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Revista Brasileira de Orientação Profissional

versão On-line ISSN 1984-7270

Rev. bras. orientac. prof v.7 n.1 São Paulo jun. 2006

 

ARTIGOS

 

 

Representações sociais em formação sobre os vestibulares dos estudantes de um cursinho comunitário na zona rural

 

Social representations in construction about university entrance exams by students of a rural free preparatory course

 

Representaciones sociales en formación sobre los cursos preparatorios para el examen de ingreso de los estudiantes de un cursillo comunitario en la zona rural

 

 

Dulce Consuelo Andreatta Whitaker,* Silvana Aparecida Onofre1 **

Universidade Estadual Paulista, Araraquara

 

 


RESUMO

Discutem-se representações sociais enfocando a juventude rural num cursinho preparatório para vestibular, com base nos conceitos de ancoragem e objetivação de Moscovici. Os dados foram obtidos por meio de entrevistas semidiretivas e redações analisadas à luz da Teoria das Representações Sociais. Os resultados mostram a força do aspecto afetivo-cognitivo na expressão de algumas dessas representações percebidas como em formação. As representações sociais dos jovens rurais se formam diretamente ancoradas nas representações sociais da sociedade urbanizada e algumas apenas as repetem. Observaram-se contradições entre o universo consensual dos participantes e os estudos científicos sobre os temas propostos, o que não impediu intersecções entre eles. O exame vestibular nunca é representado como responsável pelo insucesso que é sempre explicado a partir das deficiências da escola pública. Considerando que estudantes do ensino médio particular também experimentam insucessos os resultados remetem à questão da Ideologia.

Palavras-chave: Representações sociais, Vestibulares, Cursinho comunitário.


ABSTRACT

The study investigated the Social Representations by rural students from preparatory course university entrance exams, based on Moscovici’s concepts of anchorage and objectivation. The data were collected by means of semi-structured interviews and compositions, both analysed according to the Theory of Social Representations. The results highlighted the influence of the affective-cognitive factor in the expression of some of those representations, perceived by the authors as in process of construction. The representations of the young rural students were either directly anchored on the urbanized society’s social representations or only repeated them. Contradictions between the students’ social representations and scientific studies were observed, what did not prevent intersections between them. The type of university entrance examination was never represented as being responsible for the entrance failure, which was always attributed to public school deficiencies. Considering that students from private high schools also fail, the results address the ideological issue.

Keywords: Social representations, Free preparatory course, University entrance exams.


RESUMEN

Se discuten las representaciones sociales observando a la juventud rural en un cursillo preparatorio para examen de ingreso con base en los conceptos de fijación de Moscovici. Los datos se obtuvieron por medio de entrevistas semidirigidas y redacciones analizadas a la luz de la Teoría de las Representaciones Sociales. Los resultados muestran la fuerza del aspecto afectivo-cognitivo en la expresión de algunas de esas representaciones percibidas como en formación. Las representaciones sociales de los jóvenes rurales se forman directamente fijadas en las representaciones sociales de la sociedad urbana y algunas sólo las repiten. Se observaron contradicciones entre el universo consensual de los participantes y los estudios científicos sobre los temas propuestos, lo que no impidió intersecciones entre ellos. Al examen de ingreso nunca se lo presenta como responsable por el fracaso; a este último siempre se lo explica a partir de las deficiencias de la escuela pública. Considerando que estudiantes de la enseñanza media particular también sufren fracasos los resultados nos remiten a la cuestión de la ideología.

Palabras clave: Representaciones sociales, Examen de ingreso, Cursillo comunitario.


 

 

Este texto discute representações sociais sobre o vestibular e sobre um cursinho comunitário instalado na zona rural – representações essas expressas por diferentes agentes envolvidos no processo. Utiliza-se aqui o referencial teórico de Moscovici (1978), o qual se mostrou um fértil recurso para compreender principalmente como se formam representações sobre um fato novo (neste caso o Cursinho Comunitário), ancoradas em representações sociais já “antigas” sobre o concurso vestibular e a escola pública de ensino médio no Brasil.

Com efeito, os conceitos de ancoragem e objetivação foram recursos teóricos muito úteis para a compreensão dos fenômenos referentes a aspirações educacionais, auto-estima e sucesso/insucesso no vestibular que se nos apresentavam. Partimos de um ponto de vista sociológico – o jovem na perspectiva da Sociologia Rural1 e não cabe discutir aqui se foi a “nossa” Sociologia que se psicologizou ou se foi a Psicologia Social que se nos apresentou sociologizada. Vivemos uma época de derrubar barreiras entre as várias ciências e percebemos, ao desenvolver nossos estudos na zona rural que, sem o auxílio de uma teoria como a das representações sociais, ficaríamos na macroestrutura das desigualdades sociais que se aprofundam na falsa dicotomia rural-urbano e não chegaríamos à compreensão adequada dos sujeitos. A Sociologia é, como a maior parte das ciências, urbanocêntrica e ao explicar o rural cai, muitas vezes, nas armadilhas do preconceito contra os habitantes do campo (Whitaker, 2002). Nesse sentido, a Teoria das Representações Sociais enriquece o método da compreensão, proposto por Max Weber como o mais adequado à Sociologia, mas que muitas vezes esbarra no formalismo do conceito de ação social. Com Moscovici, encontramos o caminho para essa compreensão dos fenômenos humanos. Ao enfatizar que as representações estão presentes, tanto na cultura quanto nas mentes, Moscovici nos ajuda a buscá-las nos dois contextos, sem dicotomias. Consideramos ainda, ser importante para a Orientação Profissional, em muitos casos, compreender esse fenômeno.

