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Revista Brasileira de Orientação Profissional

versão On-line ISSN 1984-7270

Rev. bras. orientac. prof vol.11 no.2 São Paulo dez. 2010

 

ARTIGO ORIGINAL

 

Trajetórias juvenis: significando projetos de vida a partir do primeiro emprego

 

Adolescents' paths: giving meaning to life projects from the first job experience

 

Trayectorias juveniles: significando proyectos de vida a partir del primer empleo

 

 

Regina Célia P. Borges1; Maria Chalfin Coutinho

Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis-SC, Brasil

 

 


RESUMO

Com o propósito de compreender os sentidos do trabalho para jovens em sua primeira experiência profissional, realizou-se esta pesquisa de abordagem qualitativa. Para tanto, tomou-se como pressuposto a centralidade da categoria trabalho, através do materialismo histórico-dialético, e a visão sócio-histórica do conceito das juventudes/adolescências. A principal técnica de coleta de informações foi a entrevista, a fotografia foi utilizada como ferramenta complementar. A partir de um recorte dos resultados da pesquisa original, são apresentadas considerações analíticas sobre os seguintes núcleos: (a) Experiência, Registro Formal e Consumo, (b) Cotidiano, (c) Projetos. Os sentidos do trabalho na primeira experiência profissional expressam uma centralidade, apesar de serem fortemente influenciados pelo sistema capitalista.

Palavras-chave: trabalho, adolescentes, profissões, projeto de vida


ABSTRACT

This qualitative research was done with the aim of understanding the meanings of labor for the young in their first job experience. The centrality of labor category is assumed as seen in the historic-dialectic materialism and social-historic concept of youth/adolescence. The main technique for data collection used was the interview, and photography was used complementary. From a clipping of the data analytical considerations were made about three nuclei: (a) Experience, Formal Job Contract and Consumption, (b) Everyday life, and (c) Projects. The meanings of labor in their first job experience express a centrality, even though they are strongly influenced by the capitalist system.

Keywords: labor, adolescents, job, life project


RESUMEN

Con el propósito de comprender el sentido del trabajo para jóvenes en su primera experiencia profesional se realizó esta investigación de enfoque cualitativo. Para eso se tomó como presupuesto la centralidad de la categoría trabajo, a través del materialismo histórico-dialéctico, y de la visión socio-histórica del concepto de las juventudes/adolescencias. La principal técnica de recolección de informaciones fue la entrevista y la fotografía fue utilizada como herramienta complementaria. A partir de un recorte de los resultados de la investigación original, se presentan consideraciones analíticas sobre los siguientes núcleos: (a) Experiencia, Registro Formal y Consumo, (b) Cotidiano y (c) Proyectos. El sentido del trabajo en la primera experiencia profesional expresa una centralidad a pesar de ser fuertemente influenciado por el sistema capitalista.

Palabras clave: trabajo, adolescentes, profesiones, proyecto de vida


 

 

O contexto do mundo do trabalho vive metamorfoses iniciadas de modo mais acentuado nas últimas décadas do século passado. Desse conjunto são destacados os processos de trabalho flexibilizados, introdução de novas tecnologias, declínio dos modos de produção taylorista-fordista e sua substituição ou mescla com toyotismo, entre outras características (Alves, 2005; Antunes, 2000; Baumgartem, 2006).

As modificações nos processos produtivos alcançaram não somente a esfera material e objetiva, mas também a subjetiva, afetando a forma de ser dos trabalhadores, sendo os jovens também integrantes desse panorama (Antunes, 2000). Surge um novo e precário mercado de trabalho, além de um inovador contexto sócio-histórico para a classe trabalhadora (Alves, 2005).

Considerando a articulação entre as dimensões objetivas e subjetivas da vida laboral, as mudanças concretas requerem a busca de novas compreensões dos sentidos e significados do trabalho sob a égide do sistema capitalista. Assim, a busca por articular tais inquietações àquelas vinculadas à temática da juventude, suscitou o desenvolvimento de uma dissertação de mestrado, no intuito de compreender os sentidos do trabalho para jovens em sua primeira experiência profissional (Borges, 2010). A importância de estudos nesse campo é referendada por Léon (2005), ao destacar o crescimento do interesse pela questão da juventude nas últimas décadas, a fim de discutir políticas públicas, em diversas esferas sociais, e problematizar as temáticas trabalho/emprego para esse grupo.

Este artigo traz um recorte dos resultados dessa pesquisa, na qual tomaram-se concepções históricas de trabalho e juventude como referências teóricas, além do trabalho como atividade central da vida humana e fundante do ser social. Em seu sentido genérico, o trabalho foi concebido por Marx (1985) como um processo entre o homem e a natureza, ação exclusivamente humana imaginada ou planejada com prévia intencionalidade.

No que diz respeito à concepção de juventude, adotou-se uma perspectiva histórica e social, que recusa o enquadramento dos jovens em categorias fechadas. Corrobora-se com Reis (2006), quando se contrapõe à idéia de homogeneizar, tipificar e categorizar as experiências juvenis. Considera-se que as adolescências/juventudes devem ser compreendidas e analisadas em cada contexto sociocultural.

 

Sentidos e significados do trabalho

As análises sobre processos de significação no trabalho devem levar em conta as distintas correntes epistemológicas para a compreensão desse fenômeno, tais como a sócio-histórica, o construcionismo, o cognitivismo e a humanista (Tolfo, Coutinho, Almeida, Baasch, & Cugnier, 2005). Segundo Tolfo et al. (2005), estudos sobre os sentidos e significados no contexto laboral utilizam frequentemente um ou outro sem explicitar uma distinção analítica conceitual. Tal diferenciação é feita aqui por meio das "lentes" da psicologia sócio-histórica, tendo como referência a obra de Vygotski.

