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Revista Brasileira de Orientação Profissional

versión impresa ISSN 1679-3390versión On-line ISSN 1984-7270

Rev. bras. orientac. prof vol.17 no.1 Florianópolis jun. 2016

 

RELATO DE EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL

 

Oficina de Orientação Profissional: construindo estratégias de intervenção para feira de profissões

 

Workshop of Vocational Guidance: building strategies of intervention on Career Fair

 

Taller de Orientación Profesional: construyendo estratégias de intervención para feria de profesiones

 

 

Guilherme Fonçatti; Camila Galafassi; Débora Audi; Diego Isquerdo; Maria da Conceição Uvaldo; Milena Rindeika; Omar Calazans

Universidade de São Paulo, São Paulo-SP, Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Este artigo relata o processo de construção e avaliação de um dispositivo grupai de curta duração chamado oficina de orientação profissional para a Feira de Profissões da USP. Foi realizada uma revisão bibliográfica do conceito de oficina e, se discriminou as etapas de sua construção, a saber: elaboração de um diagnóstico; identificação das demandas; levantamento dos objetivos; desenvolvimento das atividades; e avaliação dos resultados. As oficinas foram realizadas com a participação de 3378 pessoas, em três dias de evento, em 2013. A validade da oficina aparece pela avaliação positiva de 89,3% dos participantes. Esta estratégia se mostrou eficiente e econômica, permitindo realizar um grande número de atendimentos aliado a um trabalho de informação profissional e autoconhecimento ativo.

Palavras-chave: orientação vocacional, escolha profissional, informação profissional


ABSTRACT

This paper reports the research of a short duration group device called "workshop of vocational guidance" for USP Career Fair. It contains a bibliographical review of the concept of workshop, then the research discriminates the stages of its construction, namely: preparation of a diagnosis; identification of demands; survey of goals; development of the activities; and evaluation of results. The workshop was built and performed in 2013 USP Career Fair, with que participation of 3378 people. As main results, 89.3% said that the workshop helped on their professional issue. The workshop showed to be an efficient and economic strategy to provide a big number of people with professional information and active self knowledge.

Keywords: vocational guidance, occupational choice, occupational information


RESUMEN

Este artículo relata el proceso de construcción y evaluación de un dispositivo grupal de corta duración que denominamos "taller de orientación profesional", ejecutado en la Feria de Profesiones de la USP. Fue realizada una revisión bibliográfica del concepto de taller grupal y se definieron las etapas para su construcción: preparación del diagnóstico; identificación de demandas; definición de objetivos; desarrollo de actividades; y evaluación de resultados. El taller fue realizado en el año 2013, durante tres días del evento, con la participación de 3378 personas. La validez del taller se muestra por la evaluación positiva que de él hizo el 89,3% de los participantes. Esta estrategia resultó eficiente y económica porque se logró un trabajo de información profesional y de autoconocimiento activo, abarcando un gran número de personas a la vez.

Palabras clave: orientación vocacional, elección profesional, información profesional


 

 

Imprevisibilidade e incerteza são talvez as palavras que melhor descrevem o mundo atual, marcado por transformações constantes, resultantes do desenvolvimento tecnológico acelerado, mudanças econômicas e sociais marcantes e flexibilização do trabalho, com consequências profundas sobre as pessoas e seus projetos de vida e profissionais (Ribeiro & Uvaldo, 2011). O resultado mais significativo deste cenário para o adolescente é falta de referenciais que embasem a projeção no futuro, resultando em um superinvestimento no presente e no curto prazo (Lipovetsky & Serroy, 2011), podendo reduzir o trabalho basicamente a uma atividade para resolver a necessidade de sobrevivência e não como elemento importante do ponto de vista identitário e social. Coloca-se assim à área de Orientação Profissional e de Carreira a questão: Como auxiliar estes adolescentes a realizar escolhas significativas neste cenário? O desafio é não formatar o processo de Orientação Profissional a temporalidade contemporânea, que desvaloriza o tempo de compreender, em nome da busca por resultados, sem dar condições de reflexão e apropriação do próprio processo de escolha (Ribeiro et al, 2016). Faz-se necessário, portanto, propiciar ao adolescente uma experiência significativa e própria, em que o processo em si possa ser tão importante quanto à própria escolha porque nele reside a possibilidade de apropriação e construção de algo próprio.

