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Revista Brasileira de Orientação Profissional

versão On-line ISSN 1984-7270

Rev. bras. orientac. prof v.8 n.1 São Paulo jun. 2007

 

ARTIGOS

 

O papel dos pais na construção de trajectórias vocacionais dos seus filhos

 

Parents’ role in the construction of their children’s career

 

El papel de los padres en la construcción de las trayectorias vocacionales de sus hijos

 

 

Carlos Manuel Gonçalves* 1; Joaquim Luís Coimbra**

Universidade do Porto, Portugal

 


RESUMO

Partindo de uma abordagem construtivista e ecológica do desenvolvimento vocacional, este estudo visa analisar as acções intencionais ou não que os pais realizam para apoiarem os seus filhos na construção de trajectórias vocacionais em momentos do seu percurso vocacional, nomeadamente: (a) proporcionando-lhes actividades concretas de exploração vocacional; (b) acompanhando-os e apoiando-os nas várias etapas de formação, concretamente nos momentos em que têm que realizar escolhas vocacionais (c) nos discursos emergentes transaccionados no contexto da família acerca dos significados atribuídos ao trabalho. A amostra é constituída por 20 adolescentes do 9º e 12º anos e seus respectivos pais da Região Norte de Portugal. Através da análise das 40 entrevistas semi-estruturadas tenta-se perceber qual o papel activo que os pais assumem no apoio aos seus filhos nos momentos das escolha vocacionais, e, simultaneamente, analisar como os filhos experienciam esta influência familiar na construção das suas trajectórias vocacionais. Apresentam-se e discutem-se os resultados, tirando as respectivas implicações para a intervenção psicológica.

Palavras-chave: Ecológica, Exploração, Significados.


ABSTRACT

Paths Starting from a developmental, ecological, constructivist approach to vocational development, the goal of this study was to analyze parents’ explicit and implicit actions to influence their children’s career paths by means of a variety of ways, namely (a) concrete exploration activities jointly developed by parents and children; (b) supporting them with their vocational choices; (c) family discourses about meanings of work. The subjects were 20 adolescents/students from the 9th and 12th grades and their parents from Northern Portugal. From semi-structured interviews conducted with them we tried to understand the parents’ roles in helping their children with their career choices and analyse how their children experienced family influences in the construction of their career paths. Results are discussed as well as their implications for psychological intervention.

Keywords: Ecological, Exploration, Career paths.


RESUMEN

Partiendo de un punto de vista constructivista y ecológico del desarrollo vocacional, este estudio pretende analizar las acciones, intencionales o no, que los padres realizan para apoyar a sus hijos en la construcción de trayectorias vocacionales en momentos diferentes de su proyecto vocacional, a saber: (a) realizando actividades concretas de exploración vocacional; (b) apoyando y acompañando en las distintas etapas de formación, en concreto en los momentos en que tienen que realizar elecciones vocacionales; (c) en los discursos que emergen en los contextos de la familia acerca de los significados atribuidos al trabajo. La muestra es constituida por 20 adolescentes del 9º y 12º cursos de escolaridad y sus respectivos padres que viven en la Región Norte de Portugal. Por medio del análisis de 40 entrevistas semiestructuradas se intenta percibir cual es el papel activo que los padres asumen en el apoyo garantizado a sus hijos en los momentos de opción vocacional y, al mismo tiempo, analizar como viven los hijos esta influencia familiar en la construcción de sus trayectorias vocacionales. Se presentan y discuten los resultados, sacando las respectivas implicaciones para la intervención psicológica.

Palabras clave: Ecológico, Exploración, Significados.


 

 

O desenvolvimento vocacional tem sido conceptualizado, ao longo do tempo, a partir de múltiplas abordagens teóricas, emergindo daí diversos pontos de vista sobre o problema, com incidências incontornáveis na delimitação do seu âmbito, bem como nas estratégias de intervenção para a sua promoção.

Assume-se que o desenvolvimento vocacional, se constitui como uma dimensão integradora do desenvolvimento psicológico global, referindo-se à confrontação do indivíduo com as sucessivas tarefas relacionadas com a elaboração, implementação e reformulação de projectos de vida multidimensionais, ao longo do ciclo vital, onde estão em jogo a educação/formação, a qualificação e a actividade profissional, na articulação com a escolha de um estilo de vida que comporta a coordenação dos diferentes papéis da existência: familiar (como filho(a), cônjuge, pai ou mãe), cidadão, consumidor, membro de grupos de várias ordem, entre outros. (Campos, 1989).

Desde este ponto de vista, não faz qualquer sentido introduzir clivagens entre desenvolvimento vocacional e as outras dimensões do desenvolvimento humano. Assim, o desenvolvimento vocacional poderá ser considerado como a dimensão de síntese, ou integração de todas as dimensões da existência e, deste modo, a sua promoção é inseparável da promoção das múltiplas dimensões do desenvolvimento psicológico como, o cognitivo, moral, interpessoal, a identidade. (Campos, 1989).

Sendo o objecto deste estudo, o papel dos pais na construção de trajectórias vocacionais dos seus filhos, assume-se, claramente, uma perspectiva conceptual contextualista/ecológica do desenvolvimento. Ou seja, os projectos humanos não se realizam no vazio, mas é no contexto de acções e relações mais próximas e alargadas, mais ou menos significativas, que os sujeitos em desenvolvimento fazem parte integrante através de papéis, actividades e relações, influenciando e sendo influenciados reciprocamente pelos seus subsistemas relacionais (Bronfenbrenner, 1986). O âmbito deste estudo circunscreve-se ao microssistema família. Assim, as acções conjuntas realizadas entre pais e filhos são construídas socialmente; ou seja, é no contexto social impregnado pelo conjunto de valores, normas, afectos, significados, crenças culturais, acontecimentos históricos e os legados difusos &– que constituem o cimento da sociedade &– que, directa ou indirectamente, influenciam a construção de projectos pessoais e familiares (Bronfenbrenner, 1979; Law, 1991).

 

Abordagem Conceptual e Revisão da Investigação do Problema em Análise

As diferentes formas de abordagem do desenvolvimento vocacional que foram emergindo historicamente na Psicologia Vocacional &– que são, inevitavelmente, os mesmos quadros teóricos que foram emergindo na Psicologia como instrumentos de análise da realidade psicológica na sua globalidade &– não são nem pretendem ser mutuamente exclusivas. Cada nova proposta emerge como uma forma de superação dos aspectos limitadores das perspectivas anteriores, mas respeitando e integrando os seus contributos. As múltiplas abordagens vão-se sucedendo no seu processo evolutivo de natureza dialéctica &– embora não se tenha aqui como objectivo construir a sua história &– procurando captar as diferentes lógicas ontológicas e epistemológicas, bem como as suas implicações práticas, correspondendo a modos diversos de conceptualizar a orientação e o desenvolvimento vocacional e contribuir para o desenho de estratégias de intervenção psicológica neste domínio.

