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Revista da SPAGESP

versão impressa ISSN 1677-2970

Rev. SPAGESP vol.22 no.2 Ribeirão Preto jul./dez. 2021

 

ARTIGOS

 

Pudor na família com adolescentes: transmissão e limites da intimidade

 

Modesty in the family with adolescents: transmission and limits of intimacy

 

Pudor en la familia con adolescentes: transmisión y límites de la intimidad

 

 

Carla Martins Mendes1; Andrea Seixas Magalhães2; Mayla Cosmo Monteiro3; Terezinha Féres-Carneiro4

Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro-RJ, Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O presente estudo parte de uma investigação mais ampla sobre a vergonha e o pudor na intimidade da família e tem por objetivo investigar a percepção do pudor em famílias com filhos adolescentes. Realizou-se uma pesquisa qualitativa na qual foram entrevistados oito sujeitos do segmento socioeconômico médio. Os resultados foram analisados de acordo com o método de análise de conteúdo, vertente temático-categorial e discutidos a partir do referencial teórico da psicanálise e das ciências sociais. Considerando o objetivo do presente estudo, apresentamos e discutimos as categorias: estranhamento do pudor; transmissão do pudor: um legado em questão; novos rumos da intimidade no lar e imagem no espaço público: protegendo a vergonha dos filhos. Os resultados apontam que os participantes atribuem ao pudor um significado de intimidade corporal e sexual transmitido pelas gerações anteriores e com pouca expressão na atual interação familiar. Concluímos que a transmissão geracional do pudor vem sofrendo uma descontinuidade, tendo em vista a maior proximidade afetiva com os filhos e seus reflexos na transformação da intimidade familiar.

Palavras-chave: Pudor; Família; Intimidade; Adolescência.


ABSTRACT

The present study is part of a broader investigation of shame and modesty in the intimacy of the family and aims to investigate the perception of modesty in families with adolescent children. Qualitative research was conducted in which eight 8 subjects from the middle socioeconomic segment were interviewed. According to the content analysis method, the results were analyzed, thematic-categorical, and discussed from the theoretical framework of psychoanalysis and social sciences. Considering the objective of the present study, we present and discuss the categories: the strangeness of modesty; transmission of modesty: a legacy in question; new directions of intimacy in the home and image in the public space: protecting the shame of children. The results show that the participants attribute to modesty a meaning of bodily and sexual intimacy transmitted by previous generations and little expression in the current family interaction. We conclude that the generational transmission of modesty has suffered a discontinuity, given the greater affective proximity to the children and their reflexes in the transformation of family intimacy.

Keywords: Modesty; Family; Intimacy; Adolescence.


RESUMEN

El presente estudio, parte de una investigación más amplia sobre la vergüenza y la modestia en la intimidad de la familia y tiene como objetivo investigar la percepción de la modestia en familias con hijos adolescentes. Se realizó una investigación cualitativa en la que se entrevistó a 8 sujetos del segmento socioeconómico medio. Los resultados fueron analizados según el método de análisis de contenido, temático-categórico y discutidos desde el marco teórico del psicoanálisis y las ciencias sociales. Teniendo en cuenta el objetivo del presente estudio, presentamos y discutimos las categorías: extrañeza del pudor; transmisión del pudor: un legado en cuestión; nuevas direcciones de intimidad en el hogar e imagen en el espacio público: protegiendo la vergüenza de los niños. Los resultados muestran que los participantes atribuyen al pudor un significado de intimidad corporal y sexual transmitido por generaciones anteriores, y con escasa expresión en la interacción familiar actual. Concluimos que la transmisión generacional del pudor ha sufrido una discontinuidad, ante la mayor proximidad afectiva con los hijos y sus reflejos en la transformación de la intimidad familiar.

Palabras clave: Pudor; Familia; Intimidad; Adolescencia.


 

 

A intimidade e a privacidade são indissociáveis na evolução histórico-social da família, na medida em que ambas são produtos da modernidade (Singly, 2012). Com origem em períodos precedentes, o pudor e a vergonha fazem parte dessa trajetória enquanto sentimentos associados ao corpo e ao sexual, transformando-se em importantes referências na organização da família nuclear burguesa.

Para uma maior compreensão sobre o nascimento do sentimento de intimidade na família moderna deve-se levar em conta que o Renascimento foi marcado por uma nova visão de homem e de mundo que colocou em causa uma longa tradição medieval. Com efeito, o período feudal foi caracterizado por um conceito de espaço público compreendido segundo uma organização social, política e familiar pautada pela inexistência de uma esfera privada, em que as relações sociais e familiares desenvolviam-se em espaços públicos compartilhados, testemunhadas nas habitações e na vida em sociedade. Como meio de socialização coletiva, os banhos públicos seriam de tal forma naturais que não partilhar a nudez poderia significar que o indivíduo possuía defeitos físicos (Elias, 2011).

