SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.7 número1A secreta simetria: grupo e corpo na compreensão psicanalíticaO grupo como instrumento de pesquisa índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Revista da SPAGESP

versão impressa ISSN 1677-2970

Rev. SPAGESP v.7 n.1 Ribeirão Preto jun. 2006

 

ARTIGOS

 

A psicanálise do processo primário: reflexões sobre a metapsicologia da dor

 

The psychoanalysis of the primary process: reflections on the metapsychology of pain

 

El psicoanálisis del proceso primario: reflexiones sobre la metapsicología del dolor

 

 

David Azoubel Neto 1

Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo
Sociedade Brasileira de Ribeirão

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Este ensaio se baseia nas reflexões desenvolvidas por Freud, em 1895, ao escrever o seu “Projeto de uma Psicologia Científica para Neurólogos e Psicólogos”. A intenção do autor foi sugerir, a partir dessa consideração da dor como um processo primário, uma extensão das idéias de Freud: uma investigação sobre a participação da dor na formação do aparelho psíquico. As sensações teriam, inicialmente, em seu estado nascente, as características da dor. Somente com o desenvolvimento e as modificações evolutivas é que iriam adquirir características próprias, capaz de lhes permitir uma identidade mais ampla.

Palavras-chave: Dor; Psicanálise; Processo primário; Aparelho psíquico; Metapsicologia.


ABSTRACT

This essay is based on the reflections Freud developed in 1895, when he wrote his “Project for a Scientific Psychology for Neurologists and Psychologists”. Based on this consideration of pain as a primary process, the author aimed to suggest an extension of Freud’s ideas: a research on the role of pain in the formation of the mental apparatus. Initially, in their incipient state, feelings had the characteristics of pain. It is only through development and evolutionary modifications that they acquired their own characteristics, capable of allowing them a broader identity.

Keywords: Pain; Psychoanalysis; Primary process; Mental apparatus; Metapsychology.


RESUMEN

Este ensayo se basa en las reflexiones desarrolladas por Freud, en 1895, al escribir su “Proyecto de una Psicología Científica para Neurólogos y Psicólogos”. La intención del autor fue sugerir, a partir de esa consideración del dolor como un proceso primario, una extensión de las ideas de Freud: una investigación sobre la participación del dolor en la formación del aparato psíquico. Las sensaciones tendrían, inicialmente, en su estado naciente, las características del dolor. Solamente con el desarrollo y las modificaciones evolutivas es que irían adquirir características propias, capaces de les permitir una identidad más amplia.

Palabras clave: Dolor; Psicoanálisis; Proceso primario; Aparato psíquico; Metapsicología.


 

 

O que é a dor? Provavelmente não seria tão difícil responder a esta pergunta se estivéssemos voltados apenas para a vertente da dor como reação e forma de expressão física. Mas, como o título nos compromete (os títulos sempre nos comprometem) os nossos questionamentos a este respeito (dor) envolvem e abrangem a outra vertente &– a dor psíquica. Então nos colocamos, de imediato, diante de uma possibilidade de nos perguntarmos se a dor é, em qualquer circunstância, um fenômeno puramente físico, ou se trata, invariavelmente, de uma condição psicossomática, quando não somatopsíquica?

Esta questão não é difícil de responder dentro de uma visão holística e antropológica mais atualizada: todas as doenças que afetam o nosso organismo são psico↔somáticas. Em primeiro lugar porque o são nas suas conseqüências; depois (mas a ordem dos fatores não altera o produto), porque não se pode mais separar um conjunto de causalidades físicas de um conjunto de causalidades psíquicas interagindo. A psicanálise nos ensinou que existem no inconsciente forças psíquicas que atuam na direção da proteção e propagação da vida e outras que atuam de acordo com as tendências ocultas de destruição (forças tanáticas).

Estamos, portanto, com relação à dor, diante de uma definição impossível: O que é a dor no seu sentido mais amplo e abrangente (psico↔somático)? Um fenômeno tão comum que faz parte do cotidiano e sobre o qual, a bem da verdade, muito pouco sabemos. Se considerarmos uma definição como uma descrição autêntica, capaz de permitir o reconhecimento de uma identidade, talvez nem precisemos de definição alguma &– qualquer um de nós poderia dizer &– a dor é para ser sentida e não definida. Mesmo porque, como o nome diz, definir é chegar a um fim. De qualquer modo, não é agradável chegar à conclusão, ainda no início, de que não temos recursos para definir um conceito básico. A pergunta continua, portanto, em aberto.

Mas eu poderia tentar descrever as características gerais da dor. Quem sabe, isto não seria uma boa ajuda? Poucos termos, em todas as línguas, têm uma abrangência de significados tão grandes. Mas, quase sempre, é muito difícil saber como foi que as coisas começaram. Quando queremos descobrir a etimologia de uma palavra vamos ao dicionário e procuramos a origem dessa palavra em outras línguas (preferentemente no grego e no latim). Isto nos satisfaz apenas parcialmente; não é, contudo, suficiente. Certamente seria complicado e difícil encontrar indícios que nos levassem à indicação dos significados míticos das palavras. Mas é importante saber que cada termo significa algo que chegou a um fim, a um acabamento. A intenção é dizer que toda palavra um dia, in illo tempore, nasceu, teve uma origem, se desenvolveu e continuou se desenvolvendo, até atingir a condição de termo, quer dizer, um estado de prontidão em que no momento ela se encontra.

