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Revista Brasileira de Orientação Profissional

versión On-line ISSN 1984-7270

Rev. bras. orientac. prof vol.13 no.2 São Paulo dic. 2012

 

RELATO DE EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL

  

Meu lugar no mundo: Relato de experiência com jovens em orientação profissional

 

My place in the world: An experience report on vocational guidance

 

Mi lugar en el mundo: Relato de una experiencia con jóvenes en orientación profesional

 

 

Ana Paula Sesti Becker1; Sueli Terezinha Bobato; Mariajosé Louise Caro Schulz

Universidade do Vale do Itajaí, Itajaí-SC, Brasil

 

 


RESUMO

Este estudo descreve uma experiência em Orientação Profissional desenvolvida com filhos de trabalhadores de uma indústria alimentícia de grande porte. A intervenção objetiva refletir sobre projeto de vida e procedimentos necessários à inserção profissional, situando o jovem como agente de sua formação pessoal. Foi estruturada em sete encontros, organizados nos módulos: Autoconhecimento e Projeto de Vida; Influência nas Escolhas; Conhecimento das Profissões e Mercado de Trabalho. São descritos os procedimentos utilizados, incluindo técnicas grupais, relatos orais e escritos dos jovens, bem como vivências apontadas como mais significativas. Os resultados possibilitaram a identificação das competências a serem desenvolvidas para concretização das expectativas pessoais e profissionais, bem como a reflexão sobre as influências nas escolhas para o delineamento do projeto de vida.

Palavras-chave: adolescentes, orientação vocacional, projeto de vida, mercado de trabalho


ABSTRACT

This paper describes an experience in Career Guidance done with children of workers at a big food industry. It aimed at reflecting on their life project and the procedures required for job market placement, accounting the youth for the construction of their personal career. It was organized in seven meetings, covering the modules: Self knowledge and Life Project, Influence on Choices; Knowledge of professions and the Labor Market. This paper describes the procedures used, including group techniques, oral and written reports on the experiences mentioned by them as the most significant. The results allowed for the identification of the competencies to be developed for the achievement of personal and career expectations, and reflecting on the influences on the choices for designing their life project.

Keywords: adolescents, career guidance, life project, labor market


RESUMEN

Este estudio describe una experiencia en Orientación Profesional desarrollada con hijos de trabajadores de una industria alimenticia de gran porte. La intervención busca reflexionar sobre un proyecto de vida y los procedimientos necesarios para la inserción profesional, situando al joven como agente de su formación personal. Se estructuró en siete encuentros, organizados en los módulos: Autoconocimiento y Proyecto de Vida; Influencia en las Elecciones; Conocimiento de las Profesiones y Mercado de Trabajo. Se describen los procedimientos utilizados, incluyendo técnicas grupales, relatos orales y escritos de los jóvenes, así como vivencias apuntadas como más significativas. Los resultados posibilitaron la identificación de las competencias a ser desarrolladas para llevar a cabo las expectativas personales y profesionales, como también la reflexión sobre las influencias en las elecciones para el delineamiento del proyecto de vida.

Palabras clave: adolescentes, orientación vocacional, proyecto de vida, mercado de trabajo


 

 

Cada vez mais empresas privadas buscam ser agentes de desenvolvimento. Além de se preocuparem com investimentos na qualidade de seus produtos e serviços, procuram demonstrar sua responsabilidade pelo contexto social e ambiental, possibilitando assim, uma maior legitimidade social (Goldstein, 2007). Nesta perspectiva emerge a noção de responsabilidade social, que pode ser entendida como um comprometimento constante dos empresários em promover benefícios para a sociedade, melhorando simultaneamente a qualidade de vida dos seus dirigentes e trabalhadores, bem como de suas famílias, da comunidade local e da sociedade como um todo (Araújo, 2006).

Em vista deste cenário, o objetivo deste artigo é apresentar um relato de experiência referente a um projeto de Orientação Profissional desenvolvido em parceria com uma empresa de grande porte do ramo alimentício, situada no litoral catarinense como uma iniciativa de ações relacionadas à responsabilidade social. Cabe salientar, que as atividades desenvolvidas foram decorrentes de um Estágio Básico no Curso de Psicologia.

Sob este panorama, o projeto intitulado "Meu Lugar no Mundo" iniciou no ano de 2010 e foi proposto à empresa pela professora orientadora responsável pelo estágio, tendo a colaboração da psicóloga organizacional. A população alvo destinou-se aos filhos e dependentes dos trabalhadores da empresa, com faixa etária entre 14 a 17 anos. Salienta-se que desde a sua implantação, a cada semestre um novo grupo de estagiários assume uma nova turma de Orientação Profissional, dando continuidade ao desenvolvimento da proposta.

O objetivo das atividades desenvolvidas é levar os jovens a indagarem sobre seu projeto de vida e iniciação profissional, ampliando a compreensão da realidade individual, da realidade da sua comunidade e de seus contextos em seus múltiplos e interdependentes aspectos.

