SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.15 número2Adaptação acadêmica e coping em estudantes universitários brasileiros: uma revisão de literaturaMaturidade para escolha profissional, habilidades sociais e inserção no mercado de trabalho índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Revista Brasileira de Orientação Profissional

versão impressa ISSN 1679-3390

Rev. bras. orientac. prof vol.15 no.2 São Paulo dez. 2014

 

ARTIGO

 

Maturidade para a escolha de carreira: estudo com adolescentes de um serviço-escola1

 

Career choice maturity: a study with adolescents attending a career guidance service

 

Madurez para la elección vocacional: un estudio de los adolescentes de un servicio de orientación

 

 

Maria Luiza Junqueira; Lucy Leal Melo-Silva

Universidade de São Paulo, FFCLRP, Ribeirão Preto-SP, Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Este estudo investiga a maturidade para a escolha da carreira em adolescentes de um serviço-escola de orientação profissional, considerando o perfil sociodemográfico e sua evolução após intervenção. Os dados foram obtidos dos registros das intervenções realizadas com 748 adolescentes com idades entre 14 e 21 anos. Avaliados com a Escala de Maturidade para Escolha Profissional (EMEP), a maioria dos sujeitos foi classificada com nível de maturidade abaixo de médio no início do atendimento. Os resultados da comparação da maturidade antes e depois da intervenção, com 492 dos adolescentes, mostraram que a intervenção favoreceu significativamente o desenvolvimento da maturidade para a escolha profissional.

Palavras-chave: orientação vocacional, maturidade vocacional, avaliação de intervenção, EMEP


ABSTRACT

This study investigates the maturity for career choice among adolescents attending a career guidance service, considering sociodemographic profile and its development after intervention. Data were obtained from records of interventions with 748 adolescents aged between 14 and 21 years old. Evaluated with Career Choice Maturity Scale (Escala de Maturidade para a Escolha Profissional, EMEP), most subjects were classified with level of maturity below average at the beginning of the intervention. The results of the comparison of maturity before and after the intervention, with 492 adolescents, showed that the intervention significantly enhanced the development of maturity for career choice.

Keywords: career guidance, career maturity, assessment of results, EMEP


RESUMEN

Este estudio investiga la madurez para la elección de carrera entre los adolescentes en un servicio de orientación profesional, teniendo en cuenta el perfil sociodemográfico y su evolución después de la intervención. Los datos se obtuvieron de los registros de las intervenciones con 748 adolescentes de edades comprendidas entre 14 y 21 años. Evaluada por la Escala de Madurez de Elección Profesional (EMEP), la mayoría de los sujetos fueron clasificados con nivel de madurez debajo de la media en el inicio del servicio, señalando variaciones en el nivel medio del las subescalas de responsabilidad e independencia. Los resultados de la comparación de la madurez antes y después de la intervención, con 492 adolescentes, mostraron que la intervención mejoró significativamente el desarrollo de la madurez para la elección de carrera.

Palabras clave: orientación profesional, madurez profesional, evaluación de programas, EMEP


 

 

A passagem para a vida adulta exige do jovem competências para a realização de tarefas de desenvolvimento que o tornarão capaz de gerir a própria vida. Dentre elas, a escolha da carreira, que é uma tarefa complexa e implica certa maturidade para que a tomada de decisão seja feita de forma consciente e autônoma.

No domínio do desenvolvimento de carreira, alguns construtos têm sido considerados importantes para explicar os comportamentos de escolha profissional e, dentre eles, a maturidade para carreira. Esse conceito, originalmente denominado maturidade vocacional, surgiu na década de 1950 com a Teoria Desenvolvimentista de Donald Super, quando o interesse e a preocupação dos orientadores vocacionais, antes dirigidos ao conteúdo das escolhas de seus clientes, a o que escolhiam, ampliam-se a como as escolhas são feitas e o quanto os clientes estão preparados para fazê-las. A maturidade vocacional surge, então, para referir-se a um estado de prontidão (readiness) necessário para lidar com as tarefas de decisão vocacional: trata-se de um conjunto de competências disposicionais relacionadas com o processo de escolha da carreira, como, por exemplo, a perspectiva temporal de futuro, a autonomia pessoal e os recursos exploratórios para tomada de decisão (Silva, 2004a).

É importante pontuar que o conceito de maturidade passou e passa por reformulações que tanto o restringem para uso específico no campo das decisões de carreira, quanto o ampliam para referir-se às transições e modificações na carreira (Silva, 2004a). Investigações que focalizam a adolescência, compreendida na Psicologia Vocacional como período de tarefas de exploração, utilizam-se do conceito de maturidade para a carreira como o mais específico e apropriado a este estágio (Patton & Lokan, 2001).

É relevante destacar ainda que o construto maturidade de carreira não é definido e operacionalizado de uma forma homogênea na literatura. Segundo Silva (2004a), dois modelos têm predominado nas investigações: o modelo de Donald Super e o de John Crites. O de Super, por exemplo, enfatiza uma dimensão atitudinal (composta por planejamento e exploração) e outra cognitiva (composta por tomada de decisão e informação sobre o mundo do trabalho). Já o modelo de Crites abrange uma dimensão cognitiva, chamada competência (com cinco subdimensões: informação ocupacional, planejamento, autoavaliação, seleção de metas e solução de problemas) e uma dimensão afetiva ou atitudinal, compreendendo as seguintes subdimensões: determinação, envolvimento, independência, orientação e concessão (Neiva, 1999). Essas diferenças conceituais e operacionais refletem-se também nos resultados das pesquisas, que nem sempre são diretamente comparáveis dado o uso de modelos ou instrumentos diferentes.

De toda forma, a literatura mostra que a maturidade para a escolha da carreira tem sido estudada em relação a variáveis sociodemográficas e culturais, e também em investigações sobre possíveis mudanças na maturidade em função de procedimentos de intervenção vocacional/profissional. Na sequência são destacados alguns desses estudos.

