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Revista Brasileira de Orientação Profissional

versão On-line ISSN 1984-7270

Rev. bras. orientac. prof vol.21 no.1 Campinas jan./jun. 2020

http://dx.doi.org/10.26707/1984-7270/2020v21n106 

10.26707/1984-7270/2020v21n106

ARTIGO

 

Desenvolvimento de carreira de estudantes de psicologia: Efeitos de uma intervenção online

 

Career development of psychology students: Effects of an online intervention

 

Desarrollo de carrera de estudiantes de psicología: Efectos de una intervención en línea

 

 

Rodolfo A. M. AmbielI, 1; Gustavo Henrique MartinsI

IUniversidade São Francisco, Itatiba, SP

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O objetivo do artigo foi testar os efeitos de uma intervenção on-line que visa facilitar a escolha por áreas de estágio de estudantes de psicologia. Participaram da pesquisa 18 estudantes de psicologia, sexo feminino e dos 7º e 8º semestres. Foram aplicados a Escala de Adaptabilidade de Carreira, o Inventário de Cristalização das Preferências Profissionais e a Escala de Interesses por Áreas da Psicologia. Foram feitas comparações entre as pontuações das participantes nas avaliações pré e pós intervenção, além da apresentação de um estudo de caso. Os resultados indicaram que a intervenção foi eficaz na promoção da decisão profissional. O estudo de caso forneceu informações importantes para a compreensão de como ocorreram as mudanças evidenciadas, sendo novos estudos sugeridos.

Palavras-chave: avaliação psicológica, ensino superior, orientação vocacional, escolha profissional, psicologia aplicada.


ABSTRACT

The purpose of the article was to test the effects of an online intervention that aims to facilitate a choice by student psychology internship areas. Participated in the study 18 psychology students, female and 7th, and 8th semester. A Career Adapt-Abilities Scale, Professional Crystallization Inventory, and Interests Scale by Areas of Psychology were applied. Comparisons were made between the scores of the participants in the assessment pre and post-intervention, as well as the presentation of a case study. The results indicated that the intervention was effective in the promotion of professional decisions. The case study provided important information for the understanding of how occurred as evidenced changes, with new studies being suggested.

Keywords: psychological assessment, higher education, vocational guidance, professional choice, applied psychology.


RESUMEN

El objetivo del artículo fue probar los efectos de una intervención en línea que busca facilitar la elección de las áreas de práctica de los estudiantes de psicología. Participaron de la investigación 18 estudiantes de psicología, de sexo femenino y del 7º y 8º semestre. Se aplicaron la Escala de Adaptabilidad de Carrera, el Inventario de Cristalización de las Preferencias Profesionales y la Escala de Intereses por Áreas de la Psicología. Se realizaron comparaciones entre las puntuaciones de las participantes en las evaluaciones pre y post intervención, además de la presentación de un estudio de caso. Los resultados indicaron que la intervención fue eficaz en la promoción de la decisión profesional. El estudio de caso proporcionó información importante para entender cómo ocurrieron los cambios evidenciados, y finalmente son sugeridos nuevos estudios.

Palabras clave: evaluación psicológica, educación superior, orientación vocacional, elección profesional, psicología aplicada.


 

 

Introdução

No Brasil, o objetivo da formação de psicólogos consiste na capacitação de profissionais para atuar em diferentes áreas. Essa tendência se intensificou a partir de 2011 quando o Ministério da Educação (MEC) instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para Cursos de Graduação em Psicologia (MEC, 2011). Em geral, os cursos de graduação são presenciais, com duração de 10 semestres em regime semestral, sendo ofertados, em sua maioria, em instituições de ensino particulares e com predomínio na região sudeste (Daltro & Paixão, 2015; Lisboa & Barbosa, 2009).

Dentre as diferentes estratégias de ensino, podem-se destacar os estágios, os quais segundo Cury e Ferreira Neto (2014) sofreram modificações com o passar dos anos. Como relatado pelos autores, e comprovado empiricamente por Santos e Nóbrega (2017), os estágios supervisionados em psicologia são compreendidos atualmente como um espaço no qual os estudantes vivenciam situações que contribuem para a integração de suas competências, habilidades e conhecimentos, a fim de resolver os problemas existentes nas diversas áreas de atuação da profissão e que não podem ser trabalhados em um conteúdo disciplinar específico.

Os últimos semestres do curso de psicologia, assim como ocorre em outros cursos, são acompanhados por uma forte preocupação com a empregabilidade por parte dos estudantes, especialmente no que diz respeito ao primeiro contato profissional que ocorre por meio dos estágios (Veludo-de-Oliveira, Ballestero-Alvarez, Oliveira & Vidigal, 2013). Contudo, a experiência de estágio foi relatada em outra pesquisa como sendo positiva ao nível do desenvolvimento profissional dos estudantes, sendo evidenciado que os alunos que tiveram experiências de estágio satisfatórias apresentaram maiores níveis de autoeficácia profissional, decisão de carreira e exploração, além de perceberem ter desenvolvido competências técnicas (Silva, Coelho, & Teixeira, 2013).

Nessa direção, alguns cursos exigem ainda que os estudantes escolham por áreas de atuação dentro da profissão para realizar estágios e no fim do curso, possivelmente, trabalhar (Magalhães & Teixeira, 2013; Silva, Coelho, & Teixeira, 2013; Teixeira & Gomes, 2004). A psicologia, por apresentar uma grande diversidade de áreas de atuação, é um dos cursos que fazem essa exigência do estudante (Bedin, Sarriera, & Paradiso, 2013; Cury & Ferreira Neto, 2014). Nesse sentido, os estudantes de psicologia são estimulados, ao longo do curso, a desenvolverem conhecimentos técnicos e práticos em diversas áreas de atuação, tais como na psicologia clínica, organizacional, hospitalar, do esporte, entre outras (Seixas, Coelho-Lima, Silva, & Yamamoto, 2013). Dessa forma, ao conhecer a diversidade de possibilidades de atuação dentro da profissão, o estudante tende a desenvolver interesses mais fortes por uma ou mais áreas da psicologia.

