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Mental

versión impresa ISSN 1679-4427versión On-line ISSN 1984-980X

Mental v.6 n.11 Barbacena dic. 2008

 

ARTIGOS

 

A influência de Hughlings Jackson sobre a teoria freudiana da memória e do aparelho psíquico

 

Hughlings Jackson’s influence on the Freudian theory on memory and the psychic apparatus

 

 

Fátima Caropeso*

Departamento de Filosofia da Universidade Estadual de Campinas

 

 


RESUMO

No texto “Sobre a concepção das afasias” (1891), a influência das ideias do neurologista inglês Hughling Jackson sobre as hipóteses elaboradas por Freud é bastante evidente, sendo reconhecida pelo próprio autor. Em seus textos psicanalíticos posteriores, em momento algum Freud volta a se referir explicitamente a Jackson. No entanto, a influência deste neurologista sobre Freud parece ter se mantido ao longo de sua obra metapsicológica. Os objeti¬vos deste artigo são retomar algumas das hipóteses de Jackson e apontar como essas ideias influenciaram as sucessivas elaborações da teoria freudiana do aparelho psíquico, fornecendo o modelo pelo qual Freud pensou tanto a gênese deste aparelho, como o seu funcionamento normal e patológico.

Palavras-chave: Psicanálise freudiana, Hughlings Jackson, Aparelho psíquico, Memória.


ABSTRACT

In Freud’s text On Aphasia (1891), the influence of the British neurologist Hughlings Jackson’s ideas on the hypotheses formulated is very clear, and was acknowledged by Freud himself. In his later psychoanalytic texts, Freud no longer explicitly refers to Jackson. However, Jackson’s influence would appear to persist throughout the development of Freud’s meta-psychological work. The objective of this paper is to discuss some of Jackson’s ideas and try to show the impact on the elaboration of the Freudian theory of the psychic apparatus, providing the model used by Freud to conceive the source of such apparatus, as well as its normal and pathological workings.

Keywords: Freudian psychoanalysis, Hughlings Jackson, Psychic apparatus, Memory.


 

 

No texto “Sobre a concepção das afasias” (1891), a influência das ideias do neurologista inglês Hughling Jackson sobre as hipóteses elaboradas por Freud é bastante evidente, sendo reconhecida pelo próprio autor. Em seus textos psicanalíticos posteriores, em momento algum Freud volta a se referir explicitamente a Jackson. No entanto, apesar dessa ausência de referência explícita, a influência deste neurologista sobre Freud parece ter se mantido em parte significativa de sua obra. Embora, como aponta Fullinwider (1983), muito mais atenção tenha sido dada à influência que os professores vienenses (Brucke, Meynert, Exner) teriam exercido sobre Freud, a relação entre Jackson e Freud já foi objeto de alguns estudos cruciais para a história das ideias psicanalíticas. O estudo de Stanley Jackson (1969) aponta a inspiração jackso¬niana do conceito freudiano de “regressão”. O próprio Fullinwider (1983) ressalta a influência que Jackson exerceu sobre a teoria freudiana da linguagem e do inconsciente, permitindo a Freud superar as limitações das concepções meynertianas. Solms e Saling (1986) também ressaltam a grande importância que a adoção por Freud da “doutrina da concomitância” de Jackson teve para o desenvolvimento de sua teoria psicanalítica. Goldstein (1995) aponta a influência de Jackson sobre a hipótese freudiana da repressão e sobre o mecanismo pelo qual uma representação poderia se tornar consciente. Honda (2002) sugere que as prescrições metodológicas de Jackson para a investigação das doenças mentais, as quais teriam, segundo ele, sido influen¬ciadas pelas ideias de Stuart Mill, constituíram a base da metodologia freudiana.

Neste artigo pretendemos contribuir para essa reflexão sobre as relações entre Freud e Jackson, tomando como ponto de contato entre os dois autores a influência que os conceitos de “evolução” e “dissolução” do sistema nervoso e de níveis hierárquicos de organização dos estímulos sensório-motores neste sistema exerceram sobre a teoria freudiana da memória e do aparelho psíqui¬co. Pretendemos argumentar que a influência de Jackson se manteve e foi o elemento central das sucessivas elaborações da hipótese do aparelho psíquico por Freud. Iniciaremos apresentando algumas das hipóteses de Jackson sobre o desenvolvimento e a organização dos processos nervosos para, em seguida, discutirmos a sua influência sobre a teoria freudiana.