Naidoo (1998) verificou, em uma revisão de literatura que abrangeu quatro décadas, que a maturidade era o constructo mais utilizado para medir resultados em processos de intervenção de carreira. Também verificou estudos de correlação da maturidade com o nível educacional, status socioeconômico, locus de controle, sexo ou diferenças de gênero. A relação entre maturidade para a carreira e relevância do trabalho, raça, etnia e diferenças culturais também foram temas indentificados na revisão. Em outro estudo de revisão, Patton e Lokan (2001) verificaram que a maior parte dos trabalhos concluiu que há um aumento da maturidade para a carreira conforme a idade avança. Os autores sugerem que, com relação à idade, associam-se mais os fatores atitudinais do que cognitivos e, com relação ao sexo, a maior parte das pesquisas conduzidas nas últimas duas décadas têm mostrado que as moças apresentam maior maturidade para a escolha da carreira do que os rapazes.

Ainda em relação à idade, Whiston e Brecheisen (2002) destacam que esta pode ser uma variável mediadora da maturidade para a carreira, por apresentar diferenças quanto ao sexo que são evidentes no ensino médio e que não mais se evidenciam na universidade. As inconsistências encontradas nos resultados das pesquisas são, em geral, reconhecidas pela comunidade científica da área (Watson, 2008). Patton e Lokan (2001) destacaram, no seu estudo de revisão, a falta de sistematização das pesquisas, o tipo de metodologia empregada, mais frequentemente transversal, e o pequeno tamanho das amostras, como principais causas dessas inconsistências e da dificuldade para uma possível generalização dos resultados.

A maturidade para a carreira em relação à idade e sexo foi também avaliada em adolescentes australianos, sendo que os estudantes mais velhos se mostraram mais engajados na exploração das carreiras e no planejamento de objetivos e as moças apresentaram maior maturidade para a carreira, principalmente no tocante ao conhecimento das mesmas (Creed & Patton, 2003). Em outro estudo, Patton, Bartrum e Creed (2004) avaliaram as diferenças de gênero para a correlação entre otimismo, autoestima e expectativas de carreira e componentes da maturidade em estudantes australianos de ensino médio, verificando que nos rapazes havia maior correlação entre esses fatores e que a autoestima influenciava nas expectativas da carreira, precedendo o estabelecimento de metas, o planejamento e a exploração das profissões. Para as moças, o otimismo influenciou diretamente o estabelecimento de metas e, na sequência, o planejamento e a exploração.

No contexto brasileiro, Lobato e Koller (2003) investigaram diferenças da maturidade vocacional com relação ao sexo, em adolescentes do Ensino Médio. Os resultados demonstraram que os meninos se destacaram em planificação, indicando melhor planejamento de suas carreiras, e as meninas apresentaram índices mais altos em exploração. Neiva (2003) estudou a maturidade para a escolha profissional em estudantes do Ensino Médio particular em relação ao sexo e a série escolar, não observando diferenças estatisticamente significativas na maturidade total para a escolha profissional quanto ao sexo. No entanto, quanto aos componentes da maturidade, observou as seguintes diferenças: as moças se mostraram mais responsáveis e independentes que os rapazes, enquanto estes mostraram possuir melhor conhecimento da realidade educativa e socioprofissional. A autora verificou ainda que a maturidade total para a escolha profissional aumentou progressivamente da 1ª para a 3ª série do Ensino Médio, com exceção da subescala independência, que não apresentou esse padrão.

Neiva, Silva, Miranda e Esteves (2005) investigando a maturidade para a escolha profissional de alunos do Ensino Médio em função do sexo, do tipo de escola (pública ou particular), do turno de estudos (matutino ou noturno) e da série escolar, verificaram que as moças se mostraram mais maduras na escala total, apresentando também maiores índices nas subdimensões responsabilidade e autoconhecimento. Quanto à variável - tipo de escola, os alunos de instituição particular mostraram-se mais maduros do que os de escola pública. Não houve diferenças em relação ao turno de estudo na maturidade total; já em relação à série escolar, os alunos do terceiro ano do Ensino Médio mostraram-se mais maduros do que os do primeiro.

Balbinotti e Tétreau (2006) investigaram as diferenças na maturidade vocacional, segundo sexo, idade, série escolar e tipo de escola, verificando que as moças são mais maduras do que os rapazes. Quanto à variável idade, não foram verificadas diferenças estatisticamente significativas. Os alunos de escolas públicas apresentaram maiores índices de maturidade vocacional, independentemente do sexo, idade ou série escolar. Quanto à variável escolaridade, ocorreu um aumento da maturidade entre o segundo e o terceiro ano do Ensino Médio.

Na comparação entre estudantes com e sem experiência profissional, Corlatti (2009) não encontrou diferenças estatisticamente significativas na maturidade total para a escolha profissional. Entretanto, com relação ao sexo, os resultados apontaram diferenças estatisticamente significativas nas subescalas responsabilidade e independência favoráveis às moças e na subescala conhecimento da realidade educativa e socioprofissional favorável aos rapazes. O nível socioeconômico elevado esteve associado a maiores índices de maturidade para a escolha profissional (maturidade total e subescalas determinação e conhecimento da realidade). Não houve diferenças quanto à idade e escolaridade dos pais, mas os resultados sugeriram que os filhos de pais com Ensino Superior apresentam-se mais independentes que os filhos de pais com Ensino Médio.

Na vertente de estudos que avaliaram a evolução da maturidade para a escolha da carreira em programas de intervenção, no Brasil, destacam-se estudos que utilizaram a Escala de Maturidade para a Escolha Profissional (EMEP), como os de Neiva (2000), Melo-Silva, Oliveira e Coelho (2002), Esbrogeo (2008) e Lassance, Bardagi e Teixeira (2009), os quais apontaram aumento estatisticamente significativo nos níveis de maturidade para a carreira após o processo de orientação vocacional/profissional, o que demonstra a eficiência das intervenções.