Os interesses podem ser definidos como um padrão de gosto, aversão ou indiferença, em relação a um estímulo profissional (Lent, Brown, & Hackett, 1994). Mais recentemente, Rounds e Su (2014) complementam a ideia desses autores entendendo os interesses profissionais como traços relativamente estáveis, que dizem respeito às preferências por atividades, como também pelos seus contextos e resultados, as quais motivam comportamentos para alcançar objetivos, mostrando-se, assim, um poderoso indicador de desempenho e sucesso. Os autores completam dizendo que os interesses são contextualizados, e por isso são preditores de alguns comportamentos. Este fato pode explicar a constante utilização deste construto em processos de orientação profissional.

Lent et al. (1994) reconhecem ainda que os interesses profissionais fazem parte de um processo dinâmico, sendo que os interesses são sempre revisados a partir de uma nova experiência acadêmica ou profissional. Desta forma, a graduação pode ser entendida como uma dessas novas experiências, na qual os interesses são reconfigurados a fim de se atender aos novos estímulos ambientais vividos pelo estudante. Sendo assim, os anos que os estudantes passam no ensino superior são importantes para o seu desenvolvimento profissional, refletindo no desenvolvimento da própria sociedade onde irão atuar quando graduados (Lamas, Ambiel, & Silva, 2014).

Deparando-se com a necessidade de instrumentos que pudessem auxiliar o estudante de psicologia na escolha pelas diversas áreas de atuação da profissão, Ambiel e Martins (2019) construíram a Escala de Interesses por Áreas da Psicologia (EIAPsi). O instrumento avalia os interesses profissionais de estudantes e profissionais da psicologia a respeito das diversas áreas de atuação da profissão, sendo formada por 90 itens divididos em 11 fatores, quais sejam: Organizacional, Docência e Pesquisa, Esporte, Jurídica, Social, Educacional, Saúde, Avaliação Psicológica, Clínica, Neuropsicologia e Trânsito. Os autores constataram boas propriedades psicométricas para a escala, com estimativas de precisão, medidas pelo Alfa de Cronbach, variando de 0,83 (Clínica) a 0,95 (Organizacional).

No que diz respeito às dificuldades dos estudantes de psicologia em escolher as suas opções de estágio durante o curso, nas quais os interesses profissionais deles estão implícitos, a adaptabilidade de carreira aparece como uma importante auxiliar para o estudante neste processo. A adaptabilidade é definida como um "construto psicossocial que denota a prontidão e os recursos de um indivíduo para lidar com as tarefas do desenvolvimento profissional, atuais e iminentes, transições ocupacionais e traumas pessoais" (Savickas, 2005, p. 51). Sendo assim, pelo fato deste construto auxiliar o indivíduo a lidar com as tarefas do desenvolvimento profissional, torna-se uma competência fundamental neste momento de decisão por áreas de estágio por parte do estudante de psicologia.

A adaptabilidade de carreira é formada a partir de quatro dimensões, sendo elas: Preocupação (Concern), Controle (Control), Curiosidade (Curiosity) e Confiança (Confidence), cujas dimensões são amplamente conhecidas na literatura científica mundial como "os quatro Cs" (Ambiel, 2014; Savickas & Porfeli, 2012; Savickas et al., 2009). A Preocupação refere-se à capacidade de encarar a carreira em uma perspectiva temporal, se preparando para os desafios que vêm a seguir e encarando-os com otimismo. O Controle consiste na capacidade de tomar decisões e controlar, a si mesmo e aos seus ambientes, na tentativa de se preparar para o futuro, sendo assim os indivíduos que possuem alto Controle acreditam que são responsáveis pelo desenvolvimento de suas carreiras e, por outro lado, a falta de Controle, muitas vezes, é denominada de indecisão de carreira. A Curiosidade retrata a capacidade de explorar a si mesmo e aos ambientes profissionais, a fim de se obter um maior autoconhecimento para se chegar ao melhor ajuste entre pessoa e ambiente e, a partir disso, tomar as decisões com mais realismo e objetividade. A Confiança, por sua vez, apresenta relação com o conceito de autoeficácia e refere-se à expectativa de sucesso em encarar os desafios da carreira atuais e que estão por vir, pondo em prática os esforços necessários para se alcançar os seus objetivos (Ambiel, 2014; Audibert & Teixeira, 2015; Savickas, 2005; Savickas et al., 2009; Savickas & Porfeli, 2012).

Visando avaliar a adaptabilidade de carreira, Savickas e Porfeli (2012) criaram a Escala de Adaptabilidade de Carreira (Career Adapt-Abilities Scale - CAAS), em conjunto com pesquisadores de 13 países. A versão final da CAAS apresentada pelos autores é composta por 24 itens que são divididos igualmente em quatro fatores: Preocupação, Controle, Curiosidade e Confiança. No Brasil, a tradução e as evidências de validade foram feitas por Teixeira, Bardagi, Lassance, Magalhães e Duarte (2012). Os autores contaram com a participação de 908 adultos e chegaram a uma versão final da CAAS que apresentou uma estrutura fatorial próxima da encontrada na versão internacional (Savickas & Porfeli, 2012). Audibert e Teixeira (2015) buscaram novas evidências de validade para a CAAS, a partir de uma amostra de 990 estudantes universitários. A partir da análise fatorial confirmatória foi possível obter a mesma estrutura fatorial encontrada na versão internacional da CAAS, com estimativas de precisão aceitáveis para a escala, sendo estas: Preocupação (α=0,88), Controle (α=0,83), Curiosidade (α=0,88), Confiança (α=0,89) e adaptabilidade de carreira (α=0,94).

