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Revista da SPAGESP

versão impressa ISSN 1677-2970

Rev. SPAGESP vol.13 no.1 Ribeirão Preto  2012

 

ARTIGOS

 

"Evangelho das mães": genéricos discursivos em revistas femininas

 

"Mother's gospel": discursive generics in feminine magazines

 

"Evangelio de las madres": genérico discursivo en las revistas femininas

 

 

Paula Chiaretti; Leda Verdiani Tfouni

Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Este artigo pretende contrapor duas formas de abordar a feminilidade: uma, da Psicanálise Lacaniana, que argumenta que "A" mulher não existe e relaciona a posição feminina às categorias lógicas de contingência e impossível; e, outra, da revista feminina, que acredita na transparência e naturalidade da mulher. Para ilustrar tal naturalização de sentidos sobre o que é ser uma mulher, será analisado um recorte de uma publicação voltada para o público feminino, Jornal das Môças, de 1944, por meio da Análise do Discurso Pêcheutiana que desnaturaliza os sentidos e remete-os às suas condições de produção.

Palavras-chave: Genéricos discursivos; Feminilidade; Psicanálise.


ABSTRACT

This article aims oppose two ways of approaching womanhood: one of Lacanian psychoanalysis, which argues that "THE" woman does not exist and relates the feminine position to logical categories of contingency and impossible; and other, that of the woman's magazines, which believes in transparency and naturalness of women. To illustrate this naturalisation of sense about what is to be a woman, we analyse a female 1944 publication's extract from Jornal das Môças, using the Pecheux's Analysis which disnaturalises senses and refers them to their conditions of production.

Keywords: Discursive generics; Womanhood; Psychoanalysis.


RESUMEN

Este artículo trata de contraponer dos formas de abordar la femineidad: una, del Psicoanálisis Lacaniano, que argumenta que "LA" mujer no existe, y relaciona la posición femenina a las categorías lógicas de contingencia y de imposible; y otra, de la revista femenina, que cree en la transparencia y naturalidad de la mujer. Para ilustrar tal naturalización de sentidos sobre lo que es ser una mujer, será analizado el recorte de una publicación para el público femenino, de Jornal das Môças, de 1944, a través del Análisis del Discurso de Pecheux que desnaturaliza los sentidos y los remite a sus condiciones de producción.

Palabras clave: Genéricos discursivos; Femineidad; Psicoanálisis.

 

 

INTRODUÇÃO

Pêcheux (2002) em seu último livro, O discurso: Estrutura ou Acontecimento? (escrito em 1983), irá propor que a Análise do Discurso Pêcheutiana (AD) abandone suas tentativas de explicar o mundo partindo somente do marxismo e contraia relações extraconjugais. Este trabalho parte de uma destas relações, aquela entre a AD e a Psicanálise Lacaniana.

Além disso, como será analisado um recorte1 retirado de uma revista feminina, acreditou-se ser importante uma passagem pelo Movimento Feminista que dificilmente consegue ser teorizado como uma disciplina por conta de seus diversos relacionamentos amorosos. Essa retomada de alguns pontos da história do movimento feminista se pauta pela noção de interdiscurso, o já-dito, que compõe o intradiscurso, o aqui e agora do discurso.

Em linhas gerais, este trabalho pretende contrapor o sentido evidente de mulher encontrado em revistas femininas às formulações sobre a mulher na psicanálise. Para tanto, recorremos também à leitura de Freud, Lacan e comentaristas de Lacan.

 

O FEMINISMO E A REVISTA FEMININA

As questões ligadas à mulher e à feminilidade têm sido tratadas por meio de diversas abordagens, o que faz do movimento feminista tão fragmentado e difícil de classificar. Segundo Scott (1988), a história de produção de conhecimentos sobre a mulher é marcada por uma enorme diversidade (de método, interpretação, temas, entre outros), o que faz com que seja impossível que se fale de um campo unificado. A autora afirma, ainda, que

More than in many other areas of historical inquiry, women's history is characterized by extraordinary tensions: between practical politics and academic scholarship; between received disciplinary standards and interdisciplinary influences; between history's atheoretical stance and feminism's need for theory (Scott, 1988, p. 17)2.

