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Mental

versão impressa ISSN 1679-4427versão On-line ISSN 1984-980X

Mental v.4 n.6 Barbacena jun. 2006

 

RESENHAS

 

Ivanir Masterson Pacheco*

UNIPAC-Ubá

 

 

SILVA, Rosane Neves da. A invenção da psicologia social. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005. 132 p. ISBN 85.326.3163-0

O que é o social? Certamente, não só os psicólogos sociais, mas também qualquer outra pessoa com um pouco de conhecimento sobre senso comum poderia demonstrar algum conhecimento a respeito deste tema. A autora Rosane Neves vai além, ao fazer uma interessante abordagem e problematização de vários acontecimentos que influenciaram na formação da história e da identidade da Psicologia Social e mostrar que essa ciência também tem seus antecedentes históricos.

Rosane Neves da Silva é psicóloga, mestre em Psicologia Social (PUCRS) e doutora em educação (UFRGS). Atualmente é professora do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e trabalha no programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional.

De uma forma profunda, investigativa e objetiva, a autora descreve alguns acontecimentos históricos relativos à questão social e os compara com relatos de autores como Deleuze e Michel Foucault, que enriquecem o texto e disponibilizam novos conhecimentos a respeito do tema. Dessa forma, são apresentados detalhes que influenciaram a construção do conceito sobre Psicologia Social.

O livro A invenção da psicologia social é fruto da tese de doutorado intitulada Cartografia do social: estratégias de produção de conhecimento. Ele se divide em quatro capítulos que, de forma estratégica, abrem caminhos para compreensão de que a Psicologia Social também abrange os aspectos ligados aos sistemas político, econômico, industrial e capitalista e vários outros aspectos que surpreendem os leitores.

No primeiro capítulo, a autora apresenta o surgimento do social, baseado não em relatos cronológicos de acontecimentos, mas em fatos, como a Revolução Industrial e o fenômeno das multidões no fim do século XIX, que deixam de ser simples evidências e passam a influenciar diretamente no surgimento de diversos modos de produção de subjetividade na relação entre indivíduo e sociedade. O surgimento desses modos de subjetividade se tornam uma problemática a ser discutida em todo o livro. Nessa passagem da evidência à problematização, a autora usa como ferramenta de sua metodologia, textos relacionados à obra de Michel Foucault, criando algumas definições às quais denominou de configurações do social. Esse capítulo focaliza a Psicologia Social como campo específico de saberes e práticas que irá se constituir a partir de uma sociedade que deixa de ser do tipo disciplinar para se tornar uma sociedade de controle.

No segundo capítulo, são apresentados os elementos que contribuíram para as primeiras aproximações entre o individual e o social. Baseada em tais elementos, a autora nos mostra três modos de individualização do social. No primeiro momento teremos o problema das massas no fim do século XIX e, com a ajuda da obra de Le Bon, mostra-nos que tal situação, ao contrário do que muitos pensam, é um fenômeno de caráter mais psicológico do que político-econômico. No segundo momento mostra-se as várias modificações ocorridas no âmbito da família que, na época, deixa de ser modo de produção econômica para adquirir características da sociedade industrial do século XIX. Por fim, o conceito europeu, principalmente o de coletividade referente às massas, perde o seu espaço a partir do surgimento da Psicologia americana, que considerava o indivíduo como principal meio de produção, criando, assim, uma forma de produção individualizante e disciplinada. O indivíduo se torna a principal forma para se pensar o social.

No terceiro capítulo, a autora apresenta a metodologia genealógica usada na produção de conhecimento relativo à Psicologia Social, enfatizando a criação de um diagnóstico do presente dessa ciência e não a idéia de cronologia do passado. Ao procurar trazer novo significado ao presente, deixando de lado a dicotomia entre indivíduo e sociedade, mostra que não só os diversos elementos, mas, também, as diversas multiplicidades que se referem a ambos serão as principais formas de desencadear novos conceitos para o social. A autora encerra o capítulo, ao expor que, inicialmente, é a Psicologia que deve ser explicada pelo social e não o contrário.

No quarto capítulo, são retomadas as principais idéias citadas em todo o texto, por meio dos quais a autora apresenta uma atual e definida configuração do social: influenciada pelo sistema capitalista, com características de sociedade de controle e portadora de uma subjetividade cada vez maior. A autora também mostra, sob diversos paradigmas, áreas nas quais a Psicologia Social teria que atuar nos tempos atuais.

A invenção da Psicologia Social é um livro que, de forma bastante peculiar, mostra um tecido social composto por diversas características e modos de produção de conhecimento que, até então, muitos não puderam perceber.

 

 

* Aluno do 3º período de Psicologia da UNIPAC-Ubá.

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