, foi-nos possível compreender os sentidos produzidos pelas falas dos sujeitos, culminando nas inferências e conclusões aqui apresentadas.

3 ANÁLISE E DISCUSSÃO

3.1 A construção dos vínculos com animais de estimação

Para entender o processo de luto pela perda de animais de estimação, é fundamental compreender como as pessoas entrevistadas percebiam seus animais e como se relacionavam com eles.

Todos os entrevistados relataram ter vivido, na infância, experiências significativas com animais. No caso de Clara, por exemplo, apegar-se aos cães e cuidar deles foi algo que assimilou imitando o comportamento do pai. Além do hábito e do costume, havia também o aspecto de que, na interação com os cães, ela se sentia protegida. O cão cumpria um papel afetivo em sua infância, proporcionando-lhe segurança, afeto, companhia, além de brincadeiras.

3.2 O cão como filho e eterno bebê

A "filhotização" é uma das formas de antropomorfização dos animais, uma vez que eles têm certas características que despertam o desejo humano de cuidar, tais como testa grande, bochechas arredondadas, olhos grandes, movimentos desajeitados. Isso por si só não mantém o vínculo, mas é a base da atração de humanos por animais e que os faz tratá-los como bebês (Archer, 1997; Belk, 1996).

Nomear um cão é o primeiro passo para que ele se torne um membro familiar. Célia não só colocou nome de pessoa em sua cadela como também elaborou um documento com seu sobrenome, que foi registrado em cartório.

A linguagem é outro elemento presente no tratamento do cão como bebê. Era comum entre os entrevistados falar com o cão como se estivesse falando com um bebê, adotando sentenças curtas e palavras no diminutivo:

"Mamãe tá brava!" (Clara).

"Vem cá com o papai, vem!" (Daniel).

"Come, filhinha! Senão mamãe vai dar pro gato!" (Célia).

Por fazerem parte da família, os cães também costumavam ter espaços dentro de casa e, em alguns casos, eram vestidos com roupas. A cadela Kika tinha um quarto só para ela, com cama, televisão e, à noite, dormia junto com Célia e o marido. Além disso, tinha à sua disposição mais de 1 500 ursos de pelúcia. Os cuidados com a higiene de Kika, muitas vezes, ultrapassavam os limites do razoável: "Ah! Tem outro pormenor: ela não fazia cocô dentro de casa de jeito nenhum. Não podia ficar com a bunda suja não. Tinha que limpar, passava papel, pano molhado, passava outro pano pra secar." (Célia).

De acordo com Belk (1996), o excesso no cuidado com a higiene do animal é uma maneira de transformar desordem imunda em comportamento bom e ordeiro. Nesses casos, os animais são tratados como bonecos, o que confere a seu dono a sensação de poder e controle.

Castrar os animais também é uma maneira de torná-los eternos bebês (Belk, 1996; Pastori, 2012), ignorando sua natureza sexual e tornando-os dóceis e controláveis.

3.3 O cão como companheiro de brincadeira

Os entrevistados relataram que guardavam um tempo, durante o dia ou à noite, exclusivamente para cuidar de seus cães, mas, principalmente, para brincar com eles. Delarissa (2003) explica que o convívio com os animais é uma maneira de resgatar o lúdico, pois, nessa relação, o sujeito pode desenvolver o que Winnicott chamou de "espaço potencial", um lugar psíquico intermediário entre o interno e o externo, do qual emerge a espontaneidade e o verdadeiro self enquanto dura a brincadeira.

3.5 O cão como ser igual ou superior ao ser humano

Todos os entrevistados atribuíram características de personalidade humana aos animais, tais como "geniosa", "sistemática", "leal", "fiel", "temperamental", "ciumento". Pelo fato de pensarem que os animais são iguais aos humanos, houve, em suas falas, uma projeção de sentimentos e pensamentos em relação aos primeiros, conforme manifesta Carlos sem sua fala: "Eu não acho que é diferente [risos]. Eu tento fazer [. . .], porque eu sei que não é, mas eu acho que é a mesma coisa de um ser humano! Ele sente o que cê sente. Ele sabe que cê tá feliz, que cê tá triste [. . .]."

