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Psicologia em Revista

versão impressa ISSN 1677-1168

Psicol. rev. (Belo Horizonte) vol.25 no.3 Belo Horizonte set./dez. 2019

http://dx.doi.org/10.5752/P.1677-1168.2019v25n3p1098-1119 

ARTIGOS

DOI - 10.5752/P.1678-9563.2019v25n3p1098-1119

 

Quando chega a aurora: a relação mãe e filha sob a perspectiva da clínica psicanalítica

 

In the crack of the dawn: the mother-daughter relationship from the perspective of the psychoanalytic clinic

 

Cuando llega la aurora: la relación entre madre e hija desde la perspectiva de la clínica psicoanalítica

 

 

Lucienne de Almeida Machado*; Marcela Toledo França de Almeida**

 

 


Resumo

Este artigo é o efeito de um atendimento clínico psicanalítico realizado ao longo da disciplina de Estágio, no Curso de Psicologia da Universidade Federal de Goiás (UFG), apresentado como um relato de atendimento. O estudo será composto pela apresentação do caso e, posteriormente, serão feitos alguns apontamentos teóricos pela perspectiva da psicanálise freudiana e lacaniana. A escolha do nome fictício Aurora, nomeação definida para se referir à analisante atendida, é uma aproximação metafórica do nascer do dia ao nascimento do sujeito. O objetivo principal deste relato clínico é o de promover uma discussão que aponte para como o sujeito se vê às voltas com a ascensão a seu lugar de ser desejante. Mais especificamente, a discussão se atém à problemática mãe/filha relatada pela paciente durante o atendimento. Presa à teia dos significantes maternos, Aurora se demora a acontecer como sujeito desejante. Contudo, apesar de todos os desvios, e mesmo diante da impossibilidade de se apontar para um nascimento definitivo e pontual, ao longo do trabalho de escuta, conseguimos vislumbrar ao menos os primeiros raios de uma aurora.

Palavras-chave: Atendimento clínico. Psicanálise. Relação mãe e filha. Desejo. Sujeito.


Abstract

This paper is the effect of a psychoanalytic clinical care performed during the supervised training program in the Psychology course at the Federal University of Goiás (UFG), presented as an assistance report. The study will hold the presentation of the case and later on some theoretical notes will be made from the perspective of Freudian and Lacanian psychoanalysis. The choice of the fictitious name Aurora (which means dawn in Portuguese), refers to a metaphorical approach of the rising of the day, to the subject’s birth. The main objective of this clinical report is to forward a discussion that points to how the subject deals with the ascent to his/her place of a desiring being. More specifically, the discussion addresses the mother/ daughter problematics reported by the patient during treatment processes. Caught up in the web of maternal signifiers, Aurora lingers to rise as a desiring subject. However, despite all the deviations, and even in the face of the impossibility of pointing to a definitive and punctual birth, throughout the listening task, we, at least, managed to catch sight of the first rays of an aurora.

Keywords: Clinical care. Psychoanalysis. Mother and daughter relationship. Desire. Subject.


Resumen

Este artículo es el efecto de sesiones clínicas psicoanalíticas realizadas a lo largo de una disciplina Práctica, del curso de Psicología de la Universidad Federal de Goiás (UFG), presentado como un relato de caso. El estudio consiste en la presentación del caso y, posteriormente, algunos apuntes teóricos son hechos en la perspectiva del psicoanálisis freudiano y lacaniano. La elección del nombre ficticio Aurora, nombramiento definido para referirse a la analizante, es una aproximación metafórica del nacer del día al nacimiento del sujeto. El objetivo principal de este relato clínico es de promover una discusión que señale cómo el sujeto se ve a sí mismo con la ascensión a su lugar de ser deseante. Más específicamente, la discusión se atiene a la problemática madre/hija relatada por la paciente durante las sesiones. Presa a la red de los significantes maternos, Aurora se demora a suceder como sujeto deseante. Sin embargo, a pesar de todas las desviaciones, e incluso frente a la imposibilidad de apuntar a un nacimiento definitivo y puntual, a lo largo del trabajo de escucha conseguimos vislumbrar al menos los primeros rayos de una aurora.

Palabras clave: Atención clínica. Psicoanálisis. Relación madre e hija. Deseo. Sujeto.

1. INTRODUÇÃO

A produção deste estudo de caso teve como base os atendimentos realizados durante a disciplina de Estágio Supervisionado em Processos Clínicos, do Curso de Psicologia da Universidade Federal de Goiás (UFG). O estágio ocorreu durante o ano de 2014, abarcando atendimentos tanto no Centro de Psicologia quanto no Centro de Estudos, Pesquisa e Extensão do Adolescente (CEPEA), ambos ligados à UFG. Esses espaços oferecem à população a oportunidade de atendimento psicológico gratuito, ao mesmo tempo em que permitem a entrada dos estudantes de graduação nos atendimentos clínicos psicológicos.

Foi, então, por meio dessa porta de entrada para a clínica, que tive minha primeira experiência de tentar escutar alguém, ocupando uma posição de analista e, por meio dessa escuta, procurar fazer algo com as palavras que me eram dadas. Foi a primeira vez que os conceitos estudados não eram mais apenas parte de papéis lidos e se materializavam nos corpos, nas falas e nos olhares daqueles que me procuravam para dizer de si. E eu começava a entender o que era se referir à teoria psicanalítica como nada mais que uma prática teorizada, pois se todos nós que atendíamos nos impressionávamos de como os pacientes falavam praticamente aquilo que era descrito nos livros de Freud e outros teóricos da psicanálise.

Partindo desse primeiro momento de assombro causado pela fala e pela escuta do inconsciente, esta discussão tem como proposta trazer à tona o ritmo dessa fala. O que significa dar relevância a seus desvios e equívocos que normalmente são corrigidos e acertados pela forma escrita. Apresenta-se aqui uma defesa das discussões clínicas mais próximas da escuta do inconsciente do que da formalização acadêmica, como nos adverte Miele (2017):

O espaço transferencial da talking cure se baseia no ato de fala, no imediatismo da relação entre dizer e ouvir no circuito pulsional invocante; nesse sentido, a clínica supostamente "analítica" organizada em torno da escrita, ou da transcrição das sessões, mistifica e contradiz a natureza do ato analítico, tornando-o impraticável – um exemplo a esse respeito é o modo como se desenvolve determinado tipo de supervisão em que se demanda que o material relativo ao caso seja redigido e, em seguida, apresentado (p. 76).

Com a atenção flutuando nesse circuito pulsional invocante (como me foi transmitido nas supervisões), deixei-me levar pela possibilidade de encontrar outro território, novo e desconhecido de minhas exigências formais. Quero dizer que, mais do que essa proposta trazida por uma psicanalista já experiente, este trabalho carrega a fluidez de quem se deixou levar por esse circuito pela primeira vez.

