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Winnicott e-prints

versão On-line ISSN 1679-432X

Winnicott e-prints vol.4 no.1e2 São Paulo  2009

 

 

ARTIGOS

Ontologia em Winnicott 1

 

Ontology in Winnicott

 

 

Eder Soares Santos

Universidade Estadual de Londrina

Endereço para correspondência

 

 


Resumo

O artigo procura mostrar, por meio da noção de paradigma empregada por Zeljko Loparic na investigação das teorias psicanalíticas, a relação de aproximação e distanciamento entre Winnicott e Heidegger, a fim de ressaltar que a psicanálise winnicottiana possui uma ontologia própria, que, por vezes, vai ao encontro das discussões propostas por Heidegger em "Ser e tempo" e, por outras, pode sugerir novos ângulos para a investigação fenomenológica.

Palavras-chaves: Heidegger. Paradigma. Ontologia. Winnicott.


Abstract

The aim of this article is to show, through the notion of paradigm used by Zeljko Loparic to investigate psychoanalytic theories, the relation of proximity and distance between Winnicott and Heidegger, and to highlight the fact that Winnicott's psychoanalysis has a proper ontology that sometimes agrees with Heidegger's discussion in "Being and time" and, some other times, suggests news perspectives for the phenomenological investigation.

Key-words: Heidegger. Paradigm. Ontology. Winnicott.


 

 

1. Introdução

Entende-se, correntemente, ontologia pelo estudo do ser. Porém, a partir de Heidegger, em "Ser e tempo", demo-nos conta de que esse conceito esteve, por muito tempo, comprometido e mal-entendido. Segundo ele, a tradição filosófica considerava que, ao tratar de ontologia, estava fazendo uma investigação sobre o ser, mas enganava-se, pois estava a tratar do ente. Sua proposta, em síntese, era remover o entulho legado pela tradição e, então, lidar com a questão do ser tal como um dia foi tematizada pelos grandes pensadores gregos. Ontologia passa, então, a ser o estudo sobre a questão do ser.

O título do artigo que ora se apresenta, consequentemente, poderia ser lido como o estudo da questão do ser em Winnicott. Em certo sentido sim, porém não exatamente nos termos heideggerianos. Ontologia em Winnicott se deixa ler como um estudo da questão de ser.

Embora a ontologia winnicottiana aponte para outros horizontes quando comparada à heideggeriana, as "ontologias" desses dois autores se tocam em alguns pontos, como veremos adiante.

É possível dizer que em Heidegger, mesmo tendo sido esquecida, entulhada, mal elaborada, a questão do ser sempre esteve presente por trás de todas as considerações filosóficas. O ser sempre esteve aí (Da), mesmo quando não era tema de investigação. No caso de Winnicott, porém, ser é algo ao qual devemos chegar; se o ser se realiza, acontece, então estamos em condições de discutir qualquer questão sobre ele. Assim, Heidegger e Winnicott mantêm-se equidistantes, e nesse equidistar torna-se possível estabelecer espaço para relações entre suas teorias.

Procuraremos mostrar, por meio desse jogo de aproximação e distanciamento entre Winnicott e Heidegger, que a psicanálise winnicottiana possui uma ontologia própria, a qual, por vezes, vai ao encontro das discussões propostas por Heidegger em "Ser e tempo", e, por outras, sugere novos ângulos para uma investigação fenomenológica.

 

2. Paradigma e ontologia

Para a discussão a que este artigo se propõe, é necessário poder saber como identificar o que se entende por ontológico em uma teoria, sobretudo quando essa teoria se diz científica. Isso porque ontologia, enquanto estudo da questão do ser, nos remete, de primeira mão, a um tipo de estudo "metafísico" e não científico. No caso da psicanálise, em geral, esse é um problema que se agrava ainda mais, pois seu estatuto epistemológico não nos permite afirmar, com o mesmo grau de certeza que um físico poderia fazê-lo, que se trata de uma ciência (cf. Loparic 2006 e 2008; Santos, 2001 e 2006). Essa discussão é delicada, pois serve, por um lado, para filósofos da ciência e outros críticos mostrarem o quão sem sentido é a psicanálise enquanto ciência2 e, por outro, para as comunidades psicanalíticas mostrarem que fazem algo muito especial que ultrapassa os limites da definição do que é científico, um discussão que se tornou paralisante e estéril, por não levar a lugar algum.

