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Revista da SPAGESP

versão impressa ISSN 1677-2970

Rev. SPAGESP v.4 n.4 Ribeirão Preto dez. 2003

 

ARTIGOS

 

A polifonia do sonho e seus dois umbigos. 1 Os espaços oníricos comuns e compartilhados 2

 

The polyphony of the dream and its two navels. The common and shared oneiric spaces

 

La polifonía del sueño y sus dos ombligos. Los espacios oníricos comunes y compartidos

 

 

René Kaës 3

Universidade Lumière Lyon 2

Endereço para correspondência

 

 


RESUME 4

Cet article est une introduction à l’analyse de l’expérience onirique lorsque le rapport des rêveurs à leurs rêves est traversé par les rêves d’autres rêveurs. Reprenant la métaphore freudienne, l’auteur suppose deux ombilics du rêve, l’un ancré dans le psychosomatique, l’autre dans le mycélium interpsychique. L’un et l’autre reposent sur “l’inconnu” d’où les rêves surgissent. C’est de ce point de vue que sont proposées les notions d’espace onirique commun et partagé, et de polyphonie du rêve. Elles sont à mettre à l’épreuve dans divers dispositifs psychanalytiques: celui de la cure individuelle des névrosés et des patients borderline ou psychotiques, celui du groupe, du couple et de la famille.

Palavras-chave: Espaces oniriques communs et partagés; Ombilics du rêve; Polyphonie du rêve; Rêve; Rêves de groupe.


RESUMO

Este artigo é uma introdução à análise da experiência onírica quando a relação entre os sonhadores e seus sonhos é atravessada pelos sonhos de outros sonhadores. Retomando a metáfora freudiana, o autor supõe que existam dois umbigos do sonho: um ancorado ao psicossomático, e outro ligado ao micélio interpsíquico. Tanto um quanto o outro se baseia no “desconhecido” de onde surgem os sonhos. É a partir desse ponto de vista que são propostas as noções de espaço onírico comum e compartilhado, bem como da polifonia do sonho. Elas são colocadas à prova em diversos dispositivos psicanalíticos: o da cura individual de neuróticos e de borderlines ou psicóticos, o do grupo, do casal e da família.

Palavras-chave: Espaços oníricos comuns e partilhados; Umbigos do sonho; Polifonia do sonho; Sonho; Sonhos de grupo.


ABSTRACT

This article is an introduction to the analysis of the oneiric experience when the relation between the dreamers and their dreams is crossed by other dreamers’ dreams. Using Freud’s metaphor, the author assumes that there are two navels of the dream: one anchored to the psychosomatic, and the other to the interpsychic mycelium. Both are based on the “unknown” where the dreams come from. From this point of view come the notions of the common and shared oneiric space, as well as the polyphony of the dream. They are put to the proof in different psychoanalytical ways: the neurotic and the borderline or psychotic’s individual healing, the group, the couple and the family.

Keywords: Common and shared oneiric spaces; Navels of the dream; Polyphony of the dream; Dream; Group dreams.


RESUMEN

Este artículo es una introducción al análisis de la experiencia onírica cuando la reacción entre los soñadores y sus sueños es atravesada por los sueños de otros soñadores. Volviendo a tomar la metáfora freudiana, el autor supone que existan dos ombligos del sueño: uno ancorado a lo psicosomático y el otro que se liga al micelio interpsíquico. Tanto uno como el otro se basan en lo “desconocido” de donde surgen los sueños. Es así, que saliendo de este punto de vista se proponen las nociones de espacio onírico común y compartido, así como de la polifonía del sueño. Estas nociones son puestas a prueba en sus diversos dispositivos psicoanalíticos: aquel de la cura individual de neuróticos e de borderlines o psicóticos, del grupo de la pareja y de la familia.

Palabras clave: Espacios oníricos comunes y compartidos; Ombligos del sueño; Polifonía del sueño; Sueño; Sueños de grupo.


 

 

Em A Interpretação dos Sonhos, Freud destacou certos princípios do funcionamento do sonho, de seus processos e do trabalho psíquico que ele requer para se realizar. Ele propôs uma forte concepção de sua função intrapsíquica: o sonho é a realização alucinatória de um desejo inconsciente, de um desejo de véspera e de um desejo sexual reprimido na infância. O sonho é a via régia de acesso ao inconsciente, e é nessa posição que ele é objeto de interpretação dentro de um quadro da cura, ou seja, na transferência. Não é inútil salientar que Freud descobre o processo da formação do sonho dentro dos limites internos do espaço psíquico; é nesse espaço que ele destaca as funções e que fornece uma resposta à questão acerca de seu sentido.

