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Revista da SPAGESP

versão impressa ISSN 1677-2970

Rev. SPAGESP vol.12 no.2 Ribeirão Preto dez. 2011

 

EDITORIAL

 

Um convite à(s) diversidade(s) no trabalho com grupos, família e saúde

 

An invitation to diversity in work with groups, family and health

 

Una invitación a la diversidad en el trabajo con el grupo, la familia y la salud

 

Fabio Scorsolini-Comin 1

 

É preciso pensar com a mente aberta
(Hannah Arendt)

É com o desafio lançado por Arendt que elenco a diversidade como fio que conduz as narrativas científicas que compõem o volume 12, número 2, ano 2011, da Revista da SPAGESP (Sociedade de Psicoterapias Analíticas Grupais do Estado de São Paulo). E à palavra diversidade acrescentaria um plural - diversidades -, a fim de contemplar as diversas vozes, audições e reflexões que se encerram nas oito produções que fazem parte deste último número de 2011. É para contemplar essas diversidades e também nos juntar a elas que convido a todos para a leitura desse número, que traz estudos de pesquisadores nas áreas de grupos, famílias e saúde mental.

Este ano marcou meu desafio pessoal estando à frente da Revista da SPAGESP: iniciar na atividade de editor científico, convocar novos membros para a equipe editorial e para o corpo de avaliadores, treinar a equipe editorial em função do planejamento para este ano, agilizar e qualificar o processo editorial, permitindo que novos colaboradores pudessem tomar assento e partilhar desse grande grupo que é a SPAGESP. Foi em 2011 que celebramos os dez primeiros anos da revista, que conseguimos mais um indexador (Catálogo Latindex) e que publicamos quatro números (sendo dois referentes a 2010 e dois de 2011).

Assim, ao final desse percurso, marcamos o início de um novo ciclo na revista já a partir de 2012. As modificações que estão sendo planejadas visam inserir a Revista da SPAGESP entre as principais publicações da Psicologia e de áreas afins no contexto brasileiro. Mas antes de anunciar essas mudanças, é hora de agradecer às ajudas e parcerias recebidas ao longo de 2011, notadamente dos assessores ad-hoc e da equipe editorial. Sem o envolvimento, a agilidade e flexibilidade de todos, não teríamos chegado aos mesmos resultados. Eis aqui mais uma parte desse esmerado trabalho.

O segundo número do volume 12 é aberto com o artigo intitulado Conflitos conjugais: motivos e frequência, de Clarisse Mosmann e Denise Falcke, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), que discute os conflitos nas uniões conjugais como sendo inerentes à própria constituição da conjugalidade. Tendo como norte a teoria sistêmica, as autoras realizaram um estudo com 149 casais do interior do Rio Grande do Sul. Os resultados apontaram que o motivo mais frequente de desentendimento entre o casal é a relação com os filhos, seguido pelo tempo que desfrutam juntos, o dinheiro, as tarefas domésticas e, por fim, o sexo e as questões legais. O artigo conclui que deve ser estabelecido um foco específico para intervir junto aos casais, como no desenvolvimento de estratégias de resolução de conflitos, o que pode favorecer com que se incrementem os níveis de qualidade nos relacionamentos conjugais.

Na sequência, Carla Pontes Donnamaria e Antonios Terzis, da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, apresentam o estudo intitulado Experimentando o dispositivo terapêutico de grupo via internet: primeiras considerações de manejo e desafios éticos. Os autores partem da consideração de que as possibilidades e os riscos envolvendo o uso das tecnologias de comunicação para o desenvolvimento de um trabalho terapêutico a distância ainda não são suficientemente conhecidos pela Psicologia. Para tanto, descreve-se um projeto de pesquisa em curso cujo objetivo é caracterizar o grupo de atendimento psicológico online, sob o respaldo da teoria psicanalítica dos grupos. O estudo em apreço inclui as primeiras considerações de manejo e os desafios éticos dessa modalidade de atendimento ainda considerada "nova" no contexto brasileiro.

Manoel Antonio dos Santos, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP) e Maria Antonieta Spinoso Prado, Marislei Sanches Panobianco e Ana Maria de Almeida, da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (EERP-USP), apresentam o artigo Grupo de apoio a mulheres mastectomizadas: cuidando das dimensões subjetivas do adoecer. O estudo trata da relevância do grupo de apoio como modalidade de intervenção no processo de reabilitação psicossocial de mulheres mastectomizadas. Os autores destacam que o grupo oferece um espaço de escuta e fala no qual as participantes podem discutir livremente questões relacionadas ao enfrentamento do câncer de mama. Os resultados desses encontros ao longo de 20 anos do serviço de atenção a mulheres mastectomizadas indicam que o grupo promove um ambiente que favorece o oferecimento de suporte social, compartilhamento de sentimentos, desenvolvimento de habilidades para enfrentamento de situações difíceis, educação em saúde, informação e discussão de questões existenciais.