Considerando-se que o universo público visava, sobretudo, à perpetuação dos interesses materiais comuns, as lentas mudanças políticas, econômicas e científicas, assim como a ascensão da burguesia ao longo do período Renascentista, vão implicar em novas regras de convivência social e familiar. A corrente Humanista, que colocava o homem no centro do universo, amparado na sua própria racionalidade, questionando os poderes da religião, servirá de base para o que Elias (2011) denominou de processo civilizatório. Nessa nova ordem social, a vergonha seria usada como meio de controle dos instintos e dos impulsos para atender a normas comportamentais civilizadas. Fazendo-se valer da vergonha, os comportamentos, hábitos e gestos comedidos contribuíram para a ruptura do modelo antigo de socialização, e para a diferenciação entre as classes consideradas socialmente superiores em relação aos povos "primitivos".

De acordo com Bologne (1990), a vergonha ligada à sexualidade, assim como a origem do pudor no século XVI atrelado à nudez, levaram a uma associação entre vergonha e pudor que se perpetuou ao longo da época moderna, atingindo o seu auge no século XIX, na medida em que ambos se referiam ao corpo e ao sexual. Ademais, os rígidos códigos morais ditados pela Igreja Católica incluíam a vergonha como meio de sanção social, controle corporal e sexual.

Por outro lado, Duerr (2002) atribui ao sentimento de pudor um caráter intemporal, na medida em que é um sentimento inconsciente, natural, comum a qualquer sociedade e subjacente à evolução cultural e histórica. Contudo, a função de controle social e familiar do pudor desenvolveu-se a partir do contato dos povos europeus com as culturas nativas na época dos descobrimentos e das viagens mercantilistas, servindo de ponto de partida para a diferenciação dos modos, hábitos e comportamentos sociais. A partir do Renascimento, portanto, o sentimento de pudor seria associado à nudez pública como atributo do homem, e para a mulher a relação com o corpo a distinguiria das mulheres nativas ou pertencentes às classes inferiores.

Ao longo da modernidade, a vergonha e o pudor, para além de delimitarem os papeis de gênero, serviram de referência para as práticas amorosas, educacionais e sociais, principalmente com a invenção do sentimento de infância. Em rigor, a valorização da criança, envolvida em afeto e paparico, desencadeará o sentimento de infância, inscrevendo a vergonha no campo do segredo, definindo claramente a separação entre o mundo infantil e o adulto. A vergonha e o pudor, neste sentido, preservariam o segredo da sexualidade dos adultos da criança, e a intimidade da família moderna seria resguardada do poder público, do estado e da sociedade.

Bologne (1990) aponta dois principais aspectos do pudor durante este período: o pudor masculino, ligado à manifestação dos sentimentos e o pudor feminino ligado ao corpo e ao sexual. No que tange ao aspecto emocional, o choro masculino seria sinônimo de fraqueza e de vergonha, mas, para a mulher, chorar no privado seria uma virtude e sinônimo de delicadeza. As mulheres deveriam ser recatadas em relação ao corpo e à sexualidade. Ao longo da modernidade, o pudor e a vergonha contribuíram para a privacidade da família moderna no sentido de uma concepção de corpo que deveria ser pudico, e uma vergonha que deveria resguardar a mulher e a mãe do olhar público.

A partir dos anos 1960 do século XX, as diversas mudanças decorrentes de movimentos sociais e de contracultura convergiram para uma maior igualdade entre gêneros. Segundo Bologne (2010), a partir da segunda metade do século XX o movimento feminista, ao rejeitar a desigualdade entre os sexos e usando o nu como contestação social, tornou possível apartar o pudor da virtude sexual feminina. O pudor passaria então a ser considerado um sentimento que vai além da sexualidade e da nudez, manifestando-se de acordo com as regras sociais vigentes, independentemente da condição de gênero.

Na esteira das transformações na família e na sociedade, a menor desigualdade entre os papéis masculinos e femininos traduziu-se na descentralização das hierarquias familiares e na reconfiguração da intimidade no lar. Ao denominar de família igualitária este novo modelo de organização familiar, Singly (2012) explica que a maior reciprocidade entre pais e filhos, assim como as diversas configurações familiares, contribuíram para uma estrutura familiar marcada mais pelas diferenças individuais do que pelas hierárquicas, de sexo ou de idades. Assim, a intimidade baseada em uma maior proximidade afetiva e psíquica entre os membros da família contribui para a diluição das diferenças geracionais e sexuais, repercutindo em uma das principais funções do grupo familiar, a transmissão psíquica.

