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Revista da SPAGESP

versão impressa ISSN 1677-2970

Rev. SPAGESP v.2 n.2 Ribeirão Preto  2001

 

PARTE I - EQUIPE, INSTITUIÇÕES E GRUPOS

 

Equipe multiprofissional a difícil “arte” de se relacionar 2

 

 

Sérgia Moraes da Silveira 3

Sociedade de Psicoterapias Analíticas Grupais do Estado de São Paulo - SPAGESP

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Neste trabalho, a autora escreve sobre sua experiência em uma equipe multiprofissional, tendo como objetivo refletir sobre a dificuldade desse relacionamento.


ABSTRACT

In this work, the author writes about her experience in a multi-professional team, aiming to reflect on the difficulty of this relationship.


RESUMEN

En este trabajo, la autora escribe sobre su experiencia en un conjunto multiprofesional, con el objeto de reflejar sobre la dificultad de ese relacionamiento.


 

 

Desde o início, tive o desejo de estar estudando e entendendo melhor a dinâmica de uma Equipe Multiprofissional. Durante as aulas, recordo, por vezes, momentos que vivenciei na equipe à qual pertenço. Estes, causadores de angústia, ansiedade, raiva, inveja, medo e desconfiança.

Em primeiro lugar, alguns esclarecimentos sobre a instituição em questão: o hospital é psiquiátrico, pertencente a uma fundação beneficente, fundado há 25 anos, contendo hoje 136 leitos.

A equipe é compostas por alguns psiquiatras, enfermeiras, uma coordenadora e supervisoras, psicólogas (duas atuando no setor de T. O.), terapeuta ocupacional, assistentes sociais, médicos clínicos e/ou plantonistas. É perceptível para os participantes da equipe o quanto é difícil o nosso relacionamento. Narrarei, a seguir, alguns exemplos onde, como diz Zimerman, o problema do “mal-entendido” por vezes aparece, tendo como conseqüências: raiva, irritação e desmotivação.

A reunião da equipe acontecia todas as quintas-feiras, nas quais alguns membros não participavam. Há mais ou menos dois anos, ficou decidido pela maioria que esta reunião deveria acontecer uma vez por mês. No momento desta decisão, o motivo da mudança era devido às visitas recebidas pelos internos feitas às quintas e aos domingos, permitindo assim que os profissionais ficassem livres para o contato com as famílias. Hoje, já se diz que é necessário o cancelamento das reuniões, pois estão cada vez mais difíceis de acontecer e de serem dirigidas.

Sempre discutimos na equipe que há problemas em nossa comunicação, pois quando alguém emite uma mensagem, cada um a recebe de uma forma diferente.

A questão se torna séria, quando através de textos lidos, fica claro que há de se considerar o fato de que “todo emissor tem um estilo próprio de transmitir, o que, de modo geral, traduz a sua personalidade” (Zimerman, 2000, p.169).

Como declara Fernandes (2000), “o timbre de voz, altura, intensidade e tonalidade, denunciam as cargas emocionais de irritação e desgosto quando nos sentimos desvalorizados e afrontados, sendo impossível conter tais emoções”.

Outra observação que faço diz respeito à ‘mensagem desqualificatória’, que consiste em “negar o valor informativo da mensagem emitida pelo outro” (Zimerman, 200, p.169). Diante de acontecimentos causadores de ressentimentos, alguém fala sobre esses sentimentos na equipe, alguns membros os negam, chegando a dizer que não fazem sentido se relacionados com tal acontecimento.

Perante tantas dificuldades, aparecem os acting out (atuações). Certa apatia diante de tantas coisas a resolver; ‘busca de privilégio’; formação de ‘panelinhas’, dificultando ainda mais o andamento da equipe; os encontros de determinados membros para terminar algum trabalho iniciado no hospital; agressões verbais, e outros.

Como tentativa de melhorar o relacionamento, a comunicação, e objetivar o trabalho, por um ano e seis meses, tivemos a supervisão de um médico psiquiatra, especialista em Grupo Operativo, de Ribeirão Preto. Esta nos possibilitou uma melhor organização na forma de trabalhar. Conseguimos também realizar tarefas propostas pelo supervisor, como por exemplo, no natal de 1997, fizemos o ‘amigo oculto’ e o presente não poderia ser comprado, deveria ser feito por nós mesmos. O resultado foi surpreendente. Porém, penso não ter sido por tempo suficiente para atingirmos o objetivo de um Grupo Operativo que, de acordo com Fernandes, é “um conjunto de pessoas com objetivos comuns, que necessitam de treinamento para trabalhar como equipe”. Houve resistência de algumas pessoas e o assunto, quando vem à tona, é ignorado por alguns.

Para terminar, quero colocar a dificuldade que senti ao elaborar este trabalho, talvez por estar expondo a equipe da qual faço parte. Mas, foi enriquecedor e foi uma maneira de começar a me perceber neste grupo.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FERNANDES, W. J. - Textos de aulas (2000).        [ Links ]

ZIMERMAN, D. E. (2000) Fundamentos básicos das grupoterapias. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000, p.168-172, 179-183.        [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência
Sérgia Moraes da Silveira
Rua Elvira Silveira Coimbra, 75
Centro - 37 900 042 - Passos, MG
Fone: (35) 3521-1760

 

 

2 Trabalho apresentado na V JORNADA DA SPAGESP (marco/2001 &– Franca, SP &– Mesa 2 &– Equipe Multiprofissional: A difícil arte de se relacionar).
3 Psicóloga atuando em clínica particular e hospital psiquiátrico, em formação no Núcleo de Formação da SPAGESP - Sociedade de Psicoterapias Analíticas Grupais do Estado de São Paulo.