Para Ana, o animal é igual ao ser humano, porém de uma qualidade superior:

"Igual eu já falei pros meus irmãos [. . .] essa é a filha que eu quis e tenho. Eu não considero filho nenhum de vocês melhor que ela. Nenhum! Não tem ninguém que valha mais do que ela pra mim! [. . .] Então cês pode não achar muito bom, mas, pra mim, ela vale mais que os filhos seus."

3.6 O cão como amigo e confidente

Todos os entrevistados relataram momentos de bate-papo confidencial com seus cães, demonstrando uma demanda por alguém que escutasse seus problemas, sem os criticar ou julgá-los. Ao atribuir-lhes ideias e sentimentos, como se fossem quase humanos, adotaram uma conduta antropomórfica, consolidando com os animais um tipo de relação humanoide.

De acordo com Archer (1997), as motivações para a antropomorfização são de ordem afetiva, posto que é na semelhança emocional que o ser humano reconhece certa humanidade no animal, especialmente no cão que se comporta de maneira atraente com seus donos, ao dispensar-lhes atenção e afeto.

3.7 O processo de luto

Apesar de ser uma manifestação universal, o luto pela perda de um ser amado é processo singular para cada sujeito que o experimenta (Bowlby, 2004a; 2004b; Parkes, 1998). Os entrevistados lidaram de diferentes maneiras com a morte de seus cães e apresentaram as seguintes reações: choque, transtorno e desespero, distúrbios do apetite, uso de substâncias químicas e álcool, isolamento, espera pelo retorno do animal, dor, impotência e alívio, raiva, culpa e autocensura, tristeza, vazio, solidão e saudade.

3.7 O processo de luto

Apesar de ser uma manifestação universal, o luto pela perda de um ser amado é processo singular para cada sujeito que o experimenta (Bowlby, 2004a; 2004b; Parkes, 1998). Os entrevistados lidaram de diferentes maneiras com a morte de seus cães e apresentaram as seguintes reações: choque, transtorno e desespero, distúrbios do apetite, uso de substâncias químicas e álcool, isolamento, espera pelo retorno do animal, dor, impotência e alívio, raiva, culpa e autocensura, tristeza, vazio, solidão e saudade.

3.8 Choque

Clara perdeu Ohana, com quem conviveu por 15 anos. A cadela teve morte súbita, e, com lágrimas nos olhos, ela descreveu o dia da morte. Relatou ter ficado bastante desnorteada e em choque. Recorreu ao ex-marido, de quem houvera se separado fazia pouco, e este chamou a veterinária que cuidava dos cães.

Segundo Worden (2013), o choque pode ocorrer em casos cuja morte era previsível, mas é mais frequente nos casos de morte inesperada. Isso foi constatado nos casos de Otávio e Maria, cujos cães morreram por causa de acidente.

3.9 Transtorno e desespero

A condição de saúde de Kika, cadela de Célia, não estava boa, pois já apresentava alguns problemas respiratórios e cardíacos. Além disso, já contava com 13 anos e 7 meses quando morreu. Ainda assim, Célia reagiu com desespero no momento de sua morte:

"Ele (o marido) me chamou, era quatro e meia da manhã, já chorando. Ela com os olhos vidrados assim. Fiz um escarcéu. Mas esbravejei! Chorei muito e tal, e ele tentou, aplicou injeção nela, reanimou ela [. . .] aí ela acabou. Aí foi aquele transtorno, né?" (Célia).

3.10 Distúrbios do apetite

Todos os entrevistados relataram perda de apetite nos primeiros dias após a morte de seus animais.

3.11 Uso de substâncias químicas e álcool

Diante da dificuldade de lidar com os sentimentos do luto, não apenas pela perda de Ohana, mas também pela separação conjugal, Clara começou a fazer uso de bebida alcoólica:

"Eu fiquei até com medo de ficar alcoólatra, Márcia, porque eu bebia dentro de casa. [. . .] Beber sozinha em casa é muito perigoso. Eu sem marido e sem minha cachorra de uma hora pra outra, sabe? E agora sem os dois, né? [. . .] Não é que eu tava bebendo em casa de ficar bêbada."

