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Revista Brasileira de Orientação Profissional

versão impressa ISSN 1679-3390

Rev. bras. orientac. prof vol.15 no.1 São Paulo jun. 2014

 

ARTIGO

 

O estatuto sociocultural familiar como vetor da decisão vocacional: promessas e (des)ilusões da entrada na educação superior

 

The family social-cultural status as vector of career decision: Promises, illusions and disillusions in higher education access

 

El estatuto sociocultural familiar como vector de decisión vocacional: promesas y (des)ilusiones de la entrada en la educación superior

 

 

Diana DiasI; Maria José SáII

ILaureate International Universities, Universidade Europeia, Lisboa, Portugal
IICentro de Investigação de Políticas do Ensino Superior (CIPES), Porto, Portugal

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

A família desempenha uma influência incontornável na construção vocacional dos estudantes da educação superior (ES), enquanto instância primeira da sua socialização. Este artigo apresenta uma análise qualitativa de entrevistas realizadas a estudantes, com o objetivo de apreender a relação do estatuto sociocultural da família com a escolha académica, bem como o significado percebido na família da entrada de um dos seus elementos na ES. Optando por uma metodologia de cariz qualitativo, a amostra deste estudo é constituída por 30 estudantes a frequentar a ES há seis meses, numa das universidades portuguesas mais conceituadas. Os resultados demonstram que os estudantes são oriundos, na sua maioria, de classes económicas, culturais e sociais elevadas. Este seria o "caminho lógico", para quem herdaria, na idade adulta, não apenas o capital económico, mas também o capital relacional. Os recursos educativos e económicos das famílias dos estudantes são fatores-chave nos processos de escolha e matrícula na ES.

Palavras-chave: educação superior, mobilidade social, estudantes universitários, família de origem, escolha profissional


ABSTRACT

Family has an undeniable influence upon the career construction of college students, since it is a primary source of their socialization. This article presents a qualitative analysis of interviews conducted with students, aimed at understanding the relationship between family social-cultural status and academic choice and the perceived meaning in the family of the enrolment of one of their members in college. Making a clear choice for a qualitative methodology, the sample of this study is composed of 30 students enrolled in higher education for more than six months in one of the most prestigious Portuguese universities. Results show that college students came mainly from economic, cultural and social upper classes. It was a "logical path", for those who would inherit, in adulthood, not only the economic capital, but also the relational capital. The educational and economic resources of the students' families are key factors in college enrollment.

Keywords: higher education, social mobility, college students, family of origin, vocational choice


RESUMEN

La familia desempeña una influencia inevitable en la construcción vocacional de los estudiantes de la educación superior (ES), al igual que en la primera instancia de su socialización. Este artículo presenta un análisis cualitativo de entrevistas realizadas a estudiantes, con el objetivo de aprehender la relación del estatuto sociocultural de la familia con la elección académica, y también con el significado percibido por la familia de la entrada de uno de sus integrantes en la ES. Optando por una metodología de aspecto cualitativo, la muestra de este estudio está constituida por 30 estudiantes que frecuentan la ES hace 6 meses, en una de las universidades portuguesas más destacadas. Los resultados demuestran que los estudiantes son oriundos, en su mayoría, de clases económicas, culturales y sociales altas. Este sería el "camino lógico", para quien heredaría en la edad adulta, no solo el capital económico, sino también el capital relacional. Los recursos educativos y económicos de las familias de los estudiantes son factores claves en los procesos de elección e inscripción en la ES.

Palabras clave: educación superior, movilidad social, estudiantes universitarios, familia de origen, elección profesional


 

 

O acesso à Educação Superior (ES) tem vindo a ser alargado a grupos sociais que, há alguns anos atrás, detinham baixas aspirações e expetativas de ingresso num sistema de ensino vocacionado apenas para algumas poucas elites detentoras desse privilégio social. Atualmente, novos públicos com origens familiares diferenciadas têm acesso ao ES, trazendo consigo novas expetativas, metas e estratégias de sobrevivência.

A família desempenha uma influência incontornável na construção vocacional dos estudantes do ES, enquanto instância primeira da sua socialização. Assim, o seu papel é fundamental na vida dos estudantes do ES, os quais vivenciam um período de desenvolvimento no qual se vêem confrontados com a tarefa de desvinculação face às figuras paternais (Tavares, 2008).

O presente artigo apresenta a análise qualitativa dos resultados de entrevistas que foram realizadas a estudantes deste nível de ensino, visando compreender a relação do estatuto sociocultural da família com a decisão vocacional e a perceção do estudante quanto ao significado da sua entrada na ES na sua família. Desta forma, o trabalho pretende também perceber o modo como as origens socioculturais das famílias influenciam as escolhas dos estudantes.

Este estudo pretende constituir uma possibilidade de esclarecimento de quais são as ilusões e as expetativas das famílias, segundo o discurso dos estudantes, face às promessas veiculadas pela ES. Esta constitui a questão chave deste artigo, que tenta explorar, através da análise qualitativa dos discursos dos estudantes, o duplo significado da entrada na ES: pela família (da escolha e construção da identidade do jovem adulto) e na família (expetativas e mudanças sociais na vida familiar).

Ilusões de mobilidade social

Os estudantes matriculam-se na ES com base num conjunto vasto e diferenciado de razões, incluindo considerações intelectuais, económicas e sociais; porém, as formas como essas razões afetarão a decisão da matrícula variam. Para alguns estudantes, a sua matrícula é inquestionável, pois normalmente os seus pais possuem formação académica de nível superior, e percebem este nível de ensino como "a etapa seguinte, lógica, esperada e desejada no percurso em direção à realização pessoal e profissional" (Terenzini et al., 1994). Para outros, a entrada representa uma tentativa deliberada no sentido de melhorar a sua posição social, económica e profissional. Muitos destes estudantes são os primeiros elementos das suas famílias a matricular-se na ES. Para estes "estudantes de primeira geração" (EPG), a ES oferece, simultaneamente, oportunidade e risco, uma vez que representa um afastamento das tradições familiares.

