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Mental

Print version ISSN 1679-4427On-line version ISSN 1984-980X

Mental vol.3 no.4 Barbacena June 2005

 

ARTIGOS

 

O capitalismo neoliberal e seu sujeito

 

The neoliberal capitalism and its subject

 

 

Raul Albino Pacheco Filho*

Pontifícia Universidade Católica - PUC-SP

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Utiliza-se o referencial teórico da Psicanálise para se empreender uma reflexão sobre a alienação do sujeito no capitalismo neoliberal de nossos dias. O percurso se inicia por meio da explicitação das concepções psicanalíticas de sujeito e sociedade, destacando-se a importância da castração simbólica na instauração do inconsciente e na inauguração do laço social. Registra-se a presença de uma violência originária que é componente estrutural desse processo, à qual se agregam modos adicionais específicos de violência do capitalismo neoliberal. Busca-se caracterizar dois aspectos especialmente acentuados nos tempos de intensificação contemporânea do neoliberalismo: o 'narcisismo' e a 'perversão' do sujeito, ainda que se deva colocar aspas nos dois termos, na medida em que se trata de noções distintas da concepção usual metapsicológica de narcisismo e do conceito de perversão como estrutura clínica do sujeito. Finalmente, destaca-se a existência de uma imensa produção cultural ideológica na mídia, nas ciências, na filosofia e nas artes, encarregada de oferecer sustentação ao status quo social e de pôr obstáculos ao progresso histórico e à transformação da sociedade.

Palavras-chave: Sujeito, Sociedade, Psicanálise, Psicologia social, Violência, Narcisismo, Perversão, Capitalismo, Neoliberalismo.


ABSTRACT

The psychoanalysis theory is used to ponder over the subjetc´s alienation in the neoliberal´s capitalism of our days. This paper begins with the exhibition of the subject and society´s psychoanalytical concepts and emphasizes the castration symbolic´s importance in the instauration of the unconscious and in the inauguration of the social network. In this article is mentioned the presence of an originary violence that is part of this process, to which is added new violence´s ways that come from the neoliberal capitalism´s system. The subjet´s "narcissism" and 'perversion' (two strong aspects of this neoliberalism´s era) are characterized differently from their usual ways.
Finally, it is standed out the existence of an immense ideological cultural production in the media, in the sciences, in the philosophy and in the arts, that keeps the social´s status quo and sets obstacles to the historical progress and the transformation of the society.

Keywords: Citizen, Society, Psychoanalysis, Social psychology, Violence, Narcissism, Perversion, Capitalism, Neoliberalism.


 

 

As concepções psicanalíticas de sujeito e sociedade

Vamos iniciar nosso percurso com algumas reflexões acerca do processo pelo qual um ser humano vem a constituir-se sujeito e tornar-se membro de uma determinada sociedade. Para constituir-se um ser de linguagem, regido pelo simbólico e pela cultura, o ser humano não se defronta apenas com a carne e a matéria do seu semelhante: confronta-se também, e principalmente, com o seu desejo. Embalado e acariciado pela mãe, o pequeno ser humano, a um só tempo, constrói-se a si mesmo e é construído pelos seus semelhantes, desejando ser desejado. O desejo de ser desejado é o fundamento de suas alegrias, de seu prazer e também de seus sofrimentos. Mais enfaticamente poderíamos dizer que essa é a essência do próprio significado da sua existência.

Mas é preciso considerar que o pequeno bebê que, pela identificação primordial, inaugura a construção do seu Eu, deseja ser desejado de um modo impossível: por um desejante absoluto... que só deseje a ele e para quem ele baste... sem intermediação de terceiros e em uma relação narcísica e completa (que, se existisse, seria a própria morte e destruição do seu Eu, já que implicaria em negar totalmente a cultura e a sociedade), em um gozo pleno e absoluto que extinguiria toda e qualquer tensão (e a própria vida), em obediência ao princípio de nirvana... um gozo dirigido pela pulsão de morte! Gozo, esse, que a Psicanálise pôde estudar detidamente, em circunstâncias menos radicais que a aniquilação completa, nas perversões e no sado-masoquismo e que, em maior ou menor grau, está sempre presente em todo ser humano e, invariavelmente, em todos os desejos. É por isso que o artigo do psicanalista Henrique Torres tem o título de Uma perversão chamada desejo1.

Destinado à vida humana e a constituir-se um ser da cultura, o pequeno ser humano tem que abandonar, a contragosto, a condição de objeto que completa toda e qualquer falta na mãe - abandonar a condição de falo materno, como prefererem alguns autores psicanalistas. Compelido a deixar este estado nirvânico, ele tem que partir, frustrado, para o convívio com os seus semelhantes, em busca das insígnias fálicas que só podem ser procuradas no interior da própria cultura. Busca, portanto, identificar-se com aqueles que procederam à sua castração simbólica, em um jogo de mimetizar os seus próprios algozes dos quais, na cultura capitalista, o pai é o representante por excelência, já que se trata daquele que melhor representa a limitação à posição fálica do bebê, constituída pela condição de narcisismo e gozo absolutos. Condição, esta, que restará como nostalgia sempre presente e que constituirá, ao mesmo tempo, o motor do seu desejo, de um lado, e a razão das suas frustrações, insatisfações e sofrimentos, de outro; a causa das suas alegrias e prazeres, de um lado, mas também de suas angústias e depressões, de outro. E que o fará sempre vulnerável e crédulo em relação a falsas promessas de restauração dessa posição narcísica, fálica e nirvânica.

