SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.17 número1Conflito trabalho-família em executivos: uma revisão sistemática de 2009 a 2014Expectativas de universitários sobre a universidade: sugestões para facilitar a adaptação acadêmica índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Revista Brasileira de Orientação Profissional

versão impressa ISSN 1679-3390versão On-line ISSN 1984-7270

Rev. bras. orientac. prof vol.17 no.1 Florianópolis jun. 2016

 

ARTIGOS ORIGINAIS

 

Interesses profissionais e personalidade: estudo correlacional entre o BBT-Br e a BFP

 

Vocational interests and personality: a correlational study between BBT-Br and BFP

 

Intereses profesionales y personalidad: un estudio de correspondencia entre el BBT-Br y la BFP

 

 

Milena ShimadaI; Lucy Leal Melo-SilvaI; Maria do Céu TaveiraII

IUniversidade de São Paulo, Ribeirão-Preto-SP, Brasil
IIUniversidade do Minho, Braga, Portugal

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Considerando que a literatura aponta relações teóricas e empíricas entre os construtos interesses profissionais e personalidade, objetivou-se investigar correlações entre o Teste de Fotos de Profissões (BBT) e a Bateria Fatorial de Personalidade (BFP). Participaram 906 universitários de ambos os sexos, com idade média de 23 anos (DP = 5,18). Correlações significativas foram observadas entre: o radical Z, a faceta Interesses por novas ideias e o fator Abertura; o radical V e a faceta Competência do fator Realização; o radical G e a faceta Interesses por novas ideias; o radical O e facetas Comunicação, Dinamismo e o fator Extroversão. Conclui-se que os resultados corroboram premissas teóricas de alguns radicais do BBT-Br e são condizentes com os achados da literatura científica da área.

Palavras-chave: interesses profissionais, traços de personalidade, orientação vocacional, estudantes universitários


ABSTRACT

Considering evidences of theoretical and empirical relationships between vocational interests and personality traits, this study aimed to investigate correlations between "Berufsbilder Test" (BBT) and "BateriaFatorial de Personalidade" (BFP). 906 college students, both sexes, aged 23 years old on average (SD = 5.18) participated in the study. Significant correlations were found: Z interests correlated with Interests for new ideas (facet of Openness) and Openness; V interests correlated with Competence (facet of Conscientiousness); G interestscorrelated with Interests for new ideas (facet of Openness); O interestscorrelated with Communication, Dynamism (facets of Extraversion) and Extraversion factor. The results are in agreement with the theoretical assumptions of BBT-Br, as well as with scientific literature addressing interests and personality.

Keywords: vocational interests, personality traits, vocational guidance, college students


RESUMEN

Teniendo en cuenta que la literatura señala relaciones teóricas y empíricas entre los constructos intereses profesionales y personalidad, nos propusimos investigar las correlaciones entre el Test de Fotos de Profesiones (BBT) y la Batería Factorial de Personalidad (BFP). Participaron 906 estudiantes universitarios de ambos sexos, con 23 años de edad promedio (DE = 5,18). Se observaron correlaciones significativas entre el radical Z, la faceta Intereses por nuevas ideas y el factor Abertura; el radical V y la faceta Competencia del factor Realización; el radical G y la faceta Intereses por nuevas ideas; el radical O y las facetas de Comunicación, Dinamismo y el factor de Extroversión. Concluimos que los resultados corroboran los supuestos teóricos de algunos radicales del BBT-Br y son consistentes con los hallazgos de la literatura científica.

Palabras clave: intereses profesionales, rasgos de personalidad, orientación profesional, estudiantes universitarios


 

 

As relações entre interesses profissionais e características de personalidade são amplamente discutidas (Holland, 1997, 1999; Savickas, 1999) e investigadas (Mount, Barrick, Scullen, & Rounds, 2005; Staggs, Larson, & Borgen, 2007) no domínio da Orientação Profissional e de Carreira. Ainda que constituam cons-trutos distintos (Kandler, Bleidorn, Riemann, Angleitner, & Spinath, 2011; Mount et al., 2005), a literatura aponta que informações sobre a personalidade podem ampliar a compreensão sobre os interesses, por conseguinte sobre seus instrumentos de avaliação (Ackerman & Beier, 2003; Nunes & Noronha, 2009; Staggs et al., 2007).

Nesse âmbito, destaca-se a meta-análise de Ackerman e Heggestad (1997), que avaliou as correlações entre personalidade, interesses profissionais e habilidades intelectuais. Sobre as correlações entre interesses - conforme tipologia RIASEC de Holland - e personalidade, os autores verificaram relações moderadas entre o fator Realização e os interesses do tipo Convencional, Extroversão com os tipos Social e Empreendedor, sendo que as mais elevadas foram entre o fator Abertura e os interesses dos tipos Investigativo, Artístico e Social. Com base nessas análises, Ackerman e Heggestad (1997)suge-riram quatro complexos ou agrupamentos: Social (interesses Empreendedores e Sociais, traços de personalidade Extroversão, Socialização e Bem-estar); Convencional (habilidades relacionadas à velocidade perceptual, interesses Convencionais e traços Controle, Realização e Tradicionalismo); Ciência / Matemática (habilidades ligadas ao raciocínio matemático e percepção visual, interesses Realistas e Investigativos); e Intelectual / Cultural (habilidades referentes à inteligência cristalizada e fluência de ideias, interesses Investigativos e Artísticos, traços Absorção e Abertura).

Posteriormente, a meta-análise de Staggs et al. (2007) avaliou os complexos de Ackerman e Heggestad (1997), especificamente no que diz respeito às relações entre interesses e personalidade. Os resultados evidenciaram que, no complexo Ciência/Matemática, o tipo Realista correlacionou-se negativamente com a escala Busca por riscos (-0,31) e o tipo Investigativo associou-se à Realização (0,27). No complexo Intelectual/Cultural, foram encontradas relações entre o tipo Artístico e a escala Absorção (0,44). Por fim, no complexo Social observaram-se correlações entre: o tipo Empreendedor, Potência social/Persuasão (0,36) e Proximidade social (0,20); o tipo Social e as escalas Proximidade social (0,29), Bem-estar (0,26), Agressão (-0,22) e Tradicionalismo (0,22). Staggs et al. (2007) apontam que os resultados reforçam os achados de Ackerman e Heggestad (1997), estimulando estudos que busquem ampliar a compreensãosobreascomplexasinteraçõesentreinteresses e personalidade.

