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Revista Brasileira de Orientação Profissional

versão On-line ISSN 1984-7270

Rev. bras. orientac. prof v.5 n.1 São Paulo jun. 2004

 

ARTIGOS

 

 

Níveis de cristalização de preferências profissionais em alunos de ensino médio

 

Levels of crystallization of professional preferences in high school students

 

Niveles de cristalización de preferencias profesionales en alumnos de enseñanza media

 

 

Marcos Alencar Abaide Balbinotti* 1; Daniela Wiethaeuper**; Marcus Levi Lopes Barbosa***

Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo

 

 


RESUMO

A cristalização de uma preferência profissional é entendida como uma das etapas do desenvolvimento de carreira. Pertence ao momento no qual o adolescente se engaja na conquista de sua identidade tendo como uma das tarefas desta fase, a formulação de idéias em relação ao campo e ao nível de atividades profissionais que lhe são convenientes. Esta pesquisa tem por objetivo verificar se existem diferenças nos níveis de cristalização segundo o sexo, a idade, o ano de instrução no ensino médio e, finalmente, o tipo de escola (se pública ou privada). Para tanto, uma amostra de 860 estudantes de ambos os sexos e com idades variando de 14 a 18 anos, do ensino médio, das redes pública e privada, foi convidada a responder a Escala de Avaliação Vocacional (EAV). Os resultados indicam existir apenas diferença significativa na variável tipo de escola. Uma das principais conclusões é que o jovem da rede pública poderá se ver forçado (por problemas de ordem financeira) a aceitar as oportunidades que aparecem, sem uma maior reflexão quanto a seus gostos e preferências no mundo do trabalho.

Palavras-chave: Cristalização, Adolescência, Desenvolvimento de Carreira.


ABSTRACT

Crystallization of a professional preference is considered to be one of the developmental career stages, in which adolescents search for their own identity considering the field and types of activities that best suit them. This research aims at exploring crystallization levels considering sex, age, high school term, and school (public or private). A sample of 860 high school students of both sexes, with ages ranging from 14 to 18 years, from both public and private schools, were invited to answer the Vocational Rating Scale (VRS). Results indicate a significant difference on the variable “school type”. One of the conclusions is that the adolescents from public schools may be compelled (as a result of an unfavorable financial situation) to accept the first job opportunities offered them, without much reflection about their preferences regarding the work field.

Keywords: Crystallization, Adolescence, Career Development.


RESUMEN

La cristalización de una preferencia profesional es entendida como una de las etapas del desarrollo profesional. Es propia de los adolescentes en la búsqueda de su identidad, la elaboración de ideas relacionadas con tipo y nivel de actividades profesionales de acuerdo con sus personalidades. Esta investigación tiene la finalidad de verificar si existen diferencias en los niveles de cristalización según el sexo, la edad, los anos de instrucción en la enseñanza media y, finalmente, el tipo de escuela (pública o privada). Estudiamos resultados con una muestra de 860 estudiantes varones y mujeres de 14 a 18 años de edad, de enseñanza media, de escuelas públicas y particulares, los cuales respondieron a la “Escala de Avaliação Vocacional” (EAV). Los resultados obtenidos indican una sola diferencia significativa entre las 4 variables: tipo de escuela. Una de las principales conclusiones es la de que los alumnos de las escuelas publicas pueden verse forzados (por problemas de orden financiero) a aceptar las oportunidades que aparecen sin detenerse a pensar en sus gustos y preferencias en el mundo del trabajo.

Palabras clave: Cristalización, Adolescencia, Desarrollo de la carrera.


 

 

Esta pesquisa tem por objetivo explorar, a partir de dados colhidos na realidade brasileira, se existem diferenças nos níveis de cristalização de preferências profissionais segundo o sexo, a idade, o ano de instrução no ensino médio e, finalmente, o tipo de escola (se pública ou privada). Para melhor responder a este objetivo apresentamse, inicialmente, aspectos referentes ao plano teórico relativo à cristalização e, posteriormente, os aspectos referentes ao plano empírico também relativo a este mesmo conceito, mas apresentando alguns resultados importantes de pesquisa onde, de certa forma, já foram exploradas estas relações. Finalmente, após a apresentação dos procedimentos metodológicos (com sujeitos e instrumentos), serão apresentados os resultados conforme os princípios métricos norteadores comumente aceitos na literatura especializada. As conclusões terão origem neste processo.

Cristalização no plano teórico

No plano teórico (Super, 1963), a cristalização de uma preferência profissional é uma das etapas do desenvolvimento de carreira pertencentes a um período etário de vida específico: entre 14 e 18 anos, basicamente. Pertence ao momento de vida onde o adolescente se engaja na conquista de sua própria identidade (Erikson, 1968), formulando idéias em relação ao campo e ao nível de atividades profissionais que lhe são mais convenientes (Super, 1969). Neste processo de conquista, ou momento, o autoconceito tem importância capital. Mesmo que suas preferências, neste período de vida, sejam ainda vagas e exploratórias, espera-se que essas sirvam de base (ao menos sob a forma de uma preferência geral) para que os adolescentes já façam algumas escolhas (mesmo que provisórias), notadamente: inscrever-se em um programa de estudos que poderá lhes servir de preparação a uma futura escolha profissional mais específica e estável.

