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Psicologia Hospitalar

versão impressa ISSN 1677-7409

Psicol. hosp. (São Paulo) vol.13 no.1 São Paulo jan. 2015

 

ARTIGOS ORIGINAIS

 

Instrumentos de avaliação do delirium em unidades de terapia intensiva: uma revisão sistemática da literatura

 

Delirium evaluation tools in intensive care units: a systematic review of the literature

 

 

Silvana Pinto HartmannI,1; Gabriela Peretti WagnerI,2

IUniversidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre.

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O objetivo deste estudo consistiu em investigar que ferramentas os profissionais da saúde têm utilizado na avaliação do delirium em Unidades de Terapia Intensiva (UTI). O método desse estudo foi o da revisão sistemática da literatura, com busca nas bases eletrônicas de dados dos bancos da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), do PsycINFO, do Scopus e do Pubmed, utilizando-se dos seguintes descritores e suas combinações nas línguas portuguesa e inglesa: Delirium, Avaliação, Diagnóstico e “Unidades de Terapia Intensiva”. Através da análise dos 32 estudos selecionados, evidencia-se que o Confusion Assessment Method in Intensive Care Unit (CAM-ICU) é o método mais citado nas pesquisas, sendo uma ferramenta validada com alta sensibilidade e especificidade para diagnosticar o delirium em pacientes críticos. Observou-se que o delirium é avaliado principalmente por médicos e enfermeiros.

Palavras-chave: Delirium, Avaliação, Unidades de Terapia Intensiva.


ABSTRACT

The aim of this study was to investigate which tools healthcare professionals have used in the evaluation of delirium in intensive care units (ICU). The method employed in this study was a systematic literature review, through database searches of the Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), the PsycINFO, the Scopus and the PubMed, using the following descriptors and their combinations in Portuguese and English languages: Delirium, Evaluation, Diagnosis and "Intensive Care Units." Through the analysis of the 32 selected studies, it is evident that the Confusion Assessment Method in Intensive Care Units (CAM-ICU) is the method most often cited in research, being a validated tool of high sensitivity and specificity in the diagnosis of delirium in critically ill patients. It was observed that delirium has been evaluated mainly by physicians and nurses.

Keywords: Delirium, Evaluation, Intensive Care Units.


 

 

INTRODUÇÃO

Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é definida pela Resolução da Diretoria Colegiada número 7 (RDC Nº 7), documento que versa sobre normas mínimas de funcionamento destas unidades, como a “área crítica destinada à internação de pacientes graves, que requerem atenção profissional especializada de forma contínua, materiais específicos e tecnologias necessárias ao diagnóstico, monitorização e terapia” (Brasil, 2010, p. 49). Também pela RDC Nº 7, entende-se como UTI de Adultos aquela destinada à assistência de pacientes com idade igual ou superior a 18 anos, podendo admitir pacientes de 15 a 17 anos, se definido nas normas da instituição.

De acordo com o censo das UTIs públicas e privadas em todo o Brasil, realizado no ano de 2010 pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB, 2010), identificou-se o número de 2.300 UTIs, totalizando mais de 25.367 leitos no referido ano em nosso país. Compreende-se que atualmente este número tende a ser ainda maior, evidenciando a crescente distribuição de leitos e unidades por todo o país. Diante deste significativo número de UTIs, faz-se necessária a reflexão acerca da qualificação da assistência prestada neste crescente espaço de atuação, sendo fundamental a observação das demandas a serem enfrentadas neste ambiente.

Um dos transtornos bastante frequentes em UTI é o delirium, conforme apontam estudos sobre esta temática (Ely et al., 2004; Lin et al., 2004; Vreeswijk, Timmers, de Jonghe & Kalisvaart, 2009). O delirium éuma síndrome caracterizada por um início agudo de disfunção cerebral, observada por um nível alterado de consciência, desatenção e desorganização do pensamento (Ely et al., 2004). Na Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento CID-10 (1993), o delirium é definido por “perturbações simultâneas de consciência e atenção, percepção, pensamento, memória, comportamento psicomotor, emoção e ciclo sono-vigília.” (p. 57).