2. À LUZ DO CIRCUITO PULSIONAL INVOCANTE: A ESCUTA PRIMEIRA

Na dimensão do enigma é que podemos dizer de um sujeito. E lá, dá-se um encontro entre deslizamentos incertos com o que causa sentido e se abre para o não sentido. Defender-se do não senso do real é sustentar uma ficção, que é toda ela a construção de uma precária verdade de sujeito (Almeida, 2016).

Comecei a perceber o que me era dado de forma indireta, isto é, não totalmente por verbalizações. Assim, embora todas as sessões fossem circunscritas dentro do tempo de um relógio, como são os atendimentos, passei a ver que os minutos não eram o tempo. Poderia dizer algo a um paciente várias vezes, e ele nem ao menos perceber uma intervenção; já em outro, teria o efeito oposto, constatando posteriormente ter feito um apontamento precipitado. E com isso ia entendendo como o tempo era o de cada um. Para além do conceito, a experiência da singularidade se apresentava de forma clara, precisa, bela. E a partir dessa experiência de uma outra singularidade, deu-se também um outro saber de escuta esvaziada de enquadres preconcebidos, à espera de uma outra paisagem e de uma outra temporalidade, a do sujeito do inconsciente.

Não que tenha sido fácil aceitar essa outra escuta, pois, ao início, ela estava carregada de assombros, e a minha própria análise foi posta em questão. De minha experiência de analisante para este lugar de primeira escuta, lugar de um desejo Outro que é o desejo do analista, permiti-me ser submetida a incontáveis abalos significantes, pois: "No ato de fala, o incorporal emerge no circuito pulsional invocante que se desdobra em torno do objeto voz [. . .] quando se fala, ela permite que uma série de sentidos se manifestem retroativamente; de modo simultâneo, favorece o equívoco" (Miele, 2017, p. 75).

Por meio desses equívocos e de todos os assombros, tentando alcançar essa suposta posição de analista, encontramos aquilo que ressoa em nós. Questões que são faladas por aquele outro que chega a uma sessão de atendimento para lhe dizer dos seus incômodos e, ou, felicidades, e que acabam por se assemelhar aos mesmos questionamentos que temos no cotidiano da nossa vida. E, nesse processo, muitas vezes existe um incômodo ao perdermos um tanto das ideias que acreditávamos ser apenas nossas. Concomitantemente a isso, passamos a conviver com o fato de que, em nossa própria análise, o analisante passa a existir nela como um assunto que nos mobiliza e do qual precisamos falar.

Por esses motivos, embora não só, alguns atendimentos podem ser mais fáceis, e outros não, ou gerar uma variedade de sensações: muitas vezes sono, outras vezes ansiedade, algumas expectativas, certa impaciência, amar determinados atendimentos e detestar outros. E aí, sim, por esses encontros ou não, a transferência vai se insinuando no fazer clínico e dando forma ao que antes era apenas uma ideia teórica. E encontro nas palavras de Maurano (2017) um tanto dessa perplexidade que me moveu:

O que me atordoa agora é algo que brinca de ser outra natureza, algo que, como uma flecha, busca perpassar meu ouvido de analista e cravar no meu coração de mulher. Quase perplexa, eu me pergunto sobre a natureza disso tudo, e nessa busca me descubro ainda teimosa e abstinentemente desejando ser analista, mas agora, mais do que nunca, é impossível e seria desastroso fechar meus ouvidos a essa fala que também vem de dentro de mim e certamente não vem à toa (p. 46).

Assim, pela transferência, atravessada por essa flecha, inicia-se a ocupação de um território que até o momento não existia, mas permanece a incerteza do seu tempo de duração. Chegará a algum fim? Qual o fim, a finalidade dessa análise? Ela mostra-se pelo estabelecimento da transferência e, a partir dela, desenrolase a possibilidade ou não de se alcançar algum fim. E mesmo que aconteça na sua forma positiva, também será permeada por momentos de dificuldades, pois, quando esperamos tanto pela fala, muitas vezes somos presenteados com o silêncio.

Realizar esse atendimento que aqui escolho como estudo de caso foi um misto de todas as sensações acima descritas: o encontro da teoria com o circuito da pulsão invocante que pode se dar na clínica. Na verdade, começou a surgir o entendimento de que isso acontecia justamente porque tais construções eram advindas da prática clínica.

Não sem atravessamentos, escolho este caso cujo desenrolar dos atendimentos levaram à articulação de determinadas questões da teoria psicanalítica, em específico os efeitos do laço estabelecido entre mãe e filha para o surgimento do sujeito de desejo. As falas trazidas ao longo das sessões acabaram por levar ao nó da relação. De tal maneira que, em vez de essa relação entre mãe e filha auxiliar na possibilidade de Aurora se fazer questões, ela a mantinha num grave assujeitamento à figura materna, pois "É justamente a existência da questão, da pergunta ou do enigma o substrato efetivo sobre o qual se assenta isso que denominamos posição subjetiva" (Cabas, 2009, p. 145). O que acabava por exaurir um tanto do que opera para que se constitua o sujeito e que a analisante poderia usar na criação de si.

Apesar disso, ou melhor, o incômodo dessa relação foi justamente um fato propulsor para a saída desse lugar de identificação primária com sua mãe e chegada ao seu próprio. Ao olhar para trás e rememorar os atendimentos, entendo hoje que sempre fui levada a associar o movimento da paciente com o despertar, sua tentativa de acordar, de vir a ser. Era como o nascimento contínuo nos dias, era a Aurora, e por isso a escolha de tal nome fictício para se referir a esse sujeito atendido. Procurando atendimento clínico pela primeira vez, a analisante que ali chegava passou a viver em um lugar até então nunca visitado por ela, que era o do ser um sujeito que fala de si.

Isso posto, a descoberta de um novo lugar remete à ascensão de um sujeito que começa a perceber que deseja e que, dessa forma, pode existir e vir a ser, mesmo que seu nascimento tenha se dado já há alguns anos. O relato feito aqui é, então, uma elaboração construída, com base na releitura das anotações de cada sessão, não apresentando transcrições literais das falas da paciente. Visando à preservação do sigilo da pessoa atendida, alguns dados serão alterados (como a criação de um nome fictício) ou não nomeados. Comecemos, então, a vislumbrar a Aurora.

3. CASO CLÍNICO: APRESENTAÇÃO DO ATENDIMENTO

Quando será que se nasce? Ou se nasce mais de uma vez, além do momento do parto? Ou, às vezes, nem se nasce nessa hora? Quem dera a existência do umbigo fosse garantia de nascimento. Às vezes, parece ser necessário um grito: mãe tira o seu dedo do meu umbigo, preciso desse buraco vazio. Esse era o sentimento pelo qual Aurora me fazia reviver em sua companhia, toda vez que eu a atendia, uma menina que tentava nascer.