No entanto, a ruptura epistemológica efetuada em A Interpretação dos Sonhos deixou de lado várias questões, especialmente a da especificidade da experiência onírica, bem como a da importância primordial da atividade onírica pela economia e pela dinâmica da vida psíquica.

Os sucessores de Freud, então, retomaram várias de suas teses sobre a análise do sonho. As novas abordagens são perceptíveis a partir da concepção kleiniana do sonho como elaboração dos conflitos intrapsíquicos. Para Klein, o sonho é uma proposta de solução para os enigmas infantis não resolvidos.  O sonho adquire o estatuto de um conteúdo psíquico formado pela introjeção do seio materno. Os trabalhos de D. Meltzer serão inseridos dentro dessa orientação, bem como os trabalhos de A. Garma. W.R. Bion conceberá o sonho como uma forma primária de pensamento integrante das experiências  emocionais, tecendo os elos entre vida fantasmática, realidade externa e  percepção-consciência. Certas pesquisas voltaram-se para a compreensão da estrutura da experiência onírica e as relações entre o sonhador e seus sonhos. Por exemplo, os trabalhos de A. Green e de J. Laplanche ressaltaram a estrutura espacial da experiência onírica, o fechamento e a profundidade do espaço onírico. Outras pesquisas trabalharam o sonho dentro de suas relações complexas com experimentos corporais e o espaço corporal (Sami-Ali; Anzieu). O sonho é tratado como um objeto invadido pelo sonhador: um objeto transicional (M.Khan; Pontalis) ou fetichista (Guillaumin). Resnik enfatizou o cenário do sonho. Anzieu ressaltou a sua função reparadora de invólucro psíquico perfurado pelos microtraumatismos do dia anterior e da infância. Ele é, em sí, um invólucro do Ego (Moi). Essa posição se junta à de Guillaumin, para quem o sonho é, essencialmente, uma elaboração da experiência traumática.

De uma maneira ou de outra, todas essas perspectivas deram destaque ao sonho como um processo de transformação capaz de modificar a organização da vida fantasmática. O que Freud pensava a respeito do sonho não descreve, então, todas as experiências oníricas que a psicanálise é capaz de dar conta. Eis aí o primeiro motivo para se revisitar a teoria do sonho.

Uma segunda razão para se reavaliar a teoria do sonho atém-se ao deslocamento, no interior mesmo do campo da cura psicanalítica, do interesse pelo espaço fechado, intrapsíquico, do sonho, em direção a um espaço aberto, interpessoal. O interesse demonstrado por Bion pela capacidade de sonhar fez oscilar a pesquisa do lado das condições intrapsíquicas e intersubjetivas da atividade onírica. A ênfase dada por  M. Khan ao espaço do sonho como espaço transicional reforçou a idéia de que a formação do sonho depende da qualidade desse espaço e da capacidade da pessoa em utilizá-lo. Outras pesquisas ressaltaram as ressonâncias oníricas entre analista e analisando, e mostraram como essas correspondências atravessam o campo da transferência e da contra-transferência. A capacidade de sonhar, o sonho e a experiência do sonho encontram-se afetados pela qualidade do espaço onírico que vincula o sonhador e o analista. Bion, Winnicott e Pontalis colocaram em evidência a matriz maternal do sonho: eles a descobriram na parte mais profunda da relação entre a psiquê da criança e a psiquê maternal. É essa matriz que forma o invólucro onírico da  cura. A psicanálise das crianças, as psicoterapias psicanalíticas pais-crianças e o tratamento psicanalítico dos psicóticos abriram novos caminhos para os limites do espaço intrapsíquico ao abri-lo  ainda mais sobre suas margens e suas interferências com os espaços psíquicos de outros sujeitos.

O que eu levei em consideração em A Polifonia do Sonho foi uma terceira razão para reconduzir o trabalho da questão do sonho. Segundo Freud, os dispositivos de trabalho psicanalítico que reúnem vários sujeitos, em grupo, casal ou família, mas sempre na presença de um ou mais psicanalistas, tornaram possíveis as descobertas até então inacessíveis. Essas práticas psicanalíticas derivadas daquela da cura foram propostas para tratar dos males psíquicos e das patologias caracterizadas essencialmente pelos distúrbios na constituição dos limites internos e externos do aparelho psíquico. Em todos esses distúrbios, a base do narcisismo, as figurações do originário e os processos da simbolização primária são intimamente dependentes da estrutura dos vínculos precoces. Esses processos e formações não podem se constituir a não ser dentro de articulações suficientemente confiáveis em seus espaços interpsíquicos.