A dor contém em si um percurso que vai do nascimento à morte, passando por todos os estágios evolutivos dos organismos vivos. Mas leve-se em conta que se trata da ativação da capacidade de doer de uma dor.

Teria sido uma dor a sensação básica originária? Neste caso ela estaria na essência de todas as formas de sentir, representando sempre uma etapa primitiva do sentir. Uma espécie de matriz para todas as sensações e a forma de sentir fundamental para a geração dos sentimentos.

Por exemplo: teria sido o tato, originariamente, uma sensação dolosa que se transformou em um sentido especializado? E o olfato? Como teria sido ele nos primórdios do seu desenvolvimento? Uma sensação dolorosa que aprendeu, igualmente, a sentir discriminadamente a impressão causada por partículas microscópicas voláteis que se desprendem das substâncias?

Depois, como foi que os olhos aprenderam a ver? Posso imaginar as primeiras impressões como borrões de luminosidade inundando as pupilas, um esforço para começar a distinguir as imagens nesses borrões luminosos.

E quanto tempo a nossa audição precisou para se adaptar ao convívio de sons que no começo eram somente barulhos? Talvez mesmo estímulos inundantes e dolorosos.

Não sei se seria possível remontar todos os episódios da tarefa de aprendizado da língua, em especial das suas papilas gustativas, para que elas aprendessem a diferenciar as sensações especializadas as quais nós chamaríamos depois sabores. Como se processa a mensagem daquelas que transmitem aos centros cerebrais o sabor agradavelmente doce de um torrão de açúcar?

E como explicar a estranha sensação de dor e prazer simultâneos de um orgasmo? Uma estimulação crescente, demandando movimentos cada vez mais rápidos, a pele em contato com a mucosa sensível e a explosão em sensações que, dependendo de sua intensidade, não conseguem ficar circunscritas somente aos órgãos genitais.

Até parece que tudo quanto aprendemos a sentir veio da dor. Ou talvez, do que resultou da dor ao longo das transformações ocorridas como conseqüências desse trabalho evolutivo.

Mas foi assim que nos tornamos sensíveis e aprendemos, primeiro a sentir as sensações e mais tarde, os sentimentos. Papilas gustativas, corpúsculos tácteis, mucosas olfativas, retina, labirinto, tímpano, martelo e estribo foram, pouco a pouco, aperfeiçoando suas funções e aumentando a capacidade de sentir e discriminar sensações múltiplas e simultâneas. Esse aprendizado para sentir as sensações corresponde em parte ao processo de humanização.

Por enquanto, estamos apenas tentando nos situarmos na complexidade de um conceito. E, como não tivemos ainda uma resposta satisfatória, a pergunta permanece latente.

A minha proposta é seguir as reflexões sobre a questão da dor como um conceito metapsicológico. Gostaria de tentar essa abordagem percorrendo o seguinte roteiro:

• O princípio de prazer-desprazer

• A teoria psicanalítica do trauma

• Para que serve a dor

• Os estados do desejo

• Sobre os afetos

• A experiência de satisfação

• A transferência em sua relação com o trauma e a dor

• A vertente do mito

• A vertente da lingüistica

• A pintura de Goya

• E um glossário 2

As idéias aqui contidas se baseiam, em grande parte, no texto de Freud sobre o “Projeto de uma Psicologia Científica para Neurólogos e Psicólogos”, de 1895.

 

PRINCÍPIO DE PRAZER-DESPRAZER

O prazer e o desprazer podem ter sido inicialmente (filogeneticamente falando) sensações não muito precisas e bem delimitadas. A expressão bíblica (mítica) de que antes não existia a dor poderia estar se referindo a essa condição primária, uma forma de sentir elementar. Poderia ser uma abordagem um tanto quanto filosófica tentarmos postular aqui quem teria nascido primeiro: teria sido a dor uma forma inespecífica de desprazer? Ou, pelo contrário, poderia ter sido ela, desde o começo, a causa intrínseca de todos os desprazeres?

O que nós sabemos é que o princípio de prazer-desprazer rege a economia da construção e funcionamento do aparelho psíquico desde os inícios de sua formação. Prazer e desprazer são descritos, de acordo com esse princípio, como descarga de estímulos ou acumulação de estímulos. Funcionariam de modo automático e correlato. Mas não se pense que o polo oposto ao do prazer seja a dor. Esta depende da intensidade do estímulo enquanto prazer e desprazer dependem da qualidade do estímulo. Alem do mais, o princípio de prazer-desprazer é estruturante para a formação e economia do aparelho, enquanto a dor é desestruturante. Freud assinala esta característica da dor mais de uma vez em seu “Projeto”, porém cabe aqui uma dúvida: em se tratando de uma dor psíquica, não poderia ter ela uma função estruturante? Nos casos de dor pela perda de um objeto amado, por exemplo, caracterizando uma etapa de estruturação do Ego através do processo de elaboração dos estados de luto. Talvez a observação quanto ao poder desestruturante (ou estruturante) da dor possa ser compensada quando ele diz, logo em seguida, que a dor e o prazer podem, não obstante, se associar para estabelecer relações que vão desde o perverso ao sublime. É o caso da sublimação, de um lado, e do masoquismo perverso, do outro.

