SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.14 número1Diretrizes metodológicas para reduzir os estereótipos de gênero na orientaçâo profissional índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Revista Brasileira de Orientação Profissional

versão On-line ISSN 1984-7270

Rev. bras. orientac. prof vol.14 no.1 São Paulo jun. 2013

 

RELATO DE EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL

 

Orientação Vocacional/Profissional: avaliação de um projeto piloto para estudantes da educação profissional

 

Career Guidance: Evaluation of a pilot project for career guidance of students

 

Orientación Vocacional/Profesional: evaluación de un proyecto piloto para estudiantes de educación profesional

 

 

Christiane Maria Ribeiro de OliveiraI; Kathia Maria Costa NeivaII

IPsicóloga pela Universidade Federal de Pernambuco e Mestre em Educação também pela mesma instituição. Atualmente é psicóloga do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco
IIPsicóloga (PUC-SP), especializada em Orientação Profissional pelo Instituto Sedes Sapientiae (S.P.), Doutora em Psicologia (Universidade Paris V - René Descartes), experiência como professora universitária, psicóloga clínica e orientadora profissional e de carreira

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Vários estudiosos enfatizam o papel das instituições educativas na orientação profissional de seus estudantes. O presente trabalho refere-se à avaliação de um projeto de orientação vocacional/profissional desenvolvido junto a um grupo de dez adolescentes, de 16 a 18 anos, cursando o penúltimo período de cursos técnicos de nível médio integrados, em uma instituição pública de educação profissional. Este projeto visou facilitar o desenvolvimento vocacional dos estudantes e a construção de seus projetos profissionais. Foram realizados nove encontros em grupo e utilizados vários instrumentos e técnicas específicas para orientação profissional. O projeto foi avaliado por meio da Escala de Maturidade para a Escolha Profissional e os resultados apontaram um aumento no nível de maturidade ao final da intervenção. A partir deste projeto piloto pretende-se ampliar o trabalho para estudantes de outros períodos da educação profissional.

Palavras-chave: orientação vocacional, escolha profissional, avaliação de projeto, educação profissional, maturidade para a escolha profissional


ABSTRACT

Several specialists emphasize the importance of the role of educational institutions in the career guidance of their students. The present work shows the evaluation of a career guidance project developed with a group of ten adolescents, 16 to 18 years old, enrolled in the penultimate grade of technical integrated courses in a public career education institution. This project aimed to facilitate the students' career development and the building of their career project. Nine group meetings were held, in which several specific tools and techniques for career guidance were used. The project was evaluated through the Maturity Scale for Professional Choice and the results showed an increase in the students' level of maturity after the intervention. Based on those results, a plan is to be developed to widen the scope of the project to attend students enrolled in other levels of career education.

Keywords: career guidance, occupational choice, project evaluation, career education, maturity for professional choice


RESUMEN

Varios estudiosos enfatizan el papel de las instituciones educativas en la orientación profesional de sus estudiantes. El presente trabajo se refiere a la evaluación de un proyecto de orientación vocacional/profesional desarrollado con un grupo de diez adolescentes, de 16 a 18 años, cursando el penúltimo período de cursos técnicos de nivel medio integrados en una institución pública de educación profesional. Este proyecto buscó facilitar el desarrollo vocacional de los estudiantes y la construcción de sus proyectos profesionales. Se realizaron nueve encuentros en grupo y se utilizaron varios instrumentos y técnicas específicas para orientación profesional. El proyecto fue evaluado por medio de la Escala de Madurez para la Elección Profesional y los resultados indicaron un aumento en el nivel de madurez al final de la intervención. A partir de este proyecto piloto se pretende ampliar el trabajo para estudiantes de otros períodos de la educación profesional.

Palabras clave: orientación vocacional, elección profesional, evaluación de proyecto, educación profesional, madurez para la elección profesional


 

 

As mudanças que vêm ocorrendo no cenário sociopolítico e econômico brasileiro, marcado por transformações e avanços e pela extrema complexidade e dinamismo, repercutem no contexto de trabalho contemporâneo. Estudos e pesquisas têm evidenciado avanços consideráveis em vários aspectos relacionados ao mercado de trabalho. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2010) apresentou uma análise bastante positiva do panorama do mercado de trabalho brasileiro durante o terceiro trimestre de 2010. Alguns "indicadores alcançaram em setembro de 2010 as melhores marcas dos últimos anos, destacando-se o valor de 6,2% registrado para a taxa de desemprego" (p. 9).

Diante deste cenário de crescimento do mercado de trabalho, faz-se necessário ampliar e aprofundar a discussão sobre a relação entre trabalho e educação no âmbito da Educação Profissional, incluindo neste debate a questão da preparação dos jovens para a escolha profissional, visando compreender melhor a situação destes, que em geral decidem ainda muito jovens entre os cursos técnicos ofertados.

Esta perspectiva de discussão coaduna-se com os princípios e diretrizes da Educação Profissional e Tecnológica, proporcionada pelos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, que buscam não apenas formar um profissional para o mercado de trabalho, mas, promover uma educação comprometida com a formação humana integral de sujeitos autônomos, conscientes e críticos e com o processo de inserção cidadã desses sujeitos (Brasil, 2010). Assim sendo, pensar a formação humana integral impõe vários desafios a todos aqueles envolvidos na Educação Profissional e Tecnológica, incluindo a implementação e o desenvolvimento de ações e programas que contribuam para essa formação integral de sujeitos cidadãos. Nesse sentido, acredita-se que desenvolver um Projeto de Orientação Vocacional/Profissional numa Instituição de Educação Profissional contribui para a formação integral dos estudantes, favorecendo seu autoconhecimento e a construção de seus projetos profissionais e de vida. Sendo assim, surgiu o interesse em desenvolver um Projeto de Orientação Vocacional/Profissional no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE), Campus Recife, tendo como alicerce o compromisso da Educação Profissional, Científica e Tecnológica com a formação integral, com a inserção ativa e autônoma dos seus estudantes no mundo do trabalho, e, principalmente, com a formação cidadã destes indivíduos.