Na perspectiva adotada, as categorias sentidos e significados são compreendidas como contornos privilegiados na busca da apreensão singular do ser humano. Os participantes pesquisados foram vistos como seres constituídos em uma relação dialética com o social e o histórico. Assim, proclamam "a sua singularidade, o novo que é capaz de produzir, os significados sociais e os sentidos subjetivos" (Aguiar, 2006, p. 12). Ao diferenciar as duas categorias, Aguiar (2006) esclarece que, apesar da distinção, elas não devem ser analisadas separadamente, pois são constitutivas uma da outra.

O sentido é a expressão mais subjetiva do sujeito, num conjunto de fatores biológicos, intelectuais e afetivos que "imprimem" sua particularidade, apresentando-se como uma categoria complexa. Para Vygotski (1992), toda palavra é dotada de múltiplos sentidos, unindo pensamento e linguagem, fala interior e exterior. Assim, "o sentido é muito mais amplo que o significado, pois o primeiro constitui a articulação dos eventos psicológicos que o sujeito produz frente uma realidade" (Aguiar & Ozella, 2006, p. 226).

Já o significado foi considerado por Vygostki (1992) como uma generalização ou um conceito, muitas vezes "dicionarizado", mais inflexível e em constante evolução sofrendo alterações quantitativas e externas de acordo com o momento histórico. Desse modo, os significados estabelecidos na esfera social são históricos e culturais.

Neste estudo, portanto, os sentidos foram compreendidos como expressões sociais construídos a partir da vivência pessoal e dotados de emoções, sentimentos, contradições e ambivalências representativas na construção histórica do sujeito. Assim, ao narrarem suas compreensões sobre trabalho, os participantes do estudo expressaram os sentidos atribuídos por cada um deles à experiência de trabalhar, articulada com os significados produzidos coletivamente.

 

As juventudes e seu lugar no mundo do trabalho contemporâneo

É necessário problematizar de qual juventude/adolescência se está falando, de modo a explicitar sua "singularidade ante outros segmentos populacionais" (Abramo, 2005, p. 38). Há um panorama multifacetado de concepções sob a gênese da adolescência e juventude, umas mais cronológicas/biológicas, outras mais sociais. Cabe destacar o quanto estudos envolvendo os jovens, seus modos de vida, relações com o mercado de trabalho e com a educação (entre outros) vêm aumentando com maior ênfase nas últimas décadas em toda a América Latina (Abramo, 2005; León, 2005; Raitz, 2003; Raitz & Petters, 2008).

De acordo com Raitz (2003), encontramos uma diversidade bibliográfica produzida por diversas áreas do conhecimento, sobre a temática da juventude, principalmente desde a década de 90 do século passado. Mesmo diante de vastas opções, a autora comenta existirem ainda muitos conhecimentos a ser apreendidos, já que os conceitos de adolescência e juventude tornam-se imprecisos quando singularizados.

Lyra et al. (2002) consideram cronologicamente como adolescência um período interfacial com a infância e imediatamente anterior à juventude. De acordo com León (2005), têm-se utilizado com frequência as seguintes segmentações: de 12 a 18 anos para designar a adolescência, e dos 15 a 29 anos para a juventude, sendo esta dividida em períodos (de 15 a 19 anos, de 20 a 24 anos e de 25 a 29 anos). O autor alerta para habituais alterações etárias entre as faixas e o prolongamento da juventude para um intervalo entre os 12 e 35 anos.

Quanto às terminologias utilizadas, para León (2005) existem variações disciplinares. A Psicologia tem utilizado o termo adolescência, enquanto outras disciplinas sociais como a Sociologia, Antropologia, História e Educação recorrem à terminologia da juventude. Segundo o autor, há casos de utilização desses conceitos de modo sinônimo e homólogo entre si, em algumas ramificações da Psicologia Social, opção aqui adotada.

Enfim, notam-se diferentes visões: de um lado aquelas que assinalam etapas da vida marcadas por faixas etárias homogêneas, enquanto outras, como a teoria sócio-histórica, compreendem a adolescência como uma construção humana, assumindo diferentes características de acordo com o contexto social. Desse modo, a concepção da adolescência adotada neste estudo vai considerar que "o jovem não é algo por natureza" (Aguiar, Bock, & Ozella, 2007, p. 168).

Nesta perspectiva, as adolescências/juventudes são compreendidas por meio da contextualização das relações sociais num determinado tempo e espaço histórico em que vive o sujeito (Ozella, 2003). A partir dessa ótica, os participantes foram tomados como sujeitos ativos, sendo constituídos por meio da mediação de suas relações sociais (Aguiar, 2007).

Pochmann (2007) destaca que os jovens "tomam a cena atual", pois formam quase 20% da população mundial no século XXI. O autor destaca o grande número de crianças e adolescentes trabalhando e considera necessário desacelerar esse processo. Segundo o autor, para cada dez jovens no Brasil, sete já iniciaram uma atividade profissional. No entanto, a positividade associada ao "peso numérico" desse segmento tem sido afetada pelo fenômeno mundial do desemprego.

Antunes (2000), Corrochano, Ferreira, Freitas e Souza (2008), Coutinho e Silva (no prelo) e Pochmann (2007), veem os jovens como um dos grupos mais vulneráveis a sofrerem com o desemprego, tarefas e contratos precarizados. Além disso, predispostos a faixas salariais inferiores aos trabalhadores adultos.