 

TEORIA DO TRAUMA

Estímulos dotados de elevadas magnitudes de Θ e Θη rompem barreiras de contato determinando a facilitação (bahnug) das suas vias que antes eram impermeáveis. A dor se constitui como conseqüência desse forçamento de uma passagem. Freud descreve a dor (no “Projeto”) como sendo a irrupção de grandes magnitudes de Θη em ψ e que apesar dos sistemas de neurônios possuírem dispositivos protetores, essa invasão pode ocorrer em vista da intensidade de Θ. Neste caso, somem os caminhos múltiplos e estabelece-se um só percurso, prejudicando as possibilidades associativas.

É interessante notar que a dor está sendo considerada no “Projeto” apenas como a dor, o que nos faz pensar que Freud poderia estar se referindo a uma dor básica (física e psíquica), conquanto as características básicas dessa dor são comuns. Só mais tarde, com a estruturação de um aparelho psíquico superior é que irá ocorrer essa diferenciação entre uma dor física e uma dor psíquica. Não obstante, o conceito será um só e a dor uma só, pois uma não existirá sem a outra.

 

PARA QUE SERVE A DOR?

A dor serve para sinalizar a ruptura ou o forçamento de uma barreira de contato em conseqüência do impacto do estímulo traumático (crônico ou agudo) sobre o dispositivo protetor biológico (Θ e Θη) dos órgãos dos sentidos. Ela indica, portanto, que houve ou está havendo uma condição traumática.

Mas a dor também serve para abrir novos caminhos e estabelecer novas vias associativas entre os neurônios de Φ e de Ψ, possibilitando, neste caso, aprendizado pela criação de novos e diferentes circuitos.

Ela contribui, portanto, para a formação do aparelho psíquico, muito embora Freud prefira não usar esta expressão no “Projeto”.

Também se pode questionar de que modo ela atua na formação do sistema ω (o sistema de consciência). Nós sabemos, a partir do “Projeto”, que esse sistema exige, para a sua constituição, a transformação da quantidade de Θ em qualidade; o que se consegue, originariamente, pela produção do período, através da introdução de um novo elemento: o tempo de duração da estimulação. Os estímulos não são eficientes isoladamente, porem, através dessa noção de períodos eles acumulam a intensidade necessária para ganharem o sistema ?.

E a dor ainda serve, por conseguinte, para a transformação de sensações em sentimentos, os quais, se admitem uma certa precedência (para as sensações), irão resultar dos resíduos das experiências de dor e de satisfação (cessação da dor). Por exemplo &– quando o neurônio a corresponde ao registro sensorial de uma experiência de dor (ou de satisfação), o aparelho mnêmico poderá tentar reaver essa experiência criando um novo registro em a1, a2, a3, etc. e essas imagens poderão ser evocadas por um processo associativo. Mas imagem de uma dor que já ocorreu (lembrança) não é mais a impressão sensorial ocorrida, muito embora possa ser reativada com uma intensidade bastante próxima. Os sentimentos poderiam resultar (hipoteticamente) de uma combinação associativa de algumas dessas imagens mnêmicas, naturalmente, como resíduos dessas experiências de desprazer ou de prazer (dor e satisfação). Essas imagens mnêmicas da dor podem ser, de fato, tão intensas que têm força suficiente para criar uma alucinação. Freud as relaciona com o que ele irá chamar mais tarde (em “A Interpretação dos Sonhos”, publicação de 1900) de “processos primários”. Para ele, nesse momento, o processo primário é um investimento de desejo que conduz à alucinação e ao desprazer (frustração). Em oposição, os processos psíquicos secundários seriam aqueles que asseguram um bom investimento do ego, inibindo os anteriores.

A dor tem um caráter especial de localização das sensações que ela provoca. Tem uma participação importante na delimitação do esquema corporal, ensinando-nos sobre a sensibilidade dos órgãos e das zonas erógenas.

 

OS ESTADOS DE DESEJO

Como resultado da experiência de satisfação ocorre uma facilitação entre duas imagens mnêmicas (neurônios nucleares), estabelecendo-se um estado de urgência (desejo, ou seja, necessidade de descarga). Torna-se possível que a imagem mnêmica do objeto seja afastada por esse estado de desejo. Essa ativação (ou reativação) do desejo produz uma imagem idêntica à da percepção &– uma alucinação. Mas a não confirmação da realidade dessa imagem produz uma frustração. É assim que se expressa Freud, mas eu estou pensando num sentido inverso: nesse aparelho psíquico rudimentar ainda não existe em estado de desenvolvimento maior um julgamento capaz de definir a imagem do objeto. Eu pensaria então que é a frustração quem produz a não confirmação da correspondência entre a imagem sensorial e a imagem mnêmica.

Os estados de desejo resultam de uma atração positiva pelo objeto (estímulo) ou melhor, pela imagem mnêmica do objeto na ausência deste.

Por outro lado, a experiência da dor conduz à repulsa pelo objeto e a persistência desse estímulo doloroso produz a catexização de uma imagem mnêmica hostil, provocando aversão ou rechaço. É este o mecanismo mais primitivo do recalcamento &– atração primária do desejo e repulsa ou defesa primária contra o estímulo.

A atração do desejo poderia ser explicada em base ao pressuposto de que a catexia da imagem mnêmica agradável (positiva), em estado de desejo, supera em muito a catexia (Θη) da imagem resultante da percepção sensorial do objeto.