 

1. HIPÓTESES DE JACKSON SOBRE O SISTEMA NERVOSO

Hughlings Jackson propõe uma hipótese sobre a organização e o funciona¬mento do sistema nervoso divergente da concepção “localizacionista” que predominava na neurologia do fim do século XIX. De acordo com essa última concepção, os diversos segmentos dos hemisférios cerebrais seriam a sede de diferentes funções, que poderiam ter suas localizações precisas estabeleci¬das a partir da correlação entre os sintomas resultantes de lesões cerebrais e a localização dessas lesões, ou seja, a partir do método clínico-patológico. Essa visão passou a predominar como consequência das descobertas de Broca sobre a localização das funções da linguagem (YOUNG, 1990). Esse neurologista apresentou à Sociedade Anatômica de Paris, em 1861, o caso de um paciente portador de afasia motora, cuja lesão, segundo suas conclusões, havia iniciado em uma área circunscrita da terceira circunvolução frontal, o que o levou a inferir que nessa região se situava uma faculdade específica que coordenava os movimentos da linguagem. Após as apresentações de Broca e de outras que pareciam confirmar as suas constatações, o ponto de vista de que os diversos segmentos da superfície dos hemisférios seriam a sede de diferentes funções voltou a predominar 1 e, a partir de então, a localização das funções da fala se tornou uma questão central nas pesquisas neurológicas. Em 1874, o neurologista Carl Wernicke, valendo-se também do método clínico-patológico, estabeleceu a localização da área sensorial da linguagem na região temporal esquerda do cérebro, mas, ao contrário de Broca, recusou a hipótese das faculdades psíquicas inatas. Wernicke (1874) sustentou que nessa região localizava-se o “centro sensorial da linguagem”, que consistiria num local de armazenamento das imagens sensoriais elemen¬tares resultantes da experiência perceptiva da linguagem. Haveria, nos cen¬tros, áreas carentes de função – as “lacunas funcionais” – que possibilitariam o processo de aprendizagem da linguagem, o qual se daria a partir da ocupação de células corticais desocupadas. Os centros seriam associados entre si por áreas corticais exclusivamente associativas, de maneira que seria possível distinguir, no córtex, entre áreas de armazenamento e regiões associativas.

A dedução da localização de funções mediante a associação entre lesões específicas e perda de certas capacidades, baseada no “método clínico-patoló¬gico”, fundamentava-se em dois pressupostos básicos. Em primeiro lugar, na hipótese de que cada região do cérebro era a sede de uma função diferente e, em segundo, na hipótese de que cada uma dessas funções era indepen¬dente, ou seja, de que uma lesão circunscrita pudesse afetar apenas uma determinada função, deixando as demais intactas. De acordo com a concepção localizacionista, o efeito de lesões no cérebro seria diretamente resultante da perda de função da área lesionada, o que tornava possível inferir a localiza¬ção da lesão a partir do sintoma, assim como fazer a previsão de um certo quadro clínico específico a partir da localização da lesão.

Partindo da observação de patologias nervosas, em especial da epilepsia e das afasias, Jackson (1879-80) propõe uma outra maneira de pensar a organização do sistema nervoso. Ele discorda da hipótese localizacionista, segundo a qual uma área cerebral delimitada representaria somente os movi¬mentos do braço ou da linguagem, e assim por diante. Segundo ele, seria incorreto afirmar que uma área representa apenas uma informação x ampla¬mente, enquanto outra representa apenas uma informação y amplamente2, pois nenhuma região do cérebro conteria apenas representações de um tipo. O centro para o braço, por exemplo, representaria este membro muito especialmente, mas representaria também a perna e a face de forma mais geral. Sendo assim, uma lesão nesse centro provocaria uma paralisia intensa do braço e uma superficial, ou nenhuma, nos demais membros, pois estes seriam amplamente representados em outras partes. Portanto, cada centro representaria todas as partes, mas representaria alguma parte do corpo mais especialmente. “Cada unidade do centro nervoso é o todo daquele centro em miniatura”, diz ele (JACKSON, 1879-80, p. 190).

Sob influências das ideias de Herbert Spencer, Jackson (1884) propõe que o sistema nervoso consistia em um mecanismo sensório-motor, da base ao topo, no qual seria possível diferenciar entre três níveis de organização – os centros inferiores, os intermediários e os superiores –, os quais teriam se constituído por um processo de “evolução”. Os centros sensório-motores superiores teriam evoluído a partir dos intermediários, estes a partir dos centros inferiores, e estes a partir da periferia do sistema nervoso. “Evolução” significa, portanto, a passagem dos centros inferiores, que seriam mais organi¬zados, mas simples e mais automáticos, para os centros superiores, que seriam menos organizados, mais complexos e menos automáticos, ou “mais voluntários”, como afirma Jackson (1884) 3. As disposições nervosas superiores teriam evoluído fora dos limites das inferiores, mas passariam a controlá-las, no funcionamento nervoso normal, assim como um governo evoluído a partir de uma nação passa a controlar essa nação, exemplifica Jackson. Haveria, portanto, como sintetiza Stanley Jackson: “uma hierarquia de níveis funcionais em que cada nível envolveria coordenações de complexidade maior, mais controle e inibição das funções dos níveis inferiores” (JACKSON, 1969, p.i750).

