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Psicologia em Revista

versão impressa ISSN 1677-1168

Psicol. rev. (Belo Horizonte) vol.25 no.3 Belo Horizonte set./dez. 2019

http://dx.doi.org/10.5752/P.1677-1168.2019v25n3p1044-1059 

ARTIGOS

DOI - 10.5752/P.1678-9563.2019v25n3p1044-1059

 

Instrumentos psicométricos para avaliação da empatia em crianças e adolescentes: revisão sistemática

 

Psychometric instruments for the evaluation of empathy in children and adolescents: a systematic review

 

Instrumentos psicométricos para la evaluación de la empatía en niños y adolescentes: revisión sistemática

 

 

Susiane Elisabete Machado*; Prisla Ücker Calvetti**

 

 


Resumo

Os instrumentos psicológicos auxiliam o psicólogo no processo de avaliação, sendo ferramentas fundamentais para direcionar estratégias interventivas. Entre tantas medidas de avaliação com crianças e adolescentes, a empatia torna-se fundamental para o conhecimento, considerando a capacidade de se colocar em perspectiva em relação às emoções e comportamentos de outra pessoa. Este estudo trata de revisão sistemática, como objetivo de investigar, nas produções científicas das bases de dados BVS/Bireme, Medline e Scielo, instrumentos de avaliação da empatia em crianças e adolescentes. Foram 19 estudos, indicando que os instrumentos avaliados apresentam adequadas propriedades psicométricas para a avaliação da empatia em crianças e adolescentes. No Brasil, poucos estudos foram realizados, sendo que a maioria das pesquisas trata de medidas adaptadas do âmbito internacional.

Palavras-chave: Instrumentos psicométricos. Empatia. Crianças e adolescentes.


Abstract

Psychological instruments help the psychologist with the evaluation process, and are fundamental tools to guide interventional strategies. Among several evaluation procedures targeting children and adolescents, empathy becomes fundamental for the knowledge, considering the ability to put oneself into perspective in relation to another person’s emotions and behaviors. The present study focus on the systematic review, aiming to investigate, in the scientific production in the BVS/Bireme, Medline and Scielo databases, instruments for the evaluation of empathy in children and adolescents. Nineteen (19) studies were carried out indicating that the evaluated instruments hold adequate psychometric properties for the evaluation of empathy in children and adolescents. In Brazil, few studies have been carried out and most researches are adapted from international studies.

Keywords: Psychometric instruments. Empathy. Children. Adolescents.


Resumen

Los instrumentos psicológicos ayudan al psicólogo en el proceso de evaluación, siendo herramientas fundamentales para dirigir las estrategias de intervención. Entre muchas medidas de evaluación con niños y adolescentes, la empatía es fundamental, ya que es conocida como la capacidad de ponerse en la perspectiva de las emociones y de los comportamientos de otra persona. Este estudio es una revisión sistemática, con el fin de investigar la producción científica de las bases de datos de la BVS/Bireme, Medline y Scielo, herramientas de evaluación de la empatía en niños y adolescentes. Hubo 19 estudios, lo que indica que los instrumentos evaluados tienen propiedades psicométricas adecuadas para la evaluación de la empatía en los niños y adolescentes. En Brasil, se realizaron pocos estudios, y la mayoría de las investigaciones es una adaptación de las medidas a nivel internacional.

Palabras clave: Instrumentos psicométricos. Empatía. Niños. Adolescentes.

1. INTRODUÇÃO

A avaliação psicológica é composta por uma série de fatores, originados de diversas fontes, como entrevistas, observações e análise de documentos. Para alcançar o resultado esperado, ela é orientada por diversos passos, que nortearão o processo de avaliação. Dentro da avaliação psicológica, existem diversos instrumentos que auxiliam para uma avaliação mais precisa (Conselho Federal de Psicologia, 2007).

Em relação à avaliação psicológica, o Conselho Federal de Psicologia (2007) define que essa prática deve ser cuidadosamente planejada, buscando alcançar os objetivos relacionados aos critérios a que se destinam. Ela tem um caráter técnico, científico e dinâmico, requerendo, assim, metodologias específicas. De acordo com a Resolução CFP nº 007, 2003, esse processo avaliativo deve considerar aspectos históricos e sociais e seus efeitos no psiquismo do indivíduo.

De acordo com a Lei nº 4.119, 1962, que regulamenta a profissão do psicólogo, somente o profissional dessa área poderá utilizar métodos e técnicas para a avaliação psicológica. No artigo 1º da Resolução nº 002 CFP, 2003, está enfatizado que os testes psicológicos são instrumentos para mensurar características e processos psicológicos, de modo a compreender as mais diversas formas de expressão do indivíduo.