Já na década de 1960, Girard e Bastide (1963) e Montlibert (1968) referem-se à necessidade de um acesso mais democrático à educação e reconhecem a ligação entre a origem das famílias e o acesso aos diferentes níveis educativos, deixando antever preocupações com a igualdade e a justiça social. Também Perrenoud (1995) refere que "os estudos longos foram um modo de socialização quase exclusivo da burguesia". Na verdade, com raras excepções de estudantes de reconhecido mérito provenientes das classes populares e das classes médias, os estudantes da ES eram oriundos principalmente de classes favorecidas em termos económicos, culturais e sociais (Almeida, Marinho-Araújo, Amaral, & Dias, 2012; Sá, Amado, Justino, & Amaral, 2011; Tavares, Tavares, Justino, & Amaral, 2008). Este seria o "seguimento lógico", para quem herdaria, na idade adulta, não apenas o capital económico (riqueza financeira), mas também o capital relacional (rede de relações e contactos) e ainda todo um capital cultural (acesso e usufruto de bens culturais) transmitido simultaneamente por via familiar e por via escolar (Dias, 2012). Daí que Bourdieu e Passeron (1964) os designem por "herdeiros" (EH).

A ES como forma de mobilidade social ascendente?

A mobilidade social ou inter-geracional é, geralmente, definida como "a possibilidade de um indivíduo aumentar (ou diminuir) o valor do rendimento ou salário relativamente aos seus pais" (Organization for Economic Co-Operation and Development, 2010a, p. 182). Esta mobilidade está direta e intimamente relacionada com o sucesso educativo, dado que existe uma relação direta entre capital humano, produtividade e sucesso profissional (Blanden, Gregg, & Machin, 2005; Solon, 2004). Com efeito, o capital humano é fundamental para o rendimento e produtividade dos indivíduos, sendo a educação fundamental para que esse capital humano seja conseguido. Assim, o sistema educativo em geral, e o sistema de ES em particular, são fatores-chave na possibilidade de todos os cidadãos terem acesso à mobilidade social ascendente. De facto, um dos principais objetivos da ES é promover a mobilidade social. Desta forma, as instituições de ES devem procurar munir os seus estudantes de motivação, capacidade e competências, independentemente da sua origem socioeconómica, bem como prestar-lhes serviços educativos e preparação académica de elevada qualidade (Haveman & Smeeding, 2006). No entanto, este objetivo parece ser, de alguma forma, debilitado, dado que, nomeadamente nos Estados Unidos, verifica-se uma elevada e preocupante concentração na ES de jovens oriundos de famílias pertencentes a classes sociais superiores e com elevados rendimentos. A explicação para este fenómeno de crescente desigualdade parece residir em dois fatores principais. Por um lado, cada vez mais os pais com rendimentos mais elevados investem fortemente em termos de tempo, dinheiro e influência para garantir o sucesso académico dos seus filhos desde o dia em que estes se inscrevem no jardim-de-infância e durante todo o seu percurso através do sistema educativo. Por outro lado, os jovens provenientes de famílias com menor capital cultural iniciam o "jogo da ES" (Haveman & Smeeding, 2006, p. 128) mais tarde, dado não possuírem os recursos e muitas opções que possuem os seus homólogos das classes superiores. Assim, embora existam alguns estudantes de baixo rendimento que, por via da sua resistência e capacidade intelectual, conseguem ter sucesso no ES, a desigualdade continua a ser muito visível. Esta situação ocorre também na Europa, nomeadamente no Reino Unido, onde um estudo realizado por Blanden et al. (2005) mostra que, nas últimas décadas, tem havido uma queda no que se refere à mobilidade social, dado que os jovens provenientes de famílias carenciadas têm, atualmente, menor propensão para se desligarem das suas origens socioeconómicas e realizar uma mobilidade ascendente do que teriam no passado (Blanden et al., 2005). Deste modo, impõe-se a questão: será que "o dinheiro importa" no acesso e sucesso na ES, ou serão as famílias mais abastadas que produzem crianças mais educadas porque a educação, motivação e outras caraterísticas dos pais ou da cultura familiar são diferentes?

Diversos autores (Balsa, Simões, Nunes, Carmo, & Campos, 2001; Dubet, 1994) têm demonstrado que o sistema educativo, não obstante o discurso de mobilidade social ascendente, de facto, funciona de uma forma que, em grande parte, reproduz as desigualdades sociais, em lugar de as atenuar. Efetivamente, dados da União Europeia (Eurostudent, 2005) indicam que o acesso à ES é mais elevado quanto maior for o nível educacional do pai ou da mãe. Seja qual for o país em questão, o perfil é semelhante: proporcionalmente, na ES, existem mais jovens provenientes de famílias onde um dos progenitores possui já um diploma de educação superior e menos jovens provenientes de famílias onde um dos progenitores possui um diploma de ensino básico. Bourdieu e Passeron (1964) afirmam que:

Um cálculo aproximado das oportunidades de acesso à ES de acordo com a profissão do pai mostra que estas variam de menos de uma hipótese em cem para os filhos de assalariados agrícolas a cerca de setenta para os filhos de industriais e a mais de oitenta para os filhos de membros das profissões liberais (p. 11).