Os centros superiores, apesar de serem os mais complexamente evoluí¬dos, seriam os menos perfeitamente evoluídos. A evolução desses centros estaria ativamente ocorrendo, enquanto em alguns centros inferiores ela seria quase completa. Jackson afirma que se os centros superiores fossem perfeitamente automáticos, não haveria atividade voluntária, pois não haveria possibilidade de ajustamento do comportamento às circunstâncias: nós já seríamos adaptados a condições externas particulares.

Segundo Jackson (1884), cada um dos centros representaria o mesmo material do centro inferior, além de novos materiais, de maneira que seria possível descrevê-los como “representativos”, “re-representativos” e “re-re-representativos”. Os centros inferiores (“representativos”) seriam os mais simples e mais organizados e representariam quase diretamente algumas regiões limitadas do corpo. Os centros intermediários (“re-representativos”) representariam amplas regiões do corpo duplamente indiretamente. Os centros superiores (“re-re-representativos”) representariam todas as partes do corpo triplamente indiretamente. Portanto, os centros intermediários representariam mais uma vez tudo o que os centros inferiores representariam e os centros motores superiores representariam mais uma vez, em combina¬ções mais complexas, tudo o que os centros intermediários representariam. Os centros superiores constituiriam o “órgão da mente” ou a base física da consciência. Assim como a consciência representaria o todo da pessoa psíquica, sua base anatômica representaria o todo da pessoa física, ou seja, representaria movimentos e impressões sensoriais de todas as partes de seu corpo.

Jackson propõe que os distúrbios nervosos consistem em reversões do processo de evolução, ou seja, em “dissoluções”. Nestas, os processos mais complexos e menos organizados seriam atingidos antes daqueles mais simples e mais organizados. O que ocorreria seria, na verdade, a liberação de um nível de funcionamento inferior devido à perturbação e, portanto, à perda de controle dos processos superiores em relação aos inferiores: “a perda do menos organi¬zado, mais complexo e mais voluntário, implica a retenção do mais organizado, menos complexo e mais automático” (JACKSON, 1884, p.i46).

O autor diferencia os casos de dissolução em dois grupos: dissolução “uniforme” e “local”. Na dissolução uniforme, todo o sistema nervoso estaria sob as mesmas condições; sua evolução seria uniformemente revertida. Nesse caso, os diferentes centros não seriam igualmente afetados. Ele cita como exemplo a ação do álcool, substância esta que, quando ingerida, altera o funcionamento de todas as partes do sistema nervoso, mas afeta primeiro e mais os centros superiores; os centros intermediários, por serem mais organizados, resistem por mais tempo e os inferiores, sendo os mais organizados, são os que mais resistem. Na dissolução local, como a doença atingiria apenas uma parte do sistema nervoso, ocorreria a reversão local da evolução, na ordem do funcionamento menos para o mais automático. A dissolução local poderia ocorrer em qualquer nível evolucionário e poderia afetar principalmente os centros sensoriais ou motores.

Em todos os casos de dissolução4, a sintomatologia do sistema nervoso seria uma condição dupla: haveria elementos positivos e negativos. Os estados negativos consistiriam na perda de função de alguma parte de algum dos centros. Os estados positivos consistiriam nos processos que continuariam ocorrendo, apesar do prejuízo, ou seja, na atividade das partes do centro que não foram afetadas por processos patológicos. O processo de dissolução não seria apenas uma retirada do funcionamento superior, mas também uma liberação do inferior, e, nesse sentido, os sintomas positivos não seriam causados pela dissolução, mas “permitidos” por ela. Jackson sustenta que diferentes tipos de insanidades seriam diferentes dissoluções locais dos centros superiores. Os sintomas positivos, que neste caso seriam a mente dos enfermo, consistiriam na sobrevivência de seus estados inferiores mais adaptados:

A mais absurda produção mental e as mais extravagantes ações na pessoa insana são a sobrevivência de seus estados mais adapta¬dos. Eu digo “adaptado”, não “melhor”; com relação a isso, o evolucionista não tem nada a fazer com bom ou mau. Nós não precisamos imaginar que um homem insano acredita no que nós chamamos suas ilusões; elas são suas percepções. Essas ilusões, etc. não são causadas pela doença, mas são o resultado da ativi¬dade do que restou dele (do que a doença poupou), de tudo o que há, então, dele; suas ilusões, etc., são sua mente (JACKSON, 1884, p.47).

Jackson (1884) explica o sono também a partir de um processo de dissolução. No sono, diz ele, as camadas mais superiores dos centros superiores – aquelas nas quais organizações inteiramente novas podem ser estabelecidas – estariam em atividade reduzida e as disposições nervosas inferiores desses centros estariam em atividade mais intensa, do que se pode concluir que os sonhos resultariam da atividade desses níveis inferiores.

