SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.3 issue4 author indexsubject indexarticles search
Home Pagealphabetic serial listing  

Mental

Print version ISSN 1679-4427On-line version ISSN 1984-980X

Mental vol.3 no.4 Barbacena June 2005

 

RESENHAS

 

 

Maria Claurinda Pereira dos Santos Reis*

UNIPAC/Ubá

 

 

GOLDFARB, Delia Catullo. Demências. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004. 274p. ISBN 85-7396-398-0

 

 

Nesta obra a autora apresenta o resultado de mais de dez anos de experiência clínica e de atividades desenvolvidas em instituições, entidades e associações. Quando iniciou seu trabalho, havia pouca bibliografia específica que fosse capaz de responder as muitas questões referentes ao idoso. Talvez tenha começado, ali, o seu maior desafio, pois desvendar os mistérios da mente na idade senil é, com certeza, uma experiência de grandeza ímpar.

Demências se compõe de seis capítulos. No primeiro - "Mal-Estar e envelhecimento" - são retratados os sentimentos do idoso com toda sua subjetividade: o desamparo, a angústia, o lugar do mal-estar. Baseada em Freud, a autora nos mostra que as as condições da Psicanálise tornam-se desfavoráveis aos indivíduos com idade próxima aos 50 anos. O acúmulo de material psíquico dificulta o trabalho, de modo que o tempo necessário para a recuperação se torna longo demais, inibindo a descoberta de novos processos psíquicos. O atual envelhecimento populacional vem criando, portanto, um novo desafio à psicanálise.

Goldfarb questiona se a demência é uma questão de diagnóstico ou de condenação. A autora esclarece que os principais motivos das consultas de idosos em clínicas psicanalíticas têm sido os problemas de memória e a depressão, havendo uma relação de causalidade entre eles.

No capítulo III, os conceitos de tempo, história e memória são retratados à luz da teoria freudiana. A autora explica que a memória se forma devido às diferentes intensidades de atuação dos neurônios. Existe memória pelo fato de haver diversos caminhos possíveis para o armazenamento de informações; se houvesse igual possibilidade para todas as opções, a memória deixaria de existir.

Em "História em construção", destacam-se as considerações da autora sobre o eu e seus ideais, principalmente no que diz respeito à relação entre as atividade de pensar e a realidade. Segundo Goldfarb, "No discurso freudiano, o termo ich é utilizado de diferentes maneiras, incluído em tramas teóricas diversas. Pode ser definido como pólo do conflito psíquico, como sede dos mecanismos de defesa e almácego da angústia, como instância de uma estrutura psíquica, ligado ao narcisismo, como eu ideal e ideal do eu, como eu prazer, eu realidade, eu consciente e inconsciente".

No capítulo V - "Introdução a uma patologia das demências" - desenvolvem-se os conceitos de desinvestimento, demência e pulsão de morte que resultam em depressão, angústia, dissolução do eu, memórias e esquecimento.

Em "Perspectivas terapêuticas. Apostas e desafios", a autora descreve seu trabalho com pacientes afetados por demências de origens variadas, que exigem um atendimento de equipe interdisciplinar, incluindo a família e o entorno social do paciente.

Percebe-se, no curso da obra, a preocupação da autora em retratar todas as possibilidades de se fazer uma leitura psicanalítica das demências, ao transmitir com clareza os obstáculos e as sensações encontradas no trabalho com pessoas com aparelhos psíquicos em desconstrução. Quanto mais obstáculos são vencidos, mais fascinante se torna o trabalho.

É difícil definir a velhice, mas Goldfarb nos mostra a necessidade de abordarmos de maneira minuciosa esse conceito para que as demências senis sejam detectadas cada vez mais cedo e para que possamos oferecer ao paciente melhores condições de lidar com a perda da memória e com os transtornos que ela pode causar. A autora ressalta, também, quão importante é o papel do cuidador, aquele que está sempre presente, acompanhando com paciência, afeto e dedicação o cotidiano do idoso.

Vale destacar a fala de um idoso, relatada por um enfermeiro de uma instituição asilar: "Dizem que o cemitério é última morada, mas lá todo mundo está morto; a verdadeira última morada é esta." (p. 257). Cabe, pois, a cada um de nós, profissionais da área de saúde ou não, tratar os idosos com todo o respeito, não só por acharmos que são velhos, mas principalmente por podermos fazer com que vivam melhor, transformando nos melhores anos de vida o que, para alguns, pode parecer o fim.

 

 

*Aluna do 3º período do curso de Psicologia da UNIPAC/Ubá

 

Creative Commons License