Nesse contexto, o presente estudo objetivou investigar as relações entre as variáveis (radicais de inclinação) do Teste de Fotos de Profissões - BBT-Br (Achtnich, 1991; Jacquemin, Okino, Noce, Assoni, & Pasian, 2006; Jacquemin, 2000), um instrumento destinado à avaliação de interesses profissionais em intervenções de carreira, e características de personalidade, avaliadas a partir do modelo dos cinco grandes fatores (Costa & McCrae, 1992; Nunes, Hutz, & Nunes, 2010). Objetiva-se contribuir para a produção do conhecimento sobre os construtos interesses e personalidade, bem como para o aprimoramento do instrumento BBT-Br, único método projetivo atualmente aprovado pelo Conselho Federal de Psicologia (Conselho Federal de Psicologia, 2016) para utilização em Orientação Profissional no Brasil.

Para elaboração do BBT, Achtnich (1991) emba-sou-se em pressupostos da Teoria da Personalidade de Szondi (1970), especificamente no que se refere aos princípios da combinação de fatores, bem como em sua ampla experiência clínica e investigações empíricas. Assim, o BBT pressupõe oito fatores, ou radicais de inclinação, como elementos básicos para se classificar os interesses das pessoas(Achtnich, 1991). Tais tendências influenciariam, em um interjogo com fatores ambientais e socioculturais, as escolhas dos indivíduos, inclusive no processo de construção de suas carreiras (Pasian, Okino,& Melo-Silva, 2007).

Em síntese, os oito radicais propostos por Achtnich (1991) são: W - referente à ternura, sensibilidade, contato interpessoal físico ou psíquico; K - força física, agressividade, obstinação; S - relaciona-se ao senso social, subdividido em: Sh (relações de ajuda, disponibilidade para o outro) e Se (dinamismo, energia psíquica); Z - descreve a necessidade de ser reconhecido, estética, apreciação pelo belo, pelas artes; V - racionalidade, conhecimento, objetividade; G - relativo à imaginação, criatividade, investigação; M - refere-se à necessidade lidar com fatos passados e matérias como antiguidades, substâncias, e à possessi-vidade (material e afetiva); O - subdividido em Or (oralidade, comunicação, persuasão) e On (relaciona-se à nu-trição).Nenhum desses fatores de inclinação existe em um estado isolado no indivíduo (Achtnich, 1991, p. 11), mas sim, de maneiras múltiplas, com a preponderância de uma ou mais tendências. Do mesmo modo, as atividades são compreendidas como multidimensionais, ou seja, não podem ser descritas com base em um único radical. O BBT é composto por 96 fotos de pessoas em atividades profissionais, de forma que cada imagem representa uma combinação entre dois radicais de inclinação. Os primários dizem respeito às atividades em si, já os secundários descrevem outros aspectos das profissões, como objetivos e ambientes de trabalho(Achtnich, 1991).

As estruturas de interesses são investigadas por meio de escolhas e rejeições das atividades, ambientes e instrumentos de trabalho, representados nas imagens que compõem o teste. A classificação das imagens no BBT é realizada considerando-se as impressões afetivas dos indivíduos sobre as fotos, não apenas aspectos concretos e racionais de suas representações (Pasian et al., 2007). Dessa maneira, o BBT permite uma avaliação dinâmica dos interesses de um orientando, possibilitando perceber a maneira como ele organiza suas escolhas, bem como a hierarquização que realiza de suas preferências e rejeições motivacionais, dados úteis nas intervenções de carreira. As pesquisas sobre o BBT-Br no contexto brasileiro sugerem adequadas qualidades psicométricas (Barrenha, 2011; Okino & Pasian, 2010), bem como eficácia clínica (Melo-Silva, Pasian, Okino, Marangoni, & Shimada, 2015) deste instrumento, devido a suas amplas possibilidades informativas.

Os índices de produtividade do BBT-Br (soma de escolhas positivas, negativas e neutras frente às fotos do teste), por exemplo, têm sido associados a indicadores de maturidade profissional. Noce (2008) avaliou 93 estudantes do Ensino Médio, que foram classificados em dois grupos contrastantes em relação ao nível de maturidade para a escolha profissional. As análises evidenciaram que participantes com maiores índices de maturidade apresentaram maior número de escolhas positivas no BBT-Br, enquanto os jovens de menor maturidade realizaram mais escolhas negativas. Na mesma direção, o estudo de Fracalozzi (2014) avaliou 220 estudantes do Ensino Médio regular e técnico, de 16 a 20 anos, por meio do Questionário de Educação para a Carreira (QEC) e do BBT-Br. Verificou-se que alunos com maior maturidade realizaram significativamente mais escolhas positivas (M = 41,63; DP = 12,38) do que aqueles com menor maturidade (M = 28,56; DP = 20,15), corroborando os achados de Noce (2008).

Outro interessante conjunto de dados que o BBT-Br fornece é a partir da história das cinco fotos preferidas, um procedimento qualitativo complementar do teste. Nessa temática, destaca-se o estudo de Melo-Silva, Pasian, Assoni e Bonfim (2008), com a participação de 80 adolescentes atendidos em processo de Orientação Profissional. Foram avaliadas 160 histórias, duas de cada orientando, sendo a primeira elaborada durante a intervenção e a segunda ao término do atendimento. Observou-se que, na primeira história, houve mais indicativos de possibilidades diagnósticas de conflitos e dúvidas dos orientados; já a segunda narrativa mostrou-se sinalizadora de mudanças e de resolutividade dos conflitos iniciais. Assim, as autoras argumentam que a análise das histórias foi útil ao propiciar maior clareza e apreensão dos conflitos viven-ciados pelos adolescentes(Melo-Silva, Pasian, Assoni, & Bonfim, 2008).

Cumpre também destacar, de forma mais pormenorizada, estudos que contribuem para a compreensão dos radicais de inclinação do BBT-Br. Nesse âmbito, encontram-se as investigações de Okino e Pasian (2010) e Mansão et al. (2011), que correlacionaram os radicais propostos por Achtnich (1991) ao modelo RIASEC (Holland, 1997). Okino e Pasian (2010) avaliaram 497 estudantes do Ensino Médio, por meio do BBT-Br e do SDS (Self Directed Search), versão brasileira (Primi, Mansão, Muniz, & Nunes 2010). Na versão masculina do BBT-Br, foram encontradas correlações acima de .30 entre: o tipo Realista e os radicais de inclinação K (0,54), S (0,37), V (0,41) e M (0,37); o tipo Investigativo e os radicais G (0,43) e V (0,37); o tipo Artístico e os radicais Z (0,56) e G (0,42); o tipo Social e os radicais de inclinação G (0,42), W (0,42), S (0,42), Z (0,40), O (0,40) e M (0,32); o tipo Empreendedor e os radicais O (0,42) e V (0,37); por fim, entre o tipo Convencional e o radical V (0,42). Já na versão feminina do BBT-Br, as correlações encontradas foram entre o tipo Realista e os radicais K (0,52), V (0,40), Z (0,35), M (0,36) e G (0,31); entre o tipo

Investigativo e os radicais G (0,47), V (0,33) e M (0,30); entre o tipo Artístico e os radicais Z (0,39) e G (0,31); entre o tipo Social e os radicais S (0,51) e G (0,36); entre o tipo Empreendedor e os radicais V (0,35), Z (0,32) e O (0,34); e entre o tipo Convencional e o radical V (0,49).