Aurora tem 18 anos, mais ou menos 6.570 auroras em todos esses dias. Estudante, filha mais velha, pertencente a uma família nuclear de pai, mãe e uma irmã mais nova que ela em quatro anos. Era a sua irmã o motivo dado para a procura de atendimento psicológico. Não conseguia mais lidar com todas as mudanças geradas pelo estado depressivo de sua "bonequinha", expressão usada pela própria paciente para se referir à irmã. O acontecimento mais recente era uma briga entre Aurora e o pai, pois, em um dia de domingo, em que a irmã ameaçou cometer suicídio pulando de uma das janelas do apartamento, o pai começou a sacudir a irmã e Aurora, indignada com o ato de seu pai, atacou-o. Este, por muito pouco, não bateu nela.

Desde então, não conversavam mais, e ela se sentia muito mal com isso, mas se recusava a pedir desculpas por uma situação da qual não se considerava culpada. Ela sabia que, se ainda fosse uma criança, a situação resolver-se-ia recebendo um doce, que ela ainda queria; mas não se tratava mais apenas do doce. Devido a esse acontecimento, os pais de Aurora decidiriam por colocar grades nas janelas do apartamento em que moravam, pois assim se sentiriam mais seguros caso a situação voltasse a ocorrer.

Aurora admitia que não se sentia feliz com grades em suas janelas, mas entendia. Da mesma forma que entendia muita coisa. Era a palavra mais presente em sua fala, sempre dita logo após alguma frase em que expressava inconformidade com alguma situação. Assim era que a mãe estava muito ocupada, cuidando da "bonequinha" e não conversava mais com ela, mas ela entendia.

Iam colocar grades nas janelas, e ela se sentiria presa, mas ela entendia. Percebia que havia um excesso de permissões com a sua irmã e que isso, em sua opinião, favorecia os comportamentos um pouco exagerados desta, mas ela entendia. Todo esse entendimento de Aurora era, segundo ela, sempre uma tentativa de evitar a discórdia ao se colocar no lugar do outro, pois deveria sempre tentar se colocar no lugar do outro. Todo esse entendimento dado ao outro era permeado, também, por uma palavra constantemente dita em sua fala, quando questionada sobre alguns assuntos, o "não sei".

Com toda essa oferta ao outro, ela deu grande parte de seus sonhos à sua irmã. Incentivou-a no campo artístico, mesmo que fosse sua a vontade de estar no teatro. Ao contrário da irmã, não conseguia ser tão sonhadora, nunca fez muitos planos quanto às construções próprias para seu futuro. Preocupava-se em ter um ótimo desempenho escolar, desesperando-se quando não alcançava a nota ideal, mesmo quando essa nota ficava acima da média. Queria tirar fotografias, mas, mesmo tendo uma boa máquina, tinha medo de ficarem ruins. O desejo pela fotografia era relacionado à vontade de cursar algum curso universitário de audiovisual/cinema, mas, para isso, seria necessário sair da cidade, gerar gastos a seu pai e, como não achava que seu pai devesse se sobrecarregar, mais uma vez, ela entendeu. Prestou vestibular para o curso de publicidade e propaganda, mesmo não se sentindo atraída pelo aspecto de vendas presente no curso.

Também diferentemente da irmã, que trocava de amores a cada ano, Aurora dizia não se apaixonar frequentemente. Preocupava-se com as matérias e não com os garotos de sua turma. Até que se viu em um primeiro relacionamento, e ainda atual namorado, com o qual se envolveu sem poder controlar. Este passou a ser um dos grandes causadores de problemas em seu relacionamento familiar, pois o romance familiar se negava a ser traído. E foi assim que se sentiu quando os pais descobriram que a filha namorava escondida já havia um bom tempo, e que já havia vivido a sua primeira relação sexual. Foi também nesse contexto que Aurora disse, pela primeira vez, em uma briga por causa de seu namoro, que o corpo era dela e que ela faria com ele o que quisesse. Posto esse saber, Aurora partiu para a apresentação de sua mãe.

Mas antes, precisamos compreender esse percurso que parece não ter ligação entre seus elementos. Contudo Aurora vai, aos poucos, desenrolando o novelo mostrando a linha de seus afetos. Ela procura seu desejo e reclama doá-lo por ser "compreensiva". Mas sua insistência no paradoxo simples de "quero, mereço, mas não sou digna de [. . .]" evoca o surgimento de um Outro que dê sem que ela tenha de pedir, que a ame mais, que a ofereça mais. Há em seu discurso uma demanda constante de amor e de atenção. E quando o namorado, esse elemento externo, aparece, então ela reclama por não ter podido se apropriar de seu desejo. E, nesse ponto, em que um externo se coloca entre ela e a família, chega-se à sua mãe, que demora um tanto para se apresentar em análise.

Em se tratando de um romance familiar, não podemos nos esquivar de sua complexidade. Podem-se mudar as particularidades históricas, podem-se mudar os elementos que compõem o romance, seus personagens e seus enlaces, mas o complexo de Édipo permanece sendo a referência orientadora que nos permite delinear as cenas que constituem o sujeito no caminho de seu desejo. Para tanto, lanço mão da clareza e do poder de condensação de Leader (2013), para não nos delongarmos na retomada do complexo:

O complexo de Édipo faz três coisas. Primeiro, introduz a significação, ao ligar a questão do desejo da mãe a uma resposta: o pai e o falo. Segundo, localiza a libido, a intensidade de nossos apegos e interesses sexuais, fazendo da imagem proibida da mãe – ou de partes dela – o horizonte do desejo sexual. Assim, há uma localização da libido, uma ancoragem que situa os objetos de nossos desejos fora do corpo. Terceiro, ele nos permite situar a nós mesmos em relação ao Outro, encontrar uma distância segura e passar para um outro espaço em que não existamos simplesmente nós e ela (p. 79).

Apenas um horizonte, que haja uma distância é o que o terceiro momento do Édipo sugere como dissolução de uma ligação incialmente estreita e dual com a mãe. Mas, a partir do momento em que Aurora começou a dizer de sua mãe, não mais parou de narrar como era presente a existência dela em sua vida, e de uma forma sufocante. Eram raras as sessões em que o assunto principal mudava e não tinha como eixo a existência da figura materna. Assim, vários elementos que corroboravam o tema foram trazidos, como o fato de que apenas sua mãe podia brigar tanto com ela quanto com a irmã, sendo esse papel proibido ao pai; ou de que, na adolescência, Aurora era obrigada a fazer dietas sem sentido junto com a mãe, que insistia na questão de que ela deveria ser magra. E essa relação era extremamente diferente no que se referia a sua irmã, pois a preocupação de saber onde Aurora sempre estava, como e quando ela saía só existia com ela e nunca com a irmã.

