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Revista Brasileira de Orientação Profissional

versão On-line ISSN 1984-7270

Rev. bras. orientac. prof vol.11 no.2 São Paulo dez. 2010

 

EDITORIAL

 

 

Este foi um ano de conquistas na história da Revista Brasileira de Orientação Profissional com a inclusão nas bases de dados: CLASE, REDALYC e Catálogo Latindex, que indexam documentos publicados em periódicos de revistas latinoamericanas especializadas nas ciências sociais e humanas. Com vistas ao aprimoramento da Revista novas normas e diretrizes para a publicação também foram estabelecidas.

Neste semestre a Revista se fez presente no III Congresso Brasileiro de Psicologia: Ciência e Profissão, realizado no período de 3 a 7 de setembro em São Paulo. A Associação Brasileira de Orientadores Profissionais (ABOP), como um das entidades organizadoras do evento, mobilizou os orientadores profissionais e pesquisadores que propuseram e participaram de diversas atividades. Como em 2006, essa participação está registrada na seção documentos.

Neste fascículo o leitor terá a oportunidade de conhecer cinco contribuições internacionais, de Portugal. Em relação à autoria são onze autores internacionais, oito de outros estados brasileiros (Paraíba, Maranhão, Distrito Federal, Minas Gerais, Santa Catarina e Rio Grande do Sul) e oito do Estado de São Paulo advindos de três diferentes unidades da USP (FEA, FEARP e FFCLRP), um da FGV/EAESP, um da ESAGS e um da UNESP-Araraquara. Observa-se a abrangência da revista e sua inserção internacional, representada neste fascículo por diferentes instituições portuguesas (Porto, Lisboa e Funchal) e uma argentina.

Abordando questões da prática profissional, Alexandra Figueiredo de Barros, da Universidade de Lisboa, Portugal, contribui com o primeiro estudo Desafios da Psicologia Vocacional: Modelos e intervenções na era da incerteza. A autora sintetiza os pressupostos dos modelos teóricos com mais impacto nesse domínio da Psicologia e analisa as contribuições dos diferentes modelos para a oferta de intervenções que respondam à multiplicidade de necessidades e diversidade de destinatários. A autora contribui com o debate sobre a oferta da orientação e do aconselhamento de carreira como processo de aprendizagem do enfrentamento das inevitáveis transições ao longo da vida.

A seguir dois artigos tratam da transição para o mercado de trabalho. Assim, a segunda contribuição é o estudo intitulado Diplomados do ensino superior na transição para o trabalho: Vivências e significados, de autoria de Ana Raquel Soares Paulino, Joaquim Luís Coimbra e Carlos Manuel Gonçalves, da Universidade do Porto, Portugal. O significado que a transição para o (des)emprego assume para os jovens adultos diplomados do ensino superior foi avaliado por meio da escala Latent and Manifest Benefits of Work (LAMB-Scale) e do General Health Questionnaire - 12 (GHQ-12). A investigação com 577 diplomados do ensino superior evidenciou diferenças significativas entre desempregados e empregados. Os resultados contribuem para reflexões sobre as principais implicações dessas situações para os trabalhadores nos níveis psicológico, social e institucional.

O terceiro estudo focaliza a população jovem no artigo denominado Trajetórias juvenis: Significando projetos de vida a partir do primeiro emprego, de Regina Célia Borges e Maria Chalfin Coutinho, da Universidade Federal de Santa Catarina. O estudo baseia-se no pressuposto da centralidade da categoria trabalho e nas perspectivas do materialismo histórico-dialético e da visão sócio-histórica sobre o conceito das juventudes/adolescências. Os dados foram obtidos por meio de entrevistas e de fotografias, técnica utilizada como ferramenta complementar. Os autores apontam que os sentidos do trabalho na primeira experiência profissional expressam sua centralidade.

