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Revista Brasileira de Orientação Profissional

versão On-line ISSN 1984-7270

Rev. bras. orientac. prof vol.13 no.1 São Paulo jun. 2012

 

ARTIGO

 

Relação entre estilos parentais, instabilidade de metas e indecisão vocacional em adolescentes

 

Relationship between parenting styles, goal instability and career indecision with adolescents

 

Relación entre estilos parentales, inestabilidad de metas e indecisión vocacional en adolescentes

 

 

Mauro de Oliveira MagalhãesI; Patrícia AlvarengaI; Marco Antônio Pereira TeixeiraII

IUniversidade Federal da Bahia, Salvador-BA, Brasil
IIUniversidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre-RS, Brasil

 

 


RESUMO

Sabe-se que os estilos parentais influenciam o desenvolvimento psicossocial de adolescentes. Contudo, não é clara qual a relação dos estilos com a indecisão vocacional na adolescência. Este estudo investigou relações entre estilo parental, indecisão vocacional e a instabilidade de metas. Uma amostra de 199 adolescentes concluintes do ensino médio em escolas públicas do sul do Brasil, com idade média de 17,24 anos (DP = 2,17), respondeu a medidas de estilo parental, instabilidade de metas e indecisão vocacional. Filhos de pais com estilo autoritativo mostraram menor instabilidade de metas em comparação ao estilo negligente. Análises de regressão sugeriram que a instabilidade de metas é mediadora da relação entre responsividade parental e indecisão vocacional. Os resultados destacam a importância da responsividade parental para o desenvolvimento psicossocial de adolescentes.

Palavras-chave: estilos parentais, adolescência, escolha vocacional


ABSTRACT

Parenting styles are known to influence the psychosocial development of children and adolescents. However, it is not clear how parenting styles are related to career indecision with adolescents. This study investigated possible associations between parenting styles, career indecision and goal instability. A sample of 199 high school students from public schools located in the south of Brazil, with mean age of 17,24 years (SD = 2,17), answered measures of parenting styles, goal instability and career indecision. Adolescents raised under an authoritative style showed lower goal instability than those raised under a negligent style. Regression analysis suggested that goal instability is a mediator variable in the relationship between parental responsiveness and level of career indecision. Results highlighted the importance of parental responsiveness for the psychosocial development of adolescents.

Keywords: parenting styles, adolescence, career choice


RESUMEN

Se sabe que los estilos parentales influencian el desarrollo psicosocial de adolescentes. Sin embargo, no es clara la relación de los estilos con la indecisión vocacional en la adolescencia. Este estudio investigó relaciones entre estilo parental, indecisión vocacional y la inestabilidad de metas. Una muestra de 199 adolescentes concluyentes de la enseñanza media en escuelas públicas del sur de Brasil, con edad media de 17,24 años (DP = 2,17), respondía a medidas de estilo parental, inestabilidad de metas e indecisión vocacional. Hijos de padres con estilo autoritativo mostraran menor inestabilidad de metas en comparación con el estilo negligente. Análisis de regresión sugirieron que la inestabilidad de metas es mediadora de la relación entre responsividad parental e indecisión vocacional. Los resultados destacan la importancia de la responsividad parental para el desarrollo psicosocial de adolescentes.

Palabras clave: estilos parentales, adolescencia, elección vocacional


 

 

A influência da família no desenvolvimento vocacional é reconhecida já há bastante tempo. Essa influência pode dar-se tanto de uma forma mais indireta (por exemplo, quando o nível sócio-econômico e cultural da família influencia as aspirações educacionais e profissionais do indivíduo), quanto de uma forma mais direta (por exemplo, quando os pais conversam com os filhos opinando sobre suas opções profissionais). Na adolescência, em especial, tem-se verificado que variáveis do contexto familiar podem influenciar não apenas o conteúdo das escolhas profissionais, mas também outros processos psicológicos e comportamentais envolvidos nas decisões relacionadas à carreira, tais como os comportamentos exploratórios vocacionais e o grau de decisão em relação à escolha (Keller & Whiston, 2008; Sobral, Gonçalves, & Coimbra, 2009).

Entre as variáveis relacionadas à família que influenciam o desenvolvimento psicossocial de adolescentes estão os estilos parentais. Estilos parentais podem ser entendidos como os diferentes padrões de como os pais administram os aspectos de poder e de apoio emocional na relação com os filhos (Darling & Steinberg, 1993). Nos últimos anos, pesquisas têm mostrado que os estilos parentais têm um impacto significativo em diversos aspectos do desenvolvimento psicossocial de adolescentes (por exemplo, Delgado, Jiménez, Sánchez-Queija, & Gaviño, 2007; Milevsky, Schlechter, Klem, & Khel, 2008). No que diz respeito a questões de carreira, especificamente, há evidências de que o estilo parental pode influenciar as metas acadêmicas e profissionais (Gonzalez, Holbein, & Quilter, 2002) e também comportamentos exploratórios na adolescência (Vignoli, Croity-Belz, Chapeland, Fillipis, & Garcia, 2005).