A inserção do jovem no mercado de trabalho é um dos complexos processos que compõem a chamada transição para a vida adulta (Camarano, 2006). Ressalte-se a concepção adotada, na qual a idéia de transição não tem o propósito de reiterar uma visão com etapas separadas de desenvolvimento. Desse modo, "o termo 'transição' traz a idéia de passagem colocando-se entre situações limítrofes" e "juventude e adultez são multiplicidades em suas formas de ser, e estão cada vez menos segmentadas" (Reis, 2006, p. 68).

Dentro da realidade brasileira o elo juventude/trabalho, evidentemente expresso em diferentes contextos históricos culturais, ocorre de modo geral por meio de uma antecipação do ingresso laboral na vida dos jovens, por vezes em prejuízo de uma adequada continuidade da vida escolar (Guimarães, 2006). Ao buscar inserir-se e ocupar um lugar no mercado de trabalho contemporâneo, o jovem se depara com uma realidade em que não há "lugar para todos" (Silva, 2009, p. 86).

Fica então reiterada a necessidade de novos estudos e conhecimentos sobre os diversos modos de inserção do jovem no mercado e o lugar de trabalho em seu cotidiano, seus sentidos e como projeta seus caminhos futuros, já que inicia precocemente sua vida laboral.

 

Método

Na presente pesquisa, foram trabalhados processos de significação produzidos por seres humanos em suas realidades sociais (Minayo, 2007). Através das palavras/signos, é possível compreender a constituição da subjetividade. Nas falas dos participantes, expressam-se significações cognitivas, afetivas e volitivas fixadas num processo social, histórico e revelador dos sentidos (Aguiar, 2007).

Os jovens entrevistados neste estudo tinham idades entre 15 e 17 anos e participavam de uma organização não-governamental (ONG), mantenedora de projetos sociais. Essa ONG é conveniada com empresas da Grande Florianópolis para encaminhamento de jovens aprendizes por meio da Lei da Aprendizagem2.

Esses jovens trabalham quatro dias da semana nas suas respectivas organizações e, num quinto dia, participam de módulos educacionais na sede da ONG, conforme prescrição da Lei. Os módulos ocorrem em turmas mistas, provenientes de diversos segmentos organizacionais e/ou em turmas exclusivas de uma única organização, em média com vinte jovens-aprendizes. Assim, realizou-se a divulgação do estudo em duas turmas mistas (uma pela manhã e outra à tarde). Inicialmente onze jovens demonstraram interesse. Porém, ao final do estudo permaneceram nove.

Após o primeiro contato e aceite dos participantes, houve a entrega do Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE)3, que deveria ser assinado pelos jovens e seus pais e/ou responsáveis. Depois do retorno dos TCLE assinados, todos os encontros/ entrevistas ocorreram nas dependências da ONG, sendo os jovens liberados nesses momentos das suas atividades educacionais.

Dentro da abordagem qualitativa, optou-se pelo uso de entrevistas semiestruturadas como instrumento principal para coleta de informações. Foi adotada a perspectiva compreensiva de entrevista, tal como preconiza Zago (2003). Assim, com a organização de um roteiro com campos temáticos, mas sem estrutura rígida, as questões poderiam ser alteradas conforme diálogo estabelecido com cada participante. Foram realizadas duas entrevistas com cada jovem. A primeira pautada por informações relativas aos dados de identificação e questões organizadas em três eixos temáticos: dados pessoais e familiares, atividades atuais, históricos profissionais e projetos. As conversações foram gravadas, depois transcritas na íntegra e disponibilizadas aos participantes, durando em média cerca de 30 minutos.

Ao final da primeira entrevista, era solicitada a cada participante a realização de fotografias, depois utilizadas como base para a segunda entrevista. Os jovens recebiam uma máquina fotográfica, sendo convidados a produzirem no mínimo seis e no máximo doze fotos, de acordo com a seguinte premissa: fotografe cenas do seu cotidiano de trabalho ou cenas cotidianas de trabalho para você4.

Segundo Maurente e Tittoni (2007), as imagens fotográficas têm sido utilizadas como recurso metodológico por distintas áreas de estudo, tais como Antropologia, Comunicação Social, Psicologia, Sociologia e Educação. Também Maheirie, Boeing e Pinto (2005, p. 215) consideram que "a fotografia é um recurso de conhecimento em marcante crescimento, expansão e importância".

Neiva-Silva e Koller (2002) enunciam quatro funções para o uso da fotografia em pesquisas psicológicas: registro, modelo, instrumento de feedback e autofotográfica. O uso da fotografia como registro tem uma ação documental apenas para registrar o conteúdo de determinada ocorrência. Como função modelo, as fotos são apresentadas pelo pesquisador aos sujeitos e analisadas suas percepções, falas e reações. Na função feedback, as fotografias, já previamente registradas por um terceiro, são apresentadas com o intuito de avaliar determinada temática em recorrentes encontros entre pesquisador e sujeitos.

Neste trabalho, o uso dos recursos imagéticos foi concebido na função autofotográfica, ou seja, cada sujeito produziu suas próprias fotografias. Assim sendo, combinou-se um novo encontro com os jovens na ONG para devolução da máquina fotográfica, tomando os pesquisadores providências para revelação das imagens. Cada participante produziu em média sete fotos, sendo o intervalo ajustado para a produção dos recursos imagéticos de uma semana5.