Com o objetivo de esclarecer o sentido da proposição segundo a qual “o processo de desenvolvimento de carreira é essencialmente um processo de desenvolvimento e realização do autoconceito” (Super, 1957, p. 196), Super (1963) desenvolveu uma taxonomia dos diferentes aspectos da teoria do autoconceito onde fez uma distinção entre, por um lado, os conceitos ou atributos do eu (pontualidade, flexibilidade, entre outros), ou seja, as dimensões do autoconceito e, por outro lado, as características próprias destas dimensões, ou seja, as metadimensões do autoconceito, que permitem descrever as qualidades do autoconceito. Duas das sete metadimensões desta taxonomia, a “Clareza” e a “Certeza” (sendo as outras: auto-estima, estabilidade, abstração, refinamento e realismo), são habitualmente concebidas como sendo elementos fundamentais do estado de cristalização do autoconceito e das preferências profissionais (Barrett & Tinsley, 1977a, 1977b; Jordaan & Heyde, 1979; Tinsley, Bowman, & York, 1989). A Certeza se caracteriza pelo sentimento de convicção que o indivíduo tem dele mesmo: ser um tipo de pessoa e não ser outro tipo. Já a Clareza do autoconceito pode ser explicada utilizando-se uma metáfora; ela (a Clareza) se manifesta como um relevo claro e definido de uma figura sobre um fundo indefinido, estando, portanto, em oposição a uma figura nebulosa, que corresponderia a um autoconceito pouco claro, vago e abstrato.

Segundo Super (1963), tanto a formulação de uma preferência geral quanto à constância na sua expressão constituem os principais critérios da manifestação da cristalização, na adolescência. Para obter sucesso, o adolescente deve estar consciente da necessidade de cristalizar sua(s) preferência(s), considerando os fatores pessoais e ambientais pertinentes (atitudes, opinião dos pais, conselheiros de carreira, etc.). Deve, ainda, considerar que as contingências econômicas podem influenciar a realização de seus objetivos profissionais. Deve, também, tornar-se consciente, por um lado, das relações entre atividades pré-profissionais e suas escolhas subseqüentes e, por outro lado, de seu perfil de interesses e de valores. Sabe-se que, e não é de hoje (Holland, 1959, 1997), quanto mais preciso for o conhecimento de seus interesses e valores, e mais diferenciados forem seus perfis (de interesses e de valores), mais o adolescente terá a instrumentação necessária para realizar a tarefa de cristalizar uma preferência. Finalmente, o adolescente deverá utilizar certos recursos comportamentais (atividades associadas à maturidade) que lhe permitirão realizar suas atividades de planificação e de exploração de uma carreira.

Estes principais critérios de manifestação comportamental da cristalização podem ser resumidos em termos de duas das dimensões da maturidade profissional (planificação e exploração), quando se considera suas observações oriundas de seu estudo sobre os padrões do desenvolvimento de carreira (Super, 1985b) com meninos do nono ano de ensino médio americano (Super & Overstreet, 1960). Este estudo permitiu identificar, por um lado, a orientação das tarefas implicadas na escolha e, por outro lado, a utilização de certos recursos comportamentais, confirmando a hipótese que a expressão de escolhas específicas (por oposição a uma preferência geral) nesta idade (14 a 18 anos) é habitualmente irrealista e prematura. Assim, seria mais adequado dirigir a atenção dos jovens sobre processos decisionais preliminares (preferências) de escolha de uma carreira, como, por exemplo, a responsabilidade em elaborar planos iniciais de ação (que resultarão na expressão de uma preferência), não esquecendo de estimular a utilização dos recursos ambientais disponíveis (opinião de pais, conselheiros, entre outros).

Os dados subseqüentes sobre a maturidade profissional dos mesmos meninos, desta vez no décimo-segundo ano escolar, permitiram Jordaan e Heyde (1979) concluir, de acordo com as formulações teóricas de Super (Super, 1963; Super e Overstreet, 1960; Super, 1985b) e os dados empíricos de Crites (1965), a existência de certa progressão em relação àquela que prevalecia no nono ano de estudos. Assim, quando avaliados no décimo-segundo ano do ensino médio americano, estes jovens estavam mais confiantes na importância de seus interesses, que se tornaram ainda mais diferenciados. Tais resultados foram corroborados, mais recentemente, seja nos Estados Unidos pelos estudos de Wallace-Broscious, Serafica e Osipow (1994), seja em outros países como no Brasil (Balbinotti, 2000) e, também, na África do Sul – com uma amostra de estudantes negros – por Watson e Van Aarde (1986). Todavia, se essas mudanças tornaram-se relativamente perceptíveis ao considerar-se o conjunto dos adolescentes investigados, os índices de maturidade profissional, em nível individual, não apresentaram um quadro assim tão claro. Na verdade, certos adolescentes haviam progredido, outros haviam estagnado e, outros, haviam perdido terreno. Esses resultados colocaram em evidência que o desenvolvimento profissional (no qual a cristalização integra a primeira etapa), durante o ensino médio, pode apresentar problemas de constância e uniformidade, resultados que Coallier (1992) confirmou com ajuda de uma amostra de 459 estudantes canadenses de ensino médio.