Embora reconhecendo-se os contributos que outras perspectivas teóricas proporcionaram à investigação para a compreensão e transformação da realidade vocacional, a perspectiva construtivista, ecológica e desenvolvimentista, do nosso ponto de vista, emerge como a proposta mais útil e integradora, ao considerar que os projectos vocacionais não se descobrem, mas se constroem, nos contornos das oportunidades que os contextos histórico-sociais viabilizam ou impossibilitam. Dentro deste quadro geral histórico/construtivista, o desenvolvimento vocacional processa-se ao longo da história de vida do indivíduo, através das relações que o sujeito psicológico estabelece com os segmentos diversificados da realidade, sob forma de encontros, experiências, contactos, questionamentos e significados, implicando a desconstrução de projectos anteriores e a reconstrução de novos investimentos (Coimbra, Campos & Imaginário, 1994).

Das razões que fundamentaram esta opção construtivista sublinham-se estas ideias força: (a) é a perspectiva de raiz psicológica que permite uma leitura integradora das várias dimensões da complexidade do funcionamento psicológico que intervêm na construção do itinerário vocacional, porque a relação dialéctica que o sujeito estabelece com o mundo, mediante a exploração e o investimento vocacionais, é, simultaneamente, afectiva, cognitiva e indissociável da acção (Campos & Coimbra, 1991), garantindo a construção de significados idiossincráticos que torna possível a viabilização de projectos humanos, historicamente organizados e socialmente inscritos; (b) além disso, é a abordagem mais adequada para ultrapassar visões lineares, unidireccionais e ascendentes das trajectórias vocacionais, inadequadas à complexidade do funcionamento individual e social, propondo, em alternativa, uma concepção do desenvolvimento vocacional, multidimensional e recorrente, onde a lógica das possibilidades, da viabilidade e da imprevisibilidade se sobrepõem aos critérios da verdade, da validade e da previsibilidade (Coimbra, 1997/1998; Sennet, 1998)

A escolha da perspectiva ecológica e desenvolvimentista justifica-se pelo facto de proporcionar um quadro conceptual que permite articular as variáveis pessoais e as contextuais, ultrapassando as dicotomias do “todo social” extrapessoal &– das abordagens de carácter predominantemente sociológico &– e o “todo pessoal” intrapessoal &– da tradição psicológica clássica (Campos, 1992). A perspectiva ecológica do desenvolvimento humano (Bronfenbrenner, 1986) oferece a possibilidade de uma reconceptualização do desenvolvimento humano em geral no contexto de interacções significativas, dinâmicas e recíprocas entre o sujeito em desenvolvimento e os seus contextos de vida, percepcionando-se, especificamente, o desenvolvimento vocacional como um processo desconstrutivo/reconstrutivo de significados e representações que o self estabelece na relação com a família e com o mundo em que se insere (Vondracek & Fouad, 1994). Porque os sujeitos não se constroem exclusivamente a partir de estruturas, orientações, projectos e recursos internos, mas estes entrecruzam-se com referências estruturantes, orientações, projectos e recursos do mundo dos outros (Gergen, 2001).

Dentro dos múltiplos contextos onde ocorre o desenvolvimento vocacional, a família apresenta-se como o primeiro e o mais significativo com incidências determinantes nas trajectórias vocacionais das gerações mais novas. Aí se aprende, desde as etapas mais precoces da existência, os saberes, os afectos e as experiências mais estruturantes e organizadoras que serão a matriz de significados das relações que irão estabelecer consigo próprio e com os outros e onde, fundamentalmente, acontece a preparação dos variados papéis da existência que garantirão a integração psicossocial do sujeito, transformando-o, em graus variáveis, em protagonista da sua própria história construída na relação dialógica com os outros (Gonçalves & Coimbra, 2003).

O contexto familiar, principalmente, os pais como figuras significativas, influencia, directa ou indirectamente, as trajectórias vocacionais dos adolescentes e jovens &– como, a opção por um projecto de formação profissão &–, nas mensagens verbais ou atitudinais, implícitas ou explícitas que intencionalmente ou não, se transmitem na vida quotidiana familiar, contribuindo decisivamente para a construção dos projectos dos seus filhos. Isto é, os adolescentes, como sujeitos em construção, vão configurando as suas trajectórias de vida, no curso do seu desenvolvimento, como resultado das relações significativas que vão estabelecendo com o mundo que os rodeia, principalmente com a família, escola e o contexto social de origem; da qualidade destas relações e das oportunidades que os contextos naturais de vida lhes proporcionam ou não, dependerá a sua forma de situar-se face aos desafios do presente e do futuro (Campos, 1992).

Assim, não é indiferente e insignificante nascer num contexto familiar onde existe estabilidade emocional que garanta a segurança de um projecto de vida ou provir de uma família desestruturada e disfuncional; não é irrelevante viver em ghettos de exclusão social ou viver em zonas privilegiadas onde se pode aceder às oportunidades que possam possibilitar maior sucesso, pertencer a uma classe social ou a outra, viver no interior ou no litoral. Estas assimetrias, entre outras, são preditoras de caminhos vocacionais diferenciados, ao nível das expectativas de que são portadores em termos de exploração e investimentos na formação que os poderá preparar para a entrada na vida profissional.

Apesar da falta de emprego &– que cada vez mais se vai afirmando como desemprego estrutural &–, e cada vez menos a formação a que se acede garanta automaticamente e emprego para que supostamente se preparou, também é verdade que são os sujeitos menos equipados em termos de formação e qualificação profissional que são, naturalmente, os excluídos das escassas oportunidades disponíveis, sobretudo, as que são percebidas como as mais prestigiadas e remuneradas e onde o trabalho reúne condições e características capazes de contribuir para a realização e dignidade profissionais (Gonçalves & Coimbra, 2000).

As investigações realizadas nos últimos anos, neste âmbito, vêm sinalizando progressivamente, uma vontade expressa por parte de algumas famílias, principalmente dos pais, para assumirem as suas responsabilidades no apoio à construção das trajectórias vocacionais dos seus filhos, pretendendo ter um papel insubstituível e cada vez mais activo neste processo de desenvolvimento vocacional, porque percebem que os percursos vocacionais dos seus dependem da qualidade dos apoios e investimentos que os pais vão protagonizando neste processo de construção do projecto de formação/educação/profissão dos seus filhos, sendo percebidos como parte integrante do projecto da família (Gonçalves, 2006; Young, Valach, Ball, Paseluikho, Wong, DeVries, McLean, & Turkel, 2001).

