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Revista da SPAGESP

Print version ISSN 1677-2970

Rev. SPAGESP vol.10 no.2 Ribeirão Preto Dec. 2009

 

EDITORIAL

 

Grupo como espaço de produção de sujetividade: limites e possibilidades

 

Manoel Antônio dos Santos 1

 

Eis que vem a lume mais um fascículo – o volume 10, número 2 – da Revista da SPAGESP, periódico que cada vez mais se consolida como uma referência em termos de abordagens terapêuticas grupais.

O primeiro artigo Experiencia grupal en trastornos de alimentacion empleando la tecnica de Fotolenguaje®, de Alicia González Cruzado, da Asociación Uruguaya de Psicoanálisis de las Configuraciones Vinculares, discute sobre o grupo terapêutico e a produção de subjetividade, em uma experiência com pacientes que sofrem de transtornos alimentares. Para a autora, a técnica de Foto-linguagem® é uma ferramenta privilegiada para o trabalho em grupo com os pacientes que apresentam dificuldades no controle dos impulsos e nos processos de mentalização.

O artigo seguinte, Fotografias e narrativas: Presença-ausência, imagens em ação, de autoria de Altivir João Volpe, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, também discorre sobre o uso de fotografias no contexto grupal, aliada outros recursos, como música, pintura e narrativa, como enquadres diferenciados utilizados com grupos e instituições. Esses enquadres possibilitam a abertura à memória coletiva e, nessa medida, contribuem com o trabalho próprio do devir humano.

A contribuição, intitulada Saúde Mental: Uma visão vincular, de Waldemar José Fernandes, do Núcleo em Saúde Mental e Psicanálise das Configurações Vinculares, discorre sobre considerações a respeito da medicina atual, no que diz respeito ao excesso de diagnósticos, sobre a visão psicossomática e os aspectos vinculares. São abordadas reflexões sobre a psiquiatria dinâmica, as neurociências e o relacionamento entre o profissional de saúde e seus pacientes. O autor propõe que uma atitude psicoterápica seja seguida pelo profissional de saúde, finalizando com observações sobre a psicoterapia em geral e a psicoterapia de grupo, em especial.

O artigo Escutando famílias na rede pública: Uma experiência de supervisão institucional com a equipe do PAIF – Programa de Atenção Integral à Família dos CRAS Vinhedo/SP, de autoria de Rachele Ferrari, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, apresenta o caminho percorrido por um trabalho de supervisão institucional psicanalítica à equipe técnica do PAIF. A autora ressalta como se deu o início dos trabalhos, a demanda inicial apresentada pelo serviço à psicanalista e como foi se constituindo o lugar dessa supervisão. Para a autora, esse trabalho oferece a oportunidade de se vislumbrarem possibilidades de intervenção ainda que em ambientes aparentemente inóspitos.

Também discorrendo sobre trabalho com grupos na comunidade, o próximo artigo intitulado Projeto “Abrace seu bairro”: Prevenção da violência no meio escolar e melhoria da qualidade de vida, de autoria de Ruth Blay Levisky, do Núcleo em Saúde Mental e Psicanálise das Configurações Vinculares, descreve um projeto piloto, embasado em conceitos sócio-psicanalíticos, que teve como objetivo desenvolver projetos de prevenção de violência nas escolas e em seu entorno. Segundo a autora, o projeto colaborou para a melhoria da auto-estima e para o desenvolvimento da cidadania das pessoas envolvidas.

Em seguida, o artigo O estilo clínico ser e fazer como proposta para o cuidado emocional de indivíduos e coletivos, de autoria de Fabiana Follador e Ambrosio, da IPontifícia Universidade Católica de Campinas, e Tânia Maria José Aiello Vaisberg, do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, apresenta características da intervenção clínica denominada estilo clínico ser e fazer na pesquisa psicanalítica e no cuidado de indivíduos e coletivos, em âmbito institucional.

No artigo seguinte, O amor caiu na rede: Sobre a procura de parceiro e a evolução de vínculos amorosos na Internet, Carla Pontes Donnamaria e Antonios Terzis, da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, expõem resultados e discussões de pesquisa realizada com casais cujos vínculos originaram-se de relacionamentos mediados pela Internet. Os autores buscaram compreender o processo de escolha e de evolução dos vínculos amorosos realizados neste contexto, mediante a aplicação do método psicanalítico de investigação.

O último artigo desse fascículo também aborda a questão dos vínculos conjugais. O trabalho intitulado As interfaces na constituição do vínculo conjugal, é de autoria de Maria Lucia de Souza Campos Paiva, da Universidade Presbiteriana Mackenzie. No intuito de ilustrar o entrelaçamento do transsubjetivo e do intersubjetivo, a autora apresenta um recorte de um estudo sobre a interferência da transmissão psíquica na constituição do vínculo conjugal. Ao final, aponta que as heranças psíquicas transgeracionais ocupam um lugar determinante na constituição do vínculo conjugal e dificultam o estabelecimento de uma identidade conjugal e familiar própria.

Ao examinarmos o conteúdo desses artigos, salta à vista que os estudos aqui enfeixados buscam contemplar diferentes contextos e cenários da prática grupal. Nessas contribuições multifacetadas percebemos claramente a preocupação dos autores com o estabelecimento de parâmetros teóricos e técnicos que possam balizar o enquadre no qual as intervenções grupais ocorrem, evidenciando seus limites e possibilidades.

 

 

1 Professor Doutor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo. Editor da Revista da SPAGESP - Sociedade de Psicoterapias Analíticas Grupais do Estado de São Paulo, e-mail: masantos@ffclrp.usp.br.