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Revista Brasileira de Orientação Profissional

versão On-line ISSN 1984-7270

Rev. bras. orientac. prof v.8 n.2 São Paulo dez. 2007

 

RESENHA

 

Escolha, carreira e inserção profissional: desafios do mundo de trabalho1

 

 

Silvia Godoy de Sousa* 2

Universidade São Francisco, Itatiba

 

 

Face à complexidade atual do mundo do trabalho, a Orientação Profissional adquiriu relevância crescente nos últimos anos. A escolha profissional tem sido uma decisão importante à medida que exige preparação adequada tanto para a opção por um curso, quanto para o planejamento de carreira do futuro profissional. Sabendo da necessidade de estudos sobre Orientação Profissional (OP), Delba Teixeira Rodrigues Barros, Mariza Tavares Lima e Rosângela Escalda organizaram o livro Escolha e Inserção Profissionais: desafios para indivíduos, famílias e instituições. Esta obra é uma coletânea de textos, escrita por diversos autores, a partir de diferentes referenciais teóricos, mas com um objetivo comum: contribuir para o crescimento da OP, por meio de técnicas e pesquisas sobre temas específicos relacionados à área. Sob esse aspecto, com uma linguagem acessível, os textos proporcionam uma visão global da necessidade de maior qualificação dos profissionais da orientação, no sentido de incentivar a responsabilidade pessoal pela construção das trajetórias de vida.

Os capítulos que compõem esse livro foram organizados com uma lógica que favoreça sua leitura. Sendo assim, as autoras reuniram em uma primeira parte os textos que se relacionam à questão da carreira e do mundo de trabalho, de forma que o leitor reflita sobre o significado do trabalho e sua interação com o homem, bem como a importância de um olhar mais amplo sobre fenômenos relacionados ao planejamento e à gestão de carreiras. Na segunda parte são apresentados os artigos cuja temática está na esfera das práticas e relatos de experiências.

A parte I, Sobre carreiras e o mundo de trabalho, começa com o texto de Zélia Miranda Kilimnik, Anderson de Souza Sant’Anna e Isolda Veloso de Castilho, intitulado Carreira em transformação e seus paradoxais reflexos nos indivíduos: uma breve revisão de pesquisas sobre o tema, o qual apresenta a evolução do conceito de carreira ao longo do tempo e os resultados de pesquisas recentes sobre o tema. Os autores encerram o texto destacando as novas tendências organizacionais, econômicas, sociais e psicológicas relacionadas ao desenvolvimento das carreiras profissionais.

Considerando a prática em aconselhamento de carreira, Georgina Alves Vieira da Silva aborda, no texto seguinte, Paradoxos organizacionais nas empresas da pós-modernidade: da entrega e da recepção de competências, a questão das competências exigidas na contratação e aquelas exercidas de fato no cotidiano dos ambientes empresariais. São indicadas algumas possibilidades de intervenção do orientador profissional àqueles profissionais submetidos aos fenômenos e às pressões do mundo de trabalho. Conclui-se que “a necessidade de atrelar as competências pessoais e profissionais às estratégias empresariais constitui o novo modelo de gestão da força de trabalho” (p. 62).

Rosangela Fonseca Escalda é a autora do terceiro texto, denominado Elaboração de currículos atualizados: informações, diretrizes e desafios para orientadores profissionais e de carreira, o qual enfatiza subsídios, informações e orientações para a elaboração de currículos concisos, claros e precisos. Com relação ao conteúdo, a autora versa sobre alguns tópicos importantes que o currículo deve apresentar, tais como, dados pessoais, objetivo, síntese das qualificações, formação acadêmica/ profissional, experiência profissional, cursos de aperfeiçoamento profissional e participação em congressos, seminários, palestras e workshops. Por fim, considerando as novas tendências de carreiras, ressalta que o trabalho do profissional torna-se cada vez mais desafiador e complexo.

A trajetória socioprofissional é o título do quarto texto, escrito por Dulce Helena Penna Soares e Gisele Sestren. As autoras introduzem a técnica da trajetória socioprofissional dentro do trabalho de elaboração do projeto profissional, ressaltando que o objetivo do uso dessa técnica é investigar e analisar os fatores sociais que determinam as histórias individuais, propiciando uma compreensão dinâmica entre o social e o psicológico. Finalizando o texto, destaca que a trajetória socioprofissional é um processo complexo, no qual todos os acontecimentos e escolhas influenciam umas às outras.

No quinto texto, Empregabilidade e precarização: a face oculta das atuais condições de trabalho, Priscilla Maia Rangel apresenta os resultados de uma pesquisa de mestrado que investigou a relação entre o emergente conceito de empregabilidade com a precarização das condições de trabalho. Os resultados gerais mostraram que “a empregabilidade decorre da disponibilidade que o profissional apresenta para o trabalho e da rede de relacionamentos pessoais e profissionais por ele estabelecida” (p. 103). Nessa perspectiva, quanto maior a disponibilidade ao trabalho e quanto mais ampla a rede de relacionamentos, maior a empregabilidade.

