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Psicologia Hospitalar

versión On-line ISSN 2175-3547

Psicol. hosp. (São Paulo) v.5 n.1 São Paulo  2007

 

RESENHA

 

Juliana Siracuza Reis

 

 

Marina Ribeiro. Infertilidade e Reprodução Assistida. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.

Este livro é resultado da experiência profissional da autora num ambulatório de reprodução assistida, tendo como foco a experiência psíquica do sujeito no eixo fertilidade/infertilidade, sob a ótica da psicanálise e sua interface com a tecnologia.

No capítulo “Sobre o desejo de ter filhos”, a autora coloca que o primeiro registro deste desejo se dá na infância, com o enigma sobre a origem dos bebês. Na vida adulta, este desejo atualiza diversas fantasias, como por exemplo, o desejo narcísico de imortalidade e o desejo pelo filho edípico (fruto de uma relação com os genitores). O projeto de ser pais é um dos mais importantes na vida de um casal, sendo um dos alicerces a partir do qual o relacionamento se estabelece.

Justamente por sua importância e grandeza, a impossibilidade de gerar filhos é vivenciada como uma crise vital, uma experiência psíquica devastadora e traumática que reativa conflitos inerentes à psique. Não ter bebês significa um rompimento na cadeia de gerações, levando ao abalo na auto-estima, à culpa, ao sentimento de fracasso e a conflitos no relacionamento conjugal.

Um dos pontos principais deste livro se trata do convite que a autora faz à necessidade de repensarmos o uso do conceito de “infertilidade psicogênica”, que passaria da relação de causa e efeito, para o estudo de núcleos psíquicos que podem se intensificar nesta experiência. Desta forma, a função do psicólogo baseia-se na continência das angústias suscitadas durante este processo vivenciado de forma singular pelos casais.

No capítulo sobre “Ilustrações Clínicas”, a autora reúne diversas entrevistas feitas com casais, destacando, principalmente, a função, o papel ou o lugar que os filhos possuem para pais que ainda não os têm. Desta forma, o filho almejado torna-se hiperinvestido, sendo que nada mais teria importância na vida deste casal, há não ser o alcance deste objetivo.

Em relação às técnicas de reprodução assistida, a autora discorre sobre a era contemporânea e o inevitável avanço tecnológico que trouxe aos casais a possibilidade de concepção em casos fisiologicamente impossíveis. Juntamente com isto, está o fato destas técnicas alterarem as tradicionais noções de maternidade, paternidade e família, gerando novas configurações.

Por fim, a autora expõe o fato desta tecnologia intensificar as expectativas e as frustrações do casal quanto ao desejo de conceber, o que pode levar ao que ela mesma denominou de “montanha russa emocional”, ou seja, o psiquismo ficaria à mercê do sucesso ou insucesso das tentativas.

Trata-se, portanto, de um livro que remete o leitor à reflexão acerca da especificidade da experiência da infertilidade, bem como ao papel do psicólogo e/ou psicanalista diante destes casos, com a difícil tarefa de conter as angústias e os conflitos suscitados. Dito de outra forma, Infertilidade e Reprodução Assistida trata de questões complexas que a psicanálise contemporânea está convocada a pensar.

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