SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.8 número1Avaliação psicológica em processos dinâmicos de orientação vocacional individualReflexões sobre o vestibular para a carreira de música da UNICAMP: um estudo preliminar índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Revista Brasileira de Orientação Profissional

versão On-line ISSN 1984-7270

Rev. bras. orientac. prof v.8 n.1 São Paulo jun. 2007

 

ARTIGOS

 

O BBT - Teste de Fotos de Profissões em Adultos e Adolescentes

 

The BBT - Profession Photo Test - with Adults and Adolescents

 

El BBT - Test de Fotos de Profesiones en Adultos y Adolescentes

 

 

Giselle Mueller-Roger Welter* 1

GW Vocação e Relações Humanas, São Paulo

 


RESUMO

O presente estudo teve por objetivo comparar o desempenho de adultos e adolescentes no BBT &– Teste de Fotos de Profissões. Fizeram parte do estudo 61 adolescentes e 143 adultos. Do total de 204 participantes, 91 buscaram orientação profissional ou re-orientação de carreira e 113 foram avaliados no contexto de seleção de pessoal. Os adultos apresentaram um número de escolhas positivas significativamente maior que os adolescentes. Foram observadas diferenças significativas entre a estrutura de inclinação profissional masculina e feminina, com predominância dos fatores Z’, S, O, Z e W entre as mulheres e dos fatores S,V, Z e G entre os homens.

Palavras-chave: BBT, Orientação vocacional/profissional, Avaliação psicológica de adultos.


ABSTRACT

The aim of this research was to compare the performance of adults and adolescents with the BBT &– Profession Photo Test. The subjects were 143 adults and 61 adolescents. From the 204 participants, 91 looked for vocational guidance or career re-orientation and 113 were evaluated for personnel selection. The number of positive choices was much higher with adults than with adolescents. The analysis of the positive primary factors revealed significant differences between men and women, with factors Z’, S, O, Z and W prevailing with females and factors S, V, Z and G prevailing with males.

Keywords: BBT, Vocational/professional counseling, Adult psychological evaluation.


RESUMEN

El objetivo de este estudio fue comparar diferencias entre adultos y adolescentes en el BBT - Test de Fotos de Profesiones. Participaron de este estudio 61 adolescentes y 143 adultos. De los 204 participantes, 91 habían buscado orientación vocacional y 113 fueron evaluados en el contexto de la selección de personal. Los adultos presentaron un número de elecciones positivas significativamente mayor que el número de elecciones que presentan los adolescentes y la existencia de diferencias significativas en la serie de los factores primarios positivos de los hombres y de las mujeres, con predominancia de los factores Z’, S, O, Z y W en la muestra femenina y S, V, Z y G, en la muestra masculina.

Palabras clave: BBT, Orientación vocacional/profesional, Evaluación psicológica de adultos.


 

 

O BBT - Teste de Fotos de Profissões é uma técnica projetiva desenvolvida por Achtnich (1979, 1991), psicólogo e orientador profissional suíço, voltada à clarificação da inclinação profissional. Ele está fundamentado na “Análise do Destino” de Szondi (1975), segundo a qual as escolhas que o indivíduo faz em sua vida configuram o seu destino pessoal. Segundo essa teoria, as escolhas obedecem a um princípio interno, norteador, denominado necessidade pulsional. Dentro desta concepção, ao escolher uma profissão, as pessoas procuram uma atmosfera de trabalho na qual possam colaborar com indivíduos que compartilham de necessidades semelhantes e onde possam atendê-las por meio do fazer. Assim, a escolha profissional, ou de carreira, reveste-se de um caráter preventivo, na medida em que pode subsidiar a satisfação das necessidades pulsionais de maneira humanizada e socializada.

Szondi alicerçou sua teoria sobre quatro vetores pulsionais, os quais são constituídos de fatores polares: a) Vetor Sexual (S), constituído pelo Fator h (eros, feminilidade, sentimento maternal) e pelo Fator s (thanatos, masculinidade); b) Vetor Paroxismal (P), constituído pelo Fator e (ética, sentimentos de Caim e Abel) e pelo Fator hy (necessidade de valorização moral, exibicionismo); c) Vetor do Ego (Sch), constituído pelo Fator k (retração do ego, egosístole, o ego material tomador de posição, ter) e pelo Fator p (inflação do ego, egodiástole, o ego mental, ser); d) Vetor do Contato (C), constituído pelo Fator d (necessidade de reter, adquirir ou de mudar) e pelo Fator m (necessidade de apoio, de agarrar-se ao objeto) (Szondi, 1960/1972). Embora Achtnich (1979) tenha adotado o modelo szondiano como base de seus estudos sobre a escolha de profissões, procurou desvincular as necessidades instintivas de suas conotações patológicas, utilizando os oito fatores descritos acima como princípio de classificação, porém interpretando-os do ponto de vista da Psicologia Profissional como tendências, aspirações fundamentais ou inclinações básicas (Jacquemin, 2000).

A versão original do conjunto de fotos do BBT (Achtnich, 1971), consistia de um conjunto de 96 fotografias em branco e preto e em formato 10 cm por 10 cm, retratando homens desempenhando diferentes atividades profissionais. Posteriormente foi criada a versão feminina do BBT, com 100 fotos (Achtnich, 1973). Com o objetivo de incluir os avanços tecnológicos ocorridos após a elaboração das fotos do BBT e de suavizar os papéis profissionais, Achtnich (1992) decidiu elaborar 12 novas fotos e acrescentá-las aos dois conjuntos, ao invés de substituir as já existentes, respeitando os fatores. Adicionalmente foram acrescentadas quatro novas fotos à série masculina, com a substituição de uma foto da série feminina, totalizando 112 em cada conjunto.

A aplicação do BBT se dá por meio da apresentação das 112 fotos ao testando, solicitando-lhe que as classifique em simpáticas, antipáticas e indiferentes, segundo um critério estritamente pessoal. É dada a orientação de que poderá escolher positivamente as fotos com as quais simpatizar, mesmo desconhecendo a atividade ou não se identificando com a pessoa nela retratada. Uma vez classificadas as fotos, o testando deve agrupar as fotos simpáticas, de acordo com um critério por ele estabelecido. A seguir, na fase associativa, é solicitado que identifique o grupo de fotos mais simpático e expresse o que o atraiu nele e em cada uma das fotos que o compõem. O mesmo procedimento é seguido com os demais grupos. Concluída a fase de associação, o testando deve escolher as cinco fotos mais simpáticas, colocando-as numa ordem de preferência e justificando a sua escolha e a hierarquização das mesmas. Por fim, pode-se solicitar que escreva uma história com as cinco fotos preferidas, permitindo, dessa maneira, a obtenção de material associativo adicional (Achtnich, 1979; Achtnich, 1991; Jacquemin, 2000; Melo-Silva & Jacquemin, 2000).