Ora, se este é o desafio o que fazer então com as solicitações de aplicação de "teste vocacional" em eventos e escolas frequentes ao Serviço de Orientação Profissional da Universidade de São Paulo (SOP-USP) e a outras instituições que oferecem atendimentos nesta área? Em geral, a solicitação se refere à alguma atividade rápida e que possa resolver a questão da escolha de uma profissão de um grande número de alunos ou visitantes de uma feira. Algumas instituições, em resposta a este pedido, aplicam inventários de interesses computadorizados, que podem auxiliar parte desta população, mas, a nosso ver, não fomentam a reflexão, a pesquisa de informações e a apropriação do processo de escolha. Vários estudos (Cury, Vieira, & Gambardella, 2010; Fracalozzi, 2014; Lehman, 2014; Malki, 2015) apontam que as escolhas realizadas com um número reduzido e estereotipado de informações sobre os cursos, atividades e possibilidades ocupacionais são elementos importantes nos processos de evasão e de reescolha de curso, reforçando que Feira de Profissões e outras estratégias informativas podem ser dispositivos importantes no processo de escolha e, portanto, na orientação profissional. Diante de uma solicitação da USP ao SOP-USP para realizar uma atividade de Orientação Profissional na Feira de Profissões da USP, a equipe autora deste trabalho desenvolveu uma estratégia de intervenção que atinge grande número de pessoas ao mesmo tempo em que promove uma vivência sensibili-zadora e mobilizadora diante da questão profissional de cada jovem. Este artigo relata a pesquisa e desenvolvimento desse dispositivo grupal de curta duração (oficina), elaborado para a Feira de Profissões da USP, que possibilitou autoconhecimento e reflexão, auxiliando no processo de exploração da Feira de Profissões da USP e a própria escolha de um curso superior.

Feira de Profissões da USP

A Feira de Profissões da USP é um evento que ocorre desde o ano de 2006, consistindo em três dias de exposição, onde as Unidades de Ensino e Pesquisa que compõe a Universidade de São Paulo disponibilizam informações e atividades gratuitas, voltadas aos alunos do Ensino Médio e de cursinhos pré-universitários. Nos estandes de cada unidade há uma equipe de professores, funcionários e monitores (alunos de graduação e pós-graduação) que atendem aos visitantes esclarecendo dúvidas sobre o vestibular, os cursos oferecidos, a grade curricular e o mercado de trabalho, entre outros assuntos referentes ao universo profissional e universitário.

Além dos estandes das Unidades de Ensino e Pesquisa, há também estandes da FUVEST (responsável pela prova vestibular de ingresso na Universidade de São Paulo), do INCLUSP (programa de inclusão da USP), PASUSP (Programa de Avaliação Seriada da USP, que esclarece dúvidas sobre temas como as cotas e o sistema de pontuação acrescida do vestibular), e o estande das oficinas de Orientação Profissional apresentadas nesse trabalho, coordenadas pelo Serviço de Orientação Profissional (SOP-USP) do Instituto de Psicologia da USP (PRCEU, 2014).

Desde a primeira edição da Feira, o SOP-USP é responsável pela organização do estande e apresentação do Instituto de Psicologia e da profissão de psicólogo. Nesta atividade, bem como nos atendimentos no SOP-USP, nas palestras e outras atividades realizadas, observamos uma grande dificuldade dos jovens de refletir sobre suas escolhas de forma mais sistematizada, resultado de uma percepção de tempo pautada na urgência, mediada pela tecnologia, o que por um lado acelera oportunidades de acesso a informações e contatos, por outro toma lugar de relacionamentos entre pessoas, ideias, experiências, que tornam as informações mais realistas e "vivas" (Ribeiro et al., 2016). Em geral, tendem a valorizar alguns critérios e desvalorizar ou mesmo ignorar outros, o que acaba dificultando a escolha e mesmo a busca de informações, pois fica difícil discriminar o que é necessário pesquisar.

Assim, nos estandes (não apenas no da Psicologia, pois tivemos a possibilidade de conversar com monitores de diversos estandes) grande parte das perguntas eram muito genéricas como: "fale-me tudo de Psicologia". E mesmo estimulados, muitos estudantes não conseguiam formular dúvidas ou mesmo curiosidade sobre as carreiras. Em 2010 o SOP-USP foi convidado pela organização do evento a desenvolver uma atividade de orientação profissional. A partir da experiência no estande, a equipe autora deste artigo desenvolveu uma oficina que sofreu modificações nos anos subsequentes, resultando na forma que é aqui descrita na edição do ano de 2013, a "VII Feira de Profissões da USP". Nesse ano o público participante nos três dias de evento foi de 58039 pessoas, provenientes de 131 cidades de três estados brasileiros (São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais). Desse total, 42,6% eram da cidade de São Paulo. Quanto ao tipo de escola que inscreveu seus alunos, 52% eram da rede particular, 38% da rede pública, 6% eram filantrópicas, 2% eram confessionais e 2% eram comunitárias (Leal, 2013).

Oficina: conceito

O termo oficina é utilizado na literatura sobre grupos de duas formas diferentes. Alguns autores o utilizam para designar o atendimento em grupo com várias sessões, cada uma com objetivos e procedimentos previamente definidos (Cupertino, 2008). Já em artigos e textos relacionados à Saúde Mental no Brasil, o termo oficina designa um dispositivo grupal com objetivos terapêuticos (Nascimento, 2011; Soares, 2011), com uma atividade pré-estabelecida que estrutura as ações, como por exemplo, as oficinas de escrita coletiva, nas quais o grupo se reúne com a tarefa de escrever uma história. O dispositivo da oficina, nesse contexto, aparece mais como uma prática do que como um modelo teórico, construída no cotidiano por pacientes e profissionais envolvidos (Galletti, 2004).

