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Revista Brasileira de Orientação Profissional

versión On-line ISSN 1984-7270

Rev. bras. orientac. prof v.6 n.2 São Paulo dic. 2005

 

RESENHA

 

 

Teoria, técnica e prática da orientação vocacional/profissional1

 

 

Antonio Caubi Ribeiro Tupinambá2 *

Universidade Federal do Ceará, Fortaleza

 

 

1 Resenha do livro: Vasconcelos, Z. B. de & Oliveira, I. D. (Orgs.) (2004). Orientação vocacional: Alguns aspectos teóricos, técnicos e práticos. São Paulo: Vetor.

 

 

No ano de 2004 foi publicado um novo livro na área da orientação vocacional/profissional intitulado “Orientação vocacional: alguns aspectos teóricos, técnicos e práticos” organizado pelas psicólogas Zandre Vasconcelos e Inalda Oliveira. No livro em questão temas já discutidos em outros trabalhos são abordados em novas perspectivas, tendo em vista a pluralidade de experiências dos diferentes autores nele incluídos e, por conseguinte, os novos olhares lançados sobre esses temas. Isso nos leva a comentá-lo e indicá-lo como leitura complementar para todos aqueles profissionais, sejam eles psicólogos ou não, envolvidos com a problemática da orientação vocacional/profissional.

O livro comentado tem limites que se justificam pela própria natureza e complexidade da orientação profissional. Não por acaso seu subtítulo alerta para esse aspecto ao dizer que traz apenas “alguns aspectos teóricos, técnicos e práticos”. Apesar desses limites, trata-se de uma tentativa bem-sucedida das organizadoras da obra de compartilhar conhecimentos teóricos e experiências práticas com outros profissionais, tendo em vista o crescimento significativo da demanda pelos serviços de orientação vocacional/ profissional. Como afirma Rosane Levenfus, em seu prefácio ao livro, a orientação profissional está intimamente ligada à construção de projetos de vida, sendo um trabalho de muita responsabilidade, que exige, portanto, máxima atenção do orientador para o bom desenvolvimento de seu ofício. Para tanto, necessitam esses profissionais de uma formação consistente com base em material adequado, que seguramente corresponde ao texto em questão.

Já em seu capítulo introdutório, Zandre Vasconcelos nos remete a um breve histórico da orientação vocacional/profissional. À luz dos conceitos de Levenfus (1997, citado por Vasconcelos & Oliveira, 2004, p. 24) e outros autores, discorre sobre as diferenças de terminologias utilizadas na área, como os próprios termos de orientação, vocação e profissão. Tais discernimentos são essenciais para a melhor compreensão das matérias dos capítulos vindouros e posteriormente para a própria operacionalização da orientação, o que é tratado pela autora ao longo deste capítulo e exemplificado nos capítulos V e IX, nos quais se discorre sobre procedimentos de orientação profissional a serviço da reorientação de carreira e para aplicação na escola.

As relações entre adolescência, escolha profissional e projetos de vida são temas recorrentes entre os orientadores profissionais. Sem perder de vista o entorno socioeconômico dessas relações, Lavínia Ximenes, Caioá Lemos e Maria Flávia Ferreira tecem considerações sobre o lugar de destaque da escolha profissional na vida dos jovens. O processo de escolha profissional deve ser considerado uma das experiências mais importantes para esses jovens, podendo ainda estar associado, de maneiras diversas, ao desenvolvimento de sua identidade.

Nos capítulos quatro, cinco e seis, Inalda Oliveira, Martha Silveira, Maria Izabel Calheiros e Janeide Araújo nos trazem as principais perspectivas de discussão e de trabalho com o tema do vestibular, bem como dos seus efeitos no grupo familiar e especialmente na vida do jovem orientando. Outros temas mais relacionados ao entorno social passam pelo crivo dessas autoras. Desemprego, chances de carreira, empregabilidade ou outros temas de inegável relevância na contemporaneidade devem ter suas implicações no processo de orientação profissional e nas discussões sobre o vestibular. As transformações que estão ocorrendo no contexto do trabalho trazem suas conseqüências diretas para a elaboração de estratégias e para a formulação de modelos de orientação de jovens.

Atravessa todos os capítulos uma preocupação em torno da construção da identidade profissional. Seja em conseqüência do processo de orientação profissional ou das próprias experiências de vida do orientando, a construção de uma identidade que compreende a identidade profissional é tema prioritário: Lavínia de Melo e Silva Ximenes (p. 46) afirmam, quando tratam dos projetos de vida dos jovens, que a maneira como cada adolescente redireciona sua vida, dando-lhe novos significados, a partir de como o trabalho, mediante a escolha profissional, é apreendido como valor e símbolo, traduz um momento decisivo para a estruturação de suas identidades e modos de organização da subjetividade. No processo de orientação há recursos técnicos que ativam no orientando a percepção de tais identificações. No capítulo sete, Maria da Glória Hissa e Marita Pinheiro sugerem a técnica intitulada “Cidade das Profissões sem nome” (CPSN) para a construção de identificações a serem trabalhadas no decorrer do atendimento em orientação profissional. Segundo nomeadas autoras, por meio desse instrumento o orientando pode perceber as profissões como um conjunto aberto de atividades ocupacionais e identificar-se com um mundo dinâmico, sempre em transformação: “Percebe que esse conjunto inclui tarefas, tem exigências, é depositário de status e canalizador de valores, atitudes e competências”, (p.125).