A busca pela promoção da adaptabilidade de carreira em processos de aconselhamento de carreira já é uma prática comum por parte dos pesquisadores da área (Cardoso, Gonçalves, Duarte, Silva, & Alves, 2016; Koen, Klehe, & Van Vianen, 2012). Nesse sentido, e entendendo o crescente aumento de usuários da internet no mundo, Nota, Santilli e Soresi (2016) desenvolveram um processo de aconselhamento para adolescentes, que visou à promoção da adaptabilidade de carreira de forma on-line. Estes autores compararam dois grupos de adolescentes italianos estudantes do ensino médio, sendo que em um grupo foi aplicada a intervenção on-line, que consistia em três sessões de duas horas cada, na qual os estudantes realizavam de forma individual as atividades propostas em um laboratório de informática da escola onde estudavam. No outro grupo foi aplicada uma intervenção presencial tradicional, com duração entre 5 e 6 horas no total, na qual no primeiro encontro foram avaliados, por meio de testes, os interesses, os valores e as motivações destes adolescentes, e no segundo encontro foram disponibilizados relatórios personalizados dos resultados, sendo estes discutidos em grupo ou individualmente. Como resultado da sua pesquisa, os autores concluíram que a intervenção on-line se mostrou mais eficiente do que a intervenção tradicional, no que diz respeito à promoção da adaptabilidade de carreira dos adolescentes, uma vez que o grupo da intervenção on-line apresentou maiores médias nos fatores da adaptabilidade em comparação com o grupo de intervenção tradicional.

Além disso, vale destacar também que em situações as quais exigem uma escolha profissional, comumente há um fator que pode tornar-se prejudicial e que deve ser considerado, para que haja uma escolha eficaz, sendo este conhecido como indecisão vocacional (Bardagi, Lassance, & Paradiso, 2003; Dias & Soares, 2012). Nesta perspectiva os autores Balbinotti, Marocco e Tétreau (2003) desenvolveram um inventário que pretende avaliar a cristalização das preferências profissionais de estudantes universitários, sendo que este construto diz respeito ao nível de clareza e certeza que o estudante tem a respeito do seu autoconceito profissional, ou, como discutido pelos autores, é um construto que avalia a decisão profissional, ou seja, o oposto da indecisão.

Portanto, uma possível opção para auxiliar estes estudantes seria uma proposta de intervenção que buscasse estimular a reflexão do estudante de psicologia acerca das diferentes opções de áreas de atuação dentro da profissão, para que, dessa forma, eles possam ter mais clareza dos seus interesses e, consequentemente, consigam tomar melhores decisões a respeito da sua carreira, que, nesse momento, trata-se da escolha por áreas de estágio (Bardagi, Lassance, Paradiso, & Menezes, 2006). Seguindo essa perspectiva, neste trabalho foi aplicada uma intervenção on-line, que visa proporcionar diversas facilidades, como por exemplo, poder realizar a intervenção em diferentes ambientes e nos momentos que os estudantes julgarem apropriados, maior rapidez do processo e ser um processo individual.

Baseado nisso, o objetivo do presente artigo foi testar os efeitos dessa intervenção on-lineque visa facilitar a escolha por áreas de estágio de estudantes de psicologia. Nessa direção, de forma específica, serão verificadas as diferenças nas médias dos construtos mencionados, quais sejam, adaptabilidade de carreira, decisão profissional e interesses profissionais, além de verificar todo o processo da intervenção por meio de um estudo de caso. A esse respeito, serão apresentados dois follow-ups para exemplificar com mais detalhes como ocorreram tais diferenças. As hipóteses para o presente estudo são: H1) a intervenção aumentará as médias de adaptabilidade de carreira dos participantes (Koen et al., 2012; Nota et al., 2016); H2) a intervenção aumentará as médias da decisão profissional dos participantes (Balbinotti, et al., 2003; Cardoso et al., 2016); H3) a intervenção aumentará o nível de nitidez do perfil dos interesses por áreas da psicologia dos participantes (Ambiel & Martins, 2016).

 

Método

Participantes

A amostra foi composta por 18 estudantes de psicologia, do período noturno de duas universidades particulares, uma do estado de São Paulo (f=3) e a outra do Rio Grande do Sul (f=15). As participantes eram todas do sexo feminino e suas idades variaram de 20 a 42 anos (M=26,89; DP=6,81). No momento da pesquisa 15 participantes cursavam o sétimo semestre e três cursavam o oitavo semestre do curso.

Instrumentos e materiais

Questionário de Identificação: Composto exclusivamente para este projeto, é formado por itens que avaliaram as características sociodemográficas e acadêmicas dos participantes, além de questões relativas à área de preferência dos estudantes e satisfação com o curso. Além disso, houve em todas as sessões uma atividade nomeada de Ranking, que continha a seguinte questão: "Se você tivesse que fazer a escolha pelas áreas de estágio hoje, quais áreas você escolheria? Você deve ordenar as opções de acordo com a sua preferência:", sendo que na última sessão foi pedido para que a estudante anotasse apenas as duas áreas que ela pretendia escolher no semestre seguinte.