A afinidade com determinadas fotos implica na afinidade com os aspectos fundamentais de uma determinada atividade profissional nela retratada, explicitando, assim, a estrutura básica das necessidades do orientando em busca de satisfação. Desse modo, as escolhas positivas, negativas e neutras das fotos permitem obter a estrutura de inclinação profissional do indivíduo, segundo oito fatores de necessidades:

Fator W: “ternura”, feminilidade, disponibilidade, receptividade, necessidade de tocar, apalpar, de estar a serviço;

Fator K: força física, dureza, imposição, iniciativa, determinação, agressividade, necessidade de transformar a realidade;

Fator S: senso social, subdividido em duas tendências, SH &– senso de responsabilidade, solicitude, interesse pelo outro, ajudar, cuidar, curar, necessidade de fazer o bem e SE &– energia psíquica, dinamismo, coragem, mobilidade, autonomia, necessidade de movimento e deslocamento;

Fator Z: necessidade de mostrar, de representar, estética, o belo, necessidade de reconhecimento e aprovação externa;

Fator V: inteligência, razão, lógica, necessidade de clareza do pensamento, delimitação, constrição, objetividade, realidade, necessidade de ter controle sobre a realidade;

Fator G: espírito, intuição, imaginação criadora, fantasia, idéia, tendência à dilatação, inflação, necessidade de expansão mental;

Fator M: matéria, a substância, o palpável, tangível, prático, terrestre, relação com o natural, animal, bem como com o que tem valor, com a posse, dinheiro e poder, necessidade de reter e conservar;

Fator O: oralidade, com duas tendências, OR &– linguagem, sociabilidade, informalidade, contato verbal, comunicação, necessidade de ter contato com outras pessoas e ON &– alimentação, gêneros alimentícios, comida, necessidade de alimento.

No BBT os fatores S, Z, V e G aparecem com duas notações diferentes, com e sem índice linha (‘), diferenciando as atividades que requerem formação acadêmica para o seu exercício (Z’, S’, V’ e G’) representadas nas fotos.

Originalmente, o BBT foi concebido como instrumento de avaliação destinado ao trabalho de orientação profissional com jovens em seu momento de primeira escolha profissional (Achtnich, 1979; Achtnich, 1991). A riqueza dos elementos qualitativos e os aspectos quantitativos tornam o BBT um instrumento auxiliar na reorientação dos estudos, nos processos de análise de insucessos acadêmicos e das insatisfações pessoais, bem como do desenvolvimento da carreira (Melo-Silva, 2005). É útil também no trabalho com adultos, em seleção de pessoal, na avaliação de potencial, na reorientação profissional e de carreira (Welter, 2000a).

Como o BBT foi concebido tendo em vista a orientação profissional de adolescentes, os estudos de validação foram conduzidos com jovens de 14 a 16 anos (Achtnich, 1979) ou com estudantes que cursavam a primeira e segunda série do Ensino Médio (Jacquemin, 2000; Okino, Noce, Assoni & Pasian, 2006). Os estudos com o BBT têm sido conduzidos com a população adolescente, em geral estudantes do Ensino Médio, ou com ingressantes no Ensino Superior (Antunes, Valdo & Melo-Silva, 2003; Bernardes & Jacquemim, 2002; Leitão, 1984; Melo-Silva, 1998, 2000, 2001, 2003; Melo-Silva & Noce, 2004; Welter, 2000b, 2005). Esses estudos apontam diferenças quanto a sexo, escolaridade e características de diferentes grupos pré-profissionas, não havendo, porém, estudos semelhantes com adultos (Achtnich, 1979; Achtnich, 1991; Jacquemin, 2000; Okino e colaboradores., 2006).

Essa situação coincide com a colocação de Romero (2005) de que “a maioria dos tratados de psicologia do desenvolvimento humano tende a centralizar seu interesse nas duas primeiras etapas da vida &– a infância e adolescência” (p. 48). Segundo ele, o interesse pelo desenvolvimento na idade adulta e na velhice é algo recente. A aplicação do BBT em adultos por Welter (2000a) aponta para uma nova possibilidade de estudo, voltada para a idade adulta, sugerindo haver diferenças em relação ao número médio de escolhas positivas de adolescentes apresentados por Achtnich (1979), Jacquemin (2000), Okino e colaboradores (2006).

 

OBJETIVO

O presente estudo visou verificar se há diferenças no comportamento de escolha e na estrutura de inclinação profissional entre adolescentes e adultos diante do BBT &– Teste de Fotos de Profissões. Pretendeu, ainda, verificar se há diferenças na estrutura de inclinação profissional em função do sexo, a partir do número de escolhas realizadas no teste.

 

MÉTODO

Participantes

Foi utilizado um banco de dados de uma clínica particular na cidade de São Paulo que presta serviços de orientação profissional para estudantes do Ensino Médio e Superior, e de avaliação do perfil de inclinação profissional de adultos, para o departamento de recursos humanos de uma empresa do setor automotivo. Para a realização do estudo, foram utilizados todos os protocolos do BBT aplicados individualmente nos anos de 1999 e 2000. Participaram da pesquisa 82 mulheres e 122 homens, totalizando 204 pessoas, pertencentes à faixa etária de 14 a 50 anos, com média de idade de 28,31 anos (dp=9,92). Os participantes são clientes particulares (n=91), que buscavam orientação profissional e de carreira, e candidatos a uma vaga em diferentes setores da uma empresa do setor automotivo (n=113), compreendendo produção, compras, vendas, projeto e desenvolvimento, departamento financeiro e de recursos humanos, entre outros.

