SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.22 número1Desafios das mulheres na carreira científica no Brasil: uma revisão sistemática índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Revista Brasileira de Orientação Profissional

versão On-line ISSN 1984-7270

Rev. bras. orientac. prof vol.22 no.1 Campinas jan./jun. 2021

http://dx.doi.org/10.26707/1984-7270/2021v22n101 

10.26707/1984-7270/2021v22n101

ARTIGO

 

Adultez e o fenômeno nem-nem: gênero, educação e mercado de trabalho

 

Adulthood and the neet phenomenon: gender, education and labor market

 

Adultez y el fenómeno nini: género, educación y mercado de trabajo

 

 

Daniele de Souza PaulinoI; Luciana Dutra-ThoméII; Pedro F. BendassolliI

IIUniversidade Federal da Bahia, Salvador/BA, Brasil
IUniversidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal/RN, Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O presente estudo objetivou investigar os fatores relacionados à condição "nem-nem" entre jovens à luz do conceito de adultez emergente e das transformações ocorridas no mundo do trabalho. A amostra foi composta de 224 jovens que não estudam e nem trabalham. Os instrumentos foram um questionário sociodemográfico e duas questões abertas sobre os motivos dos jovens estarem sem estudar e trabalhar, e sobre suas perspectivas de futuro. As respostas provenientes das questões abertas foram submetidas a estatísticas textuais. Os resultados revelaram que jovens na condição nem-nem vivenciam aspectos típicos da adultez emergente, e que essas vivências são atravessadas por aspectos como gênero, escolaridade, experiência de trabalho, pela precariedade do mercado de trabalho e a forma como a mesma afeta a juventude em particular.

Palavras-chave: jovens; trabalho; educação; psicologia do desenvolvimento; adultez emergente.


ABSTRACT

The present study aimed to investigate the factors related to the neither-nor condition among young people in the light of the concept of emerging adulthood and the transformations that occurred in the world of work. The sample consisted of 224 young people who neither study nor work. The instruments were a sociodemographic questionnaire and two open questions about why young people are not studying and working, and about their future prospects. Answers from open questions were submitted to textual statistics. The results revealed that young people in the neither-nor condition experience typical aspects of emerging adulthood, and that these experiences are crossed by aspects such as gender, education, previous work experience, the precariousness of the labor market and the way it is affects youth in particular.

Keywords: youth; work; education; developmental psychology; emerging adulthood.


RESUMEN

El presente estudio tuvo como objetivo investigar los factores relacionados con la condición de ni-ni entre los jóvenes a la luz del concepto de adultez emergente y las transformaciones ocurridas en el mundo laboral. La muestra estuvo formada por 224 jóvenes que ni estudian ni trabajan. Los instrumentos fueron un cuestionario sociodemográfico y dos preguntas abiertas sobre por qué los jóvenes no estudian ni trabajan, y sobre sus perspectivas de futuro. Las respuestas de las preguntas abiertas se enviaron a las estadísticas textuales. Los resultados revelaron que los jóvenes en la condición ni-ni experimentan aspectos típicos de la adultez emergente, y que estas experiencias son atravesadas por aspectos como el género , la educación, la experiencia laboral previa, la precariedad del mercado laboral y la forma en que se encuentra afecta a los jóvenes en particular.

Palabras clave: jóvenes; trabajar; la educación; psicología del desarrollo; adultez emergente.


 

 

Uma identidade globalizada está se tornando mais forte em todo o mundo, uma vez que existe intensa integração entre culturas, aumento de movimentos migratórios, mídia integrada mundialmente e fortalecimento do comércio internacional (Jensen, 2012), o que afeta o processo de formação da identidade de jovens adultos (Erikson 1950, 1968; Schwartz & Pantin, 2006) e seu processo de inserção no mundo do trabalho (Dutra-Thomé & Koller, 2014). Essas mudanças levam à pluralização de estilos de vida, e a formação da identidade dos indivíduos não pode mais ser entendida como estável, mas deve ser compreendida como fluida, aberta a mudanças (Richardson, 2015) e adaptada a cada contexto sociocultural (Hoare, 2009). A globalização tem afetado a construção da identidade dos jovens, em destaque para dois processos atuais observados nesse público, nomeadamente, o prolongamento da transição para a vida adulta e os desafios na entrada no mercado de trabalho.

Uma das formas pelas quais os efeitos da globalização afetam a formação da identidade de jovens, se dá por meio do processo de extensão da transição para a vida adulta, fenômeno observado em países industrializados e chamado de "adultez emergente" (Badger, Nelson, & Barry, 2006; Facio, Resett, Micocci, & Mistrorigo, 2007; Felinto, Gauer, Rocha, Braun, & Dias, 2020; Herrera, Vinet, & Ortiz, 2020; Júnior & Freire, 2018; Zhong & Arnett, 2014). Nesse cenário, os jovens estão levando mais tempo para assumirem papéis adultos tradicionais, como ter um relacionamento amoroso e um trabalho estáveis (Arnett, 2011). Mudanças demográficas e históricas afetaram esse prolongamento, como a invenção de contraceptivos, novos padrões de moralidade pós-revolução sexual dos anos 1960 e início dos anos 1970, mudanças no papel da mulher na sociedade e demandas de elevados níveis educacionais e de treinamento profissional para entrar no mercado de trabalho. Algumas das consequências desse movimento se sentem quando, por exemplo, na maioria dos países industrializados, jovens não precisam sair da casa dos pais para ter um(a) parceiro(a) sexual, e necessitam dedicar anos de suas vidas aos estudos para aumentar suas chances de conseguir uma oportunidade de trabalho decente (Ayala, García, & Ponte, 2016).

Observa-se também, que a transição para a vida adulta é demograficamente heterogênea, e não possui características normativas delimitadas como a adolescência (p. ex., é esperado que adolescentes morem com pais e experienciem as mudanças da puberdade) e adultez (p. ex., espera-se que adultos tenham parceiro(a) fixo(a), trabalho estável, etc.) (Arnett, 2011). Atualmente, um(a) jovem em transição para a vida adulta pode apresentar características de adolescentes e de adultos ao mesmo tempo, como morar com os pais e ter um trabalho estável.

Além da extensão da transição para a vida adulta, a dinâmica econômica de um mundo globalizado também influencia o processo de inserção laboral de jovens. Segundo a International Labour Office (ILO), em 2017, o desemprego atingiu 70,9 milhões de jovens no mundo, com estimativa de que esse número aumentasse para 71,1 milhões em 2018. De acordo com a mesma organização, um quinto dos jovens não estudava, trabalhava ou estava envolvido em iniciativas de qualificação, e 76,7% estavam desenvolvendo trabalhos informais. No Brasil, no primeiro trimestre de 2018, 32,3% dos jovens entre 18 e 24 anos estavam desempregados e 23,4% desistiram de procurar por uma ocupação (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [IBGE], 2018). Esse cenário é desafiador, e os efeitos na população juvenil são explícitos, sendo os jovens com baixos níveis de qualificação, os mais afetados. Nesse sentido, Merino, Privado e Arnaiz (2019) apontam que longos períodos de desemprego e inatividade durante a juventude podem ser prejudicais em diversos outros aspectos, como satisfação com a vida, satisfação no trabalho e saúde.

Ao mesmo tempo, é necessário destacar que as dificuldades dos jovens de encontrarem um trabalho podem também estar relacionadas ao fato de que eles são mais exigentes quanto à atividade laboral que irão assumir, sendo a carreira profissional uma das maiores preocupações que possuem. Ao mesmo tempo em que enfrentam dificuldades para encontrar um trabalho decente (ILO, 2017), eles também estão procurando um trabalho que seja coerente com suas visões de mundo e que considerem significativo. No começo de sua trajetória laboral, eles possuem trabalhos mais instáveis e temporários porque sua atitude em relação ao mercado de trabalho é mais exploratória. Progressivamente, eles passam a assumir trabalhos em longo prazo e estáveis (Arnett, 2011).

