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Revista da SPAGESP

versão impressa ISSN 1677-2970

Rev. SPAGESP vol.15 no.1 Ribeirão Preto  2014

 

ARTIGOS

 

Inventário do Conhecimento do Desenvolvimento Infantil: estudo com mães de crianças em acolhimento institucional

 

Knowledge of Infant Development: a study with mothers of children under institutional care

 

Inventario de Conocimiento del Desarrollo infantil: estudio con madres de niños en abrigo institucional

 

 

Edson Junior Silva da Cruz1; Lilia Iêda Chaves Cavalcante2; Janari da Silva Pedroso3

Universidade Federal do Pará, Belém-PA, Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Este estudo procurou aferir o conhecimento de mães sobre práticas de cuidado e desenvolvimento infantil. Participaram 16 mães de crianças em situação de acolhimento institucional por meio do Inventário do Conhecimento do Desenvolvimento Infantil (KIDI). Este instrumento contém 75 questões que envolvem quatro categorias. Os resultados organizados por categorias foram os seguintes: práticas de cuidado (53,3% de acertos e 43,3% de erros), saúde e segurança (66% e 26,6%), normas e aquisições (53,3% e 40%), e princípios do desenvolvimento (60% e 36,6%). Neste estudo pode-se concluir que as mães têm um bom conhecimento sobre questões relacionadas ao desenvolvimento infantil e que fatores sociodemográficos (escolaridade, idade, número de filhos) foram fundamentais na formação de suas concepções acerca de tal temática.

Palavraschave: abrigo, mães, desenvolvimento infantil, práticas de cuidado


ABSTRACT

This study sought to assess mothers' knowledge about care practices and infant development. The Knowledge of Infant Development Inventory was given to 16 mothers of children under institutional. This instrument has 75 questions that involve four categories. Results, which are organized by category, were: care practices (53,3% right 43,3% wrong), and principles of development (60% and 36,6%). It was possible to conclude that these mothers have a good understanding of questions related to infant development and that sociodemographic factors (schooling, age, number of children) were decisive for developing conceptions of the theme.

Keywords: foster, mother, infant development, care practices


RESUMEN

Este estudio buscó conferir el conocimiento de madres sobre prácticas de cuidado y desarrollo infantil. Participaron 16 madres de niños en situación de acogimiento institucional por medio del Inventario del Conocimiento del Desarrollo Infantil (KIDI). Este instrumento contiene 75 cuestiones que abarcan cuatro categorías. Los resultados organizados por categoría fueron los siguientes: prácticas de cuidado (53,3% de acierto y 43,3% de errores), salud y seguridad (66% y 26,6%), normas y adquisiciones (53,3% y 40%), e principios del desenvolvimiento (60% y 36,6%). En este estudio se puede concluir que las madres tienen un buen conocimiento acerca de cuestiones relacionadas al desarrollo infantil y que factores sociodemográficos (escolaridad, edad, número de hijos) fueron fundamentales en la formación de sus concepciones de tal temática.

Palabras clave: refugio, madres, desarrollo infantil, las prácticas de cuidado


 

 

Estudos vêm mostrar o quanto é importante conhecer a psicologia dos cuidadores primários, ou seja, suas ideias, crenças e percepções acerca da forma como a criança se desenvolve desde o nascimento e por toda a infância e suas práticas de cuidado no cotidiano (Harkness & Super, 1992). Hoje, em particular, pode ser decisivo à tomada de decisões para fins de intervenção social conhecer as concepções de desenvolvimento infantil e práticas de cuidado presentes no cotidiano desses cuidadores, e compreender como aspectos pessoais, sociais, históricos e culturais interferem de modo particular na relação entre mãe e filho, por exemplo.

A qualidade dos cuidados primários é de suma importância para a saúde mental da criança em desenvolvimento, como destacam vários estudiosos do desenvolvimento nessa fase da vida. O contato íntimo e contínuo do bebê com um cuidador primário, envolvendo a mãe, avó ou outro cuidador que a substitua na família ou em instituições infantis, pode ser decisivo para um crescimento saudável. É nessa relação primária que os especialistas julgam ser a condição básica para o desenvolvimento da personalidade e a saúde mental, como argumentaram Cavalcante e Corrêa (2012).