Cristalização no plano empírico

No plano empírico, Blustein (1988) constatou que o fato da cristalização resultar da resolução de tarefas de desenvolvimento específicas (como fora sugerido por Super) é, no mínimo, miscigenado. Com o intuito de elucidar a questão, esse autor verificou, por meio de uma análise de correlação canônica, as relações existentes entre idade, sexo, medidas de maturidade profissional e de cristalização, a partir de uma amostra de 158 estudantes de ensino médio. Sua análise produziu apenas uma raiz canônica significativa (p < 0,05): a maior parte da variância comum entre essa série de variáveis é atribuível à relação entre a componente (ou dimensão) “planificação” da maturidade profissional e as duas escalas de cristalização (clareza e certeza). Quanto ao caso específico da componente “exploração”, a variância comum explicada era muito pequena, portanto não significativa (p > 0,10). Partindo deste último resultado, o autor concluiu (considerando sua pesquisa e a recensão dos estudos empíricos apresentados em seu trabalho) que “o processo de cristalização parece ser relativamente independente da resolução de diversas tarefas de desenvolvimento de carreira durante o estado de exploração” (p.296). Conseqüentemente, os sujeitos de seu estudo que mostraram um senso de planificação (responsabilidade em elaborar planos iniciais de ação) e que estavam preocupados com seu futuro profissional tinham, portanto, tendência a manifestar elevado nível de cristalização e de engajamento quanto às suas preferências profissionais. As outras dimensões da maturidade, as habilidades relativas à decisão e o conhecimento (informação) do mundo do trabalho, também não estavam substancialmente associadas à cristalização (p > 0,10). Esses resultados, pouco satisfatórios no nível da variância comum, elucidam, entre outros, que a variância tanto pela idade quanto pelo sexo também não é comum à da cristalização.

No que se refere, especificamente, à relação da variável sexo com os níveis de cristalização de preferências profissionais, uma extensa pesquisa foi conduzida no Rio Grande do Sul com a participação de cerca de 5200 adolescentes com idades variando de 14 a 18 anos, de escolas particulares e públicas, tanto da capital quanto do interior (Balbinotti, 2000). Mesmo que não tenham sido apresentados dados referentes às relações de cada uma das dimensões (clareza e certeza) com o sexo, contatou-se, por um lado, que as médias obtidas nos níveis de cristalização, por meninos e meninas, não se diferiram significativamente (p > 0,05) e, por outro lado, o índice obtido de correlação entre níveis de cristalização e sexo foi praticamente nulo (r = 0,0001). Entretanto, em um recente estudo (Balbinotti, Marocco & Tétreau, 2003) empírico conduzido com ajuda de uma amostra de 492 estudantes universitários de ambos os sexos do Sul do Brasil, com idades variando de 17 a 51 anos (idade não absolutamente pareada com as amostras clássicas), de uma universidade privada (masculino = 238; feminino = 254), concluiu-se existir diferenças nominais importantes entre as médias da dimensão clareza, diferença favorável aos sujeitos do sexo masculino. Mesmo que não se tenha calculado o nível de significância desta diferença entre as médias, estima-se tratar de uma diferença importante (valor nominal da diferença = 5,15), principalmente quando comparada àquela, bem inferior, relativa à dimensão certeza (0,11). Parece que, no caso específico dos universitários, estes conseguem enxergar com mais clareza seu futuro profissional que suas colegas universitárias; mesmo que no nível da expressão da certeza de suas preferências (já escolhidas) não haja diferenças marcantes.

No que se refere à relação entre nível sócio-econômico e cristalização, Super (1985a) concorda com Ginzberg, Ginsburg, Axerald e Herma (1951) quando estes afirmaram que o processo de desenvolvimento profissional (que inicia, basicamente, com a cristalização de uma preferência) é um aspecto aparentemente independente, o que não significa que não exista uma relação entre maturidade profissional e nível sócio-econômico. Com efeito, tanto os sujeitos de níveis mais favorecidos de seu estudo sobre os padrões de desenvolvimento de carreira (Super, 1985b), quanto àqueles que apresentaram escores maiores em testes de inteligência (mas apenas com aqueles que apresentam escores normativos expressos sob a forma de QI), geralmente obtiveram índices mais elevados de maturidade profissional. Esses mesmos resultados também foram encontrados em uma pesquisa replicada, conduzida por Watson e Van Aarde (1986). Entretanto, destaca-se, mesmo que uma dimensão específica da maturidade profissional (planificação) tenha comprovada relação com a cristalização (Blustein, 1988), Balbinotti (2000), com uma amostra de cerca de 5200 adolescentes gaúchos, encontrou resultados exatamente opostos. Neste último estudo o autor controlou o viés sócio-econômico através do tipo de escola onde os estudantes estão matriculados (pública ou privada). Mesmo não se tratando da melhor forma de controle desta variável (mas aceitando o fato de que ao menos se trata de uma das importantes formas de controle na realidade sócio-econômica brasileira), este último autor constatou diferença altamente significativa (p < 0,01) nos escores de maturidade profissional dos jovens investigados. Diferenças favoráveis àqueles matriculados em escolas públicas; contrariando, de certa forma, o que fora teórica e empiricamente predito, em outra cultura.