Em ambos os casos, o termo é aplicado a um ou mais encontros em grupo, organizados em função de uma atividade concreta proposta pelo coordenador. Cada um desses encontros é constituído pelas seguintes etapas: aquecimento, uso de técnica, análise e síntese (Carneiro & Agostini, 1994; Fonseca, 2002). A oficina assim possibilita o encontro, o espaço de diálogo, promovendo reflexão e, ainda, no caso das oficinas em saúde mental, a inserção social.

Afonso (2000) sintetiza a oficina como uma prática de intervenção psicossocial, seja em contexto pedagógico, clínico ou comunitário, focada em uma questão que o grupo se propõe a elaborar, em um determinado contexto social. O que se busca neste tipo de intervenção que envolva três níveis de experiência: pensar, sentir e agir (Afonso, 2006; Paviani & Fontana, 2009), o que difere uma oficina de outras estratégias didáticas como a palestra informativa ou uma aula expositiva. Como coloca Cupertino (2001), na oficina seria atingido o nível de "aprender sobre", mas, também, há o nível do "aprender com": aprender com a surpresa, com a alteridade irredutível, no encontro com o outro. Este seria o nível de aprendizado que atingiria uma dinâmica de grupo ou um grupo focal, por exemplo.

A diferença entre uma oficina e um grupo focal é que este último tem como objetivo identificar tendências e consensos em relação ao tema trabalhado. O produto é individual, feito em grupo. Os grupos focais seriam, então, grupos de discussão sobre um tema em particular, com enfoque no debate (Ressel et al., 2008; Silva, 2003). A oficina tem um enfoque mais vivencial para além do debate e do discurso.

É também importante fazer uma diferenciação entre a oficina e a dinâmica de grupo. Nessa última, o enfoque recai sobre a análise do movimento do grupo e/ou da psicodinâ-mica individual dentro do grupo. Na oficina, o que se busca é a elaboração de uma experiência, mas há um limite dado pelo foco, não se pretendendo a análise psíquica profunda de seus participantes individualmente (Afonso, 2006).

A oficina é, dessa forma, um dispositivo de grupo cujo cerne não está nem no debate do tema nem na psico-dinâmica individual dos participantes, o grupo funciona como o catalisador do processo individual e os coordenadores têm a função de serem facilitadores do processo grupal (Carvalho, Rodrigues, & Medrado, 2005).

É esse processo grupal que garante à oficina se constituir como um campo para experiências que cria um lugar para o aprendizado de forma a integrar o saber com a prática criativa e vivencial (Cupertino, 2001). Esse campo de experiência é fundamental para que haja um espaço de troca que permita a percepção de outras versões sobre a realidade (Spink, Menegon & Madrado, 2014). A oficina em orientação profissional, dessa forma, seria uma estratégia facilitadora para sensibilizar o participante sobre o processo de escolha, o mundo do trabalho, a construção de projetos profissionais, entre outras. Possibilita, portanto, a formação de um espaço de construção que reúne aspectos pedagógicos e terapêuticos ao mesmo tempo na medida em que congrega informação e reflexão relacionadas com os significados afetivos e as vivências que o tema suscita (Lise, 2008).

A construção de uma oficina de orientação profissional

A conceituação do que é uma oficina de orientação profissional passa, geralmente, pela descrição pormenorizada de suas etapas e atividades. Isso ocorre porque há uma preocupação em se descrever o que é feito, visando a sua replicabilidade. Contudo, assim como ocorre em um modelo clínico, a oficina em orientação profissional como a que é descrita neste artigo, não tem seu foco no que é feito (na atividade realizada) e sim no porque foi desenhada essa ou aquela atividade, segundo a demanda específica daquele contexto. Um conjunto de atividades bem desenhado e estruturado é importante para a efetividade da oficina, porém mais importante é a sua pertinência em responder a demanda diagnosticada no contexto em que ela se realiza (Cupertino, 2008).

Isso não significa que de nada vale a descrição das atividades feitas em uma oficina, mas sim que essas atividades não devem ser tomadas como um modelo a ser replicado, independentemente do contexto da situação do grupo que participará da oficina.

As atividades que compõe a oficina devem, dessa forma, sempre responder aos seus objetivos. Ou seja, não há atividade realizada que não se direcione a um objetivo previamente estabelecido. A definição de qual é o objetivo é feito visando responder àquilo que foi identificado como uma demanda - manifesta ou latente - por parte do grupo que participará da oficina. Essa demanda, por sua vez, se dá a conhecer por meio da elaboração de um diagnóstico situacional o mais detalhado possível do contexto e da situação do grupo ao qual se destina a oficina. Assim, propomos que para a elaboração de uma oficina de orientação profissional, é necessário que se siga as seguintes etapas, nessa ordem, sendo a anterior pré-requisito para a seguinte:

1. Elaboração de um diagnóstico situacional;

2. Identificação das demandas do grupo;

3. Levantamento dos objetivos da oficina;

4. Desenvolvimento das atividades a serem realizadas;

5. Avaliação dos resultados da oficina.

Essa lógica tira da atividade ou da técnica o foco principal da elaboração de uma oficina. De fato, é a atividade que tem a capacidade de colocar os participantes em vivências que os mobilizem em torno do tema proposto, possibilitando a emergência do novo (Halpern-Chalom, 2008), porém uma oficina que é construída a partir de atividades ou técnicas pré-existentes, ao invés de trabalhar as demandas identificadas naquele contexto específico, corre o risco de transpor para aquele contexto as demandas para as quais as atividades foram desenvolvidas originalmente, sendo, dessa forma, muito menos significativa e efetiva do que poderia ser. O relato que se segue, descreve o processo de desenvolvimento da oficina realizada na Feira de Profissões da USP em 2013 seguindo as etapas propostas.