É curioso notar que tanto Freud quanto Winnicott acreditavam estar fazendo ciência. É digno de nota também que o que cada um entende por ciência é algo bastante distinto. Para Freud, a Psicanálise se compara à Física:

A nossa suposição de um aparelho psíquico desenvolvido através das necessidades da vida, espacialmente extenso e composto convenientemente [zweckmässig] e que tem sua origem somente em um lugar [Stelle] determinado sob certas condições dos fenômenos da consciência [Bewusstsein], colocou-nos em posição de elevar [aufrichten] a psicologia a um fundamento [Grundlage] semelhante ao de toda ciência da natureza [Naturwissenschaft], por exemplo, como a física (Freud, 1993, p. 126).

Para Winnicott, a "ciência" psicanalítica é um saber direcionado e com certos fins:

Portanto psicanálise é um termo que se refere, especialmente, a um método e a um corpo crescente de teoria; teoria que diz respeito ao desenvolvimento emocional do indivíduo humano. Ela é uma ciência aplicada baseada em uma ciência (Winnicott, 1961/1986, p. 13).

Ao que tudo indica, estamos ficando cada vez mais longe de discutir que tipo de conhecimento é a psicanálise e ainda mais longe do tema "ontologia" na psicanálise. Essa impressão indica, na verdade, que os parâmetros usados para investigar epistemologicamente a psicanálise nos conduzem, em geral, a becos sem saída, e que é preciso apresentar novos rumos para que as discussões sobre o tema "psicanálise" possam frutificar.

Loparic percebeu a necessidade de se apontarem novas possibilidades para o avanço nas discussões teóricas da psicanálise quando propôs que se estudasse a psicanálise em termos kuhnianos, ou seja, propôs que a psicanálise se estruturaria a partir de paradigmas que definem a si mesmos e a uma comunidade de psicanalistas. Por um lado, essa pressuposição lopariciana foi bem aceita, pois avançou na demarcação dos diferentes segmentos psicanalíticos (freudianos, kleinianos, lacanianos, winnicottianos etc.), facilitando saber qual a contribuição original das escolas de psicanálise e em que medida estas se mantinham ligadas a Freud, seu fundador. Por outro lado, há dificuldades de aceitação que passam pelos próprios limites impostos pela teoria dos paradigmas.

Como se sabe, Thomas Kuhn direcionou seus estudos às ciências naturais, dando uma primeira impressão de que seu método de demarcação só teria utilidade no âmbito dessas ciências – algo que o próprio Kuhn desabonava3 , embora ele mesmo não tenha empregado seu método de análise em outros tipos de disciplina que não as ditas "científicas". Outra dificuldade de aceitação, parece-me, está em que o paradigma mostra claramente as fronteiras de cada segmento psicanalítico, o que inibe a permissividade teórica em se utilizar de maneira livre e descuidada os termos que melhor convêm às explicações dos fenômenos psicanalíticos, ou seja, toda e qualquer fundamentação teórica de um determinado fenômeno psicanalítico terá de obedecer aos limites de seu paradigma.

Kuhn propõe o termo "matriz disciplinar" para caracterizar o modo como um paradigma se constitui. A matriz disciplinar é formada por alguns componentes: generalização simbólica, partes metafísicas ou ontológicas, valores e exemplares.

As "generalizações simbólicas" (do tipo f = ma) podem funcionar, em parte, como leis e como definição de seus símbolos. Kuhn esclarece:

Rotularei de "generalizações simbólicas" um tipo importante de componente do paradigma, tendo em mente aquelas expressões, empregadas sem discussão ou dissensão pelos membros do grupo, que podem ser facilmente expressas numa forma lógica como (x) (y) Ø (x, y, z). Falo dos componentes formais ou facilmente formalizáveis da matriz disciplinar (Kuhn, 1970, p. 182).

Outro ponto a observar é que as generalizações simbólicas são, em geral, mantidas como esboços de leis (law-sketches), e não enquanto leis propriamente, o que implica que elas produzem leis diferentes quando são aplicadas em situações variadas (cf. Musgrave, 1980, p. 45).