Já que a castração simbólica transformou-o em um ser da sociedade e da cultura, a nostalgia de retorno à posição fálica e narcísica absoluta pode agora ser alimentada não apenas na solidão e isolamento dos sintomas individuais, mas também na construção coletiva dos sintomas sociais que ele compartilha com outros membros do seu grupo social. Sintomas sociais, estes, que responderão pelas mais altas realizações da cultura humana, mas, também, por outro lado, pelas exclusões e preconceitos de toda ordem: pelos racismos, fascismos, marginalizações e violência contra outros grupos sociais, como é o caso dos negros, gays, estrangeiros e pobres.

Na condição de porta-vozes da cultura e das práticas e leis da sociedade, os encarregados de introduzir a criança no mundo social - no caso da sociedade capitalista, os pais - operam a castração simbólica do pequeno e novo estreante na vida em sociedade. E é também, nesta circunstância, que eles influenciam os modos de relação do sujeito com seu desejo e com os outros sujeitos significativos, em todas as múltiplas possibilidades de estabelecimento de laços sociais:

"(...) no que eles evidenciam de massificação ou de singularidade; de irracionalidade ou de racionalidade; de inconsciência e de desconhecimento dos motivos de suas ações ou de intencionalidade consciente e deliberada; de passividade determinada pelo contexto sócio-cultural ou de eventual ação ativa operadora de transformações sociais; em suma, no que apresentam de regra ou de exceção."2

Com isso, o pequeno ser humano está liberto do desamparo e da submissão completa frente a uma mãe fálica devoradora, que constituiria a sua própria morte para o mundo social. Atingido pela castração simbólica, ele pode, agora, conseqüentemente, constituir-se como um sujeito enlaçado à sociedade e aos seus semelhantes, por intermédio dos seus ideais, valores e identificações. Dispõe, portanto, de novas maneiras de escapar ao terror e, ao mesmo tempo, à sedução da condição inominável que escapa a toda simbolização, constituída pela impossibilidade de processar as tensões e excitações internas originadas da carne. A linguagem e as representações culturais por ela instauradas agora se ligam àquelas, permitindo a inauguração do império dos princípios de prazer e de realidade, que conferem ao sujeito um mínimo controle sobre as próprias pulsões. Controle esse que, uma vez ameaçado, acenará novamente com o perigo daquilo que, em alemão, Freud designou por Hilflosigkeit: o desamparo frente à incontrolabilidade das excitações somáticas internas, quando desligadas das suas representações simbólicas.

É por isso que o indivíduo mergulhará na angústia e na depressão, sempre que vier a se sentir ameaçado na possibilidade de sustentar uma mínima estabilidade da sempre precária unidade do seu Eu. Unidade essa fragilmente preservada pela sua cambiante identidade e pelos seus laços sociais, ideais e valores débeis e sob constante risco.

O perigo de invasão pelas excitações internas pode ter sua intensidade avaliada pelo exemplo dos ataques de pânico, que uma psiquiatria de orientação organicista circunscreveu como 'síndrome' e designou pelo rótulo de 'transtorno de pânico', e que, para nós psicanalistas, é um sinalizador do risco de instauração da falência do próprio funcionamento psíquico. Como propõe Mário Eduardo Costa Pereira em seu livro Pânico e desamparo3, o pânico ainda não é o terror, mas sim a última muralha erigida contra ele e contra o aniquilamento da organização psíquica. Devemos entendê-lo como um ato psíquico desesperado, mas pleno: uma forma de o sujeito fazer frente às condições de desamparo radical da existência humana e de fragilidade do mundo simbólico, quando comparadas à potência formidável do mundo da matéria.

Uma pulsão de morte vigia onipresentemente os passos do ser humano, respondendo pelo perigo incessante de ameaça ao funcionamento regido pela pulsão de vida e pelos princípios de prazer e de realidade. Regime, este último, que inclui os ditames da cultura e da sociedade inscritos nos ideais impostos aos sujeitos pelo processo de socialização. Mas que inclui também, paradoxalmente, a nostalgia derivada do resíduo inesgotável e irredutível de narcisismo, que sempre conferirá ao desejo humano uma mínima composição de perversão. Perversão que o seduzirá com o 'canto de sereia' do narcisismo, atraindo-o para os limites das fronteiras demarcadas pela Lei e pelo símbolo. Esse chamado pode atingi-lo isoladamente, enquanto indivíduo, ou pode surgir como uma convocação a todo um grupo social a que ele pertença: um segmento de classe econômico-social, um grupo racialmente definido, uma fatia da comunidade delimitada pela faixa etária ou geração de pertinência, um gênero ou uma nação.

Espero ter conseguido explicitar um aspecto da cultura e da vida em sociedade, de que uma violência originária contra cada um dos sujeitos que a ela pertencem compõe um elemento importante, nunca ausente em toda e qualquer organização social. A cultura e os laços sociais protegem contra o desamparo, conforme propusemos, mas ao preço de um certo nível de submissão a essa violência fundamental.