Havia uma mãe de Aurora e outra mãe para sua irmã, pois o que está em questão nesse complexo constitutivo do desejo é:

De que modo a criança interpreta a fala e o comportamento da mãe, e de que modo essa interpretação destinará os elementos posteriores a um de diversos conjuntos. Esse processo edipiano reúne várias representações do desejo materno através do ato de denominar, e gera uma categorização inconsciente (Leader, 2013, p. 79).

Leader se refere ao foco que Lacan dará na apreensão do sentido por meio do contexto e do tom de voz. A aproximação entre mãe e filha e o distanciamento da figura paterna fez dessa mãe uma parceira sufocante.

Assim, mesmo com a exigência constante que a mãe fazia, de Aurora ficar sempre próxima, ela percebia que a mãe não se interessava realmente por seus assuntos e queria dizer apenas dos seus. Incomodava-se muito com o fato de a mãe mexer nas coisas de sua irmã para vigiá-la e ainda contar para ela, mesmo que Aurora afirmasse não querer saber. Assim como se ressentia pela culpa que sua mãe depositava nela, que a responsabilizava pelo estado de sua irmã, já que esta se queixava da preferência por Aurora e de ser ela o modelo a ser seguido. A invasão também se fazia literalmente. Era proibido que tanto Aurora quanto a sua irmã restringissem o acesso a seus quartos. Da mesma maneira, o uso do banheiro durante o banho tinha o acesso permitido por todos. Com exceção do pai que, por ser homem, poderia entrar no banheiro quando quisesse, mas o contrário não era permitido.

Por outro lado, o pai em nada se manifestava. Pouco conversava e passava boa parte do tempo que estava em casa jogando em frente ao computador, algo que ele gostava bastante de fazer. Aurora, em algum momento do processo de atendimento, expressou que sabia que sua mãe fazia tudo isso com ela, toda essa intromissão, porque seu pai era fraco e não fazia nada. Ele deixava toda essa situação acontecer, sempre. Ela era muito ressentida, também, pois esse lugar do pai na vida acabou por levá-la a não saber o que seria um carinho recebido por parte dele. Sua referência estava mais em um avô já falecido (por parte de pai, e com quem o pai dela era brigado) que, mesmo sendo um militar na época da ditadura e cometendo ações repressoras nesse contexto (o que ela hoje em dia não tinha concordância nenhuma), era capaz de colocá-la no colo e lhe contar histórias, o que o seu pai nunca havia lhe oferecido.

Aurora, durante os atendimentos, por vezes, demonstrava uma clareza muito grande de sua situação. Fazia alusão ao fato de não poder ser tudo para a mãe, porque isso seria doentio, porém se sentia culpada pelo ressentimento que a mãe estabelecia quando ela tentava se afastar. A insistência da mãe da paciente era mesmo visível, visto que, no decorrer dos atendimentos, Aurora se distanciou um pouco mais da dinâmica familiar, percebendo que não podia entender tudo e que acabaria em uma inexistência ao se anular para evitar confusões. A partir de então, a mãe passou a questionar o afastamento da filha e a sua motivação para tal. Começou a pedir que ela ficasse mais perto dela, que se deitasse com ela, e o pedido se tornava uma obrigação, pois ela não parava de chamar a filha enquanto esta não fosse a seu encontro. Da mesma forma, ao saber que, na semana seguinte, Aurora não teria aula e que seria uma oportunidade para resolverem algumas questões que precisavam, a mãe fez a programação completa da semana, envolvendo ambas.

Já nesse momento, havia ocorrido também um certo afastamento por parte da paciente em relação à sua irmã, por não querer tomar os problemas dela para si, deixando de chamá-la de sua "bonequinha" e, com muita dificuldade, disse um dia que era difícil reconhecer que não gostava mais dela. Entretanto, nessa mesma semana, Aurora precisou cuidar de sua irmã, pois ela dizia que estava com medo e não conseguia dormir, alegando ter visto alguns espíritos.

Mas Aurora percebia a diferença gritante em relação a sua mãe, já que ela não conseguia deter esta. E que, ao ver a sua mãe novamente tomando controle de algumas coisas, tinha medo de que a situação voltasse a ser como antes. Ao ser questionada sobre uma inexistência de limites entre ela e a mãe, Aurora disse achar o fato engraçado porque não entendia como uma mãe podia colocar um filho como um complemento de si. Assim como via uma grande diferença em relação à mãe de seu namorado, que brigava muito com ele, mas o deixava com raiva e o afastava. Ao contrário, sua mãe queria colocá-la dentro dela.

Quase ao término do semestre, Aurora me comunicou que decidira fazer um curso de costura, coisa que a interessava bastante. Todavia, sua mãe também tinha interesse pelo mesmo curso. O pai não poderia pagar para as duas e, naquela situação, ela já sabia que provavelmente perderia para a mãe, pois esta, adiantando-se na defesa, já tinha dito que poderia aprender e depois ensinar à filha.

De uma forma mais elaborada, aos poucos, Aurora conseguia driblar as invasões e interrupções que a mãe provocava em sua vida. Em meio a essas questões de escolhas e desistências, ela decidiu, logo após alguns dias, trocar de curso. Não faria o desejado curso de audiovisual, já que não existia em sua universidade, entretanto transferiria para o curso de moda. Já havia decidido pegar apenas as matérias que a interessassem no outro semestre, para manter a matrícula, e comunicou em casa sua escolha, que o pai achou tranquila, pois preferia que ela fizesse algo que lhe agradasse. A mãe também disse estar tudo bem, entretanto, desde a comunicação, esta passou a implicar com o excessivo interesse de Aurora por moda.

Chegamos ao fim do primeiro semestre, e o caso de Aurora se encontrava nessa situação. Ela, aos poucos, trabalhava para um distanciamento saudável do discurso da mãe, que inicialmente a dominava e a deixava perdida em seu destino, sem poder ter notícias de seu percurso de sujeito. Retomando o início dos atendimentos, fica claro o desenrolar de seu processo no fato de se permitir enfrentar o desejo da figura materna sobre o seu, de poder entender que as escolhas de sua irmã não eram sua responsabilidade e de questionar o lugar de seu pai nessas relações, o que antes era impensável, nem mesmo reconhecível.