O processo de transmissão entre gerações envolve uma cadeia geracional em que a estrutura psíquica, a tradição e a cultura se desenvolvem ao longo do tempo. O grupo familiar, inaugurado a partir da parentalidade, se perpetua com base na interdição do incesto, introduzindo a diferenciação sexual e a geracional (Correa, 2001). Neste sentido, a estrutura familiar mais intimista e igualitária pode contribuir para que, frequentemente, as funções e as posições familiares se tornem indiscriminadas no que diz respeito às fronteiras da intimidade.

A intimidade se funda nas primeiras experiências entre mãe e bebê, quando o eu e o outro existem de modo indiferenciado. Winnicott (1961/2014) denominou de experiência da mutualidade a comunicação entre mãe-bebê que envolve trocas sensoriais e psíquicas, desenvolvendo uma intimidade criativa. De acordo com Lejarraga (2015), essa experiência constitui a forma mais primária de intimidade e serve de base para as futuras vivências da intimidade.

Durante a adolescência, as transformações psíquicas e físicas são fortemente marcadas pelo pudor e pela vergonha. O corpo e a imagem desempenham um papel preponderante durante este período. De acordo com Le Breton (2016), o desenvolvimento do desejo sexual induz o adolescente a uma permanente tensão entre a fantasia e a realidade, na medida em que a busca por si mesmo é atravessada pela erotização do corpo e pelo medo de rejeição do outro. O autor denomina de metamorfose íntima a busca do jovem pela diferenciação e independência em relação aos pais e, acima de tudo, a busca por um sentido para o seu corpo no mundo.

Ademais, cada geração está inserida e é influenciada por acontecimentos sociais que determinam novos modelos de relacionamentos. Neste sentido, Le Breton (2016) explica que na atualidade os jovens são amplamente influenciados por um conjunto de apelos, que incluem a hipersexualização, o culto da estética e da imagem, fomentados pelas mídias. Neste cenário, os adolescentes sofrem a influência de distintos e voláteis referenciais, enquanto a geração anterior era influenciada principalmente pelas instituições da família e da Igreja.

O pudor e a vergonha, enquanto constituintes das principais expressões da intimidade (Cinc-Mars, 2002; Freymann, 2012), estabelecem os limites e a distinção entre o íntimo e a intimidade, o que se torna fundamental no contexto das profundas mudanças na família e na sociedade contemporânea. Dentre as profundas transformações da sociedade na atualidade, os avanços tecnológicos, especificamente no que diz respeito às redes sociais, introduziram novos meios de expressão da intimidade, desempenhando um papel determinante na dinâmica social e familiar.

Tisseron (2003) denominou de extimité o desejo de intimidade fundamentalmente inconsciente, que se traduz pela exposição de aspectos selecionados do eu para que sejam legitimados pelo outro. Essa partilha de fragmentos da intimidade faz parte do desejo de um encontro consigo mesmo através do outro. Para o autor, a intimidade distingue-se do íntimo na medida em que a primeira pressupõe a partilha de conteúdos conhecidos que prescindem do encontro físico. Por seu lado, o íntimo é constituído por elementos muitas vezes inconscientes ou desconhecidos, estando implícita a proximidade física. Neste sentido, o íntimo não faz parte do processo de extimité, haja vista que via internet não se partilha o íntimo, mas sim a intimidade.

A organização familiar atualmente é fortemente marcada por relações mais igualitárias, contribuindo para que as intimidades psíquicas e físicas se apresentem de modo pouco diferenciado e com efeitos na transmissão e na diferenciação entre as gerações. O pudor, enquanto sentimento que assegura o reconhecimento de um corpo psíquico e de um corpo físico diferenciado, funciona como condição de proteção entre o eu e o outro, proporcionando a discriminação da intimidade e a diferenciação entre os sexos e as gerações.

Neste sentido, o pudor, enquanto constituinte da intimidade acompanhou a evolução sócio histórica da família; porém, a transformação da intimidade e das convenções sociais contribuiu para que o pudor, atualmente, seja atrelado à esfera jurídica e das ciências médicas. Identificamos, portanto, uma lacuna de estudos no que se refere à dimensão psíquica deste sentimento no contexto familiar. Ademais, a adolescência é um período do ciclo vital em que a intimidade familiar sofre importantes transformações nas relações parento-filiais e na dinâmica familiar como um todo. Face ao exposto, este estudo teve por objetivo investigar a percepção do pudor em famílias com filhos adolescentes.

