EDITORIAL

Os números temáticos da Revista Psicologia USP, na escolha de seus artigos, procuraram manter o equilíbrio entre as diferentes vozes que compõem a Psicologia contemporânea, sem querer eliminar as tensões criativas entre elas ou privilegiar umas sobre as outras. Abriram-se, também, para as outras áreas das ciências humanas e biológicas, da Fisiologia à Filosofia. Desse modo acreditamos estar oferecendo à Psicologia, tão necessitada de bons periódicos no Brasil, ocasião de preencher o espaço da singularidade que lhe cabe no conjunto das ciências, na encruzilhada entre o cultural e o biológico, o social e o individual. Na tentativa de explorar os símbolos de nossa condição, como a Memória e a Alteridade, não deixamos de chegar, também, aos confins do mundo animal, nossos companheiros de jornada na Terra. Neste número temos o orgulho de prestar homenagem ao colega Walter Hugo de Andrade Cunha, pioneiro dos estudos de Psicologia Animal e de Etologia, no Brasil e no Instituto de Psicologia. Orgulho, porque nem sempre nos é dado homenagear uma pessoa em vida, mostrando a dimensão que seu trabalho adquiriu entre nós e expressando a dívida que temos para com ela. Orgulho, também, porque o Instituto apoderou-se da Etologia e a expandiu exemplarmente. A disciplina exigida pela Etologia ensina muitas virtudes ao pesquisador, como a paciência e a humildade. Através do estudo dos animais, aproximamo-nos da universalidade de manifestações da Vida e da pluralidade, quase infinita, de respostas que a natureza oferece aos desafios da sobrevivência. Nada convém mais ao pesquisador, na Psicologia, que essas virtudes: compreendermos o enorme esforço necessário para não injustiçar o microcosmos, que chamamos Homem, e a prudência, sempre necessária, para não isolá-lo, com soberba, no centro do universo.