 

2. A CRÍTICA FREUDIANA DO LOCALIZACIONISMO EM “SOBRE A CONCEPÇÃO DAS AFASIAS”

A revisão crítica das teorias localizacionistas sobre o funcionamento normal e patológico da linguagem, empreendida por Freud em “Sobre a concepção das afasias”, o leva a recusar os pressupostos centrais das teorias localizacionistas. Ele se apoia, em grande medida, nas ideias de Hughlings Jackson para elaborar uma concepção alternativa do que ele chama de “área” e “aparelho” de linguagem . Freud menciona Jackson como o “autor sobre cujas opiniões tenho baseado quase todos os argumentos que venho empre¬gando para refutar a teoria localizacionista das afasias” (FREUD, 1891, p.i75).

Freud argumenta que a hipótese de que as funções da linguagem estejam sediadas em regiões delimitadas do cérebro – que poderiam ser especificadas a partir da correlação entre os sintomas e a localização de lesões –, assim como a hipótese de que essas funções atuem de maneira independente umas das outras, não pode ser sustentada. 5 Segundo ele, a “área da linguagem” seria uma área cortical homogênea, onde ocorreriam processos associativos similares, portanto onde não seria possível diferenciar entre “centros” (que seriam áreas de armazenamento) e “vias associativas” (que associariam os centros entre si). 6

Freud formula a ideia de “sobreassociação” (Superassoziation) para pensar o modo como se daria o processo de aquisição da linguagem. Ele argumenta que a ideia sustentada por Wernicke, seguindo a teoria de Meynert, de que a aprendizagem da linguagem consistiria em um processo de ocupação de células corticais desocupadas – das chamadas “lacunas funcionais” –, revela-se insustentável quando se leva em conta a forma como a linguagem se desintegra nas afasias. Se o processo de aprendizagem da linguagem ocorresse dessa forma, argumenta Freud, seria possível que, como resultado de uma lesão cerebral, uma linguagem primariamente adquirida fosse prejudicada e uma adquirida posteriormente se mantivesse intacta, dado que ambas estariam contidas em áreas diferentes do cérebro. No entanto, quando se analisa a forma como a linguagem se desintegra nas afasias, percebe-se que isso nunca ocorre. Uma linguagem primariamente aprendida nunca é afetada antes que uma aprendida mais tarde, a menos que esta última tenha sido mais utilizada que a primeira. Freud argumenta que a influência da ordem da aquisição da língua e a influência da prática são os dois fatores que determinam o caráter do transtorno de linguagem em poliglotas e que esses fatores atuam sempre na mesma direção: o prejuízo da linguagem segue sempre a ordem contrária à da aprendizagem, ou seja, as línguas posteriormente adquiridas são sempre as primeiras a serem afetadas, a não ser que uma língua adquirida mais tarde tenha sido mais usada que a materna. Isso permite a inferência de que a aprendizagem da linguagem se dá por um processo de “sobre-associação”, ou seja, todas as aquisições da linguagem se sobre-associam e, portanto, envolvem a mesma área cerebral. Como diz Freud: “ (...) um novo conjunto de associações pode sobrepor-se às associações já estabelecidas que intervêm na fala. O conjunto de associações sobrepostas é danificado entes que o primário, seja qual for a localização da lesão” (FREUD, 1891, p. 75).

Com essas hipóteses, Freud substitui a explicação localizacionista da aprendizagem da linguagem e da desintegração desta nas afasias pelos conceitos de “evolução” e “dissolução” de Jackson. O “aparelho de linguagem” seria constituído por processos associativos funcionalmente similares, que se sobreporiam uns aos outros. Dessa forma, haveria vários níveis de funciona¬mento coexistindo no aparelho de linguagem, cada um dos quais correspon¬deria a momentos diferentes do desenvolvimento da linguagem na vida do indivíduo. As lesões parciais na área da linguagem afetariam os níveis de funcionamento numa ordem que iria dos superiores e mais recentemente estabelecidos para os inferiores e mais arcaicos. Nesses casos, portanto, os modos de funcionamento primários voltariam a prevalecer. Na verdade, Freud combina o conceito de “dissolução” de Jackson com a ideia de “níveis de redução da excitabilidade dos centros” de Charlton Bastian para explicar a desintegração da linguagem nas afasias (CAROPRESO, 2008a). Mas não cabe aqui entrarmos nessa questão.