São considerados os seguintes critérios para o diagnóstico do delirium, segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 4.ª edição (DSM-IV, 2002): perturbação da consciência, alteração na cognição, desorientação, perturbação da linguagem ou desenvolvimento de perturbação da percepção, que não seja explicada por demência pré-existente, estabelecida ou em evolução. Além disso, considera-se que a perturbação desenvolva-se ao longo de curto período de tempo (de horas a dias), com flutuações no decorrer do dia. Observa-se, também, as evidências, a partir da história, exame físico ou achados laboratoriais, de que a perturbação possa ser causada por consequências fisiológicas diretas de uma condição médica geral.

É consenso na literatura que o delirium é altamente prevalente e sua ocorrência está associada com elevada morbidade, mortalidade, prolongamento da internação, piora na reabilitação e aumento dos custos (Ely et al., 2004; Lin et al., 2004; Vreeswijk et al., 2009).  Ao analisar a relação entre o delirium e a mortalidade em pacientes internados em UTI, verificou-se que o distúrbio é um preditor independente para a mortalidade em pacientes em ventilação mecânica.  As taxas de mortalidade verificadas em pacientes que desenvolveram delirium variaram de 19% a 63,6% e, naqueles que não o apresentaram, de 6% a 32,5% (Lin et al., 2004).

Ao avaliar o custo hospitalar em pacientes que desenvolveram delirium, Milbrandt et al. (2004) verificou que aqueles pacientes que manifestaram ao menos um episódio do problemaapresentaram maiores gastos hospitalares. Além disso, conforme o autor, os custos em UTI foram 39% maiores em relação àqueles pacientes que não apresentaram o quadro.

Apesar da evidência da importância da identificação e tratamento de delirium, este é um problema ainda negligenciado na maior parte das UTIs. Em uma pesquisa norte-americana envolvendo 912 profissionais da saúde (médicos, enfermeiros, farmacêuticos e outros) acerca da importância do diagnóstico e manejo do delirium em UTI, 92% destes consideraram-no como um problema significativo e muito grave. Apesar disto, 78% admitiram não diagnosticar adequadamente o quadro. Dentre os 40% que relataram avaliar rotineiramente o delirium, 67% realizavam a avaliação diariamente, mas somente 16% afirmaram usar uma ferramenta específica para a avaliação. As complicações mais graves observadas por esses profissionais indicam o prolongamento da ventilação mecânica, autolesão e dificuldades respiratórias. Os entrevistados indicaram o uso de medicações como tratamento usual, sendo o Haloperidol mencionado por 66% dos profissionais. O estudo aponta a discrepância entre a importância percebida do delirium pelos profissionais da saúde e as práticas atuais de diagnóstico, acompanhamento e tratamento (Ely et al., 2004).

Observada a relevância do tema, questiona-se a forma pela qual os profissionais da área da saúde estão trabalhando com a avaliação do delirium. Para isso, buscou-se, através de uma revisão sistemática da literatura em base de dados on-line, identificar quais instrumentos estão sendo utilizados para avaliação do delirium, descrevê-los brevemente, bem como investigar quais os profissionais que estão envolvidos no diagnóstico do quadro.

 

MÉTODO

Esta revisão sistemática da literatura foi realizada através de buscas nos bancos de dados on-line da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), do PsycINFO, do Scopus e do Pubmed. Foram selecionados artigos em língua inglesa, portuguesa e espanhola, derivados de estudos realizados com seres humanos adultos, com data de publicação compreendida entre janeiro de 2007 a outubro de 2013, que possuíam no título, resumo ou corpo do artigo relação com o objetivo da pesquisa. Foram excluídos os artigos repetidos entre as bases e os que não possuíam disponíveis livremente o resumo ou texto completo, os estudos de pediatria, estudos de validação de instrumentos em país que não o de origem do estudo, além de estudos de revisão, relatos de caso, cartas ao editor e opiniões de especialistas, conforme os critérios para a elaboração de revisões sistemáticas (Higgins & Green, 2011).

Para a seleção dos estudos, foram utilizados os seguintes descritores: Delirium; diagnóstico/diagnosis, avaliação/evaluation e “unidades de terapia intensiva/intensive care units”. Os descritores foram gerados de acordo com as listas DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) e MeSH (Medical Subject Headings).