No contexto da orientação vocacional considera-se relevante avaliar os resultados da intervenção, tanto quanto o processo e os instrumentos utilizados (Melo-Silva e Jacquemin, 2001). Diversos são os estudos de revisão, qualitativos e de meta-análises, realizados para investigar os resultados das intervenções vocacionais. Dentre eles destacam-se: Brown e Krane (2000), Oliver e Spokane (1988), Spokane e Oliver (1983), Silva (2004b), Whiston, Brecheisen e Stephens (2003), Whiston, Sexton e Lasoff (1998). Dessas análises, pode-se concluir que as intervenções, de um modo geral, têm se mostrado efetivas, ainda que as variáveis foco dos estudos e os instrumentos utilizados não sejam sempre os mesmos.

O presente estudo objetiva colaborar com o conjunto de estudos que investigam as relações entre características sociodemográficas dos participantes e resultados da intervenção vocacional no contexto brasileiro. Sendo assim, esta investigação tem por objetivos: (a) descrever o perfil de maturidade para a escolha profissional de adolescentes usuários de um serviço-escola de orientação profissional; (b) analisar se a maturidade varia em relação às características sociodemográficas (sexo, série escolar, escolaridade dos pais e tipo de escola), modalidade de atendimento e, ainda, (c) avaliar a evolução da maturidade, antes e depois da intervenção.

 

Método

Participantes

Participaram da presente investigação 748 estudantes do ensino médio com idades entre 14 e 21 anos (M = 16,9 anos; DP = 1,17) atendidos no período de seis anos em um Serviço de Orientação Profissional (SOP) de uma universidade pública. Destes, 519 (69,4%) eram do sexo feminino e 229 (30,6%) do sexo masculino, 257 (34,4%) provenientes de escolas da rede pública e 491 (65,6%) de escolas da rede particular. Quanto à série escolar, 16 (2,1%) cursavam a primeira série do ensino médio, 154 (20,6%) a segunda, 413 (55,2%) a terceira e 165 (22,1%) já haviam concluído esta etapa. No que tange à modalidade de atendimento, 671 (89,7%) clientes foram atendidos em grupo e 77 (10,3%) participaram da intervenção na modalidade individual.

Instrumento

A Escala de Maturidade para a Escolha Profissional - EMEP (Neiva, 1999 - 1ª edição), utilizada neste estudo, objetiva avaliar a maturidade para a escolha profissional de alunos do Ensino Médio. A escala no formato Likert de 5 pontos é composta por 45 itens, distribuídos em cinco subescalas que avaliam as dimensões Atitudes e Conhecimentos: determinação (grau de segurança e decisão ante a escolha profissional), responsabilidade (grau de envolvimento com a tomada de decisão profissional e com ações para sua efetivação), independência (grau de autonomia frente à escolha), autoconhecimento (conhecimento de si em relação a interesses, habilidades, valores e características pessoais) e conhecimento da realidade educativa e socioprofissional. O instrumento apresenta os resultados em termos de classificação diagnóstica, a saber: muito inferior, inferior, médio inferior, médio, médio superior, superior e muito superior. Trata-se de um instrumento que possui qualidades psicométricas satisfatórias, apresentando índices de consistência interna (alfa de Cronbach) entre 0,77 e 0,91 nos estudos de validação (Neiva, 1998). O instrumento possui amplas possibilidades de utilização: com jovens em orientação de carreira objetivando diagnosticar as dimensões que necessitam ser trabalhadas, avaliar a evolução do orientando submetido à orientação profissional e avaliar a eficácia de programas de orientação. É importante salientar que este instrumento está aprovado pelo Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos (SATEPSI) do Conselho Federal de Psicologia para uso em pesquisas e intervenção. Neste estudo foram utilizadas como referência as normas da primeira edição da EMEP (Neiva, 1999), pois os dados da pesquisa foram coletados quando da vigência dessa edição.

Procedimentos

Trata-se de um estudo retrospectivo, de caráter documental e descritivo, com abordagem quantitativa de delineamento quase-experimental (Cozby, 2003). As informações relativas a esta investigação foram extraídos do Banco de Dados do Serviço de Orientação Profissional da universidade, no período analisado (2001 a 2006). O Serviço de Orientação Profissional é um serviço-escola que se destina ao atendimento de adolescentes e adultos com dúvidas em relação à carreira. Os atendimentos são realizados por estagiários de último ano do curso de Psicologia e normalmente acontecem em 12 sessões de duas horas de duração na modalidade grupal, ou 50 minutos na modalidade individual. A intervenção psicológica em Orientação Vocacional/Profissional é fundamentada no referencial teórico-metodológico denominado clínico-operativo, cujas bases se assentam na estratégia clínica de Bohoslavsky (1998) e no referencial operativo de Pichon-Rivière (1994). Os principais temas norteadores do processo de intervenção são: autoconhecimento, escolha, escola e estudos, vestibular, mundo do trabalho e informações sobre as profissões e a realidade educacional.

Os dados coletados referem-se tanto a adolescentes que foram avaliados pela EMEP apenas no início do processo (n = 256) quanto aos que foram submetidos às avaliações pré e pós intervenção (n = 492), cuja soma corresponde a amostra total deste estudo (n = 748). Cabe destacar que por motivos como desistência, abandono, ausência na sessão de aplicação, ou decisão técnica, entre outros, a EMEP não foi aplicada a todos os usuários após a intervenção. É importante salientar que os dados utilizados nesse estudo são relativos a usuários que concordaram voluntariamente com sua cessão e que apesar de se tratar de uma pesquisa a partir de banco de dados, sem identificação dos participantes, este estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da universidade sede da investigação.

Análise de dados

O tratamento dos dados incluiu análises descritivas e inferenciais, utilização de medidas de tendência central, operações de tabulações cruzadas, testes de hipóteses e modelo linear de efeitos mistos. Utilizou-se, para tanto, os softwares SPSS, versão 13.0 e o software SAS, versão 9.0.