 

Método

Participantes

Participaram das oficinas 3378 pessoas, de ambos os sexos, que procuraram espontaneamente o estande de Orientação Profissional dentro da "VII Feira de Profissões da USP". A faixa etária dos participantes variou entre 11 e 49 anos, estando concentrada em sua maioria nas idades de 15 (15,1%), 16 (32,3%), 17 (39,5%) e 18 (6,4%) anos. A maior parte cursava naquele momento o ensino médio, sendo que 12,5% declarou estar no primeiro ano, 30,8% no segundo ano, e 51,5% no terceiro ano. Foi observado equilíbrio na participação de alunos provindos de escolas particulares (50,5%) e públicas (45,9%).

Procedimentos

As oficinas de orientação profissional foram realizadas ao longo dos três dias de duração da Feira de Profissões, em salas com condições adequadas de iluminação e temperatura. Os interessados aguardavam em fila única, e eram acomodados em uma das seis salas disponíveis, com capacidade média de vinte e cinco participantes. A duração média de cada oficina foi de cinquenta minutos. Cada sala era equipada com cadeiras, organizadas em formação circular; todo material necessário para participação foi fornecido. Cada oficina contava com um ou dois coordenadores com a função de facilitar os processos subjetivos individuais e do grupo, acompanhar e acolher os processos afetivo-vivenciais individuais e coletivos, de modo a permitir que os participantes, eles próprios, possam dar sentido à experiência vivida e à sua produção (Ostronoff, Fávero, & Baldin, 2008).

Instrumento

O instrumento utilizado foi a própria oficina desenhada para tal. Utilizando-se as cinco etapas descritas anteriormente, a construção da oficina de orientação profissional da Feira das Profissões da USP ocorreu da seguinte forma:

Primeira etapa: a elaboração de um diagnóstico situacional Conforme descrito na introdução desse artigo, os jovens que compareciam à Feira de Profissões visitavam todos os estantes de seu interesse com a seguinte pergunta: "fale-me sobre esse curso". Ao conversar com os jovens ao final da Feira e com os alunos e professores nos estandes, percebeu-se que dificilmente os visitantes conseguiam esmiuçar quais eram suas dúvidas, o que querem saber sobre o curso e o que era relevante para ele enquanto informação. Ao ouvir tudo o que era dito sobre determinado curso, seguiam para outro estande e faziam o mesmo, de forma que ao sair da Feira, esses jovens tinham ouvido muitas informações e recolhido muitos folhetos sobre muitos cursos diferentes, mas possivelmente retinham poucas informações relevantes. O diagnóstico situacional feito foi: o jovem não está aproveitando as informações sobre cursos e profissões que a Feira de Profissões pode fornecer a ele. Note-se que para a elaboração do diagnóstico situacional é imprescindível que se escute as pessoas envolvidas na situação que se está analisando. Um diagnóstico bem feito é o que vai garantir que a oficina seja relevante para aquele público.

Segunda etapa: identificação das demandas do grupo

Feito esse diagnóstico, coube perguntar: "por que isso está acontecendo?". A resposta a essa pergunta é a demanda, que pode ser uma ou várias. Percebe-se que muitas vezes chegam ao SOP-USP solicitações de aplicação de "teste vocacional" para esses eventos. Essa demanda manifesta deve ser escutada e acolhida, mas não deve ser respondida, pois antes é necessário voltar à etapa do diagnóstico situacional para ver qual é a demanda latente, que pode ser a mesma ou não.

No caso da Feira de Profissões da USP, passou-se a pensar sobre quais seriam as demandas que os jovens traziam da experiência da visita à Feira de Profissões. A demanda é uma necessidade especifica de um contexto. Por exemplo, a necessidade de informações é comum a todos os jovens que estão explorando as profissões e cursos. Mas em cada contexto essa necessidade de informações vai se manifestar de uma forma específica. No caso da Feira de Profissões da USP estava associado à dificuldade em formular dúvidas menos genéricas e mais pessoais. Em um contexto como a Feira onde há um grande número de informações juntas e misturadas, a demanda se traduz na seguinte questão: de todas essas informações, quais são relevantes para mim?

Terceira etapa: levantamento dos objetivos da oficina

Dada a demanda, ser capaz de formular dúvidas menos genéricas e mais pessoais, passou-se a pensar objetivos para uma oficina que atendesse a essa necessidade. Como capacitar o jovem a formular suas dúvidas pessoais quanto às profissões e cursos?

Vimos nessa demanda duas partes: a primeira foi a capacidade de definir quais, de todas as questões possíveis sobre as profissões e cursos, seriam as mais relevantes para cada jovem. Para saber isso, é necessário que o jovem reflita sobre o que ele considera importante levar em conta para escolher um curso e para pensar em seu futuro. Em outras palavras, definir quais são os seus critérios de escolha.