Consoante com as discussões acima, compreende-se a Orientação Vocacional/Profissional como um processo que deve ir além de ajudar o indivíduo na sua inserção no mercado de trabalho. Nesse sentido, concorda-se com Valore (2010, p. 68) quando defende que o objetivo central da Orientação Profissional é "instrumentalizar a escolha e a construção da identidade profissional pela via do autoconhecimento e da articulação entre o conhecimento dos aspectos implicados no 'mundo do trabalho' e o universo subjetivo de cada orientando". Ribeiro (2011) complementa e enriquece a compreensão desse processo, considerando que:

[. . .] a Orientação Profissional é um processo de ajuda de caráter mediador e cooperativo entre um profissional preparado teórica e tecnicamente com as competências básicas exigidas e desenvolvidas para um orientador profissional e um sujeito ou grupo de sujeitos, que necessite auxílio quanto à elaboração e consecução do seu projeto de vida profissional/ocupacional com todos os aspectos envolvidos do seu comportamento vocacional (conhecimento de seu processo de escolha, autoconhecimento, conhecimento do mundo do trabalho e dos modelos de elaboração de projetos (p. 52-53).

Orientação Vocacional/Profissional e Educação Profissional

De acordo com Oliveira-Cardoso, Melo-Silva, Piovesani e Santos (2010), na sociedade contemporânea, a Orientação Vocacional/Profissional (OVP) é um campo de intervenção e pesquisa em amplo crescimento. No Brasil, o processo de OVP tem sido objeto de debates e discussões de vários estudiosos, orientadores e pesquisadores que têm evidenciado que um processo de orientação profissional desenvolvido dentro de uma Instituição de Educação contribui para que seus estudantes construam seus projetos de vida e profissionais. Além disso, de acordo com C. S. Silva, Ourique, Oliveira, Reis e Lassance (2008, p. 78) a participação em programas de Orientação Profissional gera maior comprometimento com a vida acadêmica e uma maior articulação entre estudo e trabalho.

Considerando-se os princípios e diretrizes que fundamentam a Educação Profissional, constata-se que a OVP tem muito a contribuir com a formação destes estudantes, na medida em que a maioria dos alunos de instituições de educação profissional toma a primeira decisão profissional ainda muito jovem (13-14 anos), ao escolher o curso técnico. Esta decisão nem sempre é uma decisão madura e consciente, pautada em critérios claros tendo como base o conhecimento de si próprio e da realidade profissional. Ao final do curso, uma nova decisão se faz necessária, neste momento com relação ao prosseguimento dos estudos e ingresso no ensino superior, ou inserção direta no mercado de trabalho. Ajudar estes alunos a compreenderem a escolha do curso técnico e refletirem sobre seu projeto de carreira é fundamental.

Acredita-se, tal como inúmeros estudiosos e pesquisadores, que a OVP pode ser um importante instrumento para facilitar o desenvolvimento vocacional desses estudantes, contribuindo para a construção de seus projetos profissionais e de vida. Além disso, a OVP pode intervir auxiliando no complexo processo de inserção e atuação cidadã no mundo do trabalho, ajudando os estudantes no seu processo de emancipação psicossocial (Silva, 2010).

A maturidade para a escolha profissional

Super (1955), um dos teóricos da corrente desenvolvimentista em Orientação Profissional, introduziu o conceito de maturidade vocacional definindo-o como um conjunto de atitudes e comportamentos a serem empreendidos visando à inserção profissional. Na realidade brasileira, Neiva (1999) interessou-se em estudar especificamente a maturidade para a escolha profissional na adolescência e o modelo proposto compreende duas dimensões: atitudes e conhecimentos. A primeira é constituída de três subdimensões: (a) Determinação - que se refere a quanto o sujeito está definido e seguro com relação à sua escolha profissional; (b) Responsabilidade, que se refere a quanto o sujeito empreende ações responsáveis para a efetivação desta decisão, e (c) Independência, que se refere a quanto o sujeito está definindo sua escolha profissional de forma independente, sem influenciar-se por outras pessoas: familiares, professores, grupo de pares, mídia etc. A segunda dimensão - Conhecimentos é composta de duas subdimensões: (a) Autoconhecimento: quanto o sujeito conhece os diferentes aspectos de sua pessoa que são importantes para a escolha profissional, tais como: características pessoais, interesses, habilidades, valores etc., e (b) Conhecimento da realidade educativa e socioprofissional que corresponde ao conhecimento do sujeito com relação às instituições de ensino, cursos, profissões, mercado de trabalho etc.

Neiva (1998, 1999) construiu a Escala de Maturidade para a Escolha Profissional - EMEP, que possui normas brasileiras e cuja qualidade métrica já foi comprovada. A maturidade para a escolha profissional tem sido objeto de vários estudos tendo como foco principalmente alunos do ensino médio. Alguns destes estudos avaliaram a maturidade traçando comparações em função do sexo, tipo de escola e série (Neiva, 2003; Neiva, Silva, Miranda, & Esteves, 2005).

Várias outras pesquisas utilizaram a EMEP para avaliar a eficácia de programas de intervenção em Orientação Profissional (Antunes, Valdo, & Melo-Silva, 2003; Esbrogeo, 2008; Junqueira, 2010; Lassance, Bardagi, & Teixeira, 2009; Melo-Silva, Oliveira, & Coelho, 2002; Moura, Sampaio, Gemelli, Rodrigues, & Menezes, 2005; Nogueira, 2004).

Alguns autores têm apontado a importância de se avaliar processos de intervenção em orientação profissional (Almeida & Melo-Silva, 2006; Melo-Silva & Jacquemin, 2001). Assumindo-se essa perspectiva, concorda-se com Melo-Silva (2011, p. 167), quando defende que a avaliação das intervenções "visa tornar o processo de Orientação Profissional mais eficaz e adequado ao atendimento dos clientes em cada cenário e contexto". De acordo com Arruda e Melo-Silva (2010) a avaliação da intervenção pode ter dois focos: processos ou resultados.