Podemos observar que as questões do corpo feminino a partir do século XX, com o desenvolvimento da ciência e da medicina, migraram do campo puramente da moral e passaram a fazer parte do domínio científico, econômico e político. Apoiado na ciência, o feminismo vai tentar libertar a mulher do seu medo e da sua ignorância a respeito do próprio corpo. Sabe-se, de acordo com a AD, que a produção discursiva se baliza por condições de produção mediatas (contexto histórico) e imediatas (quem fala, para quem fala, onde fala). Desta maneira, ao traçar o percurso histórico, levando em conta as alterações nos campos do trabalho, por exemplo, os deslocamentos de sentido no discurso feminista podem ser atribuídos aos novos modos de produção e reprodução desta força de trabalho.

É no que diz respeito à divulgação de ideias e ideais feministas que podemos localizar a revista feminina, um veículo de comunicação contemporâneo ao movimento feminista. Entretanto, assim como o próprio movimento e suas repercussões, não podemos afirmar que haveria uma homogeneidade na maneira como as diferentes revistas de épocas distintas tratam a mulher. Mas podemos afirmar que estas revistas tendem a materializar discursivamente as condições mediatas e imediatas de um contexto de produção discursiva. Assim, é possível encontrar nestas revistas discursos que ora rechaçam e ora apoiam a "libertação feminina".

A maior parte dos estudos feministas desde a década de 70 se desenvolve a partir de uma postura relativista que é contrária a anterior - a essencialista - que, por sua vez, tenderia a fixar homens e mulheres em identidades específicas partindo da naturalização das diferenças anatômicas. Em oposição a este modelo, será proposta uma postura relativista, na qual o sujeito é considerado fruto de determinações históricas e sociais (Grossi & Pedro, 1998).

A partir de então, seria abandonada a diferença sexual baseada na biologia em prol da diferenciação entre os gêneros. O gênero, ao contrário do sexo, não poderia mais ser considerado essencial: o gênero feminino está em constante relação com o gênero masculino. Assim, de um modo geral, é questionado pelas feministas da teoria de gênero esse papel "natural" que parte da diferença biológica. Por meio da desconstrução dessa normatividade se visa à possibilidade de identidades múltiplas e plurais.

Todo discurso é constituído de diferentes e anteriores discursos (interdiscurso), que operam na atualidade do discurso. O deslizamento da biologia para a teoria de gênero indicia que há algo que claudica, no sentido de não haver um sentido único, uma única matriz de compreensão da feminilidade. Trata-se de diferentes posições de sujeito em uma mesma formação discursiva. Logo, estes sentidos estão de acordo com momentos históricos e funcionamentos discursivos específicos.

Mesmo o movimento feminista usualmente trabalha com uma identidade feminina que tende a se repetir, ou seja, ao contrário do que irá propor Lacan, de que mulher não existe (vide adiante), o Feminismo trabalha supondo a existência de uma classe: a das mulheres. O risco, neste caso, seria o de criar um novo conjunto de regras que regem a produção de conhecimento, assim como antes. Dado que a mulher teria uma posição radicalmente excluída de um conjunto, quaisquer tentativas de formulação de regras gerais podem ser vistas como uma forma de combater o que é próprio da mulher. Tratar-se-ia de uma nova tentativa de cravar a mulher em um lugar predeterminado.

A Psicanálise, em especial a partir das formulações lacanianas a respeito da mulher, tentaria resguardar isto que é próprio da mulher, estar excluída de qualquer conjunto que se paute por uma exceção. É por isso que podemos observar frequentemente esta comunhão teórica.

 

MULHER NA PSICANÁLISE

Freud, antes da segunda onda feminista (da década de 1960), já falava da ignorância, por parte do inconsciente, da anatomia como índice de diferenciação sexual. Nesta diferenciação, a atribuição do adjetivo "feminino", desde Freud, pareceu ainda mais complicada que a de "masculino".

Prates (2001) aponta para o fato de que "a mulher aparece frequentemente como o que aponta para algo que escapa e a que se tem dificuldade de nomear ou sintetizar" (p. 23). Esta impossibilidade de síntese é tratada pela psicanálise, especialmente a partir do retorno de Lacan à obra de Freud, e pela Análise do Discurso Pêcheutiana (AD) como real. O real, para a Psicanálise e a AD, é o impossível e o contingente (categorias lógicas), designando assim aquilo que resiste à simbolização. Esta afirmação também aparece, no campo da linguagem, como aquela que trata da impossibilidade de que tudo passe à palavra, em um axioma valioso à AD: "Tudo não se diz".