 

RESULTADOS

A pesquisa realizada de acordo com os critérios anteriormente citados gerou um total de 787 estudos, sendo 6 no PsycInfo, 116 na BVS, 291 na Scopus, e 374 no Pubmed. Após a análise dos títulos e resumos dos artigos a partir dos critérios de seleção adotados, foram selecionados 61 estudos. Dos estudos selecionados, excluiu-se 22 artigos, pois estavam em mais de uma base de dados, restando 39 artigos para a análise do texto completo. A partir da leitura destes e da exclusão daqueles que não estavam disponíveis na íntegra, foram selecionados 32 estudos para análise. O número de participantes nos estudos da amostra final de artigos variou entre 35 e 3056 pessoas.

 

 

Conforme pode ser observado na Tabela 1, a partir dos 32 estudos selecionados, nota-se que o maior número de artigos publicados no período investigado ocorreu no ano de 2010, com oito (25%) artigos. Os artigos selecionados são resultados de estudos empíricos desenvolvidos em 14 diferentes países (Tabela 2), sendo 34,4% nos Estados Unidos, seguidos de 15,7% na Holanda. Apenas um estudo foi desenvolvido no Brasil.

 

 

Dos 32 estudos avaliados, 25 (78,1%) citaram o Confusion Assessment Method for Intensive Care Units (CAM-ICU) (Ely et al., 2001) como ferramenta de avaliação do delirium ao paciente crítico, seguido do Intensive Care Delirium Screening Checklist (ICDSC) (Bergeron, Dubois, Dumont, Dial & Skrobik, 2001), este último citado em oito (25%) artigos. Também foram citadas em menor frequência as seguintes ferramentas para avaliação: The Neelon and Champagne Confusion Scale (NEECHAM) (6,25%) (Immers, Schuurmans & Bijl, 2005), New Delirium Rating Scale (NDRS) (3,1%) (Aydemir et al., 1998), Delirium Rate Scale Revised 98 version (DSR-R-98) (6,25%) (Trzepacz, Baker & Greenhouse, 1998), Nurse Delirium Screening Scale (Nu-Desc) (3,1%) (Gaudreau, Gagnon, Harel, Tremblay & Roy, 2005) e Delirium Detection Score (DDS) (3,1%) (Otter et al., 2005). Salienta-se que um mesmo estudo citou mais de um instrumento.

Os autores dos 32 estudos investigados citaram como avaliadores do delirium os seguintes profissionais: enfermeiros, médicos (intensivistas, psiquiatras, neurologistas, cirurgião e geriatras) e farmacêuticos (Tabela 3). Observa-se que a maior parte dos estudos indica que as avaliações foram realizadas por médicos e enfermeiros (Zaal et al., 2013; Vasilevskis et al., 2011).

 

 

Das características das sete escalas de avaliação (Tabela 3) capazes de identificar os sintomas de delirium são descritas brevemente a seguir:

1 Confusion Assessment Method for Intensive Care Units (CAM-ICU)

Inouye et al., em 1991, desenvolveram o CAMpara avaliar odelirium na população idosa fora da UTI. Após dez anos, Ely et al. (2001) realizaram um estudo para avaliar a eficácia do CAM, adaptado para pacientes incapazes de expressão verbal admitidos em uma UTI clínica. No mesmo ano, os autores validaram, então, o método CAM-ICU para pacientes em ventilação mecânica. O instrumento pode ser utilizado por médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde, com tempo de aplicação de 2-3 minutos (Ely et al., 2001). Este método possui tradução e validação para uso na população brasileira (Gusmão-Flores et al., 2011).

2 Intensive Care Delirium Screening Checklist (ICDSC)

É uma escala desenvolvida por Bergeron et al. (2001) que consiste na observação de oito variáveis e uma comparação com a avaliação do dia anterior, possuindo um tempo de aplicação de 1-2 minutos. É possível identificar em níveis crescentes do ICDSC a gravidade do delirium. O ICDSC possui adaptação para o português e validação para o uso no Brasil (Gusmão-Flores et al., 2011).

3 The Neelon and Champagne Confusion Scale (NEECHAM)

É um instrumento diagnóstico criado para enfermeiros avaliarem o delirium diariamente, validada para pacientes em UTI e em ventilação mecânica. Possui 97,2% de sensibilidade e 82,8% de especificidade e um tempo de aplicação de 3-4 minutos (Immers et al., 2005).