O primeiro pode ser compreendido como a apreciação crítica dos componentes da intervenção, por meio de indicadores de qualidade que evidenciem a variação da eficácia de cada estratégia de intervenção. Já o segundo propõe estimar o impacto da intervenção em função dos progressos do cliente após o término do processo (Arruda & Melo-Silva, 2010, p. 225).

O presente trabalho tem como objetivo avaliar a eficácia de um projeto piloto de orientação vocacional/profissional desenvolvido junto a alunos da educação profissional, ou seja, o impacto da intervenção no desenvolvimento da maturidade para a escolha profissional, após a OVP.

Para maior compreensão, será apresentado o projeto de orientação vocacional/profissional realizado, seus objetivos e desenvolvimento, assim como a metodologia utilizada para a sua avaliação.

 

O projeto de OVP

O projeto de OVP foi desenvolvido no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE), Campus Recife e teve como base o referencial clínico-operativo (Antunes et al., 2003; Melo-Silva & Jacquemin, 2001), que contempla as contribuições de Bohoslavsky (1998), Müller (1988) e Pichon-Rivière (1995, 2009).

Segundo Bohoslavsky (1998, p. 5), a modalidade clínica de orientação profissional é "uma colaboração não diretiva com o cliente, no sentido de restituir-lhe uma identidade e/ou promover o estabelecimento de uma imagem não conflitiva de sua identidade profissional". Complementando esta ideia, Neiva (2007, p. 27) aponta que o objetivo principal da modalidade clínica "[...] é ajudar o adolescente a elaborar sua identidade vocacional-ocupacional e mobilizar sua capacidade de decisão autônoma". Ressalta também que o jovem aprende a aprofundar tanto o autoconhecimento quanto o conhecimento da realidade profissional, buscando integrá-los.

Pichon-Rivière (2009) compreende o homem como emergente de uma complexa rede de vínculos e relações sociais e introduz a técnica de grupo operativo, alicerçada em uma concepção de aprendizagem. Ele considera que o grupo operativo, como técnica, ajuda a resolver as dificuldades internas de cada sujeito, os estancamentos e o pensamento dilemático, tornando-o dialético, através de uma tarefa na qual se inclui o esclarecimento das resistências à aprendizagem como mudança.

A técnica de grupo operativo permite trabalhar tanto o aspecto manifesto e explícito quanto o aspecto latente e implícito. Ou seja, o grupo trabalha, explicitamente, os objetivos de sua constituição e, implicitamente, a elaboração das ansiedades a serviço da resistência à mudança. Visa assim, tornar consciente o inconsciente, tornar explícito o implícito.

A OV, de acordo com Muller (1988), é um processo através do qual o orientando reflete sobre sua problemática vocacional e busca caminhos para "[...] pôr em prática seu protagonismo quanto a conhecer-se, conhecer a realidade e tomar decisões reflexivas e de maior autonomia, que levem em conta suas próprias determinações psíquicas assim como as circunstâncias sociais" (p. 14).

Ainda segundo Muller (1988), a OV assume um papel preventivo ao se inserir nos processos de aprendizagem sistemáticos e assistemáticos, promovendo o conhecimento de si mesmo e da realidade socioeconômica, e um papel terapêutico, ao abordar "[...] situações conflitivas que podem comprometer toda a personalidade, pois tem relação com a identidade e as mudanças, e com tudo que mobiliza e desestrutura" (p. 12-13).

Objetivos do projeto de OVP

O projeto de OVP teve como objetivos gerais: (a) Facilitar o desenvolvimento vocacional dos estudantes e a construção/reconstrução de seus projetos profissionais e de vida; (b) Auxiliar os estudantes na construção da sua identidade vocacional-ocupacional; (c) Auxiliar os estudantes na aprendizagem do processo de decisão, mobilizando-os para uma escolha profissional autônoma. Os objetivos específicos formulados foram: (a) Favorecer o autoconhecimento, colaborando para a superação dos conflitos psíquicos presentes no processo de escolha vocacional/profissional; (b) Possibilitar o conhecimento e a reflexão acerca da realidade educativa e socioprofissional; (c) Facilitar o desenvolvimento da maturidade para a escolha profissional.

O grupo participante

O projeto foi desenvolvido em um grupo composto de dez estudantes do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE), Campus Recife, instituição de educação superior, básica e profissional que busca promover a educação profissional, científica e tecnológica, em todos os seus níveis e modalidades.

Os participantes eram alunos dos seguintes cursos técnicos de nível médio integrados: Edificações (n = 3), Saneamento (n = 3), Química (n = 2) e Eletrônica (n = 2). Os estudantes tinham entre 16 e 18 anos de idade, sendo seis do sexo masculino e quatro do sexo feminino. Todos cursavam o penúltimo período do curso e pretendiam prestar vestibular para um curso superior no ano seguinte.

Como os estudantes eram menores de idade, seus pais assinaram um termo de consentimento para que participassem do projeto.

 

Método

Inicialmente, ocorreu a divulgação do projeto, em dez turmas de cursos técnicos de nível médio integrados que cursavam o 7º período, que corresponde ao penúltimo período letivo. Em seguida, houve uma pré-inscrição dos estudantes que desejavam participar do projeto. Inscreveram-se cerca de 60 estudantes. Tendo em vista tratar-se de um projeto piloto, ficou explicitado desde a divulgação que seria formado apenas um grupo e, portanto, oferecidas dez vagas. Desses 60 estudantes, participaram de uma entrevista de triagem os vinte primeiros inscritos. O restante dos estudantes ficou em uma lista de espera para um próximo grupo.

A entrevista individual de triagem, teve como objetivo investigar questões referentes ao processo de escolha profissional dos estudantes, à problemática vocacional, às expectativas em relação ao processo de OVP, além de explorar alguns dados pessoais, familiares e escolares. Nesta entrevista os alunos manifestaram suas dúvidas e profissões de interesse. Seis dos dez alunos tinham como dúvida escolher uma profissão que gostariam de exercer ou escolher uma profissão que daria continuidade ao que já estava estudando no curso técnico. Os demais duvidavam entre escolher uma profissão que gostariam de exercer ou escolher uma profissão que teria um mercado de trabalho mais amplo.