Foi realizada nova entrevista também norteada por um roteiro semiestruturado. As fotografias foram interpretadas pelos seus produtores sobre os sentidos atribuídos a cada cena de trabalho, nomeando e escolhendo a imagem mais significativa. Segundo Ramalho e Oliveira (2006, p. 216), "em cada texto visual está registrado um discurso, evidenciando uma visão específica, a do seu criador".

A partir dos instrumentos utilizados, buscou-se conhecer a constituição dos participantes em sua processualidade histórico-dialética e compreender os sentidos produzidos por complexas relações em suas trajetórias. A análise das narrativas foi realizada através do procedimento de Núcleos de Significação, conforme preconizados por Aguiar e Ozella (2006).

Através de recorrentes leituras, foram organizados dezessete pré-indicadores caracterizados por palavras e/ou frases destacadas pela sua repetição, reiteração, ambivalências, carga emocional ou contradições. Em novas leituras, os pré-indicadores foram aglutinados pela similaridade, complementaridade ou contraposição, caminhando-se para a formação de sete indicadores. Conforme Aguiar e Ozella (2006, p. 226), "alguns indicadores podem ser complementares pela semelhança do mesmo modo que pela contraposição" e se deve retornar às entrevistas dando início às primeiras seleções de trechos que identifiquem e/ou esclareçam os indicadores, uma vez que deles serão formados os núcleos de significação.

Num movimento dinâmico de idas e vindas nas entrevistas foram "garimpados" todos os possíveis aspectos futuramente nuclearizados. Tais sentidos foram organizados neste recorte nos núcleos: Experiência, Registro Formal e Consumo, Cotidiano e Projetos.

Os núcleos ora apresentados contemplam uma "dimensão temporal (passado, presente e futuro) da vida laboral dos sujeitos entrevistados" (Coutinho, 2009, p. 200), perfilando suas trajetórias vivenciadas no primeiro emprego. Apesar de uma aparente linearidade, as dimensões temporais são imbricadas e estabelecem referenciais coletivos e sociais próprios em cada momento histórico (Aquino, 2007).

Trata-se aqui de uma divisão didática, uma vez que há entre os três núcleos uma interdependência. Numa análise metafórica, os núcleos seriam como peças de um quebra-cabeça. No entanto, ao invés de se ajustarem a um único local, podem ser encaixados em diferentes posições, pois, de acordo com Aguiar (2007), "sabemos que nada é isolado, que isolar um fato e conservá-lo no isolamento é privá-lo de sentido" (p. 137).

 

Resultados e Discussões

O primeiro núcleo "Experiência, Registro Formal e Consumo" contempla as significações dos processos de busca do primeiro emprego, suas formas de inserção, os processos seletivos e modos de utilização salarial dos participantes.

A necessidade e iniciativa de buscar o primeiro emprego foram expressas pelos jovens de modo recorrente, como reiterado nas falas de Carla e Camile6, respectivamente: "ai meu Deus, eu quero trabalhar, eu quero trabalhar, eu sempre falava pra minha mãe: eu quero trabalhar!" e "eu mesma tive a iniciativa; a minha amiga tinha me falado que ela veio na ONG, aí eu me informei com ela, daí eu fui e corri atrás".

As ações de busca por uma ocupação dessas jovens tiveram êxito por meio da oportunidade de inserção via ONG. No contexto de uma política pública, esses jovens, ainda que provisoriamente, conseguem ingressar no mercado de trabalho. Ao analisar a inclusão de jovens, Branco (2005)7 destaca a faixa etária entre 16 a 24 anos como aquela com maiores índices de inatividade profissional. Para o autor, "todos os indicadores disponíveis têm evidenciado uma forte 'pressão' dos jovens na procura por ocupação" (p. 131). Pochmann (2007) denomina tal etapa como desemprego de inserção; fase na qual o jovem sai à procura do seu primeiro emprego, e por não dispor de experiência e/ou devido, às vezes, à baixa escolaridade, encontra dificuldades de acesso ao mercado.

A inserção no mercado de trabalho ocorreu de modo "mais tranquilo" para os participantes deste estudo, funcionando a política pública preconizada na Lei da Aprendizagem, via ONG, como uma "porta de entrada" no primeiro emprego. Carvalho (2006, p. 208) denomina de "políticas focalizadas, já que as categorias destinatárias se definem a partir de um nível de necessidades, pobreza ou risco".

Uma vez inscritos na instituição, os jovens ficavam aguardando a ocorrência de oportunidades para participarem de processos seletivos. Giovana expressou, de um lado, o reconhecimento das dificuldades de ingresso no mercado de trabalho: "é difícil conseguir emprego com essa idade", e de outro a facilitação do processo via ONG: "eu achei bem fácil entrar... um dia me ligaram e na outra semana eu já estava no Banco trabalhando". Outros participantes vivenciaram o processo seletivo como um momento de tensão e ansiedade. Na expressão de Mariana: "daí foi à primeira entrevista que eu fiz... eu tava bem nervosa... daí eu tentei ser o máximo calma e pensei bem antes de falar as coisas, porque eu sabia que ia contar ali na hora".

Dificuldades com processos seletivos também foram observadas por Câmara, Sarriera e Pizzinato (2004), segundo os quais, diante das exigências dos empregadores e da escassez de emprego, os jovens vivenciam tais processos como uma etapa angustiante, pois se espera do candidato um comportamento sempre assertivo, além do estabelecimento de uma boa relação com o selecionador.

