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Revista Brasileira de Orientação Profissional

versão On-line ISSN 1984-7270

Rev. bras. orientac. prof v.10 n.1 São Paulo jun. 2009

 

ARTIGOS ORIGINAIS

 

Projeções juvenis: visões ocupacionais e marcas de gênero

 

Juvenile projections: occupational visions marked by gender

 

Proyecciones juveniles: visiones ocupacionales y marcas de género

 

 

Laila Priscila GrafI * 1; Maria Fernanda Diogo**

Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis - Santa Catarina, Brasil

 

 


RESUMO

Apresenta-se neste artigo pesquisa sobre projeções ocupacionais juvenis sob um olhar generificado, objetivando contribuição às práticas de orientação profissional. Foram utilizados métodos qualitativos, partindo-se de redações sobre visões de futuro escritas por estudantes do ensino médio. Na análise dos dados, utilizou-se o método progressivo-regressivo, destacando-se a objetivação das subjetividades. Os resultados indicaram que a trilogia formação/emprego/trabalho revelou-se estruturante nos projetos dos rapazes e das moças, sendo a formação acadêmica considerada porta de acesso ao mercado de trabalho. A ascensão profissional foi descrita como rápida e sem obstáculos. Verificou-se que as diferenças entre os gêneros relacionaram-se às escolhas profissionais, à articulação realizada pelas moças entre projeções profissionais e familiares e aos rapazes circunscreverem-se mais à esfera econômica.

Palavras-chave: Projeto de vida, Orientação profissional, Ensino médio, G ênero.


ABSTRACT

This paper describes a study about occupational projections with juveniles marked by gender, aiming at contributing with practices of vocational guidance. Qualitative methods were used having as corpus descriptions of visions about the future written by high school students. The progressive-regressive method was used, highlighting the objectification of subjectivity. The results indicated that the trilogy education/job/work, was seen to frame the boys’ and girls’ plans and formal education was considered to be the gateway to the labor market. Success in business was described as quick and without major obstacles. Gender was seen to guide career choices: there was a close link between professional and family projects for the female students, whereas the males focused more on the economical sphere.

Keywords: Life project, Vocational guidance, Secondary education, Gender.


RESUMEN

Se presenta en este artículo una encuesta sobre proyecciones ocupacionales juveniles desde un punto de vista de género, buscando contribuir a las prácticas de orientación profesional. Se utilizaron métodos cualitativos partiendo de redacciones sobre visiones de futuro escritas por estudiantes de enseñanza media. En el análisis de los datos se utilizó el método progresivo-regresivo destacándose la objetivación de las subjetividades. Los resultados indicaron que la trilogía formación/empleo/trabajo se reveló estructurante en los proyectos de los y las jóvenes, considerándose la formación académica puerta de acceso al mercado de trabajo. La ascensión profesional fue descrita como rápida y sin obstáculos. Se verificó que las diferencias entre los géneros se relacionaron con las elecciones profesionales, la articulación realizada por las jóvenes entre proyecciones profesionales y familiares, y la mayor circunscripción de los jóvenes a la esfera económica.

Palabras clave: Proyecto de vida, Orientación vocacional, Educación secundaria, Género.


 

 

As últimas décadas foram marcadas por rupturas em vários campos (artes, ciências, manifestações culturais e sociais etc.) redundando no surgimento de um novo paradigma: tudo é urgente, imediato, instantâneo, efêmero. Este processo configura a chamada pós-modernidade. Há evidente impacto na constituição dos sujeitos e em seus cotidianos. Vários aspectos da vida dos indivíduos são afetados quando se findam suas perspectivas de longo prazo, suas verdades e crenças são abaladas e estes são incitados ao consumismo desenfreado. Houve contundentes mudanças na noção de tempo-espaço e o bombardeio de informações passou a ser incessante e crescente (Diogo & Maheirie, 2007). Estas transformações provocaram alterações substanciais nas subjetividades forjadas neste século:

O ser humano constitui-se por meio da dinâmica entre objetivação e subjetivação, pois (...) o psiquismo é resultado da atividade do sujeito no contexto das relações por ele estabelecidas. Quando ocorrem grandes mudanças sociais e culturais &– como as provocadas na contemporaneidade, o sujeito é plenamente afetado (Diogo & Maheirie, 2007, p. 147).

Bauman (2001) prefere chamar este processo de modernidade líquida, numa metáfora à incapacidade dos fluídos em manterem a forma sem um recipiente que os contenha.

Hoje, os padrões e configurações não são mais “dados”, e menos ainda “auto-evidentes”; eles são muitos, chocando-se entre si e contradizendo-se em seus comandos conflitantes, de tal forma que todos e cada um foram desprovidos de boa parte de seus poderes de compelir e restringir (Bauman, 2001, p. 14).

Esta fluidez de padrões também se apresenta nas escolhas feitas atualmente pelos jovens ou seus projetos de futuro ainda seguem padrões tradicionais? Há grandes diferenças entre as projeções ocupacionais realizadas por rapazes e moças? Os estudos de gênero podem contribuir nesta análise? Buscando respostas a estas perguntas, este artigo apresenta os resultados de pesquisa realizada com jovens que cursavam terceiro ano do ensino médio em uma escola particular catarinense buscando compreender as ênfases enunciadas por eles quanto aos seus futuros, escolhas e projetos, especialmente a partir dos estudos de trabalho e gênero.

Para circunscrever teoricamente nossa análise, o artigo estrutura-se da seguinte forma: elucida teoricamente subjetividade e temporalidade a partir dos aportes do materialismo histórico e da teoria sartreana, depois, explica a noção de projeto e o campo de Orientação Profissional para, em seguida, abordar reflexões acerca da imbricação de trabalho com as relações de gênero. O item do método apresenta a pesquisa, os instrumentos de coleta das informações e as categorias de análise. Na seqüência, articulam-se os resultados encontrados sobre as projeções futuras dos jovens, a partir de análises da relação entre Orientação Profissional e dos estudos de gênero.