Maria, por sua vez, começou a tomar antidepressivos: "Eu até comecei a tomar, até por receita médica, antidepressivo [. . .], porque eu tava me sentindo muito triste, mesmo com a companhia de pessoas e tal".

Medicar o luto e fazer uso de bebidas alcoólicas são estratégias ineficazes para lidar com o sofrimento causado pela dor da perda. Worden (2013) alerta para o fato de que todas as formas de tentar suprimir ou evitar a dor tornam-se inócuas, pois esta continuará a existir e poderá retornar sob a forma de depressão ou de distúrbios psicossomáticos.

3.12 Isolamento

Deise e Célia falaram sobre a necessidade que sentiram de ficar sozinhas: "Eu não queria mais sair. Ficava só dentro de casa. Sabe, só porque ela morreu" (Deise). "No outro dia, depois do enterro e tal, eu fiquei meio passada, sabe, fiquei mais quieta, centrada, dentro de casa, não queria ver ninguém" (Célia).

3.13 Espera pelo retorno do anima

Daniel relatou que esperava a volta de Sem-Querer para casa por meio de um milagre divino: "Esperei nesse sentido: que Deus podia fazer isso se quisesse fazer. Então, nesse sentido, eu esperei. Pedi a Deus. Fiz esse pedido. Se for pecado… Eu acho que até daqui mais um ano, se o Onipotente quiser, Ele pode fazer".

3.14 Dor, impotência e alívio

Nilson também esperava que Pimpa fosse morrer, pois ela estava muito doente. Pimpa foi acometida por uma doença genética e faleceu com 2 anos de idade. Segundo Nilson: "Ela morreu nos nossos braços. A gente acompanhou o falecimento dela. Ela já estava doente. A gente tratou várias vezes, mas chegou num ponto que a gente não tinha mais o que fazer [. . .]. Foi a situação mais dolorosa que a gente teve".

3.15 Raiva

A raiva é uma reação comum quando perdemos uma pessoa significativa. Afinal, percebemos que não há controle sobre a vida. Segundo Worden (2013), a raiva pode decorrer da frustração por não ter sido possível evitar a morte e da experiência de regressão ocorrida após a perda de uma pessoa próxima. Quando perdemos alguém importante, ocorrem sentimentos de desamparo e sensação de incapacidade de existir sem a pessoa.

A raiva pode ser dirigida a Deus, como aconteceu no caso de Nilson, ou deslocada para outras pessoas, como fez Otávio:

"Então ela (a veterinária) telefonou para mim. Disse assim: 'Eu tenho duas coisas pra te dizer. Olha os teus resultados deram tudo negativo, e o teu cachorro morreu. Morreu às três horas da manhã' [. . .]. O impacto foi… minha reação foi de ira. Assim pelo fato de ela ter usado o telefone [. . .], fria e seca [. . .]. Fiquei naquele vazio, naquela contrariedade, naquela tristeza."

Embora, aos olhos de Otávio, a médica pareça ter sido insensível a seus sentimentos, é bastante provável que a raiva sentida pela perda do animal tenha sido deslocada para a profissional, no momento em que foi a portadora da má notícia.

Os demais entrevistados relataram a presença do sentimento de raiva em relação a outras pessoas. Apenas Maria admitiu ter sentido raiva em relação a seu cachorro Napoleão: "Eu ficava, assim, pensando: por que você fez isso comigo, seu [. . .]? Justo eu que cuidei, te tratei igual a um filho?! Eu não merecia isso!".

De acordo com Worden (2013), "A raiva que a pessoa enlutada sente precisa ser identificada e adequadamente dirigida à pessoa falecida para chegar a uma conclusão saudável" (p. 6).

3.16 Culpa e autocensura

O sentimento de culpa também é frequente no luto e pode permanecer por muito tempo. Geralmente a pessoa se sente culpada por coisas que fez ou que deixou de fazer.