Quer dizer que a instalação e manutenção de um estado de desejo consiste numa diferença de potencial entre a catexia da imagem mnêmica e a catexia de investimento da imagem sensorial.

Vemos assim que Freud introduz a essa altura o seu conceito de catexia que corresponde a uma noção de carga/descarga: carga de desejo.

Quanto ao fato de a imagem mnêmica hostil do objeto ser abandonada o mais rápido possível, isto poderia nos ajudar a entender a defesa primária ou recalcamento.

Quando o sistema ψ conseguir substituir o objeto hostil (a representação deste) por um outro objeto (como na histeria, por exemplo), na medida em que essa substituição possa produzir algum alívio, o sistema ψ inaugurou uma forma biológica de pensar &– procurando reproduzir o estado de ψ que assinalou a diminuição da dor ou a sua cessação.

A esta altura é bom ter em mente que estamos lidando com as seguintes imagens:

• Imagem sensorial.

• Imagem mnêmica sensorial.

• Imagem mnêmica do desejo.

• Imagem mnêmica de outras imagens mnêmicas.

 

SOBRE OS AFETOS

O que é o afeto? Quando, na vivência de dor, a imagem mnêmica hostil do objeto que provocou originariamente a dor é reinvestida, surge um estado de desprazer que se acompanha de uma tendência para a descarga. Esse estado não é mais a dor mas possui alguma semelhança com o que Freud irá chamar mais adiante de Afeckt (afeto).

O afeto surge, portanto, do reinvestimento da imagem mnêmica hostil, quer dizer, a dor desapareceu e foi substituída por um sentimento, restando a sensação de desprazer &– o Afeckt. Ele (o afeto) passou a ser produzido a partir de uma sensação física de dor que deixou uma imagem mnêmica de dor, capaz de ser reinvestida. No caso da dor (sensação), o aumento da Θη é produzido pela Θ (externa). No caso de vivência de dor (imagem mnêmica) a Θ (externa) não está mais presente; só uma lembrança.

No “Projeto”, Freud levantou a seguinte hipótese: essa Θη (no caso da vivência de dor) provem dos neurônios chaves (neurônios secretores) os quais quando excitados produzem no interior do corpo estímulos que atuam sobre as condições do sistema ψ. Essa excitação é que seria responsável pelo aumento da Θη.

Não há, portanto, sugere Freud, organização psíquica sem começo de dor: a dor ajuda a criar o novo, a organizá-lo. Mas é ela que, em proporções maiores, também ajuda a desorganizar e a desestruturar.

A dor excessiva também pode determinar fixações, como acontece no masoquismo perverso, no proselitismo, na submissão e no fanatismo religioso e ideológico. Essas fixações e submissões representam, quase sempre, meios e artifícios para estabelecer com a dor um relacionamento possível.

Os processos de educação baseados na exploração dos limites dos escudos protetores dos órgãos dos sentidos não são em si anti-naturais: é o que se chama &– aprender com a própria experiência. Trata-se de um sistema pedagógico baseado na quantidade de estímulos (Θ). Mas há o risco de uma desproporcionalidade em relação ao aprendizado da qualidade.

No paciente histérico, como já foi assinalado, o que ocorre é um reinvestimento sobre a imagem mnêmica do objeto doloso hostil, o que provoca uma alucinação cenestésica que é o sintoma de conversão.

A questão econômica da dor pode ser assim resumida &– as facilitações se formam para melhor viabilizarem a condução dos estímulos com grandes magnitudes de Θ. A dor desorganiza a economia do aparelho porque requer, por um lado, grandes magnitudes de Θη e por outro, centraliza a atenção; não sobra carga para a realização de outros processos no aparelho.

E como fica a dor em relação ao narcisismo? No futuro (1916), quando o conceito de narcisismo for descoberto, estará levantado um ponto importante, obrigando-nos a uma visão antropológica na consideração das relações existentes entre o homem (o indivíduo) e a sua dor. Até lá (estamos ainda em 1895) há muito o que pensar. A dor é um fenômeno que estará sempre e intimamente ligado ao narcisismo.

 

A EXPERIÊNCIA DE SATISFAÇÃO

O que Freud chama de “experiência de satisfação” no Projeto (Freud, 1895) está relacionado com o princípio de prazer/desprazer. Neste sentido a dor poderia ser pensada como uma forma mais diferenciada e definida (específica) de desprazer, ou seja, uma aquisição mais tardia, de um ponto de vista genético-evolutivo. Neste sentido, desprazer = acumulação de estímulos, retenção de estímulos não descarregados; prazer = descarga de tensões, eliminação, evacuação de estímulos.

Se quiséssemos fazer uma escala sobre os dispositivos que tentam evitar e afastar a dor na escala evolutiva, talvez pudéssemos estabelecer a seguinte ordenação:

• O arco reflexo.

• A compulsão para repetir.

• O princípio de prazer/desprazer.

• O princípio de constância.

• O processo de formação de sensações.

• A transformação de sensações em sentimentos.

• O desenvolvimento de uma capacidade de pensar.