O Tema e a Origem da nossa Abordagem

Para Moscovici só vale a pena estudar uma representação social se ela estiver relativamente espalhada dentro da cultura na qual a pesquisa se desenvolve (Farr, 2002). Moscovici superou o conceito de Representação Coletiva, do qual partira ao “voltar” a Durkheim (sociologizando a Psicologia Social) e avançou, ao criar o conceito de Representação Social, mais adequado às sociedades contemporâneas, que além de pluralistas, são dinâmicas, tanto no sentido da mudança quanto no da mobilidade social.

Ora, no Brasil, o fenômeno “vestibulares” é um dos mais importantes rituais de passagem2 que marca o fim da adolescência e introduz parte da juventude nos espaços privilegiados da universidade. Representações sociais importantes envolvem esse fenômeno – ou porque se tem certeza que o jovem vai passar por ele (classes privilegiadas) ou porque se aspira fortemente alcançá-lo (classes exploradas) – o que nem sempre é possível. Mas o vestibular, enquanto instituição, impulsiona e participa de um vigoroso complexo cultural no qual se entrelaçam imagens sobre as melhores escolas, desvalorização da escola pública, orientação profissional e os famosos cursinhos preparatórios que foram até há pouco tempo atrás, altamente elitizados e elitizantes, não só pelos preços das mensalidades, como também pela presença de professores carismáticos, capazes de ministrar aulas-show, utilizando, por exemplo, o rap ou o hip hop para memorização das leis da Físico-Química. A partir do ano 2000, um dado novo se apresenta. Com a avalanche de prefeituras conquistadas por partidos mais à esquerda no espectro político, ampliou-se uma Política Pública que já existia em algumas capitais. Paralelamente àquele complexo cultural, sem integrá-lo, mas tangenciando-o, alastraram-se os cursinhos comunitários – nas periferias ou para as periferias, alguns com professores voluntários, outros com estudantes lecionando em troca de bolsas ou pagamentos simbólicos, preocupados em ajudar os jovens das camadas vulneráveis a superar as barreiras que o sistema escolar lhes opõe. Alguns desses jovens professores, segundo nossas pesquisas, afirmam que querem ajudar os jovens pobres a superarem essas barreiras, porque também passaram pelos mesmos problemas e sabem dos sacrifícios que fizeram.

Mais especificamente, no município de Araraquara, dois desses cursinhos foram instalados na zona rural, em diferentes assentamentos de Reforma Agrária. Num primeiro deles, na Fazenda Bela Vista, estávamos justamente pesquisando o tema Juventude Rural. Resolvemos então realizar, em 2002, um trabalho voluntário de Orientação Profissional que resultaria em dados interessantes para observar como se situam esses jovens diante das barreiras do vestibular. A experiência – narrada em Whitaker e Onofre (2003) – desvendou um mundo rico de possibilidades e de aspirações que as políticas públicas deveriam levar em conta. Nossa proposta é de que esses jovens precisam de uma orientação específica para o vestibular, já que desconhecem as práticas e as estratégias que deveriam utilizar para superar os obstáculos que se antepõem às suas aspirações por educação superior. Nosso trabalho de orientação acabaria se transformando numa quase pesquisa-ação, e à medida que conversávamos com esses jovens, suas representações (ora sociais, ora individuais) iam aflorando e estão anotadas em nossos registros, dos quais constam também cinco redações reveladoras de notável competência lingüística, considerando as condições nas quais vivem. Morando em lotes de Reforma Agrária, todos eram obrigados a caminhar no “chão da noite” para chegar à escola, na sede da antiga fazenda, e após exaustiva ajuda aos pais no trabalho da roça, assistir aulas até às 23 horas.

Nosso trabalho foi apresentado no VI Simpósio da ABOP (Associação Brasileira de Orientação Profissional) em 2003, e debatido com Psicólogos e Psicopedagogos. Mas isso não nos era ainda suficiente. Tínhamos que compreender melhor o desalento que afasta esses jovens da universidade pública e as pressões sociais que os levam a prestar vestibular em universidades particulares que – sabem de antemão – não vão poder cursar. Parecem ignorar que a Universidade Pública, embora mais difícil de alcançar , oferece cursos de baixa procura (Whitaker e Fiamengue, 1999, 2003) e que se insistirem em replicar os exames ano após ano, como fazem os jovens das camadas mais elevadas que cursam Medicina3, por exemplo, poderão realizar parte de suas aspirações.