A tradição de pesquisa sobre estilos parentais teve início com Baumrind (1966), que classificou os estilos como autoritativo, autoritário e permissivo. A autora propôs que o estilo autoritativo (também chamado de autorizante ou democrático) seria o mais efetivo, pois os pais respeitariam a individualidade dos filhos e, ao mesmo tempo, enfatizariam valores sociais. Estes pais exerceriam controle de modo racional e democrático, ao invés de dominador, reconhecendo a perspectiva de seus filhos e provendo orientação. Os pais autoritários, por sua vez, enfatizariam o controle e a obediência, exercendo um padrão restritivo, no qual as regras são estabelecidas pelo adulto, que se apóia em sua autoridade e não na explicação sobre o sentido do cumprimento de tais regras. E os pais permissivos dariam mais valor a auto-regulação e auto-expressão dos filhos, fazendo-lhes poucas demandas ou exigências, e monitorando pouco suas atividades e comportamentos.

Posteriormente, Maccoby e Martin (1983) reorganizaram os estilos de Baumrind (1966) através de duas dimensões: a exigência (atitudes de controle e estabelecimento de limites) e a responsividade (apoio emocional e compreensão) em relação ao comportamento dos filhos. A combinação destas duas dimensões constitui quatro variações estilísticas, a saber: autoritativo (exigência e responsividade elevadas), autoritário (exigência elevada e responsividade reduzida), indulgente (elevada responsividade e reduzida exigência), e negligente (exigência e responsividade reduzidas).

O aspecto da responsividade parental está relacionado à idéia de apego. Autores da tradição etológica, como Kagan e Van Der Horst (2011), defendem que os pais ou outros relacionamentos interpessoais estáveis devem funcionar como uma base segura a partir da qual não somente crianças, mas adolescentes na ante-sala da vida adulta, encorajam-se a enfrentar as tarefas da vida. Portanto, para estes autores (Koumoundourou, Tsaousis, & Kounenou, 2011; Vignoli, 2009), o funcionamento psicológico e social adequado está associado a este sentimento de conexão e apoio emocional (apego). Relações de apego adequadas são precursoras de inúmeros comportamentos que promovem o desenvolvimento humano, tais como as atividades exploratórias necessárias à formação da identidade e ao desenvolvimento da carreira (Koumoundourou et al., 2011; Vignoli, 2009).

O desenvolvimento psicológico saudável na adolescência, porém, depende não apenas do apego, e sim de um equilíbrio apropriado entre o apego e a independência/separação entre pais e filhos adolescentes. O processo de separação dos pais é fundamental para o progresso em todos os aspectos da formação da identidade, incluindo o comprometimento com uma escolha de carreira (por exemplo, Levenfus & Nunes, 2010). Hoffman (1984) conceituou o processo de separação-individuação da adolescência em quatro tipos de independência dos pais: (a) independência emocional - o declínio da necessidade de apoio e aprovação parental; (b) independência atitudinal - a adoção das próprias crenças e valores; (c) independência funcional - a capacidade de gerenciar seus assuntos pessoais; e (d) independência de conflito - a ausência de culpa, ressentimento e raiva no relacionamento com os pais.

No campo do desenvolvimento da carreira, Blustein, Walbridge, Friedlander e Palladino (1991) observaram que o apego aos pais, juntamente com o componente de separação psicológica chamado independência de conflito (ausência de culpa, ansiedade, ressentimento e rancor na relação pais-filhos), influenciou positivamente o processo de tomada de decisão vocacional. Os demais componentes da separação psicológica de adolescentes em relação a seus pais - independência funcional, emocional e atitudinal - não foram associados a progressos no processo de exploração/comprometimento vocacional. Os autores concluíram que o desenvolvimento vocacional de adolescentes requer a associação entre apego seguro e separação psicológica (Blustein et al., 1991). Estes resultados foram corroborados em pesquisas posteriores (por exemplo, Scott & Church, 2001). Neste sentido, a literatura tem salientado a importância de um equilíbrio apropriado entre o apego saudável e o processo de separação-individuação no desenvolvimento do adolescente (Keller & Whiston, 2008). Nesta perspectiva, a separação-individuação deve ser realizada no contexto de uma relação de apego que é transformada ao invés de repudiada. Enfim, a literatura sugere que o apego pais-filhos proporciona uma base de segurança interpessoal que torna possível aos adolescentes enfrentar com sucesso os desafios do seu desenvolvimento de carreira, entre eles a decisão vocacional (Downing & Nauta, 2010; Germeijs & Verschueren, 2009; Vignoli, 2009; Wright & Perrone, 2008).