Na década de 1980, Bourdieu (1983), ao postular a sua teoria dos "campos sociais", considera o campo educativo como um campo particularmente estratégico, no que diz respeito aos fenómenos de mobilidade social e de reequilíbrios da estrutura do capital global. De acordo com esta perspetiva, os graus académicos superiores estariam intimamente relacionados com um maior prestígio social e também com uma rentabilidade económica mais elevada, daí que se afigurassem como um alvo de investimento, em termos de capital cultural, por parte das famílias que aspiram a que os seus filhos ingressem na ES. Girard e Bastide (1963) concluem, através dos seus estudos empíricos, que os jovens cujos pais possuem um diploma de estudos superiores têm maiores probabilidades de prosseguir os seus estudos até à ES, ao contrário de jovens cujos pais não possuem este tipo de diplomas, os quais, na maioria das vezes, são vítimas do insucesso escolar. Assim, o volume de capital económico familiar, traduzido em património e rendimento total, parece estar menos correlacionado com o sucesso escolar dos filhos do que o volume de capital cultural, medido pelo tipo de qualificação académica dos pais. Para Bourdieu e Passeron (2008), a classe dominante (nos seus termos, a grande burguesia), cujo capital é fundamentalmente económico, não primando pelo seu nível de capital cultural (os novos ricos, na linguagem de senso comum) sente-se ameaçada, no campo educativo, pela pequena burguesia ascendente, que detém essencialmente capital cultural que lhe permite aceder a profissões que exigem qualificações de nível superior (por exemplo, Medicina, Engenharia e Ensino). Perante tal ameaça, e na tentativa de manter a sua posição dominante na sociedade, a grande burguesia estabelece estratégias para reconverter o seu capital económico em capital cultural (Bourdieu, Passeron, & Saint Martin, 1968). Esta conversão é tanto mais veemente quanto mais o acesso a posições de liderança ou de direção implicar a certificação de um diploma de ES. Assim, as crianças oriundas das classes dominantes tendem a ser impelidas a prosseguir os seus estudos até níveis mais elevados, dissimulando, de alguma forma, o pobre capital cultural que caraterizava os seus pais, e investindo o seu capital económico, não só na aquisição de livros ou obras de arte, mas também na "utilização intensiva e seletiva" das melhores Escolas, explicadores e assim por diante. Por outro lado, esta tentativa de reequilíbrio social do capital global implica também a escolha criteriosa dos diplomas mais rentáveis, obtidos nas mais prestigiadas instituições de ES, com o objetivo de ocupar posições de liderança na arena económica. Assim, as classes dominantes mantêm a sua supremacia com base no jogo económico, não obstante o facto de que, para o vencerem, tenham tido a necessidade de encontrar estratégias para rentabilizar o seu capital cultural.

A chamada pequena burguesia ascendente continua, portanto, a reproduzir-se enquanto tal, não conseguindo ver os seus filhos ascender a cargos de chefia (conquistados, entretanto, pela grande burguesia, eterna proprietária do capital económico, e recente detentora de capital cultural), remetendo as suas aspirações de promoção para as gerações seguintes. Num trabalho mais recente, Bourdieu (1989, p. 386) argumenta que a reconversão do capital económico em capital cultural permite às classes dominantes consolidarem a sua legitimidade simbólica, assumindo o campo da educação um papel fundamental na reprodução do poder.

De elitismo à democratização: a arena portuguesa da ES

Nas últimas quatro décadas, foram envidados vários esforços para a democratização do sistema português de Educação Superior. No entanto, Portugal ainda tem indicadores educacionais baixos, sobretudo quando comparado com outros países europeus. Segundo dados da OCDE (2010b), Portugal apresentava, em 1998, a percentagem mais elevada (82%) de escolaridade abaixo do ensino secundário (para a população entre os 25 e os 64 anos de idade) entre os países da OCDE. Embora este valor tenha melhorado ao longo da última década (em 2008, esta taxa baixou para 72%), ainda é significativamente superior à média da OCDE (29%). Ou seja, apesar do progresso contínuo na taxa de crescimento médio anual na proporção (2008-1998), Portugal ainda não conseguiu superar a pesada herança dos 50 anos de ditadura.

Com efeito, a revolução democrática de 1974 encontrou na ES portuguesa um sistema elitista, com uma taxa de participação muito baixa (cerca de 7%), sendo a maioria dos seus estudantes oriunda de classes socioeconómicas elevadas. O sistema de ES passou por profundas reformas com o objetivo de tentar eliminar as suas caraterísticas de sistema elitista e seletivo, com vista ao desenvolvimento de um acesso mais democrático e à promoção do progresso social e económico. Portugal também fez um esforço significativo em termos de alargamento do acesso à ES, o que resultou numa taxa de crescimento anual das matrículas sem paralelo em outros países europeus (em torno de 6% em Portugal, em comparação com cerca de 3% para a UE15) (Eurydice, 2005).

Apesar de todas as reformas e esforços por parte do Governo português no sentido da promoção do acesso e de iguais oportunidades de sucesso, a análise dos indicadores socioeconómicos demonstra que a origem das famílias dos estudantes influencia fortemente o acesso à ES. Deste modo, Portugal está longe de ter um sistema justo de acesso à ES. De facto, os dados mostram que um estudante proveniente de uma família com capital sociocultural elevado tem uma probabilidade de se matricular na ES cerca de 10 vezes maior que a de um estudante de uma família com recursos inferiores (Tavares et al., 2008). De entre os países europeus, Portugal tem a percentagem mais elevada de estudantes provenientes de famílias que possuem graus de ensino ao nível da licenciatura (Eurostudent, 2005).

Os mais recentes dados estatísticos disponíveis (Base de Dados Portugal Contemporâneo - PORDATA, 2013) indicam que, na população portuguesa com mais de 65 anos, somente 6% possuem um diploma universitário. No entanto, os estudantes matriculados na ES cujos pais possuem um diploma deste nível estão sobrerrepresentados (1,5 no rácio do nível de escolaridade mais elevado dos pais dos estudantes comparado com a população em geral (na faixa dos 40 a 60 anos). Pelo contrário, os filhos das classes com níveis de escolaridade inferiores encontram-se subrepresentados na população universitária (0,7 no rácio do nível de escolaridade mais elevado dos pais dos estudantes comparado com a população em geral (na faixa dos 40 a 60 anos) (Bohonnek et al., 2010).

Os recursos educativos e económicos das famílias dos estudantes parecem constituir factores fundamentais na frequência da ES. Conforme mencionado, é também em Portugal (Eurostudent, 2005) que o nível educacional dos pais dos estudantes tem uma forte influência nas suas decisões de se matricularem ou não na ES, bem como nas suas escolhas no que se refere ao tipo de instituição e ao curso.

A análise dos fatores que consubstanciam a possível relação entre a decisão de escolha e a estrutura socioeducativa da família mostrou que, quanto mais elevada for a formação académica da família do estudante, maior é a importância da sua opinião (Tavares et al., 2008). Por outro lado, a relevância das opiniões de amigos tende a aumentar à medida que a formação académica da família do estudante diminui. Pode observar-se uma tendência semelhante na análise feita com base na estrutura socioeconómica familiar (Tavares et al., 2008). Estas tendências globais/transpessoais, reportadas pela bibliografia, apesar da sua importância, não explicam a totalidade do fenómeno que relaciona o estatuto familiar com a decisão de entrada na ES.