O quarto artigo é outra contribuição de investigadores portugueses, intitulado Influência do gênero, da família e dos serviços de psicologia e orientação na tomada de decisão de carreira, de autoria de Margarida Dias Pocinho, da Universidade da Madeira, Funchal; Armando Correia, Secretaria Regional de Educação da Madeira, Universidade da Madeira, Funchal; Renato Gil Carvalho, da Secretaria Regional de Educação da Madeira, Universidade da Madeira, Associação Educação & Psicologia, Funchal e Carla Silva, também da Secretaria Regional de Educação da Madeira, Associação Educação & Psicologia, Funchal. Trata-se de um estudo desenvolvido com 1930 estudantes portugueses do 10º ao 12º anos (equivalentes às três séries do ensino médio brasileiro). Os participantes do estudo responderam ao Questionário de Dificuldades de Tomada de Decisão e informaram sobre dados escolares e familiares. Os resultados mostram que mais de metade apresenta indecisão vocacional. Verificou-se que há influência positiva da família na tomada de decisão e da Orientação Vocacional na prontidão para a decisão. Diferenças entre os rapazes e as moças foram encontradas. Os autores contribuem com recomendações para as práticas de orientação vocacional.

Maria Odilia Teixeira e Inês Calado, da Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal, contribuem com o conhecimento acerca da prática profissional. Assim, o quinto artigo intitulado Avaliação de um programa de educação para a carreira: Um projecto de natureza exploratória examina os resultados de um programa destinado a estudantes do 9º ano no contexto europeu. Enfatiza-se a "necessidade de práticas educativas da orientação possuírem uma natureza abrangente, de modo a perspectivarem de forma integrada o desenvolvimento de competências vocacionais, a promoção do sucesso académico e o bem-estar na comunidade educativa".

Tendo em vista o contexto brasileiro, o sexto artigo intitulado Psicologia Escolar e Orientação Profissional: Fortalecendo as convergências, é uma contribuição de Tatiana Oliveira de Carvalho, da Universidade de Ensino Superior do Maranhão e Claisy Maria Marinho-Araujo, da Universidade de Brasília (UnB), Brasília, DF. As autoras concebem a instituição educativa - preferencialmente a escolar - como espaço privilegiado para o desenvolvimento da Orientação Profissional a partir da interface Psicologia e Educação. O estudo contribui com reflexões sobre as possibilidades de convergência entre a Psicologia Escolar e a Orientação Profissional, na perspectiva de intervenção com vistas à promoção do desenvolvimento da carreira e a construção da cidadania, fundamentada nos princípios da educação para a carreira.

No Brasil fazem-se necessários não apenas serviços de intervenção de carreira, mas também de ações que resultem em políticas públicas de acesso e permanência em cursos profissionalizantes em todos os níveis de ensino. No que se refere aos debates sobre Ensino Superior, o sétimo estudo contribui com as reflexões relevantes acerca do acesso à universidade pública brasileira. O artigo é intitulado Universitários de camadas populares em cursos de alta seletividade: Aspectos subjetivos é de autoria de Débora Cristina Piotto, da Universidade de São Paulo (FFCLRP/USP). Por meio de entrevistas realizadas com cinco alunos de cursos de alta seletividade de uma importante universidade pública, oriundos das camadas populares, foi possível compreender algumas trajetórias marcadas por esforço, desenraizamento e humilhação. Em contrapartida, os resultados mostram também que a entrada na universidade pública traz possibilidades que transformam as perspectivas de vida dos alunos.

Novas aprendizagens levam a novos comportamentos, necessários no mundo do trabalho. O oitavo artigo intitulado Aprendizagem transformativa e mudança comportamental a partir de dilemas desorientadores na carreira é assinado por Germano Glufke Reis, da Fundação Getúlio Vargas/Escola de Administração de Empresas de São Paulo (FGV/EAESP) e das Faculdades de Campinas (FACAMP); Lina Eiko Nakata, da Escola Superior de Administração e Gestão (ESAGS); e Joel Souza Dutra, da Universidade de São Paulo (FEA-USP). Trata de questões sobre mudanças nas organizações e necessidades de adaptabilidade, de aprender e de adaptar-se, mesmo em situações adversas. O estudo com base no modelo de mudança transteórico buscou investigar como dilemas desorientadores nas carreiras catalisam processos reflexivos e aprendizados. Os resultados mostram que situações desorientadoras na vida profissional configuram-se como oportunidades especiais para aprendizados, o que fornece pistas para a intervenção em contextos organizacionais.