A difícil busca pelo primeiro emprego, quando concretizada pelos participantes pesquisados, motivou-se pela necessidade de obter uma experiência profissional, considerada um "passaporte" facilitador para a futura carreira. Esse "passo inicial" foi significado positivamente e expressado nas seguintes falas: "quero ganhar uma experiência, é bom!" (Patrícia) e "quando tu vai trabalhar eles perguntam: qual é a sua experiência? Logo de cara, assim, né? Tu tens alguma experiência no ramo?" (Adriele).

A busca por se tornar um trabalhador através de um contrato de trabalho ou registro formal foi bastante valorizada no discurso dos jovens, como evidenciado na narrativa de Adriana: "trabalhei, antes de trabalhar aqui... não era um trabalho de carteira assinada. Aí eu insisti, vim aqui falei que eu queria, que eu tava lá só esperando eles me chamarem".

A valorização da experiência de ter um emprego também foi expressa por meio das figuras autoproduzidas, como no caso de uma imagem produzida por Adriana e nomeada de "jovem aprendiz", registrando seu primeiro emprego como tal. Ao descrever a foto, expressa sua satisfação: "o trabalho ali é organizar arquivo,... fazer de tudo um pouco né... daí eu não sou uma jovem aprendiz; lá eu pareço uma trabalhadora".

Segundo Frigotto (2002), um dos elementos da ideologia capitalista consistiria em apresentar o trabalho assalariado como uma relação aparentemente livre e igualitária, mascarando a desigualdade ou exploração da relação patrão-empregado. O contrato formal foi valorizado pelos jovens, diante da realidade e dos índices que os rodeiam como o desemprego, o subemprego ou outras formas de emprego com baixa qualidade (Coutinho & Silva, no prelo).

Outro aspecto associado pelos participantes à busca pelo trabalho/emprego foi a remuneração e, como decorrência, uma autonomia financeira. Somente dois participantes utilizavam efetivamente os valores recebidos para complementar a renda familiar; os demais faziam uso do seu salário com gastos de natureza pessoal. Essa situação contraria o expresso por Pochmann (2007), ao afirmar que em geral os jovens ingressam no mercado de trabalho por dificuldades financeiras familiares.

A idéia do trabalho apenas como um meio para possibilitar o consumo pode ser observado na narrativa de Carla: "eu compro tanta coisa (fala com muita ênfase), eu acho que faço milagre com aquele salário... eu gosto de comprar muito (nova ênfase). Minha mãe diz que eu sou muito consumista".

A palavra consumir significa destruir, gastar, utilizar, para satisfação das próprias necessidades (Michaelis, 1998, p. 304). Os consumidores ficam expostos num "mundo de mercadorias" produzidas em grandes quantidades provocando o cerceamento do valor de uso em predominância do valor de troca. Na posse do seu próprio dinheiro, os jovens são estimulados por meios de comunicação e se tornam "presas fáceis" ante as demandas de consumirem cada vez mais uma gama de produtos rapidamente obsoletos. Para Bock e Liebesny (2003), há um mercado consumidor juvenil através de roupas, hábitos e grifes culturalmente disseminados.

Encontra-se aqui um sentido do trabalho relacionado à questão do ter um salário, em prejuízo do ser trabalhador, observando-se o quanto o sistema capitalista impele o indivíduo a um extenuado consumo "coisificado e fetichizado, inteiramente desprovido de sentido" (Antunes, 2000, p. 178).

Por outro lado, o trabalho também foi resgatado como produtor de valor de uso para atender às necessidades humanas. Esse sentido fica evidenciado através da imagem retratando um pescador, produzida e descrita por Giovana: "é ganha pão, não em forma de dinheiro, mas em forma de produto, de conseguir o produto direto da fonte. Acho que o título tem que ser pescador mesmo".

Diante da imagem do pescador e narrativa acima, pode-se conceber que esses jovens-trabalhadores são também capazes de significar o trabalho para além das ideologias capitalistas. Segundo Aguiar (2007, p. 96), "o homem, ao construir seus registros (psicológicos), o faz na relação com o mundo, objetivando sua subjetividade e subjetivando sua objetividade... as dimensões do psicológico refletirão essa diversidade: serão imagens, palavras, emoções, pensamentos."

Mesmo em outras formas de trabalho associadas à lógica do capitalismo, seria possível encontrar trabalhadores satisfeitos com seu cotidiano laboral. Isso é evidenciado na fotografia de uma cobradora de ônibus sorridente produzida e descrita por Mariana: "eu escolhi a foto da cobradora como a mais significativa, porque eu acho que tem cobrador que, às vezes, não gosta do que faz e fica emburrado... não dá a devida atenção e o devido carinho que o trabalho pede; e ela é diferente! Ela é atenciosa com todos e está sempre com um sorriso no rosto". Para Mariana, o trabalhador é capaz de fazer com que seu trabalho não se limite "à execução de uma atividade técnica: ele se transforma no ser daquele/a que o exerce e pode determinar a qualidade das suas relações sociais" (Diogo, 2007, p. 485).

O núcleo "Cotidiano: tudo ficou mais corrido" contemplou a relação entre trabalho e vida cotidiana, processo pelo qual os participantes constituem-se jovens-trabalhadores e transitam para a vida adulta. Na fala de Giovana encontra-se o sinal de transição: "por estar trabalhando... e também pela convivência dentro de casa que mudou, meus pais me tratavam como uma pessoa mais adulta... me dando mais liberdade pra fazer as coisas que eu queria".

Segundo Guimarães (2005), o trabalho é um dos componentes clássicos de transição para a vida adulta. Tal opinião também é corroborada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada [IPEA] (2008), ao indicar o mesmo entre outras fases socioculturais que tipificam a "passagem" do jovem para o mundo adulto, tais como tornar-se pai ou mãe.