A influência das relações de apego no desenvolvimento de carreira de adolescentes está associada ao papel fundamental destas relações no processo de formação da identidade (Vignoli, 2009). Para Erikson e Erikson (1998), o desenvolvimento psicológico na adolescência implica na escolha e no comprometimento do indivíduo com valores fundamentais que serão a sua bússola particular para as escolhas de vida, o eixo de sua identidade pessoal e social. Este comprometimento pode envolver lealdade à família, amigos ou figuras públicas e movimentos sociais. Por outro lado, cabe perguntar se os estilos parentais, mediante a qualidade das experiências de apego que proporcionam (no caso dos estilos em que a responsividade está presente), estariam associados ao desenvolvimento desta capacidade de desenvolver e se comprometer com valores, considerada um requisito fundamental para uma decisão vocacional adequada (Super, Savickas, & Super, 1996). As idéias de Heinz Kohut (1988) têm se mostrado esclarecedoras neste sentido e serão apresentadas a seguir.

A teoria do self bipolar de Heinz Kohut (1988) tem sido utilizada como fonte de hipóteses nas pesquisas sobre comportamento vocacional (Santos, 2003). Para Kohut (1988), o self desenvolve-se ao longo de duas dimensões: grandiosidade e idealização. No rumo da vida adulta, o desenvolvimento saudável ocorre na medida em que estas duas linhas de expressão movem-se, por um lado, da grandiosidade infantil para a assertividade e ambições maduras, e por outro, de desejos de fusão com a onipotência parental idealizada para um sistema internalizado de ideais formadores de metas de vida. Problemas ocorrem quando os pais falham em oferecer um espelhamento empático adequado à grandiosidade pertinente à idade da criança ou quando não conseguem ser um alvo consistente da idealização infantil. Sobre este último aspecto, se a idealização dos pais admirados falha em transformar-se num sistema de ideais e valores internos, o indivíduo permanece dependente das fontes externas de admiração. Neste caso, apresentará dificuldades para formular e comprometer-se com planos realistas para a sua vida (Kohut, 1988).

Sabe-se que escolhas de carreira adequadas dependem da capacidade do indivíduo identificar os seus valores prioritários (Super et al., 1996). Esta capacidade desenvolve-se pela assimilação adequada das funções externas de aprovação e admiração anteriormente exercidas pelos pais idealizados, o que permite ao indivíduo construir sua auto-estima a partir de noções próprias do que está certo ou errado, desenvolvendo autonomia e imprimindo direção e consistência aos seus comportamentos (Blustein, 1989; Kohut, 1988). A Escala de Instabilidade de Metas foi construída por Robbins e Patton (1985) para operacionalizar este aspecto do desenvolvimento do self, tendo sido utilizada em diversos estudos sobre comportamento vocacional.

No estudo de Robbins e Tucker (1986), indivíduos com metas definidas e estáveis demonstraram maior iniciativa e capacidade de engajar-se em comportamentos exploratórios de carreira. A estabilidade de metas se mostrou associada com exploração do ambiente e do autoconceito vocacional (Blustein, 1989), e com o maior desenvolvimento da identidade vocacional (Santos, 2003). Indivíduos com elevada instabilidade de metas revelaram mais indecisão (Multon, Heppner, & Lapan, 1995; Robbins & Patton, 1985) e menos satisfação com a carreira (Robinson & Cooper, 1988). Ainda, há evidências de que a instabilidade de metas é uma variável que contribui na diferenciação diagnóstica de clientes com dificuldades relacionadas à carreira, o que revela o seu importante papel no processo de tomada de decisão vocacional (Multon, Wood, Heppner, & Gysbers, 2007).

A revisão da literatura sobre estilos parentais sugere que estes têm influência na capacidade do adolescente construir seu sistema internalizado de ideais formadores de metas de vida. Os resultados das pesquisas convergem para descrever crianças de pais autoritários como mais dependentes de figuras de autoridade para tomar decisões e menos propensas a se engajar em atividades exploratórias e buscar desafios (Koumoundourou et al., 2011; Lamborn, Mounts, Steinberg, & Dornbusch, 1991; Steinberg, Lamborn, Darling, Mounts, & Dornbusch, 1994). Filhos de pais indulgentes são descritos como carentes de autoconfiança, com baixa tolerância à frustração e pouco persistentes em tarefas de aprendizagem (Lamborn et al., 1991; Steinberg et al., 1994). E por fim, as crianças de pais autoritativos mostraram-se predispostas a atividades exploratórias, são mais autoconfiantes e motivadas academicamente (Lamborn et al., 1991; Steinberg et al., 1994). Estas descrições sugerem que podem existir relações entre os estilos parentais e o construto instabilidade de metas.

Embora o estilo parental autoritativo esteja associado a características positivas e melhores indicadores de desenvolvimento em crianças e adolescentes, tais como maior autonomia e sucesso acadêmico, a pesquisa de Bardagi (2002) não encontrou relação substancial entre o estilo parental percebido e a indecisão vocacional. Pode-se interpretar que este resultado se deve à característica processual da escolha profissional, que tem sido descrita como uma seqüência de etapas de exploração, exame de alternativas, especificação de preferências e planejamento (Super et al., 1996), com as hesitações e oscilações que envolvem o alcançar de um vínculo mais definitivo com valores e projetos de vida. Dessa forma, a decisão vocacional pode apresentar diferentes qualidades como, por exemplo, uma característica conformista no caso do adolescente que, submetido a projetos familiares, se compromete prematuramente com uma escolha antes de se informar sobre o mundo do trabalho e refletir sobre suas preferências. Sendo assim, o efeito dos estilos parentais sobre a decisão vocacional pode não se dar diretamente, mas ser mediada por outros fatores, tal como sugerido por Koumoundourou et al. (2011).