A entrevista serviu para avaliar a demanda e a situação de cada estudante acerca das questões relacionadas à problemática vocacional/profissional, com o intuito de elaborar um breve diagnóstico. Os objetivos principais deste diagnóstico foram: verificar o interesse de cada aluno em participar do grupo, conhecer as principais dúvidas com relação à escolha profissional e verificar se existiam ansiedades relacionadas a outros conflitos que pudessem comprometer a participação e aproveitamento do aluno no grupo de OVP.

A partir da análise das entrevistas foram selecionados os dez estudantes que reuniam condições para participar do grupo de orientação profissional e beneficiar-se deste, e tinham disponibilidade em relação aos dias e horários previstos para os encontros. O processo de orientação vocacional/profissional consistiu de nove encontros em grupo, com duração de duas horas cada encontro, totalizando 18 horas, sendo realizados dois encontros por semana. Ao final da intervenção, foi realizado um atendimento individual para avaliação e discussão do processo e devolutiva dos resultados comparativos da Escala de Maturidade para a Escolha Profissional - EMEP (Neiva, 1999), aplicada no início e no final da intervenção.

A utilização da EMEP em dois momentos da intervenção de OVP (início e final) teve como objetivos avaliar a evolução de cada orientando a partir da intervenção, assim como avaliar a eficácia do projeto; este último sendo o objetivo do presente trabalho. A EMEP, já apresentada anteriormente, é um instrumento que avalia a maturidade para escolha profissional em cinco subdimensões: Determinação, Responsabilidade, Independência, Autoconhecimento e Conhecimento da Realidade educativa e socioprofissional. Trata-se de uma escala de tipo Likert com cinco modalidades de resposta composta de 45 itens, já validada e normatizada para a população brasileira (Neiva, 1999).

Durante os encontros foram utilizados vários instrumentos e técnicas: Técnica de apresentação - Cores (Lucchiari, 1993); Técnica do Cartaz (Antunes et al., 2003); Técnica de Bombons (Levenfus, 2010); Técnica Reconhecendo quem eu sou (Neiva & Spaccaquerche, 2009); Técnica Curtograma (Spaccaquerche & Fortim, 2009); Teste de Avaliação dos Interesses Profissionais - AIP (Levenfus & Bandeira, 2010); Técnica do perfil profissional - lista de habilidades e atitudes no trabalho (D'Ávila, Soares, & Krawulski, 2010); Técnica para trabalhar a percepção da satisfação no trabalho (profissional feliz ou infeliz) (Soares, 2010); Jogo - Critérios para a Escolha Profissional (Neiva, 2008); Técnica do aeroporto (Lucchiari, 1993).

Conforme exposto anteriormente, a intervenção apoiou-se no método clínico-operativo. Assim, considerando a perspectiva da Técnica de Grupo Operativo e acolhendo a proposta de Melo-Silva e Jacquemin (2001), a tarefa explícita dos participantes referiu-se ao conteúdo proposto nas sessões como disparador temático e a tarefa implícita esteve focada na elaboração de conflitos e ansiedades que dificultavam a tomada de uma decisão profissional.

Apresenta-se, em seguida, um relato resumido das sessões realizadas.

Relato resumido dos encontros

No primeiro encontro buscou-se promover a integração e a formação dos vínculos entre os participantes e entre estes e a orientadora, além de discutir sobre as expectativas dos estudantes acerca do processo de OVP. A Técnica de Apresentação - Cores (Lucchiari, 1993) favoreceu a integração entre os membros do grupo de forma muito dinâmica e acolhedora, o que foi bastante positivo. Os estudantes se mostraram bastante motivados para o trabalho e permaneceram assim durante as sessões subsequentes, não havendo desistência de integrante algum. A Técnica do Cartaz (Antunes, 2003) foi utilizada com fins de disparador temático, em grupo operativo, com a finalidade de discutir as expectativas dos estudantes com relação ao processo de OVP e à escolha profissional e facilitar a elaboração de questões levantadas que se colocavam como obstáculos à mudança. As expectativas mais comumente apresentadas foram: a OVP iria ajudá-los a fazer a escolha certa; iria apresentar um resultado definitivo em relação a qual profissão escolher; iria solucionar suas dúvidas, que, de maneira geral, giravam em torno de escolher a profissão que mais gostavam ou a que apresentava mais garantia de retorno financeiro; uma expectativa também muito presente foi que a escolha profissional seria definitiva e, que, portanto, tinha que ser correta. Assim, realizou-se a configuração em grupo operativo, com a tarefa proposta de que os estudantes refletissem sobre as expectativas e os medos elencados.

Em seguida, estabeleceu-se o contrato de trabalho e, ao final, aplicou-se a Escala de Maturidade para a Escolha Profissional - EMEP (Neiva, 1999) com o objetivo de diagnosticar o nível de maturidade para a escolha profissional dos estudantes e avaliar quais os aspectos da sua maturidade que estavam menos desenvolvidos, permitindo, assim, planejar melhor o processo de orientação vocacional/profissional. Constatou-se que sete dos dez estudantes possuíam nível de maturidade total para a escolha profissional abaixo da média, sendo que as subdimensões da maturidade que se encontravam menos desenvolvidas eram: Determinação, Independência e Autoconhecimento.

No segundo encontro discutiu-se sobre os aspectos e implicações presentes em uma situação de escolha e sobre a relação entre a adolescência e o processo de escolha profissional, discutindo-se os conflitos, medos, expectativas e fantasias em relação à situação de escolha e ao futuro profissional. Utilizou-se a Técnica de Bombons (Levenfus, 2010), para disparar a discussão sobre a importância da reflexão e estabelecimento de critérios nas decisões, associando a situação de escolha do bombom à situação de escolha profissional. Outra técnica utilizada consistiu em solicitar que completassem frases relacionadas à temática "Escolher uma profissão na adolescência". Através das frases elaboradas, foram discutidos os conteúdos que surgiram (medos, inquietudes, ansiedades, expectativas), procurando refletir sobre alguns aspectos psicológicos, biológicos e sociais relacionadas à adolescência e suas implicações no processo de escolha profissional. Os conteúdos mais comuns foram: medo de não estar preparado para fazer a escolha certa, medo de não atender as expectativas dos pais, inquietudes relativas às mudanças físicas e emocionais da adolescência, ansiedades relativas às exigências dos pais quanto à formação acadêmica.