A caracterização do perfil de maturidade para a escolha profissional do total dos sujeitos da amostra (n = 748) ocorreu a partir do resultado bruto transformado em percentil, a partir do qual é efetuada a classificação diagnóstica (muito inferior, inferior, médio inferior, médio, médio superior, superior e muito superior). Posteriormente, as classificações originais propostas no instrumento foram reordenadas nas seguintes categorias: abaixo de médio, médio e acima de médio. Dessa forma, aos valores de referência percentis 1 a 25 que correspondem às classificações das categorias muito inferior, inferior e médio inferior passaram a constituir a categoria abaixo de médio. A categoria médio, correspondente aos percentis 30 a 70, manteve-se. E, por fim, os percentis 75 a 99 que pertencem às classificações médio superior, superior e muito superior, foram recategorizados como acima de médio.

Para a comparação dos resultados da avaliação da maturidade pré e pós intervenção do subgrupo de sujeitos da amostra que respondeu à EMEP antes e depois do processo de intervenção vocacional/profissional (n = 492), foi utilizado o modelo linear de efeitos mistos, adotando-se o nível de significância α = 0,05.

Os modelos lineares de efeitos mistos (efeitos aleatórios e fixos) são similares a uma análise de variância (ANOVA) em duas vias, entretanto, o modelo de efeitos mistos obtém resultados mais fidedignos na análise de dados em que as respostas de um mesmo indivíduo estão agrupadas (no caso, em dois tempos - pré e pós) e a suposição de independência entre observações num mesmo grupo não é adequada (Schall, 1991). Para a utilização deste modelo, é preciso que seus resíduos tenham distribuição normal com média zero e variância constante, o que é realizado pelo software através de testes e gráficos. Além de comparações relacionadas ao mesmo sujeito antes e depois da intervenção, efetuaram-se comparações entre as categorias de cada variável do estudo, para o subgrupo dos que responderam a EMEP nos dois tempos.

 

Resultados e Discussão

Com relação ao perfil de maturidade, verifica-se na Tabela 1 que a classificação das subescalas determinação, autoconhecimento e conhecimento da realidade seguiu a mesma tendência da classificação diagnóstica da maturidade total, com a maior porcentagem dos adolescentes apresentando níveis de maturidade abaixo de médio. Isso indica que os adolescentes que procuram o serviço de orientação profissional necessitam de intervenção no que tange ao desenvolvimento da maturidade, mais especificamente nas dimensões determinação, autoconhecimento e conhecimento da realidade. Este resultado também foi encontrado por Esbrogeo (2008) com amostras clínicas, em processos de intervenção. Nos resultados referentes às subescalas responsabilidade e independência, a maior porcentagem dos adolescentes classificou-se com nível médio de maturidade para a escolha profissional, o que sugere que aqueles que buscam orientação profissional estão medianamente preocupados com a decisão da carreira e empreendendo algumas ações para efetivá-la, além de se sentirem tão independentes para a tomada de decisão quanto a maioria dos adolescentes. É importante pontuar que esses resultados advêm de uma amostra clínica. Outros estudos, como os de Noce (2008) e Corlatti (2009), realizados com amostras da população com características normativas - não clínica - encontraram níveis médio e acima de médio de maturidade para escolha profissional.

A Tabela 2 apresenta a classificação da maturidade para a escolha profissional (total e subescalas) e sua variação de acordo com as características sociodemográficas dos adolescentes. Com relação ao sexo, o perfil de maturidade para a escolha profissional dos adolescentes da amostra é similar: em ambos os sexos predomina o nível de maturidade total abaixo de médio no início do processo, com uma porcentagem próxima entre moças (62,0%) e rapazes (66,8%).

Tais resultados surpreenderam a expectativa inicial, pois esperava-se que as moças apresentassem maior nível de maturidade para escolha profissional do que os rapazes, uma vez que a literatura internacional aponta o sexo feminino como o mais maduro para escolha da carreira (Creed & Patton, 2003; Patton & Lokan, 2001). Deve-se considerar, contudo, que os estudos internacionais utilizam instrumentos e modelos de maturidade diferentes do empregado nesta pesquisa. No cenário nacional, em estudos realizados com a EMEP, Neiva et al. (2005) encontraram maior maturidade total para o sexo feminino ao contrário dos estudos de Corlatti (2009), Neiva (2003) e Noce (2008) que não encontraram diferenças entre os sexos com relação à maturidade total. Quanto à variável série escolar, verificou-se que os alunos das três séries escolares apresentaram predominantemente um nível de maturidade para escolha profissional total abaixo de médio, o que assinala uma necessidade de intervenção nos três anos escolares do ensino médio no sentido de preparar o aluno para a escolha da carreira. No que tange ao tipo de escola, observa-se que há um predomínio de alunos de escolas particulares com classificação abaixo de médio na maturidade total, enquanto que há uma maior porcentagem de adolescentes, da escola pública, classificados no nível médio de maturidade total.

A Tabela 3 mostra as classificações do nível de maturidade dos adolescentes, em função das variáveis modalidade de atendimento e escolaridade dos pais. No que diz respeito à modalidade de atendimento, pode-se observar, na Tabela 3, que a maior porcentagem dos adolescentes, tanto os indicados para intervenção em grupo quanto os que participaram da modalidade individual, classificou-se com nível abaixo de médio na maturidade total. Em relação ao nível de escolaridade dos pais, observou-se que os orientandos cujos pais tinham ensino superior, ensino médio, ou não tinham escolaridade formal também exibiram, em sua maioria, nível abaixo de médio na maturidade total. A exceção foi para os filhos de pais com Ensino Fundamental, que apresentaram maior porcentagem de pessoas classificadas com nível médio para a maturidade total.