O nível sociocultural familiar e a tomada de decisão vocacional

À abordagem transpessoal referida na secção anterior, torna-se importante justapor uma abordagem intrapessoal associada à decisão vocacional, ainda que com ligações incontornáveis às relações interpessoais. Nos estudos sobre desenvolvimento vocacional de jovens (Gonçalves & Coimbra, 2007; Pocinho, Correia, Carvalho, & Silva, 2010; Whiston & Keller, 2004), a família assume-se como um incontornável fator não só para a decisão vocacional, mas também para o próprio desenvolvimento e gestão de carreira. Aliás, a literatura científica é profícua em investigações que relacionam especificamente o nível social familiar com a decisão vocacional dos seus filhos. Crockett e Bingham (2000) e Mau e Bikos (2000) antecipam, nos seus estudos, uma relação entre as aspirações vocacionais e o estatuto social familiar. Na verdade, no contexto das relações familiares, as representações parentais são, intencional ou involuntariamente, transmitidas aos filhos (O'Brien, Friedman, Tripton, & Linn, 2000). Segundo Pocinho et al. (2010), na base de tal transmissão está a valorização das dimensões que os pais consideram mais relevantes para o sucesso profissional (tais como o prestígio, a independência, o salário e a realização pessoal, entre outras), bem como os estereótipos profissionais e os significados atribuídos ao trabalho.

Pocinho et al. (2010) defendem que a influência da família nas aspirações vocacionais dos jovens pode manifestar-se não só através dos conceitos familiares sobre os valores, as regras e limites, crenças, tradições e mitos, mas também na quantidade e qualidade da informação fornecida sobre as profissões e o mundo do trabalho. Os mesmos autores salientam a importância da dimensão relacional do contexto familiar no processo de desenvolvimento vocacional, a qual influencia a exploração da relação do jovem consigo próprio e com os vários contextos da sua vida, e, portanto, das oportunidades com que se depara. Já na década de 1980 se reconhece que um sistema educativo com regras rígidas pode originar um sistema familiar fechado, dificultando o crescimento e a possibilidade de novas experiências (Bratcher, 1982). Na década seguinte, Young (1994) salienta que, em contextos familiares em que existe uma dimensão relacional pobre, nomeadamente em termos de comunicação, o desenvolvimento vocacional dos jovens é dificultado. Ao contrário, ambientes familiares relacionalmente ricos e promotores de um equilíbrio entre momentos de apoio e desafio constituem-se como facilitadores do desenvolvimento vocacional (Young, Valach, Ball, Turktel, & Wong, 2003).

Questões e pistas de pesquisa

O propósito do presente estudo é contribuir para uma melhor compreensão da relação entre o estatuto sociocultural da família e a escolha académica, bem como a perceção do estudante quanto ao significado na família da sua entrada na ES. Esta constitui a pergunta chave deste estudo, que explora, através da análise qualitativa dos discursos dos estudantes, o significado percebido da entrada no ES nas expetativas da família no que se refere a mudanças sociais. É, portanto, importante compreender as razões que estão na base das escolhas dos estudantes, as necessidades e aspirações percebidas, e a forma como os estudantes são constrangidos, especialmente pela família. É igualmente relevante entender como as suas escolhas podem ser condicionadas por factores tais como os seus antecedentes socioculturais.

Assim, foram concebidas pistas de pesquisa para o presente estudo, que funcionam essencialmente como pistas de análise:

1. As famílias com nível sociocultural superior, ou seja, com formação académica de nível superior e atividade profissional do mesmo nível, tendem a perceber a entrada na ES como o caminho natural dos seus filhos.

2. As famílias com baixo nível sociocultural, ou seja, com escolaridade obrigatória e atividade profissional indiferenciada, tendem a perceber a entrada na ES como uma forma de mobilidade social ascendente.

 

Método

Conforme mencionado anteriormente no referencial teórico, foram realizados em Portugal alguns estudos de natureza quantitativa (Balsa et al., 2001; Tavares et al., 2008), ligando as origens familiares com as escolhas de entrada na ES. No entanto, embora esses estudos quantitativos e qualitativos revelem uma ligação visível entre estas duas variáveis, não permitem compreender os significados subjacentes, para as famílias, das escolhas de entrada na ES. Esta limitação poderá ser superada com recurso a uma abordagem qualitativa, que permite uma melhor compreensão da relação entre o estatuto sociocultural da família e a escolha académica, bem como o significado percebido na família da entrada de um dos seus elementos na ES.

Participantes

Este estudo visou estudantes do primeiro ano matriculados em LEEC, que se encontravam a frequentar a ES há seis meses, numa das universidades portuguesas mais conceituadas. De facto, em Portugal, os cursos ligados à engenharia continuam a ser um campo científico muito prestigiado e popular para os candidatos à ES (Tavares, 2008) e o acesso a eles encontra-se limitado aos melhores candidatos a nível nacional.

A amostra foi constituída por 30 estudantes. Em termos de procedimento amostral, uma preocupação subjacente ao estudo era a de ter acesso a uma lista da população total dos caloiros inscritos em LEEC, classificados de acordo com a sua nota de acesso. A população total era composta por 172 indivíduos. Foi selecionado o método de amostragem probabilística, utilizando uma amostra aleatória estratificada, selecionando cada quatro elementos do universo de acordo com sua regularidade. Assim, a amostra final foi composta por um quarto da população total. Esta opção metodológica pretendeu que a amostra assumisse uma distribuição homogénea, não só em relação às diferentes classificações de acesso, mas também, por via da sua natureza aleatória, a outras variáveis, tais como sexo, idade, origem sociocultural e socioeconómica, entre outras.