4 The New Delirium Rating Scale (NDRS)

É uma ferramenta desenvolvida por Aydemir et al. (1998) para ser utilizada por médicos em UTIs. O NRDS faz uso de uma avaliação verbal para detectar as características fundamentais de delirium como o início agudo ou flutuante, desatenção, desorganização do pensando e alteração do nível de consciência. O NDRS possui um tempo de aplicação de 3-4 minutos e pode também medir a gravidade de delirium.

5 Delirium Rating Scale-Revised-98 (DRS-R-98)

Consiste em uma escala de 16 itens, sendo que cada item recebe uma pontuação de 0 a 2 ou de 0 a 3 pontos e, quanto maior a pontuação final, maior a gravidade do quadro. Uma das dificuldades dessa escala é sua complexidade, necessitando uso por profissionais treinados e capacitados (Trzepacz et al., 1998). A DRS-98-R possui validação para o português por de Negreiros et al. (2008). A literatura consultada não informa o tempo de aplicação do instrumento.

6 Nurse Delirium Screening Scale (Nu-Desc)

É uma escala de cinco itens que compreende os sintomas de desorientação, comunicação inadequada, comportamento impróprio, ilusões/alucinações e retardo psicomotor, considerando a condição médica do paciente. Esta escala apresenta uma sensibilidade de 82% e uma especificidade de 83% para pacientes em UTI (Gaudreau et al., 2005). Os estudos consultados não informam o tempo de aplicação da escala.

7 Delirium Detection Score (DDS)

Escala que possibilita a médicos a avaliação do delirium considerando oito itens (orientação, alucinação, agitação, ansiedade, convulsões, tremores, sudorese e alteração do ciclo sono vigília), cabendo a cada um deles uma classificação de 0, 1, 4 ou 7 pontos. Trata-se de uma escala útil para avaliar o grau do delirium e guiar o tratamento, possuindo sensibilidade 69% e  especificidade de 75%, com tempo de aplicação de 3-4 minutos (Otter et al., 2005).

 

DISCUSSÃO

O objetivo geral deste estudo foi o de identificar os instrumentos que vêm sendo utilizados na avaliação do delirium em UTI. Evidencia-se que este quadro consiste em uma condição clínica de alta prevalência em pacientes críticos, porém ainda pouco diagnosticada pelos profissionais de saúde (Ely et al., 2004).

Através da presente revisão sistemática, foram identificadas sete escalas utilizadas para identificar e avaliar pacientes com delirium na UTI. Das sete escalas citadas, três foram validades e traduzidas para o português. Com a capacitação prévia dos profissionais para utilizá-las, a maior parte das escalas mostra grande capacidade diagnóstica (Devlin et al., 2007; Gusmão-Flores et al., 2011 & Luetz et al., 2010).

Cada vez é maior a presença da equipe multiprofissional no ambiente hospitalar, sendo a UTI um espaço crescente para a atuação de profissionais de diferentes áreas devido às peculiaridades que ali se manifestam. De acordo com a RDC Nº 7, além das equipes médicas, de enfermagem e de fisioterapia, as UTIs devem manter, por meios próprios ou terceirizados, serviços à beira do leito de assistência nutricional, farmacêutica, fonoaudiológica, psicológica, odontológica, assistência social e de terapia ocupacional (Brasil, 2010).

Considerando isto, observa-se que o CAM-ICU é o instrumento que melhor atende à necessidade de instrumentalização das equipes multidisciplinares, uma vez que foi construído para ser utilizado tanto por médicos e enfermeiros, quanto por outros profissionais de saúde.  Além disto, esta ferramenta caracteriza-se por ser de fácil administração, ter alta sensibilidade e especificidade, não necessitar de treinamentos complexos para utilizá-lo e por serem necessários menos de cinco minutos para sua aplicação (Ely et al., 2001). Entende-se que a observação a estes fatores possa ter contribuído para que o CAM-ICU fosse a ferramenta mais citada como instrumento de avaliação nos estudos analisados.

Identificou-se apenas um estudo desenvolvido no Brasil (Fagundes et al., 2012), sugerindo que a avaliação do delirium seja pouco abordada em nossas UTIs ou que a evidência científica da prática clínica não está sendo produzida na proporção da ocorrência do problema. Salienta-se, portanto, não somente a importância da realização de pesquisas sobre o tema, mas que a avaliação do delirium seja considerada uma prática de rotina nas UTIs do Brasil.