A hipótese de Jackson de que haveria sucessivas representações dos dados sensoriais e motores no sistema nervoso também parece ter influencia¬do Freud em “Sobre a concepção das afasias” (1891). Em substituição à ideia de Meynert de que haveria uma projeção ponto-a-ponto dos estímulos que alcançam a periferia do sistema nervoso no córtex, Freud propõe a hipótese de que, na condução dos estímulos sensoriais e motores da medula ao córtex, esses seriam sucessivamente reorganizados na passagem dos feixes de fibras pelos núcleos de matéria cinzenta, de maneira que aquela informação que alcançasse o córtex possuiria uma relação indireta com aquela que partisse da periferia:

(...) os feixes de fibras, que chegam ao córtex cerebral depois de haver passado por outras massas cinzentas, mantêm alguma rela¬ção com a periferia do corpo, porém já não refletem uma imagem topograficamente exata dela. Contêm a periferia do corpo da mesma maneira que – para tomar um exemplo do tema que nos interessa aqui – um poema contém o alfabeto, isto é, uma disposi¬ção completamente diferente que está a serviço de outros propósi¬tos,com múltiplas associações dos elementos individuais nas quais alguns podem estar representados várias vezes e outros estar total¬mente ausentes (FREUD, 1891, p. 68).

Os processos associativos corticais correspondentes às “representações de palavra” corresponderiam, portanto, ao último estágio das sucessivas reor¬denações que a informação sensorial e motora sofreria desde o seu ingresso na medula. Essa ideia – claramente de inspiração jacksoniana – das sucessivas representações dos mesmos conteúdos ao longo da organização nervosa é estendida à organização da memória na Carta a Fliess de 6 de dezembro de 1896 (Carta 52) e irá constituir uma das ideias centrais do conceito freudiano de “aparelho psíquico”.

 

3. A APLICAÇÃO DAS IDEIAS DE JACKSON À ORGANIZAÇÃO DA MEMÓRIA

Quando Freud conclui que não são experiências traumáticas reais que estão na origem das neuroses, ou seja, que não são experiências de abuso sexual efetivamente vivenciadas, mas sim fantasias infantis, ele se vê diante da necessidade de explicar como um desejo pode vir a ser reprimido. No “Projeto de uma psicologia”(1950[1895]), ele havia formulado a hipótese de um aparelho neuronal constituído por três sistemas: um sistema responsável pela percepção (phi), um responsável pela memória (psi) e outro responsá¬vel pela consciência (ômega). Os processos que ocorressem nesse aparelho seriam governados por uma tendência a evitar o desprazer, e é a partir dessa tendência que Freud explica a repressão envolvida nas neuroses. Seriam reprimidas aquelas recordações que se tornassem desprazerosas ou “traumá¬ticas”, devido ao reconhecimento do seu caráter sexual após a emergência da sexualidade na puberdade. Portanto, a repressão seria um mecanismo que estaria de acordo com a tendência fundamental do aparelho evitar o desprazer. Na gênese das neuroses haveria experiências em sua origem inócuas, que se teriam tornado desprazerosas com a emergência da sexua¬lidade, e sido alvo do mecanismo da repressão, o que acabaria levando à produção do sintoma.

Com a constatação de que havia fantasias e não eventos reais potencial¬mente traumáticos na origem das neuroses, surge o problema de conciliar a possibilidade da repressão de um desejo com a tendência de os processos psíquicos evitarem o desprazer. Por que um desejo vem a ser reprimido? De acordo com os princípios já estabelecidos por Freud para pensar o funciona¬mento psíquico, seria preciso supor que um desejo pode acabar evocando um desprazer, o que pressuporia uma mudança qualitativa das recordações a ele relacionadas. Esses fatos impõem uma reformulação na teoria freudiana da memória, que começa a ser realizada na carta a Fliess de 6 de dezembro de 1896, conhecida como carta 52. A solução encontrada por Freud perece ter sido estender a ideia do texto sobre as afasias da reordenação sucessiva da informação perceptiva no processo de condução dessa informação da medula ao córtex ao próprio córtex e, portanto, à organização da memória.

Na carta 52, Freud formula a hipótese de que o mecanismo psíquico se formaria por um processo de estratificação sucessiva. Os traços mnêmicos seriam reordenados de tempos em tempos, de acordo com novos princípios associativos, e esses rearranjos, ou “retranscrições”, dariam origem a diferen¬ciações no sistema de memória, que representariam a operação psíquica de épocas sucessivas da vida. Como essas várias transcrições seriam aquisições psíquicas de diferentes fases do desenvolvimento do sujeito, o sistema psíquico iria se complexificando, ao longo do desenvolvimento deste, à medida que os traços mnêmicos fossem sendo retranscritos. Essa hipótese da estratificação da memória é a grande novidade de sua teoria, segundo Freud:

O essencialmente novo em minha teoria é, então, a tese de que a memória não persiste de maneira simples, mas múltipla, está regis¬trada em diversas variedades de signos. Em outro momento (afasias) afirmei um reordenamento semelhante para as vias que alcançam desde a periferia [do corpo o córtex cerebral] (FREUD, 1950[1896]), p. 274).