Neste sentido, no estudo de Howard, Ferrari, Nota, Solberg e Soresi (2009), o impacto do apoio familiar sobre a indecisão de carreira de adolescentes foi mediado por características de agência (auto-eficácia, motivação e orientação de metas). E a pesquisa de Koumoundourou et al. (2011) partiu da hipótese que a relação entre características parentais e o processo de decisão de carreira de adolescentes é mediada pelo autoconceito do adolescente. Na amostra feminina investigada, um ambiente familiar autoritário foi associado a auto-avaliações negativas (elevado neuroticismo, baixa auto-estima, baixa auto-eficácia geral e locus de controle externo), que por sua vez foram preditoras de dificuldades de escolha de carreira. Os autores concluíram que um ambiente familiar autoritário leva a indecisão de carreira devido ao impacto negativo que exerce na maneira como adolescentes formulam sua auto-imagem e identidade. Portanto, um contexto de disciplina restrita parece afetar o sistema de auto-avaliação de adolescentes e torná-los mais dependentes e hesitantes em relação a questões de carreira.

O objetivo deste estudo, assim, foi investigar a relação entre estilos parentais, instabilidade de metas e indecisão vocacional em uma amostra de adolescentes do terceiro ano do ensino médio, ou seja, que estão em uma fase de transição no desenvolvimento vocacional. Mais especificamente, procurou-se: (a) verificar possíveis diferenças entre os sexos nas dimensões de responsividade e exigência parental (em relação a pais e mães), a fim de caracterizar a amostra nestas variáveis que subjazem ao modelo de estilos parentais adotado neste estudo (Maccoby & Martin, 1983); (b) testar a relação entre os estilos parentais e as variáveis indecisão vocacional e instabilidade de metas (uma vez que o estilo autoritativo tem se mostrado relacionado com melhores indicadores de desenvolvimento psicossocial na adolescência, a expectativa foi a de que adolescentes criados sob o estilo autoritativo apresentassem menor instabilidade de metas e menor indecisão vocacional quando comparados a adolescentes criados sob outros estilos, especialmente o negligente); e (c) verificar a hipótese de que a instabilidade de metas é uma variável mediadora relevante neste processo (relação entre estilos e indecisão), dada a sua associação, de acordo com as idéias de Kohut (1988), com a construção e fidelidade a um sistema de valores que é o fundamento da maturidade psicossocial no adolescente (Erikson & Erikson, 1998). Para testar essa hipótese foram focalizadas as dimensões de responsividade e exigência, que compõem os estilos parentais, como possíveis preditores da indecisão vocacional, juntamente com a instabilidade de metas.

 

Método

Participantes

Participaram do estudo 199 adolescentes (99 homens e 100 mulheres) com idades entre 16 e 22 anos (M = 19,24; DP = 2,17). Todos os participantes eram estudantes do terceiro ano do ensino médio de três escolas públicas da cidade de Porto Alegre, região sul do Brasil.

Instrumentos

Os estilos parentais foram identificados através da aplicação das escalas de exigência e responsividade propostas por Lamborn et al. (1991), adaptadas para o português por Costa, Teixeira e Gomes (2000). A adaptação brasileira corroborou a dimensionalidade do construto e obteve índices de consistência interna (alpha de Cronbach), para escores de pais e mães combinados, de 0,81 (responsividade) e 0,78 (exigência). As escalas são instrumentos de auto-relato, com 8 e 10 itens, respectivamente, nos quais os adolescentes avaliam atitudes e práticas de pais e mães separadamente. Cada item contribui com até três pontos (1, 2 ou 3) para os escores totais, conforme a freqüência ou intensidade com que os adolescentes percebem os referidos comportamentos parentais. Assim, os escores de exigência podem variar de 8 a 24 pontos, e os de responsividade de 10 a 30. Na amostra investigada, estas escalas apresentaram índices de consistência interna (alphas de Cronbach) de 0,88 (responsividade) e 0,81 (exigência). A classificação dos estilos parentais foi feita com base nos escores obtidos pelos participantes nas dimensões de responsividade e exigência, conforme a definição operacional dos estilos apresentada na introdução, a saber: autoritativo (exigência e responsividade elevadas), autoritário (exigência elevada e responsividade reduzida), indulgente (elevada responsividade e reduzida exigência), e negligente (exigência e responsividade reduzidas). O critério utilizado para determinar se um escore era alto ou baixo numa dada dimensão, neste estudo, foi o da mediana da amostra, já usado em estudos anteriores (Bardagi, 2002). As categorias de estilos foram definidas para os escores de responsividade e exigência de mães (estilo materno) e pais (estilo paterno) em separado e associados. Esta última categorização foi denominada de estilo combinado.