O estudo de Mansão et al. (2011), por sua vez, correlacionou as variáveis do BBT-Br com os resultados do Avaliação dos Tipos Profissionais de Holland (ATPH), instrumento elaborado a partir do SDS. Foram avaliados 119 estudantes do Ensino Médio, com idades entre 14 e 18 anos. Os resultados indicaram que: o tipo Realista correlacionou-se com os radicais K (0,50) e V (0,40); o tipo Investigativo associou-se com os radicais M (0,35) e K (0,30); o tipo Artístico, com os radicais K (0,32), Z (0,34) e M (0,36); o tipo Empreendedor relacionou-se com os fatores V (0,40), O (0,39), Z (0,34) e K (0,35); e por fim, o tipo Convencional relacionou-se aos fatores V (0,49) e O (0,41). Portanto, foi possível verificar concordância com alguns resultados de Okino e Pasian (2010), embora a análise dos resultados tenha sido realizada de forma distinta, uma vez que as estas autoras apresentaram dados das formas feminina e masculina do BBT-Br separadamente. Mais especificamente, foram corroboradas as relações entre: os radicais K e V do BBT-Br e os interesses do tipo Realista; o radical Z e o tipo Artístico; os radicais O e V e os interesses do tipo Empreendedor; e o radical V e o tipo Convencional. Considerando-se que a perspectiva de Holland (1997) é amplamente reconhecida na literatura científica como um modelo eficiente para a avaliação dos interesses profissionais(Nauta, 2010), pode-se argumentar que os achados das investigações citadas são favoráveis no sentido de demonstrar a validade de constato do BBT-Br (Okino & Pasian, 2010).

Apesar dos bons indicadores técnicos encontrados sobre o BBT-Br, uma vertente investigativa pouco explorada relaciona-se à validade das interpretações deste método projetivo em relação à personalidade. O modelo dos cinco grandes fatores tem se mostrado profícuo em estudos com instrumentos de avaliação de interesses, podendo auxiliar a fundamentar algumas das possibilidades informativas do BBT-Br. Salienta-se que, até o momento, não foram identificadas na literatura científica investigações relacionando as variáveis do BBT-Br aos cinco fatores de personalidade. Por outro lado, encontram-se diversos estudos recentes que se propuseram a examinar as relações entre os mesmos e o modelo hexagonal de Holland (1997). Como as pesquisas citadas anteriormente (Mansão et al., 2011; Okino & Pasian, 2010) fornecem indicativos de relações entre as variáveis do BBT-Br e o modelo RIASEC, as possibilidades de discussão dos resultados deste estudo a partir de outras referências na literatura podem ser ampliadas.

Nesse âmbito, cumpre destacara pesquisa de Armstrong e Anthoney (2009), que avaliaram dois conjuntos de participantes. O primeiro consistiu em1186 estudantes de uma universidade estadunidense, com idades entre 17 a 52 anos. Os instrumentos utilizados foram Interest Profiler (Lewis & Rivkin, 1999) e International Personality Item Pool (Goldberg, 1999). O segundo conjunto constituiu-se da base de dados de De Fruyt e Mervielde (1997), composta por 934 estudantes de uma universidade belga, com idades entre 20 e 43 anos. Os participantes responderam versões holandesa do Self Directed Search - SDS e do NEO Personality Inventory - Revised - NEO-PI-R (Costa & McCrae, 1992). A análise de dados foi realizada por meio de ajuste fatorial. Os resultados evidenciaram que o padrão mais consistente de relações, nos dois conjuntos de dados, ocorreu entre as facetas do fator Abertura e o tipo Artístico; as facetas de Extroversão ligaram-se aos interesses dos tipos Empreendedor e Social; já o fator Socialização apresentou determinadas facetas relacionadas ao tipo Social; apenas no segundo conjunto de dados, as facetas do fator Realização relacionaram-se entre os interesses Empreendedor e Convencional.

A investigação de Duffy et al. (2009), por sua vez, avaliou 282 estudantes de medicina estadunidenses em termos de interesses, personalidade e valores. Os interesses foram avaliados de acordo com o modelo RIASEC e a personalidade foi avaliada por meio do NEO-PI-R (Costa & McCrae, 1992). Os resultados apontaram relações acima de .20 entre o fator Neuroticismo e os interesses do tipo Investigativo (-0,23); entre o fator Socialização e os interesses dos tipos Artístico (0,22) e Social (0,44); entre o fator de personalidade Extroversão e o tipo Social (0,21); e entre o fator Abertura e os tipos Artístico (0,59) e Social (0,22).

Já Hirschi (2008) avaliou 492 estudantes suíços entre 13 e 19 anos de idade. As variáveis focalizadas foram, além dos interesses e da personalidade, os valores e a au-toeficácia. A personalidade foi avaliada pelo instrumento NEO-FFI (Costa & McCrae, 1992), adaptado para o idioma alemão; e os interesses pelo Revised General Interest Structure Test - AIST-R (Bergmann & Eder, 2005). Os resultados evidenciaram que as correlações mais elevadas se deram entre o fator Extroversão, com os tipos Investigativo (-0,21), Social (0,25) e Empreendedor (0,26); e entre o fator Abertura e os interesses dos tipos Artístico (0,28) e Social (0,21).

Ressalta-se ainda a meta-análise realizada por Mount et al. (2005), que analisou resultados de 46 amostras, totalizando 12433 indivíduos. Dentre as 30 correlações possíveis entre as variáveis CGF-RIASEC, quatro foram maiores que 0,20: fator Extroversão e tipo Empreendedor (0,40); fator Abertura e tipo Artístico (0,41); fator Extroversão e tipo Social (0,29); fator Abertura e tipo Investigativo (0,25).