Em semelhante perspectiva de relato de vivências e experiências que inclui a sugestão de instrumentos e modelos de ação no processo de orientação vocacional, Lucy Melo-Silva e Mariana Noce discorrem sobre as possibilidades e limites na utilização de testes psicológicos em orientação profissional e mais particularmente sobre o Teste de Fotos de Profissões (BBT) enquanto método projetivo em orientação profissional. Para tanto, lançam mão de estudos de caso com dois jovens adolescentes. Nesses estudos o BBT-Br é apresentado como método projetivo, focalizando suas vantagens e desvantagens e as possibilidades de sua utilização no âmbito da orientação profissional. A partir da discussão dos dois casos apresentados, buscam obter informações significativas sobre o perfil de interesses e motivações do indivíduo em processo de orientação. Segundo Melo-Silva e Noce, o BBT pode ser utilizado como recurso auxiliar, tanto individual quanto em grupo, visando corroborar, retificar ou ampliar os dados obtidos pelo orientador nas entrevistas diagnósticas, sendo sua aplicação, portanto, recomendada nesse momento do processo.

As perspectivas futuras da orientação profissional a partir das reflexões de uma experiência no ensino médio são tema do nono capítulo, que tem como autores André Souza, Luiz de Toledo, Aparecida Norma Martins e Cecília Helena Vardi. Por meio de uma reflexão do papel social da escola, acreditam os autores desse capítulo ser pertinente o desenvolvimento de propostas que visem apoiar os alunos no processo de escolha de uma carreira e de uma faculdade ao final do ensino médio. A sugestão da inclusão de disciplina no currículo escolar sobre escolha, autoconhecimento e informação profissional é parte do trabalho a ser realizado por orientadores no âmbito escolar. Segundo os próprios autores, por se tratar de uma experiência relativamente nova no seio da escola deve ser melhor analisada e avaliada.

Fechando o livro, a autora do décimo capítulo, Josiane Golin, nos leva a uma reflexão sobre a formação e preparação dos futuros orientadores vocacionais nos cursos de graduação em Psicologia. A formação desses profissionais passa por uma conceituação correta do que seja essa área de estudo e atuação profissional, bem como pelas possibilidades que a formação dos futuros orientadores possa oferecer em termos dos objetivos da orientação profissional. O capítulo intitulado “Pensando a Formação: relato da prática em orientação profissional na graduação” sugere a construção da disciplina de orientação profissional no âmbito da formação do psicólogo, levando em conta a sua aplicabilidade no universo das escolas públicas. Aspectos da atual formação profissional diante das transformações histórico-sociais e do compromisso ético do indivíduo, atenção a metodologias vivenciais que levem em conta a apropriação do conhecimento construído nas bases teóricas, bem como a aproximação e a intervenção na comunidade social com a qual o estudante deve conviver são considerados para essas reflexões sobre o quê ensinar e como formar os futuros orientadores vocacionais.

A evolução das profissões, das carreiras profissionais, do mercado de trabalho, juntamente com a crescente demanda dos jovens em situação escolar de compreensão da sua vivência específica de transição profissional são um desafio para o orientador. Trata-se de jovens ansiosos por terem garantida uma futura e acertada inclusão profissional. Tais jovens, as circunstâncias em que se encontram e a necessidade de respostas a questões em torno do mundo da formação profissional e do trabalho exigem uma permanente busca de novos conhecimentos e estratégias da psicologia aplicada à orientação vocacional/profissional.

A presença de disciplinas teóricas e de atividades práticas nos cursos de graduação em Psicologia não é obrigatória, mas pode contribuir para aumentar o leque de oportunidades dos estudantes e futuros profissionais de Psicologia. Trabalhos como o de Zandre Vasconcelos e Inalda Oliveira subsidiam tais iniciativas acadêmicas e contribuem, com novos conhecimentos teóricos e técnicos na área, para a formação de profissionais em orientação vocacional/ profissional.

 

 

Recebido: 21/12/05
1ª revisão: 24/03/06
Aceite final: 29/03/06

 

 

2 Endereço para correspondência: Universidade Federal do Ceará (UFC), Departamento de Psicologia. Núcleo de Estudo em Orientação Profissional: Investigação e Aplicação. Av. da Universidade 2762-Benfica, 60020-180 Fortaleza CE. E-mail: tupinamb@ufc.br

 

Sobre o autor

* Antonio Caubi Ribeiro Tupinambá é professor do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Ceará (UFC); Doutor (Pós-doutor) em Psicologia Organizacional e do Trabalho; Professor responsável pelas disciplinas de Orientação Profissional do Curso de Psicologia da UFC.

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