 

MÉTODO

Foi realizada uma pesquisa de natureza qualitativa por meio de uma pesquisa de campo. A pesquisa qualitativa alude à dimensão subjetiva e simbólica, tornando-se congruente com os referenciais teóricos da psicanálise e das ciências sociais que servem de base ao presente estudo.

PARTICIPANTES

Participaram deste estudo oito sujeitos; cinco mulheres e três homens, pertencentes ao segmento socioeconômico médio da população e residentes na cidade do Rio de Janeiro considerando o critério de amostra por saturação (Minayo, 2015). O critério para a participação dos sujeitos foi terem filhos entre os 12 e os 18 anos, período marcado pela adolescência e por profundas transformações na intimidade e nas relações familiares. Para a apresentação de dados foram atribuídos nomes fictícios.

 

 

INSTRUMENTO

Foram realizadas entrevistas individuais, gravadas em áudio e, posteriormente, transcritas na íntegra. O roteiro semiestruturado das entrevistas foi formulado a partir da revisão da literatura acerca do tema, contemplando questões abertas e elaboradas com base nos seguintes eixos temáticos: percepção acerca do sentimento de vergonha; diferenciação entre vergonha e pudor; diferenças geracionais da vergonha e do pudor; vergonha e exposição da intimidade nas redes sociais; percepção sobre a intimidade familiar; transmissão da intimidade entre gerações.

PROCEDIMENTO

O projeto de pesquisa que deu origem a este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da universidade onde foi desenvolvido (Parecer 2017-21). Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, autorizando a divulgação dos resultados em ensino, pesquisa e publicação, e foram informados que a sua identidade e a de seus familiares seriam preservadas. As entrevistas tiveram a duração de uma a três horas, e o local, data e horário foram agendados de acordo com a disponibilidade dos entrevistados. Por opção dos entrevistados, as entrevistas ocorreram na casa dos mesmos. O acesso aos participantes ocorreu por meio de indicações, a partir de contatos da pesquisadora, configurando, portanto, uma amostra de conveniência.

Os dados coletados foram submetidos ao método de análise de conteúdo, na sua vertente temático-categorial, com a finalidade de investigar, a partir do material discursivo, as significações atribuídas pelos entrevistados aos fenômenos (Bardin, 2015). Por meio desta técnica foram destacadas categorias temáticas, organizadas a partir da semelhança entre os elementos contidos no material coletado. Para tal, procedeu-se a uma 'leitura flutuante', agrupando-se dados significativos, identificando-os e relacionando-os, até se destacarem as categorias de análise. Os dados foram discutidos a partir do referencial teórico da psicanálise e das ciências sociais.

Na pesquisa mais ampla sobre a vergonha e o pudor na intimidade da família, emergiram várias categorias de análise. Para atingir os objetivos formulados neste estudo, discutiremos as seguintes categorias: estranhamento do pudor; transmissão do pudor: um legado em questão; novos rumos da intimidade no lar e imagem no espaço público: protegendo a vergonha dos filhos.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

ESTRANHAMENTO DO PUDOR

Ao serem questionados acerca do significado do sentimento de pudor, os participantes evidenciaram surpresa com a palavra pudor. Após permaneceram em silêncio por alguns instantes, a maioria dos entrevistados associou o pudor a aspectos íntimos, conferindo-lhe um valor de proteção e de limite. O íntimo, constituinte secreto e privado, é resultado do desenvolvimento psíquico e social e considerado o mais profundo e privado do sujeito. A intimidade, por seu lado, constitui-se de elementos do íntimo partilhados com aqueles que oferecem uma base de segurança (Darchis, 2003).

A possibilidade de ocultar ou desvelar o que é considerado íntimo é uma das particularidades do pudor. As vulnerabilidades íntimas em relação ao corpo ou aos sentimentos tendem a ser partilhadas a partir do estabelecimento de relações de intimidade ou em circunstâncias percebidas como confiantes e seguras.

Nossa!!! pudor?!!! Não ouço essa palavra faz tempo! (risos). Deixa eu ver... lembrei! pudor é corpo! Minha avó falava muito essa palavra quando a gente era criança, no caso, proteção. Porque tem alguma coisa que é só sua e aí entra o pudor, tipo um sensor que te avisa: opa! É limite. A vergonha é mais geral e tem como você contornar. O pudor não, ninguém sabe, é só seu. (Regina).

