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Revista Brasileira de Orientação Profissional

On-line version ISSN 1984-7270

Rev. bras. orientac. prof vol.11 no.1 São Paulo June 2010

 

RESENHA

 

A editoração científica em questão: Dimensões da Psicologia1

 

Scientific editing in question: Psychology dimensions

 

La edición científica en cuestión: dimensiones de la Psicología

 

 

Eduardo Name Risk* 2

Universidade de São Paulo - Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras - Departamento de Psicologia e Educação - Ribeirão Preto-SP, Brasil

 

 

A editoração científica constitui um domínio fundamental da produção de conhecimento, cujos achados são divulgados, sobretudo, na forma de artigos, que gozam a peculiaridade de terem sido aferidos por consultores ad hoc, o que garante a priori sua “qualidade” mínima. Trata-se de um processo complexo que não envolve apenas a relação direta entre autor/editor/revisor, haja vista que estes estão lotados em instituições de ensino/pesquisa, que, por sua vez, estão sob o satélite de agências de fomento à pesquisa e da política de ciência e tecnologia do país. Desta maneira, editorar um periódico científico implica a gestão de relações entre o corpo acadêmico e político-científico que norteia as diretrizes de determinada área. Cientes destes desafios e pautadas em sua fecunda experiência no campo da editoração científica, Aparecida Angélica. Z. P. Sabadini, Maria Imaculada C. Sampaio e Sílvia Helena Koller organizaram o livro Publicar em Psicologia: Um enfoque para revista científica, editado pela Associação Brasileira de Editores Científicos de Psicologia (ABECiP) e pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IP-USP), com apoio financeiro do Conselho Federal de Psicologia (CFP).

O livro aborda temas relevantes para a editoração científica, tanto em seu campo estrito, tais como, redação e padronização de manuscritos, estrutura formal e editorial de um periódico científico, apresentação de informações estatísticas; como aqueles atinentes às Ciências da Informação, a saber, o movimento de acesso aberto às publicações, indexação em bases de dados e índices bibliométricos. Além disso, a obra tem o mérito de tangenciar a política científica do país, ao incluir capítulos sobre a questão da autoria e avaliação de periódicos. Os capítulos são escritos por especialistas que conjuminam experiência prática e conhecimento teórico na temática, o que dá ao texto uma vertente didática. Além de estar à venda na Biblioteca do IP-USP, o livro está disponível para acesso digital no site http://publicarempsicologia.blogspot.com. A fim de apresentar o conteúdo da obra, a seguir, descrevemos sucintamente seus capítulos.

Iniciando o livro, no capítulo “A redação científica apresentada por editores”, Piotr Trzesniak e Sílvia Helena Koller discutem a escrita acadêmica, evidenciando os principais cuidados que um pesquisador deve tomar nesta etapa de registro e divulgação da investigação. Os autores apresentam as principais diretrizes para preparação de manuscritos às revistas científicas, descrevem as etapas da tramitação editorial e os critérios comumente utilizados na avaliação de artigos. O texto reúne orientações extremamente úteis, que muitas vezes aprendemos paulatinamente no decorrer de nosso métier por meios formais e informais do contato acadêmico. No âmbito da Psicologia, o capítulo apresenta um olhar objetivo sobre a prática, registro e divulgação da pesquisa nesta área.

A seguir, o capítulo “Preparando um periódico científico” assinado por Aparecida Angélica Z. P. Sabadini, Maria Imaculada C. Sampaio e Maria Marta Nascimento, congrega informações relevantes para a padronização de publicações seriadas. A partir da consulta às normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), APA (American Psychological Association), além de revistas da área, as autoras versam sobre a estrutura das publicações científicas, apresentando minuciosamente os elementos que as compõem. Trata-se de um capítulo útil para editores e sua equipe, visto que clarifica dúvidas comuns do seu cotidiano. O texto é enriquecido por anexos que exemplificam figurativamente seus principais trechos.