Apresenta-se, na continuação, a partir da revisão da literatura, alguns dados da investigação acerca do impacto de variáveis familiares no desenvolvimento vocacional das gerações mais novas, como o nível sociocultural e económico da família e algumas dimensões relacionais e formas de regulação e auto-organização da família.

O estatuto sociocultural e económico da família, representado, sobretudo, pelos níveis de educação e qualificação profissional dos pais, é determinante na construção e planeamento dos projectos vocacionais dos filhos, apresentando-se como um indicador preditivo do sucesso profissional, influenciando as expectativas de formação/profissão dos jovens. Assim, as representações socioprofissionais: como o prestígio, os estereótipos associados às profissões, os significados atribuídos ao trabalho são veiculados através de mensagens intencionais ou não intencionais transaccionadas no contexto familiar (Gonçalves, 2006; O’Brien, Friedman, Tripton & Linn, 2000). Os pais tendem a transmitir aos filhos valorizações da realidade do mundo do trabalho, isto é, as dimensões que eles próprios consideram importantes e nucleares para o sucesso profissional. Por exemplo, os pais de níveis socioculturais e económicos mais elevados, onde o sucesso profissional depende da capacidade de autodirecção e chefia, valorizam muito mais a autonomia dos filhos e proporcionam experiências exploratórias que vão no sentido da competitividade, da independência, da auto-suficiência e da assertividade. Pelo contrário, os pais de níveis socioculturais e económicos mais desfavorecidos, onde o sucesso profissional depende da conformidade à autoridade, tendem a valorizar mais as atitudes de obediência/subserviência na educação dos seus filhos, reduzindo assim as oportunidades de exploração vocacional e as suas expectativas de formação e sucesso profissional (Gonçalves, 1997; Hoffman, Goldsmith & Hofacker, 1992).

Apesar da proclamada igualdade de oportunidades no discurso social e político, parece importante sublinhar que nem todos os adolescentes e jovens têm as mesmas possibilidades de acesso às oportunidades sociais de formação e de profissão de níveis mais elevados, sendo, em muitos casos, um privilégio que resulta de ter nascido num determinado contexto sociocultural, ou de pertencer a uma família com um determinado estatuto sociocultural e económico. Os jovens provenientes de níveis sociocultural e económico médio e médio alto revelam um maior grau de autonomia em relação aos seus contextos familiares, permitindo-lhes oportunidades de exploração vocacional, por isso, manifestam expectativas elevadas relativamente à construção de projectos de formação e de profissão. Estas mensagens são transmitidas implícita ou explicitamente no contexto familiar e coexistem com os dispositivos necessários, em termos de apoios afectivos e instrumentais, para garantirem projectos de formação e de profissão que possam proporcionar o sucesso e a ascendência pessoal e familiar (Gonçalves, 1997; 2006). No entanto, os sujeitos de níveis socioculturais e económicos médio baixo e baixo tem expectativas reduzidas relativamente ao seu projecto de vida (formação, profissão), porque as mensagens veiculadas na sua família de origem e nos seus contextos de vida mais próximos vão no sentido da reprodução e perpetuação dos déficit’s do grupo social de pertença, porque os constrangimentos económicos e sociais os empurram inevitavelmente para a primeira oportunidade de trabalho &– pelo abandono precoce do sistema de formação &– que lhes garante a si e aos seus a sobrevivência (Gonçalves, 1997; 2006; Trusty, Watts & Erdman, 1997).

Estudos realizados no decorrer da última década (Gonçalves, 1997, 2006; Young, Valach, Ball, Turkel & Wong, 2003; Young, Valach, Paseluikho, Dover, Matthes, Paproski, & Sankey, 1997) concluem que os contextos familiares que proporcionam um clima onde se alternam os momentos de apoio com os de desafio, onde se comunicam abertamente os problemas emergentes do sistema familiar, onde se valorizam a escola e as actividades culturais, em que se rentabilizam, intencionalmente, os momentos comuns de encontro para atender às necessidades de cada um dos seus elementos e que garantem um suporte emocional seguro aos filhos &— nomeadamente em momentos de moratória vocacional &— favorecem o desenvolvimento vocacional dos adolescentes e jovens. Ou seja, estas famílias oferecem múltiplas oportunidades de exploração vocacional aos seus filhos, permitindo-lhes que assumam as suas decisões, quer seja em relação à escolha profissional quer em relação ao projecto de formação; e, embora os acompanhem e os respeitem nesse processo, garantindo-lhes autonomia e protagonismo nas escolhas, não deixam, no entanto, de os questionarem sobre o realismo das suas opções, antecipando-lhes as possíveis consequências das suas decisões (Gonçalves, 2006; Young e colaboradores, 2003; Young et al., 1997).

Contudo, os ambientes familiares, cujo clima psicossocial é caracterizado por níveis de comunicação reduzidos, sendo notória a ausência de expressão de sentimentos e experiências, onde se registam frequentes situações de violência física, psicológica, verbal ou até mesmo de abuso sexual, onde se passam mensagens de desvalorização da escola e da cultura são limitadores do desenvolvimento vocacional (Gonçalves, 2006; Kinnier, Brigman & Noble, 1990; Young, 1994). Relativamente à sua configuração estrutural, estas famílias são pouco diferenciadas, aglutinadas ou desagregadas, sendo óbvia, a ausência de definição de fronteiras entre os vários subsistemas, proporcionando-se intromissões abusivas, que não garantem a privacidade e respeito pelos vários elementos do sistema familiar (Minuchin, 1974). É frequente, nestas famílias, a construção de um contexto comunicacional marcado pela ambivalência, pela chantagem emocional, pela anestesia afectiva ou pela negligência, por parte das figuras significativas, gerando-se desestruturação familiar e abdicando-se dos valores e convicções de figuras de referência (famílias aglutinadas ou desagregadas). É frequente, nestas famílias, a ausência das figuras de vinculação no apoio emocional às várias tarefas de desenvolvimento dos filhos &– mais frequentemente a figura paterna &–, podendo emergir situações disfuncionais como a triangulação, as alianças e as coligações (Penick & Jepsen, 1992).