Mariita Bertassoni da Silva, Adriana Miguel de Magalhães, Juliane Gequelin, Kellen Sousa Oliveira e Leandro Nicoladeli expõem, no texto seguinte, Enfermagem: um olhar sobre a escolha e o papel profissional, uma pesquisa que buscou verificar a imagem que os profissionais de enfermagem têm sobre seu próprio papel profissional, suas expectativas atuais em relação ao exercício da profissão, bem como suas atribuições no contexto atual. Os autores encerram o texto relatando as contribuições sobre a possibilidade de levantamento de dados válidos que a OP pode trazer para a área específica da enfermagem, de modo que surjam novas perspectivas de avanço do conhecimento.

Concluindo a primeira parte, Mauro Magalhães e William Barbosa Gomes contextualizam o leitor, por meio da pesquisa intitulada Personalidades vocacionais e processos de carreira na vida adulta, quanto à associação diferenciada entre comportamentos de adaptabilidade de carreira e os tipos vocacionais sugeridos por Holland. O texto sugere que as diferenças de comportamentos de adaptabilidade encontrada entre os tipos vocacionais indicam que os interesses, considerados como expressões da personalidade, estejam relacionados a habilidades e atitudes relevantes para o comportamento em relação à carreira. As inclinações de personalidade vocacional também podem influenciar na forma como os indivíduos administram sua vida profissional.

Introduzindo a Parte II, Sobre práticas e relatos de experiências, Lucy Leal Melo-Silva, Manoel Antônio dos Santos, Simone Poch Vieira Palma e Camila Vianna Duarte refletem, no texto oito, Felicidade sob medida: expressão da ideologia no processo de orientação profissional, sobre os conceitos de felicidade, ideologia e utopia no contexto de Orientação Profissional, especificamente com adolescentes do sexo feminino. Os autores trazem à tona os motivos que levam o jovem a buscar ajuda profissional, seja para descobrir em qual carreira fará sucesso e será feliz, seja para escolher uma carreira na qual possa se dar bem, seja para expressar o medo de errar ou decepcionar os pais. Finalizando o texto, são apresentadas idéias sobre o discurso “felicidade” expresso no conflito prazer versus dever no processo de escolha da carreira.

A seguir, Carla Pena Couto descreve, em seu texto Orientação profissional numa escola particular: de atividade extraclasse à grade curricular do Ensino Médio, a história e a experiência de intervenção da OP no contexto escolar dentro e fora da sala de aula. O assunto mostra-se importante à medida que, escolher uma profissão sempre foi um desafio e, atualmente, o jovem se depara com uma realidade na qual as pessoas encontram cada vez maior dificuldade de se inserir no mercado de trabalho. A autora encerra o texto afirmando que “para que a escolha aconteça de uma forma mais tranqüila, é preciso que o adolescente saiba de si mesmo e, ao mesmo tempo, informe-se e tenha uma posição crítica quanto à realidade que o cerca” (p. 193).

A partir de uma perspectiva sócio-histórica, Karina de Oliveira Lima e Raquel Strazzieri apresentam, no décimo texto, Projeto de Intervenção em Orientação Profissional realizado com adolescentes institucionalizados da cidade de Bauru &– SP, um trabalho com adolescentes institucionalizados, que visa à elaboração de projetos de vida considerando a realidade de exclusão social em que vivem. Os jovens são drogaditos e/ou infratores que buscam recuperação e reinserção na família, no trabalho e na sociedade em geral. As autoras finalizam contextualizando a limitada autonomia que permeia as ações desta população específica, uma vez que deve cumprir regras e ordens diárias, as quais não contribuem com o processo de escolha, gerando dificuldades e conflitos quando esse indivíduo se depara com a necessidade de tomar uma decisão profissional.

O texto onze, Orientação Profissional para profissões não universitárias, de autoria de Ana Lúcia Ivatiuk e Vera Lúcia Adami Raposo do Amaral, traz algumas asserções a respeito de uma pesquisa de OP que propôs um programa que atende às pessoas que não querem exercer uma profissão de nível superior. Fundamentadas no referencial comportamental, as autoras concluíram, por meio dos dados da pesquisa que, apesar da relevância que esse tipo de estudo possui, é muito pouco explorado com essa população. Encerram relatando a importância de se desenvolver outros trabalhos nesse contexto, com o objetivo de motivar os jovens a se inserirem no mercado de trabalho, mesmo os que não desejam uma formação universitária.