No contexto brasileiro, por sua vez, destacam-se investigações realizadas com a Bateria Fatorial de Personalidade - BFP (Nunes et al., 2010), como o estudo de Noronha et al. (2012). As autoras avaliaram 122 estudantes do Ensino Médio, com idade entre 14 a 18 anos; foram utilizados os instrumentos ATPH e BFP (Nunes et al., 2010). Foram encontradas associações significativas entre o fator Abertura e o tipo Artístico (0,40), bem como entre o fator Realização e os tipos Social (0,21) e Empreendedor (0,26), entre e o fator Socialização e o tipo Social (0,33).

Já o estudo de Nunes e Noronha (2009) avaliou os interesses, a personalidade e as habilidades cognitivas de 211 estudantes do Ensino Médio. Para a avaliação dos interesses, foram utilizados os instrumentos EAP (Noronha, Sisto, & Santos, 2007) e SDS(Primi et al., 2010). A BFP (Nunes et al., 2010) foi utilizada para a avaliação da personalidade. Foram realizadas análises fatoriais com os escores dos instrumentos, obtendo uma solução de seis fatores. Quanto aos aspectos de interesses e personalidade, observou-se que no primeiro fator destacaram-se as dimensões Artes e Comunicação, Ciências Humanas e Sociais Aplicadas e Entretenimento (EAP); o tipo Artístico (SDS); os fatores de personalidade Abertura e Extroversão. No segundo fator, agruparam-se as dimensões Atividades Burocráticas, Entretenimento e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas (EAP); e os tipos Convencional e Empreendedor (SDS). No terceiro fator, observaram-se as dimensões Ciências Biológicas e da Saúde, Ciências Agrárias e Ambientais e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas (EAP); os tipos Social e Investigativo; e o fator Socialização, além das participações (nos dois casos com cargas baixas) do tipo Investigativo. De acordo com as referidas autoras, esse tema de investigação é relevante, uma vez que fornece mais informações sobre os instrumentos que os psicólogos podem utilizar nas intervenções, aprimorando a prática profissional(Nunes & Noronha, 2009).

Por fim, aponta-se o estudo de Valentini, Teodoro e Balbinotti (2009) que contou com a participação de 145 universitários, com idades entre 18 a 51 anos. Para avaliar os interesses, foi utilizado o Inventário Tipológico de Interesses Profissionais -ITIP-96 (Balbinotti, 2003). Foram também avaliados três dos cinco traços de personalidade e suas facetas, por meio dos instrumentos Escala Fatorial de Neuroticismo - EFN (Hutz & Nunes, 2001), Escala Fatorial de Extroversão - EFEx (Nunes & Hutz, 2006, 2007) e Escala Fatorial de Abertura à Experiência - EFA (Vasconcellos & Hutz, 2008). Para as amostras feminina e masculina, Valentini et al. (2009) identificaram correlações significativas entre o fator Abertura e os tipos Investigativo (0,44 e 0,27) e Artístico (0,29 e 0,34), bem como entre o fator Extroversão e o tipo Empreendedor (0,28 e 0,34). Especificamente para o sexo masculino, foram verificadas relações entre o fator Extroversão e o tipo Artístico (0,26) e entre o fator Abertura e o tipo Convencional (-0,26). Para o grupo feminino, as relações ocorreram entre o fator Abertura e o tipo Realista (0,27).

Considerando o exposto, verifica-se que o modelo dos cinco grandes fatores tem se mostrado útilnas investigações sobre os interesses profissionais e seus instrumentos de avaliação. Assim, o objetivo deste estudo é verificar as possíveis relações entre os radicais do BBT-Br e os cinco grandes fatores de personalidade e suas facetas. A partirda revisão da literatura, bem como considerando a descrição dos radicais de inclinação do BBT-Br, foi possível formular as seguintes hipóteses: (a) os radicais de inclinação Z (interesses relacionados à estética, apreciação do belo, das artes) e G (pensamento, criatividade, imaginação criadora) podem apresentar relação como fator de personalidade Abertura; (b) o radical V (objetividade, organização, pensamento racional e lógico) com o fator Realização; (c) o radical O (oralidade) como fator Extroversão; (d) o radical S (senso social, interesses por atividades dinâmicas ou relações de ajuda) comos fatores Socialização e Extroversão.

 

Método

Participantes

Participaram do estudo 906 estudantes universitários, 538 do sexo feminino (59,38%) e 368 do sexo masculino (40,62%). As idades variaram de 17 a 62 anos, com média de 23,38 anos (DP = 5,18). Os universitários distribuíram-se em 18 diferentes cursos de graduação, em instituições públicas (n = 592, 65,3%) e privadas (n = 314, 34,7%). A amostra deste estudo é a mesma de uma pesquisa maior, cujo objetivo foi investigar o BBT-Br junto a estudantes universitários, ampliando e atualizando os dados normativos deste instrumento projetivo no contexto do Ensino Superior (Shimada, 2016).

Instrumentos

1. Teste de Fotos de Profissões (BBT-Br), formas Masculina (Jacquemin, 2000) e Feminina (Jacquemin et al., 2006). É um método que emprega, além de quantificação, elementos projetivos (Duarte, Bardagi, & Teixeira, 2011),tendo como objetivo clarificaros interesses e as motivações conscientes e inconscientes dos indivíduos, auxiliando no processo de construção de suas carreiras. O BBT-Br apresenta adequadas evidências de validade junto ao contexto sociocultural brasileiro, como demonstrado em investigações recentes (Barrenha, 2011; Melo-Silva et al., 2015; Okino & Pasian, 2010).É composto por 96 fotos de pessoas realizando atividades profissionais diversas, sendo que cada foto representa uma combinação de características, designadas como radicais de inclinação. A aplicação do BBT-Br inicia-se a partir da classificação das 96 fotos do teste, por parte do orientando, em escolhas positivas (imagens que o agradam), escolhas negativas (as que não o agradam) e escolhas neutras (que o deixam indeciso ou indiferente). São então calculadas as frequências de escolha e rejeição por radical primário e secundário, obtendo-se, respectivamente, as estruturas de inclinação positiva e negativa. O BBT-Br possibilita, ainda, uma etapa qualitativa, em que o orientando elabora grupos de imagens que tenham algo em comum, sendo solicitado que fale sobre suas impressões e preferências por cada grupo e suas respectivas fotos (Achtnich, 1991). Por fim, como procedimento complementar, é solicitado ao indivíduo que elabore uma história integrando suas cinco fotos preferidas do BBT-Br(Jacquemin et al., 2006; Jacquemin, 2000). Neste estudo, são utilizados os dados da etapa quantitativa de aplicação, referentes às escolhas positivas nos radicais primários do BBT-Br.