Escala de Adaptabilidade de Carreira - CAAS (Audibert & Teixeira, 2015; Teixeira et al., 2012): É avaliada mediante a resposta do quanto a pessoa acredita ter desenvolvido cada habilidade, numa escala Likert que varia de "Desenvolvi pouco ou nada" (1) a "Desenvolvi extremamente bem" (5). A escala é composta por 24 itens, que por meio da Análise Fatorial Confirmatória agruparam-se em quatro fatores, quais sejam, Preocupação, Controle, Curiosidade e Confiança. Estes fatores obtiveram valores satisfatórios de precisão com Alfa de Cronbach variando de 0,83 (Controle) a 0,89 (Confiança), e 0,94 para o escore geral.

Inventário de Cristalização das Preferências Profissionais – ICPP (Balbinotti et al., 2003): Avalia a decisão profissional, por meio de 16 itens. Além da decisão profissional, medida por meio da soma de todos os itens do instrumento, é possível avaliar também duas dimensões do autoconceito profissional, sendo estas a Clareza e a Certeza. Os avaliados devem responder o quanto concordam com cada afirmação apresentada, por meio de uma escala Likert de cinco pontos, que varia de "Completamente em desacordo" (1) a "Completamente de acordo" (5). A precisão da escala foi considera satisfatória, com Alfa de Cronbach de 0,84 para Certeza, 0,95 para Clareza e 0,91 para Decisão. Para esse projeto foram realizadas adaptações em 12 dos 16 itens do inventário para a realidade de escolha do estudante de psicologia (Exemplo: "Vejo com nitidez o que me interessa profissionalmente" foi alterado para "Vejo com nitidez o que me interessa na psicologia").

Escala de Interesses por Áreas da Psicologia - EIAPsi (Ambiel & Martins, 2019): Esta escala avalia os interesses de estudantes ou profissionais da psicologia com as áreas possíveis de atuação do psicólogo. O examinado deve responder aos itens em uma escala Likert de 5 pontos, com variações entre 'detesto/detestaria' (1) e 'adoro/adoraria' (5). A escala é composta por 90 itens, representados em 11 fatores: Organizacional, Docência e Pesquisa, Esporte, Jurídica, Social, Educacional, Saúde, Avaliação Psicológica, Clínica, Neuropsicologia e Trânsito. A precisão dos fatores, medida pelo Alfa de Cronbach, variou de 0,84 (Avaliação Psicológica e Clínica) a 0,95 (Organizacional).

Intervenção Que Psicólogo Serei?: A intervenção foi planejada para ser aplicada on-line em um total de quatro sessões, seguindo tendências atuais da área (Nota et al., 2016; Savickas, 2015). É composta por atividades que possam ser realizadas pelos participantes de forma independente e à distância (ou seja, sem a necessidade de supervisão direta de um psicólogo), tais como busca de informações na internet sobre a profissão, atividades de reflexão e disponibilização de vídeos. Esta intervenção tem como objetivo auxiliar os estudantes de psicologia no processo de escolha por áreas de estágio e atuação da profissão. Na primeira sessão da intervenção foram coletadas informações sociodemográficas e acadêmicas das participantes, como também foram aplicadas a Escala de Adaptabilidade de Carreira (CAAS), o Inventário de Cristalização das Preferências Profissionais (ICPP) e a Escala de Interesses por Áreas da Psicologia (EIAPsi). Na segunda sessão foram disponibilizadas atividades que visaram à promoção de um foco orientado para o futuro de sua carreira e um aumento do senso de responsabilidade pelas próprias decisões profissionais. Na sessão número três foi encaminhado um relatório por e-mail para todas as participantes, contendo os respectivos resultados na EIAPsi, além de serem propostas atividades que visavam ao aumento de comportamentos de exploração vocacional a partir de informações de autoconhecimento e a melhoria do senso de confiança em relação às tomadas de decisão. Na última sessão foram reaplicadas a CAAS, o ICPP e a EIAPsi, além de perguntas que visaram identificar o grau de satisfação com a intervenção.

Procedimentos

O projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade São Francisco (nº parecer: 1.700.632). Inicialmente, foram realizados os contatos com três turmas dos semestres anteriores ao de escolha por áreas de estágio do curso de psicologia, de universidades de dois estados brasileiros, a fim de convidá-las para a participação na pesquisa e informá-los sobre os seus objetivos, incluindo informação sobre a intervenção. Nesse contato presencial, foi informado que os interessados em participar da pesquisa deveriam entrar em contato por um e-mail disponibilizado pelo pesquisador. No primeiro encontro também foi informado aos estudantes que a intervenção ocorreria de forma on-line e em quatro sessões, as quais deveriam ser respondidas ao longo de quatro semanas.

Num segundo momento, foi enviado aos participantes que manifestaram interesse um link do aplicativo Google Forms por e-mail contendo a primeira sessão da intervenção. Os participantes teriam um prazo de até uma semana para realizar as atividades, sendo que este processo se repetiu para as próximas três sessões. Somente participaram da pesquisa aqueles que aceitaram o convite e concordaram com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Por fim, foram realizadas duas sessões de follow-up, o follow-up 1 (F1), após seis meses do término da intervenção, e o follow-up 2 (F2), após 12 meses, com apenas uma participante selecionada por conveniência, sendo que em ambos os casos os dados foram colhidos de forma on-line por meio do aplicativo Google Forms. No F1 foi perguntado à participante quais as áreas que ela optou por estagiar, e no F2 foi realizado uma nova avaliação da CAAS, ICPP e EIAPsi, bem como verificadas quais áreas de estágio optativo a estudante estava cursando naquele semestre, sua satisfação com elas e sua intenção em trocar de áreas.