Em relação à escolaridade, 39,2% (n=61) da amostra total estavam cursando o Ensino Médio e 60,8% (n=124) já haviam concluído o Ensino Superior. Os participantes com Ensino Superior completo estavam distribuídos em quatro áreas: 5,6% Saúde, 46% Administrativa e Financeira, 21,8% Humanas e Comunicações e 26,6% Exatas, e foram avaliados por solicitação da empresa à qual estavam se candidatando, como parte do processo de seleção. Nos participantes que buscaram espontaneamente a avaliação (adolescentes e adultos procurando orientação profissional e de carreira), foi observada maior presença de estudantes cursando o Ensino Médio (n=48) ou que o haviam concluído, sem ter ingressado no Ensino Superior (n=21).

Material

Foram analisados 204 protocolos individuais do BBT &– Teste de Fotos de Profissões, já descrito anteriormente, provenientes de um banco de dados fornecido pela clínica particular, que autorizou a sua utilização. Os protocolos contêm, além do registro das escolhas positivas, negativas e neutras das fotos que compõem o teste por meio das notações “+”, “-” e “0”, a identificação do testando, data de nascimento, sexo, escolaridade, formação e data de aplicação. A identificação foi suprimida dos registros e substituída por um código alfanumérico. As escolhas foram somadas e tabuladas eletronicamente.

Procedimento

Após a autorização e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido do responsável técnico pela clínica particular, foram escolhidos dois arquivos anuais por sorteio. Inicialmente foi atribuído um número a cada arquivo anual, cada qual contendo todos os protocolos do BBT aplicados durante o ano, de um total de onze arquivos. Os números foram anotados em uma cédula de papel, dobrados, colocados numa caixa e misturados. Após esse processo, foram retiradas duas cédulas, correspondendo aos anos 1999 e 2000. Esse procedimento foi adotado a fim de evitar possíveis vieses decorrentes de escolha da amostra. Firmou-se compromisso pelo sigilo dos dados individuais e do nome da clínica envolvida. Os dados foram lançados em uma planilha eletrônica, tratados e analisados por meio de softwares estatísticos.

Os protocolos utilizados no presente estudo são provenientes de aplicações individuais do BBT, nas quais foram cumpridas todas as etapas propostas por Achtnich (1991): classificação das fotos em simpáticas, antipáticas e neutras ou indiferentes; formação de grupos com as fotos simpáticas; fase associativa com as fotos simpáticas, seleção e hierarquização das cinco fotos preferidas. Aos testandos foi solicitado, também, que redigissem uma história com as cinco fotos preferidas, como etapa complementar (Achtnich, 1991; Bernardes, 2002; Melo-Silva. & Jacquemin, 2000). Os testandos femininos foram avaliados com a forma feminina da versão original do teste, com inclusão das fotos adicionais, e os testandos masculinos foram avaliados com o BBT-Br, versão masculina, também com inclusão das fotos adicionais, totalizando 112 fotos em cada conjunto de fotos utilizado. A forma original suíça foi aplicada nos testandos do sexo feminino, por ter sido considerada mais adequada do que a versão masculina, uma vez que o BBT-Br feminino ainda não estava disponível para uso na época. Esse viés fica, contudo, minimizado, considerando-se que todos os testandos foram avaliados com a mesma versão do teste.

Os dados foram tratados estatisticamente utilizando-se o SPSS (Statistics Program for Social Sciences). A caracterização da amostra foi realizada por meio de análises estatísticas descritivas. A comparação entre o número de escolhas positivas, negativas e neutras foi realizada por meio do teste-t de igualdade de médias para amostras independentes. As diferenças quanto à estrutura de inclinação profissional em relação ao sexo e quanto ao número de escolhas positivas, negativas e neutras em relação às quatro faixas etárias foram analisadas por meio da análise de variância (One-Way ANOVA). Por fim, foi realizada análise discriminante logística com o objetivo de verificar possíveis diferenças nas estruturas de inclinação profissional das amostras feminina e masculina, tendo sido adotado nível de significância <0,001.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A amostra total foi dividida em quatro faixas etárias, por quartis, para efeito das análises estatísticas: adolescente (<18 anos), jovem adulto (de 19 a 29 anos), adulto (de 30 a 36 anos) e adulto maduro (>37 anos). A análise de freqüência das escolhas teve por objetivo estabelecer o índice de produtividade (número de escolhas positivas, negativas e neutras) da amostra, considerando os quatro grupos etários descrito anteriormente e apresentados na Tabela 1.

Tabela 1

Caracterização do número médio de escolhas no BBT por faixa etária Escolhas no BBT

 

 

A análise da variância (One-Way ANOVA) das diferenças no número de escolhas positivas entre as quatro faixas etárias (adolescente, jovem adulto, adulto e adulto maduro) mostrou que a variação média das quatro faixas etárias foi muito significativa (p<0,001), sendo que as variâncias não se mostraram homogêneas (F=24,538; p=0,002). A mesma análise das diferenças no número de escolhas negativas das quatro faixas etárias mostrou que a variação média também foi muito significativa (p<0,001), havendo igualdade de variâncias entre os quatro grupos (F=25,675; p=0,086). Por fim, a análise de variância (One-Way ANOVA) das diferenças no número de escolhas neutras das quatro faixas etárias mostrou-se semelhante (p=0,525), com igualdade de variância entre os grupos (F=0,747; p=0,544). Esses resultados indicam aumento significativo no número de escolhas positivas à medida que aumenta a idade dos testandos, concomitante ao declínio no número de escolhas negativas, sendo que o número de escolhas neutras permaneceu relativamente constante nos quatro grupos etários aqui considerados.

A partir de então, foram comparados os resultados deste estudo com os dados normativos apresentados por Achtnich (1979), Jacquemin (2000), Okino e colaboradores (2006), resumidos na Tabela 2, considerando a faixa etária adolescente (n=61) e o sexo.

Tabela 2

Comparação do índice de produtividade no BBT em adolescentes (estudos de Achtnich, Jacquemin, Okino e colaboradores)

 

 

Desta forma, observou-se que, na amostra do presente estudo, o número de escolhas positivas foi bastante semelhante ao encontrado nos demais trabalhos anteriormente referidos, sugerindo semelhança na amplitude de interesses, independente do número de estímulos (fotos) apresentados nesses estudos (112 fotos no presente estudo e 96 fotos nos demais estudos). No entanto, considerando o tamanho da amostra, os resultados devem ser considerados com cautela.