Freud afirma que está estendendo à memória a hipótese, apresentada em seu texto de 1891, sobre a reordenação da informação sensorial no percurso de condução desta da medula ao córtex. A formulação dessa última hipótese certamente foi influenciada pela ideia de Jackson sobre os níveis hierárquicos de organização dos estímulos sensório-motores no sistema nervoso. Agora, na carta 52, Freud estende essa hipótese à memória, o que lhe permite fornecer uma explicação para o fato de conteúdos prazerosos virem a ser reprimidos. A qualidade psíquica de certo conjunto de representações poderia mudar com a tradução dessas para o novo registro, ou seja, certo material representacional poderia passar a evocar desprazer quando reordenado de acordo com um novo princípio associativo. Nesse caso, a sua tradução seria evitada e, nisto, consistiria no mecanismo da “repressão”: na não tradução de certo material representacional com o objetivo de evitar o desprazer que seria produzido.

No capítulo 7 de “A interpretação dos sonhos” (1900), Freud retoma a hipótese da estratificação dos sistemas de memória. Ele parece recorrer, nesse texto, ao conceito de evolução para explicar a diferenciação entre pré-consciente e inconsciente e ao conceito de dissolução para explicar a patologia psíquica e a formação dos sonhos.

Na seção B do capítulo 7, Freud apresenta uma representação “tópica” dos sistemas de memória, de acordo com a qual os vários sistemas são representados como localidades diferentes. Os dois últimos sistemas de memória seriam o inconsciente e o pré-consciente. Na seção F desse mesmo capítulo, Freud esclarece que a representação tópica é uma representação auxiliar – utilizada com fins didáticos – e que, na verdade, esses dois sistemas (o inconsciente e o pré-consciente) correspondem a dois tipos processos. A representação desses sistemas como processos, argumenta ele, se “aproxima mais da realidade desconhecida”:

Se as consideramos com maior atenção, as elucidações psicológi¬cas da seção anterior não nos sugerem a suposição da existência de dois sistemas perto do extremo motor do aparelho, mas sim de dois processos ou de dois modos no decurso da excitação. Para nós dá na mesma; sempre devemos estar dispostos a abandonar nossas representações auxiliares quando nos acreditamos em con¬dições de substituí-las por alguma outra coisa que se aproxime mais da realidade desconhecida” (FREUD, 1900, p. 578).

O sistema inconsciente corresponderia a um tipo de processo chamado de “primário”, que se caracterizaria pela livre circulação da excitação pelas representações, e o pré-consciente corresponderia ao “processo secundário”, que se caracterizaria pelo estado “ligado” da excitação, ou seja, pela retenção de uma parte desta nas representações, em vez de sua descarga total, como ocorreria quando a excitação se encontrasse em “estado livre”. O processo primário estaria presente no aparelho desde sua origem – ele representaria a tendência primordial de o aparelho descarregar toda a excitação que o alcançasse – e o processo secundário se estabeleceria pouco a pouco a partir da inibição do primário. Diz Freud:

(...) os primários estão dados naquele desde o começo, enquanto os secundários só se constituem pouco a pouco no curso da vida, inibem os primários, se superpõem a eles, e, talvez somente na plena maturidade consigam submetê-los ao seu total império (FREUD, 1900, p. 572).

A superposição do processo secundário sobre o primário, contudo, não seria total. Freud formula a hipótese de que, devido ao estabelecimento tardio do primeiro tipo de processo, parte do material mnêmico permaneceria inacessível ao pré-consciente, ou seja, este continuaria sendo governado pelo processo primário. Contudo, no funcionamento psíquico normal de vigília o processo secundário exerceria uma inibição sobre o primário, impedindo que este tivesse acesso à consciência e à motilidade. Essa maneira de conceber a superposição do processo secundário sobre o primário parece remeter ao conceito de evolução de Jackson: um nível superior se sobrepõe a um inferior e passa a mantê-lo sob inibição no funcionamento psíquico normal. No sono e nas patologias, entretanto, o processo primário poderia voltar a prevalecer e recuperar o acesso à consciência. Tanto a formação dos sintomas nas neuroses como a formação dos sonhos são explicadas por Freud a partir do que, em termos jacksonianos, poderíamos chamar de uma “liberação” do processo primário devido à diminuição ao menos parcial da inibição exercida pelo processo secundário sobre o primário. Nos sintomas, “moções de desejo” reprimidas – ou seja, excluídas das associações que constituiriam o nível superior (processo secundário) por passarem a evocar um desprazer não inibível por parte desse nível –, conseguiriam manifestar-se no processo secundário ou devido a um reforço patológico das excitações inconscientes ou devido a uma debilitação patológica da capacidade de inibição pré-consciente. Dessa forma, diz Freud:

(...) a enfermidade – ao menos a que, com acerto, se chama “funcio¬nal” – não tem por premissa a destruição deste aparelho, ou a produção de novas cisões em seu interior; tem que ser explicada dinamicamente pelo fortalecimento e o debilitamento dos componen¬tes do jogo de forças, do qual tantos efeitos perma¬necem ocultos du¬rante a função normal (FREUD, 1900, p. 577).