Os participantes eram 25 homens e 5 mulheres, uma distribuição de género que é idêntica à da população, com 22% de mulheres. Com uma idade média de 19 anos numa faixa dos 18 aos 20 anos (desvio padrão de 1), a composição étnica da amostra foi de 100% caucasianos. A análise dos indicadores socioeducativos evidenciou a prevalência de estudantes provenientes de famílias com nível educativo mais baixo (ver Tabela 1).

 

 

Na Tabela 2, apresenta-se a distribuição da amostra em função dos grupos profissionais do pai, usando como referência a Classificação Portuguesa das Profissões (Instituto Nacional de Estatística, 2011).

 

 

Instrumento

O método escolhido para a recolha de dados foi uma entrevista semiestruturada, dado que este constitui um caminho privilegiado para captar e compreender a riqueza, complexidade e significados do processo de escolha dos estudantes. Este tipo de entrevista oferecia tópicos e perguntas aos entrevistados, mas as mesmas foram cuidadosamente projetadas de forma a retirar dos entrevistados ideias e opiniões sobre o tema em estudo, em lugar de os conduzir em direção a opções pré-concebidas. A entrevista foi concebida em função do referencial teórico adotado e foi alvo de sucessivas alterações em função dos vários pré-testes e da reflexão falada a que foi submetida. Só após a validação do instrumento por investigadores cegos, a entrevista foi, de facto, implementada. Este instrumento insere-se no âmbito de um projeto mais amplo que visa analisar a integração de estudantes do primeiro ano na ES. No entanto, os dados analisados para este artigo representam apenas uma parte de todos os dados, e lidam, especificamente, com a perceção do significado da entrada na ES nas famílias dos estudantes. Assim, os estudantes da amostra foram questionados, não só sobre as suas caraterísticas demográficas (nomeadamente formação e profissão da família nuclear), mas também sobre a sua perceção sobre o impacto simbólico da sua matrícula na ES. Neste contexto, o foco incidiu sobre as emoções e sentimentos que os estudantes perceberam nos seus familiares. Os estudantes foram questionados diretamente sobre os seus antecedentes familiares, quer em termos educativos, quer económicos. A entrevista explorou também a possível relação entre o estatuto sociocultural da família e a escolha académica, questionando os estudantes sobre o significado para si e para a sua família da entrada na Universidade, distinguindo se se tratava de estudantes de 1ª geração.

Procedimentos

Num primeiro momento, foi enviada aos estudantes seleccionados uma carta institucional, solicitando a sua participação na investigação e explicando o seu propósito geral, tendo sido sublinhada a confidencialidade da sua contribuição potencial. Dos 43 estudantes contactados, foram obtidas 32 confirmações de participação, o que resultou em 30 entrevistas efetivamente realizadas. A mortalidade experimental foi de 13 indivíduos (11 estudantes que não responderam ao pedido e duas gravações de áudio consideradas tecnicamente excluídas).

Análise dos dados

A análise dos dados foi realizada através de análise de conteúdo, com recurso ao software QSR NUD*IST Vivo (NVivo), privilegiando uma abordagem semântica sobre uma sintática. As transcrições das entrevistas foram codificadas de acordo com um conjunto de temas e foram analisadas utilizando uma abordagem de comparação constante (Glaser, 1992). Os dados foram codificados por parágrafo e frase, de acordo com o proposto por Strauss e Corbin (1990). A análise começou por codificar as transcrições e desta codificação emergiram as categorias. A credibilidade e possibilidade de transferência foram abordadas de três formas: (a) por meio de entrevistas convergentes e categorias nativas, (b) selecionando citações e casos contrários, e (c) no uso de tabulações. A redução de dados na pesquisa qualitativa é uma tarefa necessária, tendo sido selecionados excertos de transcrições para ilustrar os pontos de vista dos entrevistados. As categorias dos próprios participantes foram tabuladas com base nas sugestões de Silverman (2000).

 

Resultados e Discussão

Para melhor entender a relação entre o estatuto sociocultural familiar e a escolha académica, bem como o significado percebido pelo estudante na família da sua entrada na ES, foram explorados os resultados da análise de conteúdo considerando as pistas de investigação acima mencionadas. No quadro seguinte, apresentam-se os resultados da análise de conteúdo realizada às narrativas dos estudantes.

Estudantes primeira geração: Expetativas e confrontos

Uma das pistas da presente pesquisa afirma que as famílias com baixo nível sociocultural tendem a perceber a entrada na ES como uma forma de mobilidade social ascendente. Assim, a análise começa com a exploração dos discursos dos EPG sobre o significado da sua entrada na ES para a sua família. Estes são os pioneiros na sua família nuclear a ingressar na ES, e que, na amostra do presente estudo, representam 63% dos casos. Tomando de empréstimo as palavras de Dubet (1994, p. 214), estes poderiam ser considerados como "os novos estudantes", aqueles que são os grandes beneficiários do processo de massificação do ensino.

Nuno, tal como 78% dos EPG, refere-se à sua entrada na ES como "A realização de um sonho meu e da minha família". Por sua vez, Fernando afirma: "Foi bom. Uma alegria. Dá-me a possibilidade de um caminho melhor, depois no trabalho. É melhor ter um curso superior, arranja-se depois com mais facilidade um emprego melhor. Pelo menos é o que os meus pais não se cansam de me dizer..."

Pedro vai ainda mais longe, ao prever as mais-valias de ingressar na ES: "É ter uma vida melhor do que os meus pais". Afinal, como ele próprio diz, "entrar para aqui é evoluir um bocado na vida. Parece que as pessoas até já nos têm outro respeito. É bom! Sentimo-nos bem". Além disso, afirma que, para sua família, o facto de ter entrado na ES teve um significado especial: "É um sonho realizado para os meus pais: eles sempre quiseram ter um filho na Universidade. E para mais engenheiro! Parece que não fui só eu que cá entrei, entraram todos, a família toda. Sinto-me orgulhoso disso, de os fazer ficar orgulhosos." Estas palavras representam o significado atribuído aos títulos académicos como forma de acumulação de capital cultural, que parece pressupor um consequente aumento do capital social e económico. Stoer (1990) refere que todo o processo de construção das aspirações sociais, que se desenvolve a montante da integração profissional, é necessariamente influenciado e condicionado pela relação ideológica com os futuros profissionais possíveis. Assim, todo o processo de construção das aspirações sociais reflete diversos fatores, tais como:

  • Modalidades de relação salarial ("Uns amigos do meu pai [] disseram-me que se ganhava muito bem", Carlos, filho de um electricista);
  • Tendências e flutuações da oferta de trabalho ("São cursos que não foi por vocação, mas mais por saídas profissionais, um bom futuro. Mas acho que as saídas profissionais estão sempre a crescer e a eletrónica está sempre a mudar, em constante desenvolvimento e terei um bom emprego", Fábio, o filho de pais graduados);
  • Modos de gestão da força de trabalho ("Gostava de trabalhar por minha conta, detesto 'ser mandado'. Pensei em ser engenheiro civil para poder ser o meu próprio patrão. Não foi pelas matérias, nem pelos temas, mas porque talvez fosse mais fácil trabalhar por minha conta", Carlos).

 

 

No entanto, a ascensão que as famílias esperam da frequência da ES por parte dos seus filhos vai para além da simples ascensão económica e social. Há também a crença na mudança social que ela poderá implicar (Dias & Sá, 2012a). Jorge, cujos pais possuem o 9º ano de escolaridade, confidencia:

"Acho que é bom para ele [pai] saber que um dos filhos segue a sua profissão, ou melhor, a sua área com uma posição melhor. Ele diz sempre: vais ser um engenheiro daqueles que sabem o que fazem, não é como uns que eu conheço, que têm muita teoria na cabeça, mas não sabem deitar a mão a nada. Ele diz também que tenho de respeitar as pessoas que andam há mais tempo na profissão, ainda que não tenham curso nenhum, porque eles têm o curso da vida. É isso..."

Trata-se, portanto, de uma nova herança que se traduz numa missão social (distante do conceito de Herdeiros de Bourdieu e Passeron, 1964), pela qual a sua ascensão social implicaria uma nova forma de relacionamento interclasses. A herança das suas origens na classe operária funcionaria como um mote para a transformação da tipologia das relações hierárquicas entre o operário executor e o seu superior executivo, reconfigurando a sua relação com base no respeito mútuo e no trabalho em equipa, em que é atribuída a cada membro a real valorização da sua contribuição para o resultado final, o qual emerge de um esforço conjunto.

A Meta dos Herdeiros: um curso com prestígio

Relativamente à primeira pista de pesquisa, segundo a qual as famílias com origens socioculturais elevadas tendem a perceber na entrada na ES como o caminho natural dos seus filhos, a presente análise regressa agora às palavras dos estudantes, mas desta vez filhos de pais licenciados, para quem o prosseguimento para a ES é visto como uma inevitabilidade. São estes os "herdeiros" de Bourdieu e Passeron (1964) que têm uma forte predisposição para fazer da ES num percurso obrigatório no seu processo desenvolvimental. Salvador afirma, referindo-se à sua família: "Entrar na Faculdade não significa nada de especial para eles. Se eu não conseguisse entrar é que era um trinta e um e aí significava de certeza, mas assim era mais ou menos certo".

Alexandra conclui que mesmo que o facto de os seus pais terem cursos superiores é uma vantagem para si, na medida em que, conhecendo as especificidades de frequentar este grau de ensino, estão numa melhor posição para compreender as suas potenciais dificuldades. José vai ainda mais longe nas suas posições sobre a sua pertença a uma família de um nível sociocultural elevado, evidenciando a mais-valia da partilha de opiniões entre pessoas com uma preparação cultural significativa: "É bom termos pessoas cultas na família, temos com quem conversar e trocar ideias. Estão mais atentas ao mundo."

O destino desses EH parece indelevelmente atraído para a ES. Caso contrário, o não cumprimento do seu destino, ou seja, a não prossecução de estudos, implicaria necessariamente uma nítida clivagem entre os valores e as normas do grupo "profissional/académico" de pertença e também os do grupo "social" de referência, similares, ou, pelo menos, próximos dos da família de origem. Frequentar a ES seria o caminho mais óbvio, porque coerente com a posição social de origem do jovem. Renunciar ou contornar o seu destino de estudantes da ES seria um fenómeno de contra-mobilidade social (Montlibert, 1968). Frequentar a ES assume-se, para estes EH, como uma transição esperada, um plano estruturado e aceite (Dias, 2011). Numa família de nível sociocultural elevado, a prossecução de estudos superiores por parte dos seus descendentes é visto como um acontecimento de vida normativo, esperado. Como Salvador sublinha, a simples possibilidade de que esse plano não fosse concretizado implicaria, desde logo, uma profunda desestruturação do núcleo familiar, na medida em que envolveria uma rutura no seu plano pré-determinado de manutenção ou mesmo de ascensão social. A assunção de um plano de vida que não implicasse frequentar a ES seria um duro golpe para o estatuto social de uma família de nível sociocultural elevado, já que estas famílias esperam que a ES conceda aos seus filhos um título que confirme o seu capital cultural, intimamente associado ao seu capital económico.

Significados da entrada na ES: do orgulho efusivo à ilusão quebrada

Esta inevitabilidade da prossecução dos estudos, expressa nos discursos dos estudantes, está associada a um sentimento de transição esperada e, dessa forma, desprovida de entusiasmo ou emocionalmente inexpressiva. O mesmo não acontece relativamente aos estudantes de primeira geração (Dias & Sá, 2011). Neste grupo, a alegria e o entusiasmo tendem a caraterizar a sua perceção do significado da entrada na ES no seio das suas famílias (Dias & Sá, 2012b). André conta: "A minha mãe não se cala: conta a toda a gente. O meu pai não sei: ele é mais calado. Mas ficaram todos contentes quando entrei na Faculdade de Engenharia. Acho que estão satisfeitos por eu ser estudante à séria". No caso de Carlos, não foi só a sua família ficou satisfeita com a sua entrada na ES: "O meu pai ficou todo contente e as minhas irmãs também. Para eles é um orgulho e têm-me dado todo o apoio. Até os meus vizinhos ficaram contentes. Não imaginava que a Faculdade de Engenharia fosse assim um símbolo tão especial para aquela gente". O Luís comenta que, para sua família, foi "também uma vitória. Sim, para eles também. No tempo deles era mais difícil. A minha mãe anda toda encantada".