Pelo exposto, é possível pontuar três características principais no processo de inserção laboral de adultos emergentes: (a) investem mais tempo nos estudos e qualificação profissional na busca de um trabalho satisfatório e bem remunerado; (b) trocam frequentemente de trabalho pela falta de compromissos em longo prazo que vivenciam até em torno dos 30 anos; (c) buscam um trabalho sintônico com sua visão de mundo, não focado exclusivamente em estabilidade financeira, mas, sobretudo, em satisfação pessoal, numa lógica de "trabalhar para viver, e não viver para trabalhar" (Arnett, 2011; Henriques, Jablonski, & Feres-Carneiro, 2004).

Além da atitude seletiva e exploratória em relação ao mercado de trabalho, a adultez emergente é caracterizada por (a) prolongamento da exploração da identidade, marcado subjetivamente pela (b) ambivalência entre a adolescência e a vida adulta, (c) instabilidade, (d) foco em si mesmo, e (e) otimismo em relação ao futuro (Arnett, 2004, 2011). Em paralelo às cinco principais características citadas, o desafio principal desse período desenvolvimental seria ter independência e autossuficiência, considerado como pré-requisito para que o indivíduo seja capaz de assumir compromissos em longo prazo com outras pessoas. Nessa direção, adultos emergentes apontam como principais critérios para atingir a vida adulta "ser responsável por si mesmo", "ser capaz de tomar decisões independentes" e "ter independência financeira" (Arnett, 2011; Dutra-Thomé & Koller, 2014).

O cenário até aqui apresentado fornece indícios de que os efeitos da globalização afetam o processo de formação da identidade de jovens indivíduos no decorrer de sua transição para a vida adulta, considerando fenômenos previamente descritos, nomeadamente a adultez emergente e desafios de inserção no mercado de trabalho. Esses aspectos geram diversas possibilidades de trajetórias em transição para a vida adulta, sendo algumas destas mais afetadas por dificuldades econômicas quando, por exemplo, alguns jovens precisam morar com pais ou amigos por mais tempo porque não possuem condições financeiras de sustentar sua própria casa; ou porque eles estão investindo em qualificação profissional para conseguirem um melhor emprego no futuro (Netto Fleury, 2007). Outras trajetórias refletem mais diretamente o fenômeno da adultez emergente, como quando jovens optam por coabitar por mais tempo com pais ou amigos porque não querem ser responsáveis sozinhos por sustentar e cuidar de sua própria casa. Nesse caso, são motivados por seu desejo de aproveitar um período de suas vidas em que possuem menos obrigações e mais possibilidades de tomar decisões sem ter de pensar em outras pessoas (Arnett, 2011; Henriques et al., 2004).

Pelo exposto, é possível apreender que a transição para a vida adulta é um período vulnerável, visto que jovens adultos necessitam lidar com a instabilidade inerente ao processo estendido de exploração de suas identidades (Arnett, 2011). Ademais, suas expectativas em relação aos planos que traçam nem sempre se tornam realidade, o que aumenta seus sentimentos de instabilidade, negatividade e frustração (Arnett, 2006). Essa vulnerabilidade é reforçada quando países industrializados estão em recuperação de uma crise econômica mundial, com altas taxas de desemprego, mesmo para jovens com elevada qualificação. Nesse contexto, a população de jovens em transição para a vida adulta tornou-se uma das maiores preocupações da OIT (Guimarães, Marteleto, & Brito, 2018), em especial aqueles indivíduos que não estão nem trabalhando nem estudando, o que demonstra a importância de se atentar para as dificuldades enfrentadas por jovens em todo o mundo.

Desde a década de 1980, o termo "nem-nem" tem sido utilizado para caracterizar a realidade de jovens que por diversas razões, não estudam e não trabalham (Serracant, 2014). Em linhas gerais, o conceito de juventude nem-nem contempla pessoas que estão na faixa de 15 a 29 anos, e que não trabalham, não estudam e não desenvolvem atividades relacionadas à sua formação profissional. Isso inclui pessoas pertencentes à população ativa desempregada (desempregados procurando emprego) e a população inativa (desempregados que não procuram emprego). Ao mesmo tempo, essa condição envolve uma variedade de situações, que incluem o desemprego temporário, a espera por melhores oportunidades profissionais, o desemprego de longa duração e a decisão por não trabalhar (Blanch, 2014; Chen, 2009; Serracant, 2014).

No Brasil, estimou-se que no ano de 2017, 28% das pessoas com idade entre 18 e 24 anos não estudavam e nem trabalhavam (IBGE, 2018). Diante desse fenômeno que atinge um contingente crescente de jovens, questiona-se sobre quais fatores poderiam levar os jovens a não trabalhar, nem estudar. Na literatura especializada sobre o tema, não há consenso quanto a essa questão. Para uma vertente, estaria sob o jovem a responsabilidade ou a explicação por sua condição, seja por problemas emocionais e comportamentais, desengajamento com as principais instituições sociais - e entre elas, a educação - e envolvimento em atividades ilícitas e criminosas (Benjet et al., 2012; Seddon, Hazenberg, & Simon, 2013).

Nessa perspectiva, jovens na condição nem-nem poderiam estar vivenciando um tempo de diversão e investimento em si mesmos ou estarem à espera de uma atividade coerente com seus interesses pessoais, momentos característicos da adultez emergente (Arnett, 2011). Por outro lado, essa vertente, ao compreender o fenômeno pela via do indivíduo, poderia reforçar uma visão estereotipada da juventude, ao caracterizá-la pelo desânimo, apatia e falta de perspectivas.

Contrária a essa percepção, há a perspectiva que salienta o papel das desigualdades sociais e das falhas nas políticas públicas como via alternativa para se entender a condição nem-nem. Tal visão defende que embora os fatores subjetivos sejam importantes para explicar a situação nem-nem, eles devem ser compreendidos a partir das condições objetivas da vida das pessoas, como: a estrutura local de oportunidades, as dificuldades de inserção laboral juvenil, agravadas pela crise econômica e a distribuição social de oportunidades de educação (Thompson, 2011).

Nesse sentido, a condição nem-nem seria fruto da junção de dois feixes: (a) os contextos de inserção social dos jovens, como a família, a escola e o mercado de trabalho; e (b) as trajetórias dos indivíduos. Esses dois feixes são marcados por diversos tipos de desigualdades, e atingem jovens que já deixaram a escola para trabalhar, mas que não conseguem mais um emprego; jovens que decidiram ou estão em condições de esperar ou se preparar por uma ocupação melhor; e mulheres, que estão realizando outros projetos, como a maternidade e o casamento (Cardoso, 2013). Essa perspectiva defende uma aproximação holística à situação dos jovens na condição nem-nem, o que envolve considerar a influência do contexto macroeconômico na compreensão desse fenômeno. Dessa forma, esses jovens seriam ambiciosos e talentosos e desejariam uma inserção no mercado de trabalho, mas não trabalhariam por não encontrar uma ocupação que corresponda as suas expectativas pessoais e profissionais (David, 2014).

Assim, o fenômeno nem-nem envolveria em si uma questão de exclusão que também serve aos interesses do modo de produção capitalista (Silva, 2016). De forma geral, à dificuldade de se inserir em uma primeira atividade de trabalho, e as condições laborais precárias que se perpetuam durante a juventude, contribuiriam para os jovens expressarem um maior desencanto com o trabalho. Dessa forma, há um sentimento de fracasso associado à trajetória escolar e profissional e às poucas vagas de trabalho oferecidas para o público juvenil, elementos estes que representam uma porta aberta para a frustração, o desânimo e a apatia frente ao futuro profissional (Castro & Andrade, 2013; Gouveia, 2019; Vargas-Valle & Cruz-Piñeiro, 2012).