 

Método

O objecto deste estudo pretende ser um contributo para promover a reflexão e a compreensão sobre a influência explícita ou implícita que o contexto familiar, nomeadamente os pais, tem no desenvolvimento vocacional dos adolescentes e jovens, para que, conhecendo-a, se possa intervir para o influenciar, através de intervenções intencionais e sistemáticas. Especificamente, procura-se analisar que acções intencionais ou não que os pais realizam para apoiarem os seus filhos na construção de trajectórias vocacionais em momentos do seu percurso vocacional, nomeadamente: (a) proporcionando-lhes actividades concretas de exploração vocacional; (b) acompanhando-os e apoiando-os nas várias etapas de formação, concretamente nos momentos em que têm que realizar escolhas vocacionais (c) nos discursos emergentes transaccionados no contexto da família acerca dos significados atribuídos ao trabalho. E, simultaneamente, analisar como os filhos experienciam esta influência familiar em momentos específicos do seu desenvolvimento.

Participantes

A amostra, constituída por vinte díades de pais e adolescentes, foi seleccionada a partir da população de um estudo mais alargado constituída por 731 adolescentes dos 9º e 12º anos do Ensino Básico e Secundário da Região Norte de Portugal e seus respectivos pais (Gonçalves, 2006). Procurou-se garantir, quanto possível, um critério de heterogeneidade, relativamente ao ano de escolaridade, ao género, à proveniência geográfica, ao tipo de família e ao nível sociocultural da família. O critério de escolha da amostra, na população de adolescentes e jovens do 9º e 12º ano de escolaridade,2 deve-se, entre outras, às seguintes razões (Tabela 1):

Tabela 1

Caracterização da amostra das entrevistas

 

 

(a) Os adolescentes do 9º ano de escolaridade estão, na sua generalidade, numa fase activa do seu desenvolvimento vocacional, caracterizada, frequentemente, por questionamentos, procura, dúvida, insegurança, uma vez que o sistema de oportunidades de formação (Sistema Educativo Português), ao diversificar-se em várias ofertas de formação no Ensino Secundário, lhes impõe o constrangimento de realizarem uma escolha de formação no final do Ensino Básico. Ora, este período de questionamento ou moratória vocacional é de grande relevância, uma vez que é uma oportunidade que o adolescente tem de pensar e planear o seu projecto de vida, sendo previsível uma intensificação de actividades de exploração vocacional, como a procura de informação acerca da formação e do mundo do trabalho… em ordem a resolver, com sucesso, da tarefa vocacional com que no momento se confronta;

(b) Os jovens do 12º ano de escolaridade, como se situam, no seu itinerário vocacional de formação, numa fase de conclusão do Ensino Secundário, também estão confrontados com a resolução de uma tarefa vocacional importante: ou ingressar no mundo do trabalho ou prosseguir a sua formação, pelo ingresso num curso superior. Este poderá constituir-se como um momento privilegiado de exploração e investimento, em ordem a ir configurando o projecto de vida, em função das oportunidades de que dispõe, fazendo uma negociação inevitável entre os projectos a que aspira e os projectos a que pode aceder, pelos constrangimentos dos numeri clausi de acesso aos vários cursos do ensino superior.

Material e procedimento

Neste estudo foi privilegiada uma metodologia qualitativa, a partir de 40 entrevistas realizadas com adolescentes e seus respectivos pais, para identificar como os pais portugueses, progressivamente, vão assumindo um papel cada vez mais activo na construção das trajectórias dos seus filhos e verificar como este apoio é sentido pelos adolescentes. Para tal foram construídas, num processo parcimonioso, a partir da revisão da investigação (e.g. Brook & Daniluk, 1998; Richie, e colaboradores, 1997; Young e colaboradores, 2001) e da experiência da intervenção em consulta psicológica vocacional, duas entrevistas semi-estruturadas &– uma para pais e outra para os adolescentes &– que visavam analisar as intenções dos pais para, explícita ou implicitamente, influenciarem as trajectórias vocacionais dos seus filhos e, simultaneamente, como os adolescentes experienciavam este apoio.

As 40 entrevistas foram realizadas por dois profissionais de Psicologia, em contexto da intervenção de consulta psicológica vocacional, no Serviço de Consulta e Orientação Vocacional da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto e nos Serviços de Psicologia e Orientação de Escolas EB 2,3 e Secundárias da Região Norte de Portugal. As entrevistas, gravadas em áudio, aconteceram em momentos temporais diferentes, primeiro com os adolescentes &– no início do processo da intervenção &–, e, depois, com os seus respectivos pais, &– no final do processo de intervenção &– para preservar pontos de vistas diferenciados de cada uma das partes. As gravações das quarenta entrevistas, depois de serem transcritas pelo mesmo profissional que as realizou, foram devolvidas aos sujeitos para que as validassem, possibilitando-lhes a oportunidade de alterarem a narrativa transcrita. Foi sobre este último texto que se realizou a análise, a partir das categorias subjacentes aos objectivos da investigação, através da utilização do software NUDIST 6.0, para confrontar os discursos dos pais com os dos filhos e identificar o grau de envolvimento e apoio que os pais portugueses garantem na construção das trajectórias dos seus filhos e, simultaneamente, verificar como este apoio é sentido pelos adolescentes.

 

Apresentação e discussão dos resultados

Os resultados organizam-se em torno de três categorias, que correspondem aos três objectivos alargados a partir dos quais foram construídas as duas entrevistas para os pais e filhos, a saber: (a) os apoios intencionais ou não intencionais, concretizados em acções, que os pais realizam para ajudarem os seus filhos na construção de projectos vocacionais (escolha de um curso do ensino secundário ou do ensino superior); (b) o grau de envolvimento dos pais no acompanhamento do percurso escolar dos seus filhos; (c) a importância, significado e centralidade do trabalho na vida da família.

(a) Apoios intencionais ou não intencionais, concretizados em acções, que os pais realizam para ajudarem os seus filhos na construção de projectos vocacionais

Da análise dos discursos dos pais e dos filhos, verifica-se um progressivo envolvimento e intencionalidade, por parte dos pais portugueses, em apoiarem os seus filhos na construção de projectos vocacionais, principalmente, em momentos em que os filhos têm de realizar, por constrangimentos do sistema social de formação (segundo o sistema educativo português, no 9º e 12º anos de escolaridade), a escolha de um curso/formação. Contudo, a garantia da quantidade e da qualidade dos apoios é diferenciada em função do nível de escolaridade e profissional dos pais e da figura parental. Regista-se, ainda, uma forte congruência entre os discursos dos pais e dos filhos.