O segundo componente da matriz disciplinar traz-nos de volta ao tema deste artigo. Kuhn chama-os de "partes metafísicas do paradigma" ou "paradigmas metafísicos" – ou ainda componentes ontológicos do paradigma (Loparic, 1997) –, tais como átomos, campos de força, pulsão (no caso da psicanálise). Essas partes desempenham um importante papel no trabalho científico à medida que "fornecem soluções [...] e auxiliam na determinação dos quebra-cabeças restantes e também ajudam na avaliação da importância de cada um deles" (Kuhn, 1970, p. 184). A extensão dos compromissos coletivos de crenças em determinados modelos metafísicos pode ir desde a heurística até a ontologia:

Embora a intensidade do compromisso do grupo com determinados princípios varie [...] ao longo de um espectro que abrange desde modelos heurísticos até ontológicos, todos os modelos possuem funções similares. Entre outras coisas fornecem ao grupo as analogias ou metáforas preferidas ou permissíveis (Kuhn, 1970, p. 184)

Os "valores" compõem o terceiro componente da matriz disciplinar. Por meio deles pode-se indicar a consistência e a habilidade dos cientistas (do grupo) em produzir predições exatas e sugestões de problemas férteis, ou seja, pode-se encontrar solução dentro de certo paradigma. Kuhn faz observar que os valores são "os mais amplamente compartilhados entre diferentes comunidades" (Kuhn, 1970, p. 184) do que os outros componentes da matriz.

Os exemplares, quarto componente da matriz disciplinar, dizem respeito à "solução concreta de quebra-cabeças [concrete puzzle-solutions] [...] empregado como modelos ou exemplos" (Kuhn, 1970, p. 175). Os "exemplares" desempenham um papel essencialmente importante na educação científica. Durante o seu período de formação, o estudante depara-se com manuais que tratam de problemas e soluções-modelos que deverão ser resolvidos pelo aprendiz de cientista. Isto é, "uma coleção de problemas típicos envolvem a aplicação da mesma generalização simbólica para diferentes tipos de situação. E, tendo adquirido a habilidade para solucionar problemas a partir dos exemplares, o estudante aprende, simultaneamente, o conteúdo da teoria física e sobre o mundo no qual ela é aplicada" (Musgrave, 1980, p. 46). Nas palavras de Kuhn: "Os cientistas resolvem quebra-cabeças modelando-os com soluções anteriores, freqüentemente, com recursos mínimos a generalizações simbólicas" (Kuhn, 1970, pp. 189-190).

Vejamos na sequência como podemos verificar esses componentes da matriz disciplinar na teoria do amadurecimento de Winnicott.

 

3. Matriz disciplinar winnicottiana

Pode-se notar, segundo Loparic, que o componente da matriz disciplinar que Kuhn chamou de "generalização simbólica" é diferente em Winnicott e em Freud. Neste último a generalização está baseada na teoria da sexualidade e, em Winnicott, a ideia-guia é a progressão da dependência em direção à independência, tomando como base a consideração do amadurecimento emocional (cf. Loparic, 1999b, p. 122). Winnicott deixa isso muito claro quando declara:

Eu escolhi neste capítulo descrever o crescimento individual em termos da jornada da dependência à independência. Se vocês me pedissem para realizar essa tarefa trinta anos atrás, eu me teria, isto é quase certo, referido a essas mudanças através de imaturidade cedendo lugar à maturidade em termos de progressão da vida instintual individual (Winnicott, 1963a/1996, p. 83).

Winnicott concebe o amadurecimento humano, na opinião de Loparic, antes como um desenvolvimento que se inicia pelo que ele [Winnicott] chama de "gesto espontâneo", que é a fonte do "si-mesmo verdadeiro pessoal" (Loparic, 1999b, p. 122).

Quanto aos componentes ontológicos, estes se baseiam numa concepção do ser humano em que a

natureza humana é, em si mesma, a negação de qualquer essência fixa. A única coisa que um ser humano pode ter, enquanto amostra no tempo da natureza humana, é a sua própria história, que acontece devido a uma tendência a "começar a existir, a ter experiências, e construir um ego pessoal, a cavalgar os instintos, e [...] a ter um si-mesmo que em algum momento pode se dar ao luxo de sacrificar a espontaneidade, e mesmo de morrer" (Winnicott, apud Loparic, 2001, p. 47).

Pode-se dizer que há aí nessa ontologia uma mudança radical. Se em Freud o desenvolvimento humano segue as leis da causalidade, em Winnicott, para chegar a ser uma pessoa, é necessária a presença devotada de outro ser humano; chegar a ser que não está baseado em uma necessidade causal.