Em A Polifonia do Sonho, eu quis explorar como o sonho se forma ao mesmo tempo dentro do espaço intrapsíquico e na relação em condições que questionem, sob um novo ponto de vista, a atividade onírica, os princípios da formação do sonho, suas funções, seus sentidos e os efeitos que ele produz.

Duas orientações principais organizam essas pesquisas: a primeira trabalha o sonho no interior do espaço da realidade intrapsíquica onde ele é necessariamente produzido por um único sonhador, ela estuda as condições internas, os processos, os conteúdos e o significado. A Segunda orientação introduz o sonho em um outro espaço, que podemos chamar de interpsíquico, onde ele encontra outra fonte de fomentação e onde ele desenvolve efeitos específicos: nesse espaço são levadas em consideração as condições e os efeitos da capacidade onírica do outro e de mais de um outro.

Para conduzir essa análise bifocal dos sonhos, tal como eles surgem num quadro da cura individual, dentro dos dispositivos psicanalíticos de grupo ou tratamento de famílias ou de casais, eu tomei como fio condutor três hipóteses principais. Eu imagino um espaço onírico comum e compartilhado, o sonho é trabalhado por e dentro de uma multiplicidade de spaços, de tempo, de significados e de vozes. Retomando a metáfora freudiana do umbigo 5 do sonho ancorado no micélio 6 psicossomático, eu introduzi a idéia de um segundo umbigo do sonho, um lugar de passagem onde ele mergulha no inconsciente dos laços interpsíquicos. Esses dois umbigos repousam sobre o “desconhecido” de onde surgem os sonhos. Enfim, eu antecipo a noção da polifonia do sonho: este é trabalhado por e dentro de uma multiplicidade de espaços, de tempo, de significados e de vozes.

 

O ESPAÇO ONÍRICO COMUM E COMPARTILHADO

A concepção de um espaço onírico partilhado e comum a vários sonhadores pode parecer, a priori, contraditória à opinião de Freud no momento em que ele concebe o espaço do sonho como aquele pelo qual a realidade psíquica e seu objeto teórico, o Inconsciente, podem ser conhecidos por nós. A condição para que haja esse conhecimento é a de que um corte rígido separa a psique, como espaço interno, do mundo exterior. E é também a condição da possibilidade da experiência do sonho: a retirada do investimento do mundo exterior é invariavelmente reafirmada por Freud. O que interessa a ele, no sonho, é o trabalho que envolve sua fabricação, sua lógica interna e seu sentido oculto, ou seja, seus conteúdos inconscientes. Nós não podemos renunciar a essas propostas, nem aos resultados adquiridos graças a elas. Mas estas são submetidas a uma discussão porque as condições de conhecimento do Inconsciente, do sonho, do espaço onírico e dos fatores interpsíquicos na formação do sujeito mudaram, e elas nos trazem outros dados, alguns deles esboçados pelo próprio Freud. De fato, ele admitiu, desde a primeira tópica, a idéia de formações psíquicas comuns a vários sujeitos. Suas primeiras pesquisas sobre a identificação e os sintomas de histeria são testemunhas disso, e a análise e interpretação do sonho denominado por ele “de ceia” seguem esse caminho. Ele imaginou um aparelho para interpretar-significar os pensamentos e as emoções dos outros: tal aparelho é um desses dispositivos psíquicos, com processos importantes de identificação, de transferências e de transmissão de pensamentos que tornam possíveis essas formações comuns e partilhadas. É sobre essas bases que ele fundamenta sua hipótese a respeito da psique de grupo e dos ideais comuns que aí se constituem, e que ele considera que certas fantasias e certos sonhos são comuns ao conjunto da humanidade.

A segunda tópica desenvolverá as seguintes idéias: ele descreverá com maior precisão as aberturas dos espaços psíquicos entre vários “indivíduos” e no interior mesmo do aparelho psíquico, a tal ponto que o conceito de indivíduo se desvanecerá em benefício do conceito de um sujeito afetado pelos efeitos psíquicos do conjunto, do qual ele é parte constituinte e constituída.

Porém, de uma tópica a outra, o processo do sonho e sua organização irão pressupor, igualmente, um espaço fechado em si mesmo, sendo, dessa forma, o objetivo do sonho estritamente individual, e os sonhos “absolutamente egoístas”. A construção freudiana de um espaço onírico isolado, dentro de um espaço psíquico também retirado, não significa que esses espaços sejam fechados. Ele os concebe como sendo fechados por causa do dispositivo que utiliza. A concepção de um espaço comum e compartilhado entre vários sujeitos, bem como a de um espaço onírico parcialmente aberto à presença do outro dentro da psique do sonhador, deve ser colocada em tensão, e não em oposição, à abordagem clássica do sonho dentro de um quadro de cura.