Análise de dados

Após a finalização da coleta, foi formatada uma planilha no SPSS, na qual foram realizadas as análises estatísticas. Inicialmente, foram feitas análises descritivas dos participantes, em termos das variáveis sociodemográficas e acadêmicas, a fim de descrever a amostra. Em seguida, foram verificadas as estatísticas descritivas dos instrumentos, tanto na pré quanto na pós intervenção, sendo comparadas as pontuações dos participantes na CAAS, no ICPP e na EIAPsi nas duas situações. As comparações das médias foram analisadas por meio da estatística não paramétrica e de amostras dependentes (Teste Wilcoxon). Além disso, foram também calculados os tamanhos do efeito das diferenças, pelo coeficiente d de Cohen. Para interpretação dos resultados serão adotadas as considerações feitas por Cohen (1992), sendo que tamanhos de efeito pequeno são considerados d=0,2, tamanho de efeito médio são considerados d=0,5, e tamanho de efeito grande são considerados d=0,8. Assim como indicado por Jensen e Corralejo (2016), foram calculados os Índices de Mudanças Confiáveis (Reliable Change Index – RCI) do grupo e individuais. Para o cálculo foi utilizada a calculadora de Zahra (2010), que utiliza como base a equação indicada por Jacobson e Truax (1991; RC = X2 - X1/Sdiff). Para a interpretação, é adotado que valores de RCI superiores a 1,96 são considerados significativos (p=0,05). Para a avaliação da nitidez do perfil dos interesses, foram gerados escores individuais, sendo que foi adotado como procedimento o descrito por Holland (1997), que se trata em considerar os desvios-padrão das médias dos escores, permitindo observar a distância entre os mesmos. Para o cálculo dos percentis foram utilizados os dados do artigo Balbinotti et al. (2003) para o ICPP e o banco de dados do artigo de Ambiel e Martins (2016) para a EIAPsi. Os percentis da CAAS foram gerados por meio de um banco de dados que conta com uma amostra de 404 estudantes universitários, descrita em Zacher, Ambiel e Noronha (2015).

 

Resultados

As primeiras análises testaram os efeitos da intervenção sobre a adaptabilidade de carreira, decisão e nitidez. A seguir, na Tabela 1, serão apresentadas as diferenças das médias na avaliação pré e pós intervenção para todas as variáveis avaliadas, analisadas pelo Teste de Wilcoxon (Z), tamanho do efeito (d), além do RCI do grupo e individuais.

 

 

Como visto na Tabela 1, a média das pontuações dos participantes nos fatores da CAAS diminuíram na avaliação pós intervenção, em especial nos fatores Preocupação, Curiosidade e Adaptabilidade, ainda que com tamanhos de efeito considerados pequenos, sendo o fator Curiosidade o único, dentre todos analisados, que apresentou diferença significativa no teste de Wilcoxon. Foram também comparadas as médias nos fatores de adaptabilidade deste estudo com as médias encontradas no estudo de Audibert e Teixeira (2015). A amostra do presente artigo apresentou médias superiores em todos os fatores, com tamanhos de efeito médios e grandes, destacando-se os fatores Curiosidade (d=0,84) e Adaptabilidade (d=0,86), sendo que o mesmo ocorreu com as médias pós intervenção, com destaque para Curiosidade (d=0,66) e Adaptabilidade (d=0,66).

Nos fatores do ICPP as médias foram superiores na avaliação pós intervenção em comparação com a pré intervenção, sendo a Clareza o fator que obteve o maior tamanho de efeito nesta alteração. A nitidez, por sua vez, apresentou diferença nas médias não significativas (p>0,05) e com tamanho de efeito considerado nulo. Em contrapartida, todas as mudanças não foram confiáveis quando analisadas pelo RCI da amostra geral. Esse índice revela que as diferenças encontradas podem ser derivadas de outros fatores como o erro da medida, e não propriamente das mudanças reais nos construtos avaliados pelos instrumentos .

A fim de aprofundar os efeitos da intervenção, foram verificados os RCIs individuais das participantes, separando as que tiveram um aumento do seu escore (+) e as que tiveram uma diminuição (-). Com essa análise individual foi possível perceber que nas medidas Confiança e Nitidez houve uma diminuição considerada confiável de uma participante em cada. Em contrapartida, foi observado que três participantes obtiveram um aumento considerado confiável em Certeza e Decisão e uma participante no fator Clareza. Em síntese, ao analisar a amostra completa pôde-se perceber que os níveis de adaptabilidade diminuíram, ao passo que os níveis de decisão aumentaram e os níveis de nitidez mantiveram-se quase os mesmos. Na sequência, será apresentado o caso de uma das participantes, selecionada por conveniência, a título de exemplo da intervenção e de seus resultados detalhados.

Estudo de caso

Bia (nome fictício), 26 anos, no momento da intervenção cursava o 7º semestre do curso de psicologia, no período noturno de uma universidade particular do interior do estado de São Paulo, Brasil. Ela informou ter participado de três atividades extracurriculares ao longo do curso, sendo estas: estágio remunerado, iniciação científica e participação em atividades científicas, tais como congressos, workshops e seminários. Durante o curso Bia não foi reprovada em nenhuma disciplina, atribuindo a si própria, em uma escala de 0 a 10, uma nota nove para o seu desempenho geral no curso. Ao ser questionada sobre qual área dentro da psicologia ela mais se interessava, Bia respondeu "Pesquisa Acadêmica". Os percentis obtidos por Bia nas avaliações da CAAS, ICPP e EIAPsi feitas nos momentos pré intervenção, pós intervenção e também no F2, ou seja, 12 meses depois da intervenção (portanto, quando ela cursava o 9º semestre, já havia feito a escolha pelas áreas de estágio e já estava atuando), serão apresentados a seguir na Tabela 2.