O uso de instrumentos para avaliar a capacidade empática de crianças e adolescentes possibilita pensar em estratégias que possam ser desenvolvidas no intuito de prevenir atitudes violentas ou preconceituosas para essa etapa do desenvolvimento humano. A escola se torna, muitas vezes, um espaço de difícil convívio social (Krist-Conceição & Martinelli, 2014), onde é possível observar que tal população necessita de medidas interventivas, que busquem desenvolver a capacidade empática. O estudo da empatia possibilita o entendimento das relações humanas, favorecendo a construção de vínculos afetivos e motivando as atitudes pró-sociais (Motta, Falcone, Clark, & Manhaes, 2006).

A empatia é considerada uma importante habilidade para melhor viver em sociedade, levando em consideração o "outro". Entende-se por empatia, no contexto da teoria estética do século XIX, a produção da predisposição interna de um observador em resposta à percepção de um objeto estético. Trata-se de uma relação, ao mesmo tempo, social e individual entre um sujeito e um objeto, pois, na percepção estética, estão envolvidos tanto significados socialmente compartilhados quanto sentidos que remetem à singularidade do sujeito dessa experiência. O objeto estético não é necessariamente uma obra de arte; pode ser também um objeto que não foi produzido originalmente com uma finalidade estética (Dufrenne, 2008).

O termo empatia se originou da palavra alemã einfuhlung, traduzida para o inglês empathy, por Titchiner, referindo-se ao estado de consciência do indivíduo em se colocar no lugar do outro (Burns & Auerbach, 1996; Wispé, 1992).

Os seres humanos são afetados por situações alheias que podem influenciar seu comportamento individual. Tal influência dependerá de quão empático o indivíduo se apresenta à determinada situação (Krist-Conceição & Martinelli, 2014). Segundo Motta et al. (2006), "A empatia pode ser definida como uma habilidade social constituída de três componentes: o cognitivo, o afetivo e o comportamental" (p. 524), sendo recentemente considerada, por alguns autores, como um fenômeno multidimensional com diversos componentes.

Para compreender o construto da empatia, torna-se necessário que os três componentes citados acima estejam presentes. O componente cognitivo ou tomada de perspectiva compreende a capacidade de inferir pensamentos e sentimentos, adotando a perspectiva do outro (Falcone et al., 2008). O componente afetivo diz respeito à capacidade de experenciar sentimentos (preocupação e compaixão) ou a consideração pelo estado em que o indivíduo se encontra (Falcone, Gil, & Ferreira, 2007). Essa experienciação pode ser vivenciada pela compreensão do que o outro está sentindo e não a experiência propriamente dita. A habilidade de expressar ou reconhecer os sentimentos de outrem caracteriza o componente comportamental, sendo ele verbal ou não verbal (Ickes, Marangoni, & García, 1997).

De acordo com Prette e Prette (2001), "A empatia pode ser definida como a capacidade de compreender e sentir o que alguém pensa e sente em uma situação de demanda afetiva, comunicando-lhe adequadamente tal compreensão e sentimento" (p. 115).

Para Falcone et al. (2013, p. 204),

Ao tomar a perspectiva de outra pessoa, considerando os sentimentos desta, o indivíduo tornase mais apto a inibir padrões egocêntricos de angústia pessoal ou a manejar os sentimentos de raiva, de forma mais adaptativa, facilitando a comunicação e o comportamento de ajuda (p. 204).

Vários autores abordam a empatia, fragmentando-a em componentes, direcionando seu estudo a um aspecto ou outro, como mostra o quadro a seguir. Cabe destacar que, entre os autores estudados, alguns seguem o modelo multidimensional; outros, o bidimensional; e ainda há os que usam apenas um de seus componentes.

Neste estudo é possível verificar os instrumentos que cada autor utiliza bem como o modelo aplicado avaliando os aspectos ligados à empatia. Sabe-se que a empatia que pode ser desenvolvida no indivíduo por ser uma habilidade possível de ser experienciada por meio de uma situação alheia em diversos aspectos. Dessa forma, os autores trazem para o contexto alguns componentes que podem contribuir para uma melhor avaliação da empatia no indivíduo.

Desde os primeiros anos de vida, é possível perceber manifestações empáticas ligadas às relações entre pais e filhos. Tais relações, estabelecidas desde o início do ciclo vital, são um fator importante no desenvolvimento da empatia. Estímulos positivos podem favorecer a aquisição de tal habilidade. McDonald e Messinger (2011, apud Justo, Carvalho, & Kristensen, 2014) citam que os fatores internos e externos podem influenciar o desenvolvimento da empatia, sendo considerados internos os fatores genéticos, os aspectos do desenvolvimento neural e as variáveis de temperamento e, como fatores externos ou de socialização, a imitação, estilos parentais e relacionamento familiar (McDonald & Messinger, 2011, apud Justo, Carvalho, & Kristensen, 2014, p. 512).

