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Revista Brasileira de Orientação Profissional

versão On-line ISSN 1984-7270

Rev. bras. orientac. prof v.7 n.2 São Paulo dez. 2006

 

EDITORIAL

 

 

A avaliação da pessoa, de problemas e problemáticas, e de processos e resultados é objeto de estudo relevante na Psicologia e na Educação. Desenvolver e analisar instrumentos e procedimentos que avaliam o comportamento humano e as estratégias de intervenções psicológicas e educativas é importante para a implementação e manutenção de programas e serviços de atendimento qualificado.

A Associação Internacional de Orientação Escolar e Profissional (International Association for Educational and Vocational Guidance – IAEVG) definiu critérios internacionais de qualificação para o orientador educacional e vocacional em duas categorias de competências. As competências centrais focalizam o conhecimento, as habilidades e as atitudes necessárias a todos os profissionais da orientação, entre elas o comportamento ético e a habilidade para planejar, implementar e avaliar programas de orientação e aconselhamento. Por sua vez, as competências especializadas podem ser requeridas dos profissionais conforme contexto e cenário de trabalho e são vistas como igualmente importantes. Abrangem 10 áreas, entre elas “Diagnóstico” e “Pesquisa e avaliação”. O Diagnóstico compreende a “análise das características e das necessidades dos indivíduos ou grupos para os quais o programa é dirigido, e também dos contextos nos quais eles estão inseridas, incluindo todos os agentes envolvidos. O objetivo é integrar e avaliar dados de inventários, testes, entrevistas, escalas e outras técnicas que medem capacidades, aptidões, enfrentamento de barreiras, papéis de vida, interesses, personalidade, valores, atitudes, realizações educacionais e habilidades de um indivíduo, bem como outras informações relevantes. Essa especialização inclui as competências relacionadas, porém distintas da interpretação de testes, isto é, explicar para o cliente os resultados de uma avaliação e suas implicações” (Repetto Talavera; Liévano, Soto, Ferrer-Sama & Hiebert, 2004, p. 5). A competência para realizar Pesquisa e avaliação refere-se a “estudar questões relacionadas à orientação e aconselhamento, tais como processos de aprendizagem, comportamento vocacional e seu desenvolvimento, valores, etc. Examinar a eficácia das intervenções”. (p. 5)

Em especial no cenário brasileiro da Orientação Profissional, que se desenvolveu notadamente no campo da Psicologia o diagnóstico, torna-se mais relevante ainda após a iniciativa do Conselho Federal de Psicologia com a Resolução 002/2003, que regulamenta o uso, a elaboração e a comercialização de testes psicológicos.

O presente fascículo foi organizado com vistas a considerar o cenário internacional de definição de critérios de competências que sirvam de parâmetros para o cenário brasileiro com medidas de qualificação dos instrumentos de avaliação psicológica. Além disso, a Associação Brasileira de Orientadores Profissionais (ABOP) está desencadeando um processo de discussão sobre critérios de qualificação e certificação. Assim a Revista Brasileira de Orientação Profissional (RevBOP) procedeu a uma chamada de trabalhos relativos à questão da avaliação no domínio da Orientação Profissional: (1) avaliação de problemas e problemáticas, (2) avaliação da pessoa e (3) de processos e resultados, que foi prontamente atendida pela comunidade científica, que submeteu diversos estudos acerca da produção científica, da avaliação de competências, de dimensões do comportamento e de processos e resultados.

Estudos sobre a produção científica são extremamente relevantes em qualquer área do conhecimento. Tais pesquisas são denominadas “estado da arte” ou “estado do conhecimento”, de caráter bibliográfico, cujo desafio é mapear e discutir a produção acadêmica de determinado objeto em uma área específica do conhecimento. Objetivam analisar épocas e lugares, formas e condições, assim como resultados e implicações de dissertações de mestrado, teses de doutorado, publicações em periódicos, comunicações em anais de congressos entre outras fontes. São estudos que retratam determinadas áreas de pesquisa e inserem o leitor no universo mais amplo do estudo, o que é um grande mérito, porém, dialeticamente, é importante ressaltar que podem apresentar maiores ou menores limitações, uma vez que relataram uma das possíveis Histórias construída a partir da leitura dos autores (Ferreira, 2002); outras leituras são possíveis e é este o convite da RevBOP aos seus leitores em relação a todos os trabalhos publicados.