A vivência de jovens na condição nem-nem representa uma ruptura no que é socialmente esperado para a juventude enquanto fase da vida. O fato de esse público juvenil estar simultaneamente fora do mercado de trabalho e de iniciativas educacionais, contribui para o adiamento da entrada na idade adulta e fomenta a constituição de diferentes arranjos sociais e familiares, entre eles, assumir papeis de pai e/ou mãe, mas ainda residir com a família de origem ou adiar a perspectiva da formação do próprio núcleo familiar (Pochmann, 2007).

As experiências vivenciadas pela juventude nem-nem refletem o fenômeno da adultez emergente, caracterizadas, sobretudo, pelos desafios de inserção desse público no mercado de trabalho. Essas dificuldades contribuem para que os jovens vivam diferentes experiências identitárias no que se refere à dimensão do trabalho, familiar e afetiva, complexificando a relação entre juventude e trabalho e a construção de trajetórias para a idade adulta (Arnett, 2011).

Diante disso, este artigo tem por objetivo investigar os fatores subjacentes à condição nem-nem, especificamente os motivos dos jovens estarem sem estudar e trabalhar, como também as suas perspectivas de futuro, à luz dos principais aspectos que caracterizam a adultez emergente, a saber: o prolongamento dos estudos, a alta rotatividade nas experiências laborais e a busca por um trabalho coerente com as suas visões de mundo.

 

Método

Participantes

Participaram 224 jovens entre 18 e 24 anos que atenderam os critérios (a) de não estarem desenvolvendo atividades registradas em carteira de trabalho e/ou informais; (b) não estarem associados a iniciativas educacionais ou de qualificação. Dessa forma, foram incluídos tanto jovens desocupados - que, embora não estivessem trabalhando, procuravam por um emprego; e jovens inativos, que não estavam ocupados e que também não procuravam emprego. O critério etário definido partiu do fato de que é naquela faixa etária, ou seja, dos 18 aos 24 anos de idade, que se concentra a maior quantidade de jovens na condição nem-nem no Brasil(IBGE, 2018).

Instrumentos

A coleta de dados foi realizada a partir da aplicação de um questionário sociodemográfico, o qual contemplou questões relacionadas a aspectos pessoais (idade, sexo, cor/raça, nível de escolaridade e histórico laboral) e familiares (escolaridade e ocupação dos genitores, número de moradores no domicílio e renda familiar). A esse questionário, foram acrescentadas duas questões abertas: a primeira teve por objetivo compreender os motivos, que na opinião dos jovens, os levaram a estar sem estudar e trabalhar; e a segunda questionou sobre as suas perspectivas de futuro.

Procedimentos de coleta de dados e cuidados éticos

Os participantes foram acessados por meio de uma estratégia presencial e outra on-line. A primeira foi conduzida em bairros de duas cidades localizadas no Estado do Rio Grande do Norte. A escolha por esses bairros se deu a partir de um critério de conveniência, especificamente, o de acessibilidade às unidades básicas de saúde (UBSs). A possibilidade de contatar os jovens por meio dessas unidades foi concretizada a partir do trabalho dos agentes comunitários de saúde. Esses profissionais realizam visitas domiciliares e o acompanhamento das necessidades de saúde dos moradores dos bairros. Diante da natureza desse trabalho, o agente foi pensado enquanto um parceiro que possibilitaria o acesso a respondentes em potencial para a pesquisa.

Portanto, na primeira etapa do processo, o agente comunitário de saúde identificava as residências nas quais se encontravam jovens na condição nem-nem. Em seguida, esse profissional conduzia a pesquisadora até estas residências. O primeiro contato com o jovem era realizado pelo próprio agente de saúde, que apresentava a pesquisadora. Em seguida, essa seguia para um local reservado com o respondente, e explicava os objetivos da pesquisa. Ao decidir participar, os aspectos do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) foram explicitados. Além desse documento, ainda foi solicitada a autorização por escrito do respondente para gravar as respostas às questões abertas, que foram posteriormente transcritas.

A estratégia de coleta on-line transcorreu de forma paralela à anterior, tendo em vista a necessidade de se obter uma maior taxa de resposta. Nesse caso, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) emitiu um e-mail convite para os alunos egressos dos anos de 2010 a 2015. Na mensagem foram explicitados os objetivos e critérios de participação da pesquisa, o TCLE, e apresentado o questionário propriamente dito e as duas questões abertas, os quais se encontravam hospedados no Google Forms. A escolha pela referida universidade se deu a partir de um critério de conveniência, especificamente, a facilidade de acesso da pesquisadora a mesma.

No primeiro caso, a coleta de dados foi iniciada após a anuência das Secretárias de Saúde dos municípios acessados, como também dos diretores das UBSs. A segunda estratégia por sua vez, foi iniciada após a anuência da UFRN. Em ambos os casos, a coleta foi iniciada somente após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa, por meio do protocolo de número CAAE 47387515.8.0000.5537.

Procedimentos de análise de dados

As respostas provenientes das questões abertas foram submetidas a estatísticas textuais e a classificação hierárquica descendente (CHD) por meio do software IRAMUTEQ (Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires). Especificamente, a CHD realiza uma análise de clusters sobre os textos, de forma que as partes dos mesmos são separados e categorizados de acordo com a coocorrência do seu vocabulário. Dessa forma, os segmentos de texto são distribuídos em classes homogêneas a partir daquele vocabulário (Sousa, Gondim, Carias, Batista, & Machado, 2020).. De forma geral, foram formados três corpus de análise, cada um referente às respostas contempladas nas duas questões, a saber: (a) motivos de não estar estudando, motivos de não estar trabalhando e (b) futuro profissional.

 

Resultados

Do número total de respondentes, 75,9% eram mulheres. A média de idade dos participantes foi de 21,24 anos (DP=2,09). Quanto a renda familiar, ela se concentrou em um salário (28,6%), seguido por dois a três salários-mínimos (17%). O nível de escolaridade mais relatado foi o ensino médio completo (27,7%), seguido do ensino superior completo (23,7%). Sobre os aspectos relacionados à experiência profissional dos jovens, 60,3% já trabalharam em algum momento de suas vidas, entre estes 47,8% sem registro em carteira de trabalho. Em média, o tempo que passaram nas ocupações foi de 11,23 meses (DP=3,53). Por último, quanto ao tempo na condição nem-nem, 45,5% relataram estar nela entre 10 e 24 meses, enquanto 31,7% afirmaram estar nessa condição entre 34 e 72 meses. Os demais respondentes, afirmaram viver a condição nem-nem entre um período que variou de 15 dias a 9 meses (17,4%), e um pequeno contingente, de 84 a 144 meses (5,4%).

A partir da análise qualitativa realizada, foi possível identificar padrões de resposta associados aos motivos dos jovens permanecerem na condição nem-nem e suas perspectivas de futuro. Dessa forma, as respostas às questões abertas foram organizadas em três corpus, a saber: Motivos de estar sem trabalhar, Motivos de estar sem estudar e Futuro profissional, os quais serão caracterizados a seguir.

Motivos de estar sem trabalhar

Esse primeiro corpus foi constituído por 224 respostas válidas, 223 textos, apresentando 876 formas e 4882 ocorrências (média de 5,57) e 486 hapax (palavras com frequência igual a 1) sendo 53,42% das formas e 9,59% das ocorrências. A CHD reteve 188 daqueles textos, o que representa 84,30% do corpus. Para a descrição das classes e a construção do dendograma, foi considerado o valor do χ²>3,84 com nível de significância de p<0,05, e a frequência das palavras maior ou igual a 6 ou com 100% na classe.