O teste t de Student entre o número de escolhas dos participantes do presente estudo e o número de escolhas descrito nos estudos de Achtnich (1979) e Jacquemin (2000), permitiu verificar que a diferença no número de escolhas positivas de adolescentes apontada nesses estudos, segundo o sexo, é significativa, adotando o índice de significância de <0,050 (t[37]=2,435; p=0,020). O grupo feminino do presente estudo apresentou um número de escolhas negativas superior ao observado por Achtnich (1979) e Okino e colaboradores (2006), sendo que a diferença entre os grupos foi significativa (t[37]=-2,137; p=0,039). Esse resultado sugere uma postura mais crítica frente à realidade na atual amostra, representada pela maior rejeição das fotos do teste. Isto se fortalece, inclusive, ao se pensar na maior oferta de estímulos no presente estudo, onde, a despeito do maior número de fotos apresentadas, o número de escolhas positivas foi semelhante ao apontado por Achtnich.

Uma vez que a aplicação do BBT em adultos, no contexto da reorientação profissional, orientação de carreira e da seleção de pessoal (Welter, 2000a) apresentava indícios de que haveria tendência a apresentar maior número de escolhas à medida que as pessoas se tornam mais velhas, procedeu-se ao teste-t de igualdade de médias das escolhas positivas, considerando as faixas etárias: adolescente e adulto. A Tabela 3 apresenta a amplitude de produtividade em relação às escolhas positivas para as quatro faixas etárias.

Tabela 3

Caracterização da amplitude de produtividade (escolhas positivas) no BBT, em função da faixa etária

 

 

Os adolescentes escolhem positivamente, em média menos que 30 fotos, enquanto que os adultos de 19 a 29 anos apresentam maior amplitude de escolhas positivas, oscilando entre 31 e 61 fotos. O teste t de Student, comparando o número de escolhas entre as faixas etárias adolescente (= 18 anos) e jovem adulto (de 19 a 29 anos), mostrou diferença significativa entre ambas (t[103]=-5,215; p<0,001). A faixa etária adulta (de 30 a 36 anos) apresentou um comportamento de escolha positiva acima de 31 fotos, porém com grande amplitude (entre 31 e 61 escolhas positivas), distinguindo-se do número de escolhas positivas dos adolescentes. Já os adultos maduros (> 37 anos) tendem a apresentar um número de escolhas positivas superior ao dos adolescentes, não se distinguindo do comportamento de escolha do adulto (> 45 escolhas positivas). Esse resultado sugere que o número de escolhas aumenta a partir dos 19 anos, progredindo na faixa de 30 a 36 anos e estabilizando-se a partir dessa idade.

Segundo Achtnich (1991), pessoas com número mediano de escolhas positivas (entre 22 e 28 escolhas) parecem buscar um ponto de equilíbrio, por apresentarem um número de interesses adequado para a realização da sua escolha profissional. Conseguem conciliar seus interesses com os dados da realidade, indicando autoconhecimento, prudência, determinação e preparo para engajar-se em algo e para fazer sua escolha profissional. O aumento do número de escolhas positivas pode estar relacionado com a experiência de vida, ampliada por meio do maior número de vivências ao longo dela, fazendo com que as pessoas se tornem mais abertas e receptivas ao mundo externo. Bernardes (2002) atribui o aumento no número de escolhas positivas a uma maior integração e aceitação das pulsões representadas pelas fotos do BBT. Essa colocação coincide com a caracterização que Romero (2005) faz da idade adulta, que teria um maior equilíbrio entre o pulsional-afetivo e o racional.

As pessoas mais jovens (<18 anos) nos quatro estudos mencionados (Tabela 2) apresentaram um número de escolhas negativas superior às escolhas positivas, sinalizando maior retraimento e tendência a se posicionar criticamente frente à realidade. Pode indicar, também, menor variedade de interesses profissionais (Jacquemin, 2000), talvez por falta de informação sobre o mundo das ocupações profissionais. O predomínio de escolhas negativas sobre as positivas também caracteriza direcionamento dos interesses frente às opções profissionais propostas no BBT (Okino e colaboradores, 2006), expressando um posicionamento crítico frente a elas.

O teste-t de igualdade de médias mostrou que os participantes do sexo masculino, independente da faixa etária, apresentaram número de escolhas significativamente maior que os participantes do sexo feminino (t[202]=-4,783; p<0,001), considerando o total da amostra. Esse resultado coincide com os achados de Achtnich (1979), no qual os testandos do sexo masculino apresentaram número de escolhas superior ao sexo feminino, não coincidindo, porém, com os resultados apresentados por Jacquemin (2000). O índice de produtividade das escolhas positivas mais baixo, apresentado pela amostra total dos participantes do sexo feminino em relação à amostra total masculina, sugere que as mulheres tendem a se mostrar mais críticas frente à realidade, com mais prudência e foco, enquanto que os homens se mostram mais abertos a novas experiências e dispostos a correr riscos, podendo indicar variedade de interesses profissionais, de acordo com as observações de Jacquemin (2000). Essa observação coincide com a colocação de Romero (2005) de que, com a maturidade, as mulheres apresentariam maior determinação, enquanto que os homens tenderiam a maior expressividade. No entanto, considerando-se as características da presente amostra, as diferenças encontradas não podem ser generalizadas.

Com o objetivo de analisar diferenças qualitativas entre os sexos, procedeu-se à comparação da estrutura de inclinação profissional, considerando a média dos fatores primários positivos. Desta forma, estabeleceu-se a estrutura de inclinação para cada sexo considerando a amostra total, classificando-os nas categorias nominativas referentes ao BBT, apresentada na Tabela 4.

Tabela 4

Caracterização da estrutura de inclinação profissional, segundo o sexo

 

 

O perfil de inclinação da amostra feminina deste estudo coincidiu com os achados de Okino e colaboradores (2006) e de Jacquemin e Nunes (1990, citados por Jacquemin & Pasian, 1991), estabelecendo como fatores determinantes das escolhas do sexo feminino os fatores Z e Z’, S’, O e W. De um modo geral, essas escolhas evidenciam preferência por atividades voltadas para o relacionamento interpessoal, caracterizadas pela receptividade e proximidade afetiva, pelo trabalho em equipe e contato com muitas pessoas, pelo estabelecimento de uma relação de ajuda, pela necessidade de valorização e reconhecimento pessoal e de lidar com a imagem, de uma maneira geral. As atividades menos escolhidas referem-se aos fatores M, V e K, também coincidentes com os achados de Achtnich (1979), Jacquemin e Nunes (1990, citados por Jacquemin & Pasian, 1991), Okino e colaboradores (2006). A rejeição desses fatores expressa pouca afinidade com atividades operacionais e rotineiras, racionais e objetivas, e que exigem força física ou determinação na superação de obstáculos.