Entre os principais teóricos do desenvolvimento infantil, Bowlby (1995) explica que nos primeiros meses de vida a criança sente-se segura, com o mínimo de tensão, na medida em que sente a proteção materna. Esse e outros autores mostram que uma brusca ruptura nessa relação inicial poderia causar graves danos ao desenvolvimento da criança. Para Winnicott (2000), esses cuidados iniciais são vistos como decisivos na primeira infância. Ele enfatiza a confiança que a criança em formação deposita na mãe para que ela possa enfrentar o mundo sem medo. A qualidade desse laço que aproxima mãe e filho refletirá o tipo de relação que a criança começa a construir com o mundo à sua volta. Se esta relação primária for frágil, possivelmente trará consequências futuras ruins. Apesar de haver diferenças em alguns pontos importantes do pensamento de Winnicott (2000) e Bowlby (1995), ambos deixam evidente a importância das relações primárias entre mãe e filho para o desenvolvimento infantil.

Em outra perspectiva teórica, Bronfenbrenner (1996) argumenta que tanto a família como as instituições infantis tornam possíveis os cuidados primários nesses anos iniciais. São contextos de desenvolvimento que se constituem a partir das relações estabelecidas entre a criança e seus cuidadores habituais ou pessoas de referência (no caso, a mãe ou quem a substitua nas atividades diárias). Isso porque a família e as instituições voltadas à assistência e proteção à infância pobre e negligenciada são igualmente ambientes abrangentes em suas funções, mas, sobretudo, descritos como primários, uma vez que contêm as relações iniciais entre a criança e seus cuidadores e assumem um papel fundamental no desenvolvimento infantil.

De acordo com o Modelo Bioecológico do Desenvolvimento Humano proposto por Bronfenbrenner (1996), a criança precisa crescer em um ambiente que favoreça possibilidades de interação com o seu cuidador, a partir de uma variedade de atividades e a convivência em um espaço que permita a sua locomoção e contenha utensílios que sirvam de estímulos ao seu desenvolvimento. Esse modelo teórico valoriza os processos psicológicos na relação da criança com seu ambiente imediato e defende a multideterminação ambiental sobre o desenvolvimento, discutindo a importância das relações interpessoais com os cuidadores primários, mas também a sua vivência em diferentes sis-temas. Estes pressupostos tornam possível uma visão ecológica de desenvolvimento, seja no contexto familiar (Moré & Sperancetta, 2010) ou em instituições, tais como, creches, escolas, abrigos, internatos, entre outras (Silva, Vieira, Seidl-de-Moura, & Ribas Jr., 2005).

Nesses termos, outros autores que pensam o desenvolvimento em uma perspectiva de integração dos sistemas ecológicos, compreendem que este fenômeno deve ser estudado sempre no contexto. Harkness e Super (1992), por exemplo, defendem que o Nicho de Desenvolvimento é composto por três subsistemas que envolvem o ambiente físico e social, que diz respeito aos aspectos físicos da casa em que a pessoa vive e a organização social e familiar, os costumes de cuidado que são caracterizados pela noção de infância e o que é transmitido entre as gerações, e ainda, as etnoteorias parentais que podem ser definidos os conjuntos organizados de ideias, valores e crenças implícitos nas atividades do dia-a-dia, nos julgamentos, escolhas e decisões que os pais tomam, funcionando como modelos ou roteiros para suas ações, ou seja, a psicologia dos cuidadores. Em particular, o que os autores chamam de etnoteorias parentais envolvem as crenças sobre desenvolvimento (concepções, ideias), a maneira mais adequada de cuidar das crianças (rotinas, práticas) e as expectativas em relação às mesmas (metas de socialização).

Kobarg e Vieira (2008) relataram resultados de pesquisas sustentando o argumento de que ideias, crenças e etnoteorias parentais são recursos que os pais utilizam para formar conceitos sobre desenvolvimento. Elas promovem a auto avaliação da competência parental e junto com isso a atribuição de sucesso ou fracasso às práticas de cuidado, por exemplo. As etnoteorias parentais incluem metas destinadas a si, à criança, à família ou até mesmo à comunidade. Para esses autores isso reforça a importância de se estudar mais e mais as crenças e práticas na criação das crianças em diferentes contextos sociais e culturais.