Se, como eu bem recordo em meu livro, uma multiplicidade de espaços, de tempo, de sentidos e de vozes organiza o sonho, antes dele, durante e depois dele, em seu relato, então tanto o espaço psíquico quanto o onírico aparecem como espaços relativamente porosos, encaixados em rês outros espaços: o físico e corporal, o intersubjetivo, o social e cultural. O espaço psíquico e o espaço onírico são abertos a partir da origem sobre o outro, e sobre mais de um outro. Se o sonho é essa via “régia” de acesso ao Inconsciente, a perspectiva que eu proponho deveria sustentar ainda mais essa hipótese, a de que o Inconsciente se insere imediatamente nos espaços interpsíquicos e transpsíquicos, determinando a vida psíquica desde o seu começo, especialmente através das alianças inconscientes e o conjunto de fantasias, discursos e pensamentos que precedem a vinda do sujeito ao mundo. E é sobre esse fato que eu sustentei a idéia de que o sujeito do Inconsciente e o do vínculo são coextensivos.

São precisamente as articulações entre esses espaços que são solicitadas nos dispositivos psicanalíticos pluripessoais, cujo grupo foi, para mim,  um dos paradigmas metodológicos. As situações que aí se desenvolveram permitiram o conhecimento de formações e de processos psíquicos que formam a consistência do espaço interpsíquico, enquanto que alguns deles eram inacessíveis no quadro do dispositivo princeps da cura psicanalítica dita individual. Ele resultou em um conjunto de novos dados clínicos que chamaram muito a atenção para o trabalho psíquico requisitado a cada um para que se chegasse a um acordo, ou a uma aparelhagem, ou ainda a uma combinação entre os espaços e o tempo próprio de cada um, entre seus objetos, seus imagos, e suas fantasias inconscientes. Estabelecer vínculos de grupo, de casal ou de família, exige de fato que se constitua um espaço comum e partilhado, no qual a matéria e a fórmula  são tributárias das contribuições de cada um. O que cada pessoa contribui à formação desse espaço mantém-se nos investimentos que traz consigo, no espaço de cada uma das pessoas e no vínculo em si mesmo. Desses movimentos de investimento, de identificação, de deslocamento e de alianças inconscientes, nascem uma realidade e um espaço psíquicos irredutíveis a seus elementos constitutivos. Foi isso que eu tentei estabelecer em minhas obras anteriores: O Aparelho Psíquico Grupal, O Grupo e o Sujeito do Grupo, A Palavra e o Vínculo.

 

A FUNÇÃO DO SONHO NO GRUPO

O grupo é um admirável ativador da atividade onírica e o sonho é um potente mobilizador dos processos psíquicos no grupo. Eu trabalhei partindo de três pressupostos: 1) o grupo é uma cena na qual se representam, se vinculam e se transformam as formações do inconsciente dos sujeitos no encontro com o outro (mais de um outro), e com o espaço psíquico do grupo. O aparelho psíquico grupal articula, reúne, liga e transforma as organizações intrapsíquicas dentro do espaço do grupo; 2) o trabalho associativo que se produz ou que é inibido a partir do relato do sonho traz indicações preciosas sobre o estado do aparelho psíquico do grupo; 3) o objetivo do trabalho psicanalítico em situação de grupo é a elaboração dos conflitos inconscientes que afetam tanto os participantes quanto o espaço psíquico grupal, no qual se inclui também o do (ou dos) psicanalista (s).

Sobre essas bases, e a partir de vários exemplos clínicos, eu qualifiquei à natureza do trabalho psíquico que o sonho realiza dentro dos grupos, e daí destaquei quatro funções principais:

1) Uma função de retorno do reprimido dentro de uma figuração aceitável pelo Pré-Consciente do sonhador. Essa configuração é proposta ao grupo na narração do sonho. O relato do sonho e as associações dos membros do grupo fazem emergir os significantes até então não disponíveis, tornando-se assim utilizáveis para eles.

2) Uma função continente, que consiste em um tratamento intersubjetivo dos pensamentos e dos afetos inconscientes, dos resíduos diurnos portadores de significados inconscientes inertes e carregados de investimentos pulsionais reprimidos na véspera. O sonho, como o grupo, é um espaço psíquico compartilhado no qual se produzem os efeitos de continência e transformação, tanto para o sonhador como para o grupo.