Dos vinte pais que participaram neste estudo, dez (50%) manifestaram que realizaram alguma acção intencional de exploração vocacional para ajudarem os seus filhos, sobretudo nos momentos em que eles tinham de realizar opções de formação (9º ano e durante o Ensino Secundário, sobretudo no 12º ano), percebendo essas etapas de formação como uma oportunidade importante e decisiva para a preparação do futuro profissional dos filhos. Sete dos pais que expressam tal intencionalidade integram o grupo de nível cultural mais elevado, isto é, realizaram um curso do Ensino Superior. Dos sete pais que não concluíram o 3º ciclo (9º ano) apenas um casal manifesta ter realizado alguma actividade de apoio explícito à exploração vocacional. Estes dados, expressos nos discursos dos pais e confirmados nos dos filhos, são reveladores de como a garantia e a qualidade do apoio em actividades de exploração vocacional, por parte dos pais, estão relacionadas com o nível socio-económico e cultural dos progenitores.

Relativamente à qualidade do apoio e à quantidade de acções realizadas com os adolescentes, existem também diferenças em função do estatuto profissional dos pais e do seu grau de escolaridade. Como exemplo, apresenta-se a qualidade do apoio fornecido pelos pais da Ent.14 do 12º ano, cujos pais são docentes do ensino superior: “Falamos frequentemente com a nossa filha sempre que surgem momentos de dúvidas, sobretudo em momentos em que ela tinha de tomar decisões; procurámos a ajuda de profissionais especializados no 9º e 12º (psicólogos) para a ajudarem na escolha da formação; acompanhamo-la nas visitas a contextos profissionais e de formação: escolas secundárias e faculdades…”. O discurso da adolescente (filha) apresenta-se consentâneo com o discurso dos seus pais: “Os meus pais conversam muitas vezes comigo sobre os meus gostos, sobre o que gostaria de fazer no futuro; sobre os cursos do ensino superior; fazemos pesquisas na internet sobre cursos e profissões; procuraram um psicólogo para me ajudar nas minhas dúvidas sobre as minhas escolhas no 9º e 12º anos; acompanharam-me à Faculdade de Engenharia para entrevistar um investigador e visitar um laboratório do departamento de Engenharia Química…” (Ent.14).

Como contraponto apresenta-se o exemplo de um discurso de pais de um adolescente do 9º ano (Ent.6) pouco apoiantes e com um nível de escolaridade baixo (4º e 6º ano): “falamos com o nosso filho para se agarrar aos estudos e tirar boas notas, se não vai trabalhar para as obras…”. O discurso do adolescente confirma o dos pais: “os meus pais nunca realizaram nenhuma actividade porque não percebem nada destas coisas…” (Ent.6).

Os dez adolescentes do 9º e 12º anos que sentiram a presença dos pais nos momentos de exploração do seu projecto vocacional valorizam o papel activo e empenhado dos significativos e avaliam as actividades realizadas, em conjunto, como muito positivas: “a realização destas actividades deram-me muito mais segurança nas escolhas que tive de fazer “ (Ent.13); “ajudaram-me a pensar sobre o meu futuro” (Ent. 1, 2 e 3); “resolveram-me dúvidas e preocupações e aumentei o meu conhecimento sobre os cursos que estava a considerar como possíveis para a minha futura formação” (Ent.14).

Registe-se ainda, que estas actividades conjuntas de exploração vocacional são predominantemente da iniciativa da figura materna (treze dos pais &– 65% &– reconhecem que é a mãe que está mais atenta a estas questões): “É a mãe porque está mais por casa e, por isso, mais livre para acompanhar os filhos” (Ent.6). Contudo, constata-se que estas diferenças, na generalidade, também se vão esbatendo nos pais com níveis de formação mais elevada &– sete pais (dos oito que têm o grau de licenciatura) assumem que são os dois que se envolvem nestas tarefas &–, sendo as responsabilidades deste processo partilhados pelos dois progenitores: “envolvemo-nos os dois nestas actividades, dependendo sempre da disponibilidade do momento” (Ent.14); “Os dois. Desde muito cedo, procurámos fazer um acompanhamento muito cuidadoso à nossa filha para lhe garantir uma boa formação e preparar o seu futuro” (Ent.3).

Da análise cuidadosa dos discursos produzidos pelos pais e filhos pode-se afirmar que se vai registando, progressivamente, nas famílias portuguesas um maior envolvimento dos pais no acompanhamento dos seus filhos para irem delineando percursos vocacionais de formação, apoiando-os nos momentos de moratória vocacional, realizando actividades diversificadas de exploração vocacional, por sentirem que este apoio é importante e insubstituível para garantirem com alguma probabilidade o futuro vocacional das gerações mais novas.

Na linha dos estudos que se vêm realizando no decorrer dos últimos anos (Gonçalves, 2006; Gonçalves, 1997; Pinto & Soares, 2001, 2002; Soares, 1998; Young, 1994; Young & Friesen, 1992; Young e colaboradores, 2001, 2003) esta investigação confirma a relevância dos contextos familiares na configuração de expectativas vocacionais das gerações mais novas, estando significativamente dependentes da qualidade do apoio disponibilizado ou não pelos significativos. Ou seja, pais apoiantes que oferecem múltiplas oportunidades de exploração vocacional aos seus filhos, permitindo-lhes espaço para assumirem as suas decisões quer seja em relação à escolha profissional quer em relação ao projecto de formação, facilitarão o desenvolvimento vocacional dos adolescentes e a construção de expectativas realistas de investimento num curso. Nestes contextos familiares, os pais sentem que têm um papel significativo no desenvolvimento vocacional dos seus filhos e não querem abdicar deste direito, antes pretendem assumi-lo com maior intencionalidade, não aceitando serem substituídos por outros, como a escola ou o grupo de pares e os filhos percebem como positivo esse apoio e recorrem a ele (Gonçalves, 1997; Palmer & Cochran, 1988). Por isso, mobilizam-se realizando actividades diversas como: a visita a contextos de formação, o recurso à ajuda de profissionais qualificados; conversando sobre a conveniência e limitações de realizar um curso do ensino secundário e/ou superior; e, fazendo exploração de informação em suporte escrito ou informático sobre as profissões e saídas profissionais.

Através desta incursão pela revisão da investigação e pelos resultados deste estudo, pode afirmar-se, com alguma consistência, que o contexto familiar influencia o processo de desenvolvimento vocacional dos adolescentes e jovens, sublinhando que há contextos de vida que proporcionam experiências em quantidade e qualidade desenvolvimental, &– em termos de oportunidades de exploração e investimento &–, e outros que inviabilizam estas oportunidades, sendo os adolescentes provenientes de famílias mais desfavorecidas social e culturalmente os mais penalizados, perpetuando-se o ciclo da reprodução das desigualdades sociais. A esta conclusão chegava Trusty e colaboradores (1997) ao constatarem que o factor familiar com maior preditibilidade no envolvimento dos pais no apoio ao desenvolvimento vocacional era a variável nível socioeconómico e cultural (NSEC) da família; ou seja, os pais de NSEC baixo passavam menos tempo do que os de NSEC médio e alto no apoio aos seus filhos, não se envolvendo, de forma intencional, em actividades de exploração vocacional e negligenciando o apoio aos filhos nesta tarefa de desenvolvimento.