 

 

Nota-se, na Tabela 2, uma diminuição nos fatores Preocupação e Curiosidade, e um aumento nos fatores Controle e Confiança da CAAS, não havendo mudança no escore total, quando comparadas as avaliações pré e pós intervenção. No que se refere à avaliação da decisão profissional, foi possível perceber uma diminuição nos dois fatores, assim como na Decisão. Contudo, com exceção do fator Controle, em todos os demais fatores da adaptabilidade de carreira e da decisão profissional houve um aumento quando avaliado no F2.

Bia também apresentou variações nos seus interesses inventariados medidos pela EIAPsi. As áreas Educacional e Neuropsicologia durante as avaliações foram ficando menos interessantes, em oposição às áreas Clínica e Saúde, as quais foram indicadas como mais interessantes no decorrer das avaliações. Somando-se a essas inversões de interesses, as áreas Docência e Pesquisa e Avaliação Psicológica, foram do início ao fim indicadas por ela como tendo um alto grau de interesse. Com o intuito de se observar com mais detalhes a variação dos interesses, a seguir, na Tabela 3, serão apresentadas as áreas anotadas ao longo da intervenção e em F1 e F2.

 

 

Os resultados da Tabela 3 indicam uma coerência, de forma geral, nas intenções e escolhas realizadas por ela. Bia, a partir da segunda sessão, assumiu a área Clínica como a sua principal opção. Por sua vez, a área Educacional, que antes era indicada como a principal, cedeu espaço para a área da Saúde após a intervenção, sendo, esta última, a segunda área escolhida por ela para realizar seus estágios. Tanto a área Clínica quanto a da Saúde são as áreas que ela escolheu e no F2 relatou estar estagiando.

 

Discussão

Este trabalho teve por objetivo testar os efeitos de uma intervenção on-line que visa facilitar a escolha por áreas de estágio de estudantes de psicologia. Por meio dos resultados encontrados, foi possível constatar que a intervenção não contribuiu para um aumento efetivo da adaptabilidade de carreira e da nitidez da maior parte das participantes. Entretanto foram evidenciados outros efeitos positivos da intervenção, os quais serão mais bem descritos e discutidos a seguir.

Sobre a adaptabilidade de carreira da amostra total das estudantes, foi identificado que em todos os fatores houve uma diminuição dos escores apresentados no fim da intervenção em comparação com os escores do início, refutando-se assim a H1. Ao se observar a diferença significativa apontada pelo teste de Wilcoxon no fator Curiosidade, e ao comparar este resultado com as outras estatísticas realizadas para este fator, foi possível notar que o tamanho do efeito foi pequeno e não houve valores confiáveis e significativos nos RCIs das análises de grupo e individuais. Isto revela que, pelo fato do teste de Wilcoxon não se propor a analisar o erro padrão da medida, esta diferença significativa encontrada pode ter ocorrido em decorrência do acaso ou do próprio erro da medida. Sendo assim, foi reforçada mais uma vez a estratégia de se utilizar outras estatísticas complementares para que se obtenha avaliações mais precisas da eficácia de intervenções, como por exemplo, o uso do RCI (Brown, 2015; Jacobson & Truax, 1991) e do d (Cohen, 1992).

Foi observado um único caso que apresentou diminuição confiável e significativa no fator Confiança. Entretanto esse achado deve ser melhor analisado, uma vez que os escores encontrados na avaliação pré intervenção deste estudo foram superiores à amostra com universitários relatados por Audibert e Teixeira (2015). Além disso, mesmo com médias inferiores na avaliação pós intervenção, os valores aqui relatados continuaram sendo superiores ao da amostra dos referidos autores. Este fato pode indicar que as participantes que se propuseram a participar da intervenção e chegaram até o fim, são pessoas com um perfil de adaptabilidade superior à maioria dos estudantes universitários.

Portanto, uma vez que esta habilidade compreende, dentre outras coisas, se preocupar com o futuro profissional, assumir a responsabilidade por seus atos, ser curioso com relação a novas oportunidades e realizar tarefas de forma eficiente (Savickas, 2005), tais características podem ter facilitado o engajamento destas estudantes em atividades que pudessem contribuir para seu futuro profissional. Ou seja, pode-se hipotetizar que o aceite do convite para participar da intervenção esteja ligado ao fato das participantes terem um alto nível de adaptabilidade e, portanto, a intervenção possa não ter sido eficaz para desenvolver competências que talvez já estivesses demasiadamente desenvolvidas.

Por outro lado, um dos pontos a ser trabalhado dentro de um processo de orientação profissional refere-se ao autoconhecimento (Santos, Luna, & Bardagi, 2014), sendo este aspecto também explorado na intervenção. Portanto, em alguns casos, a diminuição constatada pode ter ocorrido pelo contato concreto das participantes com os seus recursos de adaptabilidade exigidos nas atividades da intervenção. Nesse sentido, é possível que elas tenham respondido à avaliação pós intervenção de forma mais consciente e realista, em comparação ao momento que iniciaram.

Ao analisar o caso Bia, foi possível identificar que no F2 os escores em todos os fatores da CAAS aumentaram consideravelmente, exceto no fator Controle que já indicava um percentil alto e assim se manteve. Esse resultado indica que mesmo a intervenção não sendo suficiente para discriminar as mudanças na adaptabilidade de carreira durante as avaliações pré e pós intervenção, essas mudanças foram verificadas a longo prazo, no momento em que Bia já estava realizando seus estágios nas suas áreas escolhidas. Suscita-se aqui uma questão interessante, relativa ao tempo que talvez seja necessário para que uma mudança se consolide no funcionamento da pessoa.