Pudor? Difícil!!!! (risos). Eu acho que a vergonha é algo mais simples, é coisa boba. As pessoas olham, falam, o jeito de falar. O pudor é mais sério, tem mais a ver com a intimidade mesmo, com a intimidade de cada um. Quando mexe com alguma coisa que incomoda mais intimamente. Hoje em dia o pudor tá meio distorcido, as idades hoje mudaram muito isso, tá tudo distorcido. Nem sei se tem mais. (Carlos).

Compreendemos que a surpresa com a palavra pudor pode refletir um distanciamento da representação psíquica em relação a este sentimento. Regina se amparou em memórias da avó para desenvolver um significado para o pudor; e Carlos atribuiu aos jovens da atual geração a distorção ou o desaparecimento desse sentimento, sugerindo que atribui ao pudor um outro sentido. Em ambos os casos, o sentimento de pudor parece estar pouco presente na família dos entrevistados.

Devemos levar em consideração que a representação psíquica do pudor faz parte do imaginário social que sofreu transformações históricas, sociais e culturais. Na atualidade, o pudor é comumente associado a contextos específicos no campo das instituições jurídicas e das ciências médicas. Esse fator pode desencadear a manifestação de estranhamento com a palavra pudor por parte dos entrevistados, tendo como pano de fundo a dificuldade de articular a representação psíquica do sentimento com o sentido atribuído ao vocábulo em si. De acordo com Freymann (2012), o léxico"pudor" desenvolveu-se de acordo com as regras sociais e vem perdendo sentido na sociedade contemporânea. O autor defende que, para além de ser um sentimento ausente no discurso da família, os principais modelos de mídia e de tecnologia colaboram para o seu apagamento.

Entendemos que o estranhamento em relação à palavra pudor não se confunde com a atribuição de sentido ao sentimento em si, na medida em que os participantes parecem reconhecer os atributos deste sentimento. Regina identificou a transmissão do pudor na sua infância como uma proteção, demonstrando que a percepção que tem em relação a este sentimento é de limite interno.

Pudor??? (silêncio). Como? Nunca me toquei assim nisso, mas... agora assim... Acho que pudor é assim uma coisa muito pessoal, muito íntima, é a vida a dois, marido e mulher. Eu acho que quando se fala em pudor vem na minha cabeça a parte sexual, uma vida íntima sexual. Quando se fala em vergonha é em todas as outras áreas, momentos, tudo o que não tenha a ver com o sexual. Assim, tipo vergonha é como te olham, entende? Tipo tá bem vestido, o que você usa, o corpo, tipo se tá magra, gordinha. (Luiza).

Pudor??? (silêncio.) Acho que pudor é tipo sexo. Com namorado ou marido você não pode ter pudor. Mas, no social é vergonha, assim, rir alto, falar alto, brigar na rua, roupa muito justa, isso é vergonha. (Ana).

No mesmo seguimento, os relatos de Luiza e Ana evidenciam uma associação entre o pudor, a sexualidade e o corpo, no sentido de intimidade com os parceiros amorosos. Assim, as narrativas dos participantes apontam para uma distinção clara entre o pudor e a vergonha. O pudor é percebido como um sentimento ligado ao íntimo e à intimidade sexual e a vergonha é associada à imagem no campo social e ao olhar do outro.

De acordo com Cinc-Mars (2002), o pudor e a vergonha são os principais limiares da intimidade. Contudo, perante o pudor, a margem de escolha e de ação permite preservar a integridade física e emocional, evitando o sentimento de vergonha. O autor considera o pudor uma das condições para o aparecimento da vertente sexual da vergonha. Embora o pudor abranja múltiplas expressões, a nudez corporal e a sexualidade são as suas principais manifestações (Bologne, 1990).

TRANSMISSÃO DO PUDOR: UM LEGADO EM QUESTÃO

A transmissão psíquica entre gerações é composta por conteúdos conscientes e inconscientes, promovida pelo sistema de parentesco e integrada a partir de identificações. Essa transmissão não é linear nem permanente e sofre influências da cultura, podendo conduzir a mudanças nos padrões de interação familiar. Segundo Loncan (2015), é a partir da diferenciação da intimidade familiar que os mitos e ideais familiares são transmitidos, permitindo a inscrição do sentimento de pertencimento.

Os participantes reconheceram as diferenças geracionais no que diz respeito à construção da intimidade. Referindo-se à época em que tinham a mesma idade dos filhos, os entrevistados preservavam a descoberta da intimidade amorosa do conhecimento dos pais, mantendo-a em segredo. As implicações de um modelo familiar de menos abertura e mais hierárquico nas suas famílias de origem parecem ter contribuído para que alguns entrevistados transformassem tal modelo na geração seguinte e estabelecessem uma maior intimidade com os filhos.