O contexto, portanto, em que a criança e o adolescente vivem e suas variáveis podem ou não favorecer o desenvolvimento da empatia. As experiências vivenciadas nesse ambiente permitem expressar diferentes emoções, gerando sentimentos em relação ao outro e não apenas a si mesmo.

Segundo Justo, Carvalho e Kristensen (2014), nos bebês, os reflexos e expressões faciais, mesmo ocorrendo de forma inata, por meio da imitação, auxiliam na construção e na compreensão das emoções do outro. A evolução dos aspectos cognitivos e afetivos do sujeito, conforme fisiologicamente ele vai crescendo, quando estimulada, aumenta a capacidade empática nas relações sociais.

Com base nisso, este estudo teve o principal objetivo de realizar uma revisão sistemática de produções científicas que abordem instrumentos de avaliação psicológica da empatia em crianças e adolescentes.

2. MÉTODO

Foi realizada uma busca sistemática nas bases de dados do Sistema On-line de Busca e Análise da Literatura Médica (Medline), Scientific Electronic Library On-line (Scielo) e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS/Bireme). Para a pesquisa, foram considerados os seguintes descritores: psychometric properties, instrument validation, psychometric evaluation, scale, validation, psychological assessment, empathy, children, child e adolescents. Foi considerado o período a partir do ano de 2001 a 2016, buscando estudos mais atuais referentes ao tema. Foram excluídos estudos com data inferior ao ano de 2001, estudos que não apresentavam relação com objetivo da revisão sistemática, estudos que não se enquadravam à faixa etária pesquisada e estudos encontrados repetidamente nas bases de dados.

Foram encontrados 91 estudos, sendo 52 na BVS/Bireme, 20 na Medline e 19 na Scielo. Após serem analisados esses critérios de exclusão, permaneceram 18 estudos, analisados na íntegra, sendo 14 estudos da base BVS/Bireme, 3 da base Medline e 1 da base Scielo. Foram organizados numa tabela em seis categorias de análise: autor e ano do estudo, população, objetivo, método, dimensão e resultados.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir do levantamento dos estudos, o quadro 1 apresenta as pesquisas sobre instrumentos psicométricos para avaliar a empatia em crianças e adolescentes considerando a dimensão abordada pelo instrumento.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Entre os estudos em destaque, pode-se observar que os instrumentos de avaliação da empatia para crianças e adolescentes, em sua maioria, tratam de pesquisas internacionais sobre o tema e um estudo com adaptações de medidas para âmbito nacional. Entre os instrumentos mais usados nos últimos cinco anos, estão as medidas Índice De Reatividade Interpessoal (IRI), Índice de Empatia para Crianças e Adolescentes (IECA) e Escala Básica de Empatia (BES). Além disso, de acordo com as adaptações nas versões das escalas, surgem nomenclaturas diferenciadas para o mesmo instrumento, como Escala Multidimensional de Reatividade Interpessoal (EMRI), a Escala de Empatia para Crianças e Adolescentes (EECA) e Índice de Empatia de Bryant (BEI).

Dos estudos encontrados, o instrumento de BES (Jollife & Farrington, 2006) apresentou boa consistência interna, validade e confiabilidade satisfatória para as diferentes amostras. Entre os estudos, quatro utilizaram o apenas método de análise fatorial confirmatória, que busca testar hipóteses ou confirmar teorias a respeito de fatores presumidamente existentes. Para Urbina (2007, p. 177), as análises confirmatórias são mais sofisticadas do ponto de vista metodológico, fazendo parte de um conjunto de técnicas e de análises.

Cabe salientar que a Escala Básica de Empatia (BES) (Jollife & Farrington, 2006) foi elaborada tanto para avaliar a empatia afetiva quanto a cognitiva, sendo sua escala original composta de 20 itens. No estudo de Salas-Wright, Olate e Vaughn (2013), por exemplo, a escala foi reduzida para sete itens, com o propósito de identificar uma escala teoricamente viável na qual todos os itens se correlacionassem significativa e positivamente.