No terceiro encontro, foi trabalhado o autoconhecimento, promovendo a reflexão sobre os fatores internos pessoais implicados no processo de escolha profissional conforme proposto por Neiva (2007), focalizando: o reconhecimento das características pessoais, tais como as qualidades e dificuldades, e suas implicações na vida profissional; motivações e interesses; potencialidades e habilidades; valores e aspirações. Aplicou-se a técnica Reconhecendo quem eu sou (Neiva & Spaccaquerche, 2009) para facilitar nos estudantes a identificação de suas características pessoais (forças e fraquezas) a partir de três níveis de percepção: (a) como ele se vê; (b) como ele acha que os outros o veem; e (c) como realmente os outros o veem. Além disso, a técnica proporcionou uma discussão e reflexão acerca das características que mais facilitarão a vida profissional futura dos estudantes e daquelas que mais poderão trazer dificuldades à sua vida profissional. A técnica Curtograma (Spaccaquerche & Fortim, 2009) permitiu que os estudantes refletissem sobre as atividades que gostam de realizar e as que não gostam e pudessem estabelecessem associações entre as profissões cogitadas por eles e seus gostos e preferências.

No quarto encontro prosseguiu-se com a ampliação do autoconhecimento, aplicando o Teste de Avaliação dos Interesses Profissionais - AIP (Levenfus & Bandeira, 2010), com o objetivo de levantar os interesses profissionais dos estudantes. Em seguida, aplicou-se a Técnica do perfil profissional - lista de habilidades e atitudes no trabalho (D'Ávila et al., 2010), visando incentivar os estudantes a fazerem uma reflexão e análise de suas habilidades e atitudes. A técnica possibilitou que os estudantes reconhecessem em si mesmo algumas habilidades importantes, assim como aquelas que precisavam desenvolver. Aplicou-se, ainda, neste encontro, a Técnica para trabalhar a percepção da satisfação no trabalho (profissional feliz ou infeliz) (Soares, 2010). Em grupo operativo, foram trabalhados alguns aspectos que os estudantes consideravam importantes para ter satisfação no trabalho e os vínculos afetivos que estavam sendo estabelecidos com algumas profissões.

No quinto encontro utilizou-se o jogo Critérios para a Escolha Profissional (Neiva, 2003, 2008), cujo objetivo é facilitar o estabelecimento de critérios de escolha profissional com relação aos seguintes aspectos: ambiente de trabalho, objetos/conteúdos de trabalho, atividades de trabalho, rotina de trabalho e retornos do trabalho. Este instrumento contribuiu muito para a identificação de interesses e valores, assim como para o desenvolvimento da capacidade de decisão dos orientandos, suscitando discussões e ajudando-os a refletirem sobre situações concretas da realidade de trabalho.

No sexto encontro, foram analisados e discutidos os interesses profissionais dos estudantes, a partir dos resultados no Teste de Avaliação dos Interesses Profissionais - AIP (Levenfus & Bandeira, 2010). No conjunto de interesses evidenciados no teste, quatro estudantes apresentaram grandes interesses pelas áreas CFM, CSL e CMA (Campo Físico/Matemático, Campo Simbólico/Linguístico e Campo Manual/Artístico). Para outros quatro estudantes os interesses foram pelos campos CFM e CFQ (Campo Físico/Matemático e Campo Físico/Químico) e outros dois estudantes pelos campos CBS e CCE (Ciências Biológicas e da Saúde e Campo Comportamental/Educacional). Constatou-se que os resultados de alguns estudantes apontaram interesses por campos divergentes das áreas profissionais dos cursos técnicos em que estavam inseridos. Durante as discussões, os dados apontados pelo AIP foram analisados relacionando-os às informações e reflexões já feitas nos encontros anteriores.

No sétimo encontro, buscou-se ampliar o conhecimento e compreensão da realidade educativa e socioprofissional brasileira. Neste encontro, foram promovidas palestras com profissionais de áreas escolhidas pelos estudantes: arquiteto, engenheiro civil, engenheiro químico, contador, administrador, tecnólogo em gestão ambiental, professor de português e biólogo. Ao final do encontro solicitou-se que os estudantes realizassem, como atividade extra grupo, pesquisas sobre uma ou duas profissões de seu interesse registrando-as na folha de Realidade Profissional do jogo Critérios para a Escolha Profissional (Neiva, 2008). Buscou-se com isso, instrumentalizar no estudante a atitude de busca de informações sobre algumas profissões e cursos de nível superior.

No oitavo encontro, os estudantes apresentaram a pesquisa realizada e, em grupo operativo, foram discutidas e trabalhadas algumas ansiedades e fantasias acerca das informações profissionais obtidas.

No nono e último encontro grupal, buscou-se promover a avaliação das opções profissionais cogitadas e integrá-las a todas as informações e reflexões realizadas durante o processo de OVP. Reavaliou-se, também, a maturidade para a escolha profissional, reaplicando a EMEP (Neiva, 1999). Por fim, promoveu-se uma avaliação grupal do processo de OVP e a despedida do grupo. Neste momento final, utilizou-se a Técnica do aeroporto (Lucchiari, 1993). Muitos sentimentos foram expressos durante a técnica referentes à separação do grupo e ao trabalho desenvolvido. Os estudantes mostraram maior envolvimento com seu processo de escolha, verbalizaram que passaram a se conhecer mais, referiram um maior conhecimento de seus interesses e habilidades. Um ponto que foi bastante comum nas verbalizações dos estudantes foi o quanto eles perceberam a importância de refletir sobre vários aspectos e critérios na hora de tomar uma decisão profissional. Outro aspecto que foi bastante frequente nas falas dos estudantes foi referente à integração dos membros do grupo, o que, segundo eles favoreceu as reflexões e discussões, assim como permitiu que todos se sentissem bastante tranquilos e à vontade para expressar seus sentimentos, medos e dúvidas.