"O assassinato do chefe da horda pelos filhos reunidos em aliança conspiratória contra a exorbitância do poder, formulado por Freud em Totem e Tabu4, constitui o modelo prototípico do nascimento do laço social. Ligados pelo ódio comum que gesta a rebelião, mas também pela culpa e pelo remorso que os leva a celebrar como totem o chefe eliminado - agora alçado à condição de Pai - erigem interna e externamente as condições de interdição pulsional que criam o pacto entre os membros do grupo. Esse pacto sela o compromisso de cumprimento das leis de organização da sexualidade e de distribuição do poder, numa tentativa de manter a estabilidade social e de afastar o desencadeamento de novos conflitos."5

Se fosse para buscar uma analogia na literatura de ficção para tentar materializar em imagens esse duplo aspecto paradoxal da cultura e da sociedade humanas, eu recorreria ao famoso O estranho caso do Dr. Jekill e do Sr. Hyde, de Robert Louis Stevenson. A proteção que ela nos oferece tem o seu preço, como já foi dito, cobrado na moeda da submissão irracional e inconsciente a, pelo menos, uma parcela das concepções, valores, leis e ideais que ela nos impõe.

Pretendo iniciar a próxima seção explorando um pouco mais a idéia de que a cultura e a sociedade sempre implicam um tipo de violência simbólica para com os seus membros, para, em seguida, ressaltar modos específicos pelos quais o capitalismo neoliberal desenvolve sua forma particular de violência.

 

A violência do capitalismo neoliberal

Já introduzi a concepção de uma violência originária da sociedade e da cultura, no sentido de nos compelir, por meio do processo de socialização, a formas apriorísticas de pensamento, modos de vida, ideais, valores, princípios éticos e, até mesmo, a formas padronizadas de sentimentos e de reações emocionais. Tudo isso nos atinge de maneira inconsciente e distinta dos processos que organizam a racionalidade consciente, a partir de todos os episódios sociais em que nos envolvemos como interlocutores, sendo possível estabelecer, como pontos míticos de inauguração do processo, a saída do útero e a primeira mamada.

Os nossos semelhantes dirigem-se a nós, desde o início de nossas vidas, por meio de palavras. E é desta maneira que a linguagem e as representações culturais por ela instauradas vêm a constituir não apenas a via pela qual interagimos com os outros membros da comunidade humana, mas, também (e quem sabe se não é isto o mais importante), elas vêm a constituir o próprio modo pelo qual apreendemos a realidade. Não existe apreensão ingênua, neutra e imparcial de qualquer aspecto do nosso mundo (aí incluída a maneira pela qual conceptualizamos o nosso próprio corpo e o nosso Eu), que escape a essa influência inexorável da cultura e da sociedade na qual viemos a constituir nossa subjetividade.

Nosso mundo e sua realidade são 'construídos' ao longo do nosso processo de socialização, por meio das categorias e dos conceitos lingüísticos que empregamos para nomeá-los. Não é à toa, portanto, que em Totem e Tabu Freud apresente os laços sociais como decorrentes de uma violência originária. Como eu disse em outro lugar:

"O modelo prototípico que ele aí apresenta, de surgimento da sociedade e da cultura, que poderíamos entender como um mito, é o de uma horda primitiva cujo chefe matava ou expulsava os filhos, para apoderar-se de todas as mulheres do grupo. Rebelando-se contra este pai terrível, um dia os filhos uniram-se em aliança conspiratória e o assassinaram. Depois, devoraram o seu corpo em um ritual antropofágico, celebrando a união, a vitória e um pacto de que nenhum deles procuraria retomar o lugar do pai despótico morto. Esse é o modelo de vínculo social para a Psicanálise, o qual decorre da instauração de uma Lei que, ao mesmo tempo, organiza a sexualidade e as relações sociais, permitindo a identificação entre os membros do grupo. Sentimentos ambivalentes de ódio e culpa estão subjacentes a essa Lei, escondidos por trás dos rituais em que as sociedades celebram a união entre os seus membros. É isso que está representado pelas refeições totêmicas, em que o corpo do animal totêmico, representando o pai assassinado, é devorado pelos membros do clã. (...)

Esses são os modos pelos quais os indivíduos repetem, simbolicamente, o crime original que os une como membros da sociedade e ao mesmo tempo se comprometem a não repeti-lo e a obedecer às leis sociais. A Lei é, então, aquilo que nos permite reconhecer uns aos outros como membros de um grupo. Por trás dela opera um processo fundamental do laço social, que Freud chamou de identificação. Regidos pela mesma Lei, identificamo-nos uns aos outros como membros de uma comunidade. [...]

Os indivíduos pertencentes ao corpo social identificam-se uns aos outros como iguais ou irmãos e, ao mesmo tempo, diferenciam-se dos que não pertencem ao grupo. Estes últimos são estranhos ou estrangeiros e, conseqüentemente, tratados de acordo com esta condição. Podem inspirar temor, reverência, hostilidade, ou curiosidade. Em todos os casos, contudo, recebem a marca da diferença: a palavra que se lhes atribui é o eles, diferentemente do nós que atribuímos àqueles com quem nos identificamos." 6

Estes processos de identificação que escapam ao controle da consciência e do tipo de racionalidade que a rege constituem a base inconsciente sobre a qual, historicamente, o nazismo alemão e todos os fascismos, em todas as partes do mundo, construíram as suas lógicas de inclusão/exclusão. Suas concepções ultradireitistas de revitalização do estado e da nação sempre recorreram à marginalização e violência contra todos os considerados diferentes ou excluídos do grupo concebido como o dos 'legítimos' membros da comunidade nacional. As propostas fascistas de reconstrução dos pretensos caos e degeneração sociais sempre elegeram, como culpados, os marcados com o estigma da diferença, seja ela de raça, religião, preferência sexual, ou posicionamento político: como o mostram os assassinatos de judeus e homossexuais pelos nazistas.