Para entender a maneira como a questão da mulher é abordada pela Psicanálise, é preciso traçar um percurso que vai de Freud à Lacan:

Freud aponta para uma aparente evidência do que é um homem e uma mulher quando nos chama a atenção para o primeiro reconhecimento que fazemos frente a um sujeito: é homem ou mulher? Entretanto, o fato de nos reconhecermos como pertencentes a um ou outro grupo não nos faz parar de perguntar sobre o que significa ser um homem ou uma mulher. Por conta disso, a anatomia deixa de ser suficiente. As mais diversas formulações teóricas que de alguma maneira tentam abordar a questão da mulher e do feminino irão nos mostrar que a diferença anatômica não presta nenhuma ajuda neste campo. Freud sublinha: "a substituição do problema psicológico pelo anatômico é tão ociosa quanto injustificada" (Freud, 1905/1996, p. 284).

A ignorância da anatomia como índice de diferenciação sexual pelo inconsciente coloca Freud diante das questões: como os seres humanos se dividem entre homens e mulheres? E o que leva um homem a uma mulher?

Ao estudar a constituição do sujeito a partir da sexualidade, Freud divide o seu desenvolvimento em fases (ou estágios) que dizem respeito à organização sexual sob a primazia de uma zona erógena sobre as demais: a primeira chamada fase oral ou canibalesca (caracterizada pela tentativa de incorporação de objetos); a segunda, fase sádico-anal (caracterizada por uma oposição entre atividade e passividade); a terceira, fase fálica (retomaremos esta fase mais abaixo), seguida por um estágio de latência que perdura até a entrada na puberdade, quando se inicia a fase genital (com a subordinação das zonas erógenas ao primado genital).

Somente no estágio fálico é que encontramos diferenças entre os sexos: o reconhecimento de um órgão em alguns e a ausência do mesmo órgão (a princípio negada) em outras. Na teoria freudiana, essa observação levaria a menina à inveja do pênis e o menino à angústia de castração. Entretanto, ainda neste momento, ter ou não o falo não se relaciona de forma coincidente com ser homem ou mulher.

Devido ao reconhecimento do órgão sexual masculino como único, os seres irão se dividir entre castrados e não castrados (atribuições que mais tarde se transformarão em feminino e masculino), o que leva Freud a afirmar que a libido é masculina. Por não se tratar da primazia de um órgão sexual sobre outro, Freud vai tratar da primazia do falo (Freud, 1923/1996).

Entretanto, a formulação do Complexo de Castração coloca a simetria entre os sexos no complexo de Édipo em xeque. Enquanto para o menino o complexo de castração seria a saída do complexo de Édipo, para a menina é a sua inauguração (Freud, 1925/1996). A pergunta freudiana "O que quer a mulher?" é resultado do seu fracasso em generalizar para a menina o Édipo e o posicionamento diante da castração (Soler, 2005). É assim que a mulher se torna uma questão para Freud.

É por conta do Édipo e da ameaça de castração que o sujeito renuncia ao seu objeto primordial (a mãe) e ao gozo que se refere a este objeto. É esta renúncia (ao incesto) que, segundo Freud, levaria um homem a amar sexualmente uma mulher.

Lacan irá retomar a obra freudiana a partir do Estruturalismo. Em seu retorno, irá justificar esta "dissimetria essencial do Édipo num e noutro sexo" (Lacan, 1988, p. 201) por sua dependência do significante. Estende então a diferença entre os sexos para além da diferença anatômica, apoiando-se no plano simbólico, ou, como sugere André (1988), "para além da materialidade da carne, o órgão enquanto aprisionado na dialética do desejo, e dessa forma 'interpretado' pelo significante" (p. 11). A dissimetria entre os sexos, apontada mais acima, é aquilo que impede fazer Um. E é também neste sentido que Lacan postula a fórmula "não há relação sexual".

Assim, Lacan (1998a) encontra na noção de significante uma maneira para tratar da natureza dos fenômenos propostos por Freud. Essa tomada do significante modifica radicalmente a forma como se lê a obra freudiana:

Essa paixão significante, por conseguinte, torna-se uma nova dimensão da condição humana, na medida em que não somente o homem fala, mas em que, no homem e através do homem, isso fala, em que sua natureza torna-se tecida por efeitos onde se encontra a estrutura da linguagem em cuja matéria ele se transforma, e em que por isso ressoa nele, para-além de tudo o que a psicologia das idéias pôde conceber, a relação da palavra (Lacan, 1998, p. 695).

A cadeia de elementos instáveis que constitui a linguagem é então tomada pelos seus dois processos de combinação e de substituição de significantes para gerar uma significação. Assim, a metonímia e a metáfora seriam efeitos determinantes para a constituição do sujeito e do sentido.