Após os encontros grupais, aconteceu uma entrevista individual, na qual discutiu-se aspectos específicos do processo de escolha profissional de cada estudante e forneceu-se uma devolutiva com relação aos resultados comparativos da EMEP (pré e pós OVP), apontando a evolução do orientando.

 

Resultados

Sendo o objetivo do presente trabalho a avaliação da intervenção em OVP, os resultados a serem apresentados terão este foco. Como já foi mencionado anteriormente, utilizou-se para tal a Escala de Maturidade para a escolha profissional - EMEP visto que este instrumento tem sido bastante utilizado na atualidade para a avaliação da eficácia de projetos de Orientação Profissional estimando o impacto da intervenção em função do progresso do cliente após o término do processo (Arruda & Melo-Silva, 2010).

Assim sendo, foram comparados os resultados obtidos pelos estudantes em cada subescala e na escala de maturidade total antes e após o processo de OVP, com o objetivo de avaliar a evolução nas subdimensões da maturidade para a escolha profissional ao longo do processo, e, por conseguinte, avaliar a eficácia da intervenção.

Conforme orientação do manual da EMEP (Neiva, 1999), inicialmente, as pontuações brutas obtidas por cada estudante foram convertidas em percentil e devidamente classificadas. Na Tabela 1, são apresentadas as classificações obtidas por cada estudante, em cada uma das subescalas e na Maturidade Total, nas situações pré e pós-intervenção em orientação profissional.

 

 

Analisando-se os resultados, observou-se que todos os estudantes apresentaram um aumento no nível de maturidade em todas as subescalas e na escala total após o processo de intervenção. Os alunos que obtiveram, no início da OVP, nível inferior à média em alguma subescala ao final da OVP evoluíram pelo menos para o nível médio, alguns até mesmo para níveis acima da média, indicando assim um progresso importante na maturidade para a escolha profissional. Esses resultados demonstram que o processo de OVP permitiu o desenvolvimento da maturidade para a escolha profissional desses estudantes.

Estas comparações permitem também avaliar a eficácia da intervenção. O fato dos sujeitos terem aumentado o nível de maturidade total após a OVP permite afirmar que a intervenção foi eficaz e contribuiu para o desenvolvimento da maturidade para a escolha profissional destes estudantes.

 

Discussão

Este estudo teve como objetivo avaliar um projeto piloto de uma intervenção em OVP realizada junto a alunos de Educação Profissional. Retomando os objetivos específicos da intervenção constatou-se que a intervenção foi eficaz ao se propor a desenvolver o autoconhecimento, o conhecimento da realidade educativa e socioprofissional e a maturidade para a escolha profissional, pois comparando-se os resultados obtidos na EMEP no início e no final da intervenção, constatou-se a evolução e desenvolvimento dos estudantes nas diversas dimensões da maturidade para a escolha profissional, incluindo as dimensões de Autoconhecimento e Conhecimento da Realidade (Neiva, 1999). O projeto de OVP estimulou assim o desenvolvimento vocacional dos alunos, conforme proposto.

Considerando o fato dos participantes da OVP serem estudantes da educação profissional e que, portanto, já haviam feito uma escolha profissional anteriormente, torna-se importante analisar os dados da EMEP considerando essa especificidade do grupo.

Nesta perspectiva, destaca-se que, durante a entrevista inicial, a maioria dos alunos referiu não estar gostando do curso técnico que estudava. Estes alunos cogitavam vários cursos/profissões, trazendo a dúvida entre escolher uma profissão que gostariam de exercer ou escolher uma profissão que daria continuidade ao curso técnico no qual estavam inseridos, demonstrando com frequência interesse por área profissional distinta do curso técnico. Esses dados atrelados aos resultados apresentados na EMEP no início do processo de OVP na dimensão Autoconhecimento (vários alunos com nível abaixo da média), leva à hipótese de possivelmente estes estudantes realizaram a sua primeira escolha, sem o devido conhecimento de si mesmo e, portanto, de maneira pouco madura. Para ilustrar essa situação, vale mencionar a situação de um dos estudantes do curso de Edificações, que iniciou a OVP em dúvida entre Engenharia Civil, Arquitetura e Jornalismo. Na entrevista inicial, afirmou que não gostava do curso que estava fazendo e que tinha interesse em Jornalismo, pois gostava de ler e escrever, mas que estava em dúvida, pois, os cursos de Engenharia Civil ou Arquitetura estariam dentro da área profissional do curso técnico em que já estava inserido. Vale mencionar também que a análise dos resultados do Teste de Avaliação dos Interesses Profissionais - AIP (Levenfus & Bandeira, 2010), mostrou que vários estudantes tinham interesses por campos divergentes das áreas profissionais dos cursos técnicos em que estavam inseridos. Durante o processo de OVP, os alunos puderam ampliar seu autoconhecimento, conhecer melhor seus interesses e habilidades e elaborar ansiedades e conflitos relacionados à problemática vocacional, atingindo os objetivos originalmente propostos para o projeto piloto, e que são ressaltados por vários autores (Bohoslavsky, 1998; Muller, 1988; Neiva, 2007).

Foi notória também a ampliação do conhecimento da realidade educativa e socioprofissional, um dos objetivos da intervenção. Como aponta Muller (1988), as decisões no âmbito profissional devem tomar em conta tanto as determinações psíquicas quanto as circunstâncias sociais. Neste mesmo sentido, Neiva (2007) ressalta a importância de ampliar e integrar o conhecimento dos aspectos internos e externos, para a tomada de uma decisão profissional madura e consciente.

Considerando a dimensão Independência, na qual inicialmente a maioria dos alunos apresentou nível abaixo da média, alguns estudantes afirmaram que pretendiam escolher uma profissão que desse continuidade ao curso técnico, por causa da influência dos pais, afirmando que isso também tinha ocorrido na escolha do curso técnico. O processo de OVP permitiu trabalhar a influência familiar e auxiliou os alunos a se tornarem mais independentes na tomada da decisão do curso superior, promovendo assim sua capacidade de decisão autônoma (Bohoslavsky, 1998; Neiva, 2007). Além disso, os alunos puderam tomar consciência do por quê e para quê de sua escolha inicial e compreenderem melhor as variáveis intervenientes na nova escolha. Com isso, desenvolveram sua identidade vocacional-ocupacional (Bohoslavsky, 1998; Neiva, 2007).