A relação entre crenças e práticas de cuidado para 77 mães que viviam em diferentes contextos (urbano e rural) foi então a questão investigada por Kobarg e Vieira (2008), na cidade de Itajaí, Santa Catarina. Para tanto, além do uso de inventários e questionários, os autores tomaram como importante investigar aspectos da prática desses cuidadores a partir da observação direta destas situações no cotidiano. Do ponto de vista metodológico, consideram que tais procedimentos permitiram compreender a mútua influência entre ambiente, crenças e práticas adotadas na criação das crianças. Os resultados apontaram que as mães residentes da zona rural dedicavam mais tempo à criação dos seus filhos, enquanto que as mães residentes da zona urbana e com baixa escolaridade, passavam um tempo menor com as crianças. As da zona urbana, com escolaridade superior, destacaram mais tarefas destinadas à estimulação dos seus filhos do que as residentes da zona urbana e rural com baixa escolaridade. Já as cuidadoras da zona urbana e com baixa escolaridade destacaram mais o aspecto da disciplina. Os autores identificaram que, em centros urbanos, há geralmente uma maior valorização e possibilidade de investimento na carreira profissional por parte das mães, ponto este que pode ser fundamental na ampliação do conhecimento sobre desenvolvimento e formas mais coerentes de prover condições favoráveis para esse desenvolver saudável e rico de estimulações.

Desde o surgimento da noção de família na modernidade, a mãe sempre esteve num papel de destaque, sendo a figura central para a manutenção e fortalecimento desta instituição (Magalhães, Costa, & Cavalcante, 2011). Logo, se viu uma necessidade de focar o presente estudo neste membro da família, no caso, a mãe. Isso se deu por diver-sos motivos, dentre outros, se destaca que a literatura com esse tipo de abordagem do tema ainda é vista como incipiente, sobretudo quando se pretende conhecer a realidade econômica e social dessas pessoas que são uma das que mais sofrem com o estigma social relacionado ao acolhimento de seus filhos, sendo estas consideradas muitas vezes culpadas por essa ação (Cavalcante, Silva, & Magalhães, 2010).

Estudiosos como Bastos et al. (2004), Silva (2005), dentre outros, preocupados com a influência do quanto os cuidadores primários conhecem acerca do curso do de-senvolvimento da criança e as implicações disso para esse processo humano, utilizaram o Inventário de conhecimento do desenvolvimento infantil (KIDI) como instrumento para avaliar o que pensam mães acerca do desenvolvimento de seus filhos.

Sabe-se que os conhecimentos sobre o desenvolvimento infantil têm um valor central no sistema de crenças parentais, e, consequentemente, na relação entre pais e filhos. Segundo Bastos et al. (2004), esses conhecimentos englobam crenças acerca dos períodos mais prováveis para a aquisição de habilidades motoras, perceptuais e cogniti-vas. Bastos et al. (2004) também citam autores como Silva et al. (2005), que conduzi-ram dois estudos sobre a importância de se aferir os conhecimentos do desenvolvimento infantil. Ambos foram desenvolvidos com uma grande amostra de mães e aplicaram o KIDI. No primeiro estudo feito por eles, participaram 1336 mães norte-americanas de crianças com dois anos. Os autores, entre outros aspectos, verificaram que o conhecimento sobre o desenvolvimento infantil podia ser atribuído às seguintes variáveis: idade das mães, nível educacional e a quantidade de leituras sobre o assunto. Perceberam, entre outros aspectos, que a escolaridade das mães exercia significativa influência sobre o pensar acerca do desenvolvimento infantil.

Em um recente estudo, Silva e Magalhães (2011) investigaram as cognições pa-rentais em mães de dois contextos diferentes. A amostra foi formada por 100 mães primíparas, sendo 50 do contexto urbano e 50 do contexto não urbano, e as participantes responderam ao questionário de crenças sobre práticas maternas. Os dados foram anali-sados de acordo com as categorias propostas pelos autores do instrumento. Foi identifi-cado que as mães dos dois contextos diferiram no quesito escolaridade, idade e valores de escores na avaliação de crenças sobre práticas. O nível de escolaridade materna cor-relacionou-se positivamente com a idade e com os escores de avaliação da prática, e além do mais foi verificado que as mães dos dois contextos se assemelham quanto ao nível de importância atribuído a algumas práticas, mas se diferenciam em outras.