A psicanálise de Winnicott não compartilha dos valores da ciência natural, tais como mensurabilidade, calculabilidade ou produção de fenômenos. A relação doença-saúde psíquica é pensada em termos não causais: "a questão básica para os seres humanos é se a vida vale a pena ser vivida, não importando o quanto isso pode custar, e não se ela está adaptada ao mundo externo ou ao prazer" (Loparic, 1999b, p. 127). Winnicott deixa claro essa posição já no início do seu livro "Natureza humana", quando diz:

Escolhendo a abordagem que estuda o desenvolvimento como a mais capaz de focalizar os diversos pontos de vista, espero deixar claro [como] inicialmente, a partir de uma união [merging] primária do indivíduo ao ambiente, surge um emergente, o indivíduo que procura fazer valer os seus direitos, tornando-se capaz de ser em um mundo não reivindicado ... (Winnicott, 1988, p. 8).

Resta ainda apresentar um último componente dessa matriz disciplinar; talvez o mais importante, pois é o elemento que ofereceu fundamento para que os outros componentes pudessem ser alterados. Trata-se do exemplar dessa matriz disciplinar, a saber: as angústias impensáveis. Essas angústias não são típicas das relações triangulares, e sim das relações duais, a dois corpos. Tendo observado que essas angústias estão presentes nos estágios mais iniciais da relação mãe-bebê, Winnicott teve que procurar outras explicações para os problemas do início – tais como as psicoses infantis – e também suas soluções. Contrapondo o exemplar de Winnicott ao de Freud, Loparic apresenta os pontos principais dessa mudança da seguinte maneira:

Enquanto Freud assume como paradigmáticos os "problemas a três corpos" gerados nas crianças ou adultos na situação edípica triangular, o exemplar de Winnicott são as angústias impensáveis, isto é, "problemas a dois corpos" que surgem da relação dual entre bebês e suas mães. Enquanto os pacientes de Freud sofrem de reminiscências libidinais, os bebês de Winnicott tornam-se doentes devido a interrupções na continuidade de ser e por outras necessidades que se originam durante o amadurecimento (Loparic, 1999b, p. 128).

Diríamos que esse é o "diagrama" kuhniano da mudança de paradigma de Winnicott. Podemos agora nos debruçar mais demoradamente sobre o segundo componente dessa matriz, o componente ontológico, observando suas linhas de aproximação e distanciamento com a noção de ontologia de Heidegger.

 

4. Componentes ontológicos em Winnicott e Heidegger

Ao abordar a natureza humana a partir da concepção de amadurecimento inicial do homem, Winnicott viu-se não só obrigado a alterar a linguagem que descreve esses estágios iniciais, como também teve, conscientemente ou não, que alterar as bases ontológicas sobre as quais suas ideias se assentam – sendo esse um dos elementos que permitem destacar a sua mudança paradigmática. Sua concepção sobre o ser e continuar-a-ser toca o tema essencial da teoria heideggeriana presente em "Ser e tempo", a saber: o existir humano é, no seu fundamento, um acontecer temporal e finito. Esse caráter fundamental do existir humano presente na psicanálise de Winnicott aponta, por um lado, para o fato de que a fenomenologia existencial pode lançar alguma luz sobre a compreensão dos componentes ontológicos dessa psicanálise. Por outro lado, também é possível perceber que certas discussões avançadas pela teoria winnicottiana instigam e aclaram indagações ainda pendentes na teoria heideggeriana, como a questão da nascencialidade, da corporeidade do ser-o-aí (Dasein) e do chegar ao poder-ser do ser-o-aí.

