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Revista da SPAGESP

versão impressa ISSN 1677-2970

Rev. SPAGESP v.1 n.1 Ribeirão Preto  2000

 

PARTE II - O GRUPO FAMILIAR - DIFERENTES ASPECTOS E ABORDAGENS

 

Grupos hoje: o grupo familiar &– diferentes aspectos e abordagens - intervenções1

 

 

Antonietta Donato2

Núcleo de Estudos em Saúde Mental e Psicanálise das Configurações Vinculares - NESME

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

A autora faz uma breve consideração sobre o panorama atual das demandas em psicoterapia familiar e apresenta sugestão de estratégia técnica para as abordagens breves e focais.


ABSTRACT

A brief consideration is developed about the current situation of new demands on family psychotherapy and some suggestions are presented for technical strategies.


RESUMEN

La autora hace una breve reflexión sobre lo panorama actual de las demandas en psicoterapia familiar y presenta sugestiones de estrategia técnica por los abordajes breves y focales.


 

 

O vocábulo HOJE remete nossa atenção ao pluralístico universo em que vivemos atualmente e, em decorrência, a repensar a relação nosso trabalho versus atualidade.

Muitas obras e comunicações têm sido desenvolvidas a respeito abordando os mais variados ângulos deste multifacetado universo. O livro de Haim Omer “Intervenções críticas em psicoterapia”, por exemplo, considera que nosso universo atual é pluralístico e que, portanto, já não podemos pensar em um só modelo para resolução de conflitos psíquicos.

Para ele significa que a terapia pode se mostrar ineficaz não apenas devido a uma profunda patologia ou uma resistência intratável, mas simplesmente por não conseguir causar uma impressão suficientemente forte para competir com as exigências da vida atual.

A oportunidade desta mesa que enfoca a família nos leva a pensar as conseqüências deste universo pluralístico que penetra nos lares através da mídia e do conviver, numa velocidade vertiginosa. Torna-se mais complexo e às vezes impossível para a família manter a autonomia para se auto-regular. Crises evolutivas, cíclicas e outras acabam tomando dimensões maiores do que a sua capacidade de digerir.

Retomando a afirmação de Omer de que um único modelo já não dá conta da resolução de conflitos, é importante deixar claro, a nosso ver, que não se trata de substituir teorias e métodos já estabelecidos, mas sim acrescentar, principalmente no que diz respeito a método e técnica.

Acreditamos que atualmente as terapias breves e focais se fazem necessárias e úteis para aqueles casos em que a família, inserida neste universo pluralístico e veloz, precisa de um espaço para se recompor devido ao excesso de estímulos e transformações. Tais terapias trabalham com enfoque situacional de crise; um corte transversal que considera os psicodinamismos que determinam a problemática no presente. Por se tratar de terapias de tempo limitado surgem aí já alguns complicadores. Não se pode ficar esperando, como numa terapia de longa duração, para obter dados diagnósticos, planejar e objetivar; o terapeuta precisa intervir e ser ativo. Como?

Novas Demandas, Novos Instrumentos, Ou Melhor, Resignificação de Estratégias já Conhecidas

Um bom recurso para dar conta dessa situação é a proposta de atividades centradas no tema de cada caso. Intervir nas sessões propondo atividades como desenhos, colagens, dramatizações, histórias etc., têm se mostrado em nossa prática excelentes e eficientes auxiliares. Para nós, tais recursos têm valor de:

- objeto transicional

- objeto de diagnóstico

- objeto de relação e vínculo - objeto de impacto

- objeto de observação de dinâmica

Duas dessas atividades são propostas em qualquer atendimento de família que são:

- desenho da família

- genograma

O desenho da família nos permite em tempo breve observar como cada um se localiza dentro do grupo; alguns omitem a si mesmos ou um irmão ou os pais ou um deles; colocam-se muitas vezes maiores ou menores do que realmente são em relação aos outros, chegando até mesmo a colocar duas famílias. A análise conjunta desses “retratos”, geralmente na primeira sessão nos fornece dados diagnósticos, dinâmicos, de impacto etc...

O genograma introduz para cada um novos conhecimentos e percepções a respeito da família e de si próprios e muitas vezes modifica a queixa inicial (objeto de impacto, de dinâmica...).

Outros recursos centrados no tema de cada caso são as colagens, as dramatizações e compor histórias. Essas propostas são feitas quando já temos um diagnóstico e uma queixa bem estabelecidos. Para exemplificar citamos o caso de uma família que nos consultou a pedido da escola com a queixa de que o filho de 8 anos se demonstrava pouco interessado em relação a cumprir tarefas pertinentes e aceitar o tempo real, tanto na escola como em casa.

Foi proposta a elaboração de uma colagem a: família iria construir um trem de passageiros e carga, com locomotiva, e cada um deles representaria um vagão o qual se incumbiria de fazer a colagem para posteriormente engatar no trem. Foi determinado um tempo para execução da tarefa e horário da partida do trem. A terapeuta seria observadora e se necessário interviria enquanto eles poderiam se organizar como quisessem. Foram fornecidos, lápis coloridos, canetas, guache e pincéis, cartolinas, revistas e cola. Isto permitiu observar a dinâmica familiar: como se relacionavam entre si, quem era passivo ou ativo, que papel cada um esperava do outro, como se organizavam no tempo e espaço, a aceitação de limites e qual era o papel de cada na manutenção da queixa apresentada. Por exemplo uma cena constante era a mãe superprotegendo o filho que se negava a participar mais ativamente e queria que a mãe executasse grande parte de suas tarefas etc. Pudemos “in loco” mostrar a cada um como participavam dessa situação e a mantinham. Pudemos também inserir uma noção de realidade do tempo quando, na hora do trem partir, o garoto não queria terminar sua tarefa e assim se unir aos outros. Mostrava-se indiferente e negativo; formou-se então uma confusão entre a família com lamentos queixas e raiva. Dissemos que não era necessário nada daquilo e que a única coisa que ele teria que compreender é que esse tempo não dependia deles e que o trem partiria com ou sem ele porque tinha um horário. O trem iniciou a partida e depois de alguns segundos ele pediu que esperassem e rapidamente completou seu vagão e se uniu aos outros (objeto de impacto e valor terapêutico).

Com essas considerações bastante sintetizadas encerramos nossa participação e nos colocamos à disposição para maiores esclarecimentos.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Omer, H. (l997) - Intervenções Críticas em Psicoterapia &– do impasse ao início da mudança. Ed. Artes Médicas &– Porto Alegre (RS) &– Brasil, 1997.        [ Links ]

 

Endereço para correspondência
Antonietta Donato
Rua João Cachoeira, 250 ap.24
São Paulo - SP
CEP 04535-000

 

 

1 Mesa de encerramento: IV Jornada da SPAGESP. R. Preto, Abril/2000.
2 Membro efetivo do NESME. Terapeuta familiar integrante da Àrea de Estudos em Família do NESME, Docente do NESME e da SPAGESP.