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Revista Brasileira de Orientação Profissional

versão On-line ISSN 1984-7270

Rev. bras. orientac. prof v.6 n.2 São Paulo dez. 2005

 

EDITORIAL

 

 

Internacionalmente o desenvolvimento da prática e da teoria no domínio da Orientação Profissional e de Carreira se deu de maneira integrada, sobretudo no cenário europeu e norte americano. Em contrapartida, no cenário brasileiro, a produção e divulgação do conhecimento teórico e prático neste domínio tem sido escassa, pontual e na maioria das vezes desarticulada em termos de território nacional e políticas públicas na pesquisa e na intervenção. Desta forma, é de extrema importância congregar esforços no sentido de sistematizar e avaliar o saber produzido e as demandas nesta área do conhecimento.

Este fascículo da Revista Brasileira de Orientação Profissional (RevBOP) é publicado no momento em que a Associação Brasileira de Orientação Profissional (ABOP), dando continuidade às reflexões suscitadas nos simpósios e pelos artigos publicados nos fascículos anteriores da RevBOP, abre o debate online sobre critérios de qualificação do orientador profissional no contexto brasileiro. Assim, em duas frentes, ABOP e RevBOP estimulam pesquisadores e profissionais a repensarem suas práticas nos âmbitos das intervenções e/ou pesquisas e a debaterem sobre a produção do conhecimento no âmbito: (1) dos problemas - dificuldades que os clientes apresentam relativas à tomada de decisão no contexto da educação e do trabalho - e, (2) das problemáticas - questões teóricas relativas aos conceitos, aos instrumentos, às competências requeridas dos profissionais, ao acesso aos serviços, entre outras. Os artigos publicados trazem ao debate problemas e problemáticas no domínio da Orientação Profissional.

O primeiro artigo intitulado Pedidos, Problemas e Processos: Alguns Dilemas da Intervenção em Consulta Psicológica Vocacional, de Inês Nascimento e Joaquim Luís Coimbra, da Universidade do Porto - Portugal, contribui com a reflexão a respeito do diagnóstico das necessidades reais do cliente na consulta psicológica vocacional. Os autores apontam limitações subjacentes aos pedidos primários dos clientes, assim como aspectos do julgamento dos psicólogos que podem levá-los a definir objetivos de intervenção discrepantes das expectativas dos clientes. Desta forma, contribuem para o aperfeiçoamento da competência do psicólogo na realização de aproximações diagnósticas em procedimentos de intervenção em Orientação Profissional e Desenvolvimento de Carreira.

Na seqüência, a segunda contribuição, também de Inês Nascimento e Joaquim Luís Coimbra, intitulada A Escolha do Foco de Intervenção em Consulta Psicológica Vocacional: Contributos para uma Perspectiva Integradora da Intervenção avança o debate sobre diagnóstico tanto inicial quanto processual em procedimentos no domínio da Psicologia Vocacional ou Orientação Profissional. Considerando que, muitas vezes, as problemáticas propriamente vocacionais aparecem associadas a desajustamentos desenvolvimentais ou emocionais, os autores refletem acerca das responsabilidades dos psicólogos no que diz respeito ao planejamento de intervenções sensíveis e responsivas a necessidades dos clientes que transcendam o limite do vocacional. Assim, este estudo contribui para a tomada de decisão do psicólogo na definição das estratégias de intervenção que consideram o ser humano em sua singularidade e totalidade.

Ao psicólogo / orientador profissional compete saber avaliar com precisão o problema que o cliente apresenta, suas queixas ou seus pedidos (demandas). De modo análogo, é relevante saber avaliar a pessoa em dimensões como capacidade, aptidões, barreiras, papéis de vida, interesses, personalidade, valores, atitudes, realizações educacionais e habilidades entre outras, como aponta o documento sobre “Competências Internacionais para orientadores educacionais e vocacionais” da International Association for Educational and Voational Guidance (IAEVG) divulgado no site da referida Associação. Tal documento é resultado do estudo conduzido por Elvira Repetto Talabera, Beatriz Malik Liévano, Nuria Manzano Soto, Paula Ferrer-Sama (UNED) e Bryan Hiebert (Universidade de Calgary) e foi publicado na RevBOP, 2004, 5(1).