A base biológica é então abandonada e, segundo Lacan (1998), "a simples necessidade do mito subjacente à estruturação do complexo de Édipo demonstra claramente isso" (p. 693). A castração só irá adquirir seu status final quando a criança, de qualquer sexo, dá-se conta de que a mãe (antes fálica) é castrada3. Isto porque a criança passa a querer ocupar este lugar, ser o falo. Sobre isso, Lacan (1998, p. 701, grifo meu) escreve que "o que ele tem não vale mais que o que ele não tem para sua demanda de amor que queria que ele o fosse".

Se em Freud a ignorância fundamental é a do órgão sexual feminino, em Lacan será a inexistência de um significante feminino. "Não existe no Outro um significante que diga o que é uma mulher: homem e mulher são significantes que, por essa razão, representam o sujeito que fala" (Sauret, 1998, p. 19). Entendemos por sujeito que fala o sujeito marcado pela falta, que sofre a sua cisão com o advento do significante. Trata-se, nesse sentido, sempre de um sujeito masculino, na medida em que é submetido à norma fálica, ao falo como significante da falta.

Lacan (1998), neste texto ("A significação do falo"), coloca aspectos relevantes para que se entenda o falo como significante:

O falo é aqui esclarecido por sua função. Na doutrina freudiana, o falo não é uma fantasia, caso se deva entender por isso um efeito imaginário. Tampouco é, como tal, um objeto (parcial, interno, bom, mau etc.), na medida em que esse termo tende a prezar a realidade implicada numa relação. É menos ainda o órgão, o pênis ou clitóris, que ele simboliza. E não foi sem razão que Freud extraiu-lhe a referência do simulacro que ele era para os antigos. Pois o falo é um significante, um significante cuja função, na economia intra-subjetiva da análise, levanta, quem sabe, o véu daquela que ele mantinha envolta em mistérios. Pois ele é o significante destinado a designar, em seu conjunto, os efeitos de significado, na medida em que o significante os condiciona por sua presença de significante (Lacan, 1998, p. 696-697).

O falo é tomado como significante relacionado ao terceiro da relação edipiana - o pai. A diferença real entre os sexos passa por uma construção imaginária feita pela criança, tendo como indicador de divisão entre os sexos uma falta, a falta de um objeto imaginário - o falo. Esta falta no plano imaginário é sustentada, por outro lado, pela metáfora paterna no plano simbólico.

É devido a isso que não há simetria possível entre os sexos. A impossibilidade de generalização do Édipo no menino para a menina apontada por Freud já sinalizava esta dissimetria e ausência de complementaridade. A impossibilidade da relação é tratada por meio do conceito de gozo em Lacan.

É claro que o que aparece nos corpos, com essas formas enigmáticas que são os caracteres sexuais – que são apenas secundários – faz o ser sexuado. Sem dúvida. Mas, o ser, é gozo do corpo como tal, quer dizer, como assexuado, pois o que chamamos de gozo sexual é marcado, dominado, pela impossibilidade de estabelecer, esse único Um que nos interessa, o Um da relação sexual (Lacan, 1985/1972-1973, p. 15).

A dissimetria apontada tantas vezes por Freud será lida por Lacan pela via simbólica. "É de uma dissimetria no significante que se trata" (Lacan, 1988, p. 201). É por conta desta dissimetria e impossibilidade de complementaridade que Lacan irá dizer que "não existe relação sexual", no original "Il n'y a pas de rapport4 sexuel", ou seja, "não existe relação/proporção sexual".

A impossibilidade da relação sexual é sustentada pelo discurso analítico e tomada nos termos de uma relação matemática, ou seja, entre dois elementos. De acordo com Lacan, "pelo discurso analítico o sujeito se manifesta em sua hiância, ou seja, naquilo que causa o seu desejo" (Lacan, 1985, p. 20).

É precisamente a descoberta freudiana de que "não há essência de macho e fêmea, que eles são apenas parcialmente representados, por exemplo, pelas noções de atividade e passividade, e que há algo de insatisfatório inerente à própria sexualidade" que possibilita que Lacan designe "o falo como o que faz obstáculo à escrita de uma relação sexual" (Porge, 2006, p. 259). O falo como terceiro elemento impossibilita que os dois sexos sejam complementares ou simétricos. Os sexos assim não se diferenciam entre si, mas em relação ao falo. "É de uma dissimetria no significante que se trata" (Lacan, 1988, p. 201).