A amostra masculina total do presente estudo apresentou predominância dos fatores S’, S, V’, Z’ e G, coincidindo com os achados obtidos por Jacquemin (2000) com alunos secundaristas, durante os estudos normativos do BBT-Br masculino. Observou-se, porém, diferença em relação ao fator Z, que ocupou posição de destaque na série dos fatores primários positivos da amostra masculina do presente estudo, tendo sido pouco escolhido como fator primário pelos estudantes secundaristas do estudo de Jacquemin. A análise de variância (One-Way ANOVA) da escolha desse fator, considerando as quatro faixas etárias deste estudo, mostrou que há igualdade de variância nos fatores Z (p=0,797) e Z’ (p=0,737). No entanto, foi possível verificar diferenças significativas entre as médias de freqüência de escolha dos fatores Z (F=5,794; p=0,001) e Z’ (F=10,236; p<0,001) entre as faixas etárias, indicando maior presença desse fator entre os adultos.

Segundo Achtnich (1991), o fator Z expressa a necessidade universal de apresentar, expor e mostrar, estando diretamente relacionado com a imagem, com o visível, com a aparência das coisas e seu aspecto exterior. A predominância desse fator indica necessidade intensa e constante de causar impacto, com o objetivo de atrair a atenção do outro por meio do elemento surpresa. O elemento estético assume grande importância, direcionando a apreensão e a percepção da realidade. Essa necessidade de mostrar pode ser satisfeita diretamente, quando o que aparece é a própria pessoa, e indiretamente, quando o que mostra e evidencia são as outras pessoas, objetos, o produto de seu trabalho ou produções artísticas de qualquer espécie (Achtnich, 1991). O amplo interesse pela estética atende ao objetivo de tornar-se atraente e, desta forma, chamar atenção para si. “Eu me mostro para que ele me admire e deseje me possuir” (Achtnich, 1991, p. 97). Essa necessidade pode ser satisfeita por meio das atividades voltadas para a divulgação e para a imagem, cada vez mais valorizadas. Atualmente, observa-se maior investimento financeiro e social na área de telecomunicações, propaganda e marketing e áreas correlatas (Okino e colaboradores, 2006), refletindo a forte presença desse fator em nossa cultura.

Segundo Szondi (1960/1972), o fator pulsional correspondente ao fator Z de Achtnich (1979) está diretamente relacionado à moral e aos costumes, referindo-se à afirmação e aceitação social. Como esse fator está associado diretamente à exposição, à vergonha e ao receio da opinião alheia, representa elemento inibidor do comportamento por meio do freio moral, do medo do ridículo e de expor publicamente algo da esfera privada ou que se teme não ser valorizado. Trata-se do receio de perder a aprovação do outro. A perturbação da necessidade de se mostrar é expressa por meio da vergonha e da timidez, podendo esconder, ao mesmo tempo, o desejo de se expor e o medo de não ser aceito. Por trás de toda inibição está o desejo oculto de exibição. Portanto, a diferença observada na posição ocupada por esse fator na amostra masculina adulta do presente estudo sugere diminuição do processo inibitório descrito acima, favorecendo a procura de profissões onde se produz algo que poderá ser mostrado ou nas quais se esteja pessoalmente em evidência.

Com o objetivo de verificar se a estrutura de inclinação profissional dos participantes do sexo feminino se diferencia da estrutura de inclinação profissional do sexo masculino, foi realizada análise de variância (One-Way ANOVA), considerando a média de escolhas da totalidade dos participantes em todos os fatores do BBT (Tabela 5).

Tabela 5

Diferença de igualdade de médias dos fatores de inclinação profissional no BBT entre os sexos

 

 

Foram observadas diferenças significativas em relação aos fatores K, V e V’, G e G’ e S e S’, que ocupam diferentes posições na estrutura de inclinação da amostra feminina e masculina (p<0,001). O fator M também discrimina o grupo feminino do masculino (p=0,003). Embora o fator K ocupe posição terminal nos grupos feminino e masculino, foi menos rejeitado pelo último. Os fatores W, Z e Z’, e O não apresentaram diferenças nos dois grupos (p>0,05), não constituindo, portanto, diferenciadores da estrutura de inclinação feminina e masculina desta amostra. Apesar de não distinguirem os sexos, considerando o número médio de escolhas, os fatores Z e Z’ aparecem como determinantes dos interesses profissionais na série dos fatores primários positivos da amostra feminina (n=82), ao lado dos fatores S’ e O, ocupando posição inicial nela.

O fator S ocupa posição de destaque tanto no grupo feminino como no masculino, refletindo consciência ética e senso de dever. Segundo Achtnich (1991), o fator S diz respeito ao senso social, estando subdividido em SH (ajuda) e SE (energia psíquica). O senso social está relacionado ao compromisso com a vida de uma maneira geral, com a do outro ou com a própria. Quando a necessidade de ação (SE) e o desejo de ajudar o outro (SH) se aliam, emerge uma força de impulsão para a promoção da vida, de uma forma mais ampla. Esse fator constitui um forte inibidor ético do comportamento humano, comparável ao conceito psicanalítico de superego, atuando como um interdito interno, ao mobilizar sentimentos de culpa ou de ressentimento, ao abdicar das próprias necessidades em favor do outro. Para Szondi (1965/1987) a humanização das pulsões passa necessariamente pela ética.

Assim, a forte presença fator S está relacionada à necessidade de empreender ações voltadas para o coletivo, utilizando a energia psíquica para o bem comum. Essa preocupação com o coletivo tem sua raiz no senso de responsabilidade e no compromisso com a vida, evidenciando preocupação com a qualidade de vida e do próprio trabalho. Também indica compromisso ético por meio do interesse em lidar com a vida ou estar em contato com o outro, estabelecendo uma relação de ajuda (SH). Ao mesmo tempo, a tendência SE revela aspectos relacionados a uma atitude mais dinâmica (Jacquemin, 2000).