Ao abordar a natureza humana a partir da concepção de amadurecimento inicial do homem, Winnicott viu-se não só obrigado a alterar a linguagem que descreve esses estágios iniciais, como também teve, conscientemente ou não, que alterar as bases ontológicas sobre as quais suas ideias se assentam – sendo esse um dos elementos que permitem destacar a sua mudança paradigmática. Sua concepção sobre o ser e continuar-a-ser toca o tema essencial da teoria heideggeriana presente em "Ser e tempo", a saber: o existir humano é, no seu fundamento, um acontecer temporal e finito. Esse caráter fundamental do existir humano presente na psicanálise de Winnicott aponta, por um lado, para o fato de que a fenomenologia existencial pode lançar alguma luz sobre a compreensão dos componentes ontológicos dessa psicanálise. Por outro lado, também é possível perceber que certas discussões avançadas pela teoria winnicottiana instigam e aclaram indagações ainda pendentes na teoria heideggeriana, como a questão da nascencialidade, da corporeidade do ser-o-aí (Dasein) e do chegar ao poder-ser do ser-o-aí. Alguns desses conceitos também estão presentes na fenomenologia existencial de Heidegger. Mas pergunta-se: eles possuem o mesmo sentido em Winnicott e em Heidegger? O que podemos sustentar, por enquanto, é que são afins no modo como são conceituados, ou seja, pensados. Por exemplo, ambos os autores procuram, a seu modo, superar o determinismo das ciências naturais, porém suas teorias seguem caminhos diversos quanto à sua armação (Gefüge) conceitual. Todavia, é interessante notar que, quando se aproximam os componentes ontológicos da teoria do amadurecimento da ontologia existencial de Heidegger, percebe-se que suas teorias estão tratando de um mesmo problema: o homem enquanto aquilo que ele é, e o que se levanta a partir de suas possibilidades de ser.

Toda aproximação já contém em si um caráter de distanciamento (cf. Heidegger, 2001, p. 103). É nesse distanciamento entre essas duas teorias que se poderá notar que a criatividade, a transicionalidade e a questão do ser-para-o-início podem instigar discussões filosóficas ainda pendentes em uma analítica sobre o ser-o-aí. Tentaremos mostrar algumas dessas afinidades. Entretanto, deve-se ressaltar desde já que Winnicott apresenta descrições num plano de interpretação que é denominado de ôntico, isto é, são descrições de acontecimentos concretos do existir humano. Todavia, em todas essas descrições, pode-se pressupor de antemão discussões ontológicas. Tal abordagem é autorizada pelo próprio Heidegger quando diz, por exemplo, com relação à angústia:

Frequentemente, a angústia é condicionada "fisiologicamente". Em sua faticidade, esse fato é um problema ontológico e não apenas no que diz respeito a sua causalidade e processamento ônticos (Heidegger, 2001, p. 190).

Um dos componentes ontológicos da teoria winnicottiana que podem ser apreciados aqui são as conquistas da noção de tempo, espaço e realidade. Na teoria do amadurecimento, essas noções pessoais são conquistadas gradativamente pelo bebê. Em Winnicott, as ideias relativas a esses conceitos estão associadas às tarefas de sustentação (holding), manejo (handling) e apresentação de objetos (object-presenting), conquistas que também poderiam ser consideradas, em termos winnicottianos, uma amostra do funcionamento da função corpórea. O autor confirma essa ideia:

Outra linguagem [que não aquela relativa ao narcisismo primário] pode ser usada para descrever esta obscura parte do amadurecimento, porém os rudimentos de uma elaboração imaginativa da função corpórea têm de ser postulados se se pretende afirmar que este novo ser humano começou a ser e começou a reunir experiência que pode ser chamada de pessoal (Winnicott, 1962b/1996, p. 60).

O que nos interessa aqui é que certas noções constituintes da existência precisam ser conquistadas de modo gradativo, o que significa dizer que elas não são dadas ou alcançadas de imediato pela minha razão, ou, simplesmente, porque nasci. Mais do que isso, por ser uma conquista, isso significa que essas noções podem ser perdidas, não havendo aí uma determinação que garanta esse ganho.

Tempo, espaço e realidade (pense-se aqui também em mundo) são algumas das questões mestras presentes em "Ser e tempo". A discussão – ou destruição no sentido heideggeriano – envolve, principalmente, as filosofias de Descartes e Kant. A crítica a Descartes vai em direção à sua tentativa de querer apreender o ente de maneira ontológica a partir da análise da extensão (extensio), de modo que esse ente só pode ser descoberto por intermédio de um ente intramundano imediatamente à mão (Zuhanden). Quanto a Kant, admirado por Heidegger por ser "o primeiro e o único" a dar um passo no caminho da investigação da temporalidade (Heidegger, 2001, p. 23), a crítica estende-se a ele por ter assumido o dogmatismo cartesiano e por ter recuado (zurückweicht) diante dos juízos mais secretos da razão universal: justamente o fenômeno da temporalidade.