A instabilidade de metas foi medida por uma versão brasileira da Escala de Instabilidade de Metas (Robbins & Patton, 1985). Esta escala foi construída para avaliar a expressão do desenvolvimento do self denominada por Kohut (1988) de idealização. É um instrumento de auto-relato com 12 itens a serem respondidos numa escala Likert de 5 pontos. Assim, a pontuação pode variar de 12 a 60 pontos. A versão brasileira é uma tradução dos itens da escala original em inglês, feita por um dos autores desta pesquisa. Neste estudo, a escala apresentou índice de consistência interna (alpha de Cronbach) de 0,81.

A indecisão vocacional foi avaliada através de uma escala de auto-relato desenvolvida por Teixeira e Magalhães (2001) que se mostrou válida para avaliar o nível geral de indecisão de jovens estudantes do ensino médio. O instrumento é composto de 7 itens numa escala Likert de 5 pontos (com pontuação total podendo variar de 7 a 35). Na amostra investigada, este instrumento apresentou índice de consistência interna (alpha de Cronbach) de 0,84. Os sujeitos também informaram dados demográficos como sexo, idade e situação conjugal dos pais (casados ou separados/divorciados). No caso de pais separados/divorciados, os sujeitos informaram com qual progenitor residiam e se conviviam regularmente com o outro progenitor.

Procedimentos

Os instrumentos foram aplicados em sala de aula com autorização das autoridades responsáveis. Participaram do estudo seis turmas de estudantes com uma média de 33 respondentes por turma. A seqüência de aplicação foi alterada de modo a contemplar, proporcionalmente, as variações possíveis e evitar efeitos de priming. A aplicação das medidas durou entre 25 e 30 minutos. Foram atendidas as determinações éticas da resolução 196 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) sobre a pesquisa com seres humanos.

Análise dos dados

A análise dos dados foi feita em três etapas. Primeiro, verificou-se se existiam diferenças entre os sexos nas percepções de responsividade e exigência de pais e mães, sendo empregadas duas análises de variância 2 x 2 com medidas repetidas, uma para exigência e outra para responsividade. Os fatores considerados no delineamento foram sexo e progenitor (pai e mãe), sendo a exigência ou a responsividade a medida repetida. Em um segundo momento, a instabilidade de metas e a indecisão vocacional foram analisadas (comparações de médias) como variáveis dependentes em um delineamento fatorial 2 x 4 (sexo e estilos parentais), considerando-se estilos de pais e mães combinados e em separado (análises de variância). Por fim, para testar a hipótese de mediação foram utilizadas análises de regressão. Seguindo as recomendações de Baron e Kenny (1986), a hipótese de mediação foi testada através de três equações de regressão. Na primeira foi investigado o poder preditivo da variável independente (responsividade) sobre os escores da variável mediadora (instabilidade de metas). Na segunda, foi investigado o poder preditivo da variável independente (responsividade) sobre os escores da variável dependente (indecisão vocacional). E, por fim, na terceira equação os escores da variável independente (responsividade) e da variável mediadora (instabilidade de metas) foram inseridos, na mesma equação, como preditores da variável dependente (indecisão vocacional). De acordo com Baron e Kenny (1986), para afirmar a relação de mediação, as seguintes condições devem ser satisfeitas: a) a responsividade deve influenciar a instabilidade de metas na primeira equação; b) a responsividade deve influenciar a indecisão vocacional na segunda equação; e c) responsividade parental e instabilidade de metas devem influenciar a indecisão vocacional na terceira equação, sendo que o efeito da responsividade deve ser inferior ao apresentado na segunda equação. A mediação perfeita ocorre quando o efeito da variável independente (responsividade) se reduz a zero quando o efeito da variável mediadora (instabilidade de metas) é controlado.

 

Resultados

A Tabela 1 nos mostra as médias obtidas para exigência (de pais, mães e combinada) e responsividade (de pais, mães e combinada) em homens e mulheres, e respectivos desvios-padrão.

 

 

Para a variável exigência a análise de variância indicou efeito principal para progenitor [F(1, 189) = 84,21; p < 0,01], onde o escore de exigência das mães foi significativamente superior ao dos pais para ambos os sexos. A interação entre sexo e progenitor obteve significância limítrofe [F(1, 189) = 3,35; p = 0,06], e uma análise univariada posterior revelou que as mulheres tenderam a perceber mais exigência materna do que os homens [F(1, 189) = 7,09; p < 0,01], não ocorrendo diferenças nos escores dos pais. Em relação à responsividade, a análise de variância mostrou um efeito principal do fator progenitor e uma interação significativa entre os fatores sexo e progenitor [F(1, 189) = 10,35; p < 0,01]. Os escores de responsividade atribuídos às mães foram significativamente superiores ao dos pais, para ambos os sexos. Contudo, análises univariadas ulteriores indicaram diferenças entre os sexos nos escores de responsividade paterna [F(1, 189) = 4,28; p < 0,05], mas não nos de responsividade materna, sendo que os pais foram percebidos como mais responsivos pelos homens em comparação às mulheres. Não houve diferenças entre os sexos para exigência e responsividade combinadas (escore combinado de pais e mães).