No caso de Daniel, percebemos um sentimento de culpa bastante intenso: "Pra mim, ele morreu com veneno de algum bicho. Então eu fiquei com um sentimento de culpa por tê-lo deixado entrar lá onde comeu ou bebeu a morte naquele monte de telhas, e eu, como médico veterinário, não soube agir".

3.17 Tristeza, vazio, solidão e saudade

A tristeza é o sentimento mais comum e, geralmente, manifesta-se pelo choro. Aparece associada ao vazio, à solidão e à saudade (Worden, 2013).

"Ficou, assim, aquele vazio, sabe? Então fiquei, assim, muito só. Fiquei perdida. Eu tinha os horários, todos que eu tinha, que fazer isso e isso agora, levar Kika pra dar banho, sabe? Todos os horários. Toda vida tomou medicamento pra digestão, tal, tal. Então era um ritual todas as vezes. Aí eu fiquei, assim, meio perdida" (Célia).

"Senti muita tristeza. Ainda sinto quando eu vejo, quando penso, quando converso, me vem uma reação, uma vontade de chorar" (Daniel).

"Eu senti saudades dela demais, muita falta dela. Ela era muito carinhosa, ela faltava falar" (Ana).

De acordo com Worden (2013), apesar do apoio de outras pessoas, o indivíduo pode se sentir sozinho, porque a solidão que ele sente é a emocional, causada pela ruptura do vínculo que só pode ser remediada pela integração de um novo vínculo.

3.18 Rituais de adeus

Apenas uma das entrevistadas, Célia, fez o ritual de adeus:

"Esperamos o dia amanhecer. O Zé [marido] ligou pra funerária, ver se tinha um caixãozinho de bebê, né [. . .]. Aí pus um vestidinho branco que ela tinha [. . .]. O Zé avisou a família. Vieram duas irmãs dele [. . .]. Meu irmão também veio, sabe? Eu falei, assim, que foi um ritual, assim, que parecia que era pessoa mesmo. Eu liguei pra uma amiga minha, que tem um terreno grande [. . .]. Aí nós pedimos ao rapaz lá que fizesse o funeral, a sepultura. Ela deixou que fizesse a sepultura, fosse enterrada lá. Atravessamos a rua, enterramos e tudo. Eu voltei arrasada."

Nilson, Clara e Daniel contam que deram os cães para os veterinários fazerem o enterro, pois não conseguiram fazê-lo. Daniel quis enterrar em seu quintal, mas a esposa não consentiu: "Inclusive ela [a esposa] não queria que trouxesse para enterrar aqui. Provavelmente o sepultaram lá ou jogaram no mato para urubu comer".

Os demais entrevistados, Ana, Otávio, Maria e Deise pediram a conhecidos e familiares para cuidarem dos corpos de seus animais e não quiseram saber muitos detalhes do que foi feito com eles.

É importante lembrar que, nos tempos atuais, não há espaço para falar da morte e do morrer, pois nossa sociedade inibe a expressão de sentimentos de pesar e os trata como manifestações de fraqueza (Kovács, 2009). E, embora se reconheça que os rituais são importantes para a reorganização psíquica e emocional, eles se tornaram rápidos e ocultos (Kovács, 2009).

Em se tratando da perda de animais, não é comum haver rituais, uma vez que esse é um tipo de perda que não é reconhecido socialmente, o que conduz o sujeito que experimenta esse tipo de perda a vivenciar um luto não autorizado (Casellato, 2013).

Ainda que alguns de nossos entrevistados tenham tido alguma compreensão familiar e de amigos, em decorrência das perdas, como Nilson e Clara, todos acabaram vivenciando o pesar na solidão, uma vez que não houve, na maior parte, uma validação social de seu luto.

4 A Elaboração do Luto

4.1 Aceitação

A aceitação de que o ser amado morreu e de que a morte é definitiva leva um tempo para ocorrer, pois ela deverá operar-se cognitiva e emocionalmente, o que não é tão simples. Certo de que a perda é definitiva, o sujeito deverá reconhecer os sentimentos presentes, tais como raiva, culpa, tristeza, medo, entre outros, e expressá-los de alguma forma. Como explica Worden (2013), esse é um processo dinâmico, não existindo sequência ou ordem de elaboração, a não ser pela aceitação da perda, uma vez que, negando a morte e a perda, não há como o sujeito incumbir-se das demais tarefas.