Subjetividade e temporalidade

Esta pesquisa parte do pressuposto que todo sujeito é constituído historicamente, sendo, ao mesmo tempo, produto e produtor do contexto no qual está inserido, pautado por determinadas condições sociais, numa relação dialética. Esta perspectiva é relacional e “deve ser procurada na relação dos homens com a natureza, com as ‘condições de partida’ e nas relações dos homens entre si” (Sartre, 1960/1987, p. 155). Condições da partida são apreendidas como o desenvolvimento das forças produtivas (condições materiais) e das relações sociais construídas (valores, idéias, formas jurídicas, políticas e instituições sociais diversas) que sustentam a objetivação da subjetividade humana. “Como vemos, são sempre indivíduos determinados, com uma actividade produtiva que se desenrola de um determinado modo, que entram em relações sociais e políticas determinadas” (Marx & Engels, 1845/1981, p. 24). Esta é a historicidade da existência humana.

Assim, parte-se do pressuposto de que os sujeitos têm seu desenvolvimento sustentado por determinadas condições materiais na tessitura das relações socialmente estabelecidas. Nas palavras de Marx e Engels (1845/1981, p. 26): “Não é a consciência que determina a vida, mas sim a vida que determina a consciência”. Esta proposição traz em seu bojo o princípio de que nossas escolhas sempre se dão a partir da objetividade, mediadas pela subjetividade.

A consciência adquire caráter histórico: os homens produzem a História na mesma medida em que são o seu produto. “Existindo sob a forma temporal, é a consciência, como subjetividade, como negação dialética da objetividade, que introduz a multiplicidade no mundo e, portanto, é fundamento de todas as multiplicidades, existindo necessariamente sob a forma temporal” (Maheirie, 2006, p. 146). Diferentes temporalidades fomentam subjetividades diversas, pois as pessoas se tornam alguém na medida em que vivenciam o mundo: constituem-se enquanto produtos destas relações e as modificam através das suas ações.

A temporalidade torna-se a tônica da análise, dado que o ser humano capta a temporalidade como historicidade (Sartre, 1960/1987). Maheirie (2006) afirma que o sujeito pode ser passado, presente e futuro ao mesmo tempo, não havendo prioridade de uma dimensão sobre a outra, pois “passado, presente e futuro constituem um único movimento temporal no plano do vivido, já que agimos e sentimos no presente, estruturados num passado, mas em função de um futuro” (p. 148).

As escolhas humanas são realizadas em relação ao campo dos possíveis (Sartre, 1960/1987), ou seja, pautadas na materialidade. Esta visão, contudo, não nega o caráter ativo do sujeito, pois este pode optar pelos caminhos que julgar melhores e excluir os menos convenientes. “Certamente, estas condições (materiais) existem e são elas, apenas elas, que podem fornecer uma direção e uma realidade material às mudanças que se preparam; mas o movimento da práxis humana supera-as conservando-as” (p. 150).

Este enfoque é histórico-dialético: o construto social determina de alguma maneira aquilo que as pessoas são e as escolhas que fazem, contudo sem ignorar a atuação do ser na materialidade. “O campo dos possíveis é o objetivo em direção ao qual o agente supera sua situação objetiva” (Sartre, 1960/1987, p. 152, grifo das autoras).

Realizando uma análise da constituição do sujeito na contemporaneidade sob a ótica de Sartre e Vygotski, Diogo e Maheirie (2007) apontam que uma das tônicas da pós-modernidade é a falta de enraizamento e a mutabilidade acelerada. Esta é a era do incremento tecnológico, do desenvolvimento acelerado, das distâncias pulverizadas, da frenética urgência em produzir bens e gerar necessidades. As autoras apontam que a subjetividade não escapa imune deste bombardeamento, pois a ruptura de parâmetros objetivos estáveis faz com que o estabelecimento de significados e sentidos ganhe fluidez. “Nesta nova ordem, a experiência do presente torna-se preponderante, alimentando concepções de falta de profundidade e/ou enfraquecimento da historicidade. Passado e futuro perderam sua magnitude: só o presente importa” (p. 148). Nesta perspectiva, torna-se extremante importante analisar de que forma se estruturam os projetos realizados pela juventude.

Projeto e Orientação Profissional

A história humana é carregada de significações e estas são definidas por um projeto, ou seja, pela busca humana de superação de uma situação objetiva. “Simultaneamente fuga e salto para frente, recusa e realização, o projeto retém e revela a realidade superada, recusada pelo movimento mesmo que a supera” (Sartre, 1960/1987, p. 152).

A noção de projeto vai ao encontro dos trabalhos no campo de orientação profissional. Ehrlich (2002) assinalou que o propósito da orientação profissional é promover o sujeito em sua dimensão social, psicológica e econômica. Baseada em uma leitura sartreana, a autora desenvolve que a temporalidade é ontologicamente constitutiva do ser humano e que o projeto de ser relaciona-se às perspectivas futuras: “toda ação humana implica um futuro por alcançar, um estado do mundo por modificar, uma negação da plenitude presente, a realização de um possível que ainda não existe” (p. 59). Faz-se importante, pois, considerar a dimensão futura, ultrapassar um plano estritamente administrativo e social, e passar a considerar a profissão como um dos meios de realização do sujeito.

Rascovan (2005, p. 23) indicou que os profissionais que atuam no campo da Orientação Profissional necessitam realizar interlocuções com outras áreas do conhecimento em prol de “alternativas de pensar y actuar” frente aos problemas contemporâneos do trabalho, como aumento da pobreza e exclusão social. O autor articulou o campo da Orientação Profissional com a proposta da Saúde Mental comunitária, aquela que visa a inseparabilidade do sofrimento humano da vida social sobrepujando a noção de enfermidade mental. Essa articulação objetivou considerar os conflitos sociais, como a instabilidade e precariedade das relações laborais contemporâneas, aspectos fundamentais para a compreensão subjetiva das escolhas profissionais. Muitas são as incertezas provocadas nos jovens que estão transitando do universo da escolaridade ao mundo do trabalho. Eles engendram escolhas que envolvem não somente o que fazer, mas também o que ser, visto que “esa elección compromete la propia singularidad de cada sujeito. Es un hacer que va construyendo el ser” (Rascovan, 2005, p. 27).

O campo da Orientação Profissional envolve não somente a escolha, mas também um conjunto de práticas relacionadas com a temática do trabalho, identidade e alienação profissional, educação universitária, entre outros (Bohoslavsky, 1983). Melo-Silva, Lassance e Soares (2004), apontando suas argumentações na mesma direção, pensam a Orientação Profissional de modo abrangente, envolvendo análises sobre educação profissional e sobre as transições da fase escolar para o universo laboral.