(b) O grau de envolvimento dos pais no acompanhamento do percurso escolar dos seus filhos

Relativamente ao grau de envolvimento dos pais com a escola, isto é, em que medida os pais acompanham os seus filhos no seu percurso de formação, também são claras as diferenças entre a qualidade do acompanhamento e os recursos disponibilizados para garantir o sucesso escolar entre os pais de níveis de formação mais elevados e mais baixos de formação, e entre a figura materna e paterna. Inequivocamente a figura materna exerce, quase exclusivamente, esta tarefa educativa, sendo o pai uma figura frequentemente ausente, com uma maior incidência nos pais menos escolarizados.

Dos vinte pais entrevistados, treze reconhecem (sendo também confirmado no discurso dos filhos) que é a figura materna que tem essa missão; sete afirmam que são os dois (pai e mãe) que realizam este acompanhamento, pertencendo estes, exclusivamente, ao grupo dos pais mais escolarizados. Exemplificando, a partir do discurso dos pais de uma adolescente do 9º ano: “desde o primeiro ano de escolaridade, e agora mais que vai para o ensino secundário, conversamos com a nossa filha sobre a importância da formação/de estudar na preparação do seu futuro profissional” (Ent.3). Como contraponto, apresenta-se o discurso ilustrativo dos pais de uma aluna do 12º ano, que apenas têm o 4º ano (pai, desemprego de longa duração, e mãe a trabalhar num emprego não qualificado e precário): “Nós não percebemos quase nada da escola; só lhe dizemos, de vez em quando, para estudar que o bem é para ela; estamos dispostos a sacrificarmo-nos para que se forme e não tenha a nossa vida que é muita dura e difícil” (Ent.12).

Este acompanhamento, por parte dos pais, do percurso escolar dos filhos tornou-se mais urgente e persistente a partir do 9º ano de escolaridade e durante o Ensino Secundário, sobretudo no 12º ano &– ano de realização de exames nacionais que são decisivos para a seriação dos candidatos os aos cursos do Ensino Superior &–, como também é confirmado, quase unanimemente, pelos adolescentes e pelos próprios pais, embora os pais mais escolarizados o tenham realizado, cuidadosamente, ao longo de todo o percurso de formação dos filhos (Ent. 2, 3, 4, 7, 13 e 15). O principal catalizador motivacional que mobiliza os pais a realizarem este investimento no acompanhamento escolar dos seus filhos &– que se torna mais notório nos discursos dos pais mais escolarizados &– é aperceberem-se que a partir do 9º ano, ou seja, durante o Ensino Secundário, que está a desenvolver-se uma etapa decisiva no futuro profissional dos seus filhos. Por isso, os resultados escolares assumem uma importância determinante, como garante do acesso e sucesso em formações mais valorizados socialmente, em termos de prestígio social (as áreas das ciências da saúde e das ciências e tecnologias, no contexto português) e das representações sobre futuras saídas profissionais. Apresenta-se, como ilustração deste investimento parental no acompanhamento escolar, o discurso de um dos casais: “A nossa filha é que tem de explorar o curso onde se sente melhor; embora estejamos interessados que escolha um curso que possa, com alguma probabilidade, garantir-lhe saída profissional e se possa sentir bem. Por isso, estimulamo-la a trabalhar, sem a pressionarmos, garantindo-lhe todos os apoios pedagógicos e científicos: explicações, experiências de exploração vocacional, suportes bibliográficos para entrar no curso que quer” (Ent. 3). E, agora, o discurso da filha: “Depois do 9º ano tenho de escolher uma área em que me sinta bem e que tenha saída, porque desta escolha vai depender o meu futuro” (Ent. 3).

Salienta-se, quer nos discursos dos pais quer nos dos adolescentes, o protagonismo da figura materna no acompanhamento dos filhos nas tarefas escolares e nas escolhas vocacionais. Embora também essas diferenças se esbatam nos NSEC médio e alto, registando-se uma progressiva participação e partilha da figura paterna nas questões educativas dos filhos, inequivocamente a figura materna, no contexto português, continua a exercer um papel proeminente nesta área da família, sendo o pai uma figura frequentemente ausente, acentuando-se mais esta ausência nos pais menos escolarizados. Schultheiss, Kress, Manzi e Glasscock (2001) constataram através de um estudo qualitativo realizado com uma amostra de jovens universitários, que estes reconheciam que a família &– por ordem de importância: a mãe, o pai, os irmãos, a família alargada e os amigos &– tinham desempenhado um apoio importante nos seus percursos vocacionais, através das conversas informais sobre a carreira transaccionadas no dia a dia da família, no apoio e estima emocionais garantidos e na disponibilização de meios tangíveis/instrumentais, como materiais didácticos e educativos imprescindíveis para o prosseguimento da formação.

(c) A importância, significado e centralidade do trabalho na vida da família

Constata-se, da análise dos discursos dos pais e dos filhos, que o trabalho/actividade profissional constitui uma temática que, frequentemente, é objecto de comunicação e de partilha na família &– das vinte díades, apenas um adolescente (Ent.17) afirma não se conversar sobre o trabalho na sua família &–, incidindo em aspectos como o desgaste e necessidade de manutenção do mesmo, como garante da qualidade de vida da própria família. A introdução do tema do trabalho, no quotidiano da interacção familiar, tanto pode ser introduzida por iniciativa do pai como da mãe, o que revela a importância que o trabalho tem nas vidas das famílias.

Vejamos alguns depoimentos dos pais: “Sim, falamos frequentemente sobre as dificuldades do emprego e dos problemas que temos no nosso dia a dia de trabalho” (Ent.11); “Muitas vezes falamos como a vida de agricultor é difícil e não dá nada…falamos num futuro melhor para a nossa filha… (Ent.12); “Falamos muitas vezes dos problemas do nosso trabalho, da crise actual de emprego, dos baixos salários, da vida cara” (Ent.1). E agora, o discurso dos adolescentes: “Às vezes falam sobre o seu trabalho e da preocupação sobre o meu futuro… pois há muito desemprego…” (Ent.13); “Por vezes falam dos problemas que acontecem no seu trabalho e na importância de tirar um curso que tenha saída …” (Ent.7).