Nos sonhos, haveria uma retirada parcial da inibição do sistema pré-consciente, devido ao estado de sono, o que permitiria que o processo primário voltasse a prevalecer. Essa forma de conceber a neurose e as alterações que teriam lugar no aparelho psíquico no estado de sono manifestam claramente a permanência da influência das ideias de Jackson sobre a teoria freudiana. Como vimos, de acordo com a noção jacksoniana de dissolução, nas patologias do sistema nervoso haveria um retorno de modos de funcionamento mais antigos, isto é, níveis de funcionamento supe¬riores hierarquicamente e mais recentemente estabelecidos seriam comprome¬tidos, o que possibilitaria que um modo de funcionamento primário voltasse a prevalecer parcial ou totalmente. Freud adota essa noção para explicar as afasias em 1891 e a estende para a explicação dos sonhos e das psicopato¬logias no “Projeto de uma psicologia” e no capítulo 7 de “A interpretação dos sonhos”. Nesse sentido, é pertinente a seguinte consideração de Solms e Saling:

O “Projeto” e “A interpretação dos sonhos”, as duas principais origens da metapsicologia, estão longe de serem derivadas da mitologia cerebral de Meynert. Eles não são os produtos da educa¬ção neurológica formal de Freud, mas são, em vez disso, produtos de seu jacksonismo. As visões neuropatológicas de Freud na mono¬grafia “Sobre as afasias” estabeleceram os fundamentos dinâmicos de sua psicopatologia posterior e de toda a psicanálise (SOLMS e SALING, 1986, p. 407).

Nos artigos metapsicológicos de 1915, Freud retoma suas hipóteses de “A interpretação dos sonhos” acerca da identificação dos sistemas inconsciente e pré-consciente com os processos primário e secundário, respectivamente. Nesse momento, embora ele acrescente uma série de novos elementos à sua teoria – como a hipótese de que seria a constituição das representações de palavra que instauraria o processo secundário e a explicitação do mecanis¬mo responsável pela manutenção da diferenciação entre os dois tipos proces¬sos (contra-ocupação) – a ideia básica da evolução e da dissolução permanece inalterada: um nível de funcionamento superior hierarquicamente e mais recentemente estabelecido (o processo secundário) se sobreporia sobre um inferior e passaria a predominar sobre este no funcionamento normal, no entanto nas patologias sucumbiria total ou parcialmente, de modo que haveria uma liberação do nível de funcionamento inferior.

No texto “O inconsciente” (1915), Freud formula a hipótese de que, na fase inicial da esquizofrenia, haveria um desinvestimento dos sistemas pré-consciente e inconsciente, o que teria como consequência a restauração de um estado de narcisismo primitivo. Portanto, nessa patologia, num primeiro momento, haveria a dissolução completa tanto do funcionamento secundário quanto do funcionamento primário. Na segunda etapa da doença, o eu se esforçaria em retomar os investimentos objetais e o faria, inicialmente, inves¬tindo as representações de palavra de acordo com o processo primário, momento no qual a linguagem de órgão esquizofrênica se manifestaria (CAROPRESO e SIMANKE, 2006). Nesse sentido, a esquizofrenia parece resultar de um processo de “dissolução uniforme” do funcionamento psíquico, enquanto as neuroses resultariam de um processo de “dissolução local”. No primeiro caso ambos os processos, secundário e primário, sucumbiriam total¬mente em um primeiro momento e, no segundo, o processo primário voltaria a prevalecer. Nas neuroses, por outro lado, o processo primário se infiltraria no processo secundário apenas parcialmente, isto é, a função de inibição deste último não sucumbiria totalmente, mas apenas perderia o controle em um ponto ou alguns pontos específicos. O caso dos sonhos também parece poder ser explicado a partir de um processo de dissolução uniforme, dado que haveria a retirada do processo secundário, consequentemente o processo primário voltaria a prevalecer.

Tudo isso nos sugere que a constituição do aparelho psíquico é pensada por Freud segundo o modelo da evolução de Jackson e que a patologia e os sonhos são pensados segundo a hipótese deste autor da dissolução. Paul Ricoeur (1977) já chamara a atenção para esse fato ao dizer a respeito das teses do capítulo 7 de “A interpretação dos sonhos”: “(...) é o esquema jacksoniano da liberação funcional que se encontra enxertado sobre o esquema puramente tópico do aparelho psíquico” (RICOUER, 1977, p. 102).