De uma forma resumida e muito sintética, todos estes processos estariam sendo mecanismos, meios de defesa contra a emergência da dor ou melhor, tentativas para impedi-la ou atenuá-la, um esforço evolutivo dos organismos para lidar com a dor. Ao mesmo tempo, um caminho biológico na direção da formação de um aparelho psíquico (um aparelho de pensar &– com as decorrências e implicações dos pensamentos, incluindo as diferentes formas de sentir. Mais diretamente mesmo podemos dizer que foi dessa concepção simples e rudimentar, primitiva mesmo, vaga e imprecisa de prazer/desprazer que resultou o sentir e o pensar. Como disse Freud: “resíduos das experiências de dor e de satisfação”.

No “Projeto” Freud atribui esse poder de descarga mais específica e intensa aos neurônios da camada nuclear do cérebro: “eles têm uma propensão para a descarga”, conseguindo provocar atos motores automáticos &– gritos, choros, esperneios, entre outros &– que terminam induzindo à ação outros sujeitos (objetos), os quais, interferem no sentido de corrigir algum defeito &– fome, desconforto, dor, etc. Mas o que é mais importante é que essa ação específica consegue evoluir no sentido de uma comunicação, de uma linguagem, no sentido de “ações seletivas”. É que esses organismos não são capazes de proporcionar, sozinhos, a si mesmos, satisfação ou alívio.

Na verdade, não é só uma questão de desenvolvimento da linguagem. O desamparo do ser humano nos primeiros meses de vida é tão grande que ele depende intensamente do meio externo através dessas “ações seletivas específicas” para prover a si mesmo e ser provido em todas as suas necessidades básicas.

Instala-se desse modo a capacidade para a percepção do movimento como uma imagem que é diferente da percepção da imagem estática. Incita ao movimento, surge a noção de locomoção e de deslocamento.

Do ponto de vista da dinâmica do aparelho em formação (segundo o “Projeto”), intensificam-se as catexizações e recatexizações em ψ. As barreiras de contato ficam facilitadas &– O neurônio α pode ser catexizado simultaneamente com o neurônio β e isto irá facilitar a substituição de um pelo outro &– tanto no sentido da inibição como no sentido da liberação do recalcamento (primeira experiência de recalcamento e desrecalcamento). Exemplo: Esqueço o nome (Fiúza) do meu barbeiro. Experimentando um método associativo, descubro que Fiúza (barbeiro = neurônio α) for recalcado por Fiúza β (figura política na ditadura de Getúlio Vargas). Um sentimento hostil inibiu (recalcou) Fiúza α porque ele tinha algo em comum com Fiúza β (o político). Resultado, o nome Fiúza foi excluído por repressão. Não consigo lembrar dele por um lapso de tempo. Foi preciso descobrir a relação entre α e β para retomar o significado diferencial entre os dois e a constatação das diferenças libertou Fα de Fβ, devolvendo-o ao estado de pureza originário.

 

A TRANSFERÊNCIA EM SUAS RELAÇÕES COM O TRAUMA E A DOR

E o que acontece com a transferência? A dificuldade é de fazer uma substituição da imagem mnêmica provocada pelo objeto (estímulo sensorial), quer dizer, uma lembrança desta, por uma imagem mnêmica produzida a partir da imagem mnêmica sensorial, a qual, tem uma catexia menos intensa.

Leve-se em conta que o desejo de ter para si um determinado objeto não se contenta, na transferência, apenas em desejar: procura realizar, alucinatoriamente, esse desejo. É como num sonho &– possui os mesmos mecanismos, se processa seguindo a mesma dinâmica: um estado de desejo hipercatexizado. Mas a transferência não vem de um sonho. Ela procede do mesmo desejo (estímulo diurno) capaz de gerar um sonho. Um desejo que um dia começou a ser confrontado com a realidade da sua proibição. Um estímulo externo ameaçador que já foi violentamente rechaçado (reprimido). Foi exigida a sua renúncia incondicional, porem essa renúncia incondicional nunca foi aceita. A amputação de um desejo equivale a uma castração, isto é por demais sabido. A ameaça de castração já pode ser sentida como uma castração. Formou-se, desse modo, uma imagem mnêmica hostil do objeto sensorial ameaçador. Formou-se uma imagem mnêmica hostil da imagem mnêmica hostil que havia se originado a partir do objeto. Tornou-se necessário criar o que Freud veio a chamar de “alucinação negativa”, ou seja, uma espécie de exclusão da imagem, seja ela alucinatória ou não: é preciso não ver, não ter e não saber da sua existência. Para a imagem sensorial essa forclusão pode não ser difícil de entender. O problema de entender a ausência da imagem alucinatória, ou seja, da alucinação da alucinação pode parecer mais difícil, porem se trata de um conceito importante para compreender a relação transferencial.

O analista não é o meu pai. Mas eu o coloco no lugar do meu pai. Mesmo assim eu não sei que estou fazendo isto, nem sei porque estou fazendo isto. Então a transferência só pode funcionar (como um fenômeno inconsciente) se eu não souber que sei do que sei (exclusão &– forclusão(?) &– da imagem). A renúncia a um desejo tão intensamente catexizado só pode ser muito dolorosa, o que demanda mecanismos de superação (alucinação negativa) das imagens parentais. Sempre se pensou tratar-se de mecanismos inconscientes, mas é preciso que se pense, existe algo mais.

A condição estabelecida (forçadamente) diante da exigência (superegóica) dessa renúncia é tão dolorosa que pode ser assinalada à teoria do trauma. Deve ser a mais dolorosa de todas as experiências traumáticas sofridas durante esse período infantil. Uma decepção sem precedentes e, possivelmente, sem sucedente.