Porém, seria absolutamente enganoso imaginar-se que racismo, intolerância e xenofobia constituam prerrogativas dos estados fascistas e que estejam ausentes das sociedades capitalistas neoliberais contemporâneas. Tomem-se, como exemplos, a violência, a barbárie e a discriminação contra negros, por parte dos ativistas da Ku Klux Klan e da comunidade branca da África do Sul, em plenos anos 90, ou contra homossexuais, pelos skin heads brasileiros, neste início de século XXI, ou ainda contra jogadores de futebol negros nos torneios europeus e latino americanos de 20057. Uma infinidade de exemplos análogos, no interior das sociedades capitalistas contemporâneas, pode ser rapidamente lembrada. E não se pode dizer, de modo algum, que esses acontecimentos estejam limitados ao âmbito da ilegalidade. Nos últimos anos, propostas de conteúdo neofascista vêm ganhando aceitação pública em diferentes partes do mundo capitalista, como soluções para problemas e conflitos sociais.

"A Câmara Baixa do Parlamento italiano aprovou ontem duras medidas de combate à imigração ilegal. Entre elas estão a exigência de tirar as impressões digitais de pessoas que não possuem cidadania européia e a adoção de penas de prisão de até um ano para alguns casos de permanência ilegal no país. 'Precisamos mostrar às pessoas que desejam chegar aqui ilegalmente que somos capazes de chutá-las para fora', disse um dos autores do projeto, Umberto Bossi, ministro das Reformas e líder da xenófoba Liga Norte."8

E candidatos a governos, com plataformas políticas contrárias a propostas pluralistas, integracionistas e de tolerância para com a diversidade crescem em prestígio diante do eleitorado de importantes sociedades contemporâneas. Vejam-se os casos relativamente recentes de Jean-Marie Le Pen, na França, Silvio Berlusconi, na Itália e Jörg Haider, na Áustria.9 Como se vê, a sociedade capitalista neoliberal parece ter desenvolvido modos de combinar formas de violência construídas no âmbito do seu próprio contexto, com outras formas de violência originadas em circunstâncias histórico-sociais distintas.

Nas duas próximas seções, pretendo particularizar dois aspectos distintivos do capitalismo, especialmente acentuados nestes tempos de radicalização neoliberal: o "narcisismo"10 e a "perversão" na sociedade capitalista neoliberal (ainda que eu coloque aspas nesses termos).

 

O 'narcisismo' no capitalismo neoliberal

Alguns outros autores têm denunciado a exacerbação do narcisismo na sociedade contemporânea. O termo "cultura do narcisismo" tem sido algumas vezes invocado para a proposição de críticas às condições existentes na sociedade atual, no sentido do estímulo conferido ao valor individual, como fundamento e razão última a dirigir as ações dos sujeitos. Auto-centrado e voltado quase que exclusivamente para si mesmo, o sujeito dos nossos dias padeceria da ausência de ideais e estaria sendo arrastado em direção a um egocentrismo radical, que, psicanaliticamente, corresponderia a uma regressão a um estado de narcisismo quase puro. Como antídoto para essa patologia regressiva, conviria prescrever doses maciças de ideais coletivos, resgatados dos "bons tempos" em que teriam sido mais significativas a atenção e a solicitude para com os demais membros do corpo social.

Ainda que o alerta faça sentido e que alguns pontos descritivos importantes façam parte dessa maneira de conceptualizar os problemas da sociedade contemporânea, devo registrar minha discordância em relação à proposta explicativa nela incluída. Não é este o local em que pretendo desenvolver meu questionamento sobres esse entendimento do sujeito da sociedade capitalista tardia, como encerrado em um narcisismo radical. Cabe afirmar que não acredito em uma diferença de natureza metapsicológica entre os valores e princípios que regem a vida atual e os que organizaram a cultura e a vida social em períodos históricos anteriores ou em sociedades distintas. Não me parece que o ser humano contemporâneo esteja fora do alcance da influência e controle da rede simbólica da sociedade, infenso à ordem edípica estrutural do seu gozo pulsional, a partir de algum tipo 'patológico' de narcisismo que o deixasse imune aos valores estabelecidos no seio da cultura. Além de metapsicologicamente incorreta, essa concepção traz o risco, no meu entender, de uma aspiração reacionária a um retorno ao passado.