Conforme demonstra a Figura 1, o corpus se dividiu uma primeira vez em dois subcorpora. Em seguida, ocorreu uma segunda partição, originando as classes 2 e 6 no segundo subcorpus. Ademais, uma nova divisão deu origem às classes 3 e 4. Por último, o primeiro subcorpus classificou as classes 5 e 1 que se contrapuseram as demais. O primeiro subcorpus refere-se a papeis e responsabilidades assumidos pelos jovens que impossibilitam sua inserção no mercado de trabalho, enquanto que o segundo retrata as dificuldades que os jovens encontram na busca por uma ocupação.

Motivos de estar sem estudar

O segundo corpus foi constituído por 224 respostas válidas, 223 textos, apresentando 865 formas e 4692 ocorrências (média de 5,42) e 467 hapax (53,99% das formas e 9,95% das ocorrências). A CHD reteve 165 dos 223 textos, o que representou 73,99% do corpus. Para a descrição das classes e a construção do dendograma, foi considerado além do valor do χ²>3,84 com nível de significância de p<0,05, a frequência das palavras > a 5 ou com 100% na classe.

Inicialmente, o corpus se dividiu em dois subcorpora, originando cinco classes diferentes. Em seguida, houve uma segunda partição que deu origem a classe 1 no segundo subcorpus. Novamente, houve uma nova divisão que originou as classes 4, 2, 5 e 3 no primeiro subcorpus. Como ilustra a Figura 2, o primeiro subcorpus remete a relação dos jovens com a educação, a indefinição sobre o que fazer após o término do ensino médio e a dificuldade em conciliar o estudo com outras responsabilidades que assumiram durante suas trajetórias pessoais. O segundo subcorpus, por sua vez, faz referência a aspectos financeiros que dificultam a continuidade da formação dos jovens.

Futuro profissional

O terceiro corpus também se constituiu por 224 respostas válidas e 223 textos, apresentando 898 formas gramaticais que ocorreram 4294 vezes, com a média de 4,78 palavras por forma. Quinhentas e quinze palavras tiveram frequência igual a 1 (57,35% das formas e 11,99% das ocorrências). A CHD reteve 161 dos 223 textos, o que representou 72,20% do corpus. Para a descrição das classes e a construção do dendograma, consideramos além do valor do χ²>3,84 com nível de significância de p<0,05, a frequência das palavras > a 5 ou com 100% na classe.

Inicialmente o corpus se dividiu em dois subcorpora originando quatro classes diferentes. Em seguida, houve uma segunda partição que deu origem a classe 1 no primeiro subcorpus. Em uma terceira divisão, foi originada a classe 3 no segundo subcorpus. Por último, esse subcorpus sofreu uma nova partição, definindo as classes 4 e 2. O primeiro subcorpus (classe 1) revela as aspirações profissionais de jovens formados no ensino superior, enquanto que o segundo subcorpus (classes 3, 2 e 4) retrata as expectativas de futuro de jovens com ensino fundamental e médio (Figura 3).

A partir dos dendogramas apresentados, as classes foram agrupadas e serão apresentadas, a seguir, de acordo com as características pessoais dos participantes que foram representativas de cada classe, a saber: nível de escolaridade, ter filhos e ser mulher. Com o intuito de caracterizar as falas mais representativas de cada categoria, foram extraídos trechos das respostas dos participantes, a partir do relatório de análise do IRAMUTEQ. .

Jovens mães

Este eixo concentrou as respostas de jovens mães (N=84;Média de Idade=21 anos; DP=2,09) com relação aos motivos de estarem na condição nem-nem e suas perspectivas de futuro. Quanto aos motivos, as participantes relataram a dificuldade ou até mesmo a impossibilidade de deixar seus filhos aos cuidados de outras pessoas para poderem trabalhar e estudar. Associada à maternidade, essas jovens desempenham outros papeis sociais, como a de esposas e cuidadoras do lar, fatores esses que dificultam seu ingresso no mercado de trabalho e na esfera educacional. Outra dificuldade para esse ingresso diz respeito à resistência do marido/companheiro em permitir que algumas participantes saiam da esfera doméstica, para desempenhar também o papel de provedoras e estudantes, como exemplificado no trecho a seguir: "Porque o meu marido não deixa. Para ele, eu tenho que ficar em casa esperando ele trazer as coisas, enquanto eu cuido da casa e do menino" (Jovem 027, feminino, há 5 anos na condição nem-nem).

Quanto ao futuro profissional, parte das respondentes fez referência ao histórico de gravidez precoce, para explicar a evasão do espaço escolar e o abandono ou suspensão de projetos profissionais. Atualmente, elas se dividem entre o interesse de voltar a estudar e a necessidade de se inserirem em uma ocupação, qualquer que seja ela, para custearem seu próprio consumo e contribuírem com a despesa familiar.

Jovens com ensino fundamental

Retrata a realidade de jovens com histórico de evasão escolar (N= 64; Média de Idade=21 anos; DP=2), que relataram ter abandonado os estudos ainda no ensino fundamental por falta de interesse, falta de vontade ou de identificação com alguma área de formação. Quanto a suas trajetórias laborais, esse público juvenil foi o que mencionou com maior frequência a necessidade de trabalhar ainda na infância para contribuir com a renda familiar.

Não tenho vontade de estudar. Prefiro procurar um emprego e começar a trabalhar, do que ficar estudando. Não tenho mais cabeça pra estudar... eu vou pra a escola e fico lá sentado, só para dizer que estou na escola... por isso é melhor ir atrás de um emprego logo, pra ficar trabalhando. Ir pra a escola pra não fazer nada... pelo menos trabalhando estou fazendo alguma coisa (Jovem 039, masculino, há 15 dias na condição nem-nem).

Diante dos poucos anos de estudo, o futuro para esses jovens se revela entre a tensão do que um dia almejaram e o que acreditam ser possível realizar. Para eles é importante trabalhar independente das condições nas quais esse trabalho se desenvolve, desde que essa atividade garanta o retorno financeiro, muitas vezes mínimo, para atender desejos pessoais de consumo e sustentar a família. Por isso, que suas perspectivas de futuro são vagas. Os poucos anos de estudo associados aos baixos rendimentos de suas famílias limitam caminhos profissionais e levam os jovens a certa aceitação quanto a sua situação profissional, que na presente pesquisa pôde ser assim resumido: se não estudei, não posso escolher trabalho. Tenho que trabalhar no que aparecer: "Penso em fazer Direito, mas tem que estudar pra isso... aí penso em trabalhar mesmo como operador de máquina em outro estado, cavando túnel, essas coisas" (Jovem 024, masculino, há 2 anos na condição nem-nem).

Jovens egressos do ensino médio

Respondentes característicos desse público juvenil (N= 58; Média de Idade =21 anos; DP=2) afirmaram não ter clareza quanto ao que fazer profissionalmente agora que concluíram o ciclo básico de ensino. Os jovens mencionaram desestímulo, crença de que não são capazes ou que não tem condições de ingressar nos cursos que almejavam: "Quando eu terminei os estudos tentei entrar na universidade, mas estava concorrido o curso que eu queria aí desisti e nunca mais tentei" (Jovem 066, feminino, há 2 anos na condição nem-nem).

Por outro lado, eles têm uma certeza: é preciso investir na sua qualificação, se quiserem um emprego, e para tanto, precisam ingressar em curso de ensino superior. A esse nível é creditada a possibilidade de conseguir uma melhor oportunidade de trabalho. Nesse sentido, reproduzem o discurso de que o diploma é garantia de emprego: "Penso em fazer faculdade. Acho que com um diploma, fica mais fácil conseguir emprego" (Jovem 083, feminino, há 2 anos na condição nem-nem).

Jovens egressos do ensino superior

Jovens dessa classe (N=61; Média de Idade=21 anos; DP=3), não estão trabalhando porque julgam não terem experiência suficiente para ingressar na área na qual se formaram. Por isso, adiam a inserção no mercado de trabalho. No momento, alguns respondentes esperam a abertura de editais para concursos públicos, enquanto outros relatam a dificuldade financeira em investir na formação continuada, como especializações e pós-graduação.