Todavia, os mecanismos da transferência só poderão se instalar decisivamente nessa atmosfera traumática com a ajuda imprescindível da compulsão para repetir. O aparelho psíquico retorna, portanto, a um estágio bastante regressivo e, em situações apropriadas, passa a funcionar automaticamente nesse nível. De fato, os modelos usados pela transferência para a formação de imagens têm conteúdos mágicos e correspondem aos processos mais primitivos.

A questão da transferência passa a ser equacionada como se fosse uma espécie de conversão histérica: um objeto é substituído por outro e essa substituição implica numa procura cujos resultados emergem sempre de um conflito. Essa procura é constante &– a imagem mnêmica do objeto desejado se confunde com a própria imagem do desejo, o que contribui para a criação de um estado confusional permanente.

 

A QUESTÃO DO MITO

A relação entre a dor e o mito também merece alguma atenção. Comecemos pela lenda da perda do Paraíso, tão freqüentemente associada à mitologia judaico-cristã. Adão e Eva viviam em estado de felicidade no Paraíso. Tudo, ou melhor, quase tudo lhes era permitido. Podiam comer de todos os frutos de todas as árvores menos de uma &– a árvore da ciência do bem e do mal. Caso transgredissem essa ordem, seriam punidos com a perda da felicidade, o que significaria a possibilidade de sentir dor, de adoecer, até de morrer, alem de terem que ganhar o seu sustento diário com muito esforço e trabalhando duro. Caso contrário a vida teria sido completamente diferente, pois eles teriam permanecido em estado de inocência. Estavam, portanto, avisados e a advertência era para valer mesmo. Conta a lenda que um dia, seduzida pela “serpente”, Eva decidiu experimentar do “fruto proibido”. E assim fez, verificando a seguir que estava nua e que precisava cobrir o seu corpo, não por causa do frio ou apenas para protegê-lo contra fatores externos hostis, mas por causa de um outro fator novo, surgido como uma conseqüência secundária da transgressão &– a vergonha. E foi esse nascimento da vergonha que começou a mudar a relação do homem com Deus (autoridade), com os outros homens (desejos externos) e com o próprio homem (pudor). Jeová tinha, portanto, toda a razão. Em sua sabedoria infinita ele deveria saber que uma aparentemente pequena transgressão poderia expor o homem a uma série de circunstâncias desfavoráveis, ameaçadoras. E ele queria, tão somente, proteger os seus filhos.

Mais tarde, bem mais tarde, muitos e muitos anos depois, compadecido mais uma vez do sofrimento dos seus filhos, a lenda nos conta que Ele envia seu filho &– Jesus Cristo, com a missão de salvar os homens. A tentativa de redenção do homem foi feita por Cristo através do sofrimento, culminando com o seu próprio sacrifício. A história de Cristo é uma história de tanta dor que os seus seguidores fundaram uma nova religião &– o cristianismo, a qual passou a se caracterizar, entre outros fatos relevantes, pelo sofrimento dos seus numerosos mártires.

Sem uma preocupação cronológica, poderíamos citar, como parte da história das relações entre o homem e a sua dor, o episódio mítico da lenda de Prometeu, na mitologia grega. Prometeu se preocupava com os humanos, com a escuridão sensorial e de espírito em que viviam. Decidiu ensinar-lhes os mistérios do fogo, roubando-os aos deuses. Contrariado com a transgressão do seu primo, Zeus decidiu puni-lo severamente, mandando que Efesto o pregasse nas rochas das montanhas frias do Caucaso, onde ele permaneceu por cem anos de solidão e de dor, lamentando todos os dias não ser um ente mortal para ser redimido pelo benefício da morte. Todos os dias a águia de Zeus vinha roer-lhe o fígado, cujo tecido, em conseqüência da imortalidade dos titãs, se regenerava durante a noite. Mas, como Prometeu não era um deus, ele não estava isento de sentir as dores e os sofrimentos dessas torturas.

E para encerrar este capítulo, seria interessante lembrar dos índios Carajá, que vivem no Brasil Central (à ilha do Bananal, no Estado de Goiás). De acordo com a mitologia desses índios, eles viviam, num tempo muito remoto (in illo tempore), no fundo do rio Araguaia, numa espécie de paraíso em que também não existia a dor, a doença e a morte. Eles nasciam, cresciam, ficavam adultos, se reproduziam e envelheciam, porem nunca morriam. Kanansiuê, o seu deus, provia para que não lhes faltasse o alimento e apenas sentissem fome apareceria uma tigela de comida aos seus pés. Ninguém podia se queixar de que algo faltasse. Um dia... um indiozinho gordo e atarracado, como eram todos os que moravam no fundo do rio, começou a questionar, perguntando aos mais velhos como era a vida fora das águas. Os mais velhos, assustados, tentaram dissuadi-lo para que desistisse dessas investigações perigosas. Kboí (era assim que ele se chamava), não deu ouvidos a essas recomendações, arranjou um companheiro que conseguiu seduzir e continuou firme na sua procura. Terminou encontrando o buraco de acesso para a superfície das águas. Em resumo, conseguiu convencer algumas famílias a saírem das águas e fazerem uma aldeia em terra firme. Os transgressores (fugitivos dos domínios de Kanansiuê) a princípio sofreram muito. Como nada sabiam (pescar, caçar, construir casas, procurar cavernas, fazer fogo, etc.) tiveram que aprender tudo com muito esforço, com um sofrimento enorme, com muita dor. Principalmente quando apareceram as doenças e alguns começaram a morrer. Ninguém sabia o que era aquilo. Tiveram, desesperados, que pedir ajuda a Kanansiuê.