O estudo acima concluiu que as mães brasileiras tendem a valorizar práticas de estimulação, e contribuiu para a ampliação da compreensão das cognições de mães e para evidenciar os efeitos do contexto e da escolaridade sobre as cognições parentais. Nesse sentido, vale citar o estudo de Silva et al. (2005), que investigou com 66 mães primíparas as suas cognições maternas acerca da maternidade e do desenvolvimento infantil. Para avaliar o conhecimento das mães acerca do desenvolvimento infantil foi utilizado mais uma vez o KIDI. Os dados sugerem que as mães apresentam um nível razoável de conhecimento do desenvolvimento infantil. Identificaram que quanto maior a escolaridade e o status socioeconômico, maior é o conhecimento que detém do desen-volvimento infantil.

No presente estudo, foram levantados estudos (Bastos et al., 2004; Silva et al., 2005) sobre concepções de desenvolvimento infantil de cuidadores primários, tomando como referência mães de crianças que foram retiradas da família e conduzidas a institui-ções de acolhimento institucional. Do mesmo modo, procurou-se conhecer o quanto mães de crianças nessa condição específica conheciam acerca das questões fundamentais do tema, indicando uma visão construída pelas mesmas sobre quem são e como se desenvolvem seus filhos.

Desse modo, entende-se a importância de estudos que, como este, pretendem colocar em discussão ideias, concepções e conhecimentos de mães acerca do desenvolvimento infantil, a partir da elaboração de um inventário capaz de reunir ideias e concepções relativas aos marcos e regras que orientam as trajetórias desenvolvimentais de crianças cuidadas em instituições infantis, principalmente os abrigos e espaços similares. A partir dessas considerações, o objetivo deste estudo foi identificar e aferir o quanto as mães de crianças em situação de acolhimento institucional conhecem acerca de desenvolvimento infantil e as práticas de cuidado consideradas adequadas nos primeiros anos de vida.

 

MÉTODO

Caracterização da instituição

A aplicação dos questionários foi realizada nas dependências da instituição de acolhimento, que está localizada em um bairro da periferia de Belém. Ela foi inaugurada em 1994, utilizando-se das antigas instalações de uma creche já em funcionamento para crianças até seis anos. Atualmente, a instituição acolhe em média 60 crianças, que são distribuídas em oito dormitórios que foram estruturados de acordo com as diferentes faixas de idade da população atendida.

Participantes

Fizeram parte da pesquisa 16 mães de crianças de 0 a 6 anos em situação de aco-lhimento institucional. O critério de escolha para a participação da coleta era que tivessem seus filhos acolhidos na instituição pesquisada e que fossem mães biológicas da criança. Foram excluídas da coleta mães portadoras de transtornos mentais.

Instrumento e procedimento

Para a coleta de dados foi realizada uma entrevista individual e estruturada com as participantes, feita face a face e sem a utilização de aparelhos eletrônicos (Ex: gravador). Utilizou-se na entrevista o Inventário de Conhecimento do Desenvolvimento Infantil (KIDI), instrumento elaborado por Macphee (1981), traduzido e adaptado por Silva et al. (2005), denominado o Inventário de Conhecimento do Desenvolvimento Infantil para criança de 0 a 6 anos. Este instrumento avalia a proporção de conhecimentos considerados corretos, relacionados aos períodos mais prováveis para aquisição de determinadas habilidades pela criança, como as motoras, perceptuais e cognitivas; fatores relacionados ao desenvolvimento práticas parentais, além de cuidados adequados com a alimentação, higiene e segurança.

O instrumento é composto por 75 perguntas de múltipla escolha, sendo que na primeira etapa a mãe responde da seguinte forma: concordo, discordo ou não estou certa; na segunda etapa as respostas de escolha são: concordo, mais jovem, mais velho, e não estou certo; e na terceira etapa são: a,b,c,d e não sei informar. O instrumento se divide em quatro categorias, assim definidas por Macphee (1981): cuidados parentais (14 itens), normas e marcos do desenvolvimento (32 itens), princípios (17 itens) e saúde (12 itens). Na categoria Cuidados Parentais estão relacionadas questões sobre crenças, estratégias e comportamentos dos pais, habilidade da criança através de ensino ou modelagem e a responsabilidade de se tornarem pais. A categoria Normas e Marcos do Desenvolvimento descrevem o conhecimento das mães sobre períodos mais prováveis para a aquisição de habilidades motoras, perceptuais e cognitivas da criança. Com relação à categoria Princípios, estão incluídas informações sobre o processo de desenvolvimento (evidências) e descrição de habilidades. E, por fim, a categoria Saúde aborda questões sobre a nutrição apropriada à criança e cuidados com a saúde, prevenção de acidentes e a identificação de alimentos adequados para determinadas faixas etárias e tratamentos para eventuais doenças.