 

QUESTÃO CENTRAL DESTA PESQUISA

Partindo-se dos conteúdos teóricos e empíricos apresentados anteriormente, foi possível formular a seguinte questão: “existem diferenças significativas (p < 0,05) em escores obtidos nos níveis de cristalização de preferências profissionais, nos adolescentes investigados, segundo o sexo, a idade, o ano de instrução no ensino médio e, finalmente, o tipo de escola (se pública ou privada)?” Para bem responder a esta questão foram empregados procedimentos metodológicos, éticos e estatísticos. Estes procedimentos serão apresentados a seguir.

MÉTODO

Procedimento

Inicialmente, contataram-se os conselheiros de orientação ou psicólogos das escolas escolhidas e, quando necessário, contataram-se outros responsáveis nas escolas. O objetivo desse(s) primeiro(s) encontro(s) era obter a permissão livre e esclarecida para entrar nas salas de aula. Assim, entre 5 ou 7 dias anteriores à administração do inventário, todos os estudantes eram convidados a participar, pelo próprio professor. Em um segundo momento, após a apresentação formal dos objetivos do estudo aos jovens, todos eram convidados a participar, mas sublinhava-se que eles eram livres de não participar ou a desistirem da pesquisa a qualquer momento, presente ou futuro, se assim o desejassem. Para tanto, foilhes oferecido um número de telefone, o qual eles poderiam ligar para, entre outras coisas, requerer que seus resultados fossem excluídos das análises. Com a concordância verbal acordada, pediase que os jovens (os de 18 anos) ou o(a) professor(a) assinassem o consentimento informado (livre e esclarecido). Foi reforçado que, mesmo tendo assinado tal consentimento, eles poderiam requerer em qualquer outro momento futuro, que seus dados fossem retirados das análises. Somente após estas importantes formalidades, dava-se andamento a investigação. Paralelamente a essa última etapa, pedia-se aos responsáveis da escola para dispensar, sem penalidades, os estudantes que não pretendessem participar do processo. Nenhum estudante efetivamente requereu tal dispensa. Ainda, considerando que não era exigida a identificação por nome dos participantes, os estudantes estavam assegurados da confidencialidade de suas respostas.

Em reconhecimento a participação desses alunos foi-lhes oferecida, gratuitamente, a realização de um teste de interesses profissionais. Foi-lhes explicado que os resultados deste teste poderiam auxiliá-los na tarefa de decisão, enquanto preferência geral, por um curso superior ou profissão. Dois critérios de seleção foram aplicados no recrutamento e compilação dos dados finais: ser estudante secundarista e ter idades entre 14 e 18 anos. Destaca-se que, para não haver exclusões, a aplicação ocorreu com todos (mesmo apresentando idades fora do critério).

Sujeitos

A escolha da amostra foi por conveniência (não-aleatória) com o cuidado de evitar grupos de classes especiais. Os 860 estudantes de ambos os sexos e com idades variando de 14 a 18 anos, do ensino médio, da rede pública e privada, implicados nesta pesquisa (ver Tabela 1) estavam regularmente inscritos no ensino médio e foram recrutados em 3 escolas da capital e 5 escolas de duas cidades do interior do Estado do Rio Grande do Sul. Conforme pedido formal dos responsáveis das escolas, os nomes das instituições de ensino não serão mencionados.

Tabela 1

Freqüências quanto ao tipo de escola, idade, sexo e ano do ensino médio

 

 

Instrumentos

Foram utilizados dois instrumentos: um Questionário Sócio-Demográfico (apenas para controle das variáveis dependentes: sexo, idade, tipo de escola e ano do ensino médio) e a Escala de Avaliação Vocacional (EAV), um instrumento que já foi objeto de validação em língua portuguesa, no Brasil (Marocco, 1991), com qualidades métricas recentemente apresentadas e discutidas a partir de uma importante amostra, pareada a deste estudo, de estudantes do ensino médio (Balbinotti, 2000).

Escala de Avaliação Vocacional. A EAV (Balbinotti, 2000; Marocco, 1991) é a versão brasileira da “Vocational Rating Scale” elaborado por Barrett (1976). Foi elaborada com o objetivo de avaliar, basicamente, duas das metadimensões do autoconceito identificadas por Super (Super, Starishewsky, Matlin, & Jordaan, 1963), a saber: a Clareza e a Certeza. Tomadas em conjunto permitem uma medida global da cristalização das preferências profissionais (Barrett, 1976; Barrett & Tinsley, 1977a, 1977b; Buck, 1990). A EAV é constituída de 40 itens referentes ao conhecimento global que o sujeito tem de suas próprias características profissionais. Cada item é avaliado por uma escala de 5 pontos, de tipo Likert, indo de “completamente falso” à “completamente verdadeiro”. Um escore elevado indica um alto grau de cristalização de preferências profissionais (Barrett, 1976; Barrett & Tinsley, 1977b).