O artigo intitulado Os vínculos familiares em uma criança com pré-estrutura de personalidade psicótica, de Ana Paula Medeiros, Fernanda Kimie Tavares Mishima-Gomes e Valéria Barbieri, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP), apresenta um caso de uma criança de sete anos, baseado no processo de triagem de um serviço-escola de uma universidade pública. Segundo o relato das autoras, a demanda pelo atendimento partiu da mãe devido à agressividade e à perda de memória do filho. Ao longo do bem-sucedido processo terapêutico, a criança demonstrou necessidade de vivenciar experiências em um espaço que possibilitasse a expressão do gesto espontâneo, da agressividade e do amor, para prosseguir em seu desenvolvimento emocional.

DSM e psicanálise: uma discussão diagnóstica, da autoria de Fuad Kyrillos Neto, Carlos Felipe Lemes e Silva, Aquinoã Abigail Pederzoli e Maria Luísa Azôr Hernandes, da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), pontua duas vertentes diagnósticas por meio da discussão de um caso clínico atendido em um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). O caso foi analisado em concordância com os pressupostos do DSM-IV-TR e posteriormente sob uma perspectiva psicanalítica. Os autores realizaram uma discussão sobre a atual lógica diagnóstica adotada pela Psiquiatria, que apresenta a tendência de substituir as grandes categorias diagnósticas por descrições especificadas operacionalizadas de fenômenos objetivos, além de uma reflexão sob a lógica psicanalítica, evidenciando as consequências trazidas na condução do tratamento por essas diferentes lógicas diagnósticas.

Tales Vilela Santeiro, da Universidade Federal de Goiás (UFG), partindo do uso de filmes na formação de psicólogos clínicos sob o enfoque psicanalítico, apresenta o estudo intitulado Um curta-metragem, diversas histórias na formação de psicólogos clínicos: o caso "Pular". Em seu relato de experiência, um curta-metragem é utilizado como recurso formativo em três momentos diferentes de um curso de Psicologia de uma universidade pública. Em cada um desses momentos, diferentes perspectivas são exploradas a partir do filme e dos conteúdos em apreço. O artigo mostra, por meio de planos de ensino de diferentes disciplinas, como esse recurso pode ser disparador de reflexão e potencializador da aprendizagem dos graduandos em Psicologia.

O artigo Sujeito e autoria no contexto escolar: contribuições da Análise do Discurso, de Juliana Christina Rezende de Souza e Soraya Maria Romano Pacífico, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP), analisa, por meio do referencial teórico da Análise do Discurso (AD) de matriz francesa, como o sujeito professor pode (ou não) assumir a autoria no espaço escolar, utilizando recortes de um corpus de 15 textos dissertativo-argumentativos produzidos pelos sujeitos após discussões em grupos de textos escritos e fílmicos relativos ao campo da educação. As autoras, após a discussão da pesquisa empírica, consideram a AD como uma teoria da interpretação na qual, a partir de indícios na materialidade linguística, torna-se possível interpretar os sentidos mobilizados pelo sujeito e compreender o mecanismo de produção desses sentidos.

Finalizando este número, Alice Costa Macedo e José Francisco Miguel Henriques Bairrão, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP), e Soraya Fernandes Mestriner e Wilson Mestriner Junior, da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FORP-USP), apresentam o artigo Ao encontro do Outro, a vertigem do eu: o etnopsicólogo em equipes de saúde indígena. Neste trabalho, os autores analisam o Projeto Huka-Katu, que oferece um estágio e uma disciplina aos estudantes do curso de graduação em Odontologia, sendo uma das etapas realizada no Parque Indígena do Xingu. Com a presença de uma pesquisadora do Laboratório de Etnopsicologia (FFCLRP-USP) no projeto, surgiu uma nova parceria, com o intuito de trazer contribuições da psicanálise e da etnopsicologia. Neste relato de experiência profissional, propõe-se a conveniência da inclusão de profissionais com formação em etnopsicologia nas equipes, no intuito de preparar o odontólogo e o profissional de saúde em geral para encontros interculturais que, ao mesmo tempo em que o põem em contato com o outro, devolvem-no a um confronto consigo mesmo.

Para o ano de 2012, estamos preparando mudanças na revista, no sentido de dar continuidade ao trabalho desenvolvido nos últimos anos e priorizar o diálogo com diferentes pesquisadores no Brasil e no exterior, além de perseverar na missão de destacar a Revista da SPAGESP como um dos principais periódicos nacionais.

Vemos com este número 2 de 2011 uma consolidação de diversos esforços no sentido de encorpar este periódico e fomentar constantemente o diálogo com as diversidades que nos constituem e que frequentemente nos questionam: estamos pensando de modo aberto? Em nosso fazer de pesquisador, essa pergunta não deve ser naturalizada, mas sempre posta em destaque, possibilitando releituras e novos olhares aos nossos objetos de estudo.

Sendo assim, desejo uma leitura proveitosa de mais este número e convido a todos para que continuem explorando as diversidades nos campos acadêmicos e práticos, além de endereçarem suas produções para a Revista da SPAGESP.

 

 

1 Professor do Departamento de Psicologia do Desenvolvimento, da Educação e do Trabalho da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). Editor da Revista da SPAGESP – Sociedade de Psicoterapias Analíticas Grupais do Estado de São Paulo, e-mail: scorsolini_usp@yahoo.com.br.