Os objetivos específicos consistem em contribuir para o fortalecimento de recursos internos (autoestima), valorização de habilidades, enfrentamento e solução de problemas e o exercício da autonomia; instrumentalizar os jovens à elaboração de currículos, preparação para entrevista de emprego, bem como demais procedimentos necessários à inserção profissional. Nunes (2009) ao investigar os diferentes modelos de realizar Orientação Profissional, mais especificamente os que contêm relatos de experiência, destaca que os instrumentos utilizados nas estratégias de intervenção são variados, entre eles: dinâmicas de grupo, jogos, atividades plásticas e psicodramáticas, vivência e dramatizações, entrevistas, testes, informação profissional, técnicas de autoconhecimento e recursos audiovisuais. Entre os temas mais abordados pelos psicólogos nesse processo encontram-se, em primeiro lugar, informação profissional seguida do tema do autoconhecimento, influências familiares e escolha profissional.

Pretende-se com este artigo contribuir com o debate sobre os procedimentos utilizados em Orientação Profissional, como neste caso, em uma iniciativa de responsabilidade social no âmbito empresarial. Nesta iniciativa foram desenvolvidas estratégias que viabilizaram um trabalho de Orientação Profissional com jovens de periferia urbana e de baixa renda da população, utilizando-se da perspectiva psicossocial, conforme propõe Abade (2005).

O orientador profissional deve auxiliar o jovem na identificação dos seus interesses e definições de seu projeto de vida e dessa forma possibilitar que possa fazer uma retrospectiva de sua história, entender como funciona o mercado de trabalho atual e estabelecer metas realistas para sua carreira, traçando estratégias para alcançá-las. Deve-se salientar ainda a importância de considerar, neste processo, a etapa da vida em que o adolescente se encontra, as vivências ocorridas durante o seu desenvolvimento e as influências da família e dos amigos (Levenfus & Soares, 2010).

Sob estas bases, Bock (2002) enfatiza que conhecer a si mesmo implica em descobrir as habilidades, gostos e características individuais de comportamento, sendo compreendidos não de forma estática e naturalizada, mas como fruto de uma vivência que se constitui em constante transformação. Assim, ao se deparar consigo mesmo, o sujeito passa a obter condições que o possibilitam a elaborar seu projeto de vida.

No que concerne à influência nas escolhas, Santos (2005) enfatiza que os fatores influentes em uma profissão variam de características individuais a convicções políticas e religiosas, valores e crenças, situação político-econômica do país, a família e os pares. Ainda enfatiza que conhecer esses diferentes aspectos é tão essencial para uma escolha profissional, quanto conhecer a si mesmo. Ao refletir sobre as influências que recebem ao longo de sua vida, os adolescentes têm a oportunidade de desenvolver uma postura crítica que possibilita o discernimento de aspectos positivos e negativos que norteiam suas escolhas, dentre elas, a profissional.

Com os obstáculos enfrentados pelos jovens frente às demandas do mercado de trabalho no processo de inserção profissional e decorrentes decisões aí implicadas, constitui-se tarefa central da Orientação Profissional facilitar esse momento de escolha de um projeto profissional (Soares, 1987). Nesse contexto, torna-se fundamental viabilizar informações sobre as profissões e mercado de trabalho atual, procedimentos importantes como elaboração do curriculum vitae, comportamento esperado em uma entrevista de emprego e desenvolvimento de competências profissionais, possibilitando ao jovem ter informações mais acuradas sobre o mundo profissional e eliminar dúvidas frequentes sobre determinadas áreas de interesse.

 

Método 

Participantes 

Participaram da intervenção proposta em sua segunda edição, nove adolescentes com idades entre 14 e 17 anos, sendo quatro do sexo masculino e cinco do sexo feminino, estudantes entre o 9º ano do Ensino Fundamental e o 2º ano do Ensino Médio, provenientes de escolas públicas, de uma cidade localizada no litoral catarinense. Os adolescentes foram convidados a participar do Projeto pelos seus pais e/ou responsáveis a partir da divulgação realizada pelas acadêmicas de Psicologia na respectiva empresa. As inscrições ocorreram mediante os seguintes critérios: possuir entre 14 e 17 anos de idade, estar devidamente matriculado em escola regular e possuir algum tipo de vínculo familiar com os trabalhadores da empresa. Para a efetivação da inscrição, os adolescentes preenchiam uma ficha que solicitava dados pessoais, seguidas do termo de autorização destinado aos responsáveis.

Procedimentos

O projeto pautou-se em três módulos, conforme proposto por Lucchiari (1992) denominado "planejamento por encontros": (a) autoconhecimento e projeto de vida; (b) influência nas escolhas; (c) conhecimento das profissões e do mercado de trabalho. Cada módulo objetivou a busca pelo conhecimento de si mesmo, projetando perspectivas e escolhas profissionais para o futuro. Foram realizados sete encontros no período de dois meses, com duração de duas horas, sendo que no último encontro foi realizada a avaliação de todo processo de Orientação Profissional.

Como referencial teórico desta intervenção foi utilizada a abordagem sócio-histórica, partindo do pressuposto de que é possível facilitar o processo de escolha profissional do jovem por meio de ações pessoais e/ou coletivas. O que não significa resgatar a concepção liberal de homem, nem assumir que as adversidades encontradas no panorama social podem ser superadas minimamente por vontade individual; significa, portanto, que as pessoas podem lutar individual e coletivamente para transformar as condições que vivem (Pasqualini, Garbulho, & Schut, 2004).