Assim, Lacan retomará a questão da mulher com o auxílio de uma lógica apoiada no não-todo para falar daquilo que em alguns seres não se inscreve na norma fálica; em outras palavras, que escapa à apreensão significante. Este não-todo (inscrito na norma fálica) é o que Lacan chamará de mulher. Não é que ser mulher implique a inscrição do sujeito no lado não-todo, mas sim que aqueles sujeitos que se inscrevam neste lado são chamados de mulheres. Assim, enquanto a lógica do falo produz o homem, mulher não cessa de não se escrever, o que a coloca no campo do real. A imposição do Nome-do-pai instaura no sujeito a lei do simbólico e institui um "a mais" ao gozo fálico, gozo que se inscreve no lado da mulher; gozo Outro (Soler, 2005).

Isto se explica pelas fórmulas da sexuação, que expressam o modo como o sujeito se relaciona com o falo e a castração:

 

 

O conjunto dos homens é possível porque existe O homem: a castração é universal para todo ser falante e há ao menos um que dela estava excluído (o pai da horda primitiva). No entanto, no lado das mulheres, não há universalidade em nenhuma das fórmulas porque não há uma exceção que sustente a regra: não existe sujeito para quem a função fálica (castração) não funcione, ou seja, não há uma exceção como no lado do homem que vem fazer borda à regra; entretanto, este sujeito (mulher) é não-todo assujeitado à função fálica. Assim, Lacan (1985, p. 108) irá dizer que este ser falante que se inscreve deste lado "é impropriamente que o chamamos a mulher, pois, (img/.) a partir do momento em que ele se enuncia pelo não-todo, não pode se escrever. Aqui o artigo a só existe barrado" .

Um sujeito inscrito do lado da mulher não escapa totalmente, assujeita-se de forma parcial a esta função. Lacan lembra que a escolha de um dos lados de inscrição é dos seres falantes:

A todo ser falante, como se formula expressamente na teoria freudiana, é permitido, qualquer que ele seja, quer ele seja ou não provido dos atributos da masculinidade – atributos que restam determinar – inscrever-se nesta parte (a da mulher) (Lacan, 1985, p. 107).

Assim como a mulher é não-toda subordinada à norma fálica no plano da sua identidade, seu gozo também não o é; há uma parte do seu gozo que se situa naquilo que Lacan chamou de "gozo do Outro", sobre o qual nada se sabe, pois se situa fora da linguagem, relacionando-se ao real.

A dissimetria entre os sexos lida, portanto, pela via do gozo e também é o que impede o sujeito de fazer Um. É também, neste sentido, que Lacan postula a fórmula "não há relação sexual": na medida em que há um 'a mais' de gozo, distinto do gozo fálico, que impede a completude.

A falta constitutiva do sujeito (o que o faz falar) é inaugurada a partir da falta no Outro, "tesouro dos significantes". Esta falta no Outro equivaleria a "tudo não se diz", ou seja, o simbólico não recobre todo o real. Quando o sujeito diz x, ele deixa de dizer y (fórmula tão preciosa à Análise do Discurso).

Lacan (1988) dirá que "não há (img/.) simbolização do sexo da mulher como tal" (p. 201). Enquanto o falo é que é elevado ao significante, o órgão sexual feminino permanece fora do simbólico. Sauret (1998) explica que "não existe no Outro um significante que diga o que é uma mulher: homem e mulher são significantes que, por essa razão, representam o sujeito que fala" (p. 19). Isto devido ao fato de o sujeito do significante (sujeito falante, que habita a linguagem) estar inscrito na via do falo. O significante " mulher" não existe, ele é cortado do simbólico, e, por ser impossível de dizer, relaciona-se ao campo do real.

Há alguma coisa que falta, que falha, de que a Análise do Discurso vai tratar como o real da língua (Gadet & Pêcheux, 2004), ou seja, o simbólico não recobre todo o real, que por sua vez faz furo à linguagem, irrompendo e deixando indícios da sua passagem na materialidade do discurso, pelas elipses, falhas, atos falhos etc.

O real da língua, que Milner (1987) vai tratar como a alíngua, relaciona-se ao não-todo da mesma forma que a língua se relaciona ao todo. A alíngua, como aquilo que excede à língua, é o não representável. O que não impede que os sujeitos constantemente tentem contornar este real.

É somente no plano imaginário que o sujeito pode fazer Um, ilusão de completude que cria o sentido da realidade, que se opõe na psicanálise ao real. A realidade se relaciona, para Sercovich (1977), com as formações imaginárias, ou seja, com o "conjunto de los discursos predominantemente transparentes operantes en una coyuntura determinada"5 (p. 34), enquanto o real, da Psicanálise, é o impossível e o contingente.

