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Mental

versão impressa ISSN 1679-4427versão On-line ISSN 1984-980X

Mental v.6 n.11 Barbacena dez. 2008

 

ARTIGOS

 

A fantasia em Melaine Klein e Lacan

 

The fantasy in Melaine Klein and Lacan

 

 

Marcella Pereira de Oliveira*

Universidade Paulista

 

 


RESUMO

Este artigo diz respeito ao conceito de fantasia na teoria kleiniana e lacaniana, ressaltando tanto as teorizações desses autores individualmente quanto relacionadas, incluindo suas similaridades, disparidades e complemen¬taridades. O texto está dividido em quatro partes: a primeira é uma introdução ao tema, na qual são situados os autores e tratadas suas teorias. A segunda é uma revisão crítica da teorização kleiniana acerca das fantasias. A terceira é uma revisão crítica da teorização lacaniana sobre o mesmo tema. A quarta e última parte contém uma relação entre ambas as teorizações. Como material de trabalho, foram utilizadas tanto as teorias de Melanie Klein e as de Lacan quanto as de seus seguidores, na função de comentadores.

Palavras-chave: Fantasia, Klein, Lacan, Disparidades, Complementaridades.


ABSTRACT

This article is concerned with the concept of fantasy in Klein’s and Lacan’s theories, emphasizing both these authors’ theories individually and related to one another, including similarities, disparities, and complementarities. The work is divided into four parts: the first one is an introduction to the theme, introducing the authors and their theories. The second is a critic review of Klein’s theorization on fantasies. The third one is a critic review of Lacan’s theories on the same theme. The fourth and last one presents a relationship between the theories. As work material, both Klein’s and Lacan’s theories and those of their followers were used in the role of commentators.

Keywords: Fantasy, Klein, Lacan, Disparities, Complementarities.


 

 

1. INTRODUÇÃO

Este texto tem como principal objetivo a investigação do conceito de fantasia tal como elaborado por Jacques Lacan e Melanie Klein, confrontando estas abordagens entre si.

Melanie Klein é a principal representante da segunda geração psicanalítica mundial (ROUDINESCO e PLON, 1998), autora que transformou o freudismo clássico, criando uma nova forma de análise – a análise de crianças. Klein aprofundou-se no estudo da mente das crianças de tenra idade, em suas fantasias, medos, angústias, etc.

Essa autora austríaca ampliou o freudismo clássico ao estudar os sentimen¬tos inatos, presentes nas relações do neonato com sua mãe, bem como ao aprofundar-se nos fenômenos psicóticos, uma vez que estes foram escassa¬mente abordados por Freud. A teorização kleiniana a respeito das fantasias inconscientes é muito mais precisa e detalhada (RIVIERE, 1986).

Uma das principais contribuições da teorização kleiniana são os conceitos de posição esquizo-paranoide e posição depressiva. Estes são períodos normais do desenvolvimento que perpassam a vida de todas as crianças, tais como as fases do desenvolvimento psicossexual criadas por Freud (1905/1969). Contudo, são mais maleáveis do que estas fases, devido ao fato de se instalarem por necessidade, e não por maturação biológica, embora a autora não deixe de considerar as fases da teoria freudiana a respeito do desenvolvi¬mento infanto-juvenil (SIMON, 1986).

O bebê nasce imerso na posição esquizo-paranoide, cujas principais carac¬terísticas são: a fragmentação do ego; a divisão do objeto externo (a mãe), ou mais particularmente de seu seio, já que este é o primeiro objeto com o qual a criança estabelece contato, em seio bom e seio mau – o primeiro é aquele que a gratifica infinitamente e o segundo é aquele que somente lhe provoca frustração –; e a agressividade e a realização de ataques sádicos dirigidos à figura materna.

A posição depressiva emerge com a elaboração dos sentimentos caracterís¬ticos da posição anterior. Seus principais atributos são: integração do ego e do objeto externo (mãe/seio), sentimentos afetivos e defesas relativas à possível perda do objeto em decorrência dos ataques realizados na posição anterior. Estas posições continuam presentes pelo resto da vida, alternando-se em função do contexto, embora a posição depressiva predomine em um desenvolvimento saudável (SIMON, 1986).

Outra importante teoria psicanalítica é a lacaniana. Diferentemente de Melanie Klein, Jacques Lacan propôs um retorno integral à obra freudiana. O autor era contra outras formas de psicanálise, pois, segundo ele, elas deturpavam os postulados freudianos. Porém, apesar de haver se implicado na leitura das obras de Freud em sua integridade, Lacan acabou por criar uma nova escola de psicanálise, já que suas teorias avançaram por demais na obra freudiana (MEZAN, 2002).

A teoria lacaniana tem seu reconhecimento por haver elevado a obra freudiana de seu ancoramento biológico ao âmbito linguístico-filosófico. Para isso, Lacan baseou-se na filosofia heideggeriana, na linguística saussuriana e nas teorias de Lévi-Strauss (ROUDINESCO e PLON, 1998). Da primeira, retirou seu questionamento acerca da verdade e do ser, sempre presente em seu pensamento; da segunda, retirou sua ideia de que “o inconsciente está estru¬turado como uma linguagem”, ou seja, de que o simbólico organiza o incons¬ciente; da terceira ele justamente deduziu a noção de simbólico.