No entanto, se o orgulho parece ser um traço comum às famílias que, pela primeira vez, veem um dos seus membros no mais elevado nível de ensino, para algumas delas isso significa simultaneamente dor, sofrimento e mesmo sacrifício (Dias & Sá, 2013). E os seus filhos estão plenamente conscientes desta situação. Regressando a Nuno, ele afirma: "Para mim é uma grande responsabilidade. E também para dar um gosto aos meus pais. Eles não têm grandes possibilidades, mas vão fazer todos os possíveis para me manter aqui... e para eu ser um Engenheiro de sucesso. A minha família tem muito orgulho nisso".

Porém, existem ainda famílias que, apesar de se estrearem na ES, não atribuem (ou, pelo menos, afirmam não atribuir) muita importância a esse facto. Josué constitui um bom exemplo destas famílias que parecem estar "desiludidas" com as promessas de mobilidade social veiculadas pela escola: "Não é nada de especial nem para mim, nem para eles. Não se sobe de posto. Não significa nada", afirma ele. David e a sua família são mais contidos, mas não deixam de relativizar e contextualizar a importância da entrada na ES: "Grande coisa. Se fosse há aqui uns anos, talvez, mas agora é demasiado vulgar entrar para a Faculdade. Os meus pais gostaram, mas também não fazem grande festa à volta do assunto, nem vão contar a toda a gente".

Por outro lado, há ainda outras famílias que jamais se desiludirão com o sistema educativo e com a sua pretensa capacidade de mobilidade social ascendente, já que, na verdade, partem sem qualquer ilusão. O exemplo de Lourenço parece paradigmático desta situação: "Os meus pais queriam que eu fosse trabalhar. Agora aceitam eu vir para a Universidade, principalmente o meu pai, mas sei que a minha mãe preferia que ficasse a trabalhar com eles, como o meu irmão casado. A minha mãe está sempre a dizer que depois não vou arranjar emprego". Pinto, Tedesco, Pais e Relvas (1999) apontam, exatamente, para a perceção que alguns jovens (que acabam por contagiar a sua própria família) têm da certificação escolar, desprovida de valor no presente e, possivelmente, sem valor no futuro. Na verdade, a valorização do prosseguimento de estudos versus a valorização do trabalho depende em grande medida do reconhecimento social do grupo de origem. Para determinados grupos sociais, a posse de um diploma académico assume-se como um bem posicional (Amaral, 2009), visto que o seu valor simbólico proporciona uma vantagem competitiva na procura de bons empregos, além de prestígio académico e destaque social. Stoer (1990), por sua vez, refere-se ao fenómeno da desvalorização dos diplomas (com imputação direta ao aumento contínuo da procura de bens escolares e à tendência ao prolongamento do tempo de escolarização), o que implica necessariamente a perda de valor e poder económico do capital escolar.

 

Considerações Finais

O presente estudo explorou, através da análise qualitativa dos discursos dos estudantes, a perceção do significado da entrada na ES nas expetativas da família relativamente a mudanças sociais, tentando perceber as motivações subjacentes às escolhas e aspirações dos estudantes. A relação entre as origens familiares socioculturais e as escolhas dos estudantes foi alvo de análise aprofundada.

A fim de validar a primeira pista de pesquisa (As famílias com nível sociocultural superior tendem a perceber a entrada na ES como o caminho natural dos seus filhos), procedeu-se à análise dos discursos dos EH. Na verdade, uma parte significativa (91%) dos agregados familiares dos caloiros inquiridos parece perceber a entrada na ES como um plano inquestionável para a vida de seus filhos. Os EH seguiram os passos das suas famílias, mantendo o seu estatuto sociocultural elevado e tentando assegurar uma disponibilidade financeira que é típica das classes altas. Esta é uma estratégia que, embora não visando ascensão social, visa à manutenção do seu estatuto elevado na sociedade. O paralelismo entre opções de formação e aspirações profissionais é bastante claro. José expressa claramente: "O meu padrasto e outras pessoas conhecidas minhas tiraram a Licenciatura aqui. Todas têm uma forma de estar na vida excelente, e eu gostava de seguir o exemplo." Portanto, e de acordo com os resultados, a ideia subjacente à primeira pista de pesquisa é totalmente confirmada.

Quanto à segunda pista de pesquisa (As famílias com baixo nível sociocultural tendem a perceber a entrada na ES como uma forma de mobilidade social ascendente), a análise dos resultados focaliza as palavras dos EPG. Assim, os filhos das famílias pertencentes às classes média e média-baixa (em termos não só de posse de capital económico, mas também de capital cultural, expresso através de diplomas escolares) percebem a ES como o passaporte para a sua mobilidade social ascendente. Ter um filho ou filha licenciados, neste caso, um engenheiro, cria nestas famílias a ilusão de um reconhecimento social da sua ascensão cultural. No entanto, vai para além disso, pois conduz também à ideia de uma promoção económica, dado que esperam que o grau académico a obter pode atuar como mediador para uma situação económica e profissional que é melhor do que a da família de origem. O fenómeno do "arrastamento social" que Pedro mencionava ("Parece que não fui só eu que cá entrei, entraram todos, a família toda") expressa claramente o pressuposto de que, através da maior qualificação de um dos seus membros, toda a família vê o seu estatuto social melhorado. Episódios descritos pelos entrevistados relatam exatamente este orgulho no descendente que se destaca, mas também nas próprias famílias que desempenharam o seu papel criando condições para ele/ela atingir a excelência. A expressão comum entre as famílias portuguesas de "oferecer um curso a um filho", mais do que clarificar a sua contribuição (financeira, mas também emocional) para a oportunidade de o seu filho frequentar a ES, confirma expressamente a pretensão da família em assumir-se, também, como protagonista da frequência da ES. De facto, vangloriar-se da entrada de um dos seus membros no mais elevado nível de ensino do sistema educativo funciona como uma forma de ostentação dessa ascensão social. Além disso, o significado da chegada de um de seus membros à ES é tão importante para estas famílias, que parece compensar todos os sacrifícios que um acontecimento destes implica, tais como a separação física. A ideia da ascensão a uma elite que é socialmente valorizada e prestigiada é tão importante para estes estudantes e suas famílias, que não desafiam ou questionam a sua validade prática. Em resumo, para estas famílias, ansiosas por progredir na hierarquia social, a ES parece funcionar como um meio credível e credenciado para não só culturalmente, mas também socialmente e até economicamente, qualificar-se. Assim, considerando os resultados acima descritos e analisados, a segunda pista de pesquisa também parece ser confirmada.