O terceiro artigo contribui com a questão das barreiras que os estudantes precisam enfrentar para progredir na carreira. Intitulado Efetivação de Escolhas Profissionais de Jovens Oriundos do Ensino Público: Um Olhar sobre suas Trajetórias, de Juliana Curzi Bastos, da Universidade Federal de Juiz de Fora - Minas Gerais, aponta que os determinantes socioeconômicos representam o principal obstáculo para a concretização das opções profissionais dos sujeitos. Nesse sentido, corrobora a necessidade de se relativizar o termo “escolha profissional”, como apontou Ferretti visto que os jovens pertencentes às classes subalternas, no modo capitalista de produção, possuem graus muito limitados de liberdade de escolha. Características como essas devem ser levadas em conta quando se planeja métodos de intervenção e de pesquisa, sobretudo na realidade latino-americana.

Mônica Sparta e William Barbosa Gomes, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, por meio do quarto estudo Importância Atribuída ao Ingresso na Educação Superior por Alunos do Ensino Médio, contribuem com o debate acerca da expectativa de progressão nos estudos via carreira universitária. Os resultados indicaram que a maioria dos jovens pretende prestar vestibular depois da conclusão do ensino médio, ou seja, a educação superior é percebida como a única alternativa para os alunos que chegam ao final do ensino médio.

O quinto artigo, de Marcelo Afonso Ribeiro, da Universidade Cruzeiro do Sul - São Paulo, intitulado O Projeto Profissional Familiar como Determinante da Evasão Universitária - Um Estudo Preliminar relata uma pesquisa realizada com estudantes evadidos de um curso de Psicologia. O estudo objetiva compreender o projeto pessoal e profissional dos jovens em seus aspectos familiares e sócio-históricos, assim como refletir sobre o modelo universitário brasileiro.

Os dois artigos citados anteriormente debatem expectativas, acesso e permanência na universidade. O Conselho Editorial da RevBOP e a Diretoria da ABOP consideram oportuno colocar em pauta o debate sobre a criação e disponibilização de caminhos alternativos para o acesso ao mundo do trabalho em condições de sobrevivência digna do indivíduo e sua família, com perspectivas de progressão na carreira pessoal e profissional. Em diferentes etapas do ciclo vital observam-se diferentes necessidades, há estudantes às voltas com os problemas de tomada de decisão ou de “escolha” da carreira, via trabalho ou realização de um curso superior, outros enfrentam dificuldade de permanência na universidade, enquanto outros lutam para alcançar uma vaga e sobreviver no mercado de trabalho, independentemente de se realizar um curso universitário. Todas as possibilidades de acesso e manutenção da capacidade de trabalho constituem objeto de interesse da RevBOP.

Mauro de Oliveira Magalhães, da Universidade Luterana do Brasil, e William Barbosa Gomes, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, contribuem com o sexto artigo intitulado Personalidades Vocacionais, Generatividade e Carreira na Vida Adulta. Os autores focalizam a produção do conhecimento em termos de avaliação de personalidade, notadamente por meio de medidas de interesses vocacionais, generatividade, comprometimento com a carreira e entrincheiramento na carreira. O estudo foi realizado com adultos objetivando investigar relações entre generatividade e comportamentos relacionados à carreira profissional.

Antonio Caubi Ribeiro Tupinambá, Universidade Federal do Ceará, colabora com a resenha “Teoria, Técnica e Prática da Orientação Vocacional/Profissional” sobre o livro Orientação vocacional: alguns aspectos teóricos, técnicos e práticos, organizado por Zandre Barbosa de Vasconcelos e Inalda Dubeux Oliviera.

É com imensa satisfação que o Conselho Editorial disponibiliza mais um fascículo da RevBOP. Agradecemos a confiança e o apoio dos autores e, sobretudo, dos assessores ad hoc no trabalho primoroso de avaliação dos manuscritos.

Desejamos uma boa leitura a todos!

 

Lucy Leal Melo-Silva

Editora

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