A partir da Tabela 4 são apresentados os resultados da comparação da maturidade para a escolha profissional (total e subescalas) para o subgrupo dos adolescentes submetidos à EMEP antes e depois da intervenção (n = 492). Verifica-se na Tabela 4 que houve evolução da maturidade junto aos adolescentes que responderam a EMEP pré e pós intervenção, constatando-se ganhos com diferenças estatisticamente significativas, indicando que a intervenção psicológica em Orientação Vocacional/Profissional realizada no SOP favoreceu o desenvolvimento da maturidade para a escolha profissional dos adolescentes.

Observou-se aumento no nível da maturidade para a escolha profissional total e de todas as suas subdimensões. Isto significa que os participantes, ao final da intervenção, estavam mais determinados, responsáveis e independentes, com maior autoconhecimento e conhecimento da realidade educacional e socioprofissional, ou seja, mais seguros com relação às suas escolhas, mais engajados no empreendimento de ações para implementá-las, demonstrando maior autonomia e consciência das influências que circunstanciam esse processo e com um maior conhecimento acerca de si próprio e do mundo escolar e do trabalho.

A literatura da área tem enumerado diversos estudos que apontam a evolução da maturidade para a escolha profissional e as transformações ocorridas após a participação dos adolescentes em processos de intervenção psicológica em Orientação Vocacional/Profissional (Corlatti, 2009; Esbrogeo, 2008, Lassance et al., 2009, Melo-Silva et al., 2002; Naidoo, 1998; Noce, 2008; Neiva, 2000, ). No contexto nacional, estudos realizados com a EMEP (Corlatti, 2009; Esbrogeo 2008; Melo-Silva et al., 2002; Neiva, 2000) apontaram a escala como um instrumento sensível e que, independentemente da abordagem do trabalho e do tamanho reduzido de algumas amostras, é capaz de mensurar a evolução da maturidade para a escolha profissional. Melo-Silva et al. (2002), com uma amostra de 63 adolescentes, observaram evolução da maturidade para a escolha profissional com diferenças significativas tanto na maturidade total como nas subescalas determinação, autoconhecimento e conhecimento da realidade após processo de intervenção. No estudo de Esbrogeo (2008), com 28 sujeitos, também foi constatada evolução significativa nas subescalas determinação e autoconhecimento. Deve-se considerar que as subdimensões da maturidade para a escolha profissional constituem um conjunto de fatores afetivos e cognitivos que compõem a maturidade e, embora interligados, discriminam-se quanto às suas especificidades. Diversos estudos sobre avaliação do resultado das intervenções, tanto no cenário nacional como no internacional, indicam que as intervenções em orientação profissional são eficazes. De modo geral, todos tomam a mesma direção da conclusão de Spokane e Oliver (1983): a de que as intervenções vocacionais resultam em ganhos para os clientes. A Tabela 5 apresenta a comparação da maturidade para a escolha profissional entre as categorias das variáveis que apresentaram resultados com significância estatística, referente ao subgrupo dos adolescentes submetidos à EMEP no pré e no pós teste (n = 492).

Conforme a Tabela 5, verificam-se diferenças estatisticamente significativas quanto à evolução da maturidade total apenas para as comparações efetuadas entre as categorias das variáveis sexo e modalidade de atendimento. Observam-se diferenças favoráveis ao sexo feminino (p < 0,001) e à modalidade de atendimento individual (p = 0,003) nas comparações pós teste. Assim, os dados sugerem que adolescentes que participaram da modalidade de atendimento individual beneficiaram-se mais do que os participantes da modalidade grupo, e que as moças exibiram maiores índices de maturidade do que os rapazes ao final da intervenção. Já, no início do processo de intervenção, a comparação da maturidade total não revelou diferenças entre os sexos para esse subgrupo da amostra.

No que se refere às dimensões da maturidade, nas comparações entre os sexos observa-se que a subescala responsabilidade apresentou diferenças estatisticamente significativas favoráveis ao sexo feminino tanto antes (p < 0,001) como depois da intervenção (p < 0,001). Houve ainda diferenças estatisticamente significativas favoráveis ao sexo feminino para as subescalas independência (p = 0,007) e autoconhecimento (p = 0,003) nas comparações pós intervenção, indicando que as moças se mostraram mais responsáveis, independentes e que desenvolveram mais o autoconhecimento do que os rapazes.

No cenário internacional, a maior parte das pesquisas, mesmo utilizando outros instrumentos para avaliar a maturidade, aponta o sexo feminino como mais maduro para a escolha da carreira (Creed & Patton, 2003; Patton & Lokan, 2001). Em contraste, Barnes (2001) e Powell e Luzzo (1998) não chegaram às mesmas conclusões, tendo estes últimos explicado a ausência de diferenças entre os sexos em função dos sujeitos já terem participado de programas de desenvolvimento da carreira, que nivelaram a maturidade.

Dos estudos pesquisados no cenário brasileiro, particularmente com a EMEP, nos resultados de Neiva et al. (2005) as moças mostraram ter maior maturidade total para a escolha profissional do que os rapazes. Elas destacaram-se ainda com maiores índices de maturidade nas subdimensões responsabilidade e autoconhecimento. Diferentemente, Corlatti (2009), Neiva (2003) e Noce (2008) não encontraram diferenças entre os sexos com relação à maturidade total. Entretanto, foram encontradas diferenças favoráveis ao sexo feminino com relação às subescalas responsabilidade e independência (Corlatti, 2009; Neiva, 2003), e favoráveis ao sexo masculino na subdimensão conhecimento da realidade educativa e socioprofissional (Corlatti, 2009; Neiva, 2003; Noce, 2008), resultado este que difere dos deste estudo no que concerne aos adolescentes do sexo masculino para a subescala conhecimento da realidade.

Sintetizando a discussão quanto às diferenças apresentadas na variável sexo e ao mesmo tempo contrapondo algumas considerações anteriormente apresentadas, a literatura da área ainda traz contribuições no sentido de se considerar que a questão de gênero/sexo diferencia os grupos mais especificamente na faixa etária da adolescência. Whiston e Brecheisen (2002) ressaltaram que as diferenças entre os sexos podem estar associadas à idade, sendo esta uma variável mediadora da maturidade para a carreira, com homens e mulheres apresentando diferenças maiores durante o Ensino Médio, o que não mais se evidencia na universidade.