Assim, é intenção de Heidegger superar essa obscuridade, mostrando que o ponto de partida não é o sujeito "racional", o qual aplicaria sua racionalidade a objetos dados numa sucessão temporal, mas o ser "temporal" do qual o "racional" se origina, sendo para isso necessário pressupor uma temporalidade originária.

Qual é a importância e como se aproximam os fenômenos da temporalidade, espacialidade e realidade em Winnicott e Heidegger?

Esses fenômenos desempenham um papel importante em ambos os autores, porque cada um deles, a seu modo – tanto uma conquista pessoal do bebê quanto fenômenos originários para a discussão sobre a questão do ser –, abala os pilares da tradição moderna. Por seu lado, Winnicott, em seus trabalhos teóricos e com sua experiência clínica com pacientes com distúrbios emocionais graves – ou mesmo com pacientes neuróticos –, mostrou que as nossas certezas com relação aos fenômenos, há muito tempo garantidas pelo nosso conhecimento racional, são, na verdade, as mais incertas. Tempo não é uma sequência de "agoras", espaço não é a distância que se estabelece entre dois pontos fixos, realidade não é uma representação de algo simplesmente presente. Esses fenômenos são primeiramente criações pessoais e conquistas graduais que estão sujeitas a nem mesmo se realizarem, dependendo do quanto o ambiente for desfavorável. Se tais conquistas forem realizadas, então, estará aberto o caminho para que o ser humano possa "racionalizar" o mundo. O importante aqui é notar que, estando as coisas colocadas a partir dessa perspectiva, é preciso se pensar novamente tais conceitos em outra chave interpretativa. É aqui que a aproximação com Heidegger ganha interesse.

Heidegger, diferentemente de Winnicott, procurou conscientemente realizar uma destruição (Destruktion) dos conceitos de tempo, espaço e realidade tais como eram entendidos pela tradição. Nesse movimento, revelou que o ser-o-aí é ele mesmo, e em sua inteireza na decisão antecipadora, tornado possível pela temporalidade. O tempo passa a ser visto a partir do seu caráter de futuro (zukunftig), porém não no sentido de um ainda-não-presente. A partir dessa caracterização, as outras dimensões do tempo como passado e presente podem se abrir originariamente. A espacialidade é interpretada enquanto aproximação e distanciamento dados pelos instrumentos de uso cotidiano. O primado da realidade é destruído e dá lugar ao princípio da possibilidade do ser.

Como se percebe, ambos os autores obrigam a nos colocarmos em uma atitude de questionamento em relação aos nossos conceitos "seguros" e "inabaláveis". Com relação a esse ponto, diríamos que Winnicott foi ainda mais radical do que Heidegger, pois postula mesmo que as noções de tempo, espaço e realidade podem ser aniquiladas. Esse pensar radical constitui o solo para considerarmos a psicanálise de Winnicott como pré-ontológica. Pensam-se, com isso, as possibilidades de compreensão do ser e, consequentemente, as possibilidades para ser. Tais possibilidades podem deixar de se realizar não simplesmente porque são meras possibilidades, mas também porque as condições para o seu acontecer não se apresentam, isto é, deve-se levar em conta a aniquilação. Desse modo, poder-ser e aniquilação possuem o mesmo estatuto ontológico em Winnicott.

A teoria do amadurecimento, com relação à inteireza (Ganzheit), procura mostrar que a tendência do bebê é constituir-se, gradativamente, em uma unidade, desde que certas condições ambientais estejam asseguradas. O bebê tende a se tornar uma pessoa inteira (whole person), e isso é o que se denomina tendência à integração. Todavia, essa integração unitária só vai chegar à sua completude no momento da morte (Winnicott, 1988, p. 12). Isso quer dizer que a pessoa tende a ir-sendo (going-on-being), desde que não haja nenhuma interrupção na sua continuidade-de-ser, e só vai alcançar a realização completa de seu ser no momento do seu findar. Isso indica que na teoria do amadurecimento, vê-se uma pessoa como estando aberta às suas possibilidades de ser, que não são determinadas e que só deixam de se tornar presentes com o seu próprio fim.