A Tabela 2 apresenta estatísticas descritivas da instabilidade de metas para os grupos definidos pelos estilos parentais de pai, mãe e combinado. Análises de variância indicaram efeitos estatisticamente significativos dos fatores sexo e estilo parental sobre os escores de instabilidade de metas (mas não para a interação entre estes fatores). Homens apresentaram, globalmente, escores mais elevados em instabilidade de metas do que as mulheres, independentemente das modalidades de estilo considerado: do pai [F(1, 192) = 12,18; p < 0,01], da mãe [F(1, 198) = 7,52; p < 0,01] ou combinado [F(1, 191) = 10,72; p < 0,01].

Na comparação dos grupos de estilos, foram observadas diferenças estatisticamente significativas em instabilidade de metas nos três casos: estilo da mãe [F(3, 198) = 4,67; p < 0,01], do pai [F(3, 192) = 2,88; p = 0,04] e combinado [F(3, 191) = 2,82; p = 0,04]. Testes post hoc (Games-Howell) indicaram que filhos de mães de estilo negligente apresentaram maior instabilidade de metas em comparação a filhos de mães percebidas como autoritativas ou indulgentes (p < 0,05). No caso dos estilos do pai e combinado, os testes post hoc revelaram diferenças significativas (p < 0,05) apenas na comparação entre o estilo negligente e o autoritativo (tendo os filhos de pais negligentes obtido escores mais altos, como no caso do estilo materno).

Para a variável indecisão vocacional, as análises de variância não indicaram nenhuma diferença estatisticamente significativa, seja em função do sexo ou do estilo parental (todos os ps > 0,05).

Um grupo de 30 sujeitos informou que, por motivos de separação conjugal, não convivia regularmente com o pai, e que residiam com a mãe. A amostra foi subdividida então em filhos de famílias intactas (n = 169) e filhos de pais separados (n = 30), e os dois grupos foram comparados quanto à instabilidade de metas. Uma ANOVA indicou que filhos de pais separados apresentaram escores mais elevados (M = 27,23; DP = 6,94) do que os demais (M = 23,60; DP = 7,37) na medida de instabilidade de metas [F(1, 190) = 6,25; p < 0,01].

Seguindo as recomendações de Baron e Kenny (1986), optou-se pela realização de análises de regressão para testar a hipótese de mediação da instabilidade de metas sobre o efeito da responsividade e da exigência na indecisão vocacional. Inicialmente, porém, foram calculadas correlações bivariadas entre a indecisão e as variáveis de responsividade e exigência (de pai, de mãe e combinada). O resultado desta análise preliminar mostrou que apenas a responsividade se correlacionou significativamente com a indecisão, com valores similares, embora pequenos, para responsividade paterna (r = -0,14; p < 0,05), materna (r = -0,13; p = 0,06 - marginalmente significativo) e combinada (r = -0,16; p = 0,02). Assim, a análise de mediação foi realizada incluindo apenas a variável responsividade.

Em primeiro lugar, foi feita uma regressão para a variável instabilidade de metas tendo como preditor a responsividade combinada. O modelo foi significativo (β = -0,23; p < 0,01) e explicou 4,6% da variação da instabilidade (R² ajustado). Em seguida, fez-se uma regressão para indecisão, sendo o preditor a responsividade combinada. A equação explicou 2,2% (R² ajustado) da variância de indecisão vocacional (β = -0,16; p = 0,02). Salienta-se que o valor de Beta informa que quanto maior a responsividade menor a indecisão vocacional. Por fim, a análise de regressão simultânea (na qual instabilidade de metas e responsividade combinada entraram como preditores da indecisão) explicou 12,7% da variância de indecisão (R² ajustado), sendo que a influência da responsividade combinada foi próxima de zero e não significativa (β = -0,09; p = 0,20), enquanto a influência da instabilidade foi significativa (β = 0,34; p < 0,01). Esse resultado sugere que a relação entre responsividade combinada e indecisão vocacional, embora fraca, é mediada pela instabilidade de metas. Análises realizadas separadamente para a responsividade paterna e materna produziram resultados similares aos relatados para a responsividade combinada.