No terceiro capítulo, “O movimento de acesso aberto, os repositórios e as revistas científicas”, Maria Imaculada C. Sampaio e André Serradas abordam os avanços das tecnologias de informação/comunicação e seus efeitos no conhecimento científico, particularmente, nas publicações. Os autores caracterizam o “Movimento de Acesso Aberto”, que visa estimular o acesso livre aos documentos científicos e assegurar os direitos autorais, além de explicitarem declarações que o apóiam. A seguir, esmiúçam as “vertentes de acesso aberto”, ou seja, os repositórios institucionais de arquivos científicos e as revistas de acesso livre. O texto apresenta com clareza temas e termos técnicos que comumente são confusos não apenas para editores, como também para a comunidade científica.

Trzesniak assina o capítulo “A estrutura editorial de um periódico científico”. O autor apresenta com extrema propriedade as diversas instâncias que organizam o corpo científico e técnico de uma revista, evidenciando que sua perenidade e mérito dependem da divisão de atividades entre os membros do corpo editorial e do respaldo da instituição que a mantém. Cada ramo do comitê científico contempla um conjunto de atividades, que são propostas de maneira sistematizada. Além do trabalho afinado do comitê editorial, o autor pondera que os periódicos prescindem de programas computadorizados para gerenciar a tramitação dos originais. O texto elucida a dinâmica e estrutura de um periódico, considerando que muitas vezes as funções dos membros do comitê editorial parecem se confundir.

No quinto capítulo, “Indexação e fator de impacto”, Maria Imaculada C. Sampaio e Aparecida Angélica Z. P. Sabadini abordam as principais características das bases de dados e seu papel na sistematização do conhecimento. As autoras versam sobre termos comuns ao campo da publicação científica, discutem os critérios comumente empregados pelos comitês indexadores para seleção dos periódicos, diferenciam os tipos de bases de dados existentes e apresentam alguns indexadores importantes para a Psicologia. O texto expõe com clareza aspectos relevantes da indexação, o que pode contribuir para o trabalho de editores, que comumente não dominam temas referentes à Ciência da Informação.

Na sequência, o capítulo “Preparando um artigo científico”, da autoria de Aparecida Angélica Z. P. Sabadini, Maria Imaculada C. Sampaio e Sílvia Helena Koller, reúne orientações para preparação e normalização de artigos científicos. As autoras discutem pormenorizadamente os elementos que compõem um artigo científico, tanto seus aspectos estruturais quanto de conteúdo, e apresentam diretrizes para submissão de manuscritos. Cada seção que compõe um trabalho empírico é analisada em seus aspectos gerais, exemplificados por meio de um conjunto de tópicos sobre os quais os pesquisadores devem versar. Trata-se do capítulo mais longo do livro, e tem o mérito de reunir orientações relevantes não apenas para a redação de manuscritos, como também para cada etapa que perfaz a realização de uma pesquisa.

O capítulo seguinte, “Autoria, co-autoria e colaboração”, de Maria Imaculada C. Sampaio e Aparecida Angélica Z. P. Sabadini, aborda os critérios para atribuição de autoria a um texto científico, assim como a temática da autoria institucional e internacional. Para as autoras, o crédito de publicação só deve ser auferido àqueles que participaram efetivamente na realização da pesquisa, já que esse é a garantia da propriedade intelectual das idéias ali presentes, ou seja, a autoria não pode se pautar em conveniências e reciprocidades. Trata-se de um tema complexo, que merece acurada reflexão dos acadêmicos, pois evidencia que as práticas científicas não estão imunes a acordos e cordialidades tão comuns em outras esferas da sociedade brasileira, como no campo organizacional e político.