Diante da instabilidade ocupacional, representada pela flexibilidade dos contratos de trabalho, rotatividade e precarização, esse público juvenil almeja a carreira pública, uma vez que visualiza nessa possibilidade a suposta estabilidade profissional, o reconhecimento acadêmico e a progressão de carreira. Os trechos a seguir, exemplificam o conteúdo desta classe: "Porque preciso esperar abrir concurso e para trabalhar em empresa privada eles exigem experiência" (Jovem 185, feminino, há 2 meses na condição nem-nem); "Ingressar no serviço público por meio de aprovação em concurso público que tenha a ver com minha área de formação, e se não for possível, a curto prazo buscar emprego em alguma área distinta ou iniciar uma pós-graduação" (Jovem 210, feminino, há 1 ano e 2 meses na condição nem-nem).

Dificuldades compartilhadas

Respondentes de diferentes níveis de escolaridade (Média de Idade= 21,24 anos; DP=2,09) foram unânimes em reconhecer as dificuldades enfrentadas por jovens que buscam uma inserção no mercado de trabalho. Entre essas, foram destacadas a falta de oportunidade de emprego para o público juvenil, mesmo para aqueles que investiram em sua qualificação; a precariedade dos vínculos de trabalho; e a exigência por experiência profissional. Os jovens também fizeram referência à crise econômica, que restringe ainda mais o acesso às vagas de emprego e coloca o jovem em posição de disputar pelas vagas disponíveis no mercado de trabalho, em situação de desigualdade com os adultos; e a estratégia de indicação para vagas de emprego, como a mais eficaz para inserção no trabalho: "Por falta de oportunidade. Eu não tenho experiência profissional, e porque também o povo aqui só emprega, se você já tiver uma amizade dentro daquele local. Aí você consegue um emprego. É muito difícil. Já procurei, mas não encontrei" (Jovem 085, feminino, há 1 ano na condição nem-nem).

 

Discussão

Os resultados do presente estudo explicitaram os motivos que levam jovens brasileiros de diferentes perfis a se confrontarem com a condição nem-nem. É possível observar uma conjuntura de fatores que levam a essa condição, como questões de gênero, desigualdade econômica, globalização e flexibilidade do mundo do trabalho. Esses fatores são somados à fragilidade inerente ao período chamado adultez emergente, no qual jovens enfrentam uma série de incertezas quanto ao futuro diante da instabilidade que enfrentam em vários campos de sua vida, desde o amoroso ao educacional e profissional. Resultados do presente estudo revelam que a variedade socioeconômica brasileira faz com que os três aspectos que caracterizam a inserção laboral de adultos emergentes (maior investimento nos estudos, várias experiências laborais e busca de trabalho satisfatório) nem sempre estejam presentes ou estejam sendo vivenciados a partir da complexa interação com o mercado de trabalho.

O grupo de Jovens mães, por exemplo, revelou que sua condição está ligada à dificuldade de seguirem os estudos e se qualificarem para o mercado de trabalho por serem demandadas a assumirem o papel principal de cuidar dos filhos. O apoio social a essas jovens é precário, de forma que são sobrecarregadas nessa tarefa, o que as desvia da possibilidade de trilhar um caminho profissional tradicional (Diniz, Dias, Neiva-Silva, Nieto, & Koller, 2012). Essa situação pode ser mantida pelas visões enrijecidas dos papeis das mulheres na sociedade, que podem limitar o papel de jovens mães ao cuidado dos filhos e da casa. Nesse sentido, o plano futuro de retomarem os estudos necessitaria de mudança em sua condição atual, embora isso não seja a garantia da concretização daquele plano (Diniz & Koller, 2011).

O grupo Jovens com ensino fundamental, por sua vez, revelou a problemática do ciclo vicioso de pobreza presente na sociedade brasileira. Famílias inteiras reproduzem este ciclo, do qual não conseguem sair diante da manutenção de estruturas sociais que naturalizam a estratificação da população entre classe média alta/ricos e classe média baixa/pobres. Essa desigualdade afeta, particularmente, a população juvenil, uma vez que a fragilidade da sua condição de inexperiência e/ou necessidade de sobrevivência é, por vezes, explorada (Koller, Dutra-Thomé, Morais, Silva, & Santana, 2014). O maior tempo de investimento em estudos seria uma característica mais presente em jovens de nível socioeconômico (NSE) médio e médio alto. Estudo de Dutra-Thomé e Koller (2014) revelou que jovens de NSE baixo tinham maiores dificuldades de avançarem nos estudos, com frequência superior de estagnação nos níveis Fundamental e Técnico e interrupção dos estudos após o Ensino Médio, enquanto jovens de NSE alto apresentaram maior frequência de inclusão em cursos universitários.

Portanto, esse grupo corresponde a jovens que precisam trabalhar precocemente para auxiliar financeiramente a família, abandonando a escola por falta de motivação, o que pode se originar tanto da falta de apoio familiar, que não tem em sua cultura a valorização dos estudos, quanto da própria precariedade do ensino ofertado pelas escolas públicas brasileiras (Dutra-Thomé, Pereira, & Koller, 2016). É este mesmo grupo que sofre os maiores riscos de submissão a situações de trabalho cada vez mais precárias, por focarem-se na necessidade de sobrevivência como principal motivador para o trabalho. Os planos futuros destes jovens são vagos, provavelmente porque não encontram brechas para sair do ciclo de pobreza em que se encontram (Macêdo, Alberto, & Araujo, 2012).

Os Jovens egressos do ensino médio apresentaram crença de incapacidade de atingirem seus objetivos diante do contexto de elevada concorrência na entrada em uma universidade. Isso pode se agravar nos casos de jovens de nível socioeconômico baixo, como revelou estudo brasileiro, cujos participantes apresentaram pouca confiança em relação à entrada na universidade (Libório, Coêlho, & Castro, 2011). Ao mesmo tempo, demonstram noção da necessidade de investirem em sua qualificação para conseguirem um trabalho. Jovens desse grupo mantêm a crença de que o Ensino Superior seria uma garantia de entrada no mercado de trabalho, ainda que isso se mostre irrealista, não apenas no contexto brasileiro (Amazarray, Dutra-Thomé, & Seibel, 2014). O curso superior, a princípio, parece diminuir as chances de um indivíduo ingressar no mercado de trabalho em condições precárias e/ou degradantes, mas isso também não é garantia. Há necessidade, portanto, de se buscarem alternativas para ingresso no mercado de trabalho para além do curso superior que também ofereçam salários e condições de trabalho decentes (Amazarray et al., 2014).

Quanto às perspectivas de futuro, muitos jovens ainda não têm clareza sobre as suas preferências profissionais ou acreditam que o futuro é algo externo, e que, portanto, não é controlado (Dib & Castro, 2010). Outros esboçam planos, mas se deparam com as condições financeiras de suas famílias e suspendem suas perspectivas de futuro, que passam a habitar apenas o campo do desejo: não sabem se elas um dia se concretizarão (Maia & Mancebo, 2010).

Diante da instabilidade do mercado de trabalho, são os Jovens egressos do ensino superior que parecem viver de forma mais concreta a possibilidade do prolongamento dos estudos, com o intuito de melhor se prepararem para enfrentar os desafios do mercado de trabalho, adiando dessa forma sua transição para a idade adulta (Zhong & Arnett, 2014).

Ao considerar a escassez de emprego nas organizações de trabalho particulares e a dificuldade de nelas se inserirem, esses jovens veem na carreira pública uma possibilidade mais promissora de inclusão no mercado de trabalho, e aguardam a abertura dos editais para se submeterem aos processos seletivos. Para esses participantes, a aprovação em um concurso é "garantia" de contratação, uma vez que não são observados aspectos como sexo, universidade de formação e experiência de trabalho prévia (Valore & Selig, 2010). Ao mesmo tempo, para os jovens, a estabilidade conferida pela carreira pública também permite a dedicação a outras esferas de vida, e a realização de um trabalho com sentido, coerente com princípios éticos e morais (Oliveira, 2011).

