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Psicologia USP

versão On-line ISSN 1678-5177

Psicol. USP v.1 n.2 supl.2 São Paulo dez. 1990

 

RESENHA

 

 

Geraldina Porto Witter

Departamento de Psicologia da Aprendizagem, do Desenvolvimento e da Personalidade — Instituto de Psicologia — USP
Pontifícia Universidade Católica de Campinas — PUCCAMP

 

 

Reading comprehension instruction 1783-1987: a review of trends and research, por H. Alain Robinson, Vincent Faraone, Daniel Hittleman e Elizabeth Unruk. Newark International Reading Association, 1990.202 p.

Dispor de um referencial histórico sempre auxilia o conhecimento do que ocorre em um dado campo do saber. Também propicia ao pesquisador situar-se na linha do tempo em termos de tendências, temática e outros aspectos norteadores do esforço de busca de respostas. No que diz respeito ao ensino é relevante para que o hoje não se desvincule de seu contexto histórico e sócio-cultural. Nestas circunstâncias, uma obra como a aqui resenhada acaba por ser imprescindível para todos os que trabalham com leitura. Esta afirmação é válida mesmo para os que estão no terceiro mundo, predominantemente importador de conhecimento científico, posto que, o livro em tela, embora enfoque o que ocorreu nos EUA, refere-se ao país onde mais se pesquisou e se pesquisa sobre leitura, com reflexos no resto do mundo.

Venezky (University of Delaware) lembra, na abertura do livro, que a obra se situa em um estágio de desenvolvimento do conhecimento da leitura, que já tornou possível ver os trabalhos anteriores dentro do contexto de seu próprio tempo e aquilatar os do presente com mais objetividade, tendo aqueles como referencial. Com muita precisão diz que os autores conseguiram mostrar quanto se progrediu em conhecimentos sobre compreensão em leitura ao longo dos anos, mas, que,

o desenvolvimento de delineamentos experimentais adequados progrediu de forma relativamente mais lenta do que os de outras ciências sociais, e que ainda tendemos (particularmente em artigos de periódicos) a fornecer muito poucos dados para tornar a réplica possível e a prestar pouca atenção a trabalhos correlatos anteriores, especialmente os publicados antes de 1966, quando teve início o serviço ERIC (p. iv.).

No prefácio, assinado por Jill Figgerald, em rápidas pinceladas se tem a origem dos trabalhos que permitiram a produção do livro. Os autores são docentes de universidades dos EUA que pesquisam a leitura. Faraone da Long Island University, Hittleman da City University of New York, Robinson e Unruh da Hofstra University.

Na introdução apontam, na literatura, a solicitação de estudos sobre a integração pesquisa-ensino (instrução) de leitura e a necessidade de resgatar estes aspectos de um prisma histórico. Apresentam a estrutura dada ao livro e informam que implícitos em Instrução para Compreensão de Leitura, estão 27 itens distintivos. Estes vão desde o ensinar o som das letras, passando pelas questões de avaliação e administração, até às estratégias mais sofisticadas de aprendizagem e desenvolvimento deste aspecto da leitura.

O capítulo 2 enfoca o período que vai de 1783 até 1910, período em que, antes da criança aprender a decodificar, não se começa a trabalhar o significado; considerava-se que o texto compreensível era o decodificável pela criança; valorizava-se a decodificação para a aprendizagem de vocabulário básico; o dicionário era peça relevante no ensino; as técnicas de memorização eram vistas como facilitadoras da aquisição do significado; o estudo era de responsabilidade do aluno e do monitor (aluno mais velho); a linguagem oral e escrita eram medidas de compreensão do texto. Vários modelos de leitura e de ensino coexistiram neste período.

O terceiro capítulo trata do período que vai de 1910 até 1987, e compreende a análise de textos e materiais de ensino. Após a descrição da metodologia, usada na busca e organização dos dados, aparece um referencial histórico para facilitar a compreensão dos dados. Em termos de metodologia de pesquisa houve algum progresso, especialmente a partir dos anos setenta. Em termos de metodologia e de exercícios, houve um grande enriquecimento, em termos de procedimentos e de produção e análise dos materiais didáticos. Hoje, há ênfase na análise de estrutura de texto, na auto-direção do ensino, na aprendizagem de estratégias para leitura.

O último capítulo apresenta, além das conclusões, as sugestões dos autores. Em termos de tendências, as mudanças mais marcantes ocorreram no começo do século. Progressivamente, passou-se do controle externo para o controle interno, da repetição e da memorização (do o que?) para a análise (o como? e o por que?), de sub-habilidades para o comportamento de ler, visto como um todo; do ensino dirigido para a prática supervisionada independente e individual. Os resultados das pesquisas parecem promissores. A elaboração de resumos tem sido recuperada como uma técnica promissora para a compreensão. Os conhecimentos anteriores são relevantes mas o papel desta variável precisa ser melhor estudado. A estrutura do texto vem sendo muito pesquisada. O uso de monitoração também tem merecido atenção. Os autores concluem que as perspectivas são promissoras mas há um hiato entre a produção de saber e seu uso nas classes. Esta defasagem pode ser reduzida ampliando-se a atuação de professores-pesquisadores. É mister preparar os professores para este papel.

Dois apêndices, um, sobre relatos de pesquisa, e outro, sobre revisões de literatura, enriquecem o trabalho, oferecendo uma colaboração útil aos que trabalham na área.