A segunda parte da demanda é: definidos seus critérios de escolha, o jovem precisa expressar as suas dúvidas na forma de perguntas claras e não genéricas, para serem dirigidas aos estandes dos cursos que lhe interessam.

Posto isso, foram levantados dois objetivos iniciais para a oficina, aos quais se adicionou um terceiro:

1. Auxiliar na visualização, organização e hierarquização dos critérios (aspectos tais como características pessoais, do curso e da profissão) de escolha.

2. Proporcionar condições para os jovens formularem perguntas pertinentes para si que poderiam ser dirigidas aos monitores nos estandes, auxiliando no processo de informação.

3. Criar condições para um autodiagnóstico da necessidade de Orientação Profissional.

Esse último objetivo foi adicionado porque, uma vez participando da oficina, o jovem poderia ter mais elementos para saber se gostaria ou necessitaria de participar de um processo de orientação profissional. É importante ressaltar que um trabalho pontual como este requer que os objetivos fiquem muito claros tanto para os coordenadores quanto para os participantes, evitando expectativas que não poderão ser cumpridas.

Quarta etapa: desenvolvimento das atividades a serem realizadas

Somente após o levantamento dos objetivos é que se planejaram quais atividades, técnicas e materiais a serem utilizados como estratégia para atingi-los, posteriormente foi aplicada em dois grupos pilotos na Feira de Profissões de um cursinho sem fins lucrativos, cujos participantes e coordenadores comentaram e sugeriram mudanças e ajustes que foram acatados e resultaram na estrutura que descreveremos.

A oficina foi composta por três momentos assim nomeados: 1. "adivinhe quem é esta pessoa, a partir de suas escolhas", 2. "critérios de escolha" e 3. "formulando dúvidas relevantes para mim". Inicialmente foram distribuídas canetas e as folhas de registro apropriadas para cada participante anotar suas respostas e reflexões. Em seguida o coordenador se apresentava e também conduzia uma rodada de breves apresentações de todos os participantes. Neste momento foram esclarecidos os objetivos da oficina descritos anteriormente.

No primeiro momento ("adivinhe quem é esta pessoa, a partir de suas escolhas"), solicitou-se aos participantes que escrevessem na folha de registro por quais cursos superiores se interessavam naquele momento. O coordenador comenta com os participantes sobre uma tendência da linearidade no processo da escolha profissional. Por exemplo, espera-se que uma pessoa com facilidade em matemática deva fazer engenharia ou outra carreira da área de exatas, caso contrário estaria "desperdiçando talento! Será que isso é realmente verdade?".

Foram apresentadas cinco fotos (imagens de domínio público) de apresentadores de TV em atividade, formados na USP: Luciano Hulk, Marcelo Tas, Marcos Mion, Rodrigo Faro e Willian Bonner. A estratégia do uso de fotos nessa dinâmica permite uma visualização concreta e de forma lúdica dessa ideia.

Em um primeiro momento, os participantes deveriam escrever em qual curso superior imaginavam que cada um dos personagens se graduou, já avisados que todos eles estudaram na Universidade de São Paulo. Depois disso, se contava fatos da vida de um deles, relatados pela própria pessoa e amplamente divulgados em meios de comunicação. Alguns desses fatos referiam-se a escolhas profissionais, outros a atividades de trabalho e outros a hobbies e interesses pessoais do personagem. A cada fato relatado ao grupo, este, em comum acordo, deveria eliminar uma foto de um dos personagens a quem eles achavam que não se referia aquele fato. Isso feito subsequentemente, até que restavam duas fotos, e um último fato da vida do personagem era relatado. Então o grupo, relembrando todos os fatos citados, deveria escolher qual seria do dono dessa trajetória de vida.

Ao final, era revelado o personagem em questão, e se o grupo havia acertado ou não. Também eram revelados em quais cursos superiores cada um dos personagens havia se formado. Uma breve discussão se segue sobre a não linearidade da trajetória de vida e de trabalho, e como as escolhas não são necessariamente definitivas e rígidas. A estratégia do uso de fotos nessa dinâmica permite uma visualização concreta e de forma lúdica dessa ideia. A utilização de fotos de pessoas públicas e reconhecidamente "bem sucedidas" em suas áreas de atuação favorece o processo de identificação por parte dos adolescentes. O fato de terem sido escolhidos somente famosos que cursaram a Universidade de São Paulo tem a função de localizar a essa dinâmica em seu contexto, que é uma Feira de Profissões que apresenta somente os cursos dessa universidade. Foram escolhidos somente homens porque para a realização dessa dinâmica, é necessário que os fatos da trajetória de vida relatados fossem factíveis a todos os personagens. Seria mais difícil encontrar fatos de vida de um personagem que pudesse ser atribuídos tanto a homens como a mulheres de forma verossímil. Contudo, reconhece-se que a dinâmica ficaria ainda mais interessante dessa forma. Foram escolhidos todos os personagens homens, e não todas as mulheres, porque para os adolescentes do sexo masculino é muito mais difícil se identificar com uma trajetória feminina do que o contrário. Isso ocorre porque a mulher alcançou (ou tem alcançado) um lugar no mundo do trabalho que historicamente era masculino, sem necessariamente descaracterizar seu espaço feminino, o que acontece em menor grau com os homens. (Negreiros & Féres-Carneiro, 2004).