 

Discussão

Os resultados corroboraram os benefícios da educação autoritativa e reforçaram o argumento de que as práticas negligentes trazem conseqüências desfavoráveis ao desenvolvimento psicossocial, aspectos já relatados em pesquisas anteriores (por exemplo, Steinberg, Lamborn, Dornbusch, & Darling, 1992). As diferenças encontradas em relação à variável instabilidade de metas confirmaram a hipótese de que uma combinação adequada entre apoio afetivo e exigências quanto ao cumprimento de normas, característica do estilo parental autoritativo, parece favorecer o desenvolvimento, nos filhos adolescentes, de um centro autônomo de avaliação e definição de metas de vida. Por outro lado, a carência destes aspectos educativos (estilo negligente), parece dificultar a capacidade de comprometimento com objetivos na adolescência. A ausência de diferença entre estilos parentais relacionada à indecisão vocacional replicou os achados de Bardagi (2002). Neste sentido, reitera-se que a medida de indecisão vocacional utilizada neste estudo, assim como em Bardagi (2002), examina estritamente o nível de indecisão do sujeito em termos do grau de ambivalência e insegurança frente à escolha profissional, excluindo aspectos qualitativos e processuais importantes da escolha profissional. Isso significa que medidas de comportamento exploratório, por exemplo, podem captar aspectos mais processuais da escolha e não apenas o resultado final em termos de grau de indecisão. Acredita-se que medidas mais compreensivas dos diversos aspectos que compõem este processo, tais como as medidas de maturidade ou adaptabilidade (Oliveira & Dela Coleta, 2008) revelem associações com os estilos parentais.

Esta é uma recomendação para estudos posteriores. Por outro lado, a instabilidade de metas se mostrou mais sensível a diferenças nos estilos parentais e foi também correlacionada à indecisão vocacional, de acordo com as expectativas teóricas.

Os escores mais elevados das mães em responsividade e exigência corroboram resultados de estudos anteriores, sugerindo que os adolescentes percebem as mães mais envolvidas do que os pais no que diz respeito aos esforços de educar e socializar os filhos. As mães têm sido identificadas como o progenitor mais próximo do adolescente, com o qual estabelece contatos mais prolongados e de maior intimidade (Costa et al., 2000). Neste sentido, as diferenças em instabilidade de metas se manifestaram com mais clareza entre as categorias de estilo parental materno (os estilos maternos autoritativo e indulgente diferenciaram-se do negligente, enquanto somente o estilo paterno autoritativo diferenciou-se do negligente).

Por outro lado, a pouca convivência com o pai em adolescentes filhos de casais separados mostrou ter efeito importante sobre a instabilidade de metas, destacando a relevância da figura paterna neste processo. Sabe-se que a ruptura familiar tem efeitos negativos sobre inúmeros aspectos do desenvolvimento adolescente, tais como o rendimento escolar e as aspirações profissionais (Peltz Dennison, Lee, & Barber, 2005). No âmbito vocacional, pesquisas anteriores destacaram a importância do relacionamento com o pai e os prejuízos de sua ausência para o desenvolvimento de filhos adolescentes (Bryant, Zvonkovic & Reynolds, 2006; Levenfus & Nunes, 2010). Lassance, Grocks e Francisco (1993) observaram que o pai é comumente referido como um modelo e a mãe como uma conselheira em questões vocacionais de adolescentes. Levenfus e Nunes (2010) observaram que filhos de pais separados que procuram orientação profissional tendem a valorizar a mãe como heroína competente e a desvalorizar o pai, que é descrito como ausente e irresponsável. Lopez, Campbell e Watkins (1989) relataram que adolescentes de pais divorciados demonstraram maior independência dos pais nos aspectos emocional, funcional e atitudinal; porém, apresentaram independência de conflito mais baixa, especialmente em relação ao pai, do que os seus pares de famílias intactas. Estes aspectos também foram manifestos na pesquisa de Levenfus e Nunes (2010). Portanto, considerando o impacto da separação parental sobre o desenvolvimento pessoal e vocacional de adolescentes, compreende-se que a capacidade de definir e comprometer-se com metas também seja afetada negativamente, tal como foi observado no presente estudo.

Os dados permitem fazer também algumas considerações sobre a importância da responsividade para o desenvolvimento dos adolescentes pesquisados. Primeira-mente, observa-se que o estilo autoritativo revelou escores inferiores de instabilidade de metas em comparação ao estilo negligente (para pais, mães e combinado). No caso do estilo materno, houve ainda diferença do estilo indulgente em relação ao negligente (a instabilidade de metas foi menor no grupo indulgente). Em relação a este aspecto, os dados de estatística descritiva mostram que o estilo materno indulgente obteve a média mais baixa de instabilidade de metas, sendo até mesmo inferior, embora muito similar, às médias dos estilos materno e paterno autoritativo. Estes dados sugerem que a responsividade, principalmente materna, possui um papel importante em relação à variável instabilidade de metas, pois é a dimensão de comportamento parental carente nos estilos negligente e autoritário (médias mais altas de instabilidade de metas), e presente nos estilos autoritativo e indulgente (médias mais baixas de instabilidade de metas). Neste sentido, na pesquisa de Martinez, García e Yubero (2007), adolescentes brasileiros de famílias indulgentes obtiveram escores mais elevados em medidas de auto-estima do que os oriundos de famílias autoritativas, negligentes e autoritárias. Do ponto de vista teórico, a responsividade corresponde a comportamentos que oferecem apoio emocional e compreensão, uma descrição muito próxima ao que é referido como uma base segura a partir da qual crianças e jovens encorajam-se a enfrentar as tarefas da vida e construir sua identidade (Kagan & Van Der Horst, 2011). E diversas pesquisas relataram a importância fundamental de uma relação de apego seguro para o desenvolvimento humano adequado (Scott & Church, 2001; Vignoli, 2009). Além disto, pode-se interpretar que a percepção de responsividade parental por parte do adolescente favoreça uma experiência de independência de conflito, referida como o único componente de separação psicológica associado a progressos no processo de exploração/comprometimento vocacional de adolescentes (Blustein et al., 1991). Neste sentido, entre as dimensões de estilo parental, a responsividade foi o único preditor (negativo) da indecisão vocacional. Da mesma forma, a responsividade foi o único preditor (negativo) da instabilidade de metas.