Finalmente, a Escala de Maturidade para a Escolha Profissional - EMEP mostrou, mais uma vez, sua utilidade para avaliar a eficácia de projetos de OVP, ao possibilitar estimar o impacto da intervenção em função do progresso dos alunos após o término do processo (Arruda & Melo-Silva, 2010).

 

Considerações finais

O projeto de OVP que foi desenvolvido gerou muitas reflexões. Faz-se necessário destacar alguns pontos importantes que devem ser levados em consideração nos próximos projetos.

Inicialmente, vale ressaltar que este foi um projeto piloto, oferecido a um número muito reduzido de alunos, sendo, portanto, este um fator limitante. Entretanto, a avaliação do projeto foi bastante positiva, pois os resultados apontaram sua eficácia no desenvolvimento da maturidade para a escolha profissional destes jovens, incluindo o desenvolvimento de atitudes e a ampliação dos conhecimentos necessários a esta decisão. Isso indica a possibilidade de levar este projeto a um número maior de alunos, ampliando a atuação em orientação profissional nesta instituição.

Mas, analisando a realidade de uma Instituição de Educação Profissional, seus objetivos, caracterização e especificidades, o mais adequado seria inserir a Orientação Profissional como atividade curricular, pois assim poderia ser oferecida a todos os alunos. Além disso, seria importante elaborar um projeto que contemplasse os vários períodos dos cursos técnicos e também tecnológicos, permitindo assim estimular paulatinamente o desenvolvimento vocacional dos alunos. Só com um projeto deste porte seria possível aprofundar devidamente as relações entre educação, trabalho e carreira. Nesta perspectiva caberia pensar em um projeto de Educação para a Carreira, conforme propõem alguns autores como Teixeira e Calado (2010) e Munhoz e Melo-Silva (2011).

Outro aspecto importante que se pode depreender do presente projeto é a imprescindível necessidade de se realizar intervenções de orientação vocacional/profissional com os jovens que pretendem ingressar na Educação Profissional. Isto ficou evidenciado, pois constatou-se que muitos deles têm interesses distintos das áreas profissionais dos cursos técnicos em que estavam inseridos. Além disso, vários alunos apontaram a influência dos pais na decisão do curso técnico. Diante desses dados, pode-se pensar que a escolha do curso técnico feita por esses estudantes não tenha sido processada de forma madura e que, portanto, seria necessária uma intervenção junto aos jovens antes de ingressarem na Educação Profissional.

Finalmente, tomar como objeto de estudo e intervenção os processos de escolha e orientação vocacional/profissional em uma realidade de Educação Profissional é adentrar num terreno de muitas possibilidades, e, por isso mesmo, bastante fascinante. Mas, é também assumir os riscos de um caminho pouco explorado. Assim, por tudo que foi aprendido na vivência desse projeto, defende-se a necessidade de realização de pesquisas que possam compreender melhor a escolha do curso técnico e a construção dos projetos profissionais dos estudantes da Educação Profissional. Tais pesquisas permitirão ampliar a produção de conhecimentos referentes a essa área de atuação e desenvolver estratégias de intervenção que possam atender mais eficazmente esse amplo e carente campo de atuação.

 

Referências

Almeida, F. H., & Melo-Silva, L. L. (2006). Avaliação de um serviço de orientação profissional: A perspectiva de ex-usuários. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 7(2), 81-102.         [ Links ]

Antunes, J. B., Valdo, M., & Melo-Silva, L. L. (2003). Uma experiência de orientação profissional em grupo. In L. L. Melo-Silva, M. A. Santos, J. T. Simões, & M. C. Avi (Orgs.), Arquitetura de uma ocupação: Orientação profissional: Teoria e prática (pp. 343-362). São Paulo, SP: Vetor.         [ Links ]

Arruda, M. N. F., & Melo-Silva, L. L. (2010). Avaliação da intervenção de carreira: A perspectiva dos ex-clientes. Psico-USF, 15(2), 225-234. doi:10.1590/S1413-82712010000200010        [ Links ]

Bohoslavsky, R. (1998). Orientação vocacional: A estratégia clínica (11a ed.). São Paulo, SP: Martins Fontes.         [ Links ]

Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação, Ciência e Tecnologia. (2010). Um novo modelo em educação profissional e tecnológica: Concepções e diretrizes. Brasília, DF: MEC/SETEC. Recuperado de http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12503&Itemid=841        [ Links ]

D'Ávila, G., Soares, D. H. P., & Krawulski, E. (2010). Técnicas para planejamento de carreira: Do sonho profissional ao plano de ação. In M. C. P. Lassance (Org.), Técnicas para o trabalho de orientação profissional em grupo (pp. 203-231). Porto Alegre, RS: Editora da UFRGS.         [ Links ]

Esbrogeo, M. C. (2008). Avaliação da orientação profissional em grupo: O papel da informação no desenvolvimento da maturidade para a escolha da carreira (Dissertação de mestrado não publicada). Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, SP.         [ Links ]

Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. (2010). Mercado de trabalho: Conjuntura e análise. Brasília, DF: IPEA/MTE. Recuperado de http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/mercadodetrabalho/ bmt45_09_completo.pdf        [ Links ]

Junqueira, M. L. (2010). Maturidade para a escolha da carreira em adolescentes de um serviço de orientação profissional (Dissertação de mestrado não publicada). Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, SP.         [ Links ]

Lassance, M. C. P., Bardagi, M. P., & Teixeira, M. A. P. (2009). Avaliação de uma intervenção cognitivo-evolutiva em orientação profissional com um grupo de adolescentes brasileiros. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 10(1), 23-32.         [ Links ]