Para o desenvolvimento dos encontros foram utilizadas técnicas grupais, relatos orais e relatos escritos. As técnicas grupais proporcionaram o engajamento do grupo frente aos objetivos esperados. De acordo com Chaves (2007), cada técnica de grupo possui um potencial capaz de mobilizar forças individuais e grupais, que viabilizem o desenvolvimento construtivo do grupo, conforme o tipo de ação grupal a ser utilizada: de sensibilização, apresentação, recreação, avaliação, entre outras. Os relatos orais e escritos foram norteados pela temática do encontro proposto. Segundo Moura, Sampaio, Menezes e Rodrigues (2003), a proposta da utilização dos relatos escritos no processo de Orientação Profissional, mostra-se de grande relevância na compreensão da condição vivida pelos adolescentes em tais momentos. Moura (2001) e Soares (1987) complementam que o relato escrito tanto em uma modalidade individual como grupal, é uma forma bastante utilizada a partir de uma proposição de autoavaliação do orientando, de sua circunstância presente e de suas expectativas no que se refere à tomada de decisão.

Para o desenvolvimento do trabalho foi realizado o planejamento de todos os encontros a partir das orientações do estágio, definindo-se a priori as intervenções propostas, objetivos e estratégias adotadas. Além das obras citadas, foram consultadas as produções de Castilho (2002), Gonçalves e Perpétuo (2001), Neiva (2007) e Sparta (2003), a fim de facilitar teórica e metodologicamente o projeto desenvolvido. A fim de registrar as sessões de cada encontro, os acadêmicos dividiam-se nos seguintes papéis: mediador, relator e facilitadores. O mediador tinha como atribuição coordenar o grupo mediante a introdução das técnicas e a explanação das mesmas; o relator registrava os discursos literais dos adolescentes, durante e após a aplicação dos procedimentos técnicos; e por sua vez, os facilitadores acompanhavam o andamento do encontro, interagindo com os adolescentes, esclarecendo dúvidas que surgiam e auxiliando o mediador na efetivação das estratégias. Todos os acadêmicos estiveram nas diferentes atribuições definidas, alternando-se em cada sessão. Após cada encontro com os jovens, estes eram relatados e discutidos nas orientações, possibilitando a avaliação sistemática do respectivo encontro e a retroalimentação do processo a partir da revisão do planejamento do encontro posterior, considerando a realidade e demandas do grupo.

Na última etapa da intervenção realizou-se uma avaliação do processo desenvolvido a partir de um questionário semi-estruturado, contendo questões que possibilitaram comparar os relatos escritos do jovem no início e final do trabalho. O roteiro elaborado ainda contemplava questões para os participantes responderem sobre como se sentiram ao participar dos encontros; atividades que menos gostaram e aquelas que foram mais significativas, justificando suas respostas; o que faltou; e atendimento de suas expectativas.

A Tabela 1 apresenta as temáticas e técnicas desenvolvidas em cada módulo e encontro. A análise das informações foi realizada a partir dos relatos orais e escritos dos jovens frente a estas temáticas, bem como vivências apontadas por eles como mais significativas quanto aos aspectos solicitados durante o processo de Orientação Profissional. Mediante os relatos, cada item da Tabela 1 será seguido de recortes ilustrativos, os quais sintetizam o discurso emitido pelos adolescentes em relação às temáticas desenvolvidas. A fim de preservar a identidade dos participantes, os seus respectivos nomes são fictícios, cumprindo os procedimentos éticos da prática profissional.

 

Resultados e Discussão 

Autoconhecimento e Projeto de Vida 

Conforme exibido na Tabela 1, o primeiro módulo englobou aspectos relacionados ao autoconhecimento e projeto de vida. Este módulo compreendeu os três primeiros encontros. O primeiro consistiu no levantamento das demandas dos jovens a respeito da escolha profissional e das informações que detinham sobre o mundo do trabalho, bem como a apresentação aos participantes do Projeto "Meu Lugar no Mundo", esclarecendo o que se concebe como Orientação Profissional. Utilizou-se na explanação o conceito de Zavareze (2008), que entende a Orientação Profissional como um processo que visa facilitar a escolha profissional, buscando amenizar as possíveis angústias diante deste, analisando o contexto com a disponibilidade de informações e apontar possibilidades que, em síntese, busquem refletir sobre o mundo profissional na atualidade.

O estabelecimento do contrato grupal psicológico se deu a partir da explanação sobre o projeto, constituindo-se como o compromisso de cada indivíduo e do grupo com o processo de Orientação Profissional. Neste momento, foram feitos acordos de trabalho em torno das tarefas, das combinações prévias sobre horários, freqüência e duração das mesmas, bem como da realidade do grupo e da instituição (Soares & Krawulski, 2010).

No que se refere às dinâmicas desenvolvidas no respectivo módulo, foi utilizada uma dinâmica de apresentação, intitulada "teia grupal", que ocorre da seguinte forma: com um novelo de lã ou um rolo de barbante na mão, o mediador apresenta-se. Logo após, atira o novelo para um dos participantes e solicita que este se apresente. Este, por sua vez, deve enrolar a linha na sua mão enquanto se apresenta e, sucessivamente, este processo acontece até que todos tenham se apresentado. Depois disso, solicita-se que observem o desenho criado (muitas vezes o desenho formado assemelha-se a uma estrela); é neste momento, que o grupo com o auxílio do mediador, refletirá sobre o processo, incluindo o vínculo desenvolvido (Soares, 2010).