3) Uma função de representação encenada e dramática do espaço psíquico grupal e da localização subjetiva de cada um nesse espaço. A posição privilegiada do sonhador nessa tópica, a dinâmica e economia grupais, e dentro das dimensões das transferências, é a de portador de sonhos. Eu notei quais necessidades internas levam essa pessoa, ao invés de uma outra, a exercer uma função fórica de porta-sonho.

4) Uma função evacuativa do sonho: ela consiste em se livrar do desejo através do sonho, ao invés de elaborar os desejos que procuram uma via alucinatória de realização.

 

A POLIFONIA DO SONHO

Eu utilizei a noção de polifonia do sonho baseando-me no conceito Bakhtiniano da polifonia do discurso. Esse conceito implica a idéia de um sujeito aprisionado dentro da interdiscursividade, e trabalhado por ela. Para Bakhtine, esse sujeito é um sujeito social, mas me parece produtivo partir dessa idéia e conceber através dela um sujeito atravessado por uma malha de vozes, palavras e termos que o constituem, simultaneamente, como um sujeito do Inconsciente e como sujeito do grupo, em tramas de nuanças de voz, de termos e de palavras de outros, e de mais de um outro. É esse sujeito que sonha, dividido entre a realização de seus próprios objetivos e sua inserção em um vínculo intersubjetivo.

A polifonia do sonho descreve de que forma, a partir de dois umbigos do sonho e da formação de um espaço onírico comum e compartilhado, o sonho se organiza como uma combinação de várias vozes, ou de diversas partes da voz. O sonho, a mais íntima e a mais egoísta de nossas produções noturnas, o mais banal de nossos sintomas, se constrói dentro da trama polifônica da interdiscursividade.

A eficácia da noção de polifonia do sonho deve ser avaliada em um nível duplo. O primeiro é o da sua organização polifônica interna: essa organização é necessariamente deduzida da narrativa do sonho; através desse relato, efetuado por meio da linguagem, uma palavra e um endereço, nós podemos encontrar os processos de formação e de transformação do sonho.

O segundo nível é o da produção do sonho dentro de um espaço psíquico onde os espaços oníricos de vários sonhadores se correspondem e se interpenetram, onde os sonhadores fazem sinais uns aos outros e se fazem compreender por outros sonhadores, por vários ouvintes, internos e externos. O segundo umbigo do sonho forma esse tecido denso de onde surge a polifonia dos sonhos.

Onde e como esse umbigo, através do qual os espaços comuns e partilhados do sonho se comunicam, pode ser localizado? Se os dispositivos analíticos pluri-individuais permitiram que o localizássemos, a cura pode, também, servir como exemplo.

Quando meu paciente e seu irmão eram pequenos, eles costumavam partilhar a mesma cama. Eles brigavam muito, às  vezes violentamente; ficavam tristes e desejosos de se reconciliar, como antes. Ao se fazer essa invocação, uma lembrança surge: algumas noites, antes de dormir, eles contavam um ao outro os sonhos que tinham tido na noite anterior, tendo em mente a idéia de sonhar os mesmos sonhos. A partir de resíduos noturnos de seus sonhos, eles fabricavam resíduos diurnos comuns. Uma certa palavra, uma determinada emoção ou imagem exerciam essa função de influenciar seus sonhos, onde eles reencontravam os mesmos personagens e os mesmos animais que haviam invocado antes de dormir. Com freqüência eles conseguiam realizar seus sonhos ou, talvez, ao contá-los, eles faziam um relato que os levava a pensar que haviam atingido o seu objetivo. Se o sonho tinha conseguido uni-los, eles não brigavam o dia inteiro, como se tivessem a guarda desse sonho e dos objetos que eles colocavam em comum.

Uma noite, antes de dormir, eles evocaram um romance de Édouard Peysson, O Esquadrão Branco, livro que os emocionava, e se prometeram de um dia ir ao deserto, e ali perseguirem gazelas, como os animais que eles surpreendiam, às vezes, na floresta. Na noite seguinte, ambos sonham “quase o mesmo” sonho, do qual fazem uma narrativa ao acordar: um grupo de dromedários africanos perdidos no deserto. Para sobreviver, os dromedários perseguem um grupo de gazelas. “No meu sonho, eu desejo que os dromedários consigam capturar uma, eles possuem fuzis extremamente possantes, mas que não a matem. Meu sonho termina quando eles se aproximam da gazela. No sonho do meu irmão, os dromedários são auxiliados por uma patrulha que havia partido à sua procura.”