A minha relação com a minha mãe era assim: havia as meninas que eram direitas e as meninas que faziam o que não deviam. Mas... quando a gente entra na adolescência, a gente vê que as coisas não funcionam assim. Então, aquilo não era bem assim, mas tinha que ser daquela forma porque senão ia gerar vergonha, e eu cresci nesse contexto, de vergonhas. Não quis isso para os meus filhos! Até concordo que esta garotada é até demais, se você não toma cuidado acham que você é amigo, nem sabem o que é vergonha, pudor! Mas tenho a certeza que não viveram recalcados. Coisas tipo, não pode, não faz, é feio! Isso eu me reprogramei para não fazer com eles o que passei. (Regina).

Vergonha... quando eu tinha uns 14, 15 era uma vergonha tipo de beijar, de ficar com meninos, da minha mãe não saber. Mas hoje acho que os meus filhos nem sabem o que é isso!!!! Falam palavrão, ficam falando de meninas e dos meninos. Acho que é melhor porque têm mais liberdade, mas acho que hoje é tudo sem limite. (Márcia).

O período de adolescência de Regina e de Márcia foi atravessado por um modelo familiar mais conservador, em que o controle e a distância afetiva familiar teriam maior expressão comparativamente aos dias atuais. Perrot (2012) explica que, face ao modelo familiar mais tradicional, os segredos íntimos constituíam uma proteção contra as proibições familiares e morais. A identidade era resultado de uma forte influência familiar que obedecia aos preceitos sociais.

Regina, ao narrar que a vergonha marcou a sua relação familiar e ao enfatizar que não queria que os filhos experimentassem o mesmo sentimento, parece evidenciar a vertente traumática da vergonha que tende a se desenvolver na infância a partir de uma representação de crítica ou desqualificação parental (Tisseron, 2014). Segundo as narrativas dos participantes, essas vivências familiares indicam ter contribuído para uma ruptura com os valores de intimidade da sua família de origem, justificando uma relação de maior intimidade com os filhos. A fala de Márcia, no mesmo sentido, aponta para uma descontinuidade geracional no que diz respeito à intimidade familiar valorizando a liberdade dos filhos. Contudo, percebemos que, embora ambas as participantes enalteçam a maior proximidade afetiva com os filhos, expressam a percepção de ausência de limites íntimos por parte destes, demonstrando uma ambivalência com relação aos valores de intimidade que receberam das famílias de origem e os que transmitiram aos filhos.

NOVOS RUMOS DA INTIMIDADE NO LAR

A transmissão do sentimento de intimidade vem sofrendo transformações que se traduzem no estabelecimento dos limites relativos aos papéis e posições dentro da família. Algumas narrativas refletem uma estrutura familiar em que a intimidade se estabelece em moldes apartados das referências das famílias de origem.

Claro que a minha esposa e eu somos mais abertos que os nossos pais. Desde cedo explicamos sobre sexo. E não tem isso na minha casa, de mãe fala uma coisa, e outros assuntos fica pra papai. Então ela é bem mais madura que as meninas da minha época. Eu considero intimidade o que você guarda, tem na família, com a minha esposa, com a minha filha, o jeito da gente viver com meus pais, meus irmãos. Então isso é o que te fortalece, teu apoio. Confiança, né? Tem que ter um porto seguro, uma base e isso só tem quando há intimidade. (João).

Segundo João, a maior abertura com a filha, comparativamente aos seus pais, envolve o diálogo sobre sexualidade e igualdade nos papéis parentais. Ao destacar a maior maturidade de sua filha em comparação às meninas da sua geração, parece atribuir este fato à maior proximidade afetiva familiar, colocando a intimidade no plano de uma referência sólida, evidenciando que a intimidade na sua família nuclear e de origem constituem referência fundamental.

Singly (2012) salienta que uma das características da família contemporânea é o seu aspecto relacional, na medida em que as relações se sobrepõem aos interesses patrimoniais. O autor aponta que as relações familiares privilegiam o individualismo, levando a uma descontinuidade geracional no que tange aos valores da família de origem. Desenvolvem-se, em contrapartida, laços afetivos mais estreitos entre pais e filhos.

Contudo, a maior horizontalidade nas posições familiares pode facilitar a indiscriminação das funções e das posições geracionais, dificultando assim o estabelecimento dos espaços íntimos e favorecendo a intimidade excessiva entre pais e filhos. Para Tisseron (2014), a criança internaliza gradualmente a diferenciação da intimidade a partir do interdito que se estabelece no segredo da sexualidade dos pais. O autor inclui o pudor no campo das para-excitações, na medida em que é um sentimento que defende a criança das excitações dos adultos.