Quatro artigos focalizam problemas e problemáticas no domínio da Orientação Profissional. São estudos sobre a produção científica, métodos de avaliação e a questão da formação de competências. O primeiro artigo de Ana Paula Porto Noronha e sua equipe, da Universidade São Francisco de Itatiba, apresenta uma Análise de Teses e Dissertações em Orientação Profissional. Neste artigo, os autores analisam a produção de teses e dissertações relacionadas à área de orientação profissional e vocacional. Foram analisados título, autoria, resumo e palavras-chave de 100 estudos. Os resultados mostram que a maior parte dos resumos era referente à área de Psicologia, embora também estivessem representadas Saúde Pública, Enfermagem e Administração. Os autores concluíram que houve um aumento da produção científica ao longo das décadas, especialmente a partir da década de 90.

A segunda contribuição – Modelo Desenvolvimentista de Avaliação e Orientação de Carreira Proposto por Donald Super – é de Marina Cardoso de Oliveira e Vanessa da Fonseca Guimarães, Mestrandas Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia e Marília Ferreira Dela Coleta, da Universidade Federal de Uberlândia. O estudo focaliza o modelo de avaliação e orientação de Donald Super, que objetiva auxiliar as pessoas a resolverem os seus problemas de carreira de forma integradora. “Este modelo auxilia na compreensão dos determinantes objetivos e subjetivos do desenvolvimento de carreira, superando o modelo tradicional de orientação de carreira que se baseia fundamentalmente nos modelos de combinação (matching models)”. Assim este estudo objetiva descrever as características e as etapas deste modelo de avaliação e orientação de carreira, além de discutir as suas implicações práticas para os orientadores de carreira.

O terceiro artigo, intitulado Modelos e Instrumentos de Avaliação em Orientação Profissional: perspectiva histórica e situação no Brasil, é uma contribuição de Mônica Sparta, da Universidade Estácio de Sá - RJ, Marúcia Patta Bardagi, da Universidade Luterana Brasileira, Santa Maria e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Marco Antônio Pereira Teixeira, da UFRGS. O referido estudo descreve dois modelos de avaliação em Orientação Profissional, suas vinculações teóricas e instrumentos disponíveis: um modelo que focaliza o resultado e outro o processo de orientação. Em um cenário de preocupação com a qualidade da avaliação psicológica em nosso país, os autores dão especial atenção aos instrumentos brasileiros mais conhecidos e utilizados, destacando a “necessidade de desenvolver mais instrumentos válidos e fidedignos de avaliação em Orientação Profissional no Brasil e de oferecer uma formação teórica mais sólida aos orientadores profissionais”.

Abordando a questão da formação sólida, cabe refletir sobre competências. Nesse sentido uma grande colaboração é dada por María Luisa Rodríguez Moreno, da Universidad de Barcelona. Em seu trabalho De la Evaluación a la Formación de Competencias Genéricas: Aproximación a un Modelo, a autora demonstra que se pode transpor um modelo de avaliação de competências laboral a outro modelo paralelo de formação. Apresenta algumas definições do termo competência, introduz um modelo classificatório e relata os métodos para avaliar competências. Ao término, expõe um modelo de formação de sete competências que considera genéricas, mais significativas e demandadas no mundo do trabalho atual. As reflexões, a partir da perspectiva européia, podem auxiliar os pesquisadores e profissionais da orientação a pensar sobre possibilidades de transposições, adaptações e/ou novas proposições adequadas aos contextos e cenários brasileiros.

Dois artigos referem-se à avaliação das características e das necessidades de indivíduos ou grupos. Assim, o quinto estudo Questionário de Educação à Carreira: Propriedades Psicométricas da Versão Brasileira e Comparação Transcultural, é uma valorosa contribuição de Marcos Alencar Abaide Balbinotti, da Université de Sherbrooke, Canadá e Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Brasil e Bernard Tétreau da Université de Montréal, Canadá. O estudo com uma amostra de 890 estudantes do ensino médio brasileiro é útil no sentido de se verificar os resultados das análises de itens, correlações inter-escalas e da estrutura fatorial exploratória, corroborando os dados obtidos pelas amostras canadense e espanhola. O estudo aponta a necessidade de proposição de normas para utilização clínica desta versão no Brasil.