Em seguida, pediu-se aos participantes que refletissem sobre seus próprios critérios ao pensar em escolher um curso e que os anotassem na folha de registro. Posteriormente, foram divididos em subgrupos e estimulados a discutirem suas respostas entre si, permitindo uma maior reflexão sobre os critérios, abrindo a possibilidade de ampliá-los a partir da conversa com colegas. A maioria dos estudantes conseguia citar de dois a cinco critérios de escolha, sendo os mais comuns: remuneração financeira, facilidade de entrada no mercado de trabalho e gosto pessoal.

No segundo momento da oficina ("critérios de escolha"), foram utilizados os pôsteres do "Jogo de Critérios de Escolha" (Neiva, 2008) que estavam afixados nas paredes das salas nas quais ocorreram as oficinas. Cada um dos cinco pôsteres que compõe o material traz uma lista com exemplos de critérios, entendidos como referências importantes para serem consideradas na escolha de um curso ou de uma trajetória profissional, estimulando a busca de informações e o autoconhecimento (Neiva, 2016). Cada participante deveria ler e anotar na folha de registro todos os critérios que considerasse importantes de todos os cinco grupos. Ao finalizar essa etapa, deveriam retornar aos subgrupos e comentar o que haviam registrado um com o outro, podendo incluir mais critérios em sua lista durante essa discussão. Nota-se que nesse momento a lista de critérios de escolha passou a ter em média mais de vinte itens. Após um pequeno tempo para comentários, foi requisitado que cada participante escolhesse os três critérios que considerasse mais importantes para a escolha do curso.

No terceiro momento da oficina "formulando dúvidas relevantes para mim", os participantes foram estimulados a compararem os cursos pretendidos, previamente anotados na folha, com os critérios pessoais considerados mais relevantes, verificando correlações. A partir desta breve reflexão, pedia-se que elaborassem perguntas com base nas dúvidas em relação aos cursos e carreiras, considerando-se os critérios percebidos, para serem dirigidas aos monitores nos estandes da Feira. Dessa forma, foi sugerido que para cada critério eleito como importante para si, fosse elaborada uma pergunta referente aos cursos pretendidos, de forma de cada participante sairia da oficina com uma lista de dúvidas para serem sanadas na Feira.

Quinta etapa: avaliação dos resultados da oficina

Além de organizar objetivos e etapas da oficina, é muito importante se desenhar também uma forma de avaliá-la. A avaliação dos resultados é o que vai garantir que a oficina atingiu os objetivos desejados ou, se não o fez, se perceber o porquê e no que precisa ser modificada. O que vai balizar qual é a forma de avaliação adequada são os objetivos da oficina. No caso dessa oficina, seriam as seguintes perguntas: a oficina auxiliou na visualização, organização e hierarquização dos critérios de escolha? A oficina auxiliou os participantes a formularem perguntas pertinentes para si para serem feitas nos estandes da feira? Foi possível criar condições para o participante fazer um autodiagnóstico da necessidade de Orientação Profissional?

Para isso, ao final de cada oficina foram entregues questionários com dados para caracterização dos participantes (idade, serie que cursa, escola pública ou particular) apresentada anteriormente e a pergunta se a oficina o auxiliou ou não e como (resposta livre), a entrega do questionário foi voluntária e se explicou que os dados seriam usados para a avaliação do trabalho e possivelmente em uma publicação, não houve recusa. Note-se que no questionário não constavam dados como nome ou nome da escola, impossibilitando o reconhecimento dos participantes. Além desse questionário, os coordenadores das oficinas fizeram relatórios de cada uma das oficinas, apresentando suas observações e comentários sobre a oficina e participantes. Vale registrar que as dificuldades relatadas nestes relatórios foram a participação de uma pessoa cega que foi resolvida com o acompanhamento e leitura de toda a oficina por um dos coordenadores, e duas pessoas com dificuldades de contato interpessoal que foram auxiliadas pelos seus acompanhantes (pais e acompanhante terapêutico).

 

Resultados

Os questionários foram tabulados e as respostas agrupadas em categorias, apresentadas nas tabelas 1 e 2.

Retomando os objetivos propostos para esta oficina, a Tabela 1 e 2 mostram que entre os 3352 questionários respondidos, 3018 participantes (89,3%) responderam afirmativamente à questão: esta oficina ajudou a resolver algumas de suas dúvidas? Enquanto que 331 participantes (9,8%) responderam negativamente, mostrando que os participantes consideraram que a oficina os auxiliou.

Foram também analisados os relatórios dos coordenadores que ressaltaram o empenho e animação dos participantes às propostas, bem como e principalmente, os comentários positivos e agradecimentos ao final da oficina. Foram frequentes nos relatórios transcrições de comentários dos participantes ilustrando como puderam perceber aspectos novos e organizar os critérios pessoais. As perguntas a serem feitas nos estandes foram muito comentadas e sugeridas outras nos subgrupos. A avaliação dos coordenadores foi muito positiva, ressaltando que vários participantes buscavam após o término da oficina, informações sobre inscrições no Serviço de Orientação Profissional da USP (SOP-USP).