O coeficiente Alpha obtido para a escala original inglesa foi de 0,92 (Barrett, 1976). Absolutamente comparável ao primeiro estudo de adaptação brasileira, onde Marocco (1991) encontrou o mesmo valor (0,92) de Alpha, número também comparável aos recentes dados de Balbinotti (2000), que encontrou o índice de 0,941 para o instrumento total, ambos os estudos são brasileiros. A fim de confirmar esses altos e muito satisfatórios índices de consistência interna através de outros métodos de fidedignidade, o método teste-reteste foi utilizado por Marocco (1991), também com satisfatório índice de estabilidade temporal (r = 0,87), considerando duas administrações separadas por um intervalo de três semanas.

Quanto à validade de construto do EAV (Balbinotti, 2000), um resultado recente de análises fatoriais exploratórias, com rotação oblíqua, demonstrou que a melhor explicação é em um fator único, possivelmente devido aos altos valores correlacionais entre as duas metadimensões exploradas (r = 0,78). Tais resultados são perfeitamente comparáveis àqueles (r = 0,76) obtidos em um estudo anterior (Marocco, 1991). Os números apresentam-se como seguem: a primeira raiz latente é de 21,09 e explica 40,7% da variância; a segunda é de 1,12 e explica 2,9% da variância. É claro que esta discrepância encontrada entre a primeira e a segunda raiz latente pode apenas significar que a primeira variância está explicando grande parte daquela do segundo fator; o que vem ao encontro dos altos índices de correlação observados entre as duas metadimensões exploradas. Todos os dados acima (o do Alpha e da análise fatorial) garantem satisfatórias qualidades psicométricas, o que sustentam o uso do instrumento em amostras pareadas da população em questão.

 

RESULTADOS, INTERPRETAÇÕES E DISCUSSÕES

Para responder adequadamente a questão central desta pesquisa, procedeu-se à exploração dos escores obtidos através da EAV, segundo princípios norteadores comumente aceitos na literatura especializada (Angers, 1992; Bisquera, 1987; Bryman & Cramer, 1999; Dassa, 1999; Pestana & Gageiro, 2003; Reis, 2000; Sirkin, 1999; Trudel & Antonius, 1991; Vallerand, 1989). Caminho feito apresentam-se, sucessiva e sistematicamente, os resultados das análises de itens, das estatísticas descritivas e das comparações de médias conforme a variável controlada (sexo, idade, tipo de escola e ano do ensino médio).

Análise de itens

Destaca-se que as médias encontradas para cada um dos 40 itens estudados individualmente variaram entre 2,6 e 3,3; com desvios-padrão variando entre 0,67 a 0,92. Interpretam-se esses resultados preliminares como sendo satisfatórios, pois não houve aderência predominante (seja positiva ou negativa) a nenhum dos itens isolados, ou seja, itens com médias muito próximas aos valores extremos (1 ou 5). Destaca-se ainda que a variabilidade dos resultados foi de restrita à moderada, indicando certa homogeneidade na dispersão avaliada. Já a média encontrada para o instrumento total foi de 112,3 com um desviopadrão associado de 15,9. Posto que, o intervalo total esperado era de 40 a 200 pontos (com média esperada de 120 pontos) e o observado foi de 74 a 147 (com um intervalo inter-quartil de 16 pontos), observam-se valores próximos entre as freqüências esperada e observada. Mesmo que a mediana das correlações item-total tenha sido substancialmente elevada (r = 0,59), 5 questões (das 40) revelaram valores inferiores a 0,30. Estes últimos dados poderiam indicar certa necessidade de revisão das qualidades métricas destes 5 itens, quando considerados isoladamente. Entretanto, comparando-se os índices Alpha, que variaram de 0,917 a 0,924, para os itens retirados, com o coeficiente Alpha para a escala total sem a exclusão de nenhum item (0,937), verificamos que esse procedimento torna-se desnecessário e improdutivo, podendo causar ainda, perda na validade de conteúdo (principalmente quanto à pertinência e a adequada exploração de todas as arestas – significados – do conceito). Finalmente, destaca-se que o valor Alpha encontrado para a escala total (0,937) revela um escore elevado da consistência interna do instrumento, para estes dados, um importante preditor da confiabilidade.

Estatísticas descritivas gerais

Como se pode observar na Tabela 2, os índices obtidos nas médias (independente da variável controlada) variaram relativamente pouco (112,2 a 117,1). O desvio-padrão seguiu nesta mesma ordem, variando de 11,4 a 13,7. Com o objetivo de verificar a adequação do uso de testes paramétricos para a comparação destas médias, primeiramente a igualdade estatística das variâncias foi testada, comprovada e assumida com ajuda do cálculo F de Levene para as variáveis: sexo (F = 1,487; Sig = 0,223), idade (F(4, 855) = 1,257; Sig. = 0,285), tipo de escola (F = 1,706; Sig. = 0,192) e ano do ensino médio (F(2, 854) = 1,352; Sig. = 0,259). Tais resultados são excelentes indicadores para o uso de instrumentais paramétricos de comparação das médias. Em um segundo momento, testou-se os índices de normalidade pelo cálculo Kolmogorov-Smirnov (p > 0,05), com correção Lilliefors: assimetria (-1,96 < Skewness/EPs < 1,96) e achatamento (-1,96 < Kurtosis/EPk < 1,96). Sem exceções, estes resultados indicaram que se trata de dados com aderência à normalidade.