Quanto à modalidade de atendimento, os adolescentes usuários do SOP que foram atendidos na modalidade individual, independentemente do sexo, série escolar, tipo de escola ou nível de escolaridade dos pais, apresentaram maior evolução da maturidade total para a escolha profissional, quando comparados aos que estavam na modalidade grupal (p = 0,003). Apurou-se ainda evolução maior para as subdimensões determinação (p < 0,001) e responsabilidade (p = 0,014). Estes resultados indicam a modalidade de intervenção individual como a mais eficaz. Deve-se considerar que a relação face-a-face, com exclusividade da atenção, também favorece um maior comprometimento do cliente com o processo.

Essas evidências favoráveis à modalidade de atendimento individual mostraram-se similares às encontradas por Whiston et al. (1998) em estudo que apontou a consulta psicológica individual como a modalidade de intervenção vocacional mais eficaz. Contrariando tais conclusões, a revisão de Brown e Krane (2000) ressalta a consulta psicológica de grupo como a mais eficaz. A esse respeito, Oliver e Spokane (1988) encontraram que a intervenção individual era mais eficaz quando se considerava o número de horas e sessões. Em contraste, o mesmo autor observou que, com relação ao número médio de clientes atendidos, as intervenções em grupos maiores se mostraram mais eficazes e econômicas por requererem menos horas do psicólogo. De qualquer maneira, os estudos concluem pela importância da presença do apoio do profissional especializado, ou seja, das intervenções com o auxílio do psicólogo, observando que as intervenções breves autodirigidas sem o auxílio do psicólogo atingem efeitos pequenos (Whiston et al., 2003). De acordo com Spokane (2004), o atendimento individual classifica-se como o nível mais profundo de intervenção de carreira. Nesse sentido, os resultados atuais confirmam a eficácia dessa modalidade de atendimento.

Considera-se que esse resultado possa ajudar nas tomadas de decisões quanto à estratégia de atendimento a ser utilizada. Na situação de triagem, identificar a baixa maturidade (principalmente nas dimensões determinação e responsabilidade) pode constituir-se em indicador a ser considerado - em conjunto com outros dados coletados - para a indicação de atendimento individual. Todavia, a modalidade grupal, além do atendimento a maior número de pessoas, possibilita outros desenvolvimentos que não constituíram objeto de análise neste estudo, mas que podem favorecer os adolescentes frente à tarefa da escolha profissional, como o poder partilhar a experiência com outros que vivenciam a mesma época da vida e elaborar ansiedades decorrentes desse processo. Evidentemente, outros estudos (Corlatti, 2009; Esbrogeo, 2008, Melo-Silva & Jacquemin, 2001; Noce, 2008) mostram haver inúmeros benefícios nos atendimentos em grupo, particularmente quando os processos grupais de intervenção são organizados em função da maturidade para a escolha profissional.

Quanto à variável tipo de escola, não foram apontadas diferenças estatisticamente significativas para a maturidade total entre os alunos das escolas da rede pública e privada. No entanto, houve diferença estatisticamente significativa (p=0,044) para a subescala conhecimento da realidade educativa e socioprofissional favorável aos alunos das escolas da rede de ensino privado no início do processo de intervenção, o que sugere a necessidade de se estimular o comportamento exploratório na busca de informações sobre cursos e trabalho nos estudantes do ensino público. Vale destacar que inexistiram diferenças entre esses subgrupos ao final do processo. Isso mostra que a intervenção beneficiou os alunos das escolas públicas quanto ao conhecimento da realidade educativa e socioprofissional, sendo este um indicativo para elaboração de políticas públicas de orientação de carreira, na direção do que se realiza internacionalmente em termos de Educação para a Carreira, o que não é, ainda, uma realidade no Brasil.

As comparações resultantes para a variável série escolar mostram que inexistiram diferenças na maturidade total entre as séries. Já na comparação entre os graus de escolaridade - 2ª série EM, 3ª série EM e EM completo - na comparação ao final do processo, os resultados mostram que o EM completo teve maior evolução do que a 2ª série nas dimensões determinação (p 0,001) e conhecimento da realidade (p = 0,018), e foi melhor que a 3ª série na subdimensão determinação (p = 0,011). Os resultados mostram também a 2ª série com evolução melhor do que a 3ª série na subdimensão independência (p = 0,041). Ou seja, as subdimensões determinação e conhecimento da realidade os resultados sugerem que, conforme aumenta o grau de escolaridade, os adolescentes se beneficiam mais da OP nestes aspectos da maturidade. Já os estudantes com Ensino Médio completo mostraram significativa evolução na determinação, comparados aos estudantes da 2ª e 3ª séries do EM. Compreende-se que, além das características do desenvolvimento natural, os jovens do EM completo têm mais vivência na atual situação e que, provavelmente, muitos deles podem já ter passado pela experiência do vestibular ou estão prestes a vivenciá-la, podendo com isso melhor aproveitar a orientação profissional.

Com relação aos estudantes da 2ª série do Ensino Médio, que se apresentaram no final do processo de orientação mais independentes que os seus colegas da 3ª série, considera-se que pudessem ter a tendência a sentirem-se livres de influências e da responsabilidade imediata de especificar uma escolha por estarem mais distantes do momento de decisão. Outros estudos também apontaram resultados semelhantes (Neiva, 1998, 2003; Neiva et al., 2005) com relação à subdimensão independência.

A maturidade para a carreira pode ser influenciada por diferentes fatores, que oferecem dados de realidade importantes para o adolescente levar em consideração. A influência da família, por exemplo, vai além das contribuições explícitas com relação ao curso ou à profissão. Super (1990, p.203) ressalta que "[...] a economia e a família influenciam o desenvolvimento de atitudes, valores e interesses". O que se quer destacar é que as influências existem, sejam elas internas ou externas, da família, dos amigos, professores, somados aos fatores econômicos e culturais. É importante que o adolescente possa refletir sobre o assunto e considerar o que pode contribuir para o seu processo de decisão nesse interjogo de influências, discriminando e fazendo escolhas com autonomia e responsabilidade.