Da mesma forma, Aurora passou a se ver bem menos como a "compreensiva" ou de sempre usar o "não sei" a cada vez que era preciso explicar melhor um acontecimento ou sentimento. Ela não aceitava mais o assujeitamento destinado a ela por sua mãe. Todavia Aurora se ressentia porque não queria que, necessariamente, houvesse confusões e raivas, e tristezas, porque ela tomava caminhos próprios em sua vida. Ao retornar as atividades do semestre seguinte, Aurora não retomou o tratamento. Ao telefonar para a paciente, para combinar seu retorno, esta agradeceu pelos atendimentos e disse que eles tinham contribuído em muito para ela naquele momento, mas que agora ela não sentia mais tanta necessidade de ser atendida como antes.

Infelizmente, a interrupção do semestre na Clínica Escola não favoreceu o momento do processo de Aurora. Essas e outras questões trazidas pelos atendimentos em instituições são temas de profícuo debate, contudo permanecerei com a discussão do caso e deixarei essas questões para um futuro trabalho.

4. CONSIDERAÇÕES ACERCA DO NASCIMENTO: ARTICULAÇÕES TEÓRICAS

Se a Aurora realmente aconteceu? Ao menos uma parece acontecer a cada dia, mas penso ser impossível determinar um ponto em que a ascensão de um sujeito ocorra e, a partir desse momento, passe a existir de forma insistente. Questionar o nascimento, nesse caso, foi uma necessidade de tentar entender melhor a alienação materna que pode continuar a existir, de um filho apêndice sendo o tamponamento da falta da mãe. Uma ilusão de que, assim, nenhuma falta vai fazer-se mais presente. Entretanto, ao contrário desse engodo, se a mãe tenta inicialmente, em sua função materna, nomear e responder às demandas do sujeito, ela também precisa possibilitar que ele advenha por meio de seu próprio desejo. Esse fato coloca ao sujeito a questão da falta de objeto que o constitui, noção já apontada por Freud em seu artigo A pulsão e as suas vicissitudes, Freud (1915/1976),1 quando diz que o objeto é o elemento mais variável e que pode ser constantemente substituído para a realização da meta pulsional.

Ao início da vida, o recém-nascido encontra-se à deriva, sem destino pulsional marcado por traços mnêmicos (Freud, 1895/1990). Aqui a presença do outro erogenizando o corpo do infante é o que funda seu psiquismo, e isso por meio da nomeação das satisfações desse corpo. O que significa dizer: por meio do oferecimento de objetos que envolvam a pulsão dando destino às satisfações de seu corpo. Isso que inicialmente é uma grande invenção do outro que cuida e marca com os seus significantes, principalmente em sua potência sensorial (voz, olhar, tato), o corpo psíquico do novo ser, dando destino ao que assumirá o lugar do desejo. Portanto é realmente preciso que o outro inicialmente nomeie as demandas, auxiliando na composição de uma linguagem própria, não mais do outro, mas Outro, o que é próprio da alteridade.

Ao longo das sessões, entretanto, é perceptível que Aurora não conseguisse discernir muito bem o limite em que esse outro poderia fazer as suas nomeações e os momentos de assunção dos seus próprios desejos. A compreensão dessa dependência tem desdobramentos nos dizeres de Aurora e ecoa, desde os primeiros tempos nos atendimentos, por sua tentativa incessante de se colocar no lugar do outro, evitando conflitos entre esse desejo que a atravessou desde muito cedo, constituindo-a, e um Outro desejo. Assim é que a paciente, em vários momentos, traz a ideia de que sempre pensa e se coloca no lugar do outro, ou de que tenta, ao máximo, compreender as diversas situações, mesmo que estas se configurem de forma desfavorável a ela, pois deve mais uma vez compreender as maneiras de agir de cada um. E, ao colocar-se tão compreensiva a esse outro, acaba por estabelecer um assujeitamento e não uma assunção própria de si como sujeito, e permanece demandando, apesar de se perceber doando.

Quando nos referimos a esse outro, podemos fazê-lo de várias formas, e uma delas é a ideia de Outro, no qual estamos dizendo sobre um conceito que está além do sentido de outro como a existência de um sujeito qualquer, preso a um imaginário de individualidades. Dizer do Outro é falar do campo da linguagem, das determinações simbólicas e dos significantes, que colocam para o sujeito algumas significações que passam a constitui-lo. É assim que o sujeito vai se ver em determinadas fantasias, desejos e ideais. Percebe-se que esse Outro acaba sendo, para o sujeito, o lugar dos significantes dados anteriormente ao nascimento, pois

Antes de vir ao mundo já lhe dão um nome, um sexo, um time de futebol, uma profissão; ele já nasce em uma determinada classe social com seus valores e preconceitos e num país com sua cultura e sua língua – tudo isso constituirá o Outro para ele (Quinet, 2012, pp. 27-28).

Se, por um lado, submeter-se aos significantes oferecidos pelo outro é um processo de constituição necessário a todos, por outro, é preciso que haja um momento posterior à alienação, que é justamente o de separação, pois isso faz com que o sujeito possa se constituir ao poder desejar e não apenas "se colocar no lugar do outro". Segundo Zalcberg (2003), se a alienação é o momento de dependência das significações dadas pelo outro, torna-se necessário um segundo momento seguido a esse tempo inaugural, "que introduza uma primeira separação entre a mãe e a criança e possibilite a esta sair da posição de total submissão ao mundo do outro materno" (p. 55). É claro que tal processo ocorreu com Aurora de forma estrutural. Contudo a confusão dessa posição materna ecoava de forma sintomática, provocando o empuxo à repetição, principalmente no que se refere à dívida neurótica.

Quanto ao pai biológico, permanece a incerteza sobre sua função paterna. Não podemos nos esquecer de que, ao dizer de funções maternas e paternas, estamos falando de posições subjetivas que dão destino ao desejo da criança por meio de nomeações de objetos, noções do que é um corpo, laços afetivos, interditos de determinados desejos, etc. Logo, exercer tais funções é um espaço dado a qualquer um, e não necessariamente à mãe ou pai biológicos. Dizer, então, da intromissão paterna é apostar em uma Lei que estabeleça para a criança outro lugar que não o de existir apenas para a satisfação do desejo materno, assim é que "nesse processo de alienação e separação, é a Lei do pai que deverá vir em seu auxílio para frear esse poder absoluto do Outro materno e evitar que a mãe faça da criança o centro de sua vida" (Costa, 2010, p. 52).

Talvez essa intervenção no desejo materno de fusionamento com Aurora tenha sido dada muito mais pelo avô paterno do que pelo próprio pai; essa dúvida é apresentada pela própria paciente. Como descrito nos relatos acima, Aurora tem a clareza de que toda a invasão de sua mãe é resultado também da fraqueza de seu pai, que deixou a situação sempre acontecer, não se manifestando, não dizendo, não barrando a mãe. Um não cuja negatividade é dada pela ausência e não pela presença de limites reais. Poucas vezes, esse pai foi citado em suas sessões, a não ser como aquele que ficava parte do dia jogando em frente ao computador.