Nossa primeira evidência foi de que suas representações sociais negativas em relação à escola pública de Ensino Médio encontravam ancoragem em preconceitos que a sociedade desenvolve, e a mídia se encarrega de magnificar. Para estes preconceitos, a passagem pela escola pública seria empecilho à aprovação no vestibular da Universidade Pública. Esquecendo-se todos de que estudantes egressos do ensino médio particular também são barrados nesses vestibulares e acabam indo para o sistema particular de ensino superior, cujas mensalidades podem pagar. Ou seja, se o jovem cursou a escola pública e fracassa no vestibular, a culpa é da escola e de seus professores “despreparados”. Mas quando o jovem cursou a escola particular do ensino médio, atribui-se a ele a culpa do fracasso, isentando-se a escola particular de responsabilidade. É assim que funciona a ideologia. Mas não estávamos preocupadas em estudar o processo ideológico que encobre as verdadeiras funções do vestibular. Esse já é velho conhecido (Whitaker, 1985) e não explica tudo. Resolvemos estudar a formação das representações sociais que acompanhavam o desenvolvimento desses novos cursinhos, já que podíamos contar com jovens que pela primeira vez eram convidados a uma prática há mais de 50 anos oferecida neste país apenas aos bem situados socialmente.

Pressupostos Teórico-Metodológicos

O embasamento teórico desta interpretação dos fenômenos está presente ao longo do texto, mas entendemos que devemos aprofundá-lo neste momento, preparando o leitor para o encontro com os conceitos no decorrer da leitura. Para Wolfgang Wagner o conceito de representações sociais é multifacetado (Wagner, 1999). É por isso, um conceito extremamente aberto, dando margem a interpretações nem sempre compatíveis entre si. No entanto, quando vamos a Moscovici (2004) compreendemos essa contraditoriedade, já que percebemos o processo histórico através dos qual se forma e se apresenta esse fenômeno.

Moscovici elaborou teoria de grande complexidade, que nos permite analisar as representações sociais ocorrendo na dinâmica histórica dos diferentes grupos, como um processo de comunicação através do qual são construídos e elaborados significados que – em forma icônica, simbólica, imaginativa – dão sentido às interações entre os indivíduos e entre os grupos, conferindo ordem à vida social e orientando os indivíduos para atuarem em relação ao mundo material e à esfera dos valores (Moscovici, 1978).

Para Moscovici as representações sociais não são apenas coletivas “elas formam estruturas individuais de conhecimentos e afetos que justificam, informam, orientam os membros de um grupo”. (Moscovici, 2004, p. 54). Assim, podemos dizer que elas facilitam a comunicação e ao mesmo tempo brotam das conversações do cotidiano, em cada grupo social. Registrar a conversação seria, para esse teórico, a melhor estratégia para investigar a representações sociais (Moscovici, 2004).

Boa parte dos autores que se aprofundam no estudo da sua teoria apontam o fato de que Moscovici não se preocupou em definir de maneira formal o conceito de representação social, o que foi lembrado entre outros, por Oliveira e Werba (1998). Com efeito, a proposta de Moscovici (2004, p. 45) é que se deve considerar as representações sociais como fenômenos (analisando-as) e não simplesmente como um conceito a ser aplicado sem preocupação com a sua complexidade. As investigações sobre as representações sociais confirmam suas importantes funções “algumas, cognitivas, já que estabelecem ligações entre o senso comum e a esfera científica”, conforme observamos também nesta pesquisa. Afinal, a ciência do tipo que praticamos tem raízes na própria sociedade e sofre processos de divulgação, que facilitam assimilação pelo homem comum. Para Moscovici, nessa função cognitiva, as representações sociais vão “ancorando significados, estabilizando ou desestabilizando as situações evocadas”, enquanto na sua função social, elas vão “mantendo e criando identidades e equilíbrios coletivos”.

Assim, as representações sociais observadas entre diferentes agentes envolvidos foram trabalhadas à luz dos conceitos de: ancoragem e objetivação; universo científico x universo consensual. Com o conceito de ancoragem, procuramos compreender representações em formação e percebê-las em processo de assimilação aos conteúdos cognitivoemocionais pré-existentes. E com o conceito de objetivação registramos o fortalecimento da representação, à medida que referências abstratas iam se transformando em “algo tangível” (Sawaia, 1993). Os dois conceitos nos remetem à ideologia. Mas é preciso primeiro adiantar o uso que faremos dos conceitos de científico x consensual.

Não faltam estudos científicos sobre vestibulares e acesso à universidade no Brasil. Tornou-se então imperioso para nós, confrontarmos o que se desvela na esfera científica sobre esse tema e a forma como os diferentes agentes pensam (consensualmente) sobre os seus problemas, diante dessa formidável barreira do sistema educacional, e sobre os outros “fatos sociais”, como diria o velho Durkheim, que participam do complexo cultural em questão.