Quando o meu mais velho começou a ficar mocinho o meu marido começou a botar limites, falando que não tava certo ele ficar nu ou me ver nua. Eu achei que ele tava vendo mal onde não havia. Mas, a gente não tem barreiras, ele anda nu e sem problema. É que nem eu, em casa, com família ele é bem sem pudor, mas todo envergonhado no social. Mas, em casa anda de cueca, toma banho porta aberta, troca de roupa na minha frente ou de quem quer que esteja ali, parece até outra pessoa quando tá na rua. (Paula).

Mas, com os meus filhos, olha a gente não tem esse negócio que não pode isto ou aquilo. Falamos de tudo, o que magoou, o que chateou. Sou uma companheirona, sei disso. Eles detestam quando o meu namorado fica lá em casa porque a gente muda a rotina, né? Acham que são homens mas, no fundo, dois bebês! Adoram deitar comigo, o mais novo dorme comigo, chora! intimidade é isso, né? (Ana).

Ana relata que desenvolve uma interação com os filhos baseada na amizade, característica do modelo familiar na atualidade baseado em princípios de igualdade e liberdade (Singly, 2012). Por outro lado, descreve os filhos adolescentes como bebês e revela que dorme com o filho adolescente. Paula afirma não reconhecer os limites impostos pelo pai ao filho adolescente que partilhava a nudez com ela.

Segundo Tisseron (2014), a internalização do pudor é aprendida com os pais a partir do modo como estes lidam com o seu próprio pudor, instituído pelo segredo no sentido de diferenciação entre o mundo infantil e o adulto. Essa aprendizagem tem início nas primeiras relações de afeto e nas trocas corporais que oscilam entre excitação e contenção. O modo como o bebê internaliza inconscientemente esse jogo afetivo estaria na base do senso de pudor.

A ausência de reconhecimento dos limites íntimos e de privacidade familiar tende a envolver uma dimensão incestual. Estrutura imperceptível de posições e funções da família, o incestual foi cunhado por Racamier (1998) como uma atmosfera na dinâmica familiar, sobretudo inconsciente, que circula em torno de uma sedução narcísica, com o intuito de perpetuar um vínculo indissolúvel. Em consequência, a intimidade de cada um dos membros é invadida, subvertendo as posições geracionais e as diferenças entre os sexos. As participantes evidenciam um transbordamento da intimidade na dinâmica familiar, parecendo indicar dificuldades na experiência da separação e uma intrusão na intimidade psíquica e física dos filhos adolescentes.

IMAGEM NO ESPAÇO PÚBLICO: PROTEGENDO A VERGONHA DOS FILHOS

Tisseron (2014) aponta que o grande diferencial na intimidade inaugurado pelas novas gerações está relacionado com as novas tecnologias, mediadas pelas redes sociais, levando a intimidade a ser expressa pela intenção. A intencionalidade diz respeito à facilidade de partilhar fragmentos do privado quando e onde se quiser. Esse deslocamento da intimidade psíquica para a esfera pública é endereçado não a um outro específico, mas a muitos outros.

A preocupação dos pais com a imagem social dos filhos foi evidenciada a partir do papel das redes sociais. A preocupação não só em acompanhar, mas em coibir publicações com exposição do corpo e manifestações da intimidade física são os principais pontos de atenção por parte dos pais.

Você sabe que adolescente agora tá na onda do nude, né? Mandam nudes, postam nudes. Já falei:"não quero que faça isso!". Aí ele fala com a maior naturalidade:"mas não pode por quê? Não mostra a cara, qual o problema? Todo o mundo faz!." Tenho que explicar que pode dar problema pra imagem dele, que podem espalhar e botar por ai em site pornô, e quando procurar trabalho? não precisa né? Então eu tou em cima, mas com certeza que por ele mesmo já tinha postado muita coisa! (Paulo)

As pessoas nem se conhecem e já botam tudo! Mandam muitas fotos intimas, se expõem muito. O meu filho mais velho fica botando foto de sunga, fotos dele com a namorada se beijando, botando a mão aqui e ali, sabe? Falo pra ele que quando arrumar trabalho pega mal, ele acha que a vida é surf e namorada, mas e a imagem séria de responsável? Quem dá trabalho pra alguém que só quer saber de meninas e surf? (Ana).

