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Revista Brasileira de Orientação Profissional

On-line version ISSN 1984-7270

Rev. bras. orientac. prof vol.13 no.1 São Paulo June 2012

 

DOCUMENTO

 

Síntese das discussões e propostas do Grupo de Trabalho: Interfaces entre a orientação profissional, psicologia organizacional e do trabalho e administração

 

 

Marcelo Afonso RibeiroI, 1; Thais ZerbiniII

IInstituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, São Paulo-SP, Brasil
IIFaculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto-SP, Brasil

 

 

Este documento sintetiza o trabalho realizado por um grupo de 29 pesquisadores (Anexo A) de 3 países (Brasil, Costa Rica e Uruguai) e 5 Estados do Brasil (Bahia, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e São Paulo) reunidos no Grupo de Trabalho (GT) - Interfaces entre a Orientação Profissional, Psicologia Organizacional e do Trabalho e Administração ocorrido em 19 de julho de 2011 durante o I Fórum de Pesquisas em Orientação Profissional e de Carreira realizado no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.

Dentre os participantes, 14 já haviam realizado algum tipo de pesquisa relativa à temática do GT e 6 realizavam pesquisas sistemáticas desta temática estando inseridos num dos seguintes centros ou laboratórios de pesquisa com pesquisas sistemáticas da interface entre a Orientação Profissional, Psicologia Organizacional e do Trabalho e Administração: Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IPUSP/SP), Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP/SP), Universidade de Campinas (UNICAMP/SP), Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (FFCL-USP/SP), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Centro Universitário do Leste de Minas Gerais (UNILESTE/MG).

O objetivo deste GT foi discutir as possibilidades e limites da aproximação entre a Orientação Profissional, a Psicologia Organizacional e do Trabalho e a Administração, marcando que, apesar de objetivos aparentemente distintos, as áreas carregam dentro de si aspectos, objetos e intervenções comuns, que estabelecem interfaces e podem gerar articulações interessantes e integradoras no campo da investigação e produção acadêmica.

 

Delimitação do eixo de discussão

As áreas da Seleção Profissional e da Orientação Vocacional surgiram ao final do século XIX em função de grande demanda social causada pelo desenvolvimento do mundo do trabalho e das fábricas, com consequente crescimento das instituições educacionais. Ambas partilhavam de uma mesma epistemologia e metodologia de investigação, calcadas no Positivismo. Enquanto uma das áreas, denominada de Psicologia Organizacional e do Trabalho se fixou nas empresas, a segunda, denominada de Orientação Profissional, teve reconhecida atuação nas instituições de ensino, o que gerou uma dicotomia e lacunas na comunicação, em termos teóricos, práticos e investigativos, com o desenvolvimento de objetos de estudo e de intervenção muito distintos.

Este panorama perdurou até há algumas décadas atrás, quando, em função das transformações do mundo do trabalho, uma nova interpenetração vem acontecendo, ocasionando uma aproximação entre as práticas investigativas das três áreas. Esta aproximação tem se dado por uma coincidência de objetos de estudo e de campos de intervenção, ou seja, as áreas têm pesquisado objetos semelhantes, mas não necessariamente estabelecendo uma prática de investigação conjunta. Em um levantamento inicial realizado pelos participantes do GT, as principais temáticas que surgiram como objetos ou fenômenos que vêm sendo investigados foram: desenvolvimento e gestão de carreira, qualificação e competência profissional, aposentadoria, identidade profissional e no trabalho, transição universidade - mundo do trabalho, migrações e transições de carreira, e trajetórias de trabalho. Estas temáticas têm sido investigadas pelas três áreas (Orientação Profissional, Psicologia Organizacional e do Trabalho e Administração), com uma maior ênfase em algumas das temáticas, especificamente, por cada área, o que permitiu postular algumas questões centrais para o debate da possibilidade de uma articulação entre elas.

  • Quais seriam as especificidades e as interfaces entre as áreas?
  • Quais seriam os limites e proximidades ontológicas, epistemológicas e metodológicas entre as áreas?
  • Haveria uma possibilidade de articulação entre as áreas? Como isto poderia acontecer?
  • Qual seria a porta de entrada para a articulação entre as áreas?

 

Propostas de ação e de investigação

As três áreas têm tradições e objetivos distintos, entretanto, por conta das transformações do mundo do trabalho, temas comuns como carreira, transição, identidade, qualificação e competências, têm sido objeto de pesquisa de todas as áreas. Diante deste desafio, dois caminhos básicos para enfrentar o desafio da articulação entre as áreas foram discutidos pelo GT: o caminho da construção e o caminho da desconstrução.

O caminho da desconstrução parte do que já foi construído e visa levantar e analisar o que cada área em particular produziu sobre as temáticas investigativas comuns, desconstruir estratégias e bases ontológicas, epistemológicas e metodológicas, e propor uma nova articulação, de maneira interdisciplinar, buscando estabelecer uma agenda de pesquisas conjuntas através de pontos em comum. Busca afinar conceitos e métodos já existentes através de uma dialogicidade, partindo de cada área específica e construindo um campo interdisciplinar de ações e investigações.

O caminho da construção não parte do que já foi construído e visa criar uma nova área de investigação marcada pela transversalidade tendo como eixo integrador objetos e fenômenos psicossociais do mundo do trabalho como carreira, identidade e qualificação, que vinham sendo pesquisados de maneiras distintas pelas três áreas em questão.