Levenfus, R. S. (2010). Técnica dos bombons. In R. S. Levenfus & D. H. P. Soares, Orientação vocacional ocupacional (2a ed., pp. 309-313). Porto Alegre, RS: Artmed.         [ Links ]

Levenfus, R. S., & Bandeira, D. R. (2010). Avaliação dos Interesses Profissionais (AIP). São Paulo, SP: Vetor.         [ Links ]

Lucchiari, D. H. P. S. (Ed.). (1993). Pensando e vivendo a orientação profissional. São Paulo, SP: Summus.         [ Links ]

Melo-Silva, L. L. (2011). Intervenção e avaliação em orientação profissional e de carreira. In A. M. Ribeiro & L. L. Melo-Silva (Orgs.), Compêndio de orientação profissional e de carreira: Enfoques teóricos contemporâneos e modelos de intervenção (Vol. 2, pp. 155-192). São Paulo, SP: Vetor.         [ Links ]

Melo-Silva, L. L., & Jacquemin, A. (2001). Intervenção em orientação vocacional/profissional: Avaliando resultados e processos. São Paulo, SP: Vetor.         [ Links ]

Melo-Silva, L. L., Oliveira, J. C., & Coelho, R. S. (2002). Avaliação da orientação profissional no desenvolvimento da maturidade na escolha da profissão. Psic, 3(2), 44-53.         [ Links ]

Moura, C. B., Sampaio, A. C. P., Gemelli, K. R., Rodrigues, L. D., & Menezes, M. V. (2005). Avaliação de um programa comportamental de orientação profissional para adolescentes. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 6(1), 24-40.         [ Links ]

Müller, M. (1988). Orientação vocacional: Contribuições clínicas. Porto Alegre, RS: Artes Médicas.         [ Links ]

Munhoz, I. M. S., & Melo-Silva, L. L. (2011). Educação para a carreira: Concepções, desenvolvimento e possibilidades no contexto brasileiro. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 12(1), 37-48.         [ Links ]

Neiva, K. M. C. (1998). Escala de maturidade para a escolha profissional (EMEP): Estudo de validade e fidedignidade. Revista Unib, 6, 43-61.         [ Links ]

Neiva, K. M. C. (1999). Escala de maturidade para a escolha profissional. São Paulo, SP: Vetor.         [ Links ]

Neiva, K. M. C. (2003). A maturidade para a escolha profissional: Uma comparação entre alunos do ensino médio. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 4(1), 97-103.         [ Links ]

Neiva, K. M. C. (2007). Processos de escolha e orientação profissional. São Paulo, SP: Vetor.         [ Links ]

Neiva, K. M. C. (2008). Critérios para a escolha profissional (2a ed.). São Paulo, SP: Vetor.         [ Links ]

Neiva, K. M. C., & Spaccaquerche, M. E. (2009). Reconhecendo quem eu sou. In M. E. Spaccaquerche & I. Fortim (Eds.), Orientação profissional: Passo a passo (pp. 145-149; 245-247). São Paulo: Paulus.         [ Links ]

Neiva, K. M. C., Silva, M. B., Miranda, V. R., & Esteves, C. (2005). Um estudo sobre a maturidade para a escolha profissional de alunos do ensino médio. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 6(1), 1-13.         [ Links ]

Nogueira, R. S. F. R. (2004). Avaliação da informação profissional no processo de orientação profissional via internet (Dissertação de mestrado não publicada). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC.         [ Links ]

Oliveira-Cardoso, E. A., Melo-Silva, L. L., Piovesani, F. P., & Santos, M. A. (2010). Orientação vocacional/profissional e psicoterapia: Alternativas mutuamente excludentes ou complementares? Psico, 41(2), 214-221.         [ Links ]

Pichon-Rivière, E. (1995). Teoria do vínculo. São Paulo, SP: Martins Fontes.         [ Links ]

Pichon-Rivière, E. (2009). O processo grupal (8a ed.). São Paulo, SP: Martins Fontes.         [ Links ]

Ribeiro, A. M. (2011). Orientação profissional: Uma proposta de guia terminológico. In M. A. Ribeiro & L. L. Melo-Silva (Orgs.), Compêndio de orientação profissional e de carreira: Enfoques teóricos contemporâneos e modelos de intervenção (Vol. 1, pp. 23-66). São Paulo, SP: Vetor.         [ Links ]

Silva, C. S., Ourique, L. R., Oliveira, M. Z., Reis, M. P., & Lassance, M. C. (2008). Ressignificação da experiência em orientação profissional. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 9(1), 75-86.         [ Links ]

Silva, F. F. (2010). Construção de projetos profissionais e redução da vulnerabilidade social: Subsídios para políticas públicas de orientação profissional no ensino médio (Tese de doutorado não-publicada). Universidade de São Paulo, São Paulo, SP.         [ Links ]

Soares, D. H. P. (2010). Técnicas e jogos para utilização em grupos de orientação. In R. S. Levenfus & D. H. P. Soares, Orientação vocacional ocupacional (2a ed., pp. 260-273). Porto Alegre, RS: Artmed.         [ Links ]

Spaccaquerche, M. E., & Fortim, I. (2009). Orientação profissional: Passo a passo. São Paulo, SP: Paulus.         [ Links ]

Super, D. E. (1955). Dimensions and measurement of vocational maturity. Teachers College Record, 57(3), 151-163.         [ Links ]

Teixeira, M. O., & Calado, I. (2010). Avaliação de um programa de educação para a carreira: Um projecto de natureza exploratória. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 11(2), 213-218.         [ Links ]

Valore, L. A. (2010). Orientação profissional em grupo na escola pública: Direções possíveis, desafios necessários. In R. S. Levenfus & D. H. P. Soares, Orientação vocacional ocupacional (2a ed., pp. 65-81). Porto Alegre, RS: Artmed.         [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência:
Rua Maria do Carmo Catunda, 167, bloco 02, apto 12, Jardim São Paulo
50910-270, Recife-PE
Fone: 81 8829 8843
E-mail: christiane.r.oliveira@gmail.com

Recebido: 19/03/2012
1ª revisão: 05/09/2012
Aceite final: 16/12/2012