Por outro lado, cabe admitir que condições distintivas caracterizam a vida na contemporaneidade, justificando a propriedade dos termos que alguns autores têm empregado para designá-la: estaríamos na "sociedade das imagens", ou na "sociedade do espetáculo"11. À parte as diferenças entre os autores chamados 'pós-modernos' (como Jean Baudrillard e Gilles Lipovetsky) e os que aderem a uma abordagem explicativa mais assentada na base material e histórica que fundamenta a sociedade (como Fredric Jameson e Zygmunt Bauman)12, gostaria de chamar a atenção para um ponto relevante: o fato de que, no capitalismo, a ideologia que ajuda a dar suporte para a estrutura social é constituída pela suposição de que a livre competição entre indivíduos autônomos, em busca do lucro e do seu exclusivo interesse pessoal, pode produzir o benefício coletivo. Neste sentido, mais do que se incentivarem os sujeitos à busca de objetivos de interesse comum, o que se procura é atá-lo ao valor do sucesso individual, não importando os meios pelos quais ele é atingido. É esta a aspiração máxima do sujeito do capitalismo, que, conseqüentemente, não pode ser entendido como desprovido de ideais. Fazer-se individualmente bem sucedido, pela conquista de metas de riqueza material que possibilitem um consumo ilimitado e uma alocação privilegiada no espectro da hierarquia social: é este o objetivo e o ideal comum que quase todos perseguem!

Um corolário dessa circunstância é o fato de que a avaliação ética dos meios para se obter o sucesso individual torna-se um elemento de menor importância. Minimiza-se progressivamente a censura social aos que atingem seus objetivos pela exploração de simulacros, ou por meio de ações lesivas a terceiros ou à comunidade. Estas passam a legitimar-se socialmente pelo alcance da meta do sucesso. Apenas para lembrar alguns exemplos comuns, posso mencionar os políticos corruptos que mantêm seu poder e prestígio, a despeito da existência de suspeitas bem fundadas de desonestidade e má fé nas suas gestões. Ou, ainda, o caso das pessoas que transformam em capital social, passível de conversão e exploração, os seus episódios amorosos, às vezes até mesmo fictícios, com personagens famosos. O valor pessoal passa a ser mensurado pelo poder, pela riqueza, pela possibilidade de consumo e pela atenção que os indivíduos são capazes de despertar no espetáculo cotidiano, do mesmo modo que a qualidade artística dos programas e eventos culturais passa a ser indicada, quase que exclusivamente, pelos índices de audiência e vendagem.

Se o que importa é o consumo e o sucesso individual e não os meios pelos quais foram atingidos, a imagem que se oferece ao próximo, seja ela falsa ou verdadeira, é o ponto relevante no processo social: a "embalagem" passa a ser quase tão (ou até mesmo mais) importante do que o próprio produto. Do mesmo modo, as qualidades de menor visibilidade imediata das pessoas, ou de apreensão mais complexa, perdem progressivamente o seu valor, quando comparadas à sua aparência, à ostentação de riqueza, ou ao que se mostra com maior evidência. O falso, o superficial e o enganoso podem adquirir também o seu valor social, dependendo do poder de sedução que se mostrem capazes de exercer.

E é aqui que, junto com a riqueza material e o potencial de consumo, que a estética do corpo eleva-se ao mais alto grau de prestígio social. Inegavelmente, ela é a 'embalagem' que atrai à primeira vista e que aguça o mais óbvio e imediato dos apelos espontâneos: o interesse estético e o apetite sexual. Aliás, longe de questionar o valor e a importância do impulso sexual, a psicanálise preocupou-se exatamente em realçar-lhe a devida importância, nem sempre reconhecida, no âmbito dos assuntos humanos. Ela mostrou que Eros e a sexualidade espalham-se por todas as circunstâncias que compõem a vida humana e não apenas por aquelas tidas como óbvias manifestações da libido. Mas uma visão simplificada e reducionista do conhecimento trazido pela psicanálise é empregada na limitação do sentido de sexualidade a este âmbito mais óbvio, encobrindo o significado mais complexo e extenso que ela veio a mostrar. Com esta limitação, passa-se a entender a sexualidade humana como um fenômeno instintivo de ordem biológica, escondendo-se a verdade de que ela constitui, de fato, um fenômeno humano e simbólico, de ordem cultural e social.

É falsa a idéia de que a beleza estética e a aparência sedutora dos corpos humanos derivam-se inteiramente de determinações instintivas e biológicas. São as sociedades e as culturas que constroem os seus ideais de objeto sexual. Essa verdade é facilmente constatável, de inúmeras maneiras. O ideal de corpo feminino, por exemplo, transformou-se de rechonchudo e roliço, para magro e esquálido e depois para rijo e musculoso, no espaço de poucos séculos. E o ideal de corpo masculino, magro e longilíneo, dos anos 60 já não faz mais tanto sucesso em uma sociedade que endeusa corpos "sarados" e "bombados". Em uma sociedade com auto-estima em baixa, como é o caso do Brasil dos nossos dias, cabelos loiros femininos parecem constituir requisito indispensável às mulheres que desejam incrementar seu poder de sedução. Um estrangeiro que, em visita ao Brasil, se limitasse ao exame da mídia, das revistas nacionais e dos outdoors, apostaria que é loira a grande maioria das mulheres brasileiras. Loiras brancas, loiras nisseis e loiras mulatas caminham pelas ruas das nossas cidades, buscando mimetizar o ideal de corpo da mulher das nações economicamente mais ricas, largamente exaltado em todos os meios de comunicação de massa.

De modo análogo, traços e conformações corporais indicativos de idade cronológica avançada são banidos, ou recebem uma marca associativa negativa nos meios de comunicação de massa. Rugas e cabelos brancos vão sendo cada vez menos associados à experiência de vida, dignidade e temperança, e recebem estigmas que variam de decrepitude física e psíquica à falta de competência e à recusa em assumir as transformações da sociedade. Cirurgias plásticas e próteses de silicone que eliminem, pelo menos parcialmente, os sinais da idade no corpo tornam-se instrumentos indispensáveis para uma sociedade incapaz de tolerar a visão do corpo de idade avançada. E tudo isso deixa uma marca inegavelmente estigmatizante sobre os indivíduos que atingiram esse estágio da vida.