Independente do caminho a ser tomado (desconstrução ou construção), uma sugestão de agenda de investigação na interface proposta entre Orientação Profissional, Psicologia Organizacional e do Trabalho e Administração seguiria seis passos.

1. Organização de grupos e núcleos de pesquisa na interface proposta.

2. Apresentação teórico-metodológica de cada área em oficinas de trabalho para buscar limites e aproximações, decidindo-se pelo caminho da desconstrução (interdisciplinaridade) ou da construção (transdisciplinaridade).

3. Levantamento de demandas de pesquisas, tomando como ponto de partida de qualquer investigação na interface proposta as condições concretas de vida no trabalho de todas as pessoas em todas as situações de vida, buscando ampliar o espectro da pesquisa das temáticas arroladas, que, em geral, têm se concentrado em alguns grupos específicos de pessoas (por exemplo, executivos e estudantes universitários) e focando-se em instituições (escolas, universidades e empresas) e no mundo urbano, deixando de lado, por exemplo, os trabalhadores informais, o mundo do trabalho rural, as pessoas em situação de desemprego e não-trabalho.

4. Avaliação de possibilidades de investigação, seja pela interdisciplinaridade ou pela transdisciplinaridade e de implementação dos achados e resultados das pesquisas nos campos de intervenção das três áreas, incentivando também a atuação conjunta.

5. Socialização dos achados e resultados das pesquisas da maneira mais ampla possível, seja pela publicação acadêmica tradicional em periódicos científicos ou livros, seja pela divulgação em revistas jornalísticas, sites temáticos, boletins e informativos de associações e entidades, e intercâmbio em grupos.

6. Fortalecimento dos vínculos das entidades representativas de cada área, através da participação dos profissionais a estas vinculados nos eventos acadêmicos organizados por outra área (por exemplo: profissionais da ABOP - Associação Brasileira de Orientação Profissional participando de debates em eventos da SBPOT - Associação Brasileira de Psicologia Organizacional e do Trabalho, ou de associações da Administração, e vice-versa).

 

Conclusão

A principal conclusão a que este GT chegou foi que, em um mundo social, do trabalho e da educação complexo, heterogêneo e fragmentado, a agenda de investigação por parte da Orientação Profissional, da Psicologia Organizacional e do Trabalho e da Administração tem que ser, prioritariamente, mas não exclusivamente, conjunta e articulada, pois há vários objetos e fenômenos de estudo em comum, sendo a tarefa principal para que esta articulação ocorra, a criação de espaços oficializados e conjuntos de investigação através de grupos de pesquisas, projetos temáticos e pesquisas multicêntricas.

 

 

Sobre os autores
Marcelo Afonso Ribeiro é Doutor em Psicologia Social e do Trabalho; Mestre em Psicologia do Desenvolvimento; Docente do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, onde coordena o CPAT (Centro de Psicologia Aplicada ao Trabalho); faz pesquisas na interface trabalho, identidade, desemprego e carreira. Presidente da ABOP (gestão 2009-2011).
Thaís Zerbini é Doutora (2007) e Mestre (2003) em Psicologia pela Universidade de Brasília (UNB). Professora Doutora da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo (FFCLRP/USP). É Secretária da Associação Nacional de Psicologia Organizacional e do Trabalho (SBPOT) - Gestão 2010-2012.
1 Endereço para correspondência: Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, Av. Prof. Mello Moraes, 1721, Bloco D, sala 161 e 163, 05508-030, São Paulo-SP, Brasil. Fone: 11 30914188. Fax: 11 30914174. E-mail: marcelopsi@usp.br

 

 

Anexo A

O GT Interfaces entre a Orientação Profissional, Psicologia Organizacional e do Trabalho e Administração foi realizado em 19 de julho de 2011, durante o I Fórum de Pesquisas em Orientação Profissional e de Carreira, no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Foi coordenado por Marcelo Afonso Ribeiro e Thaís Zerbini e contou com a presença dos seguintes participantes:

  • Ana Lúcia Magalhães (Personal Career/SP);
  • Ana María Rodríguez de Costa (UDELAR/Uruguai);
  • Andréa Knabem (UFPR);
  • Camila Vitório (IPUSP);
  • Claudia Langoni (IPUSP);
  • Delba Barros (UFMG);
  • Elaine Schmitt (UFPR);
  • Esther Kindi (IPUSP);
  • Felipe Hashimoto (IPUSP);
  • Isabela Manzelli (PUC/SP);
  • Jaqueline Silveira Mascarenhas (IBMEC/MG);
  • Juliana Canavese (UNIFIL/PR);
  • Julio de Aquino (FCS/BA);
  • Lígia Costa (FCS/BA);
  • Luciana Rodrigues Oliveira (UNICAMP/SP);
  • Marcelo Afonso Ribeiro (IPUSP);
  • Maria José Mazzonetto (IPUSP);
  • Mariana Botelho Pupo;
  • Matheus Wendt (UFSC);
  • Mylene Perez Gomes (Sedes Sapientiae/SP);
  • Natália Guimarães Leardini (Quantum Lab/SP);
  • Norma Licciardi (UNIABC/SP);
  • Oswaldo Ogihara (CEPPE/SP);
  • Thais Zerbini (FFCLRP-USP/SP);
  • Vanessa Alves de Barros (UNILESTE/MG);
  • Wadson do Carmo Alonso (FFCLRP-USP/SP);
  • Yara Malki (IPUSP).