Todos os entrevistados demonstraram, em suas falas, que já aceitaram a morte de seus cães, exceto Daniel, que ainda imaginava, por um milagre divino, o retorno de Sem-Querer: "Pedi a Deus: manda teu anjo tirá-lo da cova e colocálo no meu quintal, vivo e com saúde. Se é pecado, não sei. Pedi a Deus isso, ao Onipotente e Misericordioso, para vir e realizar isso. Não vai fazer isso. Mas, se quiser fazer, faz. É onipotente".

Daniel fala como se o cão estivesse na cova, porém vivo. Logo depois, pondera as consequências do retorno do animal em sua vida e acaba por concluir que é melhor ele não voltar:

"O animal ia me trazer despesas num momento que tô vivendo, muito difícil. A situação aí de aposentado, que falei. E também ele iria me sobreviver. Eu tô com 81 anos. Cachorro sobrevive até 15 ou 16 anos. Ele iria me sobreviver. Eu morto, quem ia cuidar dele? Jogar aí na rua. Pra isso acontecer, é preferível que ele não viesse."

4.2 Reconhecimento e expressão dos sentimentos

A expressão dos sentimentos está relacionada a vários aspectos, entre eles a existência de um meio familiar e de amigos que compreendam e legitimem a dor do enlutado.

De todos os entrevistados, apenas Nilson não teve dificuldades em expressar seus sentimentos, pois, segundo ele, a dor foi compartilhada com sua esposa, que também chorou a perda de Pimpa, e com os amigos, que lhes deram apoio e conforto.

Clara manifestou a dificuldade de se viver em uma sociedade que não reconhece a perda de um animal de estimação como uma perda significativa.

Célia não chorou nem lamentou a perda de Kika o quanto necessitava, pois segundo ela, muitas pessoas lhe faziam perguntas por mera curiosidade e para debochar do fato de ela estar sofrendo pela perda de uma cadela. Segundo Célia, as pessoas faziam questão de tocar no assunto apenas para ver a sua reação e rir de sua condição. Ao perceber isso, parou de chorar perto delas: "Eu pensava: esse povo quer é me ver chorando. Não vou chorar mais perto de ninguém [. . .] Aí, eu não vou chorar mais também não".

Daniel ainda está chorando a perda de Sem-Querer. Ele não só falou da morte do cão como se esta tivesse ocorrido havia pouco tempo, como também chorou muito ao contar os fatos que ocorreram naquele dia. A sua fala era arrastada; possivelmente pelo peso da culpa, da raiva e de um forte sentimento de tristeza:

"Senti muita tristeza. Ainda sinto quando eu vejo, quando penso, quando converso, me vem uma reação [. . .] uma vontade de chorar [. . .]. Quando converso, quando falo nele, quando venho ver as fotos, é que me vem essa vontade de [. . .] [choro]."

4.3 Ajustar-se ao ambiente sem a presença do falecido

Ana descreveu, da seguinte forma, como ficou sua casa depois da morte de Lana: "Ficou, assim, aquela casa vazia, sabe?".

Célia acabou adotando Nino, um gato que já vivia nas redondezas e que aparecia em sua casa quando sua cadela ainda era viva, numa tentativa inócua de substituí-la para amenizar a dor.

Clara também sentiu dificuldades em viver na casa sem Ohana, mas, segundo ela, ter de cuidar dos demais cães ajudou-a em seu luto.

Os demais entrevistados disseram ter se acostumado, aos poucos, com a ausência de seus animais falecidos.

4.4 Encontrar uma conexão duradoura com o falecido em meio a uma nova vida

Todos os entrevistados, exceto Célia e Daniel, parecem ter conseguido alcançar uma conexão duradoura com seus cães falecidos, por meio das boas lembranças que ficaram:

"E eu aprendi muita coisa com Ohana, muita! Ohana era verdadeira, Ohana era carinhosa, meiga, Ohana era centrada, sabe?" (Clara)

"Ela era uma cachorra muito engraçada, né? Era toda desengonçada. Isso traz um momento de satisfação de ter convivido com ela, né? Ter passado muitos momentos felizes com ela. Isso traz conforto" (Nilson).