Como dinâmica de aquecimento foi proposta a "dança da cadeira", a qual tem por finalidade preparar os participantes para o engajamento das atividades posteriores. Os procedimentos para tal técnica residem nos seguintes passos: inicialmente os facilitadores preparam o ambiente, inserindo uma música e, em seguida, organizam as cadeiras, com um número menor que a dos participantes, as quais ficam posicionadas uma atrás da outra. Logo, o mediador solicita que os adolescentes posicionem-se em círculo com as mãos para trás, não podendo tocar nas cadeiras; assim que a música inicia, os participantes são solicitados a andar e, quando a música parar, deverão procurar prontamente uma cadeira vazia para sentar. Para aqueles que não conseguirem vaga em uma cadeira, será entregue uma folha em branco, solicitando-lhes que escreva nesta folha, a primeira palavra que vier à mente em relação ao futuro. As palavras escritas serão fixadas na parede. A dinâmica continua até que todos os participantes escrevam a sua palavra. Por fim, pede-se que o grupo volte a sentar em círculo e é aberto um espaço para a discussão e reflexão sobre as palavras expostas.

Também foi realizada a técnica do "espelho" a qual possibilitava aos adolescentes refletir sobre si mesmos e resgatar sentimentos de autoestima. Nessa técnica o mediador traz um chapéu e dentro deste, coloca um espelho. Assim, comunica ao grupo que o material contido no chapéu é "algo mais importante do mundo", sendo essencial para o alcance dos objetivos e metas profissionais. Posteriormente, solicita-se aos participantes que sentem em círculo e que passem o chapéu para a pessoa que está à sua direita; esta deverá olhar o conteúdo sem pressa, analisando-o e depois passando ao seu colega da direita e, assim sucessivamente, até o chapéu voltar ao mediador. Sobre este aspecto, o mediador explica que quando um participante estiver observando o conteúdo do chapéu, este não deve mostrar aos companheiros, nem fazer qualquer comentário no presente momento. Depois que todos vissem, seria aberto o grupo para reflexão a fim de que os adolescentes relatassem o que sentiram ao se contemplar, discutindo sobre os sentimentos e crenças sobre si mesmos, de como se percebem e o que acreditam ser. Foram solicitados ainda relatos orais a respeito de como se sentiam no início do projeto, bem como em relação aos projetos de vida e interesses profissionais.

No segundo e terceiro encontros enfatizou-se a história e projeto de vida dos adolescentes. Em cada encontro deste módulo, foram trabalhados os seguintes aspectos: (a) quem eu fui, remetendo-se à história de vida dos adolescentes; (b) quem eu sou, possibilitando uma reflexão sobre como se viam na atualidade, autoconceito e autoestima; e, (c) quem eu serei, reportando-se a um futuro próximo e à escolha profissional. Estas atividades permitiram o resgate dos interesses, habilidades e figuras de identificação que foram significativas na infância e no atual momento de vida, as quais repercutem em sua trajetória de vida pessoal e profissional.

A partir de relatos escritos referentes às profissões de interesse na infância e na adolescência, apenas dois participantes referiram que mantiveram a mesma área de interesse neste intervalo de tempo. Estes aspectos podem ser observados nos relatos descritos a seguir.

"No passado eu queria ser professora, mas hoje penso em ser uma cantora se possível, ou secretária; é que me dou bem com qualquer uma dessas profissões" (Helena, 14 anos).

"Quando criança eu pensava em ser engenheiro da computação, hoje eu penso em ser engenheiro naval, porque conheço dois colegas meus que são engenheiros navais e gostei do que eles fazem" (Miguel, 14 anos)

"Quando pequena eu pensava em ser aeromoça, achava esta profissão legal por estar voando e conhecendo lugares diferentes. Hoje eu não sei que profissão eu quero seguir" (Daniela, 14 anos).

"Na infância queria ser professora. Hoje eu penso em fazer uma faculdade que me realize profissionalmente, no caso, Direito" (Débora, 15 anos).

"Quando criança eu pensava em ser veterinário, pois ia ter contato com os animais; hoje ainda penso em cursar Medicina Veterinária" (Rafael, 14 anos).

Leite (2000) entende a adolescência como um período de transição, no qual o sujeito conhece vários modelos de vida, distintos daqueles da infância, outros valores socioculturais que propiciam mudanças nos seus interesses, permitindo iniciar um processo de novas identificações e de reorganização interna. Neste sentido, foi possível perceber por meio destas narrativas um amadurecimento quanto ao desejo profissional presente, como também dúvidas em relação à tomada de decisão. Alguns adolescentes também expressaram relações entre suas habilidades e as áreas de interesse na atualidade, descritas a seguir.

"Me interesso por muitas coisas e a minha principal habilidade acho que é a comunicação, por isso uma área que me interessa hoje é o Direito" (Débora, 15 anos).

"Eu gosto muito de estudar e ajudar a minha família. Escrever, ler, correr e trabalhar com o computador, por isso acho que vou me dar bem na área de Engenharia" (Miguel, 14 anos).