Contudo, não obstante esta confirmação, os resultados apontam para algumas nuances, quando a atenção está focada em famílias com baixo capital cultural, mas com estatuto socioeconómico elevado. Ao contrário dos exemplos acima mencionados que corroboram a segunda pista, para estas famílias, o facto de um dos seus descendentes se encontrar a frequentar a ES parece ser percebido como uma forma não segura de garantir uma estabilidade financeira no futuro, que já possuem no presente, e que é consequência dos esforços e sacrifícios da família no passado. O caso de Lucas parece exemplificar de forma notável esta situação. A sua família considera que ele deve "herdar" o negócio da família, que já havia sido testado e proporciona um bom suporte económico. Na verdade, o negócio da família é visto como uma conquista social e económica que ela pretende manter e, se possível, expandir pelos seus próprios filhos. A escolha do filho mais novo de ingressar na ES parece funcionar como uma "traição" por todos os anos de sacrifícios que permitiram alcançar o estatuto social presente, na medida em que ele não o valoriza, ao construir um plano de vida alternativo. Para esta família, é uma estratégia de quase contra-mobilidade social. A troca da estabilidade oferecida pela continuação dos passos dos seus pais por um investimento na ES sem a certeza de contrapartidas futuras é reprovada por esta família, pois é percebida como uma opção extremamente arriscada e desnecessária. Logo, os sacrifícios da separação física que a entrada na ES implicam parecem ser vividos de uma forma extremamente intensa e dolorosa por esta família, uma vez que não está previsto um retorno deste investimento de risco por parte do seu filho mais novo. O caso da família de Lucas parece conduzir à ideia de um novo tipo de EH provenientes de famílias com baixo capital cultural e elevado capital económico. Enquanto os EH de Bourdieu não põem em causa a sua herança familiar, assumindo a ES como um caminho natural no seu percurso de vida, os "novos herdeiros" desvalorizam a sua herança familiar, baseada apenas no capital económico, optando por valorizar, em lugar disso, a ES como uma forma de incrementar o seu capital cultural. Assim, o dinheiro não parece fazer a diferença nas escolhas dos estudantes. Na verdade, o estatuto económico elevado não representa, necessariamente, um estatuto social elevado, o qual poderá ser alcançado através da aquisição de capital cultural proporcionado pela ES.

Ainda na lógica da manutenção social, uma outra perspetiva deverá ser realçada. Esta perspetiva ocorre principalmente em famílias de nível médio ou médio alto (do ponto de vista cultural, mas também económico), cujas aspirações de mobilidade social parecem ser dificultadas pela sua análise crítica da realidade social. A ideia de elitismo da ES perdeu a sua importância em comparação com a realidade da massificação do seu acesso. Estas famílias estão conscientes de que a ES já não é um "livre-trânsito" para uma vida com melhores condições financeiras. O acesso à ES é, portanto, percebido como um marco na vida dos seus filhos, mas não é suficiente para garantir o seu sucesso no futuro. Isto é, a ES poderia representar um progresso sociocultural, mas não garantir um movimento económico ascendente paralelo. Seria, deste modo, necessária a realização de novos estudos focalizando especificamente estes resultados. Para além disso, seria, eventualmente, interessante desenvolver um estudo de natureza psicossociológica que visasse uma análise comparativa das atitudes profissionais desses novos executivos, com raízes familiares (e, portanto, raízes económicas, sociais e culturais) no operariado e que cumprem a herança profissional temática dos seus progenitores. Trata-se de diplomados cuja evolução profissional, por comparação com a da sua família de origem, ocorre principalmente numa ordem vertical (isto é, uma melhor posição hierárquica), subsistindo a vertente horizontal (isto é, numa mesma área de trabalho). Na verdade, o caráter qualitativo deste estudo pode assumir-se como uma limitação, podendo ser, numa perspectiva de investigações futuras, por um lado, incrementado por um acompanhamento ao longo do tempo destes estudantes, numa análise que se pretenderia transversal, e por outro lado, complementado com uma abordagem quantitativa, alargando o universo a outras áreas e escolas de Engenharia.

Entre promessas, ilusões e desilusões, a relação entre famílias e a ES efetivamente existe. As narrativas do presente estudo tornam bastante clara a perceção do significado nas famílias da entrada dos seus filhos no mais alto nível académico. As declarações do Pedro são paradigmáticas da inevitabilidade da relação família/ES: "Parece que não era só eu que cheguei aqui, todos eles fizeram, toda a família".

 

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Endereço para correspondência:
Laureate International Universities
Universidade Europeia Quinta do Bom Nome
Estrada da Correia, 53,1500-210
Lisboa
E-mail: diana.dias@europeia.pt

Recebido 16/04/2013
1ª Revisão 09/07/2013
2ª Revisão 04/10/2013
Aceite Final 06/02/2014

 

 

Sobre as autoras
Diana Dias é investigadora no Centro de Investigação de Políticas do Ensino Superior (CIPES) em Portugal. Desempenha igualmente funções docentes e de gestão académica na Universidade Europeia - Laureate International Universities. Os seus interesses de investigação visam o Ensino Superior, nomeadamente acesso e equidade, orientação vocacional e psicopedagogia.
Maria José Sá é investigadora no Centro de Investigação de Políticas do Ensino Superior (CIPES) em Portugal. As suas áreas de investigação incluem satisfação e sucessos dos estudantes, estudos do género e planeamento estratégico no ensino superior.

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