Tabela 2

Cálculos de tendência central, dispersão e distribuição por variáveis em estudo

 

 

Dos valores referentes às estatísticas de dispersão (ver Tabela 2), nota-se certa homogeneidade quanto aos valores mínimos e máximos obtidos nas variáveis estudadas. No que se refere aos valores máximos, destaca-se a pouca variabilidade observada (de 140 a 147 pontos). Sabe-se, entretanto, que se é esperado chegar até 200 pontos, considerando a escala em questão. Esta pouca variabilidade encontrada (7 pontos), independente da variável em estudo, indica uma certa homogeneidade nos casos extremos, à direita da curva. Pode-se interpretar esse fenômeno sugerindo que o sexo, a idade, o tipo de escola e o ano do ensino médio não predizem nem impulsionam, de forma unitária, um comportamento de aquiescência positiva. Uma futura ocorrência de casos aberrantes extremos à direita da curva seria unicamente interpretada por diferenças individuais (que logicamente podem ocorrer), mas não associado às idades ou qualquer outra das variáveis estudadas. Já, no que se refere aos valores mínimos, denota-se que a variabilidade é maior (de 74 a 96 pontos), o que representa um intervalo de 22 pontos. Aqui uma análise pormenorizada é aplicável. No caso das variáveis sexo e tipo de escola, nota-se certa homogeneidade tanto no limite mínimo quanto máximo. Já no caso das outras duas variáveis essa observação não se aplica.

Quanto à variável ano do ensino médio, nota-se uma aderência positiva maior no caso do primeiro ano. Essa observação é corroborada com o dado referente ao valor mínimo (96 pontos) de jovens de 14 anos, que em sua maioria, estão no primeiro ano do ensino médio.

Na realidade, no caso da variável idade, nota-se que o comportamento dos níveis de cristalização pode ser graficamente representado por uma curva, onde os valores máximos encontrados localizam-se nas extremidades das idades (14 e 18 anos). Já, o valor menor é associado aos jovens de 16 anos, restando os valores intermediários àqueles de 15 e 17 anos. Uma explicação para esse fato poderia ser aquela que sugere uma aderência aos itens de cristalização considerando, possivelmente, um efeito de maturidade. Quer-se dizer que mesmo apresentando escores comparáveis (ver Tabela 2), jovens de 14 anos podem estar respondendo às questões de cristalização com menor maturidade do que os de 18 anos, mas essa hipótese necessita ser confirmada por estudos empíricos subseqüentes.

Comparações de médias

Quanto à variável sexo, um teste t para amostras independentes foi conduzido e seus resultados (t(859) = 0,377; p = 0,706) indicaram não existir diferenças significativas (p > 0,05) entre os níveis de cristalização dos adolescentes e das adolescentes. Na realidade, não se esperava encontrar diferenças, pois seria realmente impressionante se o fato de pertencer a um ou a outro sexo fosse determinante quanto aos níveis de cristalização de uma preferência profissional.

Quanto à variável idade, realizou-se a estatística ANOVA One-Way e seus resultados (F(4,855) = 0,903; p = 0,461) indicaram não existir nenhuma diferença significativa (p > 0,05) entre as idades. Tal resultado apresenta implicações favoráveis e desfavoráveis à teoria. No que se refere aquela de caráter favorável, pode-se justificar interpretando que neste período do ciclo vital (14 a 18 anos) são acordados os mesmos níveis de cristalização de preferências profissionais. Estes jovens se encontram, basicamente, no período de planificação (um dos componentes básicos da maturidade). De maneira geral, eles ainda não saíram para explorar o mercado de trabalho. Já, quanto ao caráter desfavorável, poder-se-ia esperar que os níveis de cristalização efetivamente variassem, elevando-se significativamente de acordo com o avanço da idade. Entretanto, nessa faixa etária estudada (com os dados amostrais disponíveis), isso não se aplica. Pode ser que exista um aumento significativo na clareza e na certeza (componentes básicos da cristalização) quando os jovens efetivamente trabalharem, explorando suas reais capacidades, habilidades, aptidões, valores e interesses, saindo da simples manifestação afetiva e entrando, de fato, no mundo profissional. De acordo com as médias apresentadas na Tabela 2, podem-se apenas verificar níveis nominais crescentes (mas não significativos) de cristalização entre as idades de 15, 16 e 17 anos. No caso dos 18 anos, nota-se uma tendência à estabilização dos níveis (considerando o nível encontrado nos 17 anos) de cristalização. No caso dos 14 anos, nota-se que os mais jovens aderem melhor às possibilidades de respostas mais positivas. Podendo deixar a entender que respondam mais positivamente por uma relativa (e quem sabe pouco madura) falta de critérios decisionais mais consistentes e diferenciados. Mais uma vez, vale a pena desenvolver estudos futuros para verificar essas importantes hipóteses-interpretativas levantadas.