A análise de variância (One-Way ANOVA) mostrou que fator O ocupa posição de destaque na amostra feminina, ocupando, porém, posição mediana na amostra masculina. A diferença do número médio de escolhas para esse fator nas duas amostras, contudo, não foi significativa (F[1,202]=0,812; p = 0,369, l = 0,996), como pode ser observado na Tabela 5, embora este fator ocupe diferente posição relativa na série dos fatores primários positivos, como descrito anteriormente na Tabela 4. Essa diferença pode ser explicada pelo índice de produtividade geral das duas amostras. O fator O expressa a necessidade de estabelecer contato informal com as pessoas, comunicando-se com elas. A satisfação oral, mediante a alimentação e a comunicação, caracteriza a sociabilidade e a busca das coisas boas da vida, representando, também, o componente lúdico e as necessidades hedonistas (Achtnich, 1991). No mundo do trabalho esse fator pode ser satisfeito por meio do trabalho em equipe, da discussão e da negociação, da troca de informações, bem como pelo ambiente informal e coletivo. A presença desse fator entre os principais, na estrutura de inclinação da amostra feminina, sugere que as mulheres tendem a buscar situações profissionais que favorecem contato com muitas pessoas, fortemente apoiadas na comunicação, representadas por reuniões, trabalhos em equipe e pelo uso do telefone.

Já o fator V’ e V, que ocupa posição inicial na série dos fatores primários positivos masculina, está associado à forte presença da necessidade de objetividade e controle. O grupo masculino revela-se disciplinado e controlador, com atração por tarefas que envolvem raciocínio lógico e que permitem avaliar, monitorar e checar a realidade, com o objetivo de evitar erros. Esse fator tem relação direta com parâmetros e especificações claramente pré-definidas, em função da necessidade de certificar-se, de obter a segurança daquilo que é previsível e controlável, coletando dados e lidando com fatos. Os instrumentos de trabalho relacionados com esse fator caracterizam-se pela precisão e pela medição, envolvendo o emprego de instrumentos de mensuração e de controle, bem como de tecnologia, como o computador e planilhas de cálculo, por exemplo.

A presença do fator V entre os fatores mais escolhidos na amostra masculina indica presença da consciência profissional caracterizada pela aceitação de hierarquia, pela disciplina, organização, método e necessidade de dispor de objetivos claramente definidos. A associação do fator V ao fator S sugere que os homens desta amostra também buscam atividades que estejam inseridas em um contexto social mais amplo, permitindo-lhes contribuir para a coletividade de uma maneira concreta e produtiva. Essa associação aponta para a disponibilidade para assumir responsabilidades e para se engajar em questões de natureza social, procurando, ao mesmo tempo, envolver-se em atividades objetivas, organizadas e racionais, porém dinâmicas e comprometidas com valores éticos. Sugere, ainda, consciência profissional e senso de responsabilidade, na medida em que procuram cumprir suas obrigações, acatando regras e diretrizes externas. Essas características expressam atração por atividades que favoreçam a realização de objetivos sociais e o emprego de recursos precisos e seguros como maneira de ter controle sobre possíveis riscos. Esse resultado pode ter relação com o perfil do grupo de adultos deste estudo, caracterizado por candidatos a ocupar posição gerencial em uma empresa do setor automotivo.

A análise discriminante logística dos dados do BBT da amostra feminina e masculina do presente estudo, independente da faixa etária, revelou existência de diferenças significativas entre ambas (p<0,001) em relação ao fator V. Este fator ocupa o primeiro e o segundo quartil da série dos fatores primários positivos masculina (V’ e V, respectivamente) e o terceiro e quarto quartil na série dos fatores primários positivos feminina (V’ e V, respectivamente). No entanto, é interessante observar a preferência do fator V’ sobre o fator V nos grupos feminino e masculino, indicando maior afinidade com atividades racionais mais complexas e que exigem formação acadêmica para o seu exercício. Esse resultado coincide com o perfil da amostra, caracterizada por adolescentes que buscaram orientação profissional, tendo em vista cursar formação universitária, e por adultos, cursando Ensino Superior ou que já completaram a formação acadêmica.

O fator K foi o mais rejeitado nos dois grupos, feminino e masculino, embora tenha sido menos rejeitado pelo grupo masculino. O teste de igualdade de médias entre os grupos feminino e masculino e intra-grupos mostrou que a média das escolhas positivas deste fator foi significativamente maior no grupo masculino (F[1,202]=24,918; p<0,001, l=0,890. Essa observação nos permite refletir sobre o nível de agressividade e energia física dessas pessoas, com tendência a evitar atividades fisicamente desgastantes, com pouca necessidade de imposição ou de transformação da realidade por meio da força. No entanto, como a amostra adulta é constituída de pessoas com Ensino Superior completo, tendo sido avaliadas no contexto de seleção para ocupar posições gerenciais nas empresas às quais estavam se candidatando, esse resultado sugere cautela. A preferência por atividades de controle e planejamento, em detrimento de atividades braçais ou operacionais, coincide com as exigências profissionais do nível gerencial no contexto técnico e administrativo.

O mesmo pode ser observado em relação ao fator M, que também ocupa posição terminal em ambas as séries, embora o teste de igualdade de médias tenha mostrado que ele foi significativamente mais escolhido pelo grupo masculino (F[1,202]=8,917; p=0,003, l=0,958). Este fator refere-se à necessidade de reter e de conservar, de buscar a estabilidade e o estabelecimento de vínculos, além de ter contato direto com o objeto de trabalho ou de realizar algo em longo prazo, com resultados palpáveis e duradouros. Achtnich (1991) associa este fator ao passado, à origem das coisas. Atividades mais operacionais e voltadas para o passado, para a documentação e registro de processos, bem como para o contato com a matéria e com o biológico, permitem a satisfação desse fator. Esse resultado sugere pouco pragmatismo e pouca afinidade com atividades mais operacionais, cíclicas e pouco valorizadas socialmente (Achtnich, 1991).