 

Discussão

A adequação da proposta de oficina ao contexto do evento (ou da escola, da instituição ou qualquer outro lugar que se posso trabalhar esse tema) é o fator fundamental para a sua eficiência. O que garantirá essa qualidade, para além da quantidade atendida, será o cuidado da construção da oficina, balizada, nessa ordem: pelo diagnóstico situacional elaborado, pelas demandas percebidas a partir do diagnóstico, dos objetivos levantados a partir das demandas e finalmente das atividades desenvolvidas para cumprir esses objetivos.

Retira-se, dessa forma, a importância fundamental da técnica ou do material de orientação profissional utilizado e passa-se a considerar fundamental a leitura diagnóstica elaborada da situação, contexto e público a quem se dirige a oficina. A cada novo contexto, deve-se repensar e redesenhar a oficina. No caso apresentado, os jovens puderam sair com mais dúvidas do que quando iniciaram a oficina, o que, num contexto de feira de profissões onde se pode sanar essas dúvidas, são adequadas e até mesmo desejadas para que possam usufruir da grande quantidade de informações e experiências apresentadas nos estandes.

Apesar do grande número de pessoas atendidas nesta oficina ou mesmo de participantes desta Feira, ainda se pode questionar se não seria mais econômico, rápido e eficiente desenvolver algum teste pela internet, visitas virtuais ou mesmo entrevistas disponibilizadas nos meios eletrônicos. Na verdade, estes são instrumentos importantes no processo de informação e amplamente utilizados pelas instituições de nível superior e que têm valor inconteste, principalmente em um país com as dimensões do Brasil. Contudo, apesar da importância, não podemos deixar de ressaltar que a utilização exclusiva destes meios pode dar conta de uma busca de respostas imediatas, pouco refletidas e questionadas, o que é apontado pelos estudos como a principal causa da evasão universitária (Bardagi & Hutz, 2009; Malki, 2015). A oficina tal como proposto neste artigo, propõe ser um facilitador, um exercício de reflexão, um espaço de autorreflexão, de troca, de questionamentos, de quebras de paradigmas e estereótipos.

As oficinas proporcionaram estreitamento de vínculos sociais e apropriação das experiências coletivas além das individuais, pelo compartilhamento de informações e principalmente, das experiências de cada um. Poder falar de si, ouvir-se falando e ouvir comentários de outros a respeito de si próprio, tecer comentários a respeito da produção do outro, e ouvi-los dos outros ao mostrar sua própria, tudo isso pode propiciar um sentimento de pertença social e de saída da solidão. A validade da oficina aparece com clareza pela avaliação positiva de 89,3% dos participantes, mas principalmente nas respostas livres de por que ajudou, que foram organizadas nas categorias da Tabela 1.

Nota-se também que em 40,8 % respostas dadas como motivos para insatisfação com a oficina (Tabela 2), como, por exemplo, ficar com mais dúvidas, ainda ter dúvidas, abrir novas possibilidades e mudar de curso são respostas interpretadas pelos autores da oficina como positivas e dentro dos objetivos esperados. É possível inferir que a expectativa de alguns participantes para a oficina seria uma definição ou certeza quanto ao curso a ser escolhido, um esclarecimento total de suas dúvidas, o que não foi realizado, correspondendo, assim, à percepção de que a oficina não pode auxiliá-los na escolha profissional. Isto aponta para uma necessidade de um esclarecimento maior dos objetivos da oficina antes da entrada na sala, contudo, uma parte ainda deverá avaliar o trabalho desta forma, por expressar o desejo de não estar mais em dúvida quanto à escolha, que pode ser muito angustiante ou ainda, de estranhamento do processo de reflexão proposto, que vem na oposição da su-pervalorização do resultado em detrimento do processo que caracteriza o cenário atual (Lepovetsky & Serroy, 2011).

Percebeu-se que para a maioria dos participantes foi possível integrar as duas etapas da oficina, chamadas "adivinhe quem é esta pessoa, a partir de suas escolhas" e "critérios de escolha". Na primeira etapa, além da função de aquecimento e integração do grupo recém-formado, o objetivo principal era desmistificar a ideia de processo de escolhas profissionais como um processo linear, escalar e passível de ser totalmente descrito e mensurado a priori. Essa ideia, ainda muito persistente no imaginário dos adolescentes, dos pais e dos educadores, não condiz com a realidade ocupacional contemporânea, quando cada vez mais as fronteiras entre as carreiras e as formações profissionais vêm sendo flexibilizadas, e as trajetórias profissionais não seguem mais o modelo de escada, degrau após degrau de forma constante e previsível (Ribeiro & Uvaldo, 2011).