Com certeza, o sonho de meu paciente conseguiu exprimir pensamentos já parcialmente simbolizados. Contudo, a especificidade de seu sonho retém o que não está ainda simbolizado no que se refere aos vínculos com seu irmão. O que permanece obscuro quanto a esse vínculo, e que mergulha ao mesmo tempo nas relações precoces do bebê e da mãe e nas raízes do complexo fraternal, é conduzido para a cena onírica pelo segundo umbigo do sonho. O que realiza o sonho de meu paciente é, em primeiro lugar, o desejo de sonhar os mesmos sonhos em um espaço onírico comum e compartilhado com seu irmão. É a partir desse umbigo interpsíquico, que se forma dentro da matriz maternal de seus sonhos, que surgem os materiais do sonho.

O desejo de se reencontrar no mesmo espaço onírico procura uma via de realização entre os objetos oníricos comuns. O espaço onírico comum renova o leito partilhado, traz à tona os jogos incestuosos do vínculo que une meu paciente a seu irmão: a sua estratégia mobiliza as induções no trabalho da véspera  para que surja, no sonho de cada um, o desejo de um de se encontrar com o outro.

As associações do sonhador o conduzem na direção do que o sonho comum preserva: ao vínculo de amor narcisista homossexual que assegura sua defesa conjunta contra seus mútuos sentimentos hostis, contra a rivalidade fraternal, contra as idéias de morte de um com relação ao outro: elas são deslocadas para as gazelas, que não são mortas. No capítulo 4 de Totem e Tabu, Freud se refere ao estudo de Robertson Smith para descrever aquilo que constitui a substância comum que une os membros de um clã: a substância comum (kinship) é continuamente renovada pela refeição compartilhada e que assegura que as pessoas são feitas da mesma matéria. Eu penso que o sonho comum e compartido é uma expressão da substância comum. Da mesma forma que a refeição em comum consolida a substância comum, a realização noturna do fantasma do sonho em comum os protege da hostilidade durante o dia inteiro.

Para tanto, cada um dos sonhadores entra em contato com “o lugar onde esse umbigo repousa sobre o desconhecido”, dessa outra parte do inconsciente embutida na experiência corporal. Seus sonhos não são idênticos, eles possuem traços comuns e partilhados, mas cada um sonha seu sonho sustentado pelo mesmo desejo: reencontrar o irmão no espaço onírico imaginário comum. É aí que seu sonho é “quase o mesmo sonho” que o de seu irmão. Suas associações o levam às suas angústias de castração precoce, a seus desejos de caráter ativo e passivo. Elas convergem para uma experiência traumática que permaneceu em suspenso: nos seus primeiros meses de vida, ele teve que se submeter a uma cirurgia, ao final da qual foi dado como morto à sua mãe, ela mesma surpreendida, em seu sofrimento atual, pela morte em seus braços, de sua irmã. Foi logo após essa cirurgia que ele foi desmamado, de forma tardia e brutal. Nove meses mais tarde, seu irmão nasceu. Por causa dele, seus movimentos de ódio e de amor o queimavam por dentro. Essas atitudes já haviam sido percebidas na transferência; em especial, o que mais me chama a atenção nessa lembrança de um sonho de infância é a sua procura por um “invólucro do sonho” em comum comigo, que se manifestaria ao me pedir para conhecer meus pensamentos mais íntimos a seu respeito: se, por exemplo, eu sonhava com ele, já que ele sonhava comigo. Eu cheguei a pensar que o fato de saber que havia sido dado como morto  deve ter criado um vácuo associativo em sua mãe, uma suspensão de sua capacidade de sonhar com seu filho e de incluí-lo de maneira viva dentro de seu espaço onírico. A mãe pensava na sua irmã morta e já, talvez, em uma criança para substituí-la, o irmão com o qual, em certas noites, ele reencontrava o feliz micélio maternal quase gemelar e, em outras noites, sozinho, sentia o terror de sua própria morte e do assassinato de seu irmão fundido (misturado).

 

A FIGURAÇÃO DO GRUPO DENTRO DO SONHO TEM UMA ESTRUTURA POLIFÔNICA. ESSA ESTRUTURA É PARTICULARMENTE ATIVA NOS SONHOS DE GRUPO.

O sonho das gazelas possui uma outra característica que introduz minha quarta proposta. Desenvolvido no micélio do vínculo fraternal, o sonho das gazelas coloca em cena dois grupos: o esquadrão de dromedários, forma do grupo dada pela figura do pai militar, e o grupo das gazelas, forma dada pelas figuras do irmão e da mãe. Nessa figuração, trabalham-se os processos de deslocamento, de difração dos objetos oníricos e do Ego do sonhador, de multiplicação do semelhante. Segundo este último processo, o poder do pai é multiplicado pela figura do grupo. O que representa o grupo no sonho? Eu suponho que ele constitui um dos recursos da polifonia.