Outra alteração no cotidiano dos jovens participantes do estudo diz respeito aos tempos livres. Para alguns, a redução desse tempo foi significada negativamente, conforme podemos verificar na seguinte declaração: "eu sinto bastante falta daquele tempo que eu tinha à tarde; agora então, praticamente, eu não tô mais assistindo televisão, não tô mais na internet, essas coisas assim" (Camile). Contudo, outros participantes se consideram capazes de combinar vida pessoal e trabalho: "aí eu comecei a sair na sexta-feira, no sábado. No domingo não, porque eu tenho que arrumar as minhas coisas, dormir mais cedo" (Carla).

Destarte, a vida anteriormente dedicada aos estudos é agora atravessada pelo trabalho e o chamado tempo livre que, por vezes, culturalmente caracteriza a adolescência/juventude, passa por alterações. Sarriera, Tatim, Coelho e Busker (2007) comentam que o modo de utilização do tempo livre é também subordinado a condições sociais, culturais, econômicas, ideológicas e físicas de cada sujeito.

Ainda que não fosse objeto deste estudo realizar uma análise com recorte de gênero, a referência frequente ao trabalho doméstico pelas jovens entrevistadas denota a reprodução de um lugar social tradicionalmente associado ao feminino. Assim, a "dupla jornada de trabalho" também acontece nas vidas dessas jovens, conforme as colocações de Adriele: "chego em casa... daí eu pego faço a comida e tal, se não me alimentar aí não vou durar muito... aí no domingo eu ajudo minha mãe a lavar roupa, a limpar a casa".

Graf e Diogo (2009) destacam o quanto os lugares de gênero8 ainda se mantêm. Para as autoras, "mesmo com as mudanças sociais nas últimas décadas e com a entrada maciça das mulheres no mercado de trabalho, pesquisas demonstram que as mulheres seguem responsáveis pelas lides domésticas" (p. 78).

Entre outras dimensões da vida cotidiana, destaca-se a vida escolar dos jovens. Todos os pesquisados eram estudantes do ensino fundamental ou médio, pois os contratos dentro da Lei da Aprendizagem requerem vinculação trabalho/escola, com a exigência de "bons" resultados nessa última. A maioria estuda em escolas públicas e foram frequentes as queixas quanto ao nível educacional recebido: "porque a escola pública não tá oferecendo uma qualidade de estudo boa" (Cristina).

Entre outros, o comentário de Cristina reitera a urgência apontada por Pochmann (2007) em reformular os sistemas educacionais. Na mesma direção, Raitz e Petters (2008) consideram inconcebível que, em pleno século XXI, a escola ainda desconheça os problemas vivenciados pelos jovens e aludem à necessidade de uma verdadeira interação entre os jovens, a educação, o trabalho e a família.

A relação estudo/trabalho é apontada criticamente por Pochmann (2007) dentro do grupo juvenil. Para o autor, a entrada precoce no mercado de trabalho impede a adequada formação teórica, e, somente com uma postergação nas inserções laborais, os jovens estariam "prontos" a atender aos desafios da chamada sociedade do conhecimento com requisitos educacionais cada vez mais ampliados.

No contexto da vida cotidiana dos jovens entrevistados, agora perpassada pelo trabalho, nota-se a produção de sentidos por vezes contraditórios e associados à primeira experiência profissional. Entre vantagens e desvantagens de estarem trabalhando, perdem o tempo livre, mas ganham independência. Predominam falas destacando as positividades: "eu acho que quando eu comecei a trabalhar, comecei a ver que tem que ter mais responsabilidade... eu tenho que me focar em alguma coisa" (Mariana).

A vida pessoal segue então com alterações nos horários e nos comportamentos. No entanto, o trabalho como experiência de vida passa a ocupar um lugar, um valor expressando sentidos antes inexistentes. A partir da experiência laboral, Patrícia observa: "mudou bastante; eu ficava a tarde toda sem fazer nada em casa. Agora eu faço um monte de coisas; depois, com o trabalho, o tempo passa mais bom, passa mais rápido!".

Novamente ficou reiterado o trabalho sobreposto de modo positivo. Conforme enunciado por Marx (1985), o trabalho, como processo entre o homem e a natureza, põe em movimento as forças naturais dos homens, sua corporalidade e, por meio deste, ambos são transformados.

O terceiro núcleo "Projetos: eu quero ter outra história de vida" foi constituído pelas primeiras escolhas profissionais e os projetos enunciados pelos jovens entrevistados, considerando uma temporalidade iniciada com as brincadeiras de criança, as quais já foram vinculadas ao futuro profissional. Tais escolhas podem ser observadas na fala de Júnior: "brincava de bombeiro. Eu sempre falava pro meu pai: 'quando eu crescer eu vou ser bombeiro'. Tinha muitos amigos que eram bombeiros mais velhos".

Soares (2002) aponta que a dimensão temporal da escolha é composta pelas influências da infância, fatos marcantes da vida presente e pela definição de um estilo de vida futuro. O projeto de futuro, de acordo com Bock e Liebesny (2003), é uma construção contínua pertinente ao grupo social no qual o sujeito está inserido e, embora se refira a um porvir, tem seu feitio pautado nas relações passadas e presentes.