O penúltimo capítulo, “Normas para a apresentação de informações estatísticas no estilo editorial APA”, assinado por Claudette M. M. Vendramini, Irene M. Cazorla e Cláudia B. da Silva, discute diretrizes para apresentação de elementos estatísticos na forma de texto, tabelas e figuras, além de exemplificar os tipos de gráficos e suas aplicações. Considerando a ampla aplicação de métodos de análise estatística inferencial, o texto sugere modelos para sua formalização no contexto brasileiro. Deste modo, constitui um “guia” para pesquisadores que utilizam metodologias quantitativas, assim como para a equipe editorial, que nele encontram um instrumental valioso para padronização de artigos desta modalidade.

Finalizando o livro, o capítulo “A avaliação de periódicos científicos brasileiros da área da Psicologia”, de Oswaldo H. Yamamoto e Ana Ludmila F. Costa, discute um tema candente para a Psicologia, o processo de aferição da qualidade de títulos periódicos. Os autores apontam que a avaliação de publicações é um processo corrente, visto que é empregado por bases de dados, agências de fomento e pela CAPES, como parte do julgamento da qualidade da produção científica de docentes e alunos vinculados a Programas de Pós-graduação. No tocante ao Qualis Periódicos instituído pela comissão mista CAPES/ANPEPP (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior/Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Psicologia), afirmam que este além de classificar os periódicos, objetiva estimular sua qualificação e estabelecer parâmetros editoriais compatíveis para área. Por outro lado, apontam que o processo avaliativo não é neutro, sendo motivado por razões políticas e éticas, que devem ser consideradas na reflexão de sua consistência e implicações.

Podemos sugerir que o livro é fruto do incentivo ao aumento quantitativo da produção científica promovido pelas agências de fomento e pelas diretrizes da CAPES. No âmbito da Psicologia, notamos que este incremento também se respalda no sistema Qualis Periódicos, em que pese sua controvérsia, possibilitou que os periódicos da área alcançassem um padrão formal e editorial. Além disso, a fundação da ABECiP representa um fator importante na captação de forças acadêmicas com vistas à discussão de projetos e ações no campo da editoração científica em Psicologia, frutos que a comunidade acadêmica partilha a partir da publicação do livro Publicar em Psicologia, que deverá constituir obra de referência para área, no que tange à padronização de artigos e periódicos e análise de suas finalidades.

Por outro lado, cientes dos esforços já envidados pela ABECiP, sugerimos que a comunidade acadêmica discuta amplamente os fatores econômicos, políticos e sociais que ensejam a produção/editoração científica, isto é, que o próprio campo de estudo e seus agentes se prestem à análise das determinações de seu métier. Diante do conhecido aforismo “publicar ou perecer”, impõe-se aos pesquisadores a análise dos fatores e consequências do incremento da produção científica, o que leva, a longo termo, ao questionamento do paradigma que sustenta a área da Psicologia e seu diálogo com disciplinas afins. Desta forma, esperamos que Publicar em Psicologia: Um enfoque para revista científica além de constituir obra de referência para editores e autores, instigue-os à reflexão percuciente sobre sua profissão. Trata-se de uma questão não apenas acadêmica, mas sobretudo política.

 

 

Recebido: 16/03/2010
Aceite final: 22/04/2010

 

 

1 Resenha do livro: Sabadini, A. A. Z. P., Sampaio, M. I. C., & Koller, S. H. (Orgs.). (2009). Publicar em Psicologia: Um enfoque para a revista científica. São Paulo: Associação Brasileira de Editores Científicos de Psicologia / Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.
2 Endereço para correspondência: Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto. Programa de Pós-graduação em Psicologia. Av. Bandeirantes, 3900, 14.040-901, Ribeirão Preto-SP, Brasil. E-mail: eduardorisk@yahoo.com.br.

 

 

Sobre os autores
* Eduardo Name Risk é Psicólogo, Bacharel em Psicologia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP), mestrando do Programa de Pós-graduação em Psicologia da mesma instituição, bolsista da FAPESP. Foi assistente editorial da Revista Brasileira de Orientação Profissional e da Paideia.

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