2. Bateria Fatorial de Personalidade (BFP)(Nunes et al., 2010). Instrumento psicológico que avalia a personalidade a partir do modelo dos Cinco Grandes Fatores (CGF), amplamente utilizado em pesquisas científicas, devido às evidências de sua universalidade e aplicabilidade em diferentes contextos. É composta por 126 itens em escala likert de sete pontos, nos quais o indivíduo deve indicar a concordância com as afirmativas. Quanto às qualidades psicométricas da BFP, a consistência interna dos fatores variou entre 0,85 e 0,89 (Nunes et al., 2010). Os itens são distribuídos em cinco fatores que subdividem-se em dimensões denominadas facetas: Abertura para novas experiências (Interesse por novas ideias, Liberalismo e Busca por novidades), Realização (Competência, Ponderação/Prudência e Empenho/ Comprometimento), Extroversão (Comunicação, Altivez, Dinamismo e Interações Sociais), Socialização (Amabilidade, Pró-sociabilidade e Confiança nas pessoas) e Neuroticismo (Vulnerabilidade, Instabilidade emocional, Passividade/Falta de energia e Depressão). Em resumo, o fator Abertura representa os comportamentos exploratórios, bem como o reconhecimento da importância de ter novas experiências (Costa & McCrae, 1992; Vasconcellos & Hutz, 2008). Já o fator Realização descreve o grau de organização, persistência e controle, avaliando o senso de competência pessoal, a ponderação para tomada de decisões e o comprometimento na busca de objetivos(Nunes et al., 2010). Extroversão relaciona-se às interações sociais, em termos de quantidade e intensidade, nível de atividade, necessidade de estimulação e capacidade de alegrar-se(Nunes & Hutz, 2006). Socialização também refere-se às relações interpessoais, porém avalia o interesse pelo bem-estar dos outros, confiança nas pessoas e compatibilidade ao convívio e às normas sociais (Nunes & Hutz, 2007). Por fim, Neuroticismo refere-se ao nível crônico de ajustamento emocional e instabilidade(Nunes et al., 2010).

Procedimentos

Inicialmente, a pesquisa foi avaliada e aprovada por um Comitê de Ética em Pesquisa. Em seguida, solicitou-se autorização dos dirigentes das instituições de ensino para a coleta de dados com seus alunos, por meio de uma carta convite e uma versão do projeto. Após a aprovação da instituição, foram agendadas datas para a aplicação dos instrumentos em horário regular de aula. Os estudantes receberam uma explicação detalhada da pesquisa e formalizaram sua participação por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

A aplicação do BBT-Br foi realizada por meio de uma versão do teste em formato de aplicativo para tablets, desenvolvido para uso específico em pesquisa. Este aplicativo segue as instruções padronizadas de aplicação e avaliação do teste. No momento da aplicação, cada participante recebe um tablet, sendo que inicialmente seleciona-se a forma masculina ou feminina do BBT-Br. Em seguida, são apresentadas as 96 fotos do instrumento e o participante tem a possibilidade de efetuar a classificação das imagens em positivas, negativas e neutras no próprio equipamento. Após a aplicação, o aplicativo do BBT-Br está habilitado a exportar os dados coletados a um sistema computacional que permite a apresentação do banco de dados em formato de planilhas, possibilitando a análise dos dados (Shimada, 2016). Já a BFP foi aplicada de acordo com seus referenciais técnicos(lápis-e-papel). A coleta de dados foi realizada por psicólogas treinadas nos referidos instrumentos, sendo que tempo de aplicação total foi de aproximadamente 40 minutos.

Análise dos resultados

Para verificar as relações entre os radicais de inclinação do BBT-Br e os fatores e facetas da BFP, a metodologia proposta foi o coeficiente de correlação de Pearson. Destaca-se que as formas masculina e feminina do BBT-Br, embora teoricamente equivalentes, foram analisadas separadamente, considerando-se que se tratam de dois instrumentos distintos.

 

Resultados

A Tabela 1 apresenta os coeficientes de correlação de Pearson entre os oito radicais de inclinação da versão masculina do BBT-Br e os cinco fatores de personalidade da BFP, bem como suas facetas. Para a análise das associações significativas encontradas nos atuais resultados, foram consideradas intensidades de correlação moderadas, ou seja, com índices iguais ou maiores a 0,25, conforme parâmetros propostos por Marôco (2011).

Na Tabela 1, é possível observar que, entre os participantes do sexo masculino, o radical de inclinação Z apresentou correlações moderadas com a faceta Interesses por novas ideias (0,41) e com o fator Abertura (0,30). O resultado possibilita inferir que pessoas com necessidade de reconhecimento, de si mesmas ou de seu trabalho, e gosto pelo belo caracterizam-se por serem abertas tanto a novas ideias e conceitos filosóficos, artísticos, musicais, como também a novas experiências. Desta forma, são indivíduos imaginativos, curiosos e exploradores, que tendem a ser não convencionais. O radical de inclinação V apresentou índice de correlação moderado (0,26) com a faceta Competência do fator Realização. Esses dados sugerem que interesses relacionados à lógica, precisão e organização do pensamento podem relacionar-se a indivíduos que acreditam no seu potencial para realizar tarefas complexas e desafiadoras, bem como possuem clareza sobre seus objetivos de vida.

O radical G do BBT-Br correlacionou-se positivamente com a faceta Interesse por novas ideias do fator Abertura(0,33). Desta forma, infere-se que indivíduos que se interessam por atividades que envolvam o pensamento abstrato, a criatividade e a investigação tendem a ser imaginativos e abertos a novas tendências e ideias. Por fim, o radical O correlacionou-se com as facetas Comunicação (0,25), Dinamismo (0,27), bem como com o fator geral Extroversão (0,30). Essa aproximação sugere que interesses por atividades que envolvam relacionamentos interpessoais e habilidade verbal podem estar associados a pessoas comunicativas e com facilidade para se expressar em grupos. Ainda, a indivíduos que tendem a ser dinâmicos e a apresentar comportamentos de liderança em contextos variados.

Dando sequência aos resultados, a Tabela 2 apresenta os coeficientes de correlação de Pearson entre as variáveis da versão feminina do BBT-Bre os fatores e facetas da BFP.

A partir da Tabela 2, verifica-se que, entre as participantes do sexo feminino, houve um número menor de associações significativas entre as variáveis do BBT-Br e da BFP. Observaram-se relações entre o radical de inclinação Z, a faceta Interesse por novas ideias (0,37) e o fator Abertura (0,29). Tais resultados também foram verificados na amostra masculina e denotam que pessoas com interesse por atividades relacionadas à exposição de si mesmas ou de seu trabalho, bem como à estética e beleza, podem caracterizar-se por serem abertas a diferentes conceitos e experiências.

