EDITORIAL

Este número da Revista Brasileira de Orientação Profissional apresenta oito artigos originais, do Brasil e de Portugal. Ao todo são 18 autores de 10 diferentes instituições, sendo quatro portuguesas e seis brasileiras. Entre os artigos nacionais, encontramos autores de quatro diferentes estados (Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul).

O fascículo inicia com o trabalho Variáveis preditoras da indecisividade em estudantes do ensino superior, dos autores Paulo Jorge Santos (Universidade do Porto, Portugal) e Joaquim Armando Ferreira (Universidade de Coimbra, Portugal). Esta pesquisa revela alguns correlatos psicológicos da indecisividade em relação à escolha profissional, discutindo as implicações desse fenômeno para a intervenção em orientação. O segundo artigo, de autoria de Liliana Faria (Universidade Europeia, Lisboa, Portugal e Clínica Saúde Atlântica, Porto, Portugal) e Nazaré Loureiro (Universidade Européia), intitula-se Aconselhamento de carreira multicultural: abordagens teóricas e implicações para a prática. O trabalho descreve diferentes enquadres teóricos para o tema do multiculturalismo em orientação de carreira, e chama a atenção para a necessidade de se considerar, de fato, as diferenças culturais no modo de se pensar as carreiras e as intervenções no campo do aconselhamento.

Seguindo no tema das diferenças, os dois artigos seguintes tratam de populações menos estudadas no campo da orientação profissional e do desenvolvimento de carreira, especialmente no Brasil. O estudo O adulto com deficiência intelectual: concepção de deficiência e trajetória de carreira, de Larissa Schikovski Angonese (Universidade Positivo, Curitiba, Paraná), Iasmin Zanchi Boueri (Universidade Federal de São Carlos) e Andréia Schmidt (Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto) traz uma descrição das trajetórias de trabalhadores com deficiência intelectual, ressaltando o importante papel que a orientação pode ter na transição de pessoas com esse tipo de deficiência para a vida profissional. O próximo trabalho aborda outro grupo sub-representado nas pesquisas em orientação profissional e de carreira: o dos indivíduos com dotação e talento. A pesquisa Características sociocognitivas de estudantes com dotação e talento: estudo comparativo, dos autores Karen Cristina Alves Lamas (Universidade Salgado de Oliveira) e Altemir José Gonçalves Barbosa (Universidade Federal de Juiz de Fora), procurou comparar estudantes de ensino médio com dotação e talento com outro grupo de estudantes sem essas características. Os autores concluem que, apesar de algumas diferenças terem sido encontradas em variáveis relaciondas à decisão de carreira, ambos os grupos de jovens necessitam de orientação, especialmente no momento de transição do final do ensino médio.

Os quatro trabalhos seguintes têm como foco a avaliação psicológica no contexto do desenvolvimento de carreira e da orientação profissional, abordando a construção ou adaptação de instrumentos relacionados à área. De autoria de Rute David, Maria Paula Paixão e José Tomás da Silva (Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal), o estudo Interesses e competências percebidas na infância: um estudo com crianças do ensino básico traz dados relativos à adaptação Portuguesa do Inventory of Children's Activities- Revised, que avalia interesses e competências em crianças. Neste estudo, os autores verificaram características psicométricas e diferenças de gênero e idade similares ao observado em outros estudos, sugerindo tratar-se de um instrumento apropriado ao uso na realidade portuguesa. O estudo seguinte, de João Soares e Isabel Nunes Janeiro (Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal) chama-se Desenvolvimento inicial do Questionário de Prontidão para a Imprevisibilidade na Carreira, e traz dados relativos ao desenvolvimento de um novo instrumento do campo do desenvolvimento de carreira baseado na ainda pouco conhecida Teoria do Caos aplicada às Carreiras.

Na sequência, temos o trabalho Significados da educação superior: versão Portuguesa do Meaning Of Education (MOE) Questionnaire, de autoria de André M. Monteiro e Carlos M. Gonçalves (Universidade do Porto, Porto, Portugal). O artigo traz os resultados obtidos referentes à estrutura fatorial do instrumento em Portugal, e enfatiza a importância de se investigar os significados do ensino superior para os indivíduos no aconselhamento, na medida em que a adesão ao ensino superior e o esforço nele empreendido depende do significado que se atribui a esta experiência de formação. O último trabalho, de Alyane Audibert e Marco Antônio Pereira Teixeira (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), cujo título é Escala de Adaptabilidade de Carreira: evidências de validade em universitários brasileiros, traz também resultados psicométricos relativos a uma versão brasileira do instrumento mencionado, dando visibilidade a um construto clássico da psicologia vocacional, que é a adaptabilidade de carreira. Os três últimos artigos descritos, embora privilegiem aspectos técnicos da construção ou adaptação de instrumentos, trazem contribuições relevantes na medida em que chamam a atenção para construtos importantes no campo do desenvolvimento de carreira, além de oferecerem instrumentos que poderão subsidiar futuras pesquisas relacionadas a esses construtos ou teorias.

No cenário de mudanças e incertezas que caracterizam o mundo do trabalho atual, a orientação profissional e de carreira cada vez mais se firma como uma prática de relevância social, buscando aprimorar seus fundamentos e suas técnicas. A constante busca por qualificação, a troca de experiências e a produção de conhecimento deve fazer parte do cotidiano do orientador profissional. Nesse sentido, a leitura de periódicos e livros da área, bem como a participação em congressos, são oportunidades únicas de conhecer o que de mais novo vem sendo desenvolvido e discutido sobre orientação profissional e de carreira. Em breve teremos o I Congresso Ibero-Americano de Orientação de Carreira da ABOP e do XII Simpósio Brasileiro de Orientação Vocacional & Ocupacional, que serão realizados de 16 a 19 de setembro de 2015 na cidade de Bento Gonçalves, Rio Grande do Sul. Trata-se do principal encontro da orientação profissional brasileira, e um espaço importante para discussão das teorias, das intervenções e das políticas públicas relacionadas à orientação. Esperamos que o simpósio estimule a formação de parcerias e o desenvolvimento de novos trabalhos que possam ser divulgados através da Revista Brasileira de Orientação Profissional.

Marco Antônio Pereira Teixeira
Editor Científico