"Desde pequena fui boa em desenhos, contas, línguas estrangeiras, informática... Gosto de medir, desenhar, inventar e criar, assim o que penso em seguir profissionalmente é na área de arquitetura ou trabalhar em algum ramo do Porto..." (Sara, 16 anos).

Nesta perspectiva, Bock (2002) destaca que a partir da autopercepção das características particulares alcançadas, o indivíduo tem condições de elaborar melhor seu projeto de vida. É por isso que o autoconhecimento é fundamental no processo de Orientação Profissional, uma vez que oportuniza aos participantes refletirem sobre seus interesses e idiossincrasias permitindo, assim, que façam uma escolha madura e assertiva no mercado de trabalho.

Quando abordados sobre seu projeto de vida, percebe-se a dificuldade em projetar-se no futuro com estratégias concretas a respeito do desconhecido. Muitos relataram que desejam ser felizes e ter sucesso na vida, mas demonstraram dificuldade em operacionalizar tais processos como alvos possíveis de serem alcançados, como mostram os registros a seguir.

"É difícil pensar no futuro... Imaginar... parece algo irreal. Mas penso que daqui a cinco anos eu espero fazer as melhores escolhas possíveis e que essas escolhas façam eu alcançar minhas metas" (Débora, 15 anos).

"Não sei, espero estar trabalhando e viver bem, ter minha casa, meu carro... Acho que para eu alcançar o que desejo preciso ter mais idéias e conhecer mais as coisas..." (Renata, 16 anos).

"Acho que não quero me concentrar nos estudos. Mas, se eu estiver, pretendo me esforçar e gostar do trabalho" (Rafael, 14 anos).

"Estarei trabalhando em um estaleiro como engenheiro naval e gostando do que eu vou fazer" (Miguel, 14 anos).

"Vou estar trabalhando no Porto da região na parte de gestão portuária administrativa" (Sara, 16 anos).

Os outros quatro participantes também manifestaram que estariam felizes nas atividades profissionais que pretendem desempenhar, porém a maioria não soube dizer em que estaria trabalhando ou cursando. Apenas dois jovens apresentaram perspectivas mais claras do que estariam realizando. Tais aspectos evidenciam que projetar-se em um futuro próximo nem sempre se estabelece como uma tarefa simples, uma vez que para o adolescente a principal barreira desenvolvimental é o estabelecimento de uma identidade. Isto implica em uma noção sólida e coerente de quem são, para onde estão indo, e como se colocam na sociedade. Portanto, a formação da identidade envolve escolhas importantes, a exemplo do tipo de carreira profissional que se pretende seguir. É por isso, que o conceito que melhor se ajusta a estes apontamentos caracteriza-se como "crise da identidade", onde a sensação de confusão e até mesmo de ansiedade que os adolescentes podem ter sobre quem são atualmente e que tipo de indivíduos devem se tornar constituem-se como os principais desafios nesta fase da vida (Shaffer, 2005).

 

Influências nas Escolhas

O segundo módulo relacionou-se às influências nas escolhas e foi desenvolvido no quarto encontro. Teve como objetivo refletir e apontar as diferentes influências na escolha profissional e nas atividades e atitudes diárias que os jovens vivenciam. Inicialmente foi proposta a "Dinâmica do Bombom" (Lisboa & Soares, 2000), a qual problematizou o processo de escolha do chocolate, remetendo-se às reflexões acerca da escolha profissional. Posteriormente, foi desenvolvida uma técnica envolvendo desenho livre, a qual consistia que, em círculo, os adolescentes iniciassem um desenho ou alguma forma aleatória em um papel, e o passassem sucessivamente aos outros, os quais deixariam uma marca na composição original, de modo a contribuir com a elaboração final. Esta atividade possibilitou uma reflexão sobre a expectativa inicial em relação ao desenho comparado ao resultado obtido, mostrando como suas percepções, influências e circunstâncias podem interferir nas metas que se tem. A partir desta problematização, relatos orais surgiram a respeito de como se sentiam quando alguém ou alguma circunstância interferia na tomada de suas decisões. Tal atividade visou a identificação de influências na sua vida atual e como as significavam, de forma a refletir como estas intervinham no processo de escolha profissional.

Um dos temas mais enfatizados pelos adolescentes foi a influência positiva que a família exerce sobre a sua escolha profissional. Todos os participantes manifestaram que a aprovação e o apoio familiar são relevantes no momento de tomada de decisão, quando o assunto norteia o futuro profissional. Neste sentido, Levenfus e Soares (2010) enfatizam que no processo de busca de uma identidade pessoal e profissional, o adolescente se apoiará nas primeiras identificações com a família, nos vínculos e apoios que o meio externo oferece através do contexto social. Por isso é fundamental o papel dos pais, uma vez que a existência dos laços afetivos na infância proporciona gradual autonomia no funcionamento intelectual e nas suas tentativas de organização autônoma.