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No texto “O Eu e o Isso” (1923), no qual Freud reformula sua teoria sobre o aparelho psíquico, propondo o esquema que ficou conhecido como “segunda tópica psíquica”, essas ideias básicas de inspiração jacksoniana são mantidas. A nova divisão do aparelho psíquico entre as instâncias “Isso”, “Eu” e “Supereu”, como é sabido, se sobrepõe à anterior. O Isso é identificado ao “processo primário” (ou ao sistema inconsciente da primeira tópica), e o Eu e o Supereu são pensados como correspondendo ao processo secundário. Mas, a partir de 1923, ao contrário do que havia sido sustentado anteriormente, é abandonada a hipótese de que todo processo secundário seria “suscetível de consciência”, o que implica que esse tipo de processo deixa de estar necessariamente ligado a representações de palavra. Ou seja, é descartada a hipótese, apresentada em 1915, de que seriam as representações de palavra que instaurariam o processo secundário. Com isso, Freud abandona a acepção sistemática dos termos inconsciente e pré-consciente e a identificação entre o processo primário e o insuscetível de consciência, por um lado, e entre o processo secundário e o suscetível de consciência, por outro, que haviam sido sustentadas na primeira tópica (CAROPRESO, 2008b). No entanto, apesar das modificações introduzidas na teoria freudiana nesse momento, a ideia básica sobre a maneira como se daria a relação entre os processos primários e os secundários e sobre a dinâmica das patologias psíquicas e da formação dos sonhos é mantida inalterada.

Freud afirma, em “O Eu e o Isso”, que o eu seria uma parte do isso diferenciada, devido ao contato com a realidade. Dessa forma, o eu (processo secundário) emergiria do Isso (processo primário) – assim como anteriormente o pré-consciente do inconsciente – e passaria a manter o primeiro sob inibição no funcionamento psíquico normal de vigília, podendo esse controle sobre o Isso sucumbir total ou parcialmente nas enfermidades, assim como no sono. 7

Portanto, embora a teoria freudiana do aparelho psíquico passe por sucessivas reelaborações, podemos dizer que as hipóteses, baseadas na teoria de Jackson, sobre a gênese do aparelho psíquico e sobre a maneira como se daria a desintegração do funcionamento normal, tanto nas patologias psíquicas como nos sonhos, mantêm-se essencialmente as mesmas. Dessa forma, a aplicação das ideias de Jackson – em especial, das hipóteses de evolução e dissolução do sistema nervoso e de níveis hierárquicos de organização dos estímulos sensório-motores – à organização da memória parece se manter como parte essencial de toda a teoria freudiana do aparelho psíquico.

 

 

Referências

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Artigo recebido em: 16/10/2008
Aprovado para publicação em: 5/11/2008

 

 

1 Essa hipótese consiste em uma nova versão do princípio da localização das funções cerebrais compostas de Franz Joseph Gall. Este foi o primeiro neurologista a sugerir que a massa cerebral, aparentemente uniforme, seria constituída por vários órgãos independentes, os quais seriam a sede das funções morais e intelectuais do homem e executariam as funções das quais essas faculdades dependem (CLARKE e JACYNA, 1987).
2 Como o fazia a teoria localizacionista de Wernicke, por exemplo, ao propor que a primeira circunvolução temporal conteria as imagens sensoriais da linguagem, enquanto a terceira circunvolução frontal conteria as imagens motoras da fala.
3 Não há inconsistência para Jackson em falar dos centros como sendo, ao mesmo tempo, mais complexos e menos organizados. Um centro constituído por dois elementos sensoriais e dois motores, no qual esses elementos estivessem bem associados, de forma que as correntes fluíssem facilmente dos primeiros para os segundos, seria altamente organizado, embora muito simples, exemplifica Jackson (1884).
4 As patologias do sistema nervoso seriam casos de dissolução “parcial”, pois a dissolução total representaria a morte do indivíduo.
5 Uma análise detalhada dos argumentos elaborados por Freud para recusar essas hipóteses pode ser encontrada em Caropreso (2008).
6 Ele argumenta que a ideia de centro possuiria significado apenas para a anatomia patológica, devido ao fato de essa área se situar entre as terminações dos nervos acústicos, óticos e motores (CAROPRESO, 2008).
7 Para um esclarecimento mais detalhado sobre as modificações introduzidas em 1923 na teoria freudiana do aparelho psíquico e sobre a relação destas com a teoria anterior, ver Caropreso (2006).
* Psicóloga pela Universidade Federal de São Carlos. Mestre e Doutora em Filosofia pela mesma universidade. Pós-doutoranda no Departamento de Filosofia da Universidade Estadual de Campinas – Unicamp. Caixa Postal 14, São Carlos-SP, CEP: 13560-970. E-mail: fatimacaropreso@uol.com.br. Telefone: (16) 8121-1805/3378-7455. Apoio: FAPESP (bolsa de pós-doutorado).

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