 

A VERTENTE DA LINGÜÍSTICA

Gostaria apenas de acrescentar, a título de registro, umas poucas anotações sobre os significados e sentidos da palavra dor. Em sua origem latina, “dolor” sofre uma pequena modificação para chegar às línguas neolatinas, às vezes nem precisando tanto: dor (português), dolor (espanhol), douleur (francês), etc. Em grego, dor é agon. O mais interessante, porém, é verificar de que modo a palavra dor é utilizada na nossa língua, diretamente, ou através dos seus derivados, como prefixo ou como sufixo. Por exemplo &– dor &– mir = para nos referirmos ao ato em si de estarmos no estado de sono. A palavra dor &– mência = se refere ao a-dor-meci-mento de uma determinada parte do corpo, sendo usada, portanto para expressar um estado parcial de sonolência física, bem localizada (dormência no braço). Mas a palavra “dor” também pode ser usada em nossa língua com o significado de “ódio”: “dor no coração”. Por que o ódio? É que a dor nos obriga a uma relação narcísica: tenta expulsar do nosso próprio corpo (a mente esta incluída nesse corpo) o que dói, o que nos ataca, nos fere ou machuca, perturba &– o estranho, o nocivo, o mal (o ódio). A dor nos ensina a amar, mas ela nos ensina também a odiar. Ela é, às vezes, o próprio ódio, mas o amor também é feito de dores que outras vezes nos são impostas para ganhar, conter, preservar ou resgatar o que amamos (Eros e Psiqué).

Adormecer significa, literalmente, ficar sem dor, sem sofrimento. O prefixo grego ? significa ausência, abstração. O significado da linguagem nos leva a considerar o sono como um estado de ausência de dor. Isto se comprova mais diretamente quando se estabelece uma condição de anestesia (an-estesia = ausência de sensibilidade). O sufixo IR (de dor-mir) estabelece também um sentido de exclusão, escape como em omitir, sumir, partir, sorrir. Indica a presença de um movimento na direção de uma fuga. Dormir significa, portanto, ir-se com a dor, no sentido estrito de mandá-la embora.

Mas o sufixo ER também parece implicar em movimento &– doer, roer, dever, suceder, comer, fazer.

Contudo, eu gostaria de chamar a atenção para certos substantivos e adjetivos terminados em dor: é que esses detalhes lingüísticos assinalam que a dor, seja como substantivo ou como adjetivo, como prefixo, co-prefixo, ou sufixo, faz parte intrínseca e muito freqüente de nossas relações conosco e com os outros, desde o nascimento, passando por todas as fases, até à morte. Por exemplo: = amador, doador, castrador, jogador, lutador, ganhador, perdedor, vencedor, criador, recebedor, puxador, patinador, ativador, corretor, competidor, nadador, domador, amestrador, dominador, etc.

 

A OUSADIA DE GOYA

Francesco Goya, um pintor espanhol do século XVIII, ligado à realeza durante a maior parte de sua vida, pintou dois quadros famosos, cada um medindo 97,0 x 190,0 cm. A grande importância dessas obras do ponto de vista da história da pintura clássica no mundo ocidental se deveu ao fato de ter sido a primeira vez que um pintor teve a coragem de retratar, em tamanho natural, uma figura feminina em duas exposições &– uma vestida, porem muito sensual e a outra despida, igualmente sensual. Goya devia ser realmente muito corajoso. Discute-se ainda, nos dias atuais, sobre a identidade das duas “Majas”, como ainda são chamadas &– a Maja Vestida e a Maja Despida. Mas isto permaneceu como um mistério. A hipótese de que poderia ter sido uma dama da corte &– a Duquesa de Alba, nunca foi confirmada nem pelo autor nem pela Duquesa. O corpo é muito parecido com o dela, porem o rosto não permite a mesma identificação. Admite-se a possibilidade de Goya ter recebido uma encomenda de um poderoso ministro ligado à Corte, a quem se sabe, os quadros pertenceram durante muitos anos e foram protegidos contra a Inquisição e outras censuras. É verdade que antes de Goya Velasquez, um pintor contemporâneo, já tinha pintado uma Vênus no espelho, mas isso era um tema mitológico. Com um modelo vivo, humano, Goya estava criando algo absolutamente novo e, ao mesmo tempo, desafiando todas as regras e costumes. Dizem que esses quadros sobreviveram e chegaram até os dias atuais (encontram-se atualmente no Museu do Prado) graças à proteção de uma pessoa muito influente na corte. Mas eles quase foram queimados, o que tornaria o seu autor igualmente vulnerável ao fogo da Inquisição.

Em termos do desenvolvimento de um aparelho psíquico rudimentar, como era o do “Projeto”, pode-se afirmar que a importância histórica desse pintor espanhol dos séculos XVII &– XIX (calcula-se que as duas “Majas” foram pintadas na virada do Século &– 1800, foi a de ter criado uma nova “facilitação”, rompendo, com um estímulo suficientemente forte uma barreira de contato que impedia a passagem do desejo por novos circuitos.