Por outro lado, alguns respondentes reconhecem que a inserção no serviço público não é um caminho de fácil acesso. Portanto, relatam o interesse em investirem em sua qualificação profissional por meio do ingresso em especializações e programas de pós-graduação. Essas vias permitiriam a construção de uma trajetória alternativa, caso não consigam ingressar na carreira pública (Oliveira, 2011). Tais projetos revelam que esse público juvenil tem transferido para si a responsabilidade por sua inserção profissional, guiado pela crença de que o aumento da qualificação garantirá uma entrada mais segura no mercado de trabalho. No entanto, esse investimento não garante um posto de trabalho, nem mesmo proteção contra a instabilidade ocupacional (Almeida & Klein, 2015).

Por fim, no âmbito das dificuldades compartilhadas pelos diferentes públicos juvenis participantes da pesquisa, destacaram-se a falta de oportunidades oferecidas pelo mercado de trabalho para os jovens, a exigência por experiência profissional e as condições precárias das vagas oferecidas. Além disso, foi recorrente a referência à crise político-econômica a qual o Brasil enfrenta, que foi e é responsável pela demissão de diversos trabalhadores no país, entre eles os jovens. Mais sensíveis a essas oscilações do mercado, principalmente, devido a sua pouca experiência profissional, os jovens são impelidos a disputar em situação de desigualdade com os adultos, pelas poucas vagas disponíveis no mercado de trabalho (Santos, 2013). Ademais, as oportunidades que lhes são destinadas não são as melhores. De forma geral, eles ficam expostos aos altos níveis de rotatividade, elemento esse que torna sua experiência no mercado de trabalho ainda mais "turbulenta" (Corseuil, Foguel, Gonzaga, & Ribeiro, 2014, p.162).

Os dados do presente estudo revelam existirem condições concretas que parecem estar bloqueando a construção de um caminho educacional e profissional a jovens brasileiros. A ideia da busca de um trabalho satisfatório e com o qual os jovens se identifiquem precisa ter relatividade diante do contexto de flexibilização do trabalho (Antunes, 2011), que leva à aceitação das ofertas disponibilizadas com pouca abertura para reflexão e escolhas. Parece predominar a visão de trabalho com fim utilitarista não focada na satisfação laboral (Libório et al., 2011). Forma-se um distanciamento entre os planos futuros e a condição estrutural oferecida, o que atinge jovens de estratos mais e menos favorecidos economicamente da população. A minimização dessa condição com exemplos de movimentos de resiliência isolados de superação de dificuldades de alguns indivíduos (ex.: "jovem da favela virou médica"), apenas revela um problema estrutural brasileiro, embora não exclusivo do Brasil. Isso vai na direção contrária dos direcionamentos propostos pela OIT e por cientistas da área em todo o mundo, que clamam por movimentos inclusivos e trabalho decente (Guimarães et al., 2018; Nota & Salvatori, 2017).

No mundo do trabalho contemporâneo é delegada ao trabalhador a responsabilidade por gerenciar sua carreira de forma a manter sua competência e competitividade (Gaulejac, 2007). A pressão por excelência leva ao surgimento das patologias relacionadas ao sofrimento no trabalho (Alves, Caldas, Caldas, & Pedrosa 2016; Bendassolli & Soboll, 2011) e vulnerabiliza o contexto de inserção laboral de adultos emergentes. A geração que, supostamente, buscaria um trabalho satisfatório, corre o risco de naturalizar situações de violência laboral explícita (p. ex.: exploração sexual, tráfico de drogas) e psicológica (p. ex.: assédio moral) (Amazarray & Koller, 2012).

No que diz respeito ao objetivo deste artigo, foi possível observar que o fenômeno nem-nem é múltiplo e complexo e pode revelar os diferentes aspectos da adultez emergente. Dessa forma, diante da instabilidade do mercado de trabalho que atinge de forma particular o público juvenil, jovens de diferentes estratos socioeconômicos que vivenciam a condição nem-nem prolongam suas estadias com os pais, vivem momentos de instabilidade e indefinição de projetos profissionais, e ambivalência entre o desempenho de papéis adolescentes e adultos, a exemplo das jovens mães, os com ensino fundamental e médio. Para as jovens mães, especificamente, é notório que elas estão vivendo aspectos da adultez emergente não necessariamente relacionados a dilemas profissionais ou de qualificação, mas ao desempenho dos papeis de mães e esposas que assumiram, muitas delas, ainda na adolescência. Devido a esse histórico de gravidez precoce, essas mulheres vivem de forma particular a tensão entre a adolescência e a idade adulta e instabilidade de planos para o futuro (Arnett, 2011).

Para os demais participantes, é importante considerar que as experiências de trabalho às quais muitos foram submetidos (grande parte delas sem registro em carteira de trabalho), ajudam a compreender a falta de perspectiva diante do futuro e o desencanto de alguns com o mercado de trabalho (Castro & Andrade, 2013). Por outro lado, aqueles que concentram os maiores rendimentos e os maiores níveis de escolaridade (ensino superior) vivenciam essa realidade associada também à possibilidade de investir mais tempo em sua qualificação profissional e concretizam o adiamento da transição para a idade adulta (Arnett, 2011).

Em um ou outro caso, é preciso compreender as questões subjacentes ao fenômeno nem-nem. Em primeiro lugar, é necessário relativizar o papel da qualificação profissional, uma vez que essa não parece garantir a prometida inserção no mercado de trabalho, ou seja, a falta de qualificação não é por si só, um fator explicativo da condição nem-nem. Nesse sentido, para além da qualificação, é preciso considerar as características das vagas disponíveis no mercado de trabalho para o público juvenil, muitas delas marcadas pela precariedade e alta rotatividade. Dessa forma, em curto prazo, políticas públicas deveriam proporcionar suporte adequado para jovens nem-nem, especialmente aqueles que correm o risco de se afastarem definitivamente do mercado de trabalho. Por exemplo, é essencial que esses jovens recebam ajuda financeira para poder se dedicar à busca de trabalho (Greenglass et al., 2014). Em longo prazo, também é necessário garantir a oferta de trabalho digno que favoreça a permanência do jovem no posto de trabalho.

Por fim, é importante destacar que esse estudo permitiu uma aproximação a uma questão ainda pouco estudada no campo da psicologia social do trabalho. Contudo, salienta-se que, embora as questões abertas e a análise das mesmas tenham permitido uma aproximação a algumas questões subjacentes à condição nem-nem, não houve a possibilidade, diante da metodologia utilizada, de aprofundar nas mesmas. Nesse sentido, sugere-se a realização de outras pesquisas que investiguem as trajetórias de vida dos jovens no que se refere interação das duas esferas que compõem esse fenômeno (trabalho e educação), elemento este que permitiria uma compreensão mais acurada do mesmo.

Ademais, espera-se que a partir deste estudo, outras pesquisas sejam desenvolvidas na interseção entre o fenômeno nem-nem e a adultez emergente, voltando-se, por exemplo, para a investigação das questões identitárias dos jovens que vivenciam a condição nem-nem em seu processo de transição para a idade adulta, incluindo segmentos juvenis diferentes dos investigados no presente trabalho. Acredita-se que dessa maneira esse fenômeno tão presente na sociedade brasileira, mas ainda invisível, poderá ser melhor apropriado por diferentes áreas do conhecimento, como a psicologia.