Uma ideia afim a esta, presente na teoria do amadurecimento, também se encontra em "Ser e tempo" com relação à inteireza (Ganzheit) do ser-o-aí, uma vez que este só alcança a sua inteireza no fim, sendo por isso uma constante "não-inteireza" (Unganzheit): "no ser-o-aí há uma 'não-inteireza' constante e ineliminável, que encontra seu fim com a morte" (Heidegger, 2001, p. 242). Heidegger precisa bem o que se deve entender por findar (Enden):

Findar não significa completar-se [Sich-vollenden] [...] significa terminar [Aufhören]. [...] Findar enquanto terminar pode significar: passar a ser não-[mais] simplesmente presente [Unvorhandenheit] ou só ser simplesmente presente com o fim [...]. Mas o findar enquanto acabar não inclui em si a completude. [...] A completude é um modo assegurado do "acabamento". Este só é possível como determinação de um simplesmente presente ou um algo disponível à mão [...]. O findar como a morte não significa estar-no-fim do ser-o-aí, mas sim um ser para o fim deste ente (Heidegger, 2001, pp. 244-245).

Não só nesse ponto há uma concordância entre algumas concepções de Heidegger e Winnicott, mas também no que diz respeito à própria teoria do amadurecimento. Por exemplo, Heidegger apresenta o seu entendimento sobre esse assunto utilizando-se da analogia com uma fruta ainda não madura4 . Heidegger aponta que o amadurecimento traz consigo um ainda-não, e este, que representa uma possibilidade aberta para a pessoa, não se oferece como algo que se ajunta como se ainda não estivesse disponível à mão e que ainda poderia vir a estar. Não, a ideia é outra. Heidegger diz: "a fruta conduz a si mesma ao amadurecimento (Reife)" (Heidegger, 2001, p. 243), e é isso que a caracteriza enquanto tal: "correspondentemente, o ser-o-aí é também na medida em que ele é a cada vez seu ainda-não" (Heidegger, 2001, p. 244). Em Winnicott, isso implica um paradoxo: o bebê também pode conduzir a si mesmo, desde que seja auxiliado nos estágios iniciais, ajudado por outra pessoa. Heidegger continua: o ainda-não "não significa um algo exterior que poderia ser simplesmente dado no ou com a fruta, indiferentemente dela" (Heidegger, 2001, p. 243). O ainda-não significa o modo de ser específico da própria fruta e constitui suas possibilidades de acontecer. Ideia semelhante, a meu ver, encontra-se na concepção de amadurecimento enquanto algo inato ao bebê. As potencialidades para amadurecer estão todas lá, porém não como uma totalidade que, a cada vez, precisaria ser tocada pela mãe em um determinado ponto para desabrochar, mas sim como um ainda-não que mostra que as possibilidades estão todas abertas para se encaminhar em direção à inteireza.

 

6. Alguns distanciamentos

Gostaria de destacar que, embora algumas aproximações possam ser feitas entre o modo de pensar o homem nas duas teorias, os interesses investigativos pelos quais Heidegger e Winnicott lutam são diferentes, o que, por consequência, também produz fins diferentes.

Em "Ser e tempo", Heidegger procura tornar evidente o esquecimento da questão do ser, que tem suas origens na filosofia antiga, indo desde as descobertas de Platão e Aristóteles até Hegel; esquecimento que mostra que o conceito de "ser" ainda era o mais obscuro, indefinível – já que as definições desses filósofos partiam do ente – e, ao mesmo tempo, evidente por ser o mais utilizado em qualquer declaração, como "o céu é azul". Note-se, porém, que ser evidente não quer dizer ser compreendido: "esta compreensão mediana demonstra apenas a incompreensibilidade" (Heidegger, 2001, p. 4).

Por consequência, o fim a ser atingido em "Ser e tempo", pelo combate ao esquecimento da tradição filosófica, será a destruição da ontologia tradicional. Destruição significa orientar-se pela questão do ser, a fim de tornar transparente a própria questão, fazendo que a rigidez e o endurecimento de uma tradição já petrificada sejam abalados, possibilitando que os "entulhos" acumulados sejam removidos.

Compreendemos essa tarefa como a Destruição [Destruktion] do acervo da antiga ontologia legada pela tradição; destruição que se realiza como fio condutor da questão do ser em relação às experiências originárias que alcançaram as primeiras e consequentes determinações do ser que foram decisivas (Heidegger, 2001, p. 22).

A destruição da história da ontologia tem um sentido construtivo, à medida que obriga a pensar a questão do ser desde a sua origem, porém não em sua relação com o passado, mas sim com o "hoje" e o seu predominante modo de tratar essa história.