Nesse sentido, pode-se também dizer que Goya funcionou como um herói mítico, o qual, mesmo sendo protegido dos reis e dos poderosos da época, sofreu ameaças, sendo obrigado a temer pela sua vida. A situação comprova a tese de Freud de que não é possível o desenvolvimento sem uma certa quantidade de sofrimento.

 

GLOSSÁRIO

Atenção &– Ponto de excitação ou de convergência para os estímulos que são assim localizados.

Barreiras de Contato &– são neurônios que opõem uma resistência maior à passagem dos estímulos e que são rompidos (abertos = facilitação) para magnitudes de intensidade de estímulos.

Barreiras de Proteção &– órgãos dos sentidos situados nas portas de entrada e captação dos estímulos específicos ao longo do corpo.

Catexia &– investimento realizado sobre um neurônio (Φ ou ψ) ou um grupo de neurônios.

Ego rudimentar &– um grupo ou conjunto de neurônios que começa a adquirir uma função específica.

Facilitação &– passagem de um estímulo de alta intensidade (magnitude) pelo neurônio condutor, abrindo passagem mais livre para estímulos que se seguem (tanto em Φ como em ψ). Bahnung.

Imagens alucinatórias &– catexização (investimento) de uma imagem mnêmica na ausência do objeto (externo) que produziu originariamente essa imagem.

Imagem mnêmica &– retenção da imagem sensorial numa barreira de contato (formação da memória).

Imagem mnêmica hostil &– o que restou na memória como resíduo (imagem) do objeto que causou dor.

Imagem sensorial &– estímulos portadores da representação externa do objeto ao atingirem o sistema ω.

Masoquismo erógeno &– um tipo de masoquismo que está na base da perversão masoquista, mas que também se encontra em outras formas de masoquismo: feminino, masculino, entre outras.

Metapsicológica &– estímulo de baixo potencial de Θ podem se repetir durante um curto espaço de tempo e adquirirem condições para alcançar uma consciência: Sistema ω. Essa relação temporal &– traduz um fator qualitativo.

Neurônios de condução em Φ &– aqueles que conduzem as excitações (estímulos provenientes do mundo externo) da pele para fora. (Pronuncia-se Fi)

Neurônios de condução em ψ &– aqueles neurônios que conduzem os estímulos dos órgãos internos &– para dentro da pele. (Pronuncia-se Psi)

Percepção &– registro de uma imagem (sensorial ou mnêmica) no sistema ω

Período &– O tempo à caracterização de um fenômeno psíquico conforme uma condição tríplice: topológica, dinâmica e econômica.

Princípio de Constância (B. Low) &– é um princípio econômico. Tem por objetivo manter a quantidade de energia (estimulação) num nível constante, suportável, o mais baixo possível para assegurar a economia de todos os sistemas.

Θ &– representação para a magnitude de excitação proveniente de ? &– do exterior do corpo.

Θη &– representação para expressar as magnitudes de excitações provenientes dos neurônios ψ. (Pronuncia-se Qeta)

Princípio de prazer-desprazer &– um dos dois princípios que seguem o funcionamento do aparelho psíquico. O outro é o princípio de realidade. Segundo esse conceito prazer = descarga de tensão. Desprazer = acúmulo de tensão.

Sistema Φ (Fi) &– sistema de neurônios condutores dos estímulos provenientes dos órgãos dos sentidos &– fora do organismo.

Sistema ψ (Psi) &– sistema de neurônios condutores das estimulações provenientes dos órgãos internos.

Sistema ω (ômega) &– sistema de neurônios encarregados da formação da consciência: transformam quantidade de estímulos em qualidade.

Sistemas de Neurônios Nucleares &– neurônios seletivos &– estão sob as camadas corticais (nucleares) e tem por objetivo produzir substâncias que induzem modificações no mundo externo &– esperneios, gritos, choros, entre outras &– levando a ações específicas por conta de pessoas que se encarreguem de suprir necessidades insatisfeitas. Evoluem no sentido da linguagem.

Sintoma de Conversão &– a representação do objeto hostil foi substituída por uma representação de outro objeto, na medida em que essa substituição pode produzir algum alívio.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Bíblia Sagrada. Traduzida para o português por João Ferreira de Almeida. O Gênesis.        [ Links ]

Freud, S. (1895). Projeto de uma psicologia científica para neurólogos e psicólogos. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1969.        [ Links ]

Freud, S. (1900). A interpretação dos sonhos. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1969.        [ Links ]

Freud, S. (1916). Uma introdução ao narcisismo. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1969.        [ Links ]

Freud, S. (1920). Além do princípio do prazer. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1969.        [ Links ]

Freud, S. (1924). A dissolução do complexo de Édipo. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1969.        [ Links ]

Machado O. X. Os carajás (“Inan-son-uerá”): contribuição ao estudo dos indígenas brasileiros. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1947.

Sófocles. The Teban play. Trad. E. F. Watling. London. 1947.        [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência
David Azoubel Neto
E-mail: azoubeldan@convex.com.br

Recebido em 14/12/05.
1ª Revisão em 23/02/06.
Aceite Final em 29/04/06.

 

 

1 Psicanalista, Membro Efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo e da Sociedade Brasileira de Ribeirão Preto.
2 Uma parte dos leitores poderia não estar familiarizada com o significado dos termos aqui empregados.