A maior parte dos estudos indicou que a avaliação do delirium é realizada por médicos e enfermeiros (Zaal et al., 2013; Vasilevskis et al., 2011). Além disso, observa-se que nenhum estudo citou a atuação do psicólogo na avaliação do quadro, sugerindo que, apesar da garantia da atuação do psicólogo na UTI pela RDC Nº 7, este espaço precisa ser melhor explorado pelos profissionais da área. Gusmão (2012) afirma que o psicólogo nestes espaços, além da inegável presença na garantia de humanização da assistência, precisa estar atento ao seu caráter de prevenção e atenção em saúde mental que o seu fazer preconiza.

A atuação em UTIs possui peculiaridades, sendo necessário ao psicólogo que atua neste ambiente possuir habilidades pessoais e profissionais que lhe permitam interagir com as pessoas em condições especiais, diferentes daquelas comumente encontradas em outros campos profissionais. Da mesma forma, ele deve integrar os conhecimentos que transcendem os da sua própria disciplina em suas habilidades profissionais, a fim de complementar as suas explicações com o conhecimento que vem das ciências biomédicas e outras ciências sociais (Gusmão, 2012).

Anteriormente à RDC Nº 7, a Portaria Ministerial nº 1071, de 04 de julho de 2005, já previa a obrigatoriedade de um psicólogo disponível nas UTIs (Brasil, 2005). Questiona-se a qualidade da assistência e dos atendimentos psicológicos transpostos à UTI, muitas vezes descontextualizados com as necessidades do paciente crítico. O atendimento psicológico precisa estar adaptado a este contexto diferenciado dentro do ambiente hospitalar, atentando para a melhoria constante da assistência prestada, assim como para que se possa produzir evidência científica das práticas ali desenvolvidas (Gusmão, 2012).

A literatura analisada também destaca a importância de se adotar medidas não-farmacológicas para o tratamento do delirium, evidenciando novamente a importância do olhar multidisciplinar do trabalho em UTI. As principais medidas incluem a flexibilização do horário de visitas para permitir maior interação com familiares, o uso de relógios e calendários no ambiente para permitir uma maior orientação de tempo, a redução de ruídos e iluminação noturna com o objetivo de aumentar o conforto do paciente, além da prioridade de se manter uma comunicação clara (Pessoa & Nacul, 2006).

Através desta revisão, entende-se que a implantação de rotinas no diagnóstico de delirium utilizando-se escalas padronizadas para pacientes críticos é recomendada para a garantia de melhores desfechos durante internação na UTI. O diagnóstico e avaliação do delirium devem fazer parte do conhecimento e competência dos membros da equipe assistencial de saúde (Ely et al., 2004).

 

CONCLUSÃO

É consenso na literatura que o delirium é altamente prevalente e sua ocorrência está associada com elevada morbidade, mortalidade, prolongamento da internação, dificulta a reabilitação e aumento dos custos, sendo imprescindível a sua avaliação na UTI (Lin et al., 2004). Foram identificadas na pesquisa sete escalas validadas para a avaliação e médicos e enfermeiros foram os profissionais que mais se utilizam desses instrumentos (Aydemir et al., 1998; Bergeron et al., 2001; Ely et al., 2001; Gaudreau et al., 2005; Immers et al., 2005; Otter et al., 2005;  Trzepacz et al., 1998).

O CAM-ICU foi a ferramenta mais citada nos estudos, possuindo alta sensibilidade e especificidade, além de ser um instrumento com validação para a língua portuguesa e permitir o uso por qualquer profissional da saúde (Ely et al., 2001).  Estudos sobre o tema possibilitam um maior aprofundamento para a avaliação do fenômeno, auxiliando na qualidade da assistência prestada, bem como trazem subsídios para novas pesquisas.

 

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Endereço para correspondência
E-mail: silvanasph@yahoo.com.br

 

 

1Psicóloga Assistencial da Associação Hospitalar Moinhos de Vento, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Reabilitação da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Brasil.
2Pós-Doutora em Psicologia (UFRGS). Professora Adjunta do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Brasil.

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