Metodologia

A coleta de dados para apreender as representações sociais foi feita a partir de entrevistas semidiretivas, durante as quais procuramos obter depoimentos expressando opiniões dos agentes sobre: vestibulares e a necessidade dos cursinhos para o acesso à universidade; probabilidade de acesso à universidade pública e/ou à particular; possibilidades para estudantes da zona rural em contraposição aos da urbana no que se refere a esse acesso; opiniões sobre o cursinho da zona rural que freqüentaram; explicações para o sucesso/insucesso que alcançaram; aspirações e escolha do curso superior desejado. Estes foram, portanto, os temas previamente definidos.

Os dois últimos temas foram abordados só em relação aos estudantes, já que entrevistamos também o ex-coordenador dos cursinhos comunitários e a ex-Secretária da Educação. Este material permite observar como as representações sociais realmente “implicam num intercâmbio entre intersubjetividade e o coletivo na construção do saber que não se dá apenas como processo cognitivo, mas que contém aspectos emocionais e afetivos...” (Lane, 1993).

Para enriquecer nossas fontes contamos com as cinco redações extremamente bem elaboradas pelos estudantes que investigamos, as quais forneceram elementos afetivos interessantes para pensar as aspirações e a maneira como são representadas. Conforme se pode observar, a metodologia foi baseada em técnicas de pesquisa qualitativa (entrevistas semi-diretivas e coleta de redações) com os temas previamente definidos propostos no roteiro das entrevistas. Este, embora flexível, foi planejado de forma a apresentar questões que levantassem os referidos temas. Foram entrevistados nove estudantes que freqüentaram, em 2002 e 2003, o cursinho comunitário da zona rural, alvo da pesquisa. Foram entrevistados ainda o ex-coordenador e a ex-Secretária da Educação, durante cuja gestão foram implantados estes cursinhos.

As idades dos estudantes variavam entre 18 e 23 anos – sendo o grupo composto de quatro jovens do sexo masculino e cinco do sexo feminino, mas há que ressaltar a presença, no cursinho, do pai de um dos estudantes, que contava à época 39 anos e se dispôs a participar das entrevistas. Elevou-se então para dez o número de participantes, um número bastante adequado ao tipo de análise proposto pela pesquisa. Mas apenas cinco nos forneceram redações, abordando temas relativos à infância e às aspirações por escolarização em nível superior.

A cuidadosa análise de conteúdo desse material nos forneceu dados que permitiram desvelar as representações por nós elencadas neste artigo. Importante ressaltar que nem todos os depoimentos contemplaram todos os temas propostos pelo nosso roteiro de entrevista. Já que as representações sociais contém aspectos emocionais e afetivos, optamos por deixar o entrevistado à vontade para que pudesse expressar suas “teorias” justificadoras ou explicatórias, sem inibições ou coerções que desvirtuassem suas opiniões ou que os forçassem a falar sobre temas que evitavam. Para tanto, utilizamos a entrevista semidiretiva (Thiollent, 1980).

 

ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DO MATERIAL OBTIDO

a) Representações sociais sobre o vestibular e a necessidade de freqüentar cursinhos para obter sucesso

O vestibular não aparece, ou melhor, não é posto em julgamento pelos diferentes agentes em nenhum momento das entrevistas realizadas. Devemos pensar que isto significa uma representação positiva? Evidentemente não: em primeiro lugar porque ela não foi enunciada e em segundo lugar porque esse concurso está de tal maneira “naturalizado” pelo seu quase um século de existência que já não ocorre, às pessoas comuns, avaliarem sua necessidade/desnecessidade. É óbvio que se tivéssemos forçado, as representações teriam ao menos se esboçado. Mas nossa opção metodológica foi de “colher” apenas o espontâneo.

Quanto à necessidade de freqüentar cursinhos, ela aparece com unanimidade no discurso de todos. O cursinho é representado positivamente e como se fosse um degrau inserido no sistema escolar. A ninguém ocorreu lembrar que o cursinho não faz parte do sistema e significa uma estratégia para-escolar para ajudar a tornar o estudante mais competitivo no momento da seleção. Sendo assim, o ex-coordenador dos cursinhos se orgulha de ter sido o autor do projeto que o prefeito encampou (logo após eleito) enquanto a Secretária da Educação esclarece que foi uma promessa de campanha e os estudantes se regozijam por terem oportunidade de freqüentar um cursinho pelo qual não precisam pagar. O consenso é geral sobre os seus benefícios, o que leva partidos a transformarem projetos dessa ordem em promessas de campanha (esfera consensual). Enquanto no plano científico, os pedagogos, psicólogos e sociólogos da educação apontam o caráter antipedagógico das práticas dos cursinhos (esfera científica) e consideram-no sintoma grave da falta de eficiência do sistema escolar, as representações sociais são unânimes: oferecer cursinho gratuitos às camadas pobres é democratizar uma prática elitista que “garante o acesso” (assim se acredita). Mas cuidado! As esferas do consensual e do científico não estão tão distantes umas das outras. É nessa mesma esfera da pesquisa que vamos encontrar a descoberta de um “efeito cursinho”, afetando resultados dos vestibulares, tanto para os jovens privilegiados que gozaram das benesses da escolaridade bem paga, quanto para os jovens pobres que passaram pelo ensino médio da escola pública4.