Quanto à variável tipo de escola (se pública ou privada) um teste t para amostras independentes foi conduzido e seus resultados (t(859) = 2,993; p = 0,003) indicam existir diferença altamente significativa (p < 0,01) entre as escolas privadas e públicas. Analisando os valores de média apresentados na Tabela 2, denota-se que a diferença é favorável aos estudantes de escola pública. Uma tentativa de explicação desse fenômeno poderia ser a necessidade de cristalização prematura por parte dos estudantes da rede pública. Possivelmente, neste caso, interfira um fator de ordem financeira (entre outros possíveis). Este fato pode sugerir que os estudantes da rede pública necessitam entrar, de fato, no mundo do trabalho antes dos seus pares da rede privada de ensino médio. Por si só, esse aspecto não teria muito significado, mas considerando as colocações de Balbinotti, Marocco e Tétreau (2003) quanto à cristalização na indecisão, esta interpretação torna-se mais viável e adequadamente aceitável. Assim, se um adolescente experimenta dificuldades em completar, com sucesso, a tarefa de desenvolvimento da cristalização de uma preferência profissional, ele poderá, por um lado, se ver confuso e indeciso face à sua futura orientação (Balbinotti, 2000; Gordon, 1984; Marocco, 1991; Tittley & Tittley, 1980) e, por outro lado, poderá se ver forçado (por problemas de ordem financeira, por exemplo) a aceitar as oportunidades que aparecem, sem uma maior e/ou adequada reflexão quanto a seus gostos e preferências no mundo do trabalho.

Quanto à variável ano do ensino médio (primeiro, segundo e terceiro), a estatística ANOVA One-Way foi realizada e seus resultados (F(2, 854) = 1,574; p = 0,210) indicaram não existir nenhuma diferença significativa (p > 0,05) nos índices de cristalização entre os três anos em estudo. Tal resultado é um pouco surpreendente, pois se imagina que, no senso comum, na eminência de uma decisão (no terceiro ano do ensino médio) os jovens deveriam apresentar índices mais elevados de cristalização de uma preferência profissional, ou seja, deveriam apresentar-se mais decididos a uma carreira; ao menos com índices significativamente mais elevados do que no começo do ensino médio. Na realidade, se percebe um aumento linear (embora não significativo) nos índices médios de cristalização (ver Tabela 2). Esse dado pode ser de grande importância ao levar-se em conta que, na realidade, existe um aumento nominal, embora não significativo. Sendo assim, não se pode dizer que o fato de pertencer a qualquer dos anos do ensino médio facilitaria uma resposta mais positiva aos itens de cristalização apresentados, mas que, sem dúvida, ocorreu uma diferença com crescimento linear nos valores. É claro que, considerando a semelhança estatística dos dados (p > 0,05), a melhor interpretação seria a análise de casos isolados. Isso nos leva a imaginar a possibilidade de existirem, concretamente, jovens que apresentam diferentes níveis de cristalização (podendo ser altos, médios ou baixos), independente do ano do ensino médio em que se encontram.

 

CONCLUSÕES

Este estudo teve por objetivo explorar se existem diferenças nos níveis de cristalização de preferências profissionais segundo o sexo, a idade, o ano de instrução no ensino médio e, finalmente, o tipo de escola (pública ou privada). Para responder adequadamente a esse objetivo, inicialmente, postulou-se, teoricamente, que a cristalização de uma preferência profissional é um dos processos do desenvolvimento de carreira pertencente a um período de vida específico, digase, basicamente entre 14 e 18 anos. Depois, clareou-se o sentido da proposição segundo a qual o processo de desenvolvimento de carreira é aquele de realização do autoconceito (Super, 1957), apresentando a taxonomia dos diferentes aspectos do autoconceito (dimensões e metadimensões). Após a apresentação de outros aspectos teóricos importantes (por exemplo, maturidade profissional) e relativos à cristalização, passouse a apresentar alguns estudos empíricos clássicos (Barrett & Tinsley, 1977a, 1977b; Jordaan & Heyde, 1979; Super, 1985b; Super & Overstreet, 1960) e outros um pouco mais recentes (Balbinotti, 2000, Balbinotti & Tétreau, 2002; Balbinotti, Marocco e Tétreau, 2003, Marocco, 1991; Tinsley, Bowman, & York, 1989; Watson & Van Aarde, 1986).

Através de uma amostra de 860 estudantes (adolescentes) de ensino médio, exploraram-se diferenças e semelhanças estatísticas entre os grupos (divididos por variáveis dependentes: sexo, idade, tipo de escola e ano do ensino médio). Para isso, buscou-se, inicialmente, apresentar que era possível o uso de ferramentas paramétricas de medida. Com este caminho feito, realizaram-se as comparações desejadas.