É este o sentido em que o termo "narcisista" (entre aspas) pode ser apropriadamente empregado para caracterizar o sujeito da sociedade do início do século XXI. Não se trata de um narcisismo metapsicológico 'stricto sensu', como se o ser humano dos dias atuais estivesse envolvido em um embevecimento pela própria imagem, independentemente do valor a ela articulado pelas redes do tecido social, cultural e simbólico. Pelo contrário, o império da imagem e do consumo, na atualidade, em que nos vemos siderados pelos nossos Eus e afetivamente capturados pela busca da imagem de corpos que mimetizem à perfeição modelos idealizados específicos, é uma decorrência da própria estruturação das relações sociais capitalistas atuais. Se os outros nos parecem meros espectadores e testemunhas do valor e beleza da nossa imagem, isso não acontece por um excesso de autonomia e de independência em relação a eles e à sociedade. Pelo contrário, é deles que se originam as diretrizes e os ideais que conduzem as nossas ações.

 

A 'perversão' no capitalismo neoliberal

O último tópico que pretendo abordar diz respeito a um fenômeno da cultura e da sociedade atuais que simula fenomenologicamente a perversão, ainda que seja distinto da mesma no âmbito metapsicológico. E a compreensão desta proposta requer que nos reportemos à concepção psicanalítica da perversão, no sentido de que:

"O perverso se fecha na representação de uma falta não simbolizável que se traduz por uma contestação psíquica inesgotável sob os auspícios do desmentido da castração da mãe. Ele recusa assim a castração simbólica, cuja única função é fazer advir o real da diferença dos sexos como causa do desejo no sujeito."13

"Trocando em miúdos", direi simplificadamente que o mecanismo perverso implica na coexistência de duas séries distintas de produções psíquicas imaginárias. De um lado, o perverso reconhece a castração e a existência de uma falta na mãe: o falo. De outro, fantasia uma mãe isenta de toda falta - uma mãe fálica, o que lhe permite defender-se contra o horror da castração. Isso coloca o perverso em uma posição absolutamente particular, em termos do modo pelo qual ele se relaciona com a falta e com a incompletude: aceitando-a e, contraditoriamente, negando-a, a um só tempo.

É neste sentido que se pode apontar alguma semelhança entre este processo e o laço social que os sujeitos estabelecem no capitalismo, mesmo quando se considera aqueles que não se caracterizam por uma estrutura perversa. Algo fenomenologicamente semelhante caracteriza o modo pelo qual a cultura contemporânea nos incita a lidar com a falta e a incompletude da existência.

A ciência moderna trouxe uma possibilidade efetiva de transformação do mundo e das condições de vida dos seres humanos. Sofrimentos anteriormente insuperáveis, como, apenas para citar dois exemplos, certas doenças e determinados acidentes da natureza, podem hoje ser manejados a partir do conhecimento científico e tecnológico disponível. Contudo, esse progresso no controle do mundo e na eliminação de certas mazelas da existência humana é sempre parcial, incompleto e bastante insatisfatório. A grande parte das origens do sofrimento e da miséria humana permanece intocada pela Ciência e pela tecnologia do capitalismo, que, aliás, também nos legou a sua própria cota de causas de sofrimento. Aí estão, para ser lembrados, os acidentes ecológicos, as potentes armas de destruição, as desigualdades e as injustiças sociais. Mas isso não impede a construção social de um:

"[...] imaginário massificado e alienado do compartilhamento coletivo de uma fantasia ubíqua de bem-estar absoluto e de preenchimento da completude da existência pelo consumo irrestrito de bens materiais, que permite esconder as condições miseráveis da existência."14

Contra a falta, propõe-se a fantasia de completude. É esta a analogia com o mecanismo fundamental da perversão, ainda que, aqui, eu não me refira à perversão como uma estrutura do sujeito; valho-me da analogia somente para destacar uma característica da sociedade capitalista contemporânea.15 Na Ciência e na organização capitalista da sociedade depositam-se as esperanças de superação completa de todos os males e acontecimentos que sempre angustiaram o ser humano. E isso nos afasta da necessidade imperativa de nos confrontarmos com as realidades inescapáveis das limitações da nossa existência, da mortalidade e das imperfeições e contradições de nossa sociedade.

As palavras que definem a ética vigente são hedonismo e império do consumo, com tudo que apresentam de libertadores, de um lado, ao resgatarem para o ser humano o direito ao prazer e à legitimidade do seu desejo, mas, também, por outro lado, com uma lógica simplificadora e empobrecedora, que restringe a uma única dimensão (exatamente a mais óbvia, imediata e vulgar) o significado de satisfação do desejo e do sentido existencial. O ser humano dos séculos passados pretendia ser grave e profundo e queria que seus problemas e questões fossem importantes e significativos. O do século XXI quer ser apenas divertido, leve, superficial e prazeroso. E zomba com ar blasé de toda pretensão de se conferir seriedade a qualquer tema ou questão.