Mas a minha filha postou outro dia uma foto dela e do namorado assim, língua com língua! Cara, morri de vergonha! Briguei com ela, mandei tirar, aquilo é pra fazer em 4 paredes. Não aceito expor, mostrar aquilo ali no face, não aceito. Ouvi comentários, amigos fazendo piada, sabe? Piada de mim e dela, tipo:"poxa a tua filha tá com tudo!". Senti vergonha por mim que sou mãe e não gostei que ela passasse por aquilo e por ela mesma, pela imagem dela. Esses meninos, se a gente não tá em cima, são muito sem noção! Não pensam na faculdade, na hora de arrumar emprego, de estágio. (Luiza)

A proteção da imagem dos filhos perante a exposição da sua intimidade nas redes sociais apresenta-se como um fenômeno aparentemente paradoxal por parte dos entrevistados. Por um lado, a intimidade em família é atravessada, em alguns casos, pela indiscriminação dos espaços psíquicos e físicos; por outro, os pais coíbem a exposição da intimidade dos filhos nas redes sociais, afirmando sentirem vergonha e defendendo a preocupação com o futuro profissional destes. Atribuímos este fato à valorização da imagem social, principal fator para o deflagrar da vergonha, tal como apontado pelos entrevistados. A vergonha, neste sentido, parece ser usada como recurso à autoridade parental e como proteção da imagem dos filhos e dos próprios pais.

Tendo em consideração as narrativas que evidenciam as diferenças geracionais no que tange ao pudor e à vergonha, podemos pensar que os pais, ao se depararem com um novo modelo de intimidade, inaugurado pelas novas gerações, sintam a imagem dos filhos ameaçada e uma impotência para lidarem com fenômenos recentes e inovadores. Em rigor, o deslocamento da intimidade para o espaço público via redes sociais por parte dos adolescentes vai de encontro ao modelo de intimidade vivenciado pelos progenitores. A diferença geracional sobre a percepção de intimidade pode ter fundamento na representação de intimidade associada a espaço de proteção contra a invasão externa vivenciada pela geração dos entrevistados. Na contemporaneidade a transformação da intimidade é atravessada pelas novas tecnologias, favorecendo uma lógica relacional e de concepção de privacidade distinta da geração anterior.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo teve como objetivo investigar a percepção do pudor em famílias com filhos adolescentes. Ressaltamos que o pudor e a vergonha, enquanto expressões da intimidade, sempre estiveram presentes na evolução sócio-histórica da família, assumindo distintas funções de acordo com a época e a sociedade.

Neste sentido, os resultados da pesquisa apontam que os participantes, do sexo masculino e feminino, atribuem ao pudor um significado de intimidade corporal e sexual transmitido pelas gerações anteriores. Contudo, percebe-se que esse é um sentimento com pouca expressão na atual interação familiar. Atribuímos esse fato à percepção de que o pudor é associado à esfera sexual, parecendo desconsiderar-se sua vertente psíquica.

Partindo da ideia de que o pudor é um sentimento que se desenvolve ao longo da interação familiar, aprendido com os pais e adultos a partir do modo como estes lidam com o seu próprio pudor, concluímos que as relações familiares mais intimistas e igualitárias podem favorecer uma menor diferenciação entre os espaços psíquicos internos e externos. A associação do sentimento de vergonha a uma estrutura familiar mais conservadora e hierárquica durante o período da adolescência dos participantes, parece ter sido um fator importante para o estabelecimento de uma relação mais intimista com os próprios filhos adolescentes.

Na medida em que a transmissão geracional pressupõe a diferenciação e a transformação das heranças psíquicas, o reconhecimento do pudor, enquanto sentimento constituinte do desenvolvimento psicossexual e da definição dos limites impostos pelo interdito, é fundamental na constituição e no desenvolvimento da intimidade na família. Concluímos, contudo, que a transmissão do pudor vem sofrendo uma descontinuidade à medida que a maior proximidade afetiva com os filhos passou a fazer parte da transformação da intimidade familiar. Ressaltamos, portanto, a importância de desenvolver investigações qualitativas e clínico-qualitativas que abordem os impactos da transformação da intimidade na psicodinâmica familiar.

 

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Endereço para correspondência
Carla Martins Mendes
E-mail: carlamartimendes@gmail.com

Submetido: 29/10/2020
Reformulado: 30/11/2020
Aceito: 02/12/2020

 

 

1 Carla Martins Mendes é doutoranda do Programa de Pós-graduação em Psicologia Clínica (PUC-Rio).
2 Andrea Seixas Magalhães é Professora Associada do Programa de Pós-graduação em Psicologia Clínica (PUC-Rio).
3 Mayla Cosmo Monteiro é pós-doutoranda em Psicologia Clínica (PUC-Rio/FAPERJ).
4 Terezinha Féres-Carneiro é Professora Titular do Programa de Pós-graduação em Psicologia Clínica (PUC-Rio).

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