A questão da representação do grupo no sonho se impôs a mim no momento em que comecei a trabalhar nas representações inconscientes do grupo. Essa pesquisa me permitiu qualificar e especificar o conceito de grupos internos e de grupalidade psíquica 7. Os “sonhos de grupo” são uma forma admirável de grupos internos. Trata-se de sonhos nos quais um grupo, uma reunião, uma recepção formam o pano de fundo, um dos protagonistas ou o próprio lugar da cena onírica 8. Os processos de trabalho do sonho transformam esses grupos em representações que, ora se desdobram em uma pluralidade de personagens ligados entre si de diferentes formas, ora eles se condensam nessas figuras de “Sammel - und Mischpersonen” (pessoas juntas e fundidas ou misturadas), que Freud descreveu na análise do sonho da injeção feita a Irma, ora eles se multiplicam de forma idêntica, como Freud  exemplifica no sonho do Homem dos lobos ou no do “estabelecimento ortopédico”.

Para ser preciso em meu propósito, eis um exemplo de sonho de grupo. Uma mulher sonha que vê seu marido nu no apartamento de amigos cujo sobrenome é Leguindon 9 (nas associações: “os pomposos / importantes”) Todos reprovam a cena. As associações da sonhadora sugerem várias abordagens para esse sonho. Ela sonha com a nudez, o que Freud designou como um sonho típico. Pode-se notar que, onde quer que a sonhadora apareça, é o marido, ou seja, seu lado masculino, que é mostrado. Na transferência, ela deseja me ver nu, da mesma forma que acreditou ver seu pai nu. A presença dos amigos “importantes” reforça ou diminui sua reprovação e sua vergonha diante dessa exibição. Além do mais, seu sonho representa e elabora seu conflito diante da nudez masculina e do sexo que ela deixa ver: os sentimentos negativos que faltavam quando tinha uma discussão com seu marido na véspera a respeito de sua vida sexual são difratados em vários personagens do sonho, o que permite ao Ego da sonhadora suportá-los. A primeira abordagem desse sonho enfatiza o fortalecimento da censura (a multiplicidade é aqui a representação da intensidade); a segunda sobre a difração (a multiplicidade é uma forma de repartir as cargas econômicas associadas ao desejo do sonho).

A minha hipótese é a de que os sonhos de grupo possuem várias características que interessam aos nossos propósitos: são os sonhos típicos (notemos que o grupo aparece com freqüência nesse tipo de sonho). Eu suponho que a análise de sua organização pode nos ensinar algo sobre a polifonia do sonho, sobre os umbigos do sonho e sobre a representação do espaço onírico comum e partilhado. Os sonhos de grupo são, de fato, uma representação exemplar dos grupos internos: eles trazem à tona  suas estruturas fundamentais, ou seja, as fantasias originárias, os complexos e imagos, a rede de identificações do Ego, a imagem do corpo. Dessa forma, eles funcionam como organizadores no processo de aparelhagem grupal das psiques.

Deve se distinguir os sonhos de grupo dos sonhos em grupo: estes são os sonhos que surgem no decurso das associações de várias pessoas reunidas por um vínculo suficientemente permanente. Nós os observamos regularmente no trabalho psicanalítico em grupo ou em família, mas outros tipos de grupos fazem deles uma prática corrente mais ou menos espontânea: durante sua viagem aos Estados Unidos, Freud, Jung e Ferenczi contavam uns aos outros, pela manhã, o que tinham sonhado à noite. O grupo dos surrealistas havia transformado essa prática em norma subversiva: “pais, contem seus sonhos a seus filhos”.

A análise dos sonhos em grupo é um dos caminhos principais para se colocar à prova as hipóteses sobre o espaço onírico comum e compartilhado, sobre os umbigos e a polifonia do sonho. Essa análise estabelece a relação entre os sonhos de grupo e os sonhos em grupo: para estabelecer essa relação é preciso, necessariamente, passar pela atividade onírica do sonhador dentro do grupo. Nessa relação, destaca-se uma representação do sonhador, a do porta-sonhos. Uma vez que essas funções são reconhecidas desde o início dos tempos nas civilizações onde o sonho é considerado como uma atividade e como uma experiência fundamental da vida social e religiosa, hoje em dia nós podemos precisar melhor certas dimensões psíquicas e compreender como e sob que condições em uma família, um grupo, e em uma equipe de médicos, um sonhador possa ser um porta-sonhos de um outro ou de um grupo de outros.

Nossa concepção da experiência, da formação e da função do sonho mudou depois de um século, e eu esbocei as metamorfoses na introdução que fiz. Quanto a mim, tentei mostrar que o sonho se cria nas fronteiras entre o intrapsíquico e o intersubjetivo. O sonho é um trabalho de representação, dramatização e simbolização dos distúrbios que se produzem nessas fronteiras.