Com base nos resultados do presente estudo, conclui-se que os adolescentes das séries iniciais necessitam de mais ajuda para o desenvolvimento de competências relacionadas à determinação e ao conhecimento da realidade. Eles poderão se beneficiar de um trabalho que focalize nessas dimensões, sendo que a orientação para a carreira poderia iniciar-se já na 2ª ou até 1ª série do EM, atuando como atividade promotora de saúde.

Quanto à variável escolaridade dos pais, não se observaram diferenças estatisticamente significativas na evolução da maturidade total. Na subescala independência, observou-se que filhos de pais com níveis de escolaridade médio e superior evoluíram mais do que os filhos de pais com ensino fundamental, tornando-se mais autônomos e independentes ao final da intervenção. Na subescala autoconhecimento os filhos de pais com níveis de escolaridade superior, médio e fundamental desenvolveram mais esta dimensão do que os filhos de pais sem escolaridade formal. Em contrapartida, comparação feita no início da intervenção mostrou os filhos de pais sem escolaridade formal com maior conhecimento da realidade educativa e socioprofissional do que os filhos de pais com Ensino Médio. No entanto, esta diferença entre eles não se repetiu ao final do processo.

Pais com maiores níveis de escolaridade, em geral, oferecem aos filhos melhores condições socioeconômicas, o que, de certa forma, favorece que eles se sintam mais independentes para fazerem escolhas e tomarem decisões profissionais sem as limitações de ordem financeira, que restringem as escolhas às oportunidades disponíveis no mundo educacional e do trabalho. A classe média disponibiliza aos filhos um maior capital cultural do que as classes menos privilegiadas. Recursos como livros e jornais, acesso à internet e televisão a cabo em casa, a priori, tendem a favorecer o desenvolvimento de competências. O que é possível questionar é que talvez uma parcela destes jovens não esteja aproveitando os recursos disponíveis para melhor conhecerem as possibilidades de cursos e trabalho, para a busca de informação profissional.

 

Considerações finais

Os resultados evidenciam que a intervenção psicológica no domínio da Orientação Vocacional/Profissional contribui para a evolução da maturidade para a escolha da carreira em adolescentes que buscam esse tipo de serviço. A caracterização do perfil de maturidade para a escolha profissional dos jovens que buscam os serviços do SOP forneceu informações úteis para subsidiar procedimentos de intervenção futuros, no sentido de proporcionar aos usuários intervenções direcionadas às suas necessidades. Os resultados mostram que os adolescentes chegam necessitando principalmente desenvolver o autoconhecimento e o conhecimento da realidade para adquirirem competências para a tomada de uma decisão madura. Nesse sentido, sugere-se o foco nestas dimensões e a possibilidade de se incluir a avaliação da maturidade para a escolha profissional já na situação da triagem dos adolescentes ou no início do processo de Orientação Vocacional/Profissional, visando o planejamento das intervenções. Com relação à EMEP, embora o estudo não tenha tido o objetivo de validar o instrumento, pontua-se que este contribui ainda com a sua validade. Quanto aos limites, vale ressaltar que este estudo é de caráter documental, restrito à especificidade de uma amostra clínica, o que impede outras comparações e conclusões. Deve-se considerar também que as aplicações do instrumento de medida utilizado foram realizadas por estagiários, não havendo o registro de como foram feitas nem informações sobre possíveis intercorrências ou o grau de auxílio prestado na aplicação.

Aprofundamentos e relações com outras variáveis podem ainda ser desenvolvidos, dada a riqueza do constructo de maturidade no âmbito da carreira. Futuros estudos poderão explorar a relação da maturidade com a relevância do trabalho ou a saliência de papéis e o autoconceito. Este estudo contribui, ainda, por associar a prática clínica à investigação e aos seus resultados. A avaliação da maturidade para a escolha profissional pode ser considerada uma dimensão psicológica chave para a avaliação do impacto da intervenção.

 

Referências

Balbinotti, M. A. A., & Tétreau, B. (2006). Níveis de maturidade vocacional de alunos de 14 a 18 anos do Rio Grande do Sul. Psicologia em Estudo, 11(3), 551-560.         [ Links ]

Barnes, P. E. (2001). Student career development in grade 9 and grade 12: Can growth be assumed? Annual Conference of The American Educational Research Association, 1-25.         [ Links ]

Bohoslavsky, R. (1998). Orientação vocacional a estratégia clínica. São Paulo: Martins Fontes.         [ Links ]

Brown, S. D., & Krane, N. E. (2000). Four (or five) sessions and a cloud of dust: Old assumptions and new observations about career counseling. In S. D. Brown & R. W. Lent (Eds.). Handbook of counseling psychology (3rd ed., pp. 740-766). New York: Willey & Sons.         [ Links ]

Corlatti, C. T. (2009). Maturidade para escolha e experiência profissional na adolescência (Dissertação de Mestrado não publicada). Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto.         [ Links ]

Cozby, P. C. (2003). Métodos de pesquisa em ciências do comportamento. São Paulo: Atlas.         [ Links ]

Creed, P. A. & Patton, W. (2003). Differences in career attitude and career knowledge for high school students with and without paid work experience. International Journal for Educational and Vocational Guidance. 3(1), 21-33.         [ Links ]

Esbrogeo, M. C. (2008). Avaliação da orientação profissional em grupo: O papel da informação no desenvolvimento da maturidade para a escolha da carreira (Dissertação de Mestrado não publicada). Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto.         [ Links ]

Lassance, M. C. P., Bardagi, M. P., & Teixeira, M. A. P. (2009). Avaliação de uma intervenção cognitivo-evolutiva em orientação profissional com um grupo de adolescentes brasileiros. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 10(1), 23-32.         [ Links ]