 

Discussão

Os resultados permitiram observar associações entre as variáveis de interesses e personalidade, sendo que estas mostraram-se mais salientes considerando-se a versão masculina do BBT-Br. Os traços de personalidade que mais se aproximaram dos interesses foram Abertura (faceta Interesses por novas ideias e fator geral Abertura), Extroversão (facetas Comunicação, Dinamismo e fator geral) e Realização (faceta Competência), permitindo confirmar algumas das hipóteses deste estudo.

A primeira hipótese referia-se à correlação entre os radicais de inclinação Z e G ao fator de personalidade Abertura, sendo que tais relações foram parcialmente encontradas. Tanto na versão feminina quanto na versão masculina do BBT-Br, os interesses relacionados ao radical de inclinação Z (estética, apreço pelo belo) relacionaram-se à faceta Interesse por novas ideias (0,41 na forma masculina e 0,37 na forma feminina) e ao fator geral Abertura (0,30 na forma masculina e0,29 na forma feminina). Considerando que o radical Z, nas versões feminina e masculina do BBT-Br, pode corresponder aos interesses do tipo Artístico (Mansão et al., 2011; Okino & Pasian, 2010), essas evidências podem ser corroboradas por outras referências na literatura (Armstrong & Anthoney, 2009; Duffy et al., 2009; Hirschi, 2008; Mount et al., 2005; Noronha, Mansão, & Nunes, 2012; Valentini et al., 2009). De fato, verifica-se que a relação entre os interesses artísticos e o fator Abertura, bem como suas facetas, é um dos resultados mais recorrentes no que tange à investigação dos construtos interesses profissionais e personalidade (Larson, Rottinghaus, & Borgen, 2002; Mount et al., 2005; Staggs et al., 2007).

Ainda sobre a primeira hipótese do estudo, foi possível verificar relação significativa entre o radical G e a faceta Interesse por novas ideias (0,33), do fator Abertura, especificamente entre os participantes do sexo masculino. O radical G representa interesses relativos ao pensamento abstrato, ao mundo das ideias e à imaginação criativa, correspondendo a interesses do tipo Investigativo no modelo RIASEC(Okino & Pasian, 2010).Desta forma, esse resultado era esperado e pode também ser corroborado por outros achados na literatura (Larson, Rottinghaus, & Borgen, 2002; Mount et al., 2005).

Já o radical V (objetividade, organização, pensamento racional e lógico), na versão masculina do BBT-Br, apresentou correlação significativa com a faceta Competência (0,26) do fator Realização, confirmando parcialmente a segunda hipótese do estudo. De acordo com Zhang (2008), é coerente inferir que indivíduos que possuem clareza sobre seus planos e objetivos de vida se interessem profissionalmente por atividades lógicas e organizadas. Além disso, destaca-se que o radical V foi relacionado preponderantemente aos interesses do tipo Convencional em estudos anteriores (Mansão et al., 2011; Okino & Pasian, 2010), possibilitando discutir os resultados do presente trabalho a partir de outros achados na literatura. Assim, as relações entre o radical V e a faceta Competência do fator Realização encontram respaldo em resultados de investigações que examinaram as relações entre interesses e o fator geral Realização (Noronha et al., 2012), bem como suas facetas (Armstrong & Anthoney, 2009).

Por sua vez, o radical de inclinação O (oralidade, comunicação, persuasão), na versão masculina do BBT-Br, correlacionou-se positivamente com as facetas Comunicação (0,25), Dinamismo (0,27), bem como com o fator geral Extroversão (0,30), corroborando a terceira hipótese do estudo. Nessa direção, Zhang (2008) discute que indivíduos extrovertidos tendem a preferir trabalhos que envolvam a interação com as pessoas. Além disso, aponta-se que em investigações anteriores, o radical O associou-se a interesses do tipo Empreendedor no modelo RIASEC (Mansão et al., 2011; Okino & Pasian, 2010).Essa associação permite aproximar este achado a relações comumen-te encontradas em outras investigações sobre interesses e personalidade(Armstrong & Anthoney, 2009; Duffy et al., 2009; Hirschi, 2008; Mount et al., 2005; Noronha et al., 2012; Valentini et al., 2009). Nesse sentido, Larson et al.(2002), a partir de estudo de meta-análise, afirmaram que parecem haver relações substanciais entre interesses do tipo Empreendedor e o traço Extroversão.

Outros resultados recorrentes na literatura consistem na correlação entre os interesses do tipo Social com o fator de personalidade Extroversão (Armstrong & Anthoney, 2009; Duffy et al., 2009; Hirschi, 2008; Mount et al., 2005; Noronha et al., 2012), embora menos expressiva (Larson et al., 2002), bem como com as facetas e o fator geral Socialização (Armstrong & Anthoney, 2009; Duffy et al., 2009; Hirschi, 2008; Noronha et al., 2012). Considerando que os interesses do tipo Social parecem ser mais adequadamente representados pelo radical de inclinação S do BBT-Br (Okino & Pasian, 2010), a quarta hipótese deste estudo consistia em possíveis relações deste radical com os fatores de personalidade Socialização e Extroversão. Entretanto, não foram detectadas relações relevantes. É possível que essas diferenças estejam relacionadas tanto aos distintos referenciais teóricos empregados, como às especificidades da amostra. Nesse sentido, futuras investigações com outras amostras de diferentes escolaridades e faixas etárias podem ser úteis para corroborar ou refutar os resultados deste estudo.

O fator de personalidade Neuroticismo, por sua vez, não é comumente associado a variáveis de interesses profissionais na literatura (Ambiel, Noronha, & Nunes, 2012; Armstrong & Anthoney, 2009; Nunes & Noronha, 2009). Da mesma forma, neste estudo não foram identificadas relações relevantes entre o fator Neuroticismo e suas facetas com os radicais de inclinação do BBT-Br. Nesse sentido, Ambiel et al. (2012) e Nunes e Noronha (2009) argumentam que esse fator de personalidade pode contribuir mais quando relacionado a outras questões nas intervenções vocacionais, como, por exemplo, indecisão profissional ou adaptação à carreira.