Com o capitalismo e a modernidade, desenvolveu-se ao máximo a idéia do indivíduo como centro das propostas de sentido para a existência humana, porém, na versão particular limitante do indivíduo em busca do exclusivo sucesso pessoal e do gozo pelo consumo. E, além do mais, sem a esperança de novas transformações históricas. A alienação e a ideologia não mais se derivam da falta de consciência da realidade, por trás de tapeações e simulacros. Fundamentam-se na convicção de que a imagem aparente e o simulacro constituem a única realidade social.

Neste contexto, mesmo a busca de uma suposta imortalidade da alma, como bálsamo suavizador para a realidade da mortalidade corpórea e como tentativa de solução do enigma da existência, assume características particulares. De um lado, as religiões continuam derivando-se, como sempre ocorreu ao longo dos tempos, da procura de respostas totalizantes, absolutas e definitivas para as inquietações existenciais e também de completamento de todas as lacunas e mazelas originadas da vida terrena. De outro lado, porém, as religiões atuais não têm como furtar-se às mais comezinhas reivindicações mundanas e materiais. O homem religioso do capitalismo do século XXI exige um "pacote tranqüilizador" que reúna a salvação da alma e o sucesso nos negócios. E tudo isso, em cultos que combinem a virtude dos sacramentos com os benefícios da ginástica aeróbica.16 E é desta forma, com um "pé na canoa" da imortalidade da alma e o outro no da promessa de suprimento de todos os desejos materiais, que ele busca a sua religação com a totalidade e o Absoluto, sem, no entanto, descuidar-se de suas metas de consumo.

 

Palavras finais

O objetivo deste texto foi empregar o ferramental teórico e metapsicológico da Psicanálise para realçar alguns aspectos distintivos da alienação do sujeito no capitalismo neoliberal de nossos dias. Surgido como uma revolução no modo de estruturação das relações sociais, econômicas e políticas, e acenando com uma promessa de libertação das potencialidades humanas e de distribuição mais eqüitativa da participação nos processos decisórios sociais, o capitalismo mostrou, desde o início, contradições que evidenciaram sua incapacidade de progredir sem frustrar estas mesmas expectativas que impulsionaram seu desenvolvimento.

É exatamente por este motivo que uma imensa produção cultural ideológica destinada a encobrir as suas mazelas tem constituído um instrumento relevante, ao lado da alienação diretamente implicada pelo seu modo próprio de estruturação das relações de produção, destinado a tentar reparar as fissuras que abalam o sistema e que podem colocar em risco a sua continuidade. Daí a pregação insistente da maior parte da mídia, alinhada à manutenção do sistema vigente, que convoca o sujeito contemporâneo à sustentação da estrutura de relações sociais existentes. A isto se agrega também uma parcela considerável da produção científica, literária, artística e filosófica, encarregada de oferecer, a essa imensa massa ideológica cultural continuísta e conservadora, os alicerces de legitimação dotados de respeitabilidade e autoridade intelectuais socialmente reconhecidas.

É na contramão deste movimento continuísta que se posiciona o presente texto, ao buscar, no corpo de conhecimentos da Psicanálise, referências relevantes para traçar as decorrências subjetivas, nem sempre evidentes, do projeto neoliberal em andamento. Decorrências que buscam enfraquecer e minar a implicação e a responsabilidade do sujeito para com os acontecimentos históricos e sociais e que, infelizmente, muitas vezes parecem bem sucedidas. O sujeito do capitalismo contemporâneo aparece muitas vezes como um desencantado radical em relação a projetos políticos de grande porte e a transformações substanciais da realidade social. Apático e desesperançado, o seu horizonte de futuro é o chamado "fim da História"17. "A História - disse Stephen [Stephen Dedalus: personagem de "Ulisses", de James Joyce] - é um pesadelo de que tento despertar-me".18

No filme "Matrix", Cypher, um dos personagens, negocia a traição do resto do seu grupo de humanos em troca do retorno ao mundo tranqüilo e prazeroso das imagens oníricas programadas pelo computador e possibilitadas pela biotecnologia. "Estou cansado desta guerra, deste barco, de sentir frio, de comer a mesma gororoba todo dia. (...) Eu escolho a Matrix, vou voltar a dormir. Quando acordar não me lembrarei de nada." Seria este o caminho de escolha do ser humano do futuro? O do apagamento de todo sentido histórico e a completa falta de esperança em todos os projetos coletivos, não 'perversos', para o destino da Humanidade?

Ou será que, mais uma vez, a criatividade e o potencial de transformação dos seres humanos alocarão, no passado, aquilo que um dia teve a feição de um presente inexaurível?