Lacan irá atribuir a aparente relação (de transparência) às convenções da coletividade. Lembrando que, mesmo nesta coletividade, composta por homens, mulheres e crianças, "os homens, as mulheres e as crianças não são mais do que significantes" (Lacan, 1985, p. 46). Na sua relação com o sujeito, um significante só pode representar o sujeito para outro significante.

Isto vem de encontro à proposição de Pêcheux (1995) de que

uma palavra, uma expressão ou uma proposição não tem um sentido que lhe seria 'próprio', vinculado a sua literalidade. Ao contrário, seu sentido se constitui em cada formação discursiva, nas relações que tais palavras, expressões ou proposições mantêm com outras palavras, expressões ou proposições da mesma formação discursiva (p. 161).

Assim, a passagem de uma mesma palavra para uma formação discursiva diferente modifica o significado da própria palavra. A análise, a partir da materialidade linguística, visa atingir o processo discursivo (relações de substituição e paráfrases).

A despeito do impasse freudiano (o que é a mulher?), da afirmação lacaniana acerca da inexistência de um significante do feminino e da impossibilidade de se dizer tudo (há algo de real que escapa da inscrição significante, e o inconsciente diz não-todo), observamos mensalmente uma enxurrada de revistas autodenominadas femininas que supostamente falam sobre o que é a mulher e o que ela quer. Neste trabalho, partimos deste corpus e propomos uma análise a partir das formulações da AD e da psicanálise, tal qual se delineou aqui.

 

EVANGELHO DAS MÃES: UMA ANÁLISE POSSÍVEL

A escolha de revistas femininas como corpus privilegiado de investigação segue os objetivos do trabalho e os postulados teórico-metodológicos da AD. De acordo com Althusser (1996), a luta de classes atravessa os aparelhos ideológicos de Estado. A mídia, como transformadora/reprodutora de um imaginário específico acerca dos mais variados temas, configura-se, de acordo com a leitura althusseriana, como um aparelho ideológico do Estado. Isso não quer dizer que as revistas veiculem uma ideologia, mas sim que são, dentre outros aparelhos, "seu lugar e meio de realização" (Pêcheux, 1995, p. 145). É importante lembrar também que não existe uma ideologia própria de uma classe, como se cada classe fosse independente uma da outra e houvesse sempre existido.

Para efetuar a escolha específica do fragmento a ser analisado, tomamos como base aquele que pode melhor cumprir os objetivos do trabalho a ser desenvolvido: investigar a identidade feminina em revistas femininas por meio da observação da forma como as identidades femininas e masculinas são diferenciadas. Sendo assim, acreditou-se que o seguinte recorte poderia relacionar de maneira privilegiada discurso e situação:

Evangelho das mães.
As mães não devem esquecer que:
- a educação dos homens deve ser diferente da das mulheres. Aos primeiros agrada e convém a multidão, a variedade, a rudeza de numerosos companheiros, imagem do mundo em que haverão de viver. Às segundas convem o retiro, a ordem da casa, imagem de sua vindoura vida." (Jornal das Môças, 1944, p.16, grifo do autor).

Conforme Tfouni (2004), a função dos genéricos discursivos é "transportar sistemas de valores e crenças, de cultura para cultura, de geração para geração. A aparente descontextualização é enganosa, visto que eles se prestam ao uso em inúmeros contextos" (p. 80). Assim, a criação de meninas de modo diferente à criação de meninos aparece como uma verdade inquestionável por conta da diferença considerada específica e natural de cada sexo.

Observamos que o estereótipo é passado de geração a geração por meio de discursos que tendem a normatizar o comportamento das mulheres, passando-se por comportamentos naturais de seu sexo. Entretanto, ao contrário do que é muitas vezes pregado por revistas, os estereótipos são mais provavelmente frutos de tensões socais que de características da personalidade de um grupo específico. De acordo com Amossy e Pierrot (2005), eles podem aparecer como instrumentos que tentam legitimar a dominação de um grupo por outro, especialmente nos casos de estereótipos depreciativos que tentam manter relações de submissão de um grupo a outro.

Considerar que toda menina deve ser criada de uma determinada maneira e todo menino de outra é produzir um efeito de generalização, de universalização e complementação. Cria-se uma norma da qual ninguém escapa, uma vez que só haveria dois grupos aos quais se filiar, o das meninas ou o dos meninos. Esta separação seguiria a evidência do traço biológico.

Neste recorte podemos observar a veiculação de uma norma identificadora, a este respeito Pêcheux (1995) escreve "(img/.) é a ideologia que, através do 'hábito' e do 'uso', está designando, ao mesmo tempo, o que é e o que deve ser, e isso, às vezes por meio de 'desvios' linguisticamente marcados entre a constatação e a norma (img/.)" (p. 159-160).