Por fim, a hipótese de que a instabilidade de metas fosse mediadora da relação entre dimensões de estilo parental e indecisão vocacional foi confirmada somente para a variável responsividade, resultado este que realça mais uma vez a importância desta variável para o desenvolvimento adolescente. Deve-se considerar, no entanto, que o efeito direto da responsividade, tanto sobre a indecisão quanto sobre a instabilidade de metas, foi modesto em magnitude, explicando 2,2% e 4,6%, respectivamente, da variabilidade. Não obstante, trata-se de um efeito teoricamente consistente e que sugere que a responsividade pode afetar mecanismos precursores à tomada de decisão vocacional. Futuras pesquisas poderão testar o efeito mediador de outras variáveis vocacionalmente relevantes que não foram consideradas neste estudo, como o comportamento exploratório vocacional, a auto-eficácia para a decisão de carreira e a percepção de lócus de controle relacionado a eventos de carreira.

O fato da instabilidade de metas ter aumentado o poder explicativo do modelo quando foi acrescentada à análise juntamente com a responsividade (elevando o percentual explicado para 12,7%) indica que o construto instabilidade de metas é um fator relevante a ser considerado na pesquisa em psicologia vocacional e de carreiras, como já mostraram pesquisas anteriores (Blustein, 1989; Multon et al., 1995; Robbins & Patton, 1985; Robinson & Cooper, 1988). O adequado atendimento à necessidade idealizadora do self se confirma como um precursor importante do desenvolvimento de metas e valores pertinentes à formação de uma identidade vocacional. Indivíduos com uma idealização satisfatória são capazes de desenvolver um conjunto de ideais e valores dotado tanto de estabilidade quanto de flexibilidade que lhes possibilita examinar alternativas, fazer escolhas, e manter um senso de direção e continuidade (Lapan & Patton, 1986).

 

Considerações finais

Este estudo investigou a relação entre estilos parentais, instabilidade de metas e indecisão vocacional em adolescentes. Os resultados mostraram que os estilos parentais influenciam no desenvolvimento de recursos fundamentais de personalidade, tais como a capacidade de estabelecer e manter metas, que por sua vez tem impacto em variáveis do desenvolvimento vocacional como a decisão de carreira. Deve-se considerar, contudo, que a magnitude dessa influência é pequena, como revelaram as análises de regressão.

Estudos futuros que abordem a influência parental nos processos de decisão de carreira poderão avaliar outros aspectos das relações pais-filhos que possam afetar mais diretamente o desenvolvimento vocacional. Por exemplo, a quantidade e qualidade das conversações sobre escolha profissional e trabalho que se estabelecem entre pais e filhos pode ser um melhor preditor do comprometimento dos adolescentes com o processo de escolha e, eventualmente, do nível de decisão. Nesse sentido, deve-se lembrar que o grau de decisão em relação à escolha (ou indecisão) pode não ser a melhor variável a ser analisada em termos de desenvolvimento vocacional, já que a qualidade da decisão não é aferida pelas medidas.

Em termos práticos, os resultados desta pesquisa chamam a atenção para o fato de que adolescentes com pais negligentes apresentam maiores dificuldades de estabelecerem metas na vida. Assim, na orientação profissional, torna-se importante sondar como é o contexto familiar dentro do qual o adolescente se desenvolve. Nos casos de adolescentes criados sob um estilo negligente, talvez seja necessário um trabalho mais profundo no sentido de motivar o jovem a assumir responsabilidade por seu futuro e desenvolver um senso mínimo de controle sobre esse futuro, dentro do qual um projeto profissional poderá então ser construído.

 

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Recebido:25/05/2011
1ª Revisão: 13/09/2011
Aceite final: 28/09/2011

 

 

Sobre os autores
Mauro de Oliveira Magalhães é Doutor em Psicologia (UFRGS), Professor Adjunto no Instituto de Psicologia da Universidade Federal da Bahia.
Patrícia Alvarenga é Doutora em Psicologia (UFRGS), Professor Adjunto no Instituto de Psicologia da Universidade Federal da Bahia.
Marco Antônio Pereira Teixeira é Doutor em Psicologia (UFRGS), Professor Adjunto no Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
1 Endereço para correspondência: R. Tenente Pires Ferreira, 308-A, apto. 201, 40130-160, Salvador-BA, Brasil. E-mail: mauro.m@terra.com.br