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Revista Brasileira de Orientação Profissional

versão On-line ISSN 1984-7270

Rev. bras. orientac. prof v.5 n.1 São Paulo jun. 2004

 

EDITORIAL

 

 

O presente volume da Revista Brasileira de Orientação Profissional é fruto do trabalho continuado de pesquisadores, autores dos artigos publicados, assim como da equipe de conselheiros e assessores ad hoc unidos na trajetória de compromisso com a produção e divulgação do conhecimento.

O processo editorial pelo qual cada manuscrito é submetido consiste de várias etapas e depende, sobretudo, da colaboração de diversos pesquisadores. Desta forma, o Conselho Editorial objetiva contribuir com o avanço na divulgação dos resultados das pesquisas e das práticas nesse domínio e em suas interfaces com outras áreas do conhecimento científico. No contexto da Educação e do Trabalho competências são requeridas de todos os profissionais, entre elas: realizar pesquisas, interpretar dados e compartilhar com seus pares a produção do conhecimento. Cumpre destacar que o conhecimento é sempre inacabado e é nessa incessante busca que profissionais e pesquisadores brasileiros se agregam na tarefa coletiva de organização da Revista Brasileira de Orientação Profissional, editada pela Associação Brasileira de Orientadores Profissionais (ABOP), sediada atualmente na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em parceria com a Vetor Editora Psico-Pedagógica, de São Paulo e a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP/USP).

O desafio dos trabalhadores das mais diversas carreiras torna-se cada vez maior considerando-se a complexidade das metamorfoses no mundo do trabalho que se reflete no cotidiano dos profissionais que se dedicam à Orientação Profissional, à Educação Profissional e ao Desenvolvimento da Carreira. A International Association for Educational and Vocacional Guidance (IAEVG/AIOSP) aprovou algumas recomendações que servem como parâmetros internacionais de competências requeridas para a oferta de Programas e Serviços de Orientação. Assim, chegou-se a dois conjuntos de competências: centrais e especializadas. O resultado desse trabalho foi considerado pela Comissão Editorial de extrema relevância e, objetivando sua ampla divulgação em nosso país, optou-se por publicar a versão traduzida para o português como o primeiro artigo deste número. O referido estudo realizado por Elvira Repetto Talavera, Beatriz Malik Liévano, Nuria Manzano Soto e Paula Ferrer-Sama, da Espanha, e Bryan Hiebert, do Canadá, é fruto da colaboração de diferentes pesquisadores oriundos de vários países e continentes. Assim, disponibilizamos ao leitor um estudo internacional que poderá auxiliar os profissionais, os professores e os pesquisadores brasileiros na definição de conteúdos programáticos para cursos de formação e pós-graduação.

O artigo de Marcos Alencar Abaide Balbinotti, Daniela Wiethaeuper e Marcus Levi Lopes Barbosa descreve um estudo sobre a cristalização da preferência profissional em adolescentes oriundos de escolas públicas e particulares, objetivando verificar se existem diferenças entre as variáveis estudadas. O artigo é importante no sentido de fornecer indicadores para a implementação de programas para jovens do Ensino Médio e para a realização de outras investigações.

Chyntia Borges de Moura e Mirtes Viviani Menezes contribuem com um estudo que focaliza a reopção profissional, tema cada vez mais atual, e que preocupa os educadores e orientadores profissionais, conhecedores dos elevados índices de evasão no Ensino Superior. Os autores analisam variáveis presentes na condição de insatisfação com a opção realizada em grupos de estudantes universitários. Os achados podem contribuir para o delineamento de programas destinados a pessoas em processos de re-escolha da carreira, uma vez que a Orientação Profissional e Educacional destinada a universitários é uma necessidade premente em nosso país, visando o desenvolvimento de competências e habilidades necessárias para o enfrentamento de situações complexas em um cenário mundial de velozes mutações.

Tomar decisões sobre carreira consiste em uma difícil tarefa evolutiva e tais decisões podem e devem ser tomadas em diversos momentos da trajetória profissional. Se a insatisfação com o curso pode levar à evasão cabe, também, investigarmos o que está acontecendo com os egressos das carreiras universitárias.

O quarto artigo, da autoria de Marco Antônio Pereira Teixeira e William Barbosa Gomes contribui nesta direção. Um estudo fenomenológico é apresentado enfocando a transição universidade-mercado de trabalho na percepção de alguns graduandos em final de curso. As expectativas dos graduandos são otimistas e associados à crença na qualificação e na capacidade profissional. Os autores destacam a necessidade de maior preparação dos futuros trabalhadores para a transição. O referido estudo é útil nesse momento histórico, uma vez que novas diretrizes curriculares estão em pauta no cenário da educação superior brasileira e as reflexões sobre competências dos profissionais estão presentes em diversos Congressos Internacionais e nacionais no âmbito da Orientação, Educação e Psicologia.