A rejeição dos fatores K e M também foi observada por Jacquemin e Nunes (1990, citados por Jacquemin & Pasian, 1991) e por Okino e colaboradores (2006), apontando uma tendência generalizada de evitamento de atividades braçais ou manuais, ou que exigem força física, paciência e determinação em sua realização. Este resultado obtido insere-se como compatível ao atual contexto sócio-histórico, no qual há uma aceleração do ritmo das transformações sociais e o aumento da mobilidade geográfica, concomitantemente ao crescente rompimento das relações familiares e de emprego, com o incremento da terceirização caracterizada pela prestação de serviços.

O teste de igualdade de médias dos fatores W (F[1,202]=0,587; p=0,445, l=0,997), Z (F[1,202]=0,513; p=0,475, l=0,997) e Z’(F[1,202]=0,374; p=0,542, l=0,998) mostrou que eles não discriminaram o grupo feminino do grupo masculino, com número médio de escolhas semelhantes. A combinação desses fatores indica desejo de atender às necessidades e às expectativas das pessoas, respectivamente, de dar e receber afeto, e de ser reconhecido. Embora o fator W não discrimine os grupos quanto ao número médio de escolhas, ocupou posição no quartil terminal na série dos fatores primários positivos da amostra masculina. Essa posição relativa do fator W sugere um modo de funcionamento mais individualista e com pouca disponibilidade para se adaptar ao outro e para lhe prestar serviços. A combinação das posições terminais dos fatores W e K sugerem um modo de funcionamento mais individualista, porém não agressivo e impositivo.

No geral, observou-se um direcionamento diferente no que se refere aos fatores motivacionais representados pelo perfil de inclinação profissional da amostra feminina e masculina. Enquanto as mulheres desta amostra buscam destacar-se por meio da visibilidade do seu trabalho, como forma de obter a aprovação e o reconhecimento social, os homens da amostra buscam situações profissionais que lhes permitam controlar riscos e produzir algo concreto e útil para a sociedade. O conceito de sucesso pode repercutir diferentemente nos dois sexos, especialmente quando as condições de trabalho são circunstanciadas por novos aspectos, embora ambos tenham em sua essência uma orientação social, representada pelos fatores S e Z. Segundo Szondi (1960/1972), os dois fatores dizem respeito às emoções e à maneira como o ser humano controla ou dá vazão (fator S), expõe ou esconde (fator Z) suas emoções. Para ele, trata-se do freio ético (S) e do freio moral (Z). As duas posições permitem que o ser humano se insira na sociedade, seja dando uma contribuição positiva e se sentindo útil para ela (S), seja obtendo o seu reconhecimento (Z), fazendo com que adote o outro como referência para direcionar o próprio comportamento. Estes achados diferem dos resultados apresentados por Achtnich (1979), que destacam a predominância do fator W e Sh na população feminina. No entanto, há que se considerar os 25 anos transcorridos desde o estudo de validação do BBT realizado pelo autor, período este de intensas transformações tecnológicas e sociais em todo o mundo, com o aumento da competitividade no cenário profissional.

Os resultados relativos à estrutura de inclinação do sexo feminino e masculino obtidos no presente estudo não diferiram substancialmente daqueles relatados por Jacquemin (2000) e Okino e colaboradores (2006). No entanto, foram identificadas diferenças significativas em relação ao índice de produtividade das diferentes faixas etárias e entre os sexos.

 

Conclusão

A comparação do desempenho de adultos no BBT em relação ao desempenho de adolescentes, mostrou haver diferenças significativas quanto ao índice de produtividade (escolhas positivas e negativas) associadas ao sexo e à idade dos participantes. Observou-se tendência ao aumento significativo no número de escolhas positivas à medida que as pessoas se tornam mais velhas. As diferenças encontradas entre os resultados obtidos na aplicação do BBT em adultos, compreendendo as idades de 19 a 50 anos, em comparação com as pesquisas realizadas com adolescentes de 14 a 18 anos, estão relacionadas à faixa etária da amostra, podendo possivelmente ser atribuída a diferenças na maturidade dos participantes.

Considerando diferenças na estrutura de inclinação entre os sexos, observou-se que, na amostra feminina, independente da faixa etária, há predominância do fator Z e Z’ na estrutura de inclinação profissional, sugerindo necessidade de reconhecimento externo e de competir no palco profissional, chamando a atenção do mundo para si, o que reflete presença de fonte de motivação extrínseca à tarefa. Já na amostra masculina, notou-se maior presença do fator S e V, o que sugere que os homens agem motivados pelo compromisso com a qualidade do seu trabalho, pela necessidade de assumir responsabilidade e de lidar com situações de risco, bem como pela possibilidade de agir com exatidão, objetividade, organização e disciplina. A predominância dessas necessidades revela expectativa de inserção em um contexto social mais amplo, que permita contribuir para a coletividade e exercer função de supervisão e controle.

Não foram encontradas diferenças significativas entre a estrutura de inclinação das amostras deste estudo e os resultados obtidos por Jacquemin (2000) e Okino e colaboradores (2006), apesar de terem sido observadas diferenças significativas em relação ao fator Z, que passou a ser mais escolhido com o aumento da idade dos participantes. Esse resultado aponta para a necessidade de realização de estudos normativos relativos aos fatores típicos de cada sexo, considerando, também, diferentes faixas etárias.

Embora o BBT tenha sido originalmente concebido para a clarificação do perfil de inclinação profissional de adolescentes, abre-se a possibilidade de também empregá-lo no trabalho com adultos no âmbito organizacional. Sua aplicação pode ser estendida para o aconselhamento de carreira, além de representar um recurso auxiliar no estabelecimento de critérios de seleção de pessoal, de parâmetros para o planejamento do desenvolvimento da carreira e para a preparação para a aposentadoria. No entanto, o aumento significativo do número de escolhas pelos participantes adultos representa um importante aspecto a ser considerado para o planejamento da aplicação do BBT, na medida em que implica no aumento substancial da sua duração em função do aumento das verbalizações sobre cada foto escolhida positivamente, durante a fase associativa.

Este estudo buscou trazer algumas contribuições para o trabalho com adultos, no aconselhamento de carreira e na área de recursos humanos, âmbito de atuação carente de instrumentos apropriados de avaliação psicológica, no contexto brasileiro. Entretanto, mais do que apontar conclusões, este estudo pretende despertar o interesse pelo emprego do BBT no âmbito organizacional e na realização de pesquisas que visem a aprofundar e ampliar os estudos sobre a estrutura de inclinação profissional em adolescentes e em adultos.