Partindo dessas teorias, o autor desenvolveu as três instâncias psíquicas: a imaginária, lugar do eu por excelência, passível de ser representada de diversas maneiras, através de imagens. Essa instância pode ser vista na relação dual do sujeito com a imagem de um semelhante; já a simbólica é demonstrada pelas construções lacanianas através das leis da linguagem, obedecendo às suas regras e leis. Esta instância designa a ordem, representada pela função simbólica a que o sujeito está ligado através da linguagem; e a terceira e última instância, a real, designa uma realidade impossível de representação e de simbolização, ou seja, o oposto do imaginário. É a instância que designa o que não faz sentido. É importante ressaltar que o simbólico foi o mais enfatizado e o mais bem desenvolvido pelo autor (ROUDINESCO e PLON, 1998).

A afirmação de que “o inconsciente é estruturado como uma lingua¬gem” é uma grande marca da obra lacaniana. Contudo, não podemos deixar de mencionar que, antes de identificar o inconsciente como lugar próprio da linguagem, Lacan estudou o campo social, a família e o estádio especular que perpassa a criança no início de sua vida. Estes são lugares de aconteci¬mento dos fenômenos psíquicos (BASTOS, 2003). Lacan procurou mostrar a formação do psiquismo a partir da relação do sujeito consigo mesmo, e dele com algum outro. Por meio do estádio do espelho, aliado aos três tempos do Édipo, postulados por Lacan, o infante é capaz de construir sua própria identidade corporal, distinta da mãe, através de sua imagem corporal (DOR, 1989).

A experiência da criança no espelho é realizada em três tempos fundamentais: o primeiro é aquele no qual ela não diferencia o seu corpo do corpo materno; durante o segundo, ela se torna capaz de distinguir sua imagem da imagem do outro (mãe); e no terceiro a criança já toma conhe¬cimento de que a figura vista por ela no espelho não é apenas uma imagem, mas a sua própria imagem.

Contudo, a quebra definitiva da simbiose da criança com a mãe ocorre durante os três tempos do Édipo1, postulados por Lacan. Durante o primeiro tempo, o predominante é a relação fusional entre a criança e a mãe; aquela está sujeita ao desejo desta. Com o surgimento da dialética de ser ou não ser o falo2 da mãe é anunciada a entrada no segundo tempo do Édipo, no qual a presença paterna se faz sentir, com a intrusão do genitor na célula narcísica. Este tempo é fundamental para a entrada da dimensão simbólica na vida da criança, através da lei do pai (nome-do-pai3 ou não-do-pai, também denominado por Lacan de recalque originário), a qual eleva o pai à dignidade de pai simbólico. O genitor então se mostra como um suposto portador do falo, objeto do desejo da mãe, colocando a criança na dialética de ter ou não ter o falo. O terceiro e último tempo anuncia o declínio do Édipo. Aqui o pai precisa comprovar sua posse do falo, sua lei é percebida de maneira simbólica.

 

A VIDA DE FANTASIA PARA MELANIE KLEIN

De acordo com Klein (1981) e suas seguidoras – Heimann (1969), Isaacs (1986) e Segal (1966) –, a atividade de fantasiar está presente na vida desde o nascimento, já que é a representante do instinto4. Nela coexistem componentes somáticos e psíquicos. Sua matriz está na percepção sensorial e determina a atitude da criança em relação a seus objetos, pelo fato de estar presente nos mecanismos de introjeção e projeção (HEIMANN, 1969, 1986). A introjeção corresponde ao mecanismo primitivo do bebê de introjetar todos os objetos – começando pelo seio materno, seguido pelo polegar, pelos brinquedos, etc. A mamada do bebê pode ser mencionada como importante exemplo; mesmo quando o seio não está presente, a criança satisfaz seu desejo de mamar através de fantasias introjetivas.

Já a projeção tem sua origem nas identificações com os objetos do mundo exterior que a criança de tenra idade realiza em suas fantasias. Como exemplo de fantasias projetivas podem ser mencionados os ataques realizados pela criança através de seus excrementos, entendidos como armas perigosas, para com os objetos externos que a aterrorizam.

Esses mecanismos são os determinantes do estabelecimento dos objetos bons e maus dentro do ego5 da criança. Eles atuam de diversas maneiras, baseados nos impulsos instintivos, e são determinantes no processo de formação do ego e superego6, ou seja, na formação da personalidade (HEIMANN, 1986).

O termo fantasia apresenta diferentes significados, pois foi utilizado por diferentes autores, em diversos contextos (ISAACS, 1986). É possível a distinção entre dois conceitos de fantasia: phantasy, com ph, que corresponde à atividade de fantasia inconsciente, e fantasy com f, que corresponde à atividade fantasmática consciente. Em suma, podemos definir fantasia como a representante psíquica do instinto, cuja fonte é interna e subjetiva, embora esteja ligada à realidade objetiva. Ela se transforma de acordo com o desenvolvimento, sendo ampliada e elaborada, influenciando e sendo influenciada pelo ego em maturação.