Relativamente aos significados que atribuem ao trabalho, quer os pais quer os adolescentes, na sua generalidade, sublinham como mais relevante e prioritário: a dimensão económica do trabalho. Vejamos alguns discursos comuns aos pais e aos filhos, onde explicitam estes significados: “garantir as condições económicas para a sobrevivência da família”; “termos meios para vivermos melhor e sentir-nos felizes “; “não passarmos necessidades económicas e garantirmos o melhor aos nossos filhos”; “estabilidade económica”; “independência monetária para sermos autónomos…”. Apenas dois pais, que têm uma maior estabilidade económica, não colocam a dimensão económica do trabalho em primeiro lugar: “realização pessoal; desafio e gozo, sobretudo na investigação; garantia de uma vida digna para as nossas filhas; autonomia e responsabilidade pessoal e social” (Ent P.14); e ainda: “Para além de o trabalho ser importante para a nossa realização pessoal, é ele que dita a nossa qualidade de vida…”(Ent P.19). Também os significados do trabalho, embora exista o factor comum em todos os adolescentes e seus pais &– a dimensão económica do trabalho &–, se diferenciam em função do nível socioeconómico e cultural; isto é, os pais com maior estabilidade económica e com profissões mais qualificadas salientam as dimensões mais intrínsecas do trabalho, como um fatores da realização pessoal e do desafio.

No que diz respeito à centralidade que o trabalho assume na família no confronto com os outros papéis a desempenharem na existência como, &– ser cidadão, ser sujeito de fruição de lazer, ser pai e ser filho &–, a maioria dos pais (75%) e dos filhos (90%) valorizam por ordem de preferência: 1º ser pai/mãe; 2º ser marido/esposa; 3º ser trabalhador; 4º ser cidadão; 5º ser fruidor de lazer. Apenas cinco pais dão prioridade ao papel de trabalhador em relação ao de marido/esposa, sendo dois deles divorciados.

Na análise dos discursos sobre a relevância do trabalho na vida da família, todos os participantes (pais e filhos) reconhecem que este se constitui como objecto privilegiado na comunicação do quotidiano familiar, podendo ser iniciado de forma indiscriminada por qualquer um dos progenitores. Se, por um lado, os pais e os filhos dão prioridade às dimensões da família (ser pai/mãe, marido/esposa) sobre a actividade profissional, por outro, sentem que o trabalho é algo essencial para garantir a viabilização e a felicidade da família; daí a importância atribuída, unanimemente, por pais e filhos às dimensões mais instrumentais do trabalho, aliás, confirmada por diversas investigações (Gonçalves & Coimbra, 2004; Parada, Castro & Coimbra, 1998; Verquerre, Masclet & Durand, 1997/1998). Wach (1993) num estudo realizado, em França, acerca das representações sobre o trabalho, com uma amostra de jovens do ensino secundário e replicado, mais tarde, numa investigação transnacional com jovens canadianos (1997/98), constatou que os jovens das duas nacionalidades reconheciam que, em termos da centralidade do trabalho na sua vida, a família tinha prioridade em relação ao trabalho. No entanto, no que concerne o significado que atribuíam ao trabalho prevalecia a dimensão económica e extrínseca do mesmo em relação às intrínsecas, porque um bom trabalho é garantia de segurança, proporciona o dinheiro para a sobrevivência e permite o desenvolvimento da pessoa (Wach, 1993). Estes resultados permitem-nos afirmar, na mesma linha conceptual de Richardson (1993, 2000, 2002), que o trabalho e a relação são as dimensões estruturantes do desenvolvimento humano.

Quando nas sociedades ocidentais desenvolvidas, o mito do pleno emprego começou a desmoronar-se, ou seja, em que as oportunidades de emprego escasseiam ou assumem formas de precaridade, o trabalho é sentido como um bem precioso a prosseguir, disputar e preservar. Este estudo realizado com pais e adolescentes portugueses reafirma as investigações recentes que sublinham que o trabalho continua a ser um instrumento poderoso de autonomia e de integração psicossocial, tendo mais relevância do que os objectivos de realização pessoal, os amigos, a cultura e o lazer; apenas a família se sobrepõe à dimensão profissional (Leite, 2003; Verquerre e colaboradores, 1997/1998; Wach, 1997/1998). O estatuto social, que dá a um sujeito o sentido da sua dignidade e leva os outros a respeitá-lo, está inevitavelmente ligado ao emprego (Schnapper, 1998; Sennet, 1998). Assim, poderíamos concluir que, nas sociedades ditas desenvolvidas, o trabalho não perdeu importância na vida das pessoas, mas esta não se esgota nas actividades profissionais, como acontecia na época da industrialização e nas décadas do após guerras; ou seja, a vida não consiste só no trabalho remunerado (dimensão instrumental e produtiva da profissão), mas pode ser enriquecida com outros investimentos que a complementam, como a família, as actividades domésticas, os tempos livres, as actividades culturais... estando as dimensões mais intrínsecas do trabalho ao serviço da auto-realização (Laville, 1999).

 

Considerações Finais

A construção de conhecimento acerca da realidade deve envolver-nos na transformação da realidade percebida; por isso, desenvolvem-se algumas considerações sobre as implicações deste estudo para a intervenção psicológica no domínio da orientação vocacional. A constatação da relevância da influência do contexto familiar, nomeadamente dos pais, no desenvolvimento vocacional de adolescentes e jovens coloca o repto aos profissionais de orientação vocacional que intervêm nesta dimensão do desenvolvimento psicológico, de elaborarem, implementarem e avaliarem projectos de intervenção psicológica vocacional que não se circunscrevam apenas ao sistema individual, mas os alarguem aos contextos de vida decisivos e de maior acessibilidade, como a família, para proporcionar aos adolescentes e jovens um contexto securizante, facilitando-lhes oportunidades, experiências e apoios qualificados neste domínio do desenvolvimento psicológico e, simultaneamente, transformando a família num agente dinâmico com protagonismo no desenvolvimento vocacional.

Com o objectivo de potenciar o contexto familiar como facilitador do desenvolvimento vocacional adiantam-se, brevemente, algumas propostas de intervenção com pais, que estão a ser desenvolvidas no Serviço de Consulta Psicológica Vocacional no Centro de Orientação Vocacional e Formação ao Longo da Vida desta Faculdade (Gonçalves, 1997; Sobral, Monteiro & Mouta, 2006):

a) Consultoria parental para o desenvolvimento vocacional dos filhos: é uma modalidade de intervenção que tem como alvo directo os pais, visando capacitá-los para lidar de forma autónoma e satisfatória com as tarefas do desenvolvimento dos seus filhos, fornecendo-lhes um contexto securizante e promovendo comportamentos de autonomia e de exploração do mundo envolvente. Assim, procura-se promover o desenvolvimento vocacional dos filhos, sem que a intervenção incida directamente nos adolescentes e jovens, mas transformando os pais em facilitadores activos do desenvolvimento vocacional das gerações mais jovens.