A fim de cumprir os objetivos estabelecidos para este módulo e levar os adolescentes a refletirem sobre as influências positivas e negativas em sua vida, foi utilizada a "dinâmica grupal das influências". Cabe salientar que os materiais para as atividades realizadas, foram propostos conjuntamente pela professora orientadora e estagiárias. Para isto, solicitou-se que os participantes se dividissem em dois grupos e escrevessem em uma cartolina as influências que receberam no passado, influências presentes e aquelas que poderão influenciar no seu futuro. Desta forma, os grupos mencionaram que as influências passadas mais significativas foram: pais, amigos, professores e mídia. No momento presente, as influências recebidas constaram novamente a família em primeiro lugar, depois os amigos, profissionais que admiram e a mídia. E como possíveis influências futuras, relataram os professores, a faculdade, cursos, cônjuges e seus pais. Os relatos abaixo ilustram o processo de influência recebida na escolha profissional:

"Meus pais me amam e me deixam livre para escolher o que quiser!" (Rafael, 14 anos).

"Os pais influenciam mais que os outros e sempre querem o melhor para a gente. Os amigos também me influenciam e os bons professores que tive" (Débora, 15 anos).

"Os pais em primeiro lugar; depois, os amigos, professores, namorado e as novelas também" (Helena, 14 anos).

Como observado, a influência da família é a que predomina e norteia a escolha profissional destes adolescentes. Segundo Soares (2002), a maioria das escolhas do jovem inclui uma representação social positiva ou negativa da profissão desempenhada pelos pais. Santos (2005) aponta que além do autoconhecimento, o conhecimento do projeto dos pais, o processo de identificação e o sentimento de pertencimento à família são essenciais para o processo de escolha da profissão.

Outras influências importantes que os adolescentes mencionaram, referiram-se às influências da mídia, professores, profissionais qualificados e amigos. Luz Filho (2002) destaca que quando o jovem se identifica com uma pessoa por meio de sua ocupação, criam-se expectativas e estereótipos relacionados à profissão, como é o caso das influências de professores e profissionais qualificados que os adolescentes exemplificaram. Já os amigos, entrariam no fator satisfação social ou status, uma vez que a opção por determinada profissão inclui o reconhecimento e a aceitação perante a sociedade.

Conhecimento das Profissões e do Mercado de Trabalho

O terceiro módulo envolveu o conhecimento das profissões e do mercado de trabalho, desenvolvido no quinto e sexto encontros, conforme exibido na Tabela 1. Portanto, o quinto encontro teve como finalidade disponibilizar outras informações acerca do mundo do trabalho e das competências profissionais demandadas nos dias atuais. Os adolescentes foram subsidiados quanto à elaboração de seu Curriculum Vittae e como se deve proceder em uma entrevista de emprego, proporcionando uma reflexão em torno das escolhas, de forma a resgatar aspectos trabalhados no módulo anterior. As técnicas previstas neste módulo acerca da elaboração de um Curriculum Vittae e orientações às entrevistas de emprego são oriundas da obra de Macedo (1999).

Em relação às competências profissionais foi solicitado aos jovens que descrevessem aquelas que consideram relevantes para inserção no mercado de trabalho, bem como elencassem as que já possuem e aquelas que precisam desenvolver. As competências relatadas foram variadas, mas em síntese prevaleceram: responsabilidade, higiene, simpatia e sinceridade. No entanto, a maioria do grupo considera que necessitam aprimorar habilidades relacionadas à comunicação, atenção e organização; e principalmente a paciência. Em seu relato oral, descrevem que se sentem incomodados pelo fato de ter que esperar em situações cotidianas. Descreveram ainda atitudes permeadas de sentimentos de ansiedade, em momentos de dúvida quanto às decisões a serem tomadas.

Nesta perspectiva, Soares (2002) ressalta que, independente da área de atuação, os profissionais do futuro devem ter espírito de iniciativa, serem criativos, hábeis em buscar novas formas e soluções de realização de novas tarefas, serem comunicativos e, também, saber trabalhar em grupos. Outro aspecto importante que a autora ressalta é o espírito de cooperação e solidariedade, já que as diferentes profissões estão trabalhando cada vez mais próximas.

O sexto encontro contou com o depoimento de alguns profissionais da empresa. Para tanto, no encontro anterior foi disponibilizada uma folha aos jovens para que elencassem os profissionais com base na área de seus interesses. Inicialmente, foi mantido contato com a psicóloga organizacional da empresa que era supervisora de campo de estágio e apresentada a lista de profissionais que os adolescentes elencaram. A partir dessa lista, a psicóloga manteve o primeiro contato com os profissionais da empresa, convidando-os a participar do presente encontro e esclarecendo o propósito do Projeto de Orientação Profissional. Os profissionais escolhidos foram aqueles que tiveram disponibilidade de horário e mostraram-se receptivos mediante o contato feito pela psicóloga.

O encontro contou com a participação de seis profissionais convidados, entre eles, uma psicóloga organizacional, uma estagiária de Direito que atua no departamento de Recursos Humanos, uma engenheira de produção, um mecânico, um veterinário e um estagiário de Logística, responsável pela recepção de pescados da empresa. Após a apresentação dos profissionais, os adolescentes foram incentivados a realizar perguntas e dialogar a respeito dos temas pontuados pelos profissionais e aqueles que fossem de seus interesses. As questões norteadoras para a discussão foram preparadas no encontro anterior, conforme segue: "como se deu o seu processo de escolha profissional; quais os fatores que influenciaram nesta escolha; como era o trabalho desenvolvido na empresa e quais os caminhos que percorreram para alcançar a presente ocupação profissional."