O instrumento de avaliação IRI (Davis, 1980) é constituído de 28 itens divididos em quatros fatores: tomada de perspectiva, preocupação empática, angústia pessoal e fantasia (Kirst-Conceição & Martinelli, 2014). Da mesma forma, a EMRI foi elaborada a partir da IRI (Bryant, 1982), contendo 21 itens, divididos em três subescalas, sendo elas: componente afetivo, componente cognitivo e componente comportamental. No estudo envolvendo adolescentes criminosos sexuais do sexo masculino, a IRI apresentou moderada consistência interna e validade convergente.

De acordo com Wied, Branjie e Meeus (2007), o Índice Empatia para Crianças e Adolescentes (IECA) é um questionário de 22 itens, de autorrelato desenvolvido e validado por Bryant (1982), para avaliar a empatia afetiva direcionada ao público infantil e adolescente. A EECA é uma adaptação para a língua portuguesa, seguindo os mesmos critérios de aplicação da versão original. Pelos estudos, pode-se verificar que ambas as escalas apresentaram resultados satisfatórios nas diferentes culturas onde foram aplicadas.

As escalas EMRI e EECA foram adaptadas para o uso no Brasil, buscando avaliar a empatia em crianças e adolescentes. Nesse sentido, ambas demonstraram consistência interna satisfatória, validade convergente com correlação entre os componentes afetivo, cognitivo e comportamental (Koller, Camino, & Ribeiro, 2001).

A escala de BEI (Bryant, 1982) foi construída a partir de um questionário utilizado para medir a empatia emocional de adultos de Mehrabian e Epstein (1972). Conforme Aristu, Tello, Ortiz e Gándara (2008), "O BEI tem sido usado em diferentes contextos e com uma gama de assuntos", sendo composta por 22 itens relacionados à empatia emocional.

A Task Empathy Response (ETR) (Ricard & Kamberk-Kilicci, 1995) foi utilizada com as escalas IRI (Davis, 1983) e IECA (Bryant, 1982) em crianças e adolescentes com transtornos psiquiátricos e não clínicos. Sua análise dispõe de tarefas objetivas para testar o reconhecimento de emoções e perspectivas. Tais escalas analisadas demonstram ser apropriadas para medição da empatia, de acordo com as medidas diagnósticas empregadas no estudo, apresentando resultados elevados quanto à validade ecológica para o instrumento.

O instrumento The Cognitive and Affective Empathy Test (TECA-NA), método que avalia a empatia em crianças e adolescentes, por meio de análise exploratória e confirmatória, apresenta-se como mais uma medida de consistência interna, validade convergente e discriminante adequada. O TECA-NA é uma escala com 30 itens, elaborada com base na The Cognitive and Affective Empathy Test (TECA) (López-Pérez, Fernández-Pinto, & Abad, 2008), voltada ao público adulto, apresentando, em ambas as escalas, a mesma estrutura fatorial.

De modo a investigar um novo instrumento, o The Southmpton Test of Empathy for Preschoolers (STEP) foi conduzido ao método de validade concorrente, de construto e consistência interna. Esse instrumento faz uso de quatro cenários emocionais (irritados, felizes, com medo e tristeza), observandose as reações do protagonista, mediante suas expressões e julgamentos (Howe, Pit-Ten Cate, Brown, & Hadwin 2008). De acordo com o estudo acima, o instrumento apresenta boa consistência interna e validade de construto com comportamento pró-social, considerando moderada sua validade concorrente.

O estudo apresentado por Rey (2003) visou a avaliar a confiabilidade e validade da Escala de Empatia, apresentando resultados adequados. Com base no Curto Inventário de Personalidade Psicopática, Whitt e Howard (2013) criaram uma escala de empatia para jovens antissociais. Com o objetivo de avaliar e validar tal escala, foi usada a análise fatorial exploratória e confirmatória, apresentando resultados adequados para essa medida.

Cabe destacar que dois instrumentos não apresentaram resultados satisfatórios, sendo que, no fator flexibilidade interpessoal, na EEmpa-IJ (Krist-Conceição & Martinelli, 2014) não apresentou índices aceitáveis, e a Mach Scale Kiddie (Geng, Qin, Xia, & Ye, 2011), com fraca consistência interna na versão chinesa.

A revisão sistemática apresentou bastante similaridade entre os instrumentos utilizados para a avaliação da empatia. Esses instrumentos vêm sendo aplicados em crianças e adolescentes com o propósito de averiguar o nível de empatia, possibilitando intervenções, a fim de desenvolver essa habilidade. Sabe-se que a empatia é uma habilidade social necessária para o convívio em sociedade (Krist- Conceição & Martinelli, 2014).

De acordo com Prette e Prette (2001), o termo habilidade social faz referência a uma série de comportamentos sociais do indivíduo, na forma como ele lida com suas demandas, nas situações interpessoais do dia a dia. Por sua vez, esta faz referência aos efeitos do desempenho social em que o indivíduo se integra.