Evidentemente, é possível encontrar carreiras que ainda seguem esse modelo, principalmente no setor público. Mas já não é possível elaborar um trabalho de orientação profissional em que esse modelo represente bem o que seria uma carreira para os jovens participantes da Feira de Profissões, porque as demandas colocadas pelo mundo sociolaboral vão além do ajustamento e a adaptação vocacional (Ribeiro, 2011). Neste sentido, muitos dos participantes se surpreenderam não somente com as escolhas de curso superior que os personagens famosos das fotos fizeram, como também com as trajetórias de vida não lineares que os fizeram chegar até a ocupação em que estão atualmente. Essa etapa da oficina permite a desconstrução de uma ideia não condizente com a realidade atual e construção de uma nova percepção sobre o que é uma carreira e o que é uma escolha (Ribeiro, 2011). Tendo em vista que um dos objetivos da oficina se referia à organização e reconhecimento de critérios de escolha, entende-se que a oficina propiciou uma maior clareza dos critérios a serem levados em conta em uma escolha, pois nas discussões em pequenos grupos foi relatado por todos os coordenadores que houve um aumento na lista de critérios, além da oficina ter estimulado o reconhecimento do que, de fato, cada um dos participantes considerava, pessoalmente, como critérios mais importantes, facilitando uma apropriação do processo de escolha. A elaboração das perguntas ao final da oficina para serem dirigidas aos estandes na feira fez sentido dentro de um processo pessoal de elaboração interna estimulada pelo material disponibilizado e pelas discussões no grupo. Esse modelo de oficina de orientação profissional mostrou-se efetivo para além do trabalho da informação profissional, trabalhando também o autoconhecimento ativo, em síntese: uni uma vivencia sensibilizadora e reflexiva com uma tarefa pré--estabelecida (Cupertino, 2001).

Ao reconhecer critérios e valores importantes para si tem-se a oportunidade de perceber um padrão na maneira de lidar com escolhas e, a partir dai, pode-se também procurar ampliar e/ou modificar suas estratégias para dar conta de uma realidade do mundo do trabalho pouco previsível. De acordo com Bohoslavsky (2007), seria esperada uma regularidade no modo em que cada indivíduo utiliza uma estratégia de escolha diante de situações que lhe permitem escolher. Ele definiu o termo "deuteroescolha" como o processo de como o adolescente escolheu escolher. Portanto, a oficina ter servido como oportunidade do jovem rever seu modo de escolher e, neste sentido, podemos entendê-la também como tendo um papel profilático que pode se estender para além do momento da feira.

 

Considerações finais

O número de 3378 pessoas atendidas em um período de três dias revela como a estratégia de se trabalhar a orientação profissional em forma de oficina pode ser eficiente e econômica, pois permite aliar um grande número de atendimentos e um trabalho mais profundo e personalizado do que seria uma palestra ou uma dinâmica pré-formatada. A oficina, sendo construída nos moldes mostrados, pode ser utilizada em qualquer contexto em que haja um grupo de pessoas com uma questão de orientação profissional, desde que seja desenhada para responder especificamente o que foi levantado no diagnóstico.

O caráter econômico e eficaz de oficinas construídas nos parâmetros apresentados faz que essa possa ser uma estratégia valiosa para a democratização do acesso à orientação profissional, principalmente para as classes sociais com menos acesso aos consultórios particulares e aos programas de orientação profissional de escolas particulares, se prestando, talvez, a instrumentalizar programas de políticas públicas nessa área.

Enquanto perspectivas para futuros estudos se faz necessário, além da validação da construção de oficinas de orientação profissional em outros contextos, principalmente no ambiente escolar e em equipamentos públicos de auxílio ao trabalhador. Em continuidade a este estudo é fundamental a criação de instrumentos de avaliação para serem aplicados nos participantes ao final da Feira e de preferência na escola, passados alguns dias, para se poder avaliar o efeito da oficina no processo de busca de informação e de reflexão sobre a escolha. É necessário também que se continue pesquisando sobre as bases teóricas do modelo de oficina e assim aprimorar e ampliar os parâmetros de construção desse dispositivo no campo da orientação profissional.

 

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Endereço para correspondência:
Guilherme Fonçatti
Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo
Avenida Professor Mello Moraes, 1721, Bloco D (SOP)
Butantã, São Paulo-SP
E-mail: guifoncatti@gmail.com

Recebido 28/04/15
1ª Revisão 25/05/15
Aceite Final 03/08/2016

 

 

Sobre as autoras
Guilherme Fonçatti é mestre em Psicologia Social pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Atua como psicólogo no Serviço de Orientação Profissional do Centro-Escola do IPUSP.
Camila Galafassi é psicóloga pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo e pesquisadora do LABOR - Laboratório de Estudos sobre Trabalho e Orientação Profissional do IPUSP.
Débora Audi é mestre em Psicologia Social pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Atua como psicóloga no Serviço de Orientação Profissional do Centro-Escola do IPUSP.
Diego Isquerdo é psicólogo pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo e pesquisador do LABOR -Laboratório de Estudos sobre Trabalho e Orientação Profissional do IPUSP.
Maria da Conceição Uvaldo é doutora em Psicologia Social pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Atua como psicóloga no Serviço de Orientação Profissional do Centro-Escola do IPUSP.
Milena Rindeika é psicóloga pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo e pesquisadora do LABOR - Laboratório de Estudos sobre Trabalho e Orientação Profissional do IPUSP.
Omar Calazans é psicólogo pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo e pesquisador do LABOR -Laboratório de Estudos sobre Trabalho e Orientação Profissional do IPUSP.

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