 

Considerações finais

De forma geral, os resultados encontrados mostraram-se condizentes com investigações anteriores sobre interesses profissionais e personalidade. Ainda, foram coerentes com as hipóteses teóricas do BBT-Br, corroborando as características propostas por Achtnich (1991) para alguns dos radicais de inclinação do instrumento. As associações significativas mais fortes foram entre o radical de inclinação Z e a faceta Interesses por novas ideias, do fator Abertura, nas duas versões do BBT-Br. Ainda, verificou-se que as relações encontradas entre os interesses e os fatores de personalidade foram de baixa magnitude, o que já era esperado tendo em vista a literatura científica focalizando esses constru-tos (Ambiel et al., 2012; Larson et al., 2002; Nunes & Noronha, 2009).

Quanto às limitações do estudo, ressalta-se as características da amostra, composta especificamente por estudantes universitários. A fim de ampliar o conhecimento sobre as relações entre interesses e personalidade, recomenda-se investigações futuras abrangendo pessoas de diferentes faixas etárias e de contextos diversificados.

Por outro lado, destaca-se a importância das evidências encontradas nesta investigação, a primeira a examinar as relações entre os radicais doBBT-Br aos cinco grandes fatores de personalidade. Espera-se que as contribuições deste estudo possam embasar futuras pesquisas sobre o BBT-Br nessa linha investigativa. Por fim, acredita-se que os resultados deste estudo podem ser úteis também no sentido de aprimorar o conhecimento sobre os instrumentos BBT-Br e BFP, bem como sobre os construtos interesses e personalidade, favorecendo a prática do orientador profissional.

 

Referências

Achtnich, M. (1991). O BBT-Teste de Fotos de Profissões: método projetivo para a clarificação da inclinação profissional. Trad. José Ferreira Filho. São Paulo: CETEPP.         [ Links ]

Ackerman, P. L., & Beier, M. E. (2003). Intelligence, Personality, and Interests in the Career Choice Process. Journal of Career Assessment, 11(2), 205-218. http://doi.org/10.1177/0095399702250433        [ Links ]

Ackerman, P. L., & Heggestad, E. D. (1997). Intelligence, personality, and interests: Evidence for overlapping traits. Psychological Bulletin, 121(2), 219-245. http://doi.org/10.1037/0033-2909.12L2.219        [ Links ]

Ambiel, R. A. M., Noronha, A. P. P., & Nunes, M. F. O. (2012). Interesses profissionais e personalidade: um aporte para a integração dos construtos. Avaliação Psicológica, 11(2), 191-201.         [ Links ]

Armstrong, P. I., & Anthoney, S. F. (2009). Personality facets and RIASEC interests: An integrated model. Journal of Vocational Behavior, 75(3), 346-359. http://doi.org/10.1016/jjvb.2009.05.004        [ Links ]

Balbinotti, M. A. A. (2003). Inventário Tipológico de Interesses Profissionais. São Leopoldo, RS: Núcleo de Orientação Vocacional/Universidade do Vale do Rio dos Sinos.         [ Links ]

Barrenha, R. P. L. (2011). O Teste de Fotos de Profissões (BBT-Br) em adolescentes: Evidências Psicométricas. Dissertação de Mestrado não-publicada, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto.         [ Links ]

Bergmann, C., & Eder, F. (2005). Allgemeiner Interessen-Struktur-Test mit Umwelt-Struktur-Test (AIST-R/ UST-R) [General Interest-Structure-Test]. Gõttingen, Germany: Beltz Test.         [ Links ]

Conselho Federal de Psicologia. Lista de testes com parecer favorável. (2016). Brasília, DF. Recuperado em 01de maio de 2016, de http://www2.pol.org.br/satepsi .         [ Links ]

Costa, P. T., & McCrae, R. R. (1992). Four ways five factors are basic. Personality and Individual Differences, 13(6), 653-665. http://doi.org/10.1016/0191-8869(92)90236-I        [ Links ]

Duarte, M. E., Bardagi, M. P., & Teixeira, M. A. P. (2011). Orientação, Avaliação e Testagem. In M. A. Ribeiro & L. L. Melo-Silva (Eds.), Compêndio de orientação profissional e de carreira, volume 2: Enfoques teóricos contemporâneos e modelos de intervenção (pp. 99-154). São Paulo: Vetor.         [ Links ]

Duffy, R. D., Borges, N. J., & Hartung, P. J. (2009). Work Values of Medical Students. Journal of Career Assessment, 189-200. http://doi.org/10.1177/1069072708329035        [ Links ]

Fracalozzi, N. M. N. (2014). Educação para a Carreira e Interesses Profissionais em estudantes do ensino médio regular e técnico. Dissertação de Mestrado não-publicada, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto.         [ Links ]

Goldberg, L. R. (1999). A broad-bandwidth, public domain, personality inventory measuring the lower-level facets of several five-factor models. Personality Psychology in Europe, 7, 7-28.         [ Links ]

Hirschi, A. (2008). Personality complexes in adolescence: Traits, interests, work values, and self-evaluations. Personality and Individual Differences, 45(8), 716-721. http://doi.org/10.1016/j.paid.2008.07.018        [ Links ]

Holland, J. L. (1997). Making vocational choices: A theory of vocational personalities and work environments. Odessa, FL: Psychological Assessment Resources.         [ Links ]

Holland, J. L. (1999). Why interest inventories are also personality inventories. In M. L. Savickas & A. R. Spokane (Eds.), Vocational interests: Meaning, measurement, and counseling use (pp. 87-102). Palo Alto, CA: Davies-Black.         [ Links ]

Hutz, C. S., & Nunes, C. H. S. D. S. (2001). Escala Fatorial de Ajustamento Emocional/Neuroticismo (EFN). São Paulo: Casa do Psicólogo.         [ Links ]

Jacquemin, A. (2000). O BBT-Br: teste de fotos de profissões: normas adaptação brasileira: estudo de caso. São Paulo: Centro Editor de Testes e Pesquisas em Psicologia.         [ Links ]

Jacquemin, A., Okino, E. T. K., Noce, M. A., Assoni, R. de F., & Pasian, S. R. (2006). O BBT-Br feminino: Teste de Fotos de Profissões: adaptação brasileira, normas e estudos de caso. São Paulo: Centro Editor de Testes e Pesquisas em Psicologia.         [ Links ]

Kandler, C., Bleidorn, W., Riemann, R., Angleitner, a., & Spinath, F. M. (2011). The Genetic Links Between the Big Five Personality Traits and General Interest Domains. Personality and Social Psychology Bulletin, 37(12), 1633-1643. http://doi.org/10.1177/0146167211414275        [ Links ]

Larson, L., Rottinghaus, P., & Borgen, F. (2002). Meta-analyses of Big Six interests and Big Five personality factors. Journal of Vocational Behavior.         [ Links ]

Lewis, P., & Rivkin, D. (1999). Development of the O*NET interest profiler. Raleigh, NC: National Center for O*NET Development.         [ Links ]