A aplicação do KIDI foi realizada nas dependências do abrigo no período de março de 2010 a fevereiro de 2011, assegurando o contato face a face com as entrevistadas, evitando que terceiros pudessem influenciar o sentido das respostas dadas às questões contidas no questionário. Já a análise dos dados coletados foi feita no sentido de aferir a proporção de acertos, erros e incertezas das mães participantes da pesquisa no conjunto das questões trazidas pelo KIDI, tomando-se como parâmetro o gabarito de respostas que o instrumento dispõe. A organização e sistematização dos dados foram realizadas a partir da elaboração de planilhas pelo programa Excel (Microsoft), que funcionou como ferramenta básica para o cálculo de frequências e elaboração de tabelas utilizadas na composição e discussão dos resultados. É importante ressaltar que para a análise dos dados, levaram-se em consideração apenas as respostas das mães respondidas pelo questionário, e seus relatos pessoais, portanto, não entraram para análise.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Neste estudo, verificou-se que as 16 mães participantes da pesquisa tinham entre 17 e 35 anos de idade, sendo que a maioria estava com 25 anos. Com relação à escolaridade, 63,3% possuíam o ensino fundamental incompleto, 6,6% o ensino fundamental completo, 13,3% o ensino médio incompleto ou em andamento e 16,6% o ensino médio completo. Quanto ao número de filhos, as entrevistadas tinham de 1 a 8 filhos, sendo que a média oscilou de 3 a 4. Com relação à ocupação profissional, 56,6% destas mães viviam do trabalho informal (manicure, artesã, doméstica e outros) ou dependiam do que tem sido denominado de "bico" (trabalho informal e ocasional), enquanto que 43,3% encontravam-se desempregadas.

Quanto às ideias e conhecimento dessas mães acerca do desenvolvimento infantil e práticas de cuidado, os resultados obtidos apontaram que aquelas que mais acertaram as questões do KIDI possuíam o ensino médio incompleto ou em andamento, e as que tiveram um menor desempenho apresentaram o ensino fundamental incompleto ou ainda estava para ser concluído, sendo que algumas não pretendiam mais voltar a estudar ou concluir a primeira etapa do ensino fundamental.

Diante dos dados apresentados, percebe-se que apesar de as mães possuírem pouca escolaridade, estas alcançaram bom desempenho na avaliação feita pelo KIDI, o que contraria a hipótese de que quanto maior o nível de escolaridade (sendo aqui consideradas, aquelas mães que tiveram acesso ao nível superior) mais conhecimentos ten-dem a ser adquiridos sobre o tema em foco, como mostraram estudos anteriores com este instrumento (Bastos et al., 2004).

 

 

Ao se analisar as 75 questões do KIDI, verificou-se que as mães apresentaram uma média de 57,46% de acertos, 36,73% de erros e 4,41% representam as dúvidas e incertezas. A alternativa sem resposta equivaleu a 1,4% do total de entrevistadas. As questões que apresentaram maiores número de acertos foram da categoria saúde e segu-rança, com 64,70%, e práticas de cuidado com 58,82%. As com maiores número de erros estiveram concentradas nas categorias práticas de cuidado (41,18%) e normas e aquisições (41,17), conforme mostra a Tabela 1.

Um dos motivos que pode justificar o desempenho satisfatório das mães na categoria saúde e segurança são as informações decorrentes dos afazeres realizadas no seu dia-a-dia. Nos relatos obtidos durante a coleta de dados foi possível verificar que estas souberam lidar com situações de emergência envolvendo seus filhos desde o período de sua gestação, pois tais instruções foram recebidas através de consultas médicas e em conversas com suas mães ou vizinhas que tinham vivenciado a experiência da maternidade. Deste modo, percebe-se como o ambiente social e cultural acaba por influenciar ideias e crenças destas mães.

No item Práticas de Cuidado, foi apurado um considerável número de erros nas questões que o compõem. Em parte porque muitas das concepções consideradas equivocadas de acordo com os pressupostos defendidos pelo KIDI, são percepções sustentadas provavelmente em saberes e práticas presentes em seu ambiente familiar como também em crenças locais. Por exemplo, 90% das mães disseram acreditar que os pais, pela própria condição de gênero, são naturalmente sem jeito para cuidar de crianças e justificam suas respostas afirmando que isso é visto por elas desde sua infância. Acreditam que, por essa razão, a mãe é em geral totalmente responsável pelos cuidados do bebê.