 

Referências

Achtnich, M. (1971). Berufsbilder-Test: Männliche Bilder. Bern: Verlag Hans Huber.        [ Links ]

Achtnich, M. (1973). Berufsbilder-Test: Weibliche Bilder. Bern: Verlag Hans Huber.        [ Links ]

Achtnich, M. (1979). Der Berufsbilder-Test: Projektives Verfahren zur Abklärung der Berufsneigung.Bern: Verlag Hans Huber        [ Links ]

Achtnich, M. (1991). BBT: Teste de Fotos de Profissões: Método Projetivo para Classificação da Inclinação Profissional (J. Ferreira Filho, Trad.). São Paulo: CETEPP. (Original publicado em 1979).        [ Links ]

Achtnich, M. (1992). Zusatzbilder zum Berufsbildertest (BBT). Bern: Verlag Hans Huber.        [ Links ]

Antunes, J. B., Valdo, M. E. & Melo-Silva, L. L. (2003). Uma experiência de Orientação Profissional em Grupo. Em L.L. Melo-Silva, M.A. dos Santos dos, J.T. Simões & M.C. Avi (Orgs.), Arquitetura de uma ocupação (pp. 343-362). São Paulo: Vetor.        [ Links ]

Bernardes, E. M. & Jacquemin, A. (2002). O Teste de Fotos de Profissões (BBT) de Achtnich: Um estudo longitudinal com adolescentes. São Paulo: Vetor.        [ Links ]

Jacquemin, A. (2000). BBT&–Br: Teste de Fotos de Profissões &– Norma, adaptação brasileira e estudos de caso. São Paulo: CETEPP.        [ Links ]

Jacquemin, A. & Pasian, S. R. (1991). O BBT no Brasil. Em M. Achtnich, BBT: Teste de Fotos de Profissões: Método Projetivo para Classificação da Inclinação Profissional (J. Ferreira Filho, Trad.) (pp. 208-222). São Paulo: CETEPP.        [ Links ]

Leitão, L. B. C. O. (1984). Reflexões sobre um teste projectivo de orientação vocacional &– o Berufsbilder-Test. Dissertação de Mestrado não publicada, Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, Universidade de Coimbra. Coimbra, Portugal.        [ Links ]

Melo-Silva, L. L. & Santos, M. A. (1998). O BBT como instrumento diagnóstico em orientação profissional: Uma abordagem psicodinâmica. Revista da Associação Brasileira de Orientadores Profissionais, 2(1), 59-76.        [ Links ]

Melo-Silva, L. L., & Jacquemin, A. (2000). Contribuições para interpretação do BBT de Martin Achtnich: A história das cinco fotos preferidas. PSIC &– Revista de Psicologia da Vetor Editora, 1 (3), 72-79.        [ Links ]

Melo-Silva, L. L. & Jacquemin, A. (2001). A Intervenção em Orientação Vocacional / Profissional: Avaliando resultados e processos. São Paulo: Vetor.        [ Links ]

Melo-Silva, L .L., Noce, M. A. & Andrade, P. P. (2003). Interesses em adolescentes que procuram orientação profissional. PSIC &– Revista de Psicologia da Vetor Editora, 4 (2), 6-17.        [ Links ]

Melo-Silva, L. L. & Noce, M. A. (2004). O teste de fotos de profissões (BBT) enquanto método projetivo em orientação profissional. Em Z. B. Vasconcelos & I.D. Oliveira (Orgs.), Orientação Vocacional: Alguns aspectos teóricos, técnicos e práticos. São Paulo: Vetor.        [ Links ]

Melo-Silva, L. L. (2005). O Teste de Fotos de Profissões (Berufsbilder-Test &– BBT-Br). Retirado em 01/08/2006, no World Wide Web: http://www.aiospconference2005.pt/full_works/docs/posters/p46.pdf.        [ Links ]

Okino, E. T. K., Noce, M. A., Assoni, R. F. & Pasian, S. R. (2006). BBT&–Br Feminino: Teste de Fotos de Profissões &– Adaptação brasileira, normas e estudos de caso. São Paulo: CETEPP.        [ Links ]

Romero, E. (2005). As tendências da afetividade na maturidade da vida. Boletim de Psicologia, 54 (120), p. 47-71.         [ Links ]

Szondi, L. (1972). Lehrbuch der experimentellen Triebdiagnostik. Bern: Hans Huber. (Original publicado em 1960).        [ Links ]

Szondi, L. (1975). Introdução à Psicologia do Destino. São Paulo: Editora Manole.        [ Links ]

Szondi, L. (1987). Schicksalsnalyse: Wahl in Liebe, Freundschaft, Beruf, Krankheit und Tod. Basel/Stuttgart: Schwabe & Co AG. (Original publicado em 1965).        [ Links ]

Welter, G. (2000a). Uma experiência com o BBT &– Teste de Fotos de Profissões em Recursos Humanos em uma indústria automotiva. Em Sociedade Brasileira de Rorschach e outros métodos projetivos (Org.), Anais, III Encontro da Sociedade Brasileira de Rorschach e outros métodos projetivos (pp.180-184). Ribeirão Preto: SBRO.        [ Links ]

Welter, G. (2000b). Estudo de correlação com o BBT &– Teste de Fotos de Profissões: aplicação coletiva com a série masculina e aplicação individual com a série feminina no mesmo sujeito. Em Sociedade Brasileira de Rorschach e outros métodos projetivos (Org.), Anais, III Encontro da Sociedade Brasileira de Rorschach e outros métodos projetivos (pp.174-179). Ribeirão Preto: SBRO.        [ Links ]

Welter, G. (2005). A longitudinal Case Study with the BBT. Zürich: Stiftung Szondi-Institut.        [ Links ]

 

 

Recebido: 30/06/06
1ª Revisão: 21/09/06
Aceite final: 10/04/07

 

 

1 Endereço para correspondência: GW Vocação e Relações Humanas, Rua São Benedito, 509/ cj. 101, 04735-000, São Paulo, SP. Fone: (11) 56878826. Fax: (11) 56872069. E-mail: gwelter @gwconsult.com.br.

Sobre a autora
* Giselle Mueller&–Roger Welter é psicóloga graduada pela PUC-SP, Especialista em Psicologia Escolar e Educacional, Mestre em Psicologia pela Universidade São Francisco.

Creative Commons License