Verificou-se, através de testes de comparação de médias (F e t) para amostras independentes, que não havia diferenças significativas (p > 0,05) entre os níveis de cristalização de preferências profissionais segundo o sexo, a idade, e o ano do ensino médio. Conforme visto na literatura especializada, outros estudos empíricos já haviam apresentado resultados nesta mesma direção, destacam-se aqueles de Blustein (1988) e os de Balbinotti (2000) e seus colaboradores (Balbinotti, Marocco e Tétreau, 2003). Especificamente no estudo de Blustein (1988) seus resultados elucidaram que a variância explicada tanto pela idade quanto pelo sexo também não era comum à da cristalização, ou seja, estas variâncias não compartilham do mesmo espaço latente, portanto não são relacionáveis entre si. Ainda, os de Balbinotti (2000) e de seus colaboradores (Balbinotti, Marocco e Tétreau, 2003) foram nesta mesma direção. Estes aspectos, pegos de forma isolada, permitem a seguinte interpretação conclusiva: parece que a cultura não interfere na relação (seja da variância comum; seja da comparação de médias) de escores entre as variáveis “idade”, “sexo” e “cristalização de preferências profissionais”. Embora não tenham sido encontrados estudos prévios que relacionem, precisamente, ano do ensino médio e cristalização de preferências profissionais, o viés da idade é bastante esclarecedor, pois, como se pode imaginar, as idades básicas dos estudantes do ensino médio são, precisamente, de 14 a 18 anos. Logo, trata-se de variáveis dependentes, valendo-se, assim, da mesma interpretação conclusiva neste estudo.

Se por um lado, nas variáveis acima não foram encontradas diferenças significativas (p > 0,05), por outro lado, denotou-se uma diferença altamente significativa (p < 0,01) entre o tipo de escola e a cristalização de preferências profissionais, sendo esta favorável às escolas públicas (onde majoritariamente encontram-se estudantes de nível sócio-econômico mais baixo do que aqueles inscritos em escolas particulares). Como fora referido em estudos prévios, Super (1985b) e Watson e Van Aarde (1986) tinham encontrado que sujeitos de níveis (sócio-econômico) mais favorecidos apresentavam índices mais elevados de maturidade profissional. É claro que os conceitos “maturidade” e “cristalização” são diferentes em essência, mas são relacionáveis em variância. A dimensão da maturidade chamada “planificação” relaciona-se significativamente (p < 0,05) com a cristalização, e isso já foi empiricamente demonstrado (Blustein, 1988). Mas parece que, no caso da cultura brasileira, este real não foi encontrado! Oposições foram encontradas. Na realidade, este resultado está conforme o estudo prévio de Balbinotti (2000) onde tinha sido demonstrada a diferença entre maturidade e nível sócio-econômico, mas, aqui, favorável aos estudantes de escola pública. A interpretação conclusiva deste fenômeno cultural é de difícil explicação. Interpretou-se essa diferença encontrada através de um viés particular do nível sócio-econômico; esse jovem poderá se ver forçado (por problemas de ordem financeira) a aceitar as oportunidades que aparecem, sem uma maior e/ou adequada reflexão quanto a suas preferências no mundo do trabalho. Modelos que expliquem melhor essa dura realidade devem ser mais explorados na academia.

Finalmente, novos estudos devem ser conduzidos a fim de verificar a existência de diferenças estatísticas nos níveis de cristalização, mas controlando mais do que uma variável, em conjunto (por exemplo, meninas de 14 anos em relação a meninos de 14 anos, e assim sucessivamente), para que se possam explicar melhor os fenômenos relativos à cristalização de preferências profissionais. Acredita-se que este período de vida é fundamental e determinante de outros, no ciclo vital humano. Ainda, sugerem-se a realização de outros estudos com um intervalo maior de idades, abarcando, inclusive, outras variáveis dependentes importantes (cidades – capital e interior –, escolas urbanas, semi-rurais e rurais, entre outras) bem como a inclusão de outras etapas (fases) do desenvolvimento.

 

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Recebido: 16/03/04
1ª revisão: 05/05/04
2ª revisão: 02/08/04
Aceite final: 03/09/04

 

 

1 Endereço para correspondência: Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), Núcleo de Orientação Vocacional. Avenida Unisinos, 950, 93022-000, São Leopoldo, RS. Fone: (51) 5908127 e Rua Luzitana 1398 / 501, 90520-080, Porto Alegre, RS. Fone: (51) 3342 3852, Fax: (51) 3337 1547. E-mail: balbinotti@bios.unisinos.br e/ou mbalbinotti@terra.com.br.

 

Sobre os autores
* Marcos Alencar Abaide Balbinotti, Ph.D. em Psicologia pela Universidade de Montreal, no Canadá. Pós-Doutorado realizado no Laboratório de Variáveis Afetivas, na Universidade do Montreal. Desenvolve estudos em desenvolvimento de carreira, variáveis relacionadas à escolha profissional, educação à carreira, psicologia do trabalho, psicometria. Pesquisador do Centro de Pesquisas Interuniversitárias sobre a Educação e a vida no Trabalho, órgão canadense. Professor e coordenador do Núcleo de Orientação Vocacional da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).
** Daniela Wiethaeuper, Ph.D. em Psicologia Clínica e Dinâmica pela Universidade de Montreal, no Canadá. Ela desenvolve estudos e pesquisas em psicoterapia, variáveis relacionadas a estilos lingüísticos e complementariedades estilísticas. Desenvolve trabalhos de validação de instrumentos de pesquisa na área clínica. Pesquisadora da Unisinos e da Clínica do Bem Estar Mental, vinculada ao Grupo Hospitalar Mãe de Deus.
*** Marcus Levi Lopes Barbosa, Psicólogo pela Unisinos. Auxiliar de pesquisa no Núcleo de Orientação Vocacional da Unisinos.

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