Nos dois casos acima, pode-se supor como o ambiente físico e social foi fundamental na elaboração das concepções acerca do desenvolvimento que são defendidas pelas mães da amostra, e também o quanto é forte a influência de aspectos culturais nas atitudes e nas práticas de cuidados dessas cuidadoras (Harkness & Super, 1992).

Na tabela a seguir, verificou-se que os perfis das mães com maior percentual de acerto das questões têm menos de 25 anos, possuem o ensino fundamental incompleto, mais de três filhos e vivem do trabalho informal.

 

 

O fato de estas serem em sua maioria jovens mães parece ter influenciado na soma dos seus conhecimentos, que pode estar relacionado com a experiência materna precoce, o que consequentemente fez com que essas mulheres adquirissem responsabilidades e prática no cuidado infantil, como pode ser observado nos discursos das participantes durante a entrevista. Muitas dessas concepções relativas ao tema foram apresentadas a elas também através da mídia e principalmente dentro da própria casa, já que várias delas são filhas de mulheres que tiveram sua gestação muito cedo também. É o que se pode definir como a transmissão geracional das experiências adquiridas com a maternidade e do que parece ser mais adequado ou saudável às crianças nos primeiros anos de vida (Kobarg & Vieira, 2008).

Na literatura consultada a maior parte dos estudos aponta para uma relação positiva entre escolaridade e conhecimento, como Bastos et al. (2004) e Silva et al. (2005), que concluíram que quanto mais anos de estudo possui o cuidador entrevistado, maior tende a ser o seu percentual de acerto nas questões trazidas pelo KIDI.

Diante dos dados obtidos com a presente pesquisa, pode-se concluir, entretanto, que nem sempre a escolaridade representa um fator fundamental para a aquisição de noções básicas sobre o tema testado. Este é um aspecto a ser destacado quando se considera que boas partes das mães entrevistadas apresentaram nível satisfatório de conhecimento na avaliação feita pelo KIDI.

Levando-se em consideração os dados apresentados acima, supõe-se também que a experiência da maternidade e o convívio com um número maior de filhos podem funcionar como fatores que influenciam positivamente no seu preparo para lidar com questões relativas ao desenvolvimento infantil, já que as mães que melhor souberam responder às questões do questionário tinham mais de três filhos.

Parece lógico supor também que a mãe que tem mais filhos, possivelmente acumula um tempo mais largo e significativo de experiências com a rotina de cuidados primários, e isso pode levar a uma gama de conhecimentos diversos em torno de questões da saúde e do bem-estar infantil (Cavalcante & Corrêa, 2012).

 

 

De acordo com a Tabela 3, o perfil das mães com maiores índices de erros revela que estas são maiores de 25 anos, possuem o ensino fundamental completo ou incompleto, têm mais de três filhos e estão em sua grande parte desempregadas. Comparando-se as mães que mais acertaram no KIDI com as que mais erraram as questões nele contidas, verifica-se em ambos os perfis que as entrevistadas têm mais de três filhos e possuem o ensino fundamental completo ou incompleto, sendo este segundo predominante. Mas estas se diferem em outros pontos, pois as mães que mais erraram têm mais de 25 anos, enquanto as que mais acertaram menos de 25 anos. No quesito ocupação profissional as participantes que mais erraram se encontravam desempregadas, enquanto que as que obtiveram melhor desempenho realizavam alguma atividade profissional remunerada.

Nesta pesquisa, supõe-se que o número elevado de mães que possuem os filhos funcionou, ora como um fator positivo, ora como negativo, para o domínio de conhecimentos específicos no campo do desenvolvimento infantil, ou seja, um maior número de filhos entre as entrevistadas parece não ter implicado necessariamente em um maior ou menor conhecimento acerca do tema em discussão. Constatou-se que essa característica se manifesta em igual proporção entre as entrevistadas com melhor ou pior desempenho na aferição de conhecimentos proposta pelo KIDI. De todo modo, pode-se afirmar que metade das mães que obtiveram maiores percentuais de erros apresentava um número elevado de filhos, ou seja, contrariando as expectativas, tais mães demonstraram ter menos conhecimentos acerca de questões relacionadas ao desenvolvimento da criança.