Nas sessões de intervenção de consultoria com os pais, podem ser reflectidas temáticas específicas sobre o desenvolvimento vocacional, como o sistema de oportunidades de formação e profissões e os problemas actuais e emergentes do mundo do trabalho, como: o desemprego dito estrutural, a globalização e a interdependência e globalização das economias mundiais, a rápida evolução científica e tecnológica, as novas formas de organização do trabalho, a alternância formação/trabalho ao longo da vida, a deslocação e mobilidade do local de trabalho...

Seria ainda pertinente, realizar uma exploração/reflexão acerca dos valores profissionais e significados que os pais atribuem ao trabalho e que vão transaccionando nos discursos do dia a dia da família, identificando concretamente: (i) a existência de mitos na família acerca das profissões; (ii) a existência de tradições familiares, fantasmas ou estereótipos de prestígio e de género que moldam as atitudes em relação às profissões; (iii) como a família se dedica ao trabalho, à família e ao lazer; (iv) o estabelecimento de algumas fronteiras que limitam a mobilidade profissional; (v) os modelos profissionais que emergem quando se olha para a estrutura do genograma das profissões da família; (vi) a existência em algum significativo da família de aspirações ou fantasmas não realizados, e se os tenta actualizar, de forma vicariante, através dos filhos ou netos; (vii) as representações e crenças dos pais sobre a carreira, a orientação vocacional...

b) Participação dos pais nos projectos de intervenção de orientação vocacional, individual ou em grupo, &– em momentos específicos do itinerário vocacional, quando o Sistema Educativo se diferencia e constrange o indivíduo a fazer escolhas &–, que visam o desenvolvimento vocacional dos adolescentes e dos jovens. Seria pertinente a participação directa ou indirecta dos pais ao longo da intervenção, para reforçar o seu papel de agentes activos e qualificados no desenvolvimento vocacional dos seus filhos. Assim, o envolvimento parental seria importante nos seguintes momentos do processo de intervenção:

(i) na entrevista inicial, na qual se procura clarificar os grandes objectivos do processo de intervenção: desmistificando crenças e mitos em relação à escolha vocacional e aos instrumentos (testes) utilizados no processo de exploração, ao papel do psicólogo, à implicação activa dos adolescentes e jovens no processo e ao contributo dos pais como suporte de ajuda na construção dos projectos dos filhos;

(ii) no momento de exploração do mundo do trabalho, pela disponibilização dos pais e da família mais alargada para colaborarem em actividades directas de confronto dos jovens com o mundo profissional, facultando entrevistas sobre a sua experiência profissional, facilitando o contacto directo com os locais reais de trabalho, através de visitas de estudo, observação de um dia de trabalho, experiências de mini-estágios em tempos de férias... e ainda outras actividades, como participação dos pais em painéis de profissões a realizar no próprio contexto da intervenção;

(iii) ao longo do processo de intervenção, pela comunicação interessada com os filhos, consultando o dossier das actividades realizadas no contexto da consulta e no apoio das actividades fora da consulta, sempre que for requerida a sua participação, como, por exemplo, na construção, em conjunto, do genograma familiar das profissões;

(iv) na avaliação final da intervenção, para se realizar conjuntamente um balanço das mudanças ocorridas durante o processo da intervenção, tomando conhecimento dos investimentos actuais dos filhos no sentido de poderem funcionar como fonte de apoio nos momentos de reconstrução do investimento vocacional ao longo das transições do desenvolvimento.

Concluindo, os resultados deste estudo realizado com uma população de adolescentes e pais portugueses, na continuação de investigações levadas a cabo noutros países (Young, 1994; Young e colaboradores, 2003; Whiston & Keller, 2004), apontam para uma influência óbvia do contexto familiar, em concreto dos pais, no delinear de trajectórias vocacionais dos adolescentes e jovens; a qualidade destes projectos depende das possibilidades que os contextos da família proporcionam ou inviabilizam, sobretudo em termos dos apoios emocionais e apoios materiais. Contudo, constata-se, na revisão da literatura acerca do “estado da arte”, lacunas conceptuais e metodológicas que não nos permitem compreender claramente o processo como ocorre esta influência da família no desenvolvimento vocacional das gerações mais jovens; por isso, os vários estudos apresentam-se como inconclusivos e, por vezes, até contraditórios. A constatação destes limites tem mobilizado vários autores da especialidade a alertar para o assumir de modelos teóricos alternativos (Savickas, 2000; Whiston & Keller, 2004) e para metodologias de investigação mais rigorosas e diversificadas em que os estudos quantitativos sejam complementados com estudos qualitativos e as investigações transversais sejam confirmadas com as longitudinais (Valach, Young, & Lynam, 2002; Valach & Young, 2004; Young e colaboradores, 2001; Young et al., 2003). Esta investigação apresenta-se como um possível contributo para responder aos impasses levantados pela a revisão da literatura, ao assumir uma conceptualização construtivistas, ecológica e desenvolvimentista e uma metodologia qualitativa para compreender o processo da influência dos pais no desenvolvimento vocacional dos seus filhos.

 

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Recebido: 06/02/07
1ª; Revisão: 16/04/07
Aceite final: 15/05/07

 

 

Sobre os autores
* Carlos Manuel Gonçalves é Professor Auxiliar da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto. Membro do Centro de Orientação Vocacional e Formação ao Longo da Vida
** Joaquim Luís Coimbra é Professor Associado da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto. Coordenador do Centro de Orientação Vocacional e Formação ao Longo da Vida.

1 Endereço para correspondência: Rua D. Manuel Pereira da Silva, 4200-292, Porto, Portugal. Fone: (22) 6079773. Fax: (22) 6079727. E-mail: carlosg@fpce.up.pt.
2 No Sistema Educativo Regular Português, o 9º ano corresponde ao final de um ciclo de nove anos de escolaridade obrigatória; o 12º ano corresponde ao último ano do Ensino Secundário que antecede a entrada no Ensino Superior, constituído por 3 anos, onde a formação se diversifica em 5 cursos científico-humanísticos (predominantemente orientados para o prosseguimento de estudos superiores) e 11 cursos tecnológicos (predominantemente orientados para a entrada no mundo do trabalho como profissionais de nível 3).

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