Sob este panorama, os profissionais relataram a respeito do seu cotidiano na profissão; pontos positivos e negativos da ocupação escolhida, trajetória profissional percorrida até o momento e competências necessárias à sua ocupação profissional, o que possibilitou um diálogo aberto com os adolescentes acerca das profissões e mercado de trabalho. Três profissionais presentes discorreram sobre áreas profissionais ainda desconhecidas pelos adolescentes, como: Engenharia de Produção, Zootecnia e os fazeres do profissional formado em Logística, os quais estão em ascensão no mercado de trabalho, despertando interesse nos jovens presentes.

Um dos principais itens observados para que ocorra um consistente processo de escolha profissional é a informação. Não é raro os jovens alegarem desconhecimento total da profissão pela qual estão interessados. Portanto, verifica-se que embora, estejam inseridos numa geração permeada pela globalização, imediatismo e fácil acessibilidade às informações dispensadas através dos meios midiáticos, a autora analisa que é significativa a falta de informação que os adolescentes demonstram acerca de si mesmos, acerca do mundo do trabalho e das profissões em geral. Isto se pode presumir pelo fato de haver resistências de entrar em contato com o novo, com o desconhecido e com o mundo adulto. Neste sentido, a atividade proposta possibilitou aos adolescentes o acesso às profissões que ainda não eram de seu conhecimento, a ampliação de informações a respeito das profissões que já conheciam, além de se constituir como um exercício de projeções ao futuro, levando em consideração a realidade mercadológica em que estão inseridos.

Avaliação do Projeto

Como forma de retroalimentação do projeto, os adolescentes realizaram uma avaliação do processo de Orientação Profissional a partir de um questionário semi-estruturado. Alguns participantes mencionaram que no início do trabalho apresentaram certa desconfiança quanto à proposta, que foi superada a partir dos primeiros encontros. Os relatos expressaram que a participação no trabalho desenvolvido foi significativa no seu processo de desenvolvimento, incluindo o estímulo à tomada de decisão na fase da vida em que se encontram. Os relatos abaixo ilustram este processo:

"Lembro que quando iniciei no Projeto esperava aprender mais sobre o mercado de trabalho, fazer novos vínculos de amizades, conhecer novos cursos e saber qual profissão devo seguir. Hoje sinto que valeu a pena ter participado dos encontros!" (Miguel, 14 anos).

"Quando entrei no grupo já tinha uma noção no que pretendia seguir profissionalmente: ser arquiteta ou trabalhar no Porto... Hoje, estou decidida em trabalhar na rotina administrativa de gestão portuária, valeu a pena ter participado dos encontros; gostei de tudo" (Sara, 16 anos).

"Ainda estou em dúvida da profissão que eu quero seguir. Mas, foi legal ter participado do Projeto, porque aprendi mais sobre mim. Única atividade que não gostei tanto foi a dinâmica do chapéu que continha um espelho dentro, porque eu vi alguém cheia de dúvidas" (Daniela, 14 anos).

Apesar de alguns adolescentes manifestarem que o processo viabilizou a decisão quanto à profissão, a escolha de uma profissão não é o objetivo principal da Orientação Profissional, mas a elaboração de uma importante etapa para o amadurecimento do sujeito: um crescimento pessoal em seus mais diversos aspectos (Lisboa & Soares, 2000). A partir do feedback que os adolescentes emitiram no desenvolvimento das atividades, o trabalho atingiu seus objetivos, os quais consistiam em levar os jovens a indagarem sobre o seu projeto de vida e oferecer subsídios à sua iniciação profissional, ampliando a compreensão da realidade individual, da realidade da sua comunidade e de seus contextos em seus múltiplos e interdependentes aspectos.

 

Considerações finais 

O trabalho de Orientação Profissional desenvolvido no contexto de uma organização de grande porte de uma cidade no litoral catarinense, este em sua segunda turma, tem se constituído como uma ação de responsabilidade social junto aos jovens participantes. Apesar da proposta se constituir como uma atividade de estágio básico desenvolvida no intervalo de um semestre, com intervenções pontuais, a parceria entre a Universidade, a organização e a população jovem é relevante, contribuindo como apoio em momentos decisivos na trajetória do adolescente.

Neste sentido, como já foi descrito anteriormente, o objetivo pelo qual se dispôs este artigo foi de apresentar e analisar um relato de experiência voltada à Orientação Profissional para os filhos e dependentes dos trabalhadores da empresa com faixa etária entre 14 a 17 anos. Esta experiência possibilitou aos participantes refletirem sobre o projeto de vida, em como se dá a escolha profissional e os fatores que a constituem, bem como sobre o mercado de trabalho. Nesta perspectiva, a utilização de técnicas grupais oportunizou a criação de um vínculo entre o grupo, bem como a espontaneidade e a criatividade, viabilizando a manifestação de seus pensamentos, dúvidas e inseguranças. Além disto, o relato oral e o uso de relatos escritos mostraram-se de grande relevância na compreensão das vivências estabelecidas durante os encontros, porque além do levantamento de informações que os jovens trouxeram, foi possível que se identificassem uns com os outros e refletissem juntos acerca dos desafios que permeiam esta fase da vida.