Outro aspecto diferenciado que realça este resultado é que nem sempre aquela ideia de que quanto mais idade tiver a mãe, mais noções dos cuidados primários ela tende a ter, já que se supõe que elas adquirirão experiências no cuidado ao longo do tempo. O estudo mostrou que as mães que mais erraram tinham mais idade do que as que mais acertaram. O quadro abaixo mostra as questões em que as mães obtiveram os maiores e menores índices de acertos e erros.

Dentre as questões com maior número de acertos pelas entrevistadas, verificou-se que houve certo domínio nas questões referentes à saúde e segurança, pois esta categoria foi a que as participantes apresentaram melhor desempenho. Um exemplo levantado por essa categoria do questionário se encontra na questão 15, que aborda a importância da vacinação nos primeiros meses e anos de vida como medida eficaz, e, portanto, necessária à prevenção de doenças infectocontagiosas. Um dos fatores que pode ter proporcionado um considerável número de acertos nesta questão, já que apenas uma das dezesseis mães não respondeu adequadamente, foi a presença constante de campanhas de divulgação na mídia (televisão, rádio, cartazes, outdoor, etc.) sobre a importância da vacinação para a saúde da criança. Ao longo das últimas décadas tem havido divulgação desse tema através da mídia, com mensagens que chamam atenção da sociedade para a importância de se vacinar, tanto crianças como adultos, representando uma medida usual de promoção de saúde (Silva & Magalhães, 2011).

 

 

O mesmo raciocínio pode servir para explicar o ótimo desempenho das entrevistadas no enfrentamento da questão 31, que trata da importância do aleitamento materno para os bebês (Martins, 2009). Essa é hoje uma prática de cuidado constantemente valorizada pela mídia, que ressalta que as propriedades do leite materno contêm todas as proteínas, gorduras, lactose, vitaminas, ferro, minerais, água e enzimas nas quantidades requeridas para o crescimento e o desenvolvimento do bebê. É o que Harkness e Super (1992) acreditam ser a influência da cultura local sobre as práticas de cuidado destinadas às crianças.

Outra questão que merece destaque, pois apresentou 80% de acertos, é a de número 47, que aborda se é válido educar uma criança através da aplicação de castigos físicos, como a palmada. Um dos motivos que pode ter influenciado essa questão pode ser a ideia hoje difundida de que não se deve usar a palmada como forma de disciplinar as crianças, sendo visto como uma punição inadequada pela sociedade, considerando-se o grau de agressividade nela empregado. Verifica-se nessa ideia como o meio exerce influência sobre as pessoas e como os indivíduos que fazem parte desse meio adquirem valores a partir da percepção dos outros sobre algum processo ou experiência, como explica Bronfenbrenner (1996).

Já entre as questões que foram respondidas de forma equivocada por um número significativo de mães, verificou-se o predomínio dos acertos nas categorias Práticas de Cuidado e Normas e Aquisições. Porém, na questão 40, se observa a frequência de um grande número de erros, sobretudo na categoria Saúde e Segurança. Essa questão afere ser verdadeira a assertiva que diz que se um bebê ficar com diarreia a mãe deve parar de alimentá-lo com comida sólida e dar a ele água com açúcar e Coca-Cola sem gás. Durante a entrevista, as mães se mostraram assustadas com a ideia de dar Coca-Cola sem gás para seus filhos doentes, sendo que, pelo KIDI, essa sugestão é considerada adequa-da. Essa reação pode estar relacionada à cultura local, pois as mães do nosso país, em particular da região Norte, não adotam essa forma de cuidado com as crianças daqui, mas esta atitude é comum em outros países. No exemplo acima se vê uma exemplo da ação do que Bronfenbrenner (1996) chama de Macrossistema, ou seja, a influência da cultura e das ideias locais sobre a vida das pessoas nos seus Microssistemas.

Outra questão a ser analisada é a de número 62, visto que a maioria das entrevistadas acredita que após os quatro meses a criança consegue erguer sua cabeça sem qualquer forma de apoio. Como essa não era a alternativa de resposta mais acertada de acordo com o KIDI, constatou-se que todas as entrevistadas se pronunciaram de maneira equivocada sobre a questão. Ou seja, as mães entrevistadas pareceram desconhecer o fato de que mesmo antes dos quatro meses a criança já é capaz de executar esse movimento.