Assim sendo, as representações sociais sobre os benefícios do cursinho encontram sua intersecção na esfera científica e não raro um dos pesquisadores dessa esfera acaba indo trabalhar na coordenação de cursinhos. Afinal, se o cursinho é útil aos bem situados, seria antidemocrático continuar privando dele os mais necessitados [de reforço escolar].

b) Probabilidade de acesso à universidade pública ou particular

No âmbito das representações sociais em formação, os jovens entrevistados acreditam ser mais fácil entrar na universidade particular. O coordenador e a ex-secretária pensam da mesma forma, o que está corroborado pelos dados da procura (relação candidato/vaga). Ou seja, os estudantes entram em processo de desalento diante desse quadro estatístico adverso; é óbvio que haja mais procura por um “serviço” que além de gratuito é melhor. Assim, estão formando suas representações sobre o acesso, “ancorados” nas opiniões dos técnicos e na mídia e muitos nem prestam vestibular na universidade pública porque a consideram inacessível. A ancoragem aqui é clara.

Vejamos agora o que nos diz a pesquisa científica. Na verdade é muito difícil entrar na universidade pública, para os cursos de prestígio (relação candidato/ vaga muito alta) que são em geral elitizados5. Mas há licenciaturas e cursos noturnos de baixo prestígio (medido pela relação candidato/vaga) que não seriam tão inacessíveis. Nesse mesmo assentamento – onde está o cursinho pesquisado – temos dois casos de jovens que fizeram o curso de Pedagogia Noturno da UNESP em Araraquara e hoje trabalham nas escolas do assentamento, o que aconteceu bem antes da instalação dos cursinhos comunitários.

A pesquisa científica mostra que toda dicotomia é simplificadora. É difícil passar em qualquer vestibular de medicina, seja público ou privado. Ou seja, para cursos de prestígio o acesso é difícil em qualquer universidade enquanto para cursos de baixa procura ele será mais fácil em qualquer universidade. Para a pesquisa científica há complexidade e heterogeneidade entre os cursos (Whitaker & Fiamengue, 2003).

Se considerarmos que os relatórios sobre vestibulares que a ciência divulga cheios de dados quantitativos não constituem ciência, mas apenas aquilo que Bourdieu chama de “doxa” (Bourdieu, 2001) então aqui não há intersecção entre o universo do consensual e o universo científico. Não há lugar nas representações sociais e na mídia para dados científicos que desvelam as possibilidades democratizantes da universidade pública. A idéia das universidades públicas como reduto das elites é uma Representação Social tão forte, que acaba se objetivando mesmo para aqueles estudantes pobres – e não são poucos – que a partir de cursos universitários de ciência básica seguem a carreira acadêmica e acabam se tornando cientistas e/ou intelectuais. Mesmo ganhando pouco e participando de greves como qualquer outro segmento da classe trabalhadora, todos continuam achando que fazem parte da elite do país, tal a força de certas representações sociais! (Fiamengue, 2002).

c) Possibilidades dos estudantes da zona rural em contraposição aos da urbana no que se refere ao acesso ao ensino superior

As dificuldades dos estudantes da zona rural são evocadas pelo coordenador e tocadas levemente pela ex-secretária, que as relativiza. Os estudantes evitam o tema, mas deixam escapar as dificuldades que enfrentam. Somente o coordenador diz com todas as letras que estudantes da cidade – mesmo os das periferias mais problemáticas – têm mais chances (possibilidades portanto) de se classificar num vestibular. As pessoas não precisam falar muito: a representação social aqui já está objetivada – é quase tangível. É que encontra sua ancoragem ideal – o preconceito contra o rural que atravessa toda a sociedade (Martins, 1974; Whitaker, 2002).

Mas consultemos o universo científico. Todos os críticos da universidade apontam apenas seu caráter urbanocentrado e os sociólogos, inspirados em Bourdieu, sabem que o Capital Cultural essencial ao sucesso escolar é urbano (Todorov, 1977; Whitaker, 1981; Oliveira, 1976). Estudos recentes desvelam a ruralidade como obstáculo ao sucesso no vestibular (Whitaker & Fiamengue, 1999; 2003). No entanto, há outros obstáculos: a classe social / a etnia / os espaços periferizados das metrópoles (Oliveira, 1976; Whitaker, 1981) quase nunca mencionados. Assim, as representações sociais sobre suas possibilidades, embora por “linhas tortas”, digamos assim, encontram respaldo no universo científico que denuncia os preconceitos, mas ainda não possui instrumentos para corrigi-los.