Todavia, mais importante do que saber quem realmente realizou as respectivas funções, é notar como realmente cada função se fecha em um sentido. É a própria paciente quem é capaz de apontar que havia uma alienação de sua parte a todos os quereres de sua mãe, que não a deixava sair de perto ou arranjar novos amigos ou não estar com ela por estar com o namorado. E como a mãe se irritava ou exigia a volta dela toda vez que havia tentativas de afastamento. De uma irritação pela escolha da filha em cursar moda e assim não precisar mais de seu ensino, como ela havia proposto ao competir com a filha por um curso de costura.

Um ponto importante que deve ser colocado, porém, em toda essa questão da relação mãe e filha, é a especificidade da sexualidade feminina. Se, por um lado, apela-se ao pai para que venha exercer a função lógica de operador da castração, por outro, ele é convocado a suprir o vazio de representação da mulher, pois, para o feminino, no lugar do significante fálico, tem-se a falta, como esclarece Schermann (2007):

Devido a esta privação estrutural, pois a libido é sempre masculina e fálica, o gozo da mulher é inominável. O gozo da "mulher que não ex-siste", segundo Lacan, põe em evidência que há algo que faz barreira ao "todo" fálico. É a mulher que se opõe ao "todo" homem representante do universo das palavras. Por outro lado, esse gozo inominável somente começa a existir no momento em que pode ser falado. Essa parte da vertente feminina, transportada para o que pode ser articulado pela linguagem, evoca outra relativa ao gozo inefável e sobre o qual nada pode ser dito, apenas sentido. Isto porque o significante A Mulher não existe (p. 323).

Esse não lugar do feminino revela o não saber sobre o que é ser uma mulher, sobre o significado do feminino. Na procura de um encontro e de nomeações para o gozo, as mulheres buscam encontrar nas outras referências a construção de um saber sobre o que é ser mulher, de forma a dependerem umas das outras e, ao mesmo tempo, nunca alcançando uma verdade sobre a identidade feminina.

Ao primeiro momento, essa mãe que é alvo de amor também será odiada ao ser responsabilizada pela ausência no corpo de um significante próprio do feminino. Essa mesma ausência está presente na saída do Édipo, o que também a torna confusa. Com isso, o ressentimento sempre se apresenta pela esperança continuamente frustrada de que a mãe, em algum momento, pudesse lhe dizer o que é ser mulher. Ao mesmo tempo, essa questão volta-se a todo instante para a própria mãe, que também se pergunta desse lugar.

Essa ausência de uma resposta sobre o que é ser uma mulher está ligada ao fato de que a constituição da sexualidade dos sujeitos apresenta-se por uma singularidade no que se refere à posição feminina. Esta seria marcada pela falta de um significante que a represente. Isso porque existiria, apenas na posição masculina, um eixo norteador dado pela significação fálica. Assim é que, em seu artigo A organização genital infantil: uma interpolação na teoria da sexualidade, Freud (1923/1976) reconhece que a escolha de um único objeto para investimento libidinal não se caracterizaria como a principal diferença entre a primazia genital e o que é obtido na maturidade. A particularidade principal descoberta pelo criador da psicanálise é que a criança crê que existe apenas um órgão sexual, portanto

A característica principal dessa "organização genital infantil" é a sua diferença da organização final do adulto. Ela consiste no fato de, para ambos os sexos, entrar em consideração apenas um órgão genital, ou seja, o masculino. O que está presente, portanto, não é uma primazia dos órgãos genitais, mas uma primazia do falo (Freud, 1923, p. 180).

A certeza quanto à existência apenas do órgão sexual masculino, todavia, será posta em questão no decorrer do desenvolvimento. Indícios começam a fazer ruir a ideia de um único sexo. Um desses indícios se faz presente a partir da manipulação dos órgãos genitais por parte das crianças. Tal ato masturbatório é motivo de represálias por parte de adultos, que geralmente se utilizam da ameaça de castração, dizendo à criança que seu órgão será arrancado ou cortado. Esse fato, por si só, é bastante insuficiente para causar a desconfiança de que o pênis pode não ser comum a todos, ou então, que pode ser assim retirado. O que acontece, porém, é que não é a primeira vez que a criança tem notícias de que algo pode dela ser retirado. Assim é que Freud (1924/1976), em seu artigo A dissolução do complexo de Édipo, aponta para o fato de que a criança já se deparou com a perda de partes altamente valorizadas de seu corpo, dadas pela retirada do seio materno e a exigência de que deva soltar seus conteúdos intestinais.

Esses motivos, entretanto, não parecem mostrar que algo tão seu pode lhe ser destituído. O que se apresentará como fator central é a comparação com o sexo oposto. Meninos e meninas percebem que não possuem o mesmo órgão genital, o que realmente materializa a ideia de que algumas pessoas não possuem o pênis. Leva-se um tempo para abandonar a ideia de que o genital feminino é pequeno e ainda virá a crescer. Geralmente tal ideia não mais se sustenta quando, diante de uma mulher adulta, a criança percebe que não houve o crescimento de um pênis, de forma que a única conclusão possível é a de que o sexo feminino só pode ser castrado. Entretanto, segundo Freud (1923), até mesmo a generalização dessa constatação deve ser vista com seus devidos cuidados, pois poderia ser apenas uma punição merecida de algumas mulheres. É com a retomada das questões referentes ao nascimento dos bebês que se torna impossível a permanência da ideia de um pênis no sexo feminino.

Freud (1923) ainda deixa bem claro que a ideia de um complexo de castração só pode ser verdadeira se não deixarmos de fazer a vinculação com os órgãos genitais masculinos, pois, se perdas anteriores são importantes para esse processo, não devemos nos esquecer da primazia fálica. Desse modo, a questão do complexo de castração é contemporânea ao período de organização fálica. Entretanto precisamos lembrar que todas essas questões apenas fazem sentido se colocadas lado a lado com o complexo de Édipo, que também é contemporâneo a esse período.

Nessa relação familiar fundamentalmente incestuosa, presente no desenvolvimento de cada um, tanto para meninos quanto para meninas, o primeiro objeto de amor é a mãe. Entretanto o abdicar desse objeto de amor é dado por motivações bem diferentes, pois, se para o menino, há uma escolha narcísica de não querer perder seu órgão genital; para a menina, é o ódio e a culpabilização que se apresentam.