Foi verificado ainda que, no geral, apenas 3,3% das mães demonstraram estar em dúvida diante das 75 questões do KIDI. Isto deve ser visto de forma positiva, pois independente dos acertos e erros as mães mostraram ter alguma noção sobre desenvolvimento infantil e práticas de cuidado e parecem não ter tido dificuldade para expressar sua opinião sobre o assunto.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta do estudo foi aferir o que e o quanto as mães de crianças em situação de acolhimento institucional conhecem a respeito de temas relacionados ao desenvolvimento infantil e práticas de cuidado através das respostas que deram às questões apresentadas pelo KIDI. De posse desses dados, verificaram-se as categorias que as mães participantes da pesquisa tiveram o melhor ou o pior desempenho, além de analisar as dúvidas que possuem referentes a algumas questões tratadas pelo tema em foco.

A pesquisa aqui mostrou o quanto se faz necessários estudos sobre desenvolvimento infantil e práticas de cuidado, pois além de contribuírem para a literatura da área, que é escassa, sobretudo quando aborda a realidade de crianças em condição de vulnerabilidade social, faz uma análise do perfil dessas cuidadoras primárias que têm suas crianças numa instituição de abrigo.

Saber o quanto as mães conhecem sobre o desenvolvimento infantil e práticas de cuidados são de suma importância para se compreender o que elas pensam acerca do modo como as crianças crescem e aprendem no ambiente físico e social, e pode levá-las a refletir sobre a importância de ser melhorar a qualidade do cuidado dispensado às suas crianças. Dessa forma, a equipe técnica e os profissionais responsáveis pela gestão desse serviço socioassistencial poderão orientá-las quanto à forma mais adequada para tratar uma criança, identificando e lançando mão dos recursos disponíveis pela família e a comunidade de origem, mas também atentando para a importância de se ofertar novas oportunidades aos filhos.

A ideia é poder trabalhar com as mães o porquê e como o cuidado materno compõe um conjunto de ações biológicas, psicológicas, sociais e ambientais que permitem à criança desenvolver-se bem, como mostra a literatura da área apresentada neste artigo. Além de sentir-se rodeada de afeição, a criança precisa de cuidados essenciais a fim de que ela tenha um sono tranquilo, uma alimentação saudável, higiene, dentre outros. Reconhecer e saber interpretar corretamente os sinais que o recém-nascido emite demandando atenção e cuidados é imprescindível para a sua saúde e o seu bem-estar, como a sua sobrevivência.

Os resultados do estudo aqui apresentado remetem à necessidade de se investir mais na difusão de informações e conhecimentos sobre o desenvolvimento infantil que sejam realmente úteis ao modo como são orientadas e sustentadas do ponto de vista teórico as práticas de cuidado. Seja quando tais práticas são realizadas no contexto da família, sendo em geral a mãe a principal responsável pelas ações promotoras de saúde, segurança e bem-estar da criança, seja no ambiente institucional, quando profissionais são destacadas para assumir tais funções, sendo remuneradas, orientadas e capacitadas para o domínio de um campo vasto de conhecimentos.

Diante do que foi apresentado, acredita-se o quanto é importante estudar em seus múltiplos aspectos o ambiente institucional – no caso, os abrigos e outros serviços de acolhimento infantil –, e as crianças que nele convivem, no sentido de se compreender melhor, através da percepção da mãe, como efetivamente é possível contribuir na proteção social dos segmentos sociais mais vulneráveis e na promoção do desenvolvimento biopsicossocial nos anos iniciais da infância. E este é um desafio que está posto para as mães no contexto da família, mas também para a sociedade e o Estado.

 

REFERÊNCIAS

Bowlby, J. (1995). Cuidados maternos e saúde mental. São Paulo: Martins Fontes.         [ Links ]

Bronfenbrenner, U. (1996). A ecologia do desenvolvimento humano: experimentos naturais e planejados. Porto Alegre: Artes Médicas.         [ Links ]

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Endereço para correspondência
Edson Junior Silva da Cruz
E-mail: edson.cruz@icsa.ufpa.br

Recebido: 30/11/2013
1ª revisão: 10/01/2014
Aceite final: 05/02/2014

 

 

1 Edson Junior Silva da Cruz é bacharel em Serviço Social e mestrando pelo Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal do Pará.
2 Lilia Iêda Chaves Cavalcante é docente do Programa de Pós-Graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento da Universidade Federal do Pará.
3 Janari da Silva Pedroso é professor associado da Universidade Federal do Pará e do-cente do Programa de Pós-Graduação em Psicologia.