No entanto, estamos diante de outra dicotomia simplificadora. Os espaços humanos não se dividem somente em rural e urbano, que aliás, segundo Martins (1974) já foram unificados pelo capital. As cidades, por exemplo, são formadas de bairros, com diferentes funções e diferentes formas de morar, e as periferias estão entre as zonas mais desamparadas pelo poder público.

Mas no caso de Araraquara, foi da periferia mais distante e mal vista da cidade, na qual a prefeitura nem queria instalar o cursinho, que saiu o caso mais expressivo de sucesso no vestibular, entre os estudantes dos cursinhos comunitários, segundo nos informou o ex-coordenador dos cursinhos.

d) Qualidade do ensino médio público x particular

As representações sobre a escola pública fundamental e de ensino médio acompanham as representações que foram construídas nas últimas décadas e que a mídia, principalmente a escrita, não se cansa de divulgar. Tais representações, em formação entre os estudantes, ancoram diretamente numa representação que “durkheimeanamente” poderíamos até chamar de coletiva. O discurso sobre a decadência da escola pública é constante no país há mais de três décadas. O ex-coordenador dos cursinhos declara que é quase impossível a esses jovens entrarem numa universidade pública porque cursaram essa escola pública em decadência (na mesma entrevista em que nos conta o sucesso da aluna da periferia que cursou escola pública e foi aprovada no vestibular da UNESP). Mas “se esquece” desse dado e afirma a impossibilidade de um aluno de escola pública ter sucesso num vestibular da Universidade Pública). A objetivação da má fama da escola pública é inegável e encontra respaldo em pesquisas científicas que há mais de 40 anos têm acompanhado as “grandezas e misérias do ensino brasileiro” (Werebe, 1968) e sabem que ela vem de longa data. No entanto, sabem também os pesquisadores que a escola particular não é assim tão diferente, a não ser pela classe social dos alunos. Estes porém, também necessitam do “efeito cursinho”. Pesquisas com dados dos vestibulares da UNESP apresentam resultados que desmistificam essa absoluta melhor qualidade do sistema particular de ensino, já que:

1) há cursos, na UNESP, nos quais a maioria dos classificados tiveram toda sua escolaridade no sistema público de ensino (são em geral cursos de pouco prestígio, mas nos cursos de alto prestígio também encontramos contingentes expressivos desse tipo de estudante) (Whitaker & Fiamengue, 2003);

2) estudantes aprovados nos vestibulares de alto prestígio como Medicina e Direito, em sua maioria, são aqueles que prestam vestibular pela segunda e/ ou terceira vez. O efeito cursinho é claro (Whitaker & Fiamengue, 1999).

Ora, se essa escola particular é assim tão mais eficiente do que a pública, por que não põe imediatamente seus egressos na universidade pública? Mais uma dicotomia abalada pelas pesquisas científicas quando tomam os fenômenos em sua complexidade.

e) Opinião sobre o cursinho da zona rural que frequentaram

Neste momento as emoções positivas afloram. A gratidão que sentem por ter tido acesso a essa prática escolar elitizada é imensa. As representações em formação são ainda vacilantes mas amparam-se umas nas outras e seus agentes uns nos outros. Embora entrevistado num momento quente6, o ex-coordenador faz boas referências ao cursinho e a ex-secretária evita entrar nesse mérito. Para os alunos, o cursinho é maravilhoso, os professores são todos ótimos e as condições do prédio em que funcionou são as melhores possíveis.

A ancoragem dessas representações ainda não está clara, mas os dados sugerem que o afeto e valor simbólico da assistência que tiveram é fundamental na formação dessas representações, ainda não objetivadas (hesitações no discurso são sintomas dessa não objetivação). Por outro lado, colhemos alguns desses depoimentos quando se anunciava a extinção dos cursinhos da zona rural e todos estavam pesarosos com essa perda. Os políticos ainda não se deram conta do caráter simbólico do espaço escolar (ou são insensíveis a isso?). Toda vez que se extingue um curso ou se fecha uma escola, os envolvidos sofrem emoções ligadas às perdas. E isso não é por acaso. Por menos que se goste de estudar e por mais que os sociólogos proclamem o caráter reprodutivista da educação escolar, o espaço no qual professores se encontram com seus alunos para partilhar a busca do conhecimento se reveste de emoções contraditórias, porém positivas: afeto, críticas, esperança e expectativas para o futuro, aspirações, modelos a serem seguidos. Quem teria coragem de apontar defeitos no espaço de uma experiência comunitária tão cheia de afeto? Um dos entrevistados, quando lhe perguntamos porque falhara em seu vestibular, disse que o cursinho era ótimo e os professores também. Os livros não eram atualizados e neles colocava a culpa do seu insucesso. Os “livros” são as apostilas, fornecidas à Prefeitura por uma das maiores e melhores editoras de didáticos e paradidáticos do país. O jovem procurou jogar a culpa no elemento mais distante de seus afetos e gratidões. Com essa representação, aliás bem individual, compõe certa racionalização com a qual se ajusta à situação de reprovado: não é sua a culpa por ter sido reprovado, mas também não é dos professores ou do cursinho. “Os ‘livros’ é que não estavam atualizados”.