Essa incursão nas relações de trabalho feita pelas pesquisas no campo da Orientação Profissional abre espaço para análises sob a ótica das relações de gênero: o que domina o projeto profissional de rapazes e moças? Há diferenças derivadas das construções sociais de gênero? Ou estas se encontram cada vez mais assemelhadas por causa das totalizações dos discursos contemporâneos, como conseqüência das ações midiáticas?

Destrinchar as complexas tramas que envolvem a escolha é responsabilidade da Orientação Profissional, entrecruzando as dimensões sociais, políticas, econômi cas, culturais, psicológicas, bem como as de gênero. Deste modo, neste trabalho, procura-se salientar a categoria de gênero como importante dimensão a ser analisada pelos estudos feitos no campo e na prática da Orientação Profissional.

Os estudos de gênero e o trabalho feminino

A análise aqui desenvolvida inspirou-se nos estudos de gênero. Este tópico buscará introduzir os aportes teóricos e, também, pesquisas sobre o trabalho feminino.

Estudos que utilizam relações de gênero como ferramenta de análise precisam compreender os jogos que subsidiam as diferenças observáveis entre os sexos, derrubando tendências em aceitá-las sem implicá-las. Gênero, nesta perspectiva crítica, é entrelaçado e construído nas relações sociais, refutando entendimentos fundamentados somente na biologia. “A diferença sexual não é a causa originária da qual a organização social poderia derivar. Ela é antes uma estrutura social movente, que deve ser analisada nos seus diferentes contextos históricos” (Scott, 1998, p. 115).

O mercado de trabalho não é uma entidade sexualmente neutra. As relações de gênero estão na base da organização da esfera produtiva (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos [DIEESE], 2001; Hirata, 2002; Yannoulas, 2002). “As condições de negociação da força de trabalho não são as mesmas (para o masculino e feminino), o que nos permite concluir pela sexualização da força de trabalho e, conseqüentemente, das relações e práticas de trabalho” (Souza-Lobo, 1991, p. 152). A segmentação ocupacional ainda concentra as mulheres em alguns setores econômicos, de forma que trabalhos caracterizados como produtivos (produção de bens e serviços) são predominantemente voltados aos homens e, aqueles, caracterizados como reprodutivos (assemelhados ao fórum doméstico, como serviços educacionais e de saúde) são destinados às mulheres. Essas diferenciações são aceitas como naturais e desvalorizam o trabalho feminino sem qualquer reflexão histórica e de contexto (Brasil, 2006; DIEESE, 2001; Yannoulas, 2002).

Analisando as relações de gênero no mercado de trabalho em termos de mudanças e permanências, Bruschini (2007) assinalou que houve aumento da participação feminina no mercado de trabalho entre as décadas de 1990 até 2005, contudo as mulheres continuam as principais responsáveis pelas atividades domésticas, representando grande sobrecarga de trabalho. Ainda segundo a autora, houve continuidade do lócus ocupado no mercado de trabalho, concentrando as trabalhadoras nos setores de prestação de serviços, domésticos, educação, saúde, serviços sociais e outros trabalhos coletivos. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [IBGE] (2008), as mulheres que integram a População Economicamente Ativa (PEA) situam-se 22% nas áreas de administração pública, educação, defesa, segurança e saúde; 17,4% no segmento do comércio; 16,5% na área de serviços domésticos; 13,3% em serviços prestados a empresas; 13,1% no setor industrial; 0,6% na construção civil; e 17,0% em outros serviços/atividades. Pode-se concluir que a atual ordem econômica não propiciou igualdade de condições entre os gêneros, ao contrário, reforçou hierarquias, desigualdades e assimetrias historicamente construídas (Diogo & Coutinho, 2007).

Abramo (2004, p. 225) assinala que “los mecanismos de segmentación ocupacional que confinan a la gran mayoría de las mujeres a los segmentos menos valorizados del mercado de trabajo siguen existiendo y reproduciéndose”. Contudo, é possível observar um paradoxo: grande contingente de mulheres ocupa posições pouco favoráveis quanto ao vínculo de trabalho, remuneração, qualidade e proteções sociais, mas, por outro lado, algumas ascendem para novas ocupações, profissões de prestígio e cargos executivos. Convivem lado a lado conquistas e discriminações.

No sentido de incrementar um diálogo entre as relações de gênero e as escolhas profissionais, foram selecionados estudos que explicitassem contribuições nesta área. Neiva (2003) observou diferenças importantes com relação à responsabilidade, conhecimento da realidade educativa e sócio-profissional entre estudantes do ensino médio. De acordo com a autora, enquanto as moças empreenderam mais ações visando a responsabilidade e a independência, os rapazes demonstraram maior conhecimento associados à realidade educativa e sócio profissional.

Bardagi, Lassance, Paradiso e Menezes (2006), em investigação sobre a escolha profissional com formandos, ressaltaram que as mulheres investigadas sinalizaram maior tendência do que os homens em retratar dificuldades de inserção no mercado de trabalho. As autoras relacionam estes dados com o fato das mulheres considerarem a necessidade de conjugar o trabalho remunerado aos afazeres conjugais e maternos. As autoras ressaltaram a importância de considerar estas relações na construção e avaliação do projeto profissional.

Outro estudo que reitera a importância de relacionar gênero à escolha profissional foi elaborado por Losada e Rocha-Coutinho (2007). As autoras investigaram mulheres empresárias sobre suas escolhas profissionais e destacaram o peso da vida familiar nestas escolhas. “Parece existir certa dificuldade por parte delas em concentrar toda a sua vida, quer na família, quer na profissão; nada que lembre incapacidade ou fracasso, mas sim, algo que é fruto da coexistência de necessidades diversas e, muitas vezes, contraditórias” (p. 501).

Estas pesquisas apontaram para a importância de prosseguir investigações que correlacionem gênero e escolha profissional, especialmente porque se trata de uma questão que interfere nas posições sociais e nas possibilidades de inserção de homens e mulheres no mercado de trabalho.

 

MÉTODO

Para compreender os sentidos que os jovens atribuíram às suas perspectivas futuras, foi efetuada uma pesquisa de campo de natureza qualitativa, através da análise de produções textuais. As pesquisas qualitativas possibilitam maior compreensão sobre os sentidos e significados construídos pelos sujeitos, permitindo ao pesquisador mergulhar nas vivências e significações atribuídas pelos sujeitos em relação a um determinado tema (Biasoli-Alves, 1998).

Este trabalho foi realizado com duas turmas de alunos do terceiro ano do ensino médio regular, noturno, de uma escola particular catarinense. Participaram deste estudo quarenta e nove jovens, dos quais eram vinte e um rapazes e vinte e oito moças. Os estudantes tinham idades entre 16 e 18 anos e tinham condição sócio-econômica mediana.

A técnica de coleta de informações usada inspirou-se em pesquisa realizada por Bock e Liebesny (2003) com cerca de quatrocentos jovens do ensino fundamental e médio de escolas particulares e públicas da cidade de São Paulo-SP. Tendo como aporte a Psicologia Sócio-Histórica, o foco das autoras foi o projeto futuro destes jovens, identificando seus valores e diferenças. Como instrumento de coleta de dados foi solicitado aos estudantes que elaborassem uma redação com a seguinte instrução: “Hoje é o dia... do mês de... do ano... (data dez anos adiante do dia da realização da redação). Você está pensando no que foi e no que tem sido a sua vida nesses últimos dez anos. Coloque-se nesta situação e escreva seus pensamentos” (p. 213). A partir desta orientação, os estudantes eram convidados a relatar seus pensamentos sobre o futuro, com liberdade de escreverem o número de linhas que desejassem.

O estudo dos documentos produzidos pelos sujeitos proporcionou um conhecimento sobre a realidade projetada por eles a partir das suas possibilidades vividas, pois “embora se referindo a um futuro, é no presente que são construídas suas formas; estas têm, por limite, a amplitude que a realidade presente lhes confere” (Bock & Liebesny, 2003, p. 212). As redações permitem, a partir das possibilidades narrativas e criativas dos sujeitos, a obtenção de um discurso não-diretivo que possibilita identificar as visões e os meios de alcance aos objetivos descritos.

Nesta pesquisa, as redações foram propostas em meados de 2007, os estudantes se sentiram a vontade para efetuar seus relatos, mostrando interesse em participar da atividade. Na compreensão do tema, valorizou-se uma perspectiva qualitativa (Bock & Liebesny, 2003). A análise das produções textuais deu-se pautada no método progressivo-regressivo (Sartre, 1960/1987), buscando a compreensão das ações dos sujeitos em relação às condições materiais circundantes. A análise buscou “o movimento de enriquecimento totalizador que engendra cada momento a partir do momento anterior” (p. 175), ou seja, procurou-se compreender, em uma perspectiva histórica, o movimento que vai do sujeito ao social e retorna ao sujeito. Sartre (1960/1987, p. 170) complementa que este método é heurístico: “não terá outro meio senão o ‘vaivém’: determinará progressivamente a biografia, aprofundando a época, e a época, aprofundando a biografia”.

Assim, a análise das produções textuais baseou-se numa perspectiva histórico-dialética, considerando as dimensões temporais do passado, presente e futuro como um todo indissociável, constituintes de um único movimento: o passado é o que situa e orienta o sujeito em relação ao mundo, o presente é a relação vivenciada sujeito/mundo e o futuro está representado pelo projeto e transmite sentido ao presente na medida em que lida com possibilidades de vir-a-ser (Sartre, 1960/1987). A proposta para escrever uma redação sobre projeções de futuro demandou que estes jovens se desenraizassem momentaneamente do presente e se lançassem em relação às suas expectativas de vida, reconhecendo-as, nomeando-as, descrevendo-as. Esta projeção está ancorada tanto em suas vivências passadas como no momento presente.

As produções textuais foram lidas repetidas vezes e organizadas por temas recorrentes identificados nos escritos. As categorias foram determinadas a posteriori, ou seja, emergiram das constantes idas e vindas da teoria aos documentos de análise. Ao final do processo, foram obtidas seis categorias: (a) formação acadêmica (realização de cursos de graduação e pós-graduação); (b) atividade profissional (relatos de trabalhos); (c) estabilidade financeira (aquisição de bens, questões relativas à segurança material); (d) mobilidade (viagens); (e) desafios da vida; (f) sentimentos em relação ao futuro. A utilização de categorias viabiliza a análise e traz clareza e organização ao texto, contudo é necessário mencionar que esta divisão é meramente teórica, pois em vários momentos as categorias se entrelaçam e se atravessam.

Para fins deste artigo, optou-se por tecer uma análise das categorias relacionadas com as dimensões de trabalho e gênero no âmbito do projeto profissional. Destacou-se a seguir os resultados relativos à centralidade do trabalho para estes jovens; à importância da formação de nível superior; e à questão das atividades profissionais e estabilidade financeira.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A importância do trabalho nas projeções dos jovens pesquisados

Possivelmente o destaque dado à esfera laboral deu-se pelo momento vivenciado pelos sujeitos da pesquisa: na fase escolar em que eles se encontravam são socialmente incitados a fazer escolhas profissionais, escolhas estas “multi e sobredeterminadas pela família, pela estrutura educacional e pelos meios de comunicação em massa, como também pela estrutura dialética social e a estrutura dialética subjetiva” (Bohoslavsky, 1998, p. 15). Estes jovens estão finalizando uma etapa escolar que lhes aponta para o mercado de trabalho ou para um curso universitário (o nível sócio econômico dos sujeitos lhes abria esta possibilidade, como será discutido a seguir). E, por sua vez, a graduação universitária compreende uma maior articulação entre o projeto educacional e o profissional.

A centralidade do trabalho na vida do jovem brasileiro também foi um dos resultados apresentados na pesquisa “Perfil da juventude brasileira”. Guimarães (2005) realizou um levantamento com 3.501 jovens entre 15 e 24 anos, distribuídos em 198 municípios de 25 estados brasileiros. Poder-se-ia esperar decrescente importância atribuída pelos jovens ao trabalho como conseqüência das mudanças políticas, econômicas e socioculturais dos últimos 20 anos, contudo, aponta a autora, “o trabalho não está apenas na ordem do dia, como se destaca com relação a outros aspectos tidos como reveladores de interesses ‘tipicamente juvenis’” (p. 150). Os resultados deste estudo refutam a tese de Offe (1989) de que contemporaneamente o trabalho passou a ser subjetivamente periférico (Guimarães, 2005).

Das escolhas possíveis à possibilidade de escolher: a valorização da formação de nível superior

Segundo Soares (2002, p. 41), o capitalismo aparenta oferecer oportunidades ilimitadas, mas esta não é a realidade, pois “as possibilidades de escolha estão totalmente determinadas por este mesmo capitalismo, pela condição de classe social a qual pertencemos que nos transmite uma série de expectativas de padrões de comportamento e de consumo”. Ou, numa perspectiva sartreana, as escolhas estão limitadas ao campo dos possíveis vivenciado pelo sujeito (Sartre, 1960/1987).

Assim, algumas pessoas possuem maior leque de escolhas, enquanto outros vêem suas possibilidades reduzidas pelas circunstâncias vividas. Na maioria das vezes, os jovens buscam no mercado de trabalho uma forma de garantir sua sobrevivência e necessidades imediatas. Recente pesquisa Datafolha (2008) realizada com 1.541 jovens, com idades entre 16 e 25 anos, em 168 cidades brasileiras, indica que a maior parte dos entrevistados buscava atender necessidades básicas, como emprego, estudo e moradia.

Na sociedade capitalista se vive para trabalhar. O trabalho entretece os sujeitos em suas redes sociais e, deste modo, é descrito por Frigotto (2002, p. 12) como criador de vida. “O trabalho, em seu sentido de produção de bens úteis materiais e simbólicos ou criador de valores de uso, é condição constitutiva da vida dos seres humanos em relação aos outros”.

O capital gera movimentos que são de impossível previsão, movimentos estes cada vez mais velozes: como saber quais serão as áreas ocupacionais valorizadas depois de cinco anos de graduação? Manfredi (2000) aponta que as relações entre trabalho, emprego, escola e profissão são complexas e requerem esforços no sentido de possibilitar reflexões aprofundadas. De acordo com a autora, apesar de o senso comum apontar a escolaridade como propiciadora de melhor condição ocupacional, isto não é tão simples de ser verificado na prática, pois nem sempre há empregos para todos, mesmo para aqueles que possuem maiores níveis escolares. O trabalho sob a égide do capital transformou-se: “passou-se de um processo orientado pelo caráter qualitativo das tarefas para um processo encaminhado exclusivamente para a economia do tempo” (p. 42). Deste modo, segundo a autora, a natureza, os tipos de trabalhos e as condições de emprego passaram a ser resultados de mecanismos estruturais e não mais de processos educativos. Neste entendimento, a escola e o mundo do trabalho percorrem trajetos contrários, pois ao mesmo tempo em que aumentou a escolarização, aumentou- se o desemprego.

Para os sujeitos desta pesquisa, a escolaridade manteve-se na base de um futuro promissor. Moças e rapazes enfatizaram a opção pela formação acadêmica superior como introdutória ao mercado de trabalho e a uma condição ascendente de vida. “Hoje com 28 anos consegui me formar na faculdade de fisioterapia, consegui me especializar com pós-graduação, mestrado e doutorado, que com muito esforço e apoio de meus pais consegui chegar aonde queria” (Juliana). Esta pesquisa se baseou em preceitos éticos tanto no modo de abordar os sujeitos bem como na forma de tratar e apresentar os resultados. Manteve-se o sigilo das identidades dos sujeitos e da organização escolar, bem como se ofereceu adesão voluntária à pesquisa. Todos os nomes aqui utilizados são fictícios.

A educação de nível superior foi descrita um passo para alcançar a estabilidade financeira futura. “Não sei o que vou ser, (...) e onde vou estar daqui a dez anos, mas, pretendo ser arquiteto e não parar nessa faculdade. Quero o melhor para a minha família, então vou querer uma boa recompensa (salário) pelo que faço” (Alfredo). A fala de Alfredo também se reportou ao desejo de constituir uma família. Alguns rapazes apontaram o projeto de subsidiar economicamente sua futura família através da trilogia formação/trabalho/emprego. Este ponto será debatido no próximo item.

A maioria dos jovens, rapazes e moças, narrou a escolha de cursos que formam para profissões de status socialmente valorizado. Os cursos mencionados pelos rapazes foram: administração, arquitetura, ciências contábeis, engenharia mecânica e medicina. Os cursos de formação superior assinalados pelas moças foram: administração, antropologia, arquitetura, comércio exterior, design, direito, pedagogia, engenharia ambiental, fisioterapia, gastronomia, jornalismo, medicina veterinária, moda, oceanografia, publicidade e propaganda. Observou-se maior amplitude profissional e maior riqueza de detalhes na descrição das escolhas dos cursos de educação superior para as moças. Guimarães (2005) também encontrou que as moças participantes de sua pesquisa estavam mais mobilizadas pelos assuntos concernentes à educação.

Os resultados mostraram que rapazes e moças priorizaram em suas escolhas profissionais cursos de elevado status social ou aqueles da moda, como gastronomia, oceanografia e design. Estas escolhas podem ter sido influenciadas pela mídia. A propaganda difunde idéias, segundarizando a apresentação de produtos específicos para afirmar desejos (de sucesso, prosperidade, segurança, beleza, felicidade plena). Chauí (2006) aponta que a contemporaneidade passou da produção de mercadorias empacotadas para o empacotamento da informação. Fato também assinalado por Fischer (2005) na sua discussão sobre a mídia como produtora de sentidos para a juventude. A autora chama esta situação de comércio dos sentidos, inferindo que a indústria cultural pulsa em prol de padronizar o pensamento coletivo. “Filmes, programas de TV, narrativas de todos os tipos, em revistas, livros, jornais, pinturas e esculturas, peças de teatro, páginas na internet &– tudo isso existe, cria-se, multiplica-se, cada vez mais, a partir dessa necessidade básica de ultrapassar nossas contingências” (s/p). Assim, é pertinente questionar se algumas destas escolhas profissionais descritas pelos sujeitos desta pesquisa não seriam estereotipadas ou idealizadas, influenciadas pelo pulsante bombardeio midiático.

Como diria Sartre (1960/1987), as escolhas se fazem em função da materialidade que circunda o sujeito. Foi citado anteriormente que a inserção econômico-social dos jovens deste estudo lhes atribuía significativa amplitude para realizarem suas escolhas. Athayde e Bill (2006) relatam situação muito diversa no livro “Falcão, meninos do trafico”. Entrevistando meninos e adolescentes que faziam parte do tráfico de drogas na cidade do Rio de Janeiro, os autores revelaram vidas presas exclusivamente ao presente, impossibilitadas de realizarem projetos futuros. Compará-los aos sujeitos desta pesquisa é polarizado, mas nos dá a exata dimensão de que as escolhas sempre se fazem multideterminadas &– pela família, pela camada social na qual está inserido o sujeito, pela estrutura educacional, pelos meios de comunicação de massa e pela estrutura subjetiva (Bohoslavsky, 1998). Os jovens pertencentes a esta pesquisa possuem perspectivas de futuro e estão aptos a realizarem suas escolhas.

Em síntese, a importância que os sujeitos desta pesquisa atribuíram à formação acadêmica reproduz o discurso das instituições governamentais, de alguns estudos e da mídia que insistem em reforçar que as mudanças no mundo do trabalho demandam cada vez mais qualificação (Druker, 2001) e que esta seria garantia de empregabilidade, de melhoria da qualidade de vida e do padrão de consumo. Isso se evidenciou na importância dada pelos estudantes à sólida formação educacional para alcançar uma boa posição no mercado de trabalho, como se pode notar na fala de Marcelo: “Passei sete anos na faculdade estudando bastante (...). Fui trabalhar na área que me formei e fiz bastante sucesso, pois era um dos melhores da turma no tempo da faculdade”.

É indiscutível que a educação é essencial para a obtenção de postos de trabalho minimamente qualificados, “porém, é igualmente inquestionável que o processo educacional, em si mesmo e isoladamente, não tem influência direta para amenizar o drama do desemprego entre os jovens” (Trevisan, 2004, p. 73). Isso ocorre na medida em que o aumento da escolarização não garante aumento nos postos de trabalho e não implica necessariamente em melhores condições salariais para os postos ocupados.

A projeção de atividades profissionais, estabilidade financeira e a idealização hedônica do futuro

Quanto às atividades profissionais, da mesma forma como fizeram em relação à escolha do curso superior as moças detalharam mais suas expectativas. Predominaram funções na área de humanas, saúde e ciências sociais aplicadas. “Sou uma profissional da área de jornalismo formada e pós-graduada. Faço parte da equipe da RBS (Grupo RBS, afiliada à Rede Globo para o Rio Grande do Sul e Santa Catarina)” (Cristina).

Os rapazes, por sua vez, não destacaram muitas áreas de atuação ou ocupações, contudo eles enfatizaram a questão financeira por meio de um discurso centrado em amplo sucesso econômico. “Tenho meu escritório de arquitetura bem situado na cidade e muitos clientes. Também uma casa muito bonita, de dois andares e já tenho dinheiro para comprar um apartamento” (João).

Interessante observar que o modo de descrever a profissionalização e a estabilidade financeira apresentou algumas diferenças de gênero. As redações das moças abordaram o sucesso econômico gerado pela profissão, contudo este geralmente apareceu de forma mais atenuada do que na redação dos rapazes e, na grande maioria das vezes, conjugando projeções de casamento e filhos às suas carreiras. Pode-se observar este fato na fala de Alexandra: “Em 2005, conheci meu marido (...). Casamos, compramos o restaurante da tia dele, ele quase formado em administração na faculdade e eu terminando a minha em 2012. (...) Em 2012 tivemos um casal de filhos (...) estamos com a vida de nossos filhos pronta, não só por causa do restaurante que deu muito lucro para nós, quanto meu diploma e do meu marido”. Já os rapazes descreveram prioritariamente o sucesso econômico e, depois de o terem atingido, alguns teceram planos casamento e/ou filhos. “Eu tenho um emprego que ganha bem. Agora dá para sustentar minha família” (Pedro).

Ou seja, a maioria das moças e alguns dos rapazes projetaram a formação de uma família, mas de modo distinto, sendo que os rapazes deram maior ênfase ao sucesso econômico conquistado antes da formação familiar, enquanto as moças associaram trabalho e estabilidade às projeções domésticas.

Além disso, apesar da maior amplitude de áreas de trabalho descritas pelas moças, a maioria delas descreveu trabalhos em setores que a literatura apontou serem predominantemente femininos. “Cursei minha faculdade, me formei e hoje estou lecionando, tenho minha vida pronta, estou pensando em casar, ter meus filhos, minha casa está pronta” (Maria). A despeito de elas terem descrito áreas inovadoras, como design, engenharia ambiental e oceanografia, pode-se observar que áreas tradicionalmente ocupadas por força de trabalho feminina ainda predominam no imaginário destas jovens.

É fato que o mercado de trabalho não se divide igualitariamente entre homens e mulheres. Yannoulas (2002, p. 15) afirma que “o fenômeno da inserção diferencial de homens e mulheres nos mercados de trabalho denomina-se segmentação ou segregação dos mercados de trabalho baseada em gênero” (grifos da autora). A íntima tessitura realizada pelas moças que participaram desta pesquisa entre os fóruns profissional e familiar tornou-se um convite para analisar a questão da construção social dos gêneros. O âmbito doméstico ainda permanece como um lócus por excelência feminino, independente da camada social e da prevalência ou não de trabalhos remunerados. Mesmo com as mudanças sociais das últimas décadas e com a entrada maciça das mulheres no mercado de trabalho, pesquisas demonstram que as mulheres seguem responsáveis pelas lides domésticas (Bruschini, 2007; Sorj, Fontes, & Machado, 2007), mantendo-se a ideologia da maternidade e da domesticidade. “Poucas são aquelas que adquirem consciência destes mecanismos e se propõem discutí-los ou mesmo desafiá-los” (Diogo & Coutinho, 2007, p. 137).

Nas redações não foi evidenciado nenhum conflito entre conciliar trabalho e vida familiar. Grande parte das moças considerou, sem sinalizar qualquer embaraço pela dupla jornada, a perspectiva da maternidade associada ao sucesso profissional. Esta reflexão, possivelmente, ainda não faz parte das vivências da faixa etária a qual pertencem os sujeitos desta pesquisa. A falta de uma prática social que dimensione coletivamente os cuidados familiares ainda “reforça um modelo fortemente desigual da divisão sexual do trabalho e limita as oportunidades laborais das mulheres, principalmente das mães com filhos dependentes” (Sorj e cols., 2007, p. 579).

Rapazes e moças projetaram ainda na juventude (por volta dos 28 anos) apogeu profissional, independência e estabilidade financeira, incluindo a aspiração à casa própria, aquisição de vários bens de consumo e viagens pelo mundo. Este processo reflete o padrão ditado na sociedade: objetos são criados, desejados e consumidos em ritmo alucinante, propiciando uma estética do consumo (Bauman, 2001), na qual o lapso de tempo entre o desejo e a satisfação deve ser o mais breve possível.

Esta perspectiva pode ajudar na compreensão da ânsia de sucesso precoce demonstrada pelos sujeitos. Forjam-se fantasias e sonhos de felicidade, muitas vezes descoladas da realidade objetiva, que estimulam os indivíduos ao consumismo e reafirmam a centralidade do trabalho para esta finalidade. Não se observou em nenhuma redação preocupação com a complexa situação econômica brasileira ou com as dificuldades encontradas pelos jovens em entrarem e ascenderem no mercado de trabalho. Quase todas as redações narraram sucessos profissionais meteóricos: “Cursei a universidade, agora estou terminando meu doutorado, estou na IBM desenvolvendo sistemas (...) pretendo rever os meus amigos e encontrar meu par perfeito, já que com esse tempo ganhei muita grana” (Marcos).

Segundo Bauman (2001, p. 170, grifo do autor), “a incerteza do presente (e, também, do futuro) é uma poderosa força individualizadora”. Na estética do consumo do pós-modernismo ficam subsumidos interesses comuns, as pessoas vivem sob a égide da individualidade, pesando sobre cada um as responsabilidades pelas suas conquistas ou fracassos. Nesta perspectiva individual, não causou espanto a casa própria ter sido o bem de consumo mais desejado nas redações, resultados análogos aos evidenciados na pesquisa Datafolha (2008), onde se apurou que os sonhos referentes a ter uma casa somavam 36% do pesquisados, especialmente ter uma casa própria (30%). Foi inferido que a residência representa um lugar próprio, só meu, individual, compartilhado com a família escolhida (cônjuge/companheiro/a) e filhos. “Estou com 26 anos, quase 27. Tenho carro e casa própria, já constitui família com minha esposa, que está grávida” (Manuel).

Além de insígnia de sucesso, os bens de consumo representaram também os esforços pessoais destes jovens na realização de suas projeções, ressaltando mais uma vez a força individualizadora citada por Bauman (2001). Algumas redações trouxeram a necessidade de garra para conquistar os sonhos, coadunando com o discurso modo-indivíduo neoliberal, afinal os bens de consumo foram descritos como resultado da força de vontade e do trabalho individual. “Eu sou a diferença!!! Não me arrependo de ter ralado pra caramba por uma coisa que eu adoro (trabalho/casa/família)!” (Marina).

Poucos rapazes e moças imaginaram desafios e dificuldades e, quando descritos nas redações, estes circundavam a esfera financeira. Todos aqueles que imaginaram alguma dificuldade se projetaram vencendo-a e realizando seus desejos. Como analisa Bauman (2001), na pós-modernidade as realizações precisam ser imediatas e há forte intolerância aos obstáculos. O projeto destes jovens demonstrou-se linear e com desenvolvimento pleno, evidenciando boa dose de consumismo (aquisição de bens de consumo) e romantismo (encontrar o par perfeito, como nos contos de fadas).

Esperava-se encontrar projeções positivas nas redações, principalmente em virtude do bombardeamento de modelos de felicidade dos meios de comunicação de massa, contudo foi surpreendente a ingenuidade contida nos relatos. Apesar de alguns estudantes terem descrito a necessidade de perseverar para conquistar seus objetivos, principalmente os financeiros, foi observado que havia nas redações mais descrições de desejos de felicidade e sucesso do que descrições de modos ou maneiras de atingir o que realmente “poderiam chegar a ser” (Bohoslavsky, 1983). Na maioria das situações, a felicidade apareceu como uma dádiva, desconsiderando completamente o social “Hoje sou muito conceituada no mundo da medicina veterinária, sou uma mulher realizada, conquistei o mundo com minha simpatia e o amor que sinto pelos animais, que continua muito forte” (Michele).

Chauí (2006) aponta para uma nova “compreensão espaço-temporal” na pós-modernidade baseada em dois fenômenos contrários e simultâneos: “de um lado, a fragmentação e dispersão espaço-temporal e, de outro, sob os efeitos das tecnologias eletrônicas e da informação, a compreensão do espaço &– e a compreensão do tempo &– tudo se passa ‘agora’ sem passado e futuro” (p. 32). Os meios de comunicação de massa usam e abusam da ausência de referenciais concretos de espaço e tempo, denominados, respectivamente, de acronia e atopia, camuflando as condições materiais, econômicas, sociais, políticas e históricas dos acontecimentos. Este é “um procedimento deliberado de controle social, político e cultural” (Chauí, 2006, p. 50).

Ao solicitar a estes jovens que imaginassem seu futuro, convidou-se cada um deles ao desenraizamento imaginário do presente, contudo tendo em mente que eles levariam para este futuro pensado/sonhado as armas e ferramentas do presente. É uma einstenização do tempo, expressão usada por Maffesoli (2008): a partir da perspectiva atual imagino o futuro, limitado pelas pregas sociais da cotidianidade. Este desenraizamento imaginário provocou o mesmo processo de acronia e atopia amplamente utilizado pelos mass media: em suas redações, os jovens realizaram a negação das condições materiais, econômicas, políticas e históricas vigentes e lançaram-se em direção ao futuro pleno e feliz veiculado nas propagandas, no qual não há espaço para dificuldades. O social ficou subsumido.

Este mecanismo alude à ideologia contemporânea neoliberal de que basta querer para alcançar. Não há obstáculos intransponíveis. Trata-se de uma ideologia que brota na forma de um discurso anônimo, impessoal e inquestionável. “Em outras palavras, o discurso ideológico pode aparecer como discurso social porque o social aparece constituído e regulado por esta racionalidade” (Chauí, 2006, p. 76).

Todas as redações desembocavam em um futuro pleno de realizações e felicidade. Não houve espaço para o meio-termo. “Acredito que estarei realizada e feliz” (Ana). Estes resultados corroboram com os encontrados por Zagury (2003) sobre a positividade do olhar da juventude, que ainda valoriza a família, o amor e o trabalho.

Apesar das contradições e transformações da sociedade contemporânea, observa-se que os valores tradicionais não saíram de moda. A felicidade para os sujeitos deste estudo segue padrões socialmente aprovados: esteve estreitamente vinculada à ascensão profissional e à escolha do par perfeito. “Nós casaremos em uma pequena igreja na Espanha e nossa lua de mel será em Fernando de Noronha. Nós iremos residir numa casa de classe média no Canadá e seremos felizes para sempre!” (Joana).

Pesquisando sobre a felicidade, Neri (2008) assinalou que o brasileiro é um povo confiante: os jovens brasileiros obtiveram 8,78 no Índice de Felicidade Futura em um universo de 132 países, referente a um período estimado de cinco anos. Os autores mencionam que otimismo no futuro é maior que o otimismo no presente. A semelhança entre a presente pesquisa e a de Neri (2008) é que os jovens também manifestaram esta tendência de projeção da felicidade no futuro, denotando grande confiança neste porvir pleno de desejos.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo compreender as articulações entre projetos profissionais de jovens estudantes do ensino médio, identificando diferenças e semelhanças nos projetos ocupacionais de moças e rapazes. Para isso, foi adotada uma visão de sujeito, perspectivas e escolhas, fundamentada em autores ancorados no materialismo histórico-dialético.

Observaram-se nas redações dos estudantes de ambos os sexos que a trilogia formação/emprego/trabalho foi estruturante dos seus projetos e a formação acadêmica ocorria como um a priori no que se refere à maior facilidade para ingressar e obter sucesso no mercado de trabalho. As moças citaram maior amplitude de cursos universitários, detalharam suas escolhas e teceram relatos alinhavando o desenvolvimento profissional ao casamento e filhos. Os rapazes citaram menor variedade de cursos universitários e escolhas profissionais, centralizando seus relatos na esfera econômica, apesar deles também terem relatado casamentos e famílias. Para eles, era fundamental primeiro atingir a estabilidade profissional e econômica para, num segundo momento, constituir uma família.

No quesito estabilidade financeira, houve maior homogeneidade nos relatos de rapazes e moças. Ambos projetaram independência, estabilidade financeira, ascensão profissional rápida, boa condição de vida (incluindo casa própria) e projetos de viagens. Um pouco diferente do encontrado por Neiva (2003), de serem mais as moças a enfatizar a independência; mas cabe destacar que os procedimentos de método desta autora foram baseados em escala, um enfoque de pesquisa voltado a procedimentos e análises estatísticas distinto do usado aqui, um enfoque qualitativo, explicando essas diferenças de resultados. Pode-se arriscar que o discurso destes jovens remete aos ideais neoliberais que constituem o “modo de ser” contemporâneo, baseado na ênfase individual em detrimento da coletiva. Os projetos e metas descritos nas redações tinham como base ações empreendidas pelos sujeitos (farei, conseguirei) e seus esforços pessoais para a conquista de bens de consumo e projetos futuros. O social não apareceu, o sujeito protagonizou a cena em relatos de vidas plenas, sem grandes dificuldades e percalços.

A despeito das teorias que alardeiam novos padrões e nuances culturais, os jovens deste estudo não apresentaram fluidez na hora de projetar seus futuros. Ao contrário das ações ruptivas vinculadas a comandos conflitantes, conforme análise de Bauman (2001), as redações revelaram jovens que seguem os padrões tradicionais e os pressupostos de seus grupos de referência, mantendo o status quo.

Destacou-se nas redações das moças, apesar delas terem narrado maior amplitude de cursos universitários e profissões &– algumas inovadoras, que a maioria delas descreveu carreiras profissionais que a literatura aponta serem predominantemente femininas. Também se destacou ampla predominância do projeto de casar e ter filhos alinhavado às suas carreiras. Estes pontos denotam lugares sociais forjados nas relações de gênero socialmente construídas, que representam os lugares de poder de homens e mulheres em determinada sociedade: as escolhas, sejam profissionais ou das mais diversas ordens, são sempre generificadas.

Rascovan (2005) indicou a necessidade de uma orientação profissional que se reinvente para que possa acompanhar os movimentos do social e do econômico. Os resultados desta pesquisa permitem acrescentar à proposição do autor que é necessário repensar as práticas da Orientação Profissional considerando inclusive as relações de gênero; tal como indicado nos achados de Bardagi e cols. (2006) e Losada e Rocha-Coutinho (2007). É certo que o leque de opções profissionais consideradas femininas muito tem se ampliado nas últimas décadas &– como, inclusive, percebeu-se nas redações das moças &– e que as mulheres passaram a ocupar postos de comando e a quebrar tetos de cristal (Yannoulas, 2002) aqui e acolá. Contudo, esta pesquisa revelou que estas jovens ainda continuam a escolher suas profissões pautadas em valores tradicionais, denotando a necessidade de considerar as questões de gênero nas práticas de Orientação Profissional, investigando os mecanismos sociais que catalisam os processos de inclusão/exclusão das mulheres no mercado de trabalho (Diogo & Coutinho, 2007) e perpetuam práticas de segmentação dos mercados baseadas em gênero (Yannoulas, 2002). Somente a partir destas reflexões será possível desnaturalizar as tramas nas quais as mulheres foram historicamente enredadas.

Este estudo pôs em relevo alguns pontos a serem aprofundados em outras pesquisas sobre Orientação Profissional, especialmente estudos que averigúem as articulações entre projeto profissional e estudos de gênero. Faz-se necessário examinar como as constituições de gênero femininas e masculinas presentes na sociedade contemporânea se apresentam nos processos de escolha profissional.

 

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Recebido: 30/09/2008
1ª Revisão: 19/01/2009
Aceite final: 05/03/2009

 

 

1 Endereço para correspondência: Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Núcleo de Estudos do Trabalho e Constituição do Sujeito. Campus Universitário, Trindade, 88040-500, Florianópolis-SC, Brasil. Fone/Fax: (48) 37219984. E-mail: lailagraf@gmail.com.

 

Sobre os autores
* Laila Priscila Graf é psicóloga e mestranda pelo Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina.
** Maria Fernanda Diogo é psicóloga, mestre pelo Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina e doutoranda deste mesmo programa.

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