Os resultados obtidos apontaram que os adolescentes demonstraram expectativas positivas em relação ao futuro e à sua carreira profissional. Relataram ainda que o autoconhecimento foi preponderante neste processo de escolha e amadurecimento, pois permitiu que refletissem sobre seus projetos de vida e suas habilidades, mais precisamente no que condiz às competências profissionais. Todos os participantes manifestaram de forma positiva o apoio e expectativa que os seus familiares nutrem em relação às suas escolhas na área profissional; esta constitui-se como influência significativa conforme relato dos participantes, embora não a considerassem determinante.

A experiência das estagiárias no que se refere ao processo de Orientação Profissional viabilizado no estágio básico produziu efeitos condizentes com seu objetivo, as quais tiveram oportunidade de entrar em contato com os vários procedimentos e estratégias utilizados em um processo de Orientação Profissional. Diante disso, optou-se por divulgar esta experiência, o que poderá contribuir com o debate de outros estagiários e profissionais quanto às possibilidades de intervenção em Orientação Profissional em outros contextos, para além das clínicas e escolas.

A inovação desta experiência consistiu em inserir a Orientação Profissional no contexto de uma organização, aos filhos de trabalhadores que não tiveram oportunidade de realizar um curso superior. O processo de Orientação Profissional realizado nas dependências de uma empresa, como uma iniciativa de responsabilidade social em parceria com a universidade, envolvendo os filhos dos trabalhadores se constitui como uma possibilidade a ser mais explorada, com procedimentos que permitam o apoio social às populações de baixa renda no processo de iniciação profissional. O que se evidenciou a partir dos resultados é que iniciativas como esta podem contribuir com o preparo do jovem no que se refere à sua inserção profissional. Mais especificamente no contexto onde o trabalho foi desenvolvido, a participação dos adolescentes no projeto de Orientação Profissional culminou em outras iniciativas articuladas pela empresa como o cadastro para oportunidades de estágio, Programa Jovem Aprendiz, bem como outros projetos oferecidos pela empresa.

Quanto às limitações encontradas pelas estagiárias na operacionalização das atividades, podem ser citadas a oferta do trabalho em horário matutino, inviabilizando que os jovens que estudam no respectivo turno pudessem participar. Como estratégia de superação dessa dificuldade, o trabalho foi transferido para o turno vespertino, no entanto não atingiu todos os adolescentes interessados. A partir dessas dificuldades, foi sugerida a abertura de dois grupos no semestre posterior, viabilizando a participação dos adolescentes em horário matutino e noturno.

Como outras possibilidades de intervenção em Orientação Profissional, sugerem-se a programação de atividades que envolvam os pais no processo, haja vista a influência que possuem no desenvolvimento dos seus filhos, bem como ampliar a participação das empresas no que se refere a este tipo de iniciativa. Conforme evidenciado por Almeida e Silva (2011) abordar o papel dos pais no processo da escolha profissional dos filhos, vai além de tratar o assunto com o adolescente, justificando a necessidade de intervenção com as figuras parentais, levando em consideração as significativas mudanças do mundo contemporâneo, e consequentemente, no mundo do trabalho e nas relações familiares.

Por fim, pode-se concluir que atuar em parceria e de forma sinérgica na comunidade leva a uma corresponsabilização pela melhoria das condições de vida em seu entorno social. O desafio é o de contribuir com o processo de escolha profissional e oferecer informações pertinentes à iniciação profissional dos jovens, o que por decorrência poderá levar ao desenvolvimento dessas comunidades, tarefa esta que constitui ações de cidadania e responsabilidade social abrangendo a população jovem.

 

Agradecimentos

Às acadêmicas do Curso de Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí/UNIVALI: Amanda Jacques Varela, Fernanda Dal Pizzol Moro, Raquel da Rocha e Samantha Cassol Oliveira, pela contribuição, dedicação e parceria, sem os quais este relato de experiência não se realizaria.

 

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Recebido: 05/08/2011
1ª Revisão: 20/02/2012
2ª Revisão: 23/04/2012
Aceite final: 05/07/2012

 

 

Sobre as autoras
Ana Paula Sesti Becker é graduanda em Psicologia pela Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), bolsista de pesquisa do Centro de Ciências da Saúde, integrante do Projeto Emprego Inclusivo e supervisora de grupos filantrópicos e voluntários, vinculados à Pastoral Universitária da UNIVALI.
Sueli Terezinha Bobato é psicóloga clínica, docente de graduação e pós-graduação, membro do Núcleo Docente Estruturante do Curso de Psicologia, integrante responsável pelo Laboratório de Avaliação Psicológica e membro responsável pelos estágios do Curso de Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI).
Mariajosé Louise Caro Schulz é graduanda em Psicologia pela Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), bolsista de pesquisa do Centro de Ciências da Saúde da presente Universidade e integrante do Projeto Emprego Inclusivo.
1 Endereço para correspondência: Universidade do Vale do Itajaí. Coordenação de Psicologia. Rua Uruguai, 458, Bloco 25 B, 4º andar, 88302-202, Itajaí-SC, Brasil. Fone: 47 33417542. E-mail: anapaulasbc@hotmail.com