O deslocamento do amor ocorre quando, em sua comparação, a menina acaba por perceber que seu órgão é pequeno em relação ao de seus companheiros, o que faz com que esta acredite que teve um órgão grande, mas que o perdeu por castração (Freud, 1924). Além desse sentimento de inferioridade, um afastamento da figura materna se faz presente dado que "A situação como um todo não é muito clara, contudo pode-se perceber que, no final, a mãe da menina, que a enviou ao mundo assim tão insuficientemente aparelhada, é quase sempre considerada responsável por sua falta de pênis" (Freud, 1925/1976, p. 316). Já não fosse essa falta, em que a mulher apresenta seu sexo por vias da não presença, a própria saída do complexo de Édipo feminino parece também ser indefinida, pois, como aponta Freud (1925), a castração já foi dada e não é, como no menino, uma ameaça que serve de porta de saída e assunção do superego. No sexo feminino, até mesmo a força motivadora de constituição do superego é indeterminada.

Ao revisitarmos essas considerações freudianas acerca do feminino, é quase impossível pensar que uma relação harmônica dar-se-á entre mãe e filha, visto que esse não saber sobre a identidade feminina estará sempre presente e referido à herança materna. Marcado por um não saber, mas que é também entendido como um não querer dizer. E o que aqui se apresenta nesse caso é justamente uma forma de lidar com essa falta, só que, em vez da predominância do ódio de uma filha contra o não dizer de sua mãe, há o aprisionamento de uma mãe que não quer lidar com sua falta. Com essa recusa, o filho se torna o falo que a mãe não teve, e talvez caiba pensarmos o problema que é pensar a mulher como exclusivamente mãe.

Essa confusão é até mesmo realizada por Freud, que, em suas teorizações, acabou por limitar a feminilidade à maternidade, pois a menina devia esperar um filho do pai em troca do pênis que não possui. Essa saída, embora pareça a mais favorável, não se mostra tão diferente no que se refere a uma escolha que ainda se pauta pela questão fálica, apenas deslocando a ideia de se obter o falo em tempos posteriores. Segundo Birman (1999), no discurso freudiano, as mulheres acabam por se ver em um caminho sem saída, pois seja pela via da "frigidez, da virilidade ou da maternidade, as mulheres sempre se situariam em uma posição de identificação fálica; existiria, então, somente o sexo fálico" (pp. 205-206).

Desenvolvimentos posteriores da psicanálise nos permitem percorrer por outros caminhos que não o da maternidade, vias estas possíveis, por exemplo, no que Lacan diz sobre tal questão. Em vez de uma junção, Lacan vê caminhos diferentes para a mulher e a maternidade. É o que aponta Zalcberg (2007), pois que "É esta a tese de Lacan: em vez de sobrepor a mãe e a mulher, como Freud o fizera, ele as separa. Para ele, a mãe e a mulher não só não se recobrem por completo como também, de certo modo, podem constituir posições antagônicas" (p. 68).

Isso porque, para uma mulher, seria muito mais possível sacrificar a dita condição materna, por exemplo, em favor de uma escolha amorosa. É o que ocorre no mito de Medeia, o qual Lacan retoma para mostrar como essa personagem mítica demonstra "a distância subjetiva de uma mulher com sua posição de mãe. O ato de Medeia de sacrificar seus filhos queridos como resposta à traição de Jasão indicaria que ser mulher é, para ela, algo superior a ser mãe" (Zalcberg, 2007, p. 69). Tais caminhos apontam, então, para a possibilidade de ser mãe e de também abdicar do papel materno.

Além disso, não podemos nos esquecer de outro posicionamento possível ao feminino quando pensamos nas considerações lacanianas sobre essa questão. Esse outro espaço se assemelha à experiência mística e é até mesmo a capa ilustrativa do seminário Mais, ainda – livro 20 (Lacan, 1985/2005). O Êxtase de Santa Teresa, escultura de Bernini, mostra-nos o gozo de Teresa de Ávila quando um serafim trespassa uma flecha por seu coração, inundando-a do amor de Deus. Mostra-se que "ela está gozando, não há dúvida. E do que é que ela goza? É claro que o testemunho essencial dos místicos é justamente o de dizer que eles o experimentaram, mas não sabem nada dele" (Lacan, 1985, p. 103). Esse êxtase dado a Deus pelo cristianismo é o lugar feminino de gozar, a mística não é nada mais do que entrever esse gozo mais além. Para Lacan (1985), é nesse sentido que todo o círculo de Charcot errou, pois o que se fazia era:

Carregar a mística para as questões de foda. Se vocês olharem de perto, de modo algum não é isto. Esse gozo que se experimenta e do qual não se sabe nada, não é ele que nos coloca na via da ex-sistência? E por que não interpretar uma face do Outro, a face Deus, como suportada pelo gozo feminino? Como tudo isso se produz graças ao ser da significância, e como esse ser não tem outro lugar senão o lugar do Outro que designo como A maiúsculo, vê-se o envesgamento do que se passa (p. 103).

O gozo Outro é justamente a especificidade do gozo feminino. Em Mais, ainda, Lacan faz a ligação da sexualidade feminina com esse Outro que se torna o Outro sexo. O que se diz aqui do Outro, então, é justamente sobre sua parte faltante, do inapreensível que remete ao absoluto, e não especificamente do Outro das significações e da linguagem. Soler (2013) nos dá um bom exemplo dessa distinção, ao apontar para essa faceta real do grande Outro, assim "É esse o emprego que Lacan faz do termo, quando ele fala da mulher como Outro absoluto, eu poderia dizer Outro real, enquanto excluído do discurso" (p. 128). É nesse absoluto que Lacan (1985) coloca a mulher caso ela existisse, pois ela estaria exatamente nesse lugar opaco do grande Outro, situado no Ser supremo e que remete à esfera imóvel na qual Aristóteles depositava a procedência de todos os movimentos, translações e crescimentos.

Feitas tais considerações acerca da posição feminina, é interessante observar que a confusão que coloca o lugar materno como destino de ser mulher pode levar a uma intensificação do aprisionamento de um filho, pois, ao colocar apenas o lugar materno como via possível a uma mulher, finda-se a possibilidade de outras existências. Se há essa restrição apenas nessa possibilidade, pode-se compreender o porquê de essa mãe não largar seu filho, pois isso é tudo o que ela é. Além disso, viver podendo ser mãe, mas também não se esquecendo de que se é mulher, possibilita à mulher entrar em contato com aquilo que diz respeito justamente à falta presentificada pelo feminino. Ser uma mãe e ser uma mulher é conseguir enxergar que, mesmo sendo mãe, que mesmo apresentando várias significações para um filho, não é isso apenas que deverá ser feito. Até mesmo porque, mais do que exigir que a entrada da Lei venha com uma função paterna, essa significação fálica só consegue cindir esse relacionamento mãe/bebê caso essa mãe perceba que ela não está apenas nesse lugar, que ela também saiba ver a falta desse feminino e saiba fazer faltar para a sua criança.