O uso do significante "evangelho" marca, por fazer referência a um texto religioso, uma verdade absoluta a ser seguida à risca, com o perigo de possíveis punições caso contrário. Isto agrega um valor de autoridade ao discurso. As revistas frequentemente recorrem a regiões do discurso caracterizadas por verdades. Se antes o discurso religioso recheava as revistas de verdades absolutas e irrevogáveis, atualmente é a vez da ciência que, com seus avanços, bombardeia as leitoras de saberes práticos a serem seguidos.

Se a coerção é um recurso já bastante conhecido pelo discurso religioso, a apropriação deste tipo de discurso pela revista feminina visa efeitos específicos sobre seus leitores. Trata-se de um acontecimento discursivo, pois trabalha na tensão entre paráfrase e polissemia, ou seja, entre um retorno a um mesmo espaço dizível e uma ruptura.

Além disso, o final do século XIX e início do século XX são marcados por uma enorme obsessão em determinar quais seriam os papéis sociais adequados para homens e mulheres. A mãe, proclamada formalmente como educadora dos filhos, deveria se munir de todos os artefatos para cumprir seu papel da melhor forma possível. Entretanto, segundo Costa (1989), não eram consideradas capazes a priori, elas deveriam ser orientadas por especialistas.

Perante os novos técnicos em amor familiar, os pais, via de regra, continuam sendo vistos como ignorantes, quando não 'doentes'. Há sempre um 'a mais' a corrigir, um 'a menos' a tratar. Amar e cuidar dos filhos tornou-se um trabalho sobrehumano, mais precisamente, 'científico'. Na família burguesa os pais jamais estão seguros do que sentem ou fazer com suas crianças. Nunca sabem se estão agindo certo ou errado. Os especialistas estão sempre ao lado, revelando os excessos e deficiências do amor paterno e materno. (img/.) a norma familiar produzida pela ordem médica solicita de forma constante a presença de intervenções disciplinares por parte dos agentes de normalização (Costa, 1989, p. 15).

É nessa "orientação" que entram em cena as revistas femininas com suas opiniões de especialistas nos mais diversos assuntos. Atuam aqui como mediadores (Orlandi, 1989), na medida em que "essas vozes representam em lugares sociais e fixação dos sentidos e desempenham um papel decisivo na institucionalização da linguagem: a produção do sedimento de unicidade do sentido" (Orlandi, 1989, p. 44).

Outra característica destacada em genéricos desta natureza é a de ser um fator de coesão social, um elemento de ligação entre o Outro e si. Uma vez que o sujeito compartilha com um grupo uma opinião, é possível que ele faça parte deste grupo, assegurando por outro lado a própria coesão do grupo do qual faz parte. Neste caso, os estereótipos favorecem a integração social. As revistas femininas podem assim se constituírem como formas de integração e assimilação de identidades. Ao nomear uma revista de feminina, cria-se uma categoria - a de "mulheres" - e, consequentemente, uma outra - a de "homens".

En effect, le stéréotype apparaît avant tout comme um instrument de categorization qui permet de distinguer commodément un 'nous' d'un 'ils'. Dans ce processus, le groupe acquiert une physionomie spécifique qui le différencie des autres. Cette uniformité s'obtient par la mise en relief, voire l'exagération de similitudes entre membres du même groupe. Les variables individuelles sont minimisées dans une démarche qui va jusqu'au refus ou à l'incapacité de les percevoir (Amossy & Pierrot, 2005, p. 45)6.

Assim, naturaliza-se uma dicotomia homem-mulher da qual não se escapa. Trata-se de um esquema redutor que torna positivos atributos para um grupo.

Sabemos que, para a AD, o sujeito não é a origem do sentido a despeito do esquecimento número um ao qual ele está submetido. Sendo assim, o sujeito pode ser compreendido em conjunto com o conceito de pré-construído proposto por Pêcheux (1995). Não se trata de um sujeito idealista intencional como o da pragmática, mas de um sujeito que irá retomar o que já foi dito em sua enunciação.

Apagando-se a história do dito, o resultado é que o genérico discursivo aparece como uma verdade imediata, uma evidência que nos salta aos olhos. Este sentido está intimamente relacionado ao contexto no qual foi produzido e ao interdiscurso. É por isso que para a AD em sua análise é importante que se recorra ao arquivo. Segundo Pêcheux (1997), arquivo, no sentido amplo, deve ser entendido como "campo de documentos pertinentes e disponíveis sobre uma questão" (p. 57), ou seja, tudo aquilo que existe na forma discursiva sobre qualquer tema. Pêcheux também tratará das "coisas-a-saber" entendidas como "reservas de conhecimento acumuladas" (Pêcheux, 2002, p. 34).