 

Referências

AMARAL, Stella Ferraretto do. O futuro de uma ilusão capitalista: Padre Marcelo Rossi e a Renovação Carismática Católica. Dissertação de Mestrado. Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2004.        [ Links ]

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Endereço para correspondência
raulpachecofilho@uol.com.br

Recebido em 26/4/2005

 

 

*Psicólogo e psicanalista, coordenador do Núcleo de Pesquisa Psicanálise e Sociedade do Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Social da PUC-SP e professor-titular da Faculdade de Psicologia da PUC-SP.
1TORRES, Henrique (1989). Una perversión llamada deseo. In: Figueira, Sérvulo Augusto (Org.). Interpretação: sobre o método da Psicanálise. Rio de Janeiro: Imago, 1989.
2PACHECO FILHO, Raul Albino. O conhecimento da sociedade e da cultura: a contribuição da Psicanálise. Psicologia e Sociedade - Revista da Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO), 9 (1/2): p.124-138, jan./dez. 1997, p. 131.
3PEREIRA, Mário Eduardo Costa. Pânico e desamparo. São Paulo: Escuta, 1999.
4FREUD, S. (1913) Totem und Tabu. In: Totem e Tabu. Ed. Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas. Rio de Janeiro: Imago, 1987, vol. XIII, 1987.
5PACHECO FILHO, Raul Albino. O conhecimento da sociedade e da cultura: A contribuição da Psicanálise, op. cit., 1997, p. 128-129.
6PACHECO FILHO, Raul Albino. Migração, desamparo, racismo e xenofobia. In: Carignato, Taeco Toma; Rosa, Miriam Debieux; e Pacheco Filho, Raul Albino (Orgs.) Psicanálise, cultura e migração. São Paulo: YM, 2002.
7Folha de São Paulo, 21 de março de 2005, p. D5.
8Folha de São Paulo, 5 de junho de 2002, caderno “Mundo”, p. A18
9“A grande vitória da direita nas eleições holandesas reforça a percepção de que a Europa atravessa uma onda conservadora. Partidos de direita e de extrema direita estão obtendo sucessos eleitorais extraordinários no velho continente. A idéia de que existe uma tendência se impõe. Primeiro foi Jörg Haider na Áustria, depois Berlusconi com os neofascistas na Itália. Mais recentemente, veio Le Pen na França, para não mencionar os bons desempenhos de partidos fortemente conservadores na Dinamarca, na Bélgica e na Suíça.” [Folha de São Paulo, 20 de maio de 2002, p. A2.]
10Mais adiante, comento minhas reservas em relação à adoção desse termo para caracterizar o fenômeno em questão.
11Debord, Guy (1967) La société du spetacle. Paris, Buchet-Chastel. Tradução brasileira: A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro, Contraponto, 1997.
12Considere-se a seguinte opinião: “Guy Debord e os outros situacionistas franceses estão na moda. É o pior que lhes poderia acontecer. Pois a moda é o oposto da crítica. Crítica radical não pode virar modismo sem perder a alma. Na leitura pós-moderna em voga, a declaração de guerra situacionista à ordem dominante parece uma crítica aos meios de comunicação, tão ao gosto da própria mídia, no melhor estilo de um Neill Postman, ou uma manobra culturalista para esquerdistas «criativos» que gostam de surfar, aparentemente de modo radical, nas ondas da indústria da consciência. Mas Guy Debord não merece ser confundido com Baudrillard e ser reduzido ao formato de um pôster pop cultural.” [Kurz Robert (1999) Prefácio à edição brasileira. In: Jappe, Anselm. Guy Debord. Petrópolis, Vozes, 1999, p. 5.]. Considere-se, também, a afirmação a seguir: “Os teóricos sociais pós-modernistas, ao reencenar(sic) debates tradicionais sobre idealismo e materialismo, não transcenderam os termos do debate estabelecidos por Marx e Engels em ‘A ideologia alemã’. Em vez disso, alegam vitória absoluta do idealismo, à medida que a materialidade e a base econômica são jogadas na lata de lixo da história, restando apenas a língua.” [Stabile, Carol A. (1999) Pós-modernismo, feminismo e Marx: notas do abismo. In: Wood, Ellen, M. e Foster, John B. (orgs.) Em defesa da história: marxismo e pós-modernismo. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1999, p.148.]
13Kaufmann, Pierre (1996) Dicionário enciclopédico de Psicanálise: o legado de Freud e Lacan. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, p. 420.
14Pacheco Filho, Raul Albino (1998) Violência, desejo e alienação no neoliberalismo: a questão geral e o caso brasileiro. Trabalho apresentado no VII Encontro Regional da Associação Brasileira de Psicologia Social – ABRAPSO (Regional São Paulo). Bauru (SP), 15 a 18 de outubro de 1998.
15Em um de seus textos [Calligaris, Contardo (1986) Perversão – Um laço social? Salvador, Cooperativa Cultural Jacques Lacan], Calligaris desenvolve a instigante noção de montagem perversa como uma forma de laço social. A despeito do meu reconhecimento da importância desse conceito, não pretendo deter-me, aqui, para articular, a ele, as minhas considerações sobre a sociedade capitalista contemporânea.
16Refiro-me, obviamente, à Renovação Carismática Católica e à ‘aeróbica do Senhor’, do Padre Marcelo Rossi [Veja-se Amaral, Stella Ferraretto do (2004) O futuro de uma ilusão capitalista: Padre Marcelo Rossi e a Renovação Carismática Católica. Dissertação de Mestrado. Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Veja-se também Folha de São Paulo, 28 de fevereiro de 2001, caderno “Brasil”, p. A6.].
17Tese apologética do capitalismo, defendida por Fukuyama, Francis, em O fim da História e o Homem. Tradução brasileira: Rio de Janeiro, Rocco, 1992.
18[Tive a atenção despertada para essa passagem, a partir da leitura de um texto, de que, infelizmente, não me recordo] Joyce, James (1922) Ulisses. Edição consultada: Ulisses, Rio de Janeiro, Record, s.d. (Mestres da Literatura Contemporânea), p. 30.

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