 

Referências

Almeida, R., & Klein, S. (2015). Trajetórias e aspirações profissionais de jovens empreendedores portugueses. Revista Antropolítica, 37(2), 107-127.         [ Links ]

Alves, M. J. S., Caldas, M. T., Caldas, L. P., & Pedrosa, R. F. O. (2016). Clínicas do trabalho e sentido: O caso das benzedeiras de alagoas. Revista Logos & Existência, 5(1), 40-56.         [ Links ]

Amazarray, M. R., & Koller, S. H. (2012). Assédio moral e violência psicológica: Riscos sutis no processo de inserção dos jovens no mercado de trabalho. In L. F. Habigzang & S. H. Koller (Eds.), Violência contra crianças e adolescentes: Teoria, pesquisa e prática (pp. 137-146). Porto Alegre: Artmed.         [ Links ]

Amazarray, M. R., Dutra-Thomé, L., & Seibel, B. L. (2014). Orientação de projetos professionais na adolescência: A importância do contexto. In L. F. Habigzang, E. Diniz & S. H. Koller (Eds.), Trabalhando com adolescentes: Teoria e intervenção psicológica (pp. 224-248). Porto Alegre: Artmed.         [ Links ]

Antunes, R. (2011). Os modos de ser da informalidade: Rumo a uma nova era da precarização estrutural do trabalho? Serviço Social & Sociedade, 107, 405-419. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S0101-66282011000300002        [ Links ]

Arnett, J. J. (2004). Work: More than a job. In J. J. Arnett, Emerging adulthood: The winding road from the late teens through the twenties (pp.143-163). New York: Oxford University Press.         [ Links ]

Arnett, J. J. (2006). The case for emerging adulthood in Europe: A response to Bynner. Journal of Youth Studies, 9(1), 11-123. doi: 10.1080/13676260500523671        [ Links ]

Arnett, J. J. (2011). Emerging adulthood(s): The cultural psychology of a new life stage. In J. A. Lene (Ed.), Bridging cultural and developmental approaches to psychology: New synthesis in theory, research, and theory (pp. 255-275). Oxford: University Press.         [ Links ]

Ayala, I., García, G., & Ponte, J. (2016). Realidades, percepciones y expectativas en torno a la emancipación juvenil de egresados universitarios. Caso: egresados de la Universidad Católica Andrés Bello en el año 2013. Revista sobre Relaciones Industriales y Laborales, 52, 35-71.         [ Links ]

Badger, S., Nelson, L. J., & Barry, C. M. (2006).Perceptions of the transition to adulthood among Chinese and American emerging adults. International Journal of Behavioral Development, 30(1), 84-93. doi: 10.1177/0165025406062128        [ Links ]

Bendassolli, P. F., & Soboll, L. A. P. (2011). Introdução às clínicas do trabalho: Aportes teóricos, pressupostos e aplicações. In P. F. Bendassolli & L. A. P. Soboll (Orgs.), Clínicas do trabalho: Novas perspectivas para compreensão do trabalho na atualidade (pp. 3-21). São Paulo: Atlas.         [ Links ]

Benjet, C., Hernández-Montoya, D., Borges, G., Méndez, E., Medina-Mora, M. E., & Aguilar-Gaxiola, S. (2012). Youth who neither study nor work: Mental health, education and employment. Salud pública de México, 54(4), 410-417.         [ Links ]

Blanch, J. M. (2014). La juventud NINI, un agujero negro psicossocial. Revista Psicologia: Organizações e Trabalho, 14(4), 355-366.         [ Links ]

Cardoso, A. (2013). Juventude, trabalho e desenvolvimento: Elementos para uma agenda de investigação. Caderno CRH, 26(68), 293-314.         [ Links ]

Castro, J. A., & Andrade, C. C. (2013). Juventude, educação e trabalho: Avanços e desafios. In J. Macambira & F. R. B. Andrade (Orgs.), Trabalho e formação profissional: Juventudes em transição (pp. 155-168). Fortaleza: IDT, UECE, BNB.         [ Links ]

Chen, Y. W. (2009, Janeiro). Once 'NEET', always 'NEET'? Experiences of employment and unemployment of youth participating in a job training program in Taiwan. Paper apresentado em Singapore 2009 conference: Asian social protection in comparative perspective. National University of Singapore, Singapore. Recuperado de http://www.welfareacademy.org/pubs/international/policy_exchanges/asp_papers/2171.pdf        [ Links ]

Corseuil, C. H., Foguel, M., Gonzaga, G., & Ribeiro, E. P. (2014). A rotatividade dos jovens no mercado de trabalho formal brasileiro. In C. H. Corseuil (Org.), Desafios à trajetória profissional dos jovens brasileiros (pp. 157-173). Rio de Janeiro: IPEA.         [ Links ]

David, W. S. (2014). NEETs: A case study in addressing the issues relating to disengaged youth in East Cleveland. Education + Training, 56(5), 467-480. doi: http://dx.doi.org/10.1108/ET-04-2013-0055        [ Links ]

Dib, S. K., & Castro, L. R. (2010). O trabalho é projeto de vida para os jovens? Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, 13(1), 1-15.         [ Links ]

Diniz, E., & Koller, S. H. (2011). Ser adolescente e ser mãe: Investigação da gravidez adolescente em adolescentes brasileiras e portuguesas. Análise Psicológica, 29(4), 521-533        [ Links ]

Diniz, E., Dias, A. C., Neiva-Silva, L., Nieto, C., & Koller, S. H. (2012). Características familiares y apoyo percibido entre adolescentes brasileños con y sin experiencia de embarazo. Avances en Psicologia, 30(1), 65-80.         [ Links ]

Dutra-Thomé, L., & Koller, S. H. (2014). Emerging adulthood in brazilians of differing socioeconomic status: Transition to adulthood. Paidéia, 24(59), 313-322. doi: http://dx.doi.org/10.1590/1982-43272459201405        [ Links ]

Dutra-Thomé, L., Pereira, A. S., Koller, S. H. (2016). O desafio de conciliar trabalho e escola: Características sociodemográficas de jovens trabalhadores e não-trabalhadores. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 32(1), 101-109. doi: http://dx.doi.org/10.1590/0102-37722016011944101109.         [ Links ]

Erikson, E. H. (1950). Infância e sociedade. Rio de Janeiro: Zahar.         [ Links ]

Erikson, E. H. (1968). Identidade: Juventude e crise. Rio de Janeiro: Zahar.         [ Links ]

Facio, A., Resett, S., Micocci, F., & Mistrorigo, C. (2007). Emerging adulthood in Argentina: An age of diversity and possibilities. Child Development Perspectives, 1(2), 115-118. doi: 10.1111/j.1750-8606.2007.00025.x        [ Links ]

Felinto, T. M., Gauer, G., Rocha, G. B., Braun, K. C. R., & Dias, A. C. G. (2020). Eventos de vida e construção da identidade na adultez emergente. Estudos e Pesquisas em Psicologia, 20(2). doi:10.12957/epp.2020.52582        [ Links ]

Gaulejac, V. (2007). Gestão como doença social: Ideologia, poder gerencialista e fragmentação social. São Paulo: Ideias & Letras.         [ Links ]

Gouveia, F. P. S. (2019). Faces da precarização do mundo do trabalho e a juventude sobrante. Revista Estudos IAT, 4(1), 124-137.         [ Links ]

Greenglass, E., Antonides, G., Christandlc, F., Fosterd, G., Kattera, J. K. Q., Kaufmane, B. E., & Lea, S. E. G. (2014). The financial crisis and its effects: Perspectives from economics and psychology. Journal of Behavioral and Experimental Economics, 50, 10912. doi: 10.1016/j.socec.2014.01.004        [ Links ]

Guimarães, N. A., Marteleto, L., & Brito, M. M. A. (2018). Transições e trajetórias juvenis no mercado brasileiro de trabalho: Padrões e determinantes. Brasília: OIT. Recuperado de https://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---americas/---ro-lima/---ilo-brasilia/documents/publication/wcms_748393.pdf        [ Links ]

Henriques, C. R., Jablonski, B., & Feres-Carneiro, T. (2004). A "Geração Cangurú": Algumas questões sobre o prolongamento da convivência familiar. Psico, 35(2), 195-205.         [ Links ]