Estes sentidos somente podem ser resgatados a partir de leituras daquilo que já foi dito (interdiscurso) sobre a mulher e sua condição. Segundo Haroche (1992) "seja pelas cifras ou pelas palavras, o projeto é idêntico: tornar visível a interioridade e o corpo por inteiro. Pelo viés da transparência, o poder procura tornar o sujeito 'sem defesa', procura disciplinar e normalizar a sua subjetividade" (Haroche, 1992, p. 21).

Retomando a afirmação de Freud de apreensão "imediata" sobre o gênero de uma pessoa qualquer que encontramos, Althusser (1996) diria que "a categoria de sujeito é uma 'evidência' básica (as evidências sempre são básicas)" (p. 132). Esta evidência, como efeito ideológico, é tanto composta pela nomeação quanto pela transparência da linguagem, já que são supostos significados completamente inteligíveis às palavras empregadas pelo falante. Segundo Althusser (1996):

Com efeito, é uma peculiaridade da ideologia impor (sem aparentar fazê-lo, já que se trata de 'evidências') as evidências como evidências, que não podemos deixar de reconhecer e diante das quais temos a inevitável e natural reação de exclamar (em voz alta ou no 'silêncio da consciência'): 'É evidente! É isso mesmo! É verdade!' (p. 132).

Entretanto, esta evidência é um efeito ideológico de apagamento das condições de produção, fazendo com que estas sínteses imaginárias apaguem a história e memória que constituem o dizer. É apagado o fato de que o sujeito e o sentido são frutos de um processo (ideológico e inconsciente), aparecendo-nos como produtos evidentes.

É precisamente desse mecanismo de síntese imaginária que se valem os discursos das revistas femininas. Por meio da tentativa de domesticação, apaga-se qualquer outro sentido que poderia ser relacionado ao significante "mulher". Entretanto, os sentidos sobre a feminilidade, conforme podemos observar a partir de uma retomada do percurso freudiano e lacaniano, não podem ser domesticados, uma vez que a mulher não se encontra toda inscrita na norma fálica. A unidade imaginária das mulheres, como uma classe circunscrita, neste sentido, é resultado de uma injunção à interpretação/nomeação. Ou seja, um efeito imaginário no qual suas condições de produção (causas históricas e sociais) estão apagadas.

 

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Endereço para correspondência
Paula Chiaretti
E-mail: chiaretti.paula@gmail.com

Recebido em 26/10/2011.
1ª Revisão em 20/01/2012.
Aceite Final em 21/02/2012.

 

 

1 "O recorte é uma unidade discursiva. Por unidade discursiva entendemos fragmentos correlacionados de linguagem-e-situação. Assim, um recorte é um fragmento de uma situação discursiva" (Orlandi, 1984, p. 14).
2
"Mais do que em muitas outras áreas de investigação histórica, a história da mulher é caracterizada por uma tensão extraordinária: entre políticas práticas e erudição acadêmica; entre padrões aceitos de disciplina e influências interdisciplinares; entre uma postura histórica não-teórica e a necessidade feminista de teoria" (tradução nossa).
3
Vale esclarecer ainda que a castração da mãe não se relaciona a qualquer elemento sensível de sua anatomia, mas sim ao fato de que ela intercala períodos de ocupação com e de abandono da criança. Estes aparecimentos e desaparecimentos da mãe fazem surgir na criança a desconfiança de que ela (a criança) não seja suficiente e que a mãe busca alhures preencher sua falta. O que implica justamente a castração da mãe.
4
A palavra francesa rapport pode ser traduzida para o português tanto por relação quanto por proporção. Ao escolher este significante, Lacan visa esta ambiguidade.
5
"conjunto dos discursos predominantemente aparentes operantes em uma conjuntura determinada".
6
"De fato, o estereótipo aparece antes de tudo como um instrumento de categorização que permite distinguir comodamente o 'nós' do 'eles'. Neste processo, o grupo adquire uma fisionomia específica que o diferencia dos outros. Esta uniformidade é obtida pela colocação em relevo, veja o exagero de semelhanças entre os membros do mesmo grupo. As variáveis individuais são minimizadas num grau que chega até a recusa ou incapacidade de percebê-las" (tradução nossa).