Reforçando a idéia de que a intervenção em OP pode se dar em todos os âmbitos da educação, Deborah Christina Antunes, Aretha Bispo de Castro, Norma de Fátima Garbulho e Érika Cecília Soares de Oliveira ilustram no texto doze, intitulado Orientação Profissional na Educação Pré-Escolar: livros, teatro, vídeos e histórias infantis como instrumentos para um trabalho reflexivo, como a utilização de histórias, de diversas formas, pode ser um instrumento interessante em um processo de OP com crianças pré-escolares. A finalidade desta intervenção foi promover, por meio dessa técnica, reflexão sobre a categoria trabalho, possibilitando que as crianças não desenvolvam uma visão estereotipada das diferentes profissões. As autoras mostram que o objetivo da OP deve ir além da escolha profissional, abrangendo a relação homem-trabalho em todos os âmbitos.

Exemplificando trabalhos em OP que fogem do convencional, Gustavo de Val Barreto, Ana Carolina Zeferino Menezes e Patrícia Martins de Freitas versam, no texto treze, Escolhas profissionais/ocupacionais de mães de crianças com transtornos do desenvolvimento, o processo de formação, execução e os resultados de um grupo de Orientação Vocacional/Ocupacional realizado com mães de crianças com transtornos de desenvolvimento. O trabalho enfatiza a importância que um grupo de OP possui na compreensão do sofrimento psicológico apresentado pelas mães dessas crianças, além de mostrar as escolhas pessoais e profissionais feitas a partir do momento do diagnóstico e os resultados após a intervenção.

Pensando a família no processo de escolha profissional, de Maria Luiza Dias, é o texto quatorze e tem como objetivo analisar a influência da família no processo de escolha profissional, já que é reconhecida como soberana nas representações dos indivíduos sobre o mundo. O texto discute o quanto a inclusão dos pais em entrevistas com o estudante ou em atividades que promovam o pensar sobre sua carreira pode ser útil, à medida que podem auxiliar o enfoque do processo na orientação profissional do jovem.

O trabalho de Priscilla Maia Rangel, intitulado Técnica projetiva “O barco” consiste na utilização do grafismo como modo de projeção. Sua finalidade “é suscitar a emergência de questões sobre as transformações implicadas na escolha da profissão e no ingresso na vida adulta” (p. 291). Na visão da autora, essa técnica tem-se mostrado um bom instrumento de evocação de conteúdos psicológicos de difícil acesso.

Contemplando a questão da formação de psicólogos, categoria profissional majoritária na atuação em OP no nosso país, Alessandro Marimpietri discorre, no texto dezesseis, A experiência na formação de psicólogos atuando em acompanhamento da escolha profissional na cidade de Salvador: um estudo de caso, sobre a formação teórica e prática dos estudantes de psicologia em uma cidade da Bahia. O estudo apresenta uma discussão sobre a atuação dos psicólogos baianos e sua formação profissional no que concerne à orientação profissional.

Encerrando o livro, assim como as discussões que giram em torno da OP, Lincoln Coimbra Martins apresenta, no último texto, Escolha profissional e desenvolvimento: contribuições a partir da perspectiva sócio-histórico-cultural, alguns pressupostos sobre os quais se apóia a psicologia do desenvolvimento, sugerindo linhas de ação para repensar a prática dos profissionais de orientação profissional. É necessário considerar que, além do contato que o jovem deve possuir com materiais de informação profissional, existe uma multiplicidade de significados associados a cada uma das ocupações que estão presentes no contexto cultural em que fará suas escolhas.

À guisa de conclusão, a contribuição dos autores dos textos deste livro mostra-se valiosa para os profissionais que atuam em diversos contextos da Orientação Profissional, assim como para a formação dos futuros orientadores profissionais. Seu conteúdo é atual e pertinente, permitindo uma ampla visão dos diferentes referenciais teóricos presentes no processo de escolha. Envolver a família e as instituições nesta ação é uma forma de possibilitar o crescimento da área de maneira comprometida com a sociedade e de promover uma reflexão crítica e ética sobre o compromisso social implicado nas escolhas profissionais dos indivíduos. Portanto, a leitura do material é relevante à medida que apresenta questões da carreira, do mundo do trabalho e relatos de experiências práticas.

 

 

Recebido: 13/2/08
Aceite Final: 19/3/08

 

 

1 Resenha do livro: Barros, D. T. R., Lima, M. T. & Escalda, R. (Orgs.), (2007). Escolha e inserção profissionais: Desafios para indivíduos, famílias e instituições. São Paulo, SP: Vetor Editora.
2 Endereço para correspondência: Rua Amador Bueno, 143/101, 13035-030, Campinas, SP. Fone: (19) 33425022. E-mail: silviagodoy04@yahoo.com.br.

 

Sobre os autores
* Silvia Godoy de Sousa é mestranda em Psicologia pela Universidade São Francisco. Bolsista CAPES.

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