As identificações com algumas pessoas ou profissionais próximos ao universo infantil serão possivelmente presentes nas brincadeiras, e algumas escolhas podem persistir até a adolescência e/ou idade adulta, outras não (Lisboa, 1997; Soares, 2002). Também Natividade (2007), ao pesquisar os sentidos do trabalho atribuídos por crianças, confirmou a influência familiar nessa constituição, ainda que, por vezes, pautada em informações restritas sobre as profissões.

Por meio das falas, os participantes foram elaborando suas escolhas profissionais, bem como dúvidas e questionamentos sobre não escolher. Cabe destacar que os jovens entrevistados, tal como observado por Ribeiro (2003), encontram-se excluídos das camadas socioeconômicas com frequente acesso aos modelos de Orientação Profissional (OP), sendo esta mais utilizada na realidade brasileira pelas camadas médias e altas.

A articulação entre escolha profissional e projeto possibilita ao sujeito estabelecer sua futura trajetória produtiva com o mundo (Coutinho, 1993). A idéia de projeto ora apresentada segue a compreensão de Soares (1996) de construir um futuro desejado e esperado, numa dada temporalidade. De acordo com Velho (2003), "o projeto existe no mundo da intersubjetividade" (p. 103), é dinâmico e está em constante reelaboração, sendo também "resultado de uma deliberação consciente a partir de circunstâncias, do campo das possibilidades em que o sujeito está inserido".

Nos projetos dos participantes foram recorrentes as expectativas de um trabalho/emprego de modo contínuo em suas vidas. Esses dados foram consonantes com os encontrados por Graf e Diogo (2009) em pesquisa sobre ocupações profissionais juvenis. No entanto, nessa investigação foram acrescidos também desejos e aspirações de uma história de vida ressignificada em relação à vivida por seus pais. Os relatos de Cristina e Giovana, respectivamente, trazem certa "oposição" às expectativas parentais e desejos de ressignificação em relação ao passado familiar: "não, pai! Meu futuro, eu não quero ter esse futuro que você teve, eu quero ter outra história de vida..." e "tenho muito interesse em conhecer o mundo... eu não quero ficar presa aqui na ilha como meus pais, meus avós... eu acho que tem muita coisa pelo mundo que a gente tem que conhecer... abrir vários caminhos".

Segundo Soares (2002), dialeticamente, encontram ou se desencontram os projetos dos pais e os projetos dos filhos. Normalmente, os projetos dos pais são contraditórios entre si, vislumbrando tanto uma perpetuação histórica familiar, como também que os filhos tenham sua própria vida e outra história mais individualizada.

Assim, nas narrativas dos projetos havia ainda expressões com conotações emocionais, ou seja, o trabalho como lugar e/ou possibilidade de serem felizes, expressando desejos que movem o sujeito na busca de ser alguém, a partir do seu trabalho. Sentimentos expressos por Giovana: "eu vou fazer uma coisa mais minha, de repente, uma faculdade que hoje em dia não é considerada uma grande faculdade né, mas que eu vou ser feliz, que eu vou ter o meu trabalho".

De acordo com Maheirie e Pretto (2007), o projeto não é um acontecimento inesperado, pois ocorre no plano do vivido em significações históricas, dialéticas e não excludentes; é multidimensional e singular, interligando passado e futuro. Não deve ser visto, portanto, como hegemônico. "O que vai existir sempre é uma escolha possível, dentro de determinadas possibilidades e contingências" (Soares, 2002, p. 95).

Em síntese, apresentamos os três núcleos de significação que perpassam uma temporalidade compondo a busca/inserção da primeira experiência laboral, as mudanças na vida cotidiana e as projeções futuras, ou seja, o devir.

 

Considerações Finais

Esta pesquisa objetivou compreender quais os sentidos do trabalho para jovens na primeira experiência profissional. Os jovens pesquisados expressaram seu contexto e os sentidos do trabalho vivenciados no início de suas vidas laborais e, por meio da articulação dos núcleos de significação, foi possível conhecer suas realidades sociais e históricas.

No primeiro núcleo, encontram-se as ações de busca pelo primeiro emprego, suas formas de inserção, os processos seletivos e os modos de utilização da remuneração recebida. Estatisticamente, os jovens são apontados como um dos grupos mais vulneráveis ao ingresso no mercado de trabalho. No entanto, no uso de uma das políticas públicas voltadas à criação de emprego e renda, eles puderam fazê-lo de modo mais "tranquilo" para a obtenção de um trabalho assalariado e concebido como um importante fator pelos participantes.

Ressalte-se que essa forma de inserção, aparentemente mais rápida, não deve ser um fator de "acomodação" na (re)definição de outras políticas públicas para o grupo juvenil, pois ao término do contrato (no máximo dois anos, previsto na Lei da Aprendizagem), os jovens retornam ao mercado de trabalho geralmente desempregados. Tal situação possibilita refletir criticamente sobre programas de inserção ensejados por essas políticas, que "esquecem" de pensar no futuro dos jovens e se mostram incapazes de atender às suas reais necessidades. Além disso, outros questionamentos poderiam ser lançados em relação às políticas públicas, tais como: por que não (re)construí-los com novos fundamentos, privilegiando, ao invés da relação trabalho/educação, somente esta última? Não seria essa uma possibilidade para os jovens conquistarem uma trajetória educacional mais qualificada? Valorizando alternativas nas escolhas profissionais e objetivando melhorias dos nossos índices educacionais para uma formação mais efetiva? Quem sabe assim, poderiam ser modificadas as condições atuais nas quais os jovens-trabalhadores se tornam "reféns" do sistema capitalista e, o trabalho possa transcender as questões de sobrevivência e consumo?