Relembrar os atendimentos de Aurora era passar constantemente pela sensação de que quem eu atendia era o seu relacionamento com a mãe. Que as suas angústias não tinham origem na relação com sua irmã, mas na voracidade de sua mãe. Se a “bonequinha” de Aurora era realmente depressiva, se via coisas em suas alucinações histéricas, nunca poderei saber, mas a situação dela era expressa declaradamente por acreditar na preferência de sua mãe pela irmã mais velha. Preferência que era devorar, que era não gostar do namoro da filha porque a sexualidade trouxe a possibilidade de Aurora declarar que o corpo era dela, de pedir para a filha se deitar com ela, de sentir ciúmes dos colegas e das mães dos amigos, de querer colocar Aurora dentro dela novamente. Não, não sei se ela nasceu, até porque parece que não há um momento definitivo para o nascimento, mas sei que ela tentava. E por isso a escolha por Aurora, que foi embora, mas espero que para outros dias, mesmo que não esteja mais nos meus.

5. TEMPO DE SE PÔR: RESULTADOS FINAIS

Muitas vezes, enquanto atendia, tinha a impressão de que quem sabia de psicanálise eram os meus pacientes. Em alguns momentos, parecia que havia, por parte deles, um conhecimento prévio da teoria que me orientava. Só que, ao contrário disso, podemos, a partir do momento que entramos em contato com a escuta da clínica, entender melhor o porquê da insistência de Freud em dizer que sua teoria era, na verdade, uma prática teorizada. Eles não leem os livros de Freud, não na maioria das vezes, mas eles a fazem. Todos os meus pacientes atendidos no decorrer do estágio me entregaram questões que me geravam espanto quanto a ver claramente coisas que até então eu havia lido e me pareciam um pouco distantes.

Entre essas surpresas, acabei por atender a paciente que aqui escolhi para construir este estudo de caso que me disse tanto da psicanálise. De uma teoria que me deu suporte diante dos atendimentos e destes como suporte ao que está presente na teoria. Seria impossível alegar, com absoluta certeza, que passar por um processo de atendimento é encontrar, a seu fim, a resolução das questões de uma vida. Tais problemáticas nos constituem e é impossível que elas não componham nossas ações, mesmo após um longo período de análise. Poderíamos dizer que esse nem é ao menos o intuito da perspectiva psicanalítica, pois não se trata de curar, mas sim fazer com que passemos a lidar de uma forma mais confortável com aquilo que nos atravessou no decorrer do nosso processo de constituição.

Mas o mais assombroso é encontrar ali, na análise de uma outra pessoa, o destino disso que eu, como mulher, também precisava saber: o que esperar de uma análise? Eis que outra mulher também me ajuda a pensar:

Espera-se de um analista que ele opere como passador do feminino, ou seja, que o analista saiba operar o real ao qual as mulheres estão mais próximas. A experiência analítica visa alcançar um ponto do impossível de dizer para que o sujeito aprisionado aos seus embates, fantasmáticos ou sintomáticos, possa retomar a pulsação do desejo, relançando novos significantes que o orientarão em seu modo de gozar (Schermann, 2007, p. 324).

O analista como "passa/dor", como esse que nos faz atravessar a dor que, muitas vezes, pode aparentar ser um destino, mas não necessariamente. Ao relembrar o tempo entre o início e o fim das sessões de Aurora, constato uma reconfiguração que abriu a possibilidade de uma vida menos dolorida. A analisante em questão passou a perceber que era preciso não entender sempre as situações que vivia, principalmente aquelas que envolviam o seu cotidiano familiar.

Com Aurora, foi possível acompanhar o início de sua mudança de posição em relação a sua mãe, pela diferenciação. Aurora começou a se perceber nesse espaço entre ser filha e não somente um objeto de tamponamento da falta materna. Ela soube da mulher que precisava nascer, mesmo sem respostas perante a posição feminina. Portanto, seja por escolhas que começaram a existir ao que antes era apenas silêncio e entendimento ou por negações diante de pedidos e discordâncias de opiniões do seu núcleo familiar, penso ser possível dizer que ocorreu uma mudança de posição em Aurora e que aconteceu durante seu tratamento.

Ao mesmo tempo, compreendi um tanto dos constructos teóricos ao me deparar com a assunção do lugar de analista, pela possibilidade de aprender, ainda que bem pouco, a mostrar para aquele que busca um saber sobre o que o leva a sofrer, que estão com eles suas próprias palavras e sua própria história. Por essas vias, entendi o que Quinet (2009), em As 4+1 condições de análise, diz quando "É o analista com seu ato que dá existência ao inconsciente, promovendo a psicanálise no particular de cada caso" (p. 8). Comecei a compreender também certos questionamentos sobre o tempo, pois "O que é esse tempo, que não é um tempo padrão, cronometrado, mas um tempo de acordo com o inconsciente? E se o inconsciente é atemporal, como diz Freud, como regular a sessão a partir do inconsciente?" (Quinet, 2009, p. 51). Com essas questões, eu me deparei, pela primeira vez, com a noção do tempo de cada um. E assim se fazia também para mim, e não apenas pelo conteúdo dado nas palavras de Aurora, um encontro entre teoria e clínica.

Posso dizer que era bem agradável atender Aurora, porque ela percebia sem muita dificuldade o que acontecia, mesmo que com muita dor. Ela falava facilmente e não se preocupava tanto com a “hipótese diagnóstica” tão buscada por alguns. O nome fictício escolhido para essa paciente, Aurora, foi justamente pelo seu movimento durante o processo de atendimento, que foi da entrega constante ao outro, à percepção de que havia algo estranho em se anular tanto. Porque, mesmo em meio a tantas angústias, era notável que ela queria muito nascer, e que esse era o motivo dela estar ali. Apesar de todas as dificuldades em se deslocar de uma posição até então vista como única e começar a se movimentar, vivemos (eu e ela) a experiência da confirmação de que, por meio do auxílio dos atendimentos clínicos, tal transformação era possível. Era a hora da Aurora.

REFERÊNCIAS

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Texto recebido em 11 de janeiro de 2017 e aprovado para publicação em 19 de outubro de 2017.

 

 

*Mestra em Performances Culturais pela Universidade Federal de Goiás (UFG).E-mail: lucienne_1990@hotmail.com.
**Doutora em Psicologia Clínica e Cultura pela Universidade de Brasília (UnB) e professora adjunta de Processos Clínicos no Curso de Psicologia da UFG.E-mail: marcelapsiufg@gmail.com.
1 A primeira data indica o ano de publicação da obra, e a segunda, a edição consultada pelo autor, a qual somente será pontuada na primeira citação da obra no texto. Nas seguintes, será registrada apenas a data de publicação original.

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