f) Explicações para o sucesso/insucesso que alcançaram

As representações sobre o insucesso já estão delineadas pelos outros temas. A culpa é da má escola pública nos níveis anteriores à Universidade. Estas representações ocorrem para todos os agentes entrevistados e como vimos anteriormente têm muito de verdadeiro. Há uma ancoragem clara entre o que a sociedade considera a decadência da escola pública e as justificativas do insucesso no vestibular. Como a maioria não consegue aprovação em vestibulares da Universidade pública (à exceção dos poucos casos apontados) a representação social se objetiva. E embora possa lhes diminuir a auto-estima, contribui para ajustá-los às condições adversas que enfrentam. “Afinal a culpa não é minha. Com esse tipo de ensino médio, nem o cursinho nos pode salvar”.

g) Aspirações e escolha

Este é o ponto mais difícil de avaliar em termos de Representação Social. E não só porque aspiração e escolha da carreira são fenômenos bastante subjetivos embora multideterminados, mas também porque, segundo Bourdieu (1966), as aspirações subjetivas dos indivíduos esbarram e se complicam diante das condições objetivas que enfrentam. Ora, os jovens entrevistados têm pouquíssima informação sobre os espaços acadêmicos: questão de Capital Cultural, o que nos leva novamente a Bourdieu (1966). É difícil saber se quando anunciam as suas aspirações ou escolhas estão realmente elaborando representações sociais ou estão apenas atirando no escuro, influenciados pela mídia ou pelo professor mais admirado.

Façamos um pequeno balanço do que declaram, para ver se tiramos algumas constantes do discurso sobre as escolhas.

Bem, uma constante no depoimento desses jovens é o amor à natureza. Todos, sem exceção, gostam de morar no assentamento e preferem uma profissão que lhes permita trabalhar em locais abertos. Alguns chegaram a afirmar que não gostavam de trabalhar em lugares fechados e que o ideal, se tiverem que trabalhar na cidade, seria continuar morando no assentamento. No entanto, quando explicitam suas escolhas, surge o paradoxo. Com exceção de um rapaz que joga futebol e quer fazer Educação Física, temos as seguintes escolhas: Odontologia – profissão exercida em salas fechadas; Fisioterapia – que prepara para clínicas e consultórios (fechados portanto); Pedagogia – que prepara para tarefas burocráticas do ensino7; Medicina – e o entrevistado se imagina dentro de um hospital cuidando de doentes; Engenharia Aeronáutica – escolha de um jovem que faz poesias e deseja ser piloto. Quando explicamos que ser piloto e ser engenheiro aeronáutico são coisas diferentes, fica embaraçado. Dizemos também que para um poeta talvez não seja satisfatório lidar com máquinas. Mas resolve a contradição afirmando que “poderá trabalhar rodeado de gente”.

O mais dramático, no entanto, é o caso de um estudante que já está na Universidade particular, cursando Matemática porque foi o curso que conseguiu aderindo ao programa Família-Escola. Como os bombeiros, com os quais estagiara, também carregam a Representação Social que o desqualifica para o vestibular da Universidade pública, foi em busca desse caminho. O problema é que aspirava ao curso de Agronomia ou ao de Administração [porque fez o técnico de Contabilidade e tem facilidade para lidar com papéis e documentos]. Mas suas aspirações subjetivas naufragaram diante das condições objetivas e das representações sociais sobre suas capacidades.

Em termos de representações sociais o que nos dizem essas escolhas tão individuais? Elas nos dizem exatamente que as representações sociais sobre os cursos universitários atravessam todas as classes sociais, e objetivadas, se instauram facilmente mesmo entre aqueles que desconhecem o espaço acadêmico. Desconhecem o espaço acadêmico mas conhecem o prestígio das profissões. Medicina e Engenharia não estão entre as estrelas das carreiras? Fisioterapia não é carreira em alta? Administração não é o sonho da burguesia? Odontologia não é a “última” das profissões liberais?

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tratamos as representações sociais que garimpamos no universo das nossas pesquisas com grande respeito. E principalmente, quando revestidas de muito afeto e emoções positivas, foram por nós valorizadas e em alguns momentos chegamos também a nos emocionar com elas. Entendemos que quando os sujeitos se ajustam às suas condições objetivas apoiados em representações sociais, em nenhum momento devemos discuti-las. No entanto, a pesquisa científica existe para benefício dos seres humanos. Ou pelo menos assim deveria ser. Nosso próximo passo será desmistificar, para esses jovens, apenas aquelas representações que os impedem de ir em busca do sonho. Essas fazem parte do processo ideológico que justifica barreiras sociais como por exemplo, o exame vestibular. A ideologia ficará então desfetichizada como diria Sawaia (1993). Ao invés da “fantasmagoria” que brota das estruturas materiais, envolvendo sujeitos passivos que apenas as reproduzem sem crítica (como quer o “marxismo vulgarizado”) a ideologia é o resultado das representações e ações contraditórias dos sujeitos, os quais, ao mesmo tempo que a confirmam, a ela resistem, lutando com suas parcas armas, pelo sonho e/ou por suas aspirações.