Nesta intervenção, a exemplo de outras (Ambiel, Barros, Pereira, Tofoli, & Bacan, 2017), foram utilizados instrumentos psicométricos de autorrelato para avaliar os efeitos da intervenção imediatamente após a execução da mesma, não tendo sido notadas diferenças (ou, eventualmente, reduções). É necessário considerar que, por se tratarem de mudanças comportamentais, eventualmente será preciso tempo para que as novas competências sejam "treinadas" e colocadas em prática para que a pessoa possa reconhecer tal competência em seu rol de comportamentos para que, posteriormente, isso possa refletir na pontuação de um instrumento de autorrelato.

Na sequência foram também analisados os níveis de decisão profissional das participantes. Esta medida fornece uma informação mais prática para o momento que as participantes vivenciavam, em comparação com a adaptabilidade, por informar o nível de decisão com que a estudante entrou e saiu da intervenção, impactando certamente na sua escolha por áreas de estágio. Neste sentido, foi corroborada a H2 ao se constatar um aumento na avaliação pós intervenção com tamanho de efeito para os dois fatores e para a escala total, com destaque para o fator Clareza. Este último fator refere-se ao grau de nitidez que a pessoa tem da sua autopercepção. Foi visto também que em três casos houve um aumento significativamente confiável no fator Certeza e Decisão, como também um caso de aumento no fator Clareza. Portanto, a intervenção mostrou-se eficiente em promover uma maior decisão profissional frente à escolha pelas áreas de estágio.

O caso Bia foi útil para exemplificar tais mudanças. A diminuição da decisão profissional de Bia, verificada na avaliação pós intervenção, pode ser compreendida ao analisar as variações dos interesses ao longo de todo o processo, em especial entre as áreas Clínica, Educacional e Saúde. Sendo assim, Bia vivenciou, no fim da intervenção, um período de mais indecisão, sendo esta fundamental para que ela conseguisse escolher suas duas áreas de estágio. Savickas et al. (2009) discutem que a indecisão não deve necessariamente ser removida, pois esta pode promover novas experiências e possibilidades, permitindo que os indivíduos sejam ativos mesmo em situações incertas.

Por sua vez, no F2, Bia indicou os percentis mais altos de decisão profissional. Mais uma vez, foi observado o aumento a longo prazo dos construtos analisados. Desta forma, foi possível identificar que a intervenção não gerou em Bia uma melhor autopercepção de adaptabilidade e decisão profissional logo após o seu término; contudo, contribuiu para que ela revisse seus interesses, facilitando a sua escolha por áreas de estágio. Além disso, nos semestres seguintes, com a experiência de realizar os estágios supervisionados optados por ela (Cury & Ferreira Neto, 2014; Santos & Nóbrega, 2017), Bia declarou, por meio de autorrelato, ter desenvolvido as competências de adaptabilidade de carreira, assim como mostrou estar mais decidida sobre a sua carreira dentro da psicologia. Assim como evidenciado na pesquisa de Silva et al. (2013), experiências de estágio satisfatórias estão relacionadas com um maior desenvolvimento profissional (e.g. autoefiácia profissional e decisão profissional).

Portanto, a avaliação da intervenção parece não ter demonstrado ser sensível o suficiente para verificar os efeitos desta logo após o término da quarta sessão. Porém um efeito em longo prazo pode ter ocorrido em outros casos assim como no de Bia, com a intervenção contribuindo para a tomada de decisão, mas seus efeitos observados pela participante somente quando ela entra em contato prático com o estágio pelo qual optou. Para que essa hipótese seja corroborada, ainda são necessários novos estudos longitudinais que visem acompanhar os participantes de intervenções para verificar tais alterações, inclusive após a escolha já ter sido realizada.

Nessa direção, além dos dois construtos apresentados anteriormente, foram também testados os efeitos da intervenção na nitidez do perfil dos interesses profissionais das participantes. A partir das análises de grupo foi constatada uma diferença nula na avaliação pós intervenção; contudo, nas análises individuais, foi identificado que uma participante apresentou uma diminuição confiável e significativa, refutando-se assim a H3. Assim como relata Santos et al. (2014), não basta oferecer uma grande quantidade de informação às pessoas; se elas não forem orientadas por certos critérios, essas demasiadas informações podem não ensinar e o estudante pode ainda acabar por não absorver essas informações. Logo, uma possível solução para esta problemática consiste em direcionar mais a busca de informações por parte destes estudantes, para que, assim, seja mais valorizada a qualidade e não tanto a quantidade de informações exploradas.

A respeito da variação dos interesses de Bia notou-se que a maior parte dos interesses expressos e inventariados continuou sem alteração ao longo de todas as avaliações. Este dado vai ao encontro dos pressupostos de Rounds e Su (2014), os quais definem os interesses como sendo traços relativamente estáveis durante a vida do sujeito. Entretanto, em relação às áreas Clínica, Saúde, Educacional e Neuropsicologia, foi possível verificar uma alternação nos interesses, sendo esta, crescente no caso da Clínica e Saúde, e decrescente no caso das áreas Educacional e Neuropsicologia. Este fato corrobora a definição de Savickas (2005), o qual compreende os interesses como um fenômeno relacional que reflete significados emergentes e socialmente constituídos, sendo que, por esse motivo, não devem ser encarados como totalmente estáveis.