Herrera, A. B., Vinet, E. V., & Ortiz, M. S. (2020). Evaluación de la adultez emergente en Chile: Validación del IDEA - extendido en universitarios chilenos. Terapia Psicológica, 38(1), 47-61. doi: http://dx.doi.org/10.4067/S0718-48082020000100047        [ Links ]

Hoare, C. (2009). Models of adult development in brofenbrenner's bioecological theory and Erikson's biopsychosocial life stage theory. In M. C. Smith (Ed.), Handbook of research on adult learning and development (pp. 68-102). New York: Taylor & Francis.         [ Links ]

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (2018). Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (1º Trimestre/2º Trimestre). IBGE: Brasília.         [ Links ]

International Labour Office. (2017). Global employment trends for youth 2017: Paths to a better working future. Geneva: ILO. Recuperado de https://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---dgreports/---dcomm/---publ/documents/publication/wcms_598669.pdf        [ Links ]

Jensen, L. A. (2012). Bridging universal and cultural perspectives: A vision for developmental psychology in a global world. Child Development Perspectives, 6(1), 98-104. doi: 10.1111/j.1750-8606.2011.00213.x        [ Links ]

Júnior, S. S. F., & Freire, D. A. L. (2018). Levantamento de fatores de adultez emergente e sua relação com o desempenho dos pilotos de motocross. Revista Tecer, 11(20), 1-15.         [ Links ]

Koller, S., Dutra-Thomé, L., Morais, N. A., Silva, C. J. N., & Santana, J. P. (2014). Child labor: Homes, streets, armies, factories, and stores. In J. A. Lene (Ed.), The Oxfordhandbook of human development and culture: An interdisciplinary perspective.         [ Links ]

Libório, R. M. C., Coêlho, A. E. L., & Castro, B. M. (2011). Escola: Risco ou proteção para adolescentes e adultos jovens? In D. D. Dell'Aglio & S. H. Koller (Orgs.), A adolescência e juventude: vulnerabilidade e contextos de proteção (pp. 109-138). São Paulo: Casa do Psicólogo.         [ Links ]

Macêdo, O. J. V., Alberto, M. F. P., & Araujo, A. J. S. (2012). Formação profissional e futuro: Expectativas dos adolescentes aprendizes. Estudos de Psicologia (Campinas), 29(Supl.), 779-787.         [ Links ]

Maia, A. A. R. M., & Mancebo, D. (2010). Juventude, trabalho e projetos de vida: Ninguém pode ficar parado. Psicologia: Ciência e Profissão, 30(2), 376-389.         [ Links ]

Merino, M. D., Privado, J., & Arnaiz, R. (2019). Is there any relationship between unemployment in young graduates and psychological resources? An empirical research from the conservation of resources theory. Journal of Work and Organizational Psychology, 35, 1-8. doi: https://doi.org/10.5093/jwop2019a1        [ Links ]

Netto Fleury, M. M. (2007). Baile de calle: Jóvenes entre proyectos de recreación y trabajo. Ultima Década, 15(27), 27-48. doi: 10.4067/S0718-22362007000200003        [ Links ]

Nota, L., & Salvatori, S. (2017). ... For a manifesto in favor of inclusion: Concerns, ideias, intentions, and passwords for inclusion. Firenze: Hogrefe Editore.         [ Links ]

Oliveira, L. B. (2011). Percepções e estratégias de inserção no trabalho de universitários de administração. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 12(1), 83-95.         [ Links ]

Pochmann, M. (2007). A batalha pelo primeiro emprego: A situação atual e as perspectivas do jovem no mercado de trabalho brasileiro (2a ed.). São Paulo: Publisher Brasil.         [ Links ]

Richardon, M. S. (2015). Agentic Action in Context. In Young R.A., Domene J.F., Valach L. (Eds.), Counseling and Action Towards Life-Enhancng Work, Relationships, and Identity (pp.51-68). New York: Springer.         [ Links ]

Santos, G. P. G. (2013). Juventudes, trabalho e educação: Uma agenda pública recente e necessária. Por quê? In J. Macambira & F. R. B. Andrade (Orgs.), Trabalho e formação profissional: Juventudes em Transição (pp. 73-88). Fortaleza: IDT, UECE, BNB.         [ Links ]

Serracant, P. (2014). A brute indicator for a NEET case: Genesis and evolution of a problematic concept and results from an alternative indicator. Social Indicators Research, 117(2), 401–419. doi: 10.1007/s11205-013-0352-5        [ Links ]

Schwartz, S. J., & Pantin, H. (2006). Identity development in adolescence and emerging adulthood: The interface of self, context, and culture. In A. Prescott (Ed.), The concept of self in psychology (pp. 45–85). Hauppage, NY: Nova Science Publishers.         [ Links ]

Seddon, F., Hazenberg, R., & Simon, D. (2013). Effects of an employment enhancement programme on participant NEETs. Journal of Youth Studies, 16(4), 503-520. doi: http://dx.doi.org/10.1080/13676261.2012.733808        [ Links ]

Silva, M. M (2016). Geração à deriva: Jovens nem nem e a surperfluidade da força de trabalho no capital-imperialismo. Revista de Educação Pública, 25(58), 119-136.         [ Links ]

Sousa, Y. S. O., Gondim, S. M. G., Carias, I. A., Batista, J. S., & Machado, K. C. M. (2020). O uso do software Iramuteq na análise de dados de entrevistas. Pesquisas e Práticas Psicossociais, 15(2), 1-19.         [ Links ]

Thompson, R. (2011). Individualisation and social exclusion: The case of young people not in education, employment or training. Oxford Review of Education, 37(6), 785–802. doi: http://dx.doi.org/10.1080/03054985.2011.636507        [ Links ]

Valore, L. A., & Selig, G. A. (2010). Inserção profissional de recém-graduados em tempos de inseguranças e incertezas. Estudos e Pesquisas em Psicologia, 10(2), 390-404.         [ Links ]

Vargas-Valle, E. D., & Cruz-Piñeiro, R. (2012). Los jóvenes del norte y sur de México en inactividad laboral y educativa: Niveles y factores asociados. Papeles de Población, 18(73), 1-43.         [ Links ]

Zhong, J., & Arnett, J. J. (2014). Conceptions of adulthood among migrant women workers in China. International Journal of Behavioral Development, 38(3), 1-11.doi: 10.1177/0165025413515133        [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência:
Daniele de Souza Paulino
Av. Senador Salgado Filho, s/n, Campus Universitário
CEP: 59078-970
Natal/RN, Brazil
E-mail: paulino223@gmail.com

Recebido: 05/08/2019
1ª reformulação: 24/08/2020
Aceito: 17/11/2020

 

 

Nota dos autores:
O presente estudo foi financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
Contato com os autores:
Daniele de Souza Paulino, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal/RN, Brasil 1 Mestre e doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFRN. Atua na área da Psicologia do Trabalho, especificamente com os temas: juventude, trabalho, processos de significação e orientação profissional. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1820-2770 E-mail: paulino223@gmail.com
Luciana Dutra-Thomé, Universidade Federal da Bahia, Salvador/BA, Brasil Professora graduação e pós-graduação da UFBA. Desenvolve pesquisas com ênfase na transição para a vida adulta, Adultez Emergente, Juventude e Trabalho, Projetos de Vida e Desenvolvimento Juvenil Positivo. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9629-467X E-mail: lucianaduth@gmail.com
Pedro F. Bendassolli, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal/RN, Brasil Professor adjunto da UFRN. Atua na área da Psicologia do Trabalho e das Organizações, com experiência na investigação de constructos psicossociais relacionados ao trabalho, especificamente processos de significação, seus determinantes, dimensões e consequentes. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7761-0857 E-mail: pbendassolli@gmail.com

Creative Commons License