Entendemos que Célia ainda não conseguiu fazer essa conexão, uma vez que seus sentimentos em relação a Kika não foram plenamente expressados e elaborados. Além disso, pareceu-nos existir entre ela e a cadela um alto grau de simbiose afetiva, constituída por uma ambivalência de sentimentos e certa idealização da cadela:

"Agora tá mais fácil falar sobre isso. Mas não é um assunto que toco normalmente não, sabe? [. . .] É porque me vêm muitos momentos bons com ela, mas, às vezes, de muita raiva. Muita raiva porque, quando o pai dela chegava e eu não podia olhar pro lado dela, sabe que ela escondia ele, sabe? Desaforo! Quem te olha sou eu! Quem te dá banho sou eu! Então, desaforo! Sabe? Eu achava ruim. O pai d-ela achava bom: 'Nenenzinho do papai!'. E tal, 'Papai morre de saudade docê', e beijava e tal. Aí, quando ela estiver sozinha, me paga! Ficava enciumada, sabe?"

5 Considerações finais

Por este estudo, foi possível concluir que todos os entrevistados construíram vínculos de apego com animais de estimação na infância. Esses vínculos foram marcados, positivamente, por brincadeiras, afeto, cuidado e sensação de segurança. Tais experiências parecem ter contribuído ativamente para a necessidade afetiva de adotar animais de estimação ao longo de suas vidas.

Na percepção dos entrevistados, o cão é igual, quase igual e até superior a um ser humano, além de um ser que proporciona amor incondicional, segurança, companheirismo e alegria, merecendo, portanto, cuidados e atenção. Diante disso, foram identificadas várias condutas antropomórficas: atribuição de nomes humanos, utilização de vestimentas, cuidados excessivos com a higiene e a saúde, comemoração de aniversários, uso da linguagem falada para comunicar-se com eles e atribuição de características de personalidade, tais como empatia, meiguice, abertura, lealdade e amor incondicional.

Uma vez que os vínculos de apego estabelecidos com os animais foram bastante fortes, as experiências de perda por morte resultaram em muita dor e sofrimento, fazendo com que os entrevistados as vivenciassem como ansiedade de separação. Identificamos em seus processos de luto torpor, saudade, desorganização e reorganização (Bowlby, 2004a; 2004b). Nesse processo, os entrevistados experimentaram diversas reações, comportamentos e sentimentos de pesar, além de realizarem as tarefas de elaboração do luto preconizadas por Worden (2013).

Para a maior parte dos entrevistados, a expressão de sentimentos foi a tarefa mais árdua, devido ao fato de que não obtiveram reconhecimento da perda de seus cães como perdas significativas. Assim, não puderam chorar e lamentar publicamente e, como consequência, não obtiveram apoio, conforto e solidariedade, tão fundamentais nesse momento. Dessa maneira, vivenciaram o luto não autorizado (Worden, 2013; Casellato, 2013).

Por todo o exposto, foi-nos possível concluir que os entrevistados, por estabelecerem um forte vínculo de apego com seus cães, vivenciaram um processo de luto semelhante ao vivenciado pela perda de um ser humano.

A constatação dessa realidade nos alerta para a importância de se validar a dor das pessoas que perdem um animal de estimação, a fim de que lhes possa ser concedido o suporte social necessário a seu luto, uma vez que a ausência desse reconhecimento pode levá-las à inibição de seu pesar, repressão de seus sentimentos e minimização de suas perdas, gerando-se intenso sofrimento psíquico e consequente impacto negativo em sua saúde mental.

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Texto recebido em 22 de março de 2016 e aprovado para publicação em 30 de maio de 2016.

 

 

* Mestra em Educação pela PUC de São Paulo, psicóloga especialista em Perdas e LutoE-mail: mnubiapsi@gmail.com.

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