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Psicologia Hospitalar

versão On-line ISSN 2175-3547

Psicol. hosp. (São Paulo) v.5 n.2 São Paulo  2007

 

RESENHA

 

Carla Cristina Adda

 

 

Eliane Miotto, Mara Cristina Souza de Lucia e Milberto Scaff. Neuropsicologia e as interfaces com as neurociências. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2007.

Segundo o Conselho Federal de Psicologia, o psicólogo com especialização em neuropsicologia é o profissional que “atua no diagnóstico, no acompanhamento, no tratamento e na pesquisa da cognição, das emoções, da personalidade e do comportamento sob o enfoque da relação entre estes aspectos e o funcionamento cerebral. Utiliza-se para isso de conhecimentos teóricos angariados pelas neurociências e pela prática clínica, com metodologia estabelecida experimental ou clinicamente”  (http://www.crpsp.org.br/crp/orientacao/titulo/fr_titulo_psi_neuropsic.htm).

 Os conhecimentos do neuropsicólogo sobre as interações entre cérebro, comportamento e cognição são a base para essa especialização. Dessa forma, observamos a importância de um livro que objetiva atualizar os profissionais da neuropsicologia e neurociências, com vasto número de autores de nosso meio.

Neuropsicologia e as interfaces com as neurociências foi dividido em três partes: 1) aspectos neuropsicológicos das afecções do sistema nervoso central; 2) avaliação e intervenção neuropsicológica e psicológica em adultos; 3) avaliação e intervenção clínica em crianças.

Sara Shammah-Lagnado expõe aspectos históricos e conceitos atuais sobre o sistema límbico e o lobo frontal, assim como o papel dessas áreas nos sistemas de alerta, emoção e memória.

Edson Amaro Jr. aborda os princípios físicos da ressonância magnética funcional e sua aplicação em pesquisas sobre o funcionamento cerebral e reorganização neuronal após lesão encefálica. Paula R. Arantes trata das limitações dessa técnica, dentre elas as neurofisiológicas e operacionais.

Rodrigo C. Camargo expõe, em dois capítulos, dados sobre acidentes vasculares cerebrais e respectivas síndromes cognitivo-comportamentais, bem como a classificação clínica das demências. Valéria S. Bahia expõe a demência fronto-temporal, doença que, em sua fase inicial, pode ser confundida com transtorno bipolar ou depressão atípica. Noboru Yasuda discorre sobre as demências rapidamente progressivas, atualmente denominadas como doenças priônicas humanas.

A memória é tema de interesse constante para clínicos e pesquisadores, associada aos avanços no diagnóstico e tratamento das demências.  Orlando F.A. Bueno expõe atualizações sobre o conceito de memória.Quanto à doença de Alzheimer, Ricardo Nitrini revisa os métodos diagnósticos e os tratamentos farmacológicos / não farmacológicos atualmente disponíveis. Benito P. Damasceno aborda as alterações comportamentais nessa demência, os quais podem gerar sobrecarga aos familiares e cuidadores dos pacientes.

As doenças do grupo das taupatias, especialmente a paralisia supranuclear progressiva e a degeneração corticobasal, são revisadas por Orlando G.P. Barsotinni em seus aspectos clínicos e cognitivos. 

 Sobre o acometimento da linguagem, Márcia Radanovic aborda a afasia progressiva primária e sua relação com a atrofia cortical e Lucia I.Z. Mendonça aborda tanto os transtornos da linguagem quanto da fala nas lesões subcorticais.

A prevalência das epilepsias, seu impacto no cotidiano dos pacientes e familiares, além das atualizações nos diagnósticos , nos seus tratamentos clínicos e cirúrgicos foram expostos por Luiz Henrique M. Castro e Antônio Nogueira de Almeida, em diferentes capítulos. Maria J. Mäder aborda a avaliação neuropsicológica pré operatória de pacientes com epilepsia refratária ao tratamento medicamentoso e Alessandra O. Vieira as crises não epilépticas psicogênicas, doença de difícil diagnóstico e tratamento.

Egberto R. Barbosa trata das manifestações não motoras da doença de Parkinson, especificamente as manifestações neuropsiquiátricas. Kátia O. Pinto fornece informações sobre a avaliação neuropsicológica de pacientes com essa doença, desde a escolha de instrumentos até o diagnóstico neuropsicológico diferencial.

Eliane C. Miotto apresenta marcos históricos da neuropsicologia e conceitos sobre as funções cognitivas, enquanto Benito P. Damasceno aborda o conceito de mente, o qual relaciona as funções cognitivas e suas representações simbólicas.

Carla C. Adda aborda a avaliação neuropsicológica no contexto hospitalar e Maria Lívia T. Moretto apresenta associações entre as neurociências e a psicanálise.

Sobre o campo das intervenções, a reabilitação neuropsicológica e as estratégias cognitivo-comportamentais foram abordadas por diferentes autoras.

Barbara Wilson descreve avanços recentes em reabilitação neuropsicológica. Eliane C. Miotto e Jacqueline Abrisqueta-Gomez abordam a reabilitação neuropsicológica em transtornos específicos. A primeira trata da pesquisa sobre intervenções na disfunção executiva e a segunda apresenta revisão sobre as intervenções cognitivo-comportamentais e pesquisas sobre a reabilitação neuropsicológica de idosos com doença de Alzheimer.

Maria da Glória S. Vieira expõe o trabalho de avaliação e reabilitação realizado na Associação Brasileira de Esclerose Múltipla e Camyla F. Azevedo aborda o alcance da terapia cognitivo-comportamental em pacientes com essa doença, a qual contribui na readaptação frente aos sentimentos de inadequação e incapacidade.

Ana Alvarez e Maura L. Sanchez tratam da importância do processamento auditivo e sua relação com as funções cognitivas e reabilitação multidisciplinar.

Na sua terceira parte, o livro se dedica especificamente à avaliação e intervenção clínica em crianças. Apesar de atual, a abordagem em crianças tem sido pouco pesquisada, quando comparada aos estudos em adultos e idosos. Isso reafirma a importância dessa coletânea de capítulos.

Umbertina C. Reed aborda o transtorno do deficit de atenção-hiperatividade, distúrbio neurocomportamental mais encontrado em crianças. Paula Catunda apresenta a importância do uso do método de Ramain-Thiers no tratamento neuropsicológico dessas crianças.

Fernando Capovilla e colaboradores tratam de tema bastante relevante para a educação e inclusão de pessoas, que é a pesquisa sobre a linguagem oral, escrita e de sinais de alunos deficientes auditivos ou surdos. Alessandra G. S. Capovilla e Fernando Capovilla também abordam e avaliação e intervenção na dislexia do desenvolvimento, assim como Nayara Argollo comenta sobre o uso de uma bateria neuropsicológica específica para a avaliação desse transtorno.

A neuropsicologia infantil, na busca por melhores métodos de avaliação e intervenção, tem desenvolvido novos paradigmas. Finalizando o livro, Fernanda Orsatti aborda paradigmas para análise de movimentos oculares na avaliação dos transtornos invasivos do desenvolvimento, assim como Katerina Lukasova e Elizeu C.Macedo utilizam esses mesmos paradigmas para a avaliação dos problemas de aprendizagem.

Espero que todos os leitores aproveitem essa atualização sobre temas importantes da neuropsicologia e das neurociências.

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