Desta forma, os resultados de Bia podem ser compreendidos nesta perspectiva, uma vez que, por meio de atividades relacionais, ou seja, das tarefas disponibilizadas em cada sessão, as quais serviram como forma de reflexão e da construção de autoconhecimento da participante em relação a psicologia, foram elaborados novos interesses que certamente contribuíram para as variações encontradas no decorrer da intervenção. Além disso, Lent et al. (1994) contribuem para essa discussão, ao relatarem que os interesses fazem parte de um processo dinâmico e podem ser reconfigurados a partir de uma nova experiência. Neste caso, em específico, as tarefas oferecidas pela intervenção podem ter contribuído para a reconfiguração dos interesses das estudantes para que pudessem atender as novas demandas emergentes, iminentes ou futuras, a respeito de suas carreiras. Essa nova experiência pôde ser observada a partir do relato de Bia na terceira sessão a respeito da sua reflexão sobre os seus resultados da EIAPsi. Neste relato, ela diz ter refletido, a partir da sua resposta na EIAPsi, sobre seu interesse pela área Clínica, sendo este interesse reconfigurado e se apresentado sistematicamente como o mais interessante no decorrer das demais avaliações.

 

Considerações finais

Embora este artigo não seja o primeiro a relatar intervenções on-line em orientação profissional (Nota et al., 2016; Spaccaquerche, 2005), é apontada pela literatura a necessidade de novos estudos que visem avaliar a eficácia de intervenções em orientação profissional no contexto brasileiro com públicos diferenciados (Ambiel et al., 2017; Bardagi & Albanaes, 2015). Sendo assim, a partir do presente artigo foi possível constatar alguns indicadores de eficácia para a intervenção, nomeadamente no que diz respeito à promoção da decisão profissional. A não promoção de um aumento significativo em adaptabilidade de carreira em oposição a um aumento significativo da decisão profissional dos participantes de uma intervenção já foi relatada também por Cardoso et al. (2016), os quais justificam tal resultado pelo foco da intervenção na queixa do cliente. No caso deste artigo o foco foi o momento que as participantes vivenciavam de decisão por áreas de estágio em psicologia.

Ainda há a necessidade de a intervenção ser mais bem explorada, especialmente em relação à sua amostra, uma vez que o presente estudo pôde contar apenas com participantes do sexo feminino e de dois estados brasileiros. Sendo assim, sugere-se que sejam realizados estudos futuros com amostras maiores e mais diversificadas, e com delineamento quase-experimental, a fim de verificar se os efeitos encontrados se devem à intervenção ou a outras variáveis externas. Além disso, o presente estudo pôde evidenciar aumentos significativos na adaptabilidade e na decisão profissional do caso Bia apenas dois semestres após o término da intervenção. Portanto, levanta-se a necessidade de se verificar de forma mais ampla se as variações observadas em longo prazo na adaptabilidade e na decisão são reflexo da intervenção ou do momento pós tomada de decisão.

Foi também identificado que as participantes que se interessaram em participar da intervenção e continuaram participando das sessões nos prazos estipulados, possuíam médias altas em adaptabilidade, sobretudo no fator Curiosidade. Desta forma, é possível que pessoas que estejam explorando seus ambientes e a si mesmas, a fim de obter um maior autoconhecimento, possam estar mais propensas a buscarem e realizarem, até o fim, processos de orientação profissional. Visto isso, sugere-se que seja realizado um estudo longitudinal, o qual avalie a adaptabilidade com intuito de verificar os seus valores preditivos para que as pessoas iniciem e se engajem em programas de orientação profissional oferecidos posteriormente.

Contudo, embora haja uma fraqueza em termos de representatividade da amostra, este estudo foi capaz de informar sobre a eficácia de uma intervenção que tem por objetivo ser uma ferramenta prática e útil para que os estudantes de psicologia possam ser auxiliados no momento de escolha por áreas de estágio/atuação. Além disso, este artigo foi capaz de responder quatro perguntas fundamentais para qualquer avaliação de intervenção, respondidas em grande parte pelo estudo de caso. As perguntas são: "muda?"; "o que muda?"; "por quanto tempo muda?"; "o que causa a mudança?". Seguindo a ordem das perguntas, as respostas encontradas foram: mudou; mudaram principalmente a decisão profissional e os interesses expressos e inventariados; mudou de forma crescente por pelo menos três semestres; a hipótese da causa foi o contato e o engajamento com as questões da intervenção e experiência de estágio.

Há de se ressaltar que publicações anteriores envolvendo intervenções de carreira on-line também evidenciaram efeitos muito pequenos, assim como relatado na metanálise de Whiston, Goodrich, Mitts e Wrights (2017). De qualquer forma, o presente estudo foi original em testar, pela primeira vez no contexto brasileiro, os efeitos de uma intervenção on-line para o desenvolvimento de carreira de estudantes de psicologia. Logo, evidencia-se aqui uma nova modalidade a ser utilizada por orientadores profissionais, possibilitando a realização de programas em larga escala. Um exemplo disso seria a oferta de intervenções on-line às instituições de ensino, elaboradas especificamente para estudantes universitários, a fim de que instituições interessadas no desenvolvimento de carriera de seus estudantes possam oferecer este serviço sem grandes custos. Contudo, novos estudos devem ser conduzidos a fim de indicar quais atividades mais funcionam nesta modalidade.

 

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Endereço para correspondência:
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Recebido: 14/06/2019
1ª Reformulação: 17/06/2019
Aceito: 21/01/2020

 

 

1 Apoio: CNPq e CAPES (código de financiamento 001).
Sobre os autores:
Rodolfo A. M. Ambiel é Doutor em Psicologia. Docente do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia da Universidade São Francisco.
E-mail: ambielram@gmail.com
Gustavo Henrique Martins é psicólogo e doutorando em Psicologia no Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia da Universidade São Francisco.
E-mail: gustavoh.martins95@gmail.com

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