Camélia Santina Murgo Mansão, do Instituto Superior de Educação das Faculdades Integradas de Jaú e Elisa Médici Pizão Yoshida, da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCC) contribuem com o sexto artigo SDS - Questionário de Busca Auto-dirigida: precisão e validade. Este estudo avalia algumas propriedades psicométricas do Questionário de Busca Auto-Dirigida (Self-Directed Search Career Explorer – SDS). A amostra foi constituída por 1162 adolescentes, estudantes de segunda e terceira séries do ensino médio de três escolas, duas públicas e uma particular. Os resultados sugerem “que o SDS pode ajudar na identificação dos interesses de estudantes de ensino médio, em processos de Orientação Profissional, definindo-se o seu tipo profissional”.

Dois manuscritos focalizam a avaliação de serviços: um avalia processos e resultados em um serviço brasileiro no contexto de uma Faculdade de Psicologia, no Brasil e, o outro avalia a orientação vocacional em escolas em áreas de vulnerabilidade psicossocial, na Argentina. Assim o sétimo artigo intitulado Avaliação de um Serviço de Orientação Profissional: A Perspectiva de Ex-Usuários é uma contribuição de Fabiana Hilário de Almeida e Lucy Leal Melo-Silva, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da USP, Ribeirão Preto. O estudo descreve a avaliação de um Serviço de Orientação Profissional de uma Clínica-escola de Psicologia, de uma universidade pública, no período de sete anos de funcionamento. A principal contribuição para a comunidade de orientadores refere-se à divulgação de um instrumento de avaliação em três dimensões: inputs, processos e outputs, construído com base no modelo de French, Hiebert e Bezanzon. Os resultados permitem visualizar forças e fraquezas no processo orientador, permitindo reformulações com vistas à continuidade de um serviço qualificado.

Mirta Gavilán, da Universidad Nacional de La Plata (UNLP), e Sergio Labourdette, do Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas (CONICET), Argentina, apresentam o oitavo estudo, intitulado Investigación: la orientación y la educación en áreas de alta vulnerabilidad psicosocial. Este estudo, de uma maneira bem ampla, descreve a orientação vocacional / ocupacional em escolas denominadas de alta vulnerabilidade psicossocial, na Argentina. O objetivo foi conhecer o nível de intervenção, metodologias e práticas da orientação nessas escolas, cujos alunos finalizam o ensino médio, mas não ingressam e/ou permanecem no nível superior de ensino e nem em um trabalho qualificado. Considerando os dados estatísticos sobre evasão no ensino brasileiro, conhecer a realidade de um país vizinho pode ser útil para o enfrentamento das condições adversas na América Latina.

O nono trabalho é a resenha Para refletir sobre a avaliação psicológica na orientação profissional, de Marco Antônio P. Teixeira e Maria Célia P. Lassance, da UFRGS, sobre a valiosa publicação, Avaliação Psicológica em Orientação Escolar e Profissional, de Lígia Mexia Leitão, da Universidade de Coimbra. Essa resenha é bem apropriada para publicação neste fascículo que focaliza o problema da avaliação.

Na seção “notícias” destacamos os eventos realizados: II Congresso Brasileiro Psicologia: Ciência & Profissão – Enfrentando as Dívidas Históricas da Sociedade Brasileira, realizado em São Paulo e os Informes sobre o Congresso Internacional da IAEVG: Crossover Guidance realizado na Dinamarca.

Como notícia de evento a ser realizado divulgamos o I Congresso Latino Americano de Orientação Profissional e o VIII Simpósio Brasileiro de Orientação Vocacional & Ocupacional, da ABOP, que acontecerá no período de 16 a 18 de agosto de 2007 em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul. E, também o Congresso Internacional da AIOSP: “Orientación com propuesta para la Ecologia Social”, em Buenos Aires, Argentina, de 18 a 20 de setembro de 2008.

Desejamos boa leitura e a participação entusiasmada nos próximos eventos.

 

 

Lucy Leal Melo-Silva

Editora

 

REFERÊNCIAS

Repetto Talavera, E., Liévano, B. M., Soto, N. M., Ferrer-Sama, P. & Hiebert, B. (2004). Competências Internacionais para Orientadores Educacionais e Vocacionais. Revista Brasileira de Orientação Profissional,5 (1), 1-14.

Ferreira, N. S. de A. (2002). As pesquisas denominadas “estado da arte”. Educação & Sociedade, 23 (79), 257-272.