Acreditamos que conhecer as representações sociais sobre o “complexo vestibulares”, o qual conforme sugerimos envolve entrelaçamento entre várias instâncias (ensino público x privado, escolha, orientação, efeito cursinho, etc.) pode contribuir para o trabalho do Orientador Profissional, em qualquer circunstância, mas especialmente quando lidando com jovens das camadas vulneráveis.

A Orientação Ocupacional é hoje um campo atravessado por mudanças profundas. E o debate sobre a direção que devem tomar estas mudanças é tema hoje de congressos e de importantes publicações8.

Segundo Rascovan (2004)

La tarea específica em Orientación Vocacional, debería tender a facilitar la construcción de recorridos abiertos al cambio. Propiciar uma construcción subjetiva que no se amolde estrictamente a las estructuras de títulos y carreras sino que se organice dinamicamente como uma subjetividade dispuesta a enfrentar problemas. (p.8).

Ora, para propiciar “a construção de uma subjetividade que não se amolde às estruturas” é preciso criar condições através das quais o jogo entre as representações coletivas e as individuais possa ser “aberto” à compreensão crítica. Escapar às armadilhas sócio-históricas (Whitaker, 1985) que assombram os seres humanos em busca de realização pessoal torna-se mais fácil quando esse jogo é desvelado. Trabalhar com representações sociais pode acrescentar complexidade às tarefas de orientador. Mas certamente pode torná-las ainda mais fascinantes.

 

REFERÊNCIAS

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Recebimento: 20/12/05
1ª Revisão: 12/03/06
Aceite final: 08/05/06

 

 

1 Endereço para correspondência: Av. Espanha, 60, apto. 121, 14801-130, Araraquara, SP. Fone: (16) 3322 5764. E-mail: sil.onofre@uol.com.br

 

 

Notas

1 Juventude rural é hoje tema de ponta na Sociologia. Os sociólogos em geral estudaram muito os problemas da juventude nas cidades, preocupados, ora com o acesso à universidade e à profissionalização ora com a delinqüência e outros desvios. O jovem rural permanecia “escondido” dentro dos problemas gerais do campo. A esse respeito ver Whitaker (2002).
2 Para a abordagem do vestibular como ritual de passagem ver Whitaker, 1985.
3 Whitaker e Fiamengue, estudando os vestibulares da UNESP, encontraram nos dados dos classificados e matriculados, que as maiores porcentagens de aprovados para os cursos de prestígio são para candidatos que estão concorrendo pela segunda e/ou terceira vez (Whitaker & Fiamengue, 1999).
4 Whitaker criou a expressão “efeito cursinho” ao constatar o fenômeno em pesquisas realizadas em 1988. Sobre o “efeito cursinho” ver Whitaker, 1989 e Whitaker e Fiamengue, 1999. Também Miranda dos Santos observou o fenômeno em sua dissertação de Mestrado (Miranda dos Santos, 1996).
5 Há uma diferença entre prestígio e elitização – dois processos que em geral coincidem. O prestígio se mede pela relação candidato/vaga e a elitização pelos indicadores de classe social e capital social dos matriculados. Ver Crivelaro Bezzon, 1996.
6 O ex-coordenador perdera seu cargo a partir dos acordos políticos para a reeleição do prefeito e estava revoltado com a notícia do fechamento dos cursinhos da zona rural. Para as características de um momento quente ver Thiollent, 1980.
7 A lei 9394/96 criou outros caminhos para formar professores, profissão que pode gerar belo trabalho aberto na zona rural. O Curso Normal Superior, criado por essa LDB, ainda não esta consolidado e a idéia de que o Curso de Pedagogia passou a formar pesquisadores e Administradores também continua em polêmica. Diríamos que são informações ainda não objetivadas como representação social.
8 Veja-se, por exemplo, como Melo-Silva, Lassance e Penna Soares situam as “tendências de evolução e necessidades” do contexto educacional no que se refere ao campo da Orientação (Melo-Silva; Lassance; Penna-Soares, 2004).

 

Sobre os autores

* Dulce Consuelo Andreatta Whitaker é socióloga e Professora aposentada do Departamento de Sociologia da Unesp (Araraquara – SP). Especializada em Sociologia da Educação. É pesquisadora do CNPq e professora vinculada ao Programa de Pós-graduação em Educação da Unesp (Araraquara – SP). Autora de diversos livros.
** Silvana Aparecida Onofre é socióloga, estudante de Psicologia e bolsista do CNPq junto ao NUPEDOR – Núcleo de Pesquisa e Documentação Rural – Unesp (Araraquara – SP). Desenvolveu estudos sobre consórcios de meio ambiente no interior do Estado de São Paulo pelo CEPAM.

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