Segundo Riviere (1986, p. 52-53), outra seguidora de Melanie Klein, a vida de fantasia do indivíduo pode ser entendida como “a forma como suas sensações e percepções reais, internas e externas, são interpretadas e representadas para ele próprio, em sua mente, sob a influência do princípio de prazer-dor”.

A autora ainda ressalta algumas funções da fantasia, como assegurar a divisão entre os objetos bons e ruins, realizada na vida primitiva dentro da posição esquizo-paranoide, e manter um refúgio da realidade.

No decorrer do desenvolvimento, as fantasias vão sendo elaboradas, referindo-se, gradualmente, a uma maior variedade de situações, sempre influenciando a vida psíquica (KLEIN, 1963). Elas nunca deixam de existir, embora na vida adulta sejam mais diferenciadas do mundo real. Como exem¬plo, pode ser mencionada a influência das fantasias inconscientes na arte, no trabalho científico e mesmo em qualquer atividade cotidiana.

A fantasia, inata na vida da criança, é expressa de modo simbólico, por meio de brincadeiras e jogos. Por trás de cada forma de atividade lúdica, encontra-se um processo de descarga de fantasias masturbatórias, que operam na forma de uma contínua motivação para o ato de brincar. Quando essas fantasias são reprimidas, as brincadeiras, por conseguinte, são paralisadas, ao passo que a liberação fantasmática permite à criança brincar livremente (KLEIN, 1921/1948). Vinculadas às fantasias masturbatórias da criança estão suas experiências sexuais, que encontram representação em suas brincadeiras (KLEIN, 1981, p. 159): “Uma das importantes conquistas da psicanálise é a descoberta de que as crianças têm uma vida sexual que encontra expressão tanto em atividades sexuais diretas quanto em fantasias sexuais”.

As primeiras fantasias a se manifestarem são as sádicas, originárias da posição na qual o bebê nasce – esquizo-paranoide (KLEIN, 1963). Seus eliciadores são, principalmente, voracidade, inveja e ódio. Um bom exemplo é a fantasia do bebê de divisão do seio em um seio bom e um seio mau. Enquanto o primeiro é o responsável pela gratificação infinita, o segundo é aquele que frustra infinitamente, uma vez que não está presente no momento em que a criança deseja. Contra este seio mau a criança inicia uma série de ataques em forma de fantasias, nas quais o divide em milhões de pedaços, enquanto o seio bom permanece íntegro, representante de toda a bondade existente.

Durante o segundo trimestre de vida, algumas mudanças ocorrem na vida de fantasia: elas são ampliadas, elaboradas e diferenciadas, refletindo o progresso que ocorre no desenvolvimento intelectual e emocional do bebê nesse período (KLEIN, 1986). Essa mudança se deve à diminuição da severi¬dade do superego, o que provoca diminuição dos ataques sádicos. Daí origina-se um sentimento de culpa, cuja onipotência corresponde à intensidade do sadismo anterior (KLEIN, 1933/1948, 1934/1948, 1981). Dessa forma, há a diminuição da ansiedade e, consequentemente, a entrada de conteúdos libidinais nas fantasias. As crianças desenvolvem, então, tendências restitutivas em forma de sublimações, dirigidas aos objetos danificados anteriormente por meio das fantasias sádicas.

Prosseguindo no desenvolvimento, durante o período de latência, a criança passa a reprimir suas fantasias de modo muito mais severo que nos períodos anteriores. Enquanto a criança pequena sofre influência imediata de suas experiências e fantasias instintivas, a criança do período de latência já as dessexualizou, assimilando-as de um jeito diferente (KLEIN, 1981).

Nesse período as fantasias podem estar contidas em atividades nas quais elas não se manifestam claramente, como nos deveres de casa da criança (KLEIN, 1981, p. 332): “As fantasias de cópula ativa dos meninos também emergem em jogos ativos e no esporte, e também encontramos nos porme¬nores desses jogos as mesmas fantasias expressas na sua lição de casa”.

Já durante o período de puberdade, os impulsos tornam-se mais podero¬sos, a atividade de fantasia é maior e o ego passa a ter outros objetivos, além de se relacionar de forma diferente com a realidade. Nesse período há – como na criança pequena – a predominância da atividade inconsciente e uma vida de fantasia muito mais rica. Contudo, as atividades imaginativas do adolescente estão mais adaptadas à realidade e aos interesses incrementados de seu ego, sendo seu conteúdo muito menos reconhecível do que nas crianças pequenas. Além disso, devido à maior gama de atividades do adolescente e às suas relações mais firmes com a realidade, o caráter de suas fantasias sofre contínuas alterações.

Embora as fantasias pareçam perder influência durante a vida adulta, seus efeitos inconscientes permanecem ativos no posterior desenvolvimento da sexualidade em inúmeros distúrbios sexuais, como pode ser visