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Revista Brasileira de Orientação Profissional

versão On-line ISSN 1984-7270

Rev. bras. orientac. prof v.10 n.2 São Paulo dez. 2009

 

EDITORIAL

 

O presente fascículo foi finalizado após a realização do II Congresso Latino-americano da ABOP e do IX Simpósio Brasileiro de Orientação Vocacional & Ocupacional, realizado nos dias 1, 2 e 3 de outubro de 2009, em Atibaia, Estado de São Paulo. O relato sobre tais eventos está registrado na Seção Documentos. O Livro de Resumos pode ser acessado em http://www.abopbrasil.org.br/arqs/581Congresso.pdf.

Este foi um ano significativo para a ABOP e a RBOP. No contexto da ABOP, o congresso foi realizado com ênfase em debates sobre novos paradigmas e políticas públicas brasileiras e latinoamericanas, reflexões desencadeadas pelos editores da Revista. Entendemos que um periódico científico não deve limitar sua ação a divulgar a produção do conhecimento.

É preciso ir além: estimular a realização de pesquisas, o debate sobre a formação dos orientadores e a oferta de serviços qualificados, o que depende, sobretudo, do diálogo entre pesquisadores, profissionais e formuladores de políticas públicas. Desta forma, a Revista cumpre seu papel técnico, ético e político. De que vale a ciência se ela ficar restrita à academia? De que vale a prática profissional se ela não se atualizar continuamente? Esta publicação não é apenas mais um periódico científico da área da Psicologia. É um periódico em permanente diálogo com a comunidade.

No âmbito do processo editorial da RBOP, este ano é considerado importante, uma vez que a Revista obteve Auxílio Editoração junto ao CNPq, o que possibilitou o avanço em algumas frentes. Entretanto, outras ações ainda são necessárias. Sendo assim, é com a meta da inclusão em outras bases de dados referencias e de textos completos que os editores estão trabalhando.

Assim, o presente fascículo brinda o leitor com dois textos que trazem informações sobre o cenário internacional, um sobre políticas públicas em diferentes países e outro sobre os novos paradigmas que estão na pauta dos profissionais e cientistas internacionais.

Na Seção Especial, a conferência do Dr. John McCarthy, Diretor do International Centre for Career Development and Public Policy, Strasbourg, França, é compartilhada com os leitores pela sua importância no congresso e na agenda de atividades da próxima gestão da ABOP. Intitulado Orientação para a Carreira: o nexo entre políticas e práticas em uma visão internacional, o manuscrito aborda a orientação de carreiras como centro das políticas de educação ao longo da vida (educação, formação, emprego e inclusão social) em diferentes países. Para o autor, os profissionais de orientação e aconselhamento estão convencidos do valor da orientação, mas os formuladores de políticas precisam de argumentos convincentes. Porém, observa-se um profundo hiato entre essas duas perspectivas. E, nesse sentido, o texto apresenta exemplos nacionais e regionais recentes para mostrar como a orientação de carreiras tornou-se a peça central de estratégias para investimentos eficientes em educação ao longo da vida, em empregabilidade e em aprimoramento de habilidades da população trabalhadora.

Na Seção Artigos Originais o primeiro estudo, intitulado Um século depois de Frank Parsons: escolher uma profissão ou apostar na psicologia da construção da vida?, de Maria Eduarda Duarte da Universidade de Lisboa, Portugal, contribui com reflexões sobre novos paradigmas na área da psicologia da orientação, tendo em vista as demandas para o século XXI. Assim, a psicologia da construção da vida, seus princípios estruturantes, os objetivos, os processos, os pressupostos e, ainda, um referencial abrangente para a intervenção, são objeto de análise e discussão neste fascículo.

No cenário brasileiro, o segundo estudo, intitulado Carreira e saliência dos papéis: integrando o desenvolvimento pessoal e profissional, é de autoria de Maria Célia Lassance e Jorge Castellá Sarriera da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre-RS, Brasil. Os autores abordam os construtos carreira e saliência dos papel a partir da perspectiva desenvolvimentista e da revisão da literatura internacional, objetivando compilar os principais achados na área, identificar instrumentos de medida da saliência e contextualizar a importância deste conceito para a pesquisa e intervenção em orientação de carreira na nova economia global.

Focalizando os papéis desempenhados ao longo da vida, os dois artigos subsequentes versam sobre pais, professores e profissionais na orientação de carreira. O terceiro estudo, de Marisa Carvalho e Maria do Céu Taveira, da Universidade do Minho, Braga, Portugal, intitulado Influência de pais nas escolhas de carreira dos filhos: visão de diferentes atores, contribui com a análise sob a perspectiva de pais, estudantes, professores e profissionais de orientação acerca do papel dos pais na implementação de escolhas de carreira dos seus filhos. Por meio do método de grounded theory foram investigadas as perspectivas de um total de 119 participantes (16 pais, 46 alunos, 34 professores e 23 profissionais de orientação) oriundos do ensino médio, denominado secundário em Portugal. Os resultados mostram como os pais influenciam as escolhas de carreira assim como os efeitos desejáveis dessa mesma influência. A necessidade de expandir a intervenção vocacional é destacada pelas autoras.

O quarto estudo, intitulado O papel do professor na transmissão de representações acerca de questões vocacionais, é outra contribuição de investigadores portugueses, de autoria de Ana Filipa Ferreira, Inês Nascimento e Anne Marie Fontaine, da Universidade do Porto, Portugal. A investigação, de natureza qualitativa, permite concluir que os professores constroem e veiculam representações que influenciam direta e indiretamente o desenvolvimento vocacional dos alunos. Pistas que contribuem para a transformação das práticas dos profesores são apontadas, propondo-se atividades de infusão curricular com vistas à exploração vocacional.

A exploração vocacional e as reflexões sobre o autoconceito constituem dois pilares de intervenções de carreira em qualquer época. Para conhecer a pessoa, é preciso investigar interesses, valores e características de personalidade, entre outras dimensões psicológicas. Nesssa direção, Felipe Valentini da Universidade de Brasília, DF, Maycoln Leôni Martins Teodoro da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo-RS e Marcos Alencar Abaide Balbinotti, Université de Québec à Trois-Rivières, Québec, Canadá, contribuem com o quinto estudo, intitulado Relações entre Interesses Vocacionais e Fatores de Personalidade. O estudo explorou as relações entre o modelo Hexagonal de Holland (RIASEC) e os fatores de personalidade Neuroticismo, Abertura e Extroversão, em 145 universitários e com idade média de 25 anos. Os resultados são discutidos, destacando as correlações entre os fatores.

Na linha investigativa sobre dimensões psicológicas inerentes aos processos decionais, a contribuição do sexto estudo focaliza a Extroversão e Socialização em estudantes de Psicologia e Engenharia. Trata-se de uma investigação conduzida por Maiana Farias Oliveira Nunes, Acácia Aparecida Angeli dos Santos e Neíza Bezerra Santos Galvão, da Universidade São Francisco, Itatiba-SP. O estudo analisa traços de Extroversão e Socialização também em universitários dos cursos de Engenharia e Psicologia, assim como verifica diferenças entre eles, considerando-se as variáveis curso e sexo. Foram utilizadas a Escala Fatorial de Extroversão e a Escala Fatorial de Socialização, ambas de autoria de Nunes e Hutz. Os autores destacam que houve diferenças de média associadas ao sexo nos dois fatores de personalidade.

Dando sequência a estudos focalizando a carreira na idade adulta, Alessandra Quishida, da Escola Superior de Engenharia e Gestão, São Paulo-SP e Tania Casado, Universidade de São Paulo, São Paulo-SP, contribuem com o estudo intitulado Adaptação à transição de carreira na meia-idade. Trata-se de um estudo exploratório que objetiva aprofundar o entendimento sobre a adaptação à transição de carreira na meia-idade utilizando um construto oriundo da Psicologia: o locus de controle. Os achados revelaram que os indivíduos que passaram por transições de carreira foram aqueles que não perderam a atenção sobre eles mesmos, ou seja, tinham convicção de seus potenciais. Observou-se que o locus de controle interno facilita a adaptação à transição de carreira na meia-idade.

Populações específicas constituem objetos de interesse da orientação de carreira como área do conhecimento. Nesse sentido, Ângela Carina Paradiso e Jorge Castellá Sarriera, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre-RS, contribuem com o oitavo artigo intitulado Experiências ocupacionais no desenvolvimento de carreira de jovens trabalhadores. O estudo objetiva compreender o papel do trabalho na transformação do autoconceito vocacional e na realização de tarefas de exploração. Com base em Super, a investigação foi conduzida com duas moças e quatro rapazes de camadas populares na faixa etária entre 17 e 20 anos. As experiências de trabalho, como observado no estudo, favoreceram mudanças no autoconceito e o aprendizado de habilidades e atitudes. Elas contribuíram, ainda que modestamente, para o desenvolvimento vocacional deles.

A nona contribuição, intitulada Expectativas de futuro e escolha vocacional em estudantes na transição para o ensino médio, de Fernando Henrique Rezende Aguiar e Maria Inês Gandolfo Conceição, da Universidade de Brasília, DF, investiga as expectativas de 227 estudantes do ensino fundamental em relação ao ensino médio. Os achados mostram o que os participantes esperam do ensino médio: preparação para a vida adulta e para a universidade, aprendizagem mais prazerosa, ampliação do círculo social, apoio e acolhimento.

Questões preocupantes no universo escolar estão sempre em pauta em diferentes áreas do conhecimento. O fracasso escolar, tema recorrente nas áreas da Educação e da Psicologia Escolar, também pode ser considerado como um tema interessante na Orientação Profissional. Assim, o décimo artigo A persistência do fracasso escolar: Desigualdade e ideologia, de Fernando Silva Paula e Leda Verdiani Tfouni, da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto-SP, retomam as questões sociais relacionadas ao fracasso escolar. Com base no referencial teórico da Análise do Discurso pêcheutiana, os autores examinam trabalhos de revisão sobre o tema, procurando identificar as condições históricas e sociais que possibilitaram o surgimento das diversas interpretações sobre o fracasso e a vinculação dessa produção científica a determinados interesses de classe. Compreender tais determinações pode ser útil para auxiliar em intervenções de carreira destinadas a populações minoritárias e em situação de desvantagem social.

Por sua vez, o último artigo, de Fabián Javier Marín Rueda, da Universidade São Francisco, Itatiba-SP, retoma a análise da Produção científica da Revista Brasileira de Orientação Profissional. Desta vez novos fascículos são avaliados e outras variáveis foram inseridas. Segundo o autor, os dados mostraram uma homogeneidade na quantidade de publicações durante a existência da revista (2003-2008), com um aumento no último ano analisado. Verificou-se ainda que o relato de pesquisa foi a categoria de estudo mais utilizada, como requerem os padrões das revistas científicas na área da Psicologia. Novamente a região Sudeste se destaca. Houve ainda a predominância da autoria múltipla, além de um maior número de mulheres como autores principais. Detectou-se uma grande quantidade de testes, inventários e escalas utilizados nas investigações.

A resenha intitulada Orientación educativa e intervención psicopedagógica, de Isabel Cantón Mayo, da Universidad de León, Espanha, fecha os trabalhos. E a revista é encerrada com a Seção Documentos contendo o relato do Congresso da ABOP.

O Conselho Editorial deseja a todos uma proveitosa leitura e trabalha para que a Revista possa continuar contribuindo para consolidar os avanços na área, em diferentes contextos e cenários, estimulando a reflexão crítica dos leitores e incentivando a participação de todos nos debates.

 

 

Lucy Leal Melo-Silva

Editora Científica

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