Diante da perspectiva dessa pesquisa, várias questões aparecem: a análise do espaço onírico comum, plural e partilhado, a escuta da polifonia dos sonhos podem esclarecer-nos a respeito dos processos gerais do sonho? Os sonhos “de grupo” nos ensinam algo a respeito dos processos de representação do sujeito no sonho? Se a formação do sonho, e sem dúvida  seu endereço, carregam a marca do reencontro com o outro, o outro do objeto e o outro no objeto, em que essas proposições modificam nossa escuta da experiência onírica?

Essa concepção polifônica de um sonho com dois umbigos comporta conseqüências importantes a respeito do desenrolar de certas curas analíticas “individuais”, e principalmente sobre a escuta dos jogos e dos processos de transferência, uma vez que os sonhos do analista se cruzam dentro do espaço onírico comum e parcialmente compartilhado com o analisando. Ela também tem conseqüências teóricas sobre a nossa representação da subjetividade e do aparelho psíquico.

O sonho e a experiência psíquica não podem ser reduzidos apenas ao conhecimento que nós possuímos. Resta um “condutor” em direção ao desconhecido, informa-nos ele, mas, por um lado, ele nos escapa, e está muito bem assim. Por que, então, continuar a procurar?

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABRAHAM, K. (1909 Rêve et mythe. Contribution à l’étude de la psychologie collective. in: Euvres complètes, tome 1, Paris: Payot. 1965.

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Endereço para correspondência
René Kaës
E-mail: Rene.Kaes@univ-lyon2.fr

* A revisão técnica contou em diversos momentos com a ajuda específica e inestimável dos colegas, aos quais agradecemos: Alice I. M. França, Beatriz S. Fernandes, Betty Svartman, David L. Levisky, Lazslo, A. Ávila, Maria Antonieta Almeida, Neusa M. F. Marques de Oliveira, Solange A. Emílio, Tiago C. Matheus, e da professora Maria Cláudia Ribeiro.

 

 

1 Nota do editor: “...Existe pelo menos um ponto em todo o sonho no qual ele é insondável - um umbigo, por assim dizer, que é seu ponto de contato com o desconhecido” (Freud, S.,1900 - A interpretação dos sonhos, p.119n).
2 Tradução: Professora Lourdes Teresa C. Silvestre. Revisão técnica: Waldemar José Fernandes * (ver nota no final). A tradução foi revisada pelo autor.
3 Doutor em Psicologia; Doutor em Letras e Ciências Humanas; Psicanalista (Membro participante da Organização psicanalítica de Língua Francesa - 4º. grupo). Professor emérito da Universidade Lumière Lyon 2. Membro titular da Sociedade Francesa de Psicoterapia Psicanalítica de Grupo, afiliada à IAPG. Membro fundador da Associação Européia de Análise Transcultural de Grupo. Membro titular do CEFRAP - Círculo de Estudos Franceses para a Formação e a Pesquisa Ativa em Psicanálise (Grupo, psicodrama, instituições).
4 Optou-se por deixar também o resumo no original, tendo em vista que o artigo foi traduzido do francês.
5 Encontramos na obra de Freud: “... damo-nos conta de que nesse ponto existe uma meada de pensamentos oníricos que não pode ser desemaranhada... Esse é o ponto central do sonho (umbigo), o ponto de onde ele mergulha para o desconhecido” (Freud, S., 1900 - A interpretação dos sonhos, p.560). Este editor levanta a hipótese de que exista uma analogia com o que Bion chamou de “Ó”.
6 Nota da comissão editorial: micélio é a parte filamentosa, vegetativa, do talo de qualquer fungo (Michaelis Dicionário Eletrônico).
7 Sobre os conceitos de grupalidade psíquica e de grupos internos como organizadores psíquicos inconscientes do grupo, conforme R. Kaës, O Grupo e o sujeito do Grupo, Paris, Dunod (entre nós, editado pela Casa do Psicólogo).
8 Essas questões se juntam àquelas de J. MacDougall quando escreveu em O Teatro do Eu (1982), que “nossos personagens internos estão constantemente à procura de uma cena, onde representar suas tragédias e suas comédias”.
9 O problema seria encontrar um nome de família brasileiro que permitisse esta associação: em Leguindon existe a idéia de ser circunscrito (“réservé”, “guinde”), comedido em suas emoções e em seus pensamentos (troca de correspondências entre o autor e o editor). Editor: algo como Pompeu, associado com “pomposo”.