Lobato, C. R. P. S., & Koller, S. H. (2003). Maturidade vocacional e gênero: adaptação e uso do inventário brasileiro de desenvolvimento profissional. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 4(1-2), 57-69.         [ Links ]

Melo-Silva, L. L., & Jacquemin, A. (2001). Intervenção em orientação vocacional/profissional: Avaliando resultados e processos. São Paulo: Vetor.         [ Links ]

Melo-Silva, L. L., Oliveira, J. C., & Coelho, R. S. (2002). Avaliação da orientação profissional no desenvolvimento da maturidade na escolha da profissão. Psic: Revista da Vetor Editora, 3(2), 44-53.         [ Links ]

Naidoo, A. V. (1998) Career maturity: A review of four decades of research. Bellville: University of the Western Cape.         [ Links ]

Neiva, K. M. C. (1998). Escala de Maturidade para a Escolha Profissional (EMEP): Estudo de validade e fidedignidade. Revista Unib, 6, 43-61.         [ Links ]

Neiva, K. M. C. (1999). Escala de Maturidade para a Escolha Profissional (EMEP): Manual. São Paulo: Vetor.         [ Links ]

Neiva, K. M. C. (2000). EMEP: Escala de Maturidade para a Escolha Profissional. Psic- Revista de Psicologia, 1(3), 28-33.         [ Links ]

Neiva, K. M. C. (2003). A maturidade para a escolha profissional: uma comparação entre alunos do ensino médio. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 4(1-2), 97-103.         [ Links ]

Neiva, K. M. C., Silva, M. B., Miranda, V. R., & Esteves, C. (2005). Um estudo sobre a maturidade para a escolha profissional de alunos do ensino médio. Revista Brasileira de Orientacão Profissional, 6(1), 1-14.         [ Links ]

Noce, M. A. (2008). O BBT-BR e a maturidade para a escolha profissional: Evidências empíricas de validade (Tese de Doutorado não publicada). Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto.         [ Links ]

Oliver, L. W., & Spokane, A. R. (1988). Career-intervention outcome: What contributes to client gain? Journal of Counseling Psychology, 35(4), 447-462.         [ Links ]

Patton, W., & Lokan, J. (2001). Perspectives on Donald Super´s construct of career maturity. International Journal for Educational and Vocational Guidance, 1(1), 31- 48.         [ Links ]

Patton, W., Bartrum, D. E., & Creed, P.A. (2004). Gender diferences for optimism, self-esteem, expectations and goals in predicting career planning and exploration in adolescents. International Journal for Educational and Vocational Guidance, 4(4), 193-209.         [ Links ]

Pichon-Rivière. (1994). O processo grupal. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes.         [ Links ]

Powell, D. F., & Luzzo, D. A. (1998). Evaluating factors associated with the career maturity of high school students. The Career Development Quarterly, 47(2), 145-158.         [ Links ]

Schall, R. (1991). Estimation in generalized linear models with random effects. Biometrika. 78(4), 719-727.         [ Links ]

Silva, J. T. (2004a). Avaliação da maturidade da carreira. In L. M. Leitão (Ed.), Avaliação psicológica em orientação escolar e profissional (pp. 265-316). Coimbra: Quarteto.         [ Links ]

Silva, J. T. (2004b). A eficácia da intervenção vocacional em análise: Implicações para a prática psicológica. In M. C. Taveira, H. Coelho, H. Oliveira, & J. Leonardo (Eds.), Desenvolvimento vocacional ao longo da vida: Fundamentos, princípios e orientações (pp. 95-125). Coimbra: Almedina.         [ Links ]

Spokane, A. R. (2004). Avaliação das intervenções de carreira. In L. M. Leitão (Ed.), Avaliação psicológica em orientação profissional (pp. 455-473). Coimbra, Portugal: Quarteto.         [ Links ]

Spokane, A. R., & Oliver, L. W. (1983). The outcomes of vocational intervention. In W. B. Walsh & S. H. Osipow (Eds.). Handbook of vocational psychology (pp. 99-126). Hillsdale: Lawrence Erlbaum.         [ Links ]

Super, D. E. (1990). A life span, life space approach to career development. In D. Brown & L. Brooks (Eds). Career choice and development (2nd ed., pp.197-261). San Francisco: Jossey-Bass.         [ Links ]

Watson, M. B. (2008). Career maturity assessment. In J. A. Athanasou & R. V. Esbroeck (Eds). International handbook of career guidance (pp. 511-523). New York: Springer.         [ Links ]

Whiston, S. C., & Brecheisen, B. K. (2002). Evaluating the effectiveness of adult career development programs. In S. G. Niles (Ed.), Adult career development: Concepts, issues, and practices (pp. 367-384). Tulsa, OK: National Career Development Association.         [ Links ]

Whiston, S. C., Brecheisen, B. K., & Stephens, J. (2003). Does treatment modality affect career counseling effectiveness? Journal of Vocational Behavior, 62, 390-410.         [ Links ]

Whiston, S., Sexton, T., & Lasoff, D. (1998). Career-intervention outcome: A replication and extension of Oliver and Spokane (1988). Journal of Counseling Psychology, 45, 150-165.         [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência:
Maria Luiza Junqueira
Rua Prudente de Morais, 1569/132
14015-100, Ribeirão Preto-SP
Fone: 16 3635 3879
E-mail: mluizajun@yahoo.com.br

Recebido 15/12/2014
1ª Revisão 26/01/2015
Aceite Final 10/02/2015

 

 

Sobre os autores
Maria Luiza Junqueira é Psicóloga e Mestre em Psicologia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo.
Lucy Leal Melo-Silva é Psicóloga, Mestre e Doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo. Docente da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo e editora da Revista Brasileira de Orientação Profissional.
1 Este artigo é derivado da Dissertação de Mestrado da primeira autora, defendida junto ao Programa de Pós-graduação em Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP/USP), orientada pela segunda autora.

Creative Commons License