Considerando a carreira como a combinação e seqüência de papéis desempenhados durante o curso da vida, o artigo seguinte, de autoria de Alexandre Collares Baiocchi e Mauro Magalhães, trata de profissionais já inseridos no mercado de trabalho. Este estudo verificou se o entrincheiramento (custos emocionais, investimentos de carreira e percepção de alternativas) e o comprometimento com a carreira (identidade, planejamento e resiliência) diferenciam-se na sua relação com a motivação vital, examinando possibilidades de correlação entre estas variáveis. Novas pesquisas foram recomendadas pelos autores.

Outros estudos publicados no presente número abordam temáticas novas no campo da Orientação Profissional no Brasil, ou seja, a atenção a populações específicas, o que requer o desenvolvimento de competências especializadas e em interface com distintos cenários: da Educação Infantil, da Psicologia do Desenvolvimento, da Educação Profissional e da Psicologia Social, nesse caso no contexto de intervenção com jovens em situação de ato infracional.

O primeiro deles, de Juliana Campregher Pasqualini e Norma de Fátima Garbulho, trata de um relato de experiência com crianças em idade pré-escolar. A perspectiva sócio-histórica utilizada permite pensar a relação homem-trabalho desde a tenra idade, uma vez que, na infância, é por meio da atividade brincar que a criança apreende os papéis, as funções sociais e as atividades do mundo produtivo. O estudo contribui como iniciativa para definir o desenvolvimento vocacional como parte integrante de currículos no Sistema Educativo. Considerando os conteúdos afins no campo da Educação e Trabalho, centrar-se no desenvolvimento vocacional na infância pode contribuir para valorizar a qualificação profissional, a formação ao longo da vida e assim como prevenir o abandono escolar precoce.

O artigo seguinte, de Marília Mastrocolla de Almeida e Rosalina Carvalho da Silva, apresenta um estudo sobre estratégias de sobrevivência de jovens envolvidos em atos infracionais internados em uma instituição estatal cumprindo medida sócio-educativa, prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Os dados são úteis para contribuir com a definição de políticas públicas de educação e necessidades de Educação e Orientação Profissional específica para essa população, tendo em vista a perspectiva de construção de projetos de vida que visem à inserção social e à promoção da saúde. Conhecer e descrever a realidade exige clareza na definição de objetivos e métodos para a implementação de programas e serviços em Educação, Orientação, Informação Profissional e desenvolvimento de Carreira.

Implementar programas requer também a avaliação continuada dos inputs, processos e outputs. É preciso atentar para as diferenças culturais dos grupos de clientes, ter familiaridade com as informações relevantes sobre questões sociais, educacionais e de mercado de trabalho, mas principalmente, conhecer as teorias de escolha profissional – suas vantagens e limitações – e a adequação das mesmas na implementação e avaliação de programas e serviços.

Assim, algumas contribuições teóricas são fornecidas em outros trabalhos. Corroboramos Bohoslavsky na afirmação “nada mais prático que uma boa teoria”. A intervenção de qualidade precisa de sólidos pressupostos teóricos que norteiem as decisões sobre estratégias e técnicas a serem utilizadas que sirvam de parâmetro e, ao mesmo tempo, não limitem a capacidade do profissional em reconhecer as contribuições de diferentes referenciais teórico-metodológicos utilizados em processos de avaliação e intervenção educacional e vocacional.

O artigo, de Cristiane Piloto Cirne, Sara Feldman e Gisele Sestren, é de natureza teórica e visa articular as contribuições da abordagem gestáltica para intervenções no campo da Orientação Profissional, na perspectiva de compreensão do ser humano, como um todo indissociado de suas partes, contrapondo-se a referenciais teóricos derivados de modelos psicodinâmicos e psicométricos tradicionais.

Na seqüência, Priscilla Lourenço Pinheiro e José Gonçalves Medeiros apresentam uma resenha do livro “Orientação Profissional sob o enfoque da análise do comportamento” de Cynthia Borges de Moura, no qual a autora avalia a situação de escolha profissional em três contextos de contingências: pessoais, profissionais e de tomada de decisão. Os autores apresentam a proposta e discutem a publicação apontando os avanços.

Cumpre destacar que a linha editorial adotada respeita e estimula a diversidade de referenciais teórico-metodológicos na crença de que o debate contribui com o avanço científico, que por sua vez refletirá na oferta de serviços qualificados. Se critérios de competência estão em debate em todas as profissões o mesmo vale para a ocupação de orientador educacional e profissional.

O Conselho Editorial espera que este número seja recebido com entusiasmo pelos leitores e colaboradores ávidos pela produção e divulgação do conhecimento entre os pares. Acreditamos que estas contribuições possam encorajar muitos de vocês a submeter manuscritos para publicação e assim compartilhar seus achados.

Desejamos uma boa leitura!

 

 

Lucy Leal Melo-Silva

Editora

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