Uma vez alcançado o trabalho/emprego remunerado e certa autonomia financeira, os jovens fizeram frequentes alusões ao consumo, reafirmando hábitos culturalmente produzidos nas sociedades capitalistas. Os sentidos do trabalho são associados a ter um salário, em prejuízo ao ser trabalhador.

No segundo núcleo, conhecemos como o trabalho atravessa a vida cotidiana dos jovens. A partir do início da primeira experiência profissional, também principiam transições para a vida adulta. Assim, passam a dispor de menos tempo livre e ambiguamente, significam esse momento, ora como perda de horários de lazer, ora ganhos de independência e amadurecimento pessoal. A vida escolar, vinculada ao programa do primeiro emprego, foi analisada de modo crítico pelos jovens entrevistados, particularmente no sistema público de ensino, expressando necessidades de mudança na busca de maior qualidade.

Em prevalência, adaptam-se bem às novas rotinas de trabalho, vida pessoal e educação. Apesar de uma vida mais atribulada de horários e tarefas, essa é significada positivamente. Talvez se possa problematizar tal positividade e associá-la à própria atividade laboral realizada pelo jovem, expressando o valor positivo da conquista do primeiro emprego formal, em um contexto de desemprego e precariedade das formas de emprego disponibilizadas para as juventudes. Ainda, demonstram, mediante seus recursos imagéticos, uma realidade presente no cotidiano que espelha nas diferentes formas de trabalho assalariado e informal uma predominância do atendimento à sobrevivência física. Assim, o ato de fotografar demarcou o chamado mundo do trabalho com precisão, trazendo registros da contemporaneidade.

No terceiro núcleo arquitetam seus projetos, alguns em conformidade com sua história de vida, outros buscam ressignificações; reiterando que os projetos são construções dialéticas, singulares e não hegemônicos. Os pesquisados expressam possíveis escolhas profissionais e/ou dúvidas e incertezas em sua trajetória futura. Nota-se que fazem suas escolhas sem a possibilidade de participarem de programas de Orientação Profissional (de caráter elitista), geralmente pouco acessíveis a jovens oriundos de camadas populares.

À guisa de conclusão é possível afirmar que, apesar de fortemente atravessados pelas significações sobre o trabalho produzidas em um contexto capitalista, esses jovens-trabalhadores vivenciam novos sentidos em suas vidas. Além disso, apresentam com destaque sentidos do trabalho/emprego como relativos a uma remuneração, prevalecendo o valor de troca sobre o de uso. No entanto, o trabalho/valor de uso também foi resgatado, como possibilidade humana de interagir diretamente com a natureza e dela extrair seu produto, e num movimento constante, promover sua própria transformação e também do meio. O lugar do trabalho em suas vidas, apesar dessa dialética, é uma oportunidade para ressignificações, pois seus desejos expressam uma busca de ser alguém e de ser feliz a partir do seu trabalho, o que corrobora com a compreensão do lugar de centralidade ocupado por essa categoria na vida dos jovens pesquisados.

 

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Recebido: 15/01/2010
1ª Revisão: 31/05/2010
2ª Revisão: 26/07/2010
Aceite Final: 14/08/2010

 

 

Sobre as autores
Regina Célia P. Borges Possui especializações em Administração de Recursos Humanos pela Universidade São Judas Tadeu e Administração Hospitalar pela Fundação Getúlio Vargas. Mestre em Psicologia pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina e integrante do Núcleo de Estudos do Trabalho e Constituição do Sujeito (NETCOS) da mesma instituição.
Maria Chalfin Coutinho é Mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Doutora em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas. Professora Associado II da Universidade Federal de Santa Catarina, no Departamento de Psicologia do Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Coordena, juntamente com outra colega da UFSC, o Núcleo de Estudos Trabalho e Constituição do Sujeito NETCOS. Bolsista produtividade do CNPq.
1 Endereço para correspondência: Rua Mediterrâneo, 145, 88037-610, Florianópolis-SC, Brasil. Fone: 48 32074704. E-mail: reginacl@uol.com.br
2 A aprendizagem é estabelecida pela Lei nº.10.097/2000, regulamentada pelo Decreto nº. 5.598/2005. Estabelece que todas as empresas de médio e grande porte estão obrigadas a contratarem adolescentes e jovens entre 14 e 24 anos. Trata-se de um contrato especial de trabalho por tempo determinado, de no máximo dois anos. Disponível no site: www.mte.gov.br/aprendizagem.
3 Esse projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos.
4 Tal possibilidade foi sugerida considerando que algumas das empresas contratantes dos jovens aprendizes não autorizassem a realização de imagens fotográficas em seus ambientes de trabalho.
5 Entre os nove sujeitos participantes do estudo Camile, Mariana e Adriele solicitaram mais uma semana para a entrega das fotografias, alegando que durante o período dos primeiros sete dias só conseguiram registrar um número menor de seis fotos, já que foram orientadas e incentivadas à produção de, no mínimo, seis recursos imagéticos.
6 Todos os nomes utilizados são fictícios.
7 A pesquisa Perfil da Juventude Brasileira de 2004, desenvolvida pelo Projeto Juventude/Instituto Cidadania, com a parceria do Instituto de Hospitalidade e do Sebrae, com jovens de 15 a 24 anos, de todos os segmentos sociais. Os dados foram colhidos em novembro e dezembro de 2003.8 Graf e Diogo (2009, p. 74) declaram, numa perspectiva crítica, que a categoria gênero "é entrelaçada e construída nas relações sociais, refutando entendimentos fundamentos na biologia".

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