Mansão, C. S. M., Noronha, A. P. P., & Ottati, F. (2011). Interesses profissionais: Análise correlacional entre dois instrumentos de avaliação. Revista Brasileira de Orientacao Profissional, 12(2), 175-183.         [ Links ]

Marôco, J. (2011). Análise estatística com o SPSS Statistics. Pêro Pinheiro: ReportNumber.         [ Links ]

Melo-Silva, L. L., Pasian, S. R., Assoni, R. D. F., & Bonfim, T. A. (2008). Assessment of vocational guidance: the Berufsbilder test. The Spanish Journal of Psychology, 11(1), 301-309.         [ Links ]

Melo-Silva, L. L., Pasian, S. R., Okino, E. T. K., Marangoni, L. de O., & Shimada, M. (2015). Teste de Fotos de Profissões (BBT-Br): estudo de follow-up de uma situação clínica uma década depois. In R. S. Levenfus (Ed.), Orientação vocacional e de carreira em contextos clínicos e educativos (pp. 155-170). Porto Alegre: Artmed.         [ Links ]

Mount, M. K., Barrick, M. R., Scullen, S. M., & Rounds, J. (2005). Higher-order dimensions of the Big Five personality traits and the Big Six vocational interest types. Personnel Psychology, 58(2), 447-478. http://doi.org/10.1111/j.1744-6570.2005.00468.x        [ Links ]

Nauta, M. M. (2010). The development, evolution, and status of Holland's theory of vocational personalities: Reflections and future directions for counseling psychology. Journal of Counseling Psychology, 57(1), 11-22. http://doi.org/10.1037/a0018213        [ Links ]

Noce, M. A. (2008). O BBT-Br e a maturidade para a escolha profissional: evidências empíricas de validade. Tese de Doutorado não-publicada, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto.         [ Links ]

Noronha, A. P. P., Mansão, C. S. M., & Nunes, M. F. O. (2012). Interesses Profissionais e Personalidade: análise correlacional a partir do ATPH e BFP. Actualidades En Psicologia, 26, 73-86.         [ Links ]

Noronha, A. P. P., Sisto, F. F., & Santos, A. A. A. (2007). Escala de Aconselhamento Profissional - EAP: manual técnico. Itatiba-SP: Vetor.         [ Links ]

Nunes, C. H. S. D. S., & Hutz, C. S. (2006). Construção e validação de uma escala de extroversão no modelo dos Cinco Grandes Fatores de Personalidade. Psico-USF (Impresso), 11(2), 147-155. http://doi.org/10.1590/S1413-82712006000200003        [ Links ]

Nunes, C. H. S. D. S., & Hutz, C. S. (2007). Construção e validação da escala fatorial de Socialização no modelo dos Cinco Grandes Fatores de Personalidade. Psicologia: Reflexão e Crítica, 20(1), 20-25. http://doi.org/10.1590/S0102-79722007000100004        [ Links ]

Nunes, C. H. S. D. S., Hutz, C. S., & Nunes, M. F. O. (2010). Bateria Fatorial de Personalidade (BFP) - Manual técnico. Itatiba-SP: Casa do Psicólogo.         [ Links ]

Nunes, M. F. O., & Noronha, A. P. P. (2009). Relações entre interesses, personalidade e habilidades cognitivas: um estudo com adolescentes. Psico-USF, 14(2), 131-141. http://doi.org/10.1590/S1413-82712009000200002        [ Links ]

Okino, E. T. K., & Pasian, S. R. (2010). Evidências de precisão e validade do Teste de Fotos de Profissões (BBT-Br). Revista Brasileira de Orientação Profissional, 11(1), 23-35.         [ Links ]

Pasian, S. R., Okino, E. T. K., & Melo-Silva, L. L. (2007). O Teste de Fotos de Profissões (BBT) de Achtnich : histórico e pesquisas desenvolvidas no Brasil. Psico-USF, 12(2), 173-187.         [ Links ]

Primi, R., Mansão, C. S. M., Muniz, M., & Nunes, M. F. O. (2010). SDS- Questionário de busca auto-dirigida: manual técnico da versão brasileira. São Paulo: Casa do Psicólogo.         [ Links ]

Savickas, M. L. (1999). The psychology of interests. In M. L. Savickas & A. R. Spokane (Eds.), Vocational interests: Meaning, measurement, and counseling use (pp. 19-56). Palo Alto, CA: Davies-Black.         [ Links ]

Shimada, M. (2016). Evidências de validade concorrente entre o BBT-Br e a BFP: um estudo com universitários. Tese de Doutorado não-publicada, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto.         [ Links ]

Staggs, G. D., Larson, L. M., & Borgen, F. H. (2007). Convergence of Personality and Interests: Meta-Analysis of the Multidimensional Personality Questionnaire and the Strong Interest Inventory. Journal of Career Assessment, 15(4), 423-445. http://doi.org/10.1177/1069072707305760        [ Links ]

Szondi, L. (1970). Tratado del diagnostico experimental de los instintos. Madrid: Biblioteca Nueva.         [ Links ]

Valentini, F., Teodoro, M. L. M., & Balbinotti, M. A. A. (2009). Relações entre interesses vocacionais e fatores de personalidade. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 10(2), 57-68.         [ Links ]

Vasconcellos, S. J. L., & Hutz, C. S. (2008). Construção e validação de uma escala de abertura à experiência. Avaliação Psicológica, 7(2), 135-141.         [ Links ]

Zhang, L. (2008). Revisiting the big six and the big five among Hong Kong university students. Educational Psychology, 28(1), 1-14. http://doi.org/10.1080/01443410701366092        [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência:
Milena Shimada
Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto
Departamento de Psicologia
Avenida Bandeirantes, 3900, Ribeirão Preto-SP
E-mail: milena.sh@gmail.com

Recebido 10/01/2016
1a Revisão 23/06/2016
Aceite Final 15/07/2016

 

 

Milena Shimada é Mestre e doutoranda do Programa de Pós-graduação em Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP), com período sanduíche na Universidade do Minho, Portugal.
Lucy Leal Melo-Silva é professora Doutora e Livre-docente do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP), coeditora da Revista Brasileira de Orientação Profissional, bolsista de produtividade CNPq.
Maria do Céu Taveira é Professora Auxiliar da Escola de Psicologia da Universidade do Minho, coordenadora do Grupo de Investigação em Desenvolvimento Vocacional e Aconselhamento no Centro de Investigação em Psicologia (CIPsi) daquela universidade, e membro fundador da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento da Carreira (APDC).

Creative Commons License