Pode-se verificar no quadro 1 que, a partir de 2001, houve maior desenvolvimento de pesquisas sobre a empatia em crianças e adolescentes, buscando instrumentos capazes de uma avaliação satisfatória. No entanto é perceptível que, nos últimos cinco anos, tal assunto vem despertando maior interesse de estudiosos, buscando conhecer se tais escalas têm propriedades psicométricas adequadas para determinada população.

Além disso, a revisão mostrou que a escala de Escala Básica de Empatia (BES) (Jollife & Farrington, 2006) é um dos instrumentos mais utilizados com crianças e adolescentes, no âmbito internacional, apresentando cinco estudos, assim contribuindo para o estudo da empatia.

Apesar de os instrumentos IRI e IECA serem desenvolvidos e usados nas décadas de 1980 e 1990, percebe-se que, no decorrer dos últimos anos, poucas pesquisas visaram a aprimorar tais instrumentos. Apenas em 2011 dois estudos buscaram adaptar a versão original para o emprego dentro dos padrões da cultura espanhola, e um estudo aplicou a versão original em crianças e adolescentes com transtornos psiquiátricos e não clínicos.

Ainda é possível observar, no quadro 1, que apenas dois estudos foram aplicados no contexto brasileiro, sendo o primeiro em 2001 e, somente em 2014, pesquisadores retomaram pesquisas sobre avaliação da empatia em crianças e adolescentes.

De acordo com o quadro 1, referente aos instrumentos psicométricos usados para avaliar a empatia em crianças e adolescentes, a multidimensionalidade da empatia ainda não é considerada por todos os autores. A maioria dos estudos apresenta a bidimensionalidade considerando apenas dois aspectos para o desenvolvimento da empatia. Cabe destacar que apesar de existirem vários estudos sobre o construto da empatia, este se torna um conceito amplo, gerando contradições na forma de avaliar, devido aos critérios utilizados por cada autor.

Pela análise dos dados, verificou-se que os instrumentos encontrados nos estudos avaliam a empatia sob uma ou mais dimensões apresentadas por Motta et al. (2006), percebendo-se, a partir disso, que há divergência na concepção dos autores quanto à dimensão, porém, em sua maioria, com aceitáveis propriedades psicométricas. O uso de instrumentos para avaliar a capacidade empática de crianças e adolescentes possibilita pensar em estratégias que possam ser desenvolvidas, no intuito da prevenção de atitudes violentas ou preconceituosas contra esse público.

O estudo da empatia possibilita a construção de vínculos afetivos, gerando o bem-estar individual e coletivo como também qualidade nas relações interpessoais. Cabe destacar que transtornos psicológicos e comportamentos antissociais podem estar associados à deficiência no desenvolvimento da empatia, o que faz tornar relevantes e necessários estímulos positivos desde os primeiros anos de vida, para que essa capacidade seja adquirida.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta revisão sistemática, foi possível verificar que os instrumentos psicométricos auxiliam na avaliação da empatia em crianças e adolescentes, bem como podem ser ferramentas a serem usadas para a elaboração de medidas interventivas, para a promoção da empatia. Cabe lembrar que tais ferramentas são de uso exclusivo do psicólogo, sendo indispensáveis para uma avaliação mais precisa, fornecendo informações relevantes a respeito do indivíduo.

No Brasil, instrumentos internacionais vêm sendo adaptados e validados, de acordo com as características culturais da população. Embora o tema da empatia venha sendo de interesse dos pesquisadores, ainda existem poucos estudos desenvolvidos nessa área. Existem vários estudos na literatura sobre instrumentos de avaliação da empatia, porém muitos são destinados a adultos. Sabendo da importância do desenvolvimento da empatia para a vida em sociedade, torna-se relevante aprimorar instrumentos psicométricos dessa medida para crianças e adolescentes. Foi um desafio a busca de instrumentos para essa fase do ciclo vital, sendo uma possível limitação do estudo a escassez de medidas psicométricas na infância e adolescência. As perspectivas futuras podem estar nesse caminho do aprimoramento dos instrumentos existentes e a construção de novos com qualidade das propriedades psicométricas.

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Texto recebido em 04 de julho de 2016 e aprovado para publicação em 28 de novembro de 2016.

 

 

*Graduada em Psicologia no Centro Universitário Unilasalle, psicóloga.E-mail: susy_sem@yahoo.com.br.
**Pós-doutora em Medicina; Ciências Médicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), doutora em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), professora substituta do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).E-mail: prisla.calvetti@unilasalle.edu.br.

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