A nona contribuição é o estudo de caso denominado O supervisor educacional no contexto da educação a distância, de Fabio Scorsolini-Comin, da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Uberaba-MG; David Forli Inocente do Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração (INEPAD); Alberto Borges Matias, Universidade de São Paulo (FEA-RP/USP) e Manoel Antônio dos Santos, Universidade de São Paulo (FFCLRP/USP). O estudo investigou a atuação dos supervisores de ensino de um instituto multidisciplinar, no contexto da educação a distância. Foram analisadas as descrições de cargo desses profissionais e suas funções, visando favorecer a assunção de uma identidade profissional "comprometida com os pressupostos da sociedade do conhecimento".

Dois relatos de experiências são divulgados nesta publicação. A décima contribuição, Intervir para ajudar e ajudar para construir: Um modelo de intervenção psicológica com estudantes do ensino superior é de autoria de Rosário Lima e Sandra Fraga, da Universidade de Lisboa. O modelo de intervenção psicológica baseia-se na abordagem desenvolvimentista de carreira tendo como ponto de partida a experiência em aconselhamento de carreira com estudantes do ensino superior que solicitaram ajuda. Diferentes tipos de solicitação em aconselhamento e gestão de carreira foram encontrados.

A décima segunda contribuição - segundo relato de experiência - Amizade no processo de orientação profissional: Três abordagens na intervenção com jovens é de autoria de Luciana Karine de Souza, da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte-MG e de Maria Célia Pacheco Lassance, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre-RS. As autoras, com base na experiência prática em orientação profissional, relatam três formas distintas de abordar as relações de amizade na demanda e no atendimento a adolescentes e jovens adultos, a saber: compreensiva, desafiadora e mediadora.

Dois ensaios compõem este fascículo. Um faz um resgate histórico de algumas das problemáticas do acesso ao ensino superior e das práticas de cursos populares de preparação para o vestibular. O outro aborda antigas e novas questões conceituais e estratégicas de orientação profissional e de coaching.

Assim a décima terceira contribuição, de Dulce Consuelo Andreatta Whitaker, UNESP-Araraquara, intitula-se Da "invenção" do vestibular aos cursinhos populares: Um desafio para a Orientação Profissional. Trata da origem dos exames vestibulares no Brasil e apresenta os cursinhos preparatórios. A autora, neste resgate histórico, aponta "o paradoxo de uma prática antipedagógica que se tornou condição essencial para o acesso aos cursos superiores de prestígio". Este ensaio tem sua relevância por se tratar do registro de uma trajetória pessoal muito relevante na área de Orientação Profissional.

Debates conceituais e estratégicos são focalizados na sessão ensaio. Assinada por Carlos Roberto Ernesto da Silva, da Ernesto & Associados, João Pessoa-PB, a décima quarta contribuição intitulada Orientação profissional, mentoring, coaching e counseling: Algumas singularidades e similaridades em práticas. O autor aponta que algumas estratégias de intervenção são usadas no contexto organizacional, restringindo-se a acompanhar jargões empresariais. As singularidades e similaridades dessas estratégias são discutidas com vistas a contribuir para uma melhor compreensão das práticas e de seus pressupostos.

O Conselho Editorial deseja a todos uma proveitosa leitura e trabalha para que a Revista possa continuar recebendo bons textos e assim siga contribuindo com a produção do conhecimento na área.

 

Lucy Leal Melo-Silva
Editora Científica

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