Logo, a destruição "não tem o sentido negativo de livrar-se da tradição ontológica. Ao contrário, ela deve em seu sentido positivo circunscrever a tradição, e isso quer dizer sempre seus limites, os quais são dados faticamente com o questionamento e a partir da delimitação pré-indicada do campo possível de investigação" (Heidegger, 2001, p. 22). Afora "Ser e tempo", poder-se-ia dizer que as preocupações de Heidegger possuem uma envergadura de longo alcance. Na visão de Loparic:

Creio que temos aqui a raiz das preocupações recorrentes em toda a obra de Heidegger, desde Ser e tempo até a segunda fase do seu pensamento, a saber, o receio da objetificação niveladora do ente no seu todo pelo projeto matematizante da natureza, formulado na linguagem objetificante, sem sentido ontológico (Loparic, 2004, p. 21).

Os interesses e fins de Winnicott não são os mesmos de Heidegger, mas são igualmente essenciais para um questionamento sobre o sentido do ser, já que ele também parece estar preocupado com essa "objetificação niveladora" do homem5. Winnicott não está interessado no esquecimento que a tradição legou à história do ser. As questões sobre o ser ganham aqui um foco direcionado, isto é, um direcionamento fático. Ele está interessado no aniquilamento do ser, que impede, até mesmo, que o esquecimento ou a lembrança do que se é possa se realizar. É um interesse pela história individual e concreta do ser que, quando transformada em teoria – a do amadurecimento pessoal –, isto é, em uma apresentação de ideias que poderiam ser universalizáveis, coloca mesmo em jogo se a compreensão do ser está disponível e aberta para todo ser-o-aí que está no mundo ou só para aqueles que são considerados pessoas inteiras (whole person). Talvez por isso o que se coloca para Winnicott não seja primeiramente a questão sobre o sentido do ser, mas sim a questão sobre a continuidade de ser. É preciso que se possa ir-sendo, sem que haja intrusões traumáticas nessa continuidade de ser, para que se possa alcançar e conquistar a integração, podendo assim tornar-se uma unidade capaz de se perguntar pelo seu próprio sentido. Isso não significa dizer que pessoas que não alcançaram essa inteireza de ser, essa unidade, não possam contribuir com questionamentos sobre o sentido de ser. A diferença é que essas pessoas estão à procura de um sentido que possa garantir o fato de que elas são e não estão procurando questionar o sentido de ser, que parece, por esse viés, tornar-se posterior. Aí se encontra mais um momento decisivo para justificar a ideia de uma pré-ontologia no pensamento de Winnicott.

Mais do que se dar conta da inter-relação presente na aproximação e no distanciamento, espero que esse artigo faça ver aos pesquisadores da filosofia da psicanálise a necessidade de perceber que não há como ficar impassível diante do modo de leitura de Loparic, com a noção de mudanças paradigmáticas, para uma investigação da psicanálise – quer se concorde ou não com suas ideias.

 

Referências

Dias, E. O. (2002). A trajetória intelectual de Winnicott. Natureza Humana, v. 4, n. 1.         [ Links ]

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Endereço para correspondência
E-mail: edersan@hotmail.com

 

 

1Este artigo reproduz partes do livro de Santos (2010).
2Poder-se-iam tomar como exemplo as críticas de Popper (1987) à psicanálise.
3Kuhn afirma, por exemplo: "Em primeiro lugar, não estou ciente de qualquer princípio que barre a possibilidade de uma ou outra parte de alguma ciência humana encontrar um paradigma capaz de viabilizar a pesquisa normal, solucionadora de quebra-cabeças" (Kuhn, 2006, p. 272)
4Deve-se ressaltar que essa analogia, tal como utilizada por Heidegger, não faria sentido em Winnicott, pois uma pessoa é alguém que está em amadurecimento desde a sua concepção; suspeito que mesmo uma palavra como não amadurecimento não seria passível de ser utilizada, já que ela pressuporia um estado em que uma pessoa já existisse à espera de um momento para começar a amadurecer. Em Winnicott, se existe ser humano, então já existe com ele e nele sua tendência inata ao amadurecimento.
5Cf. Winnicott, 1988, p. 10. Esse tipo de preocupação fica muito claro no debate de Winnicott com a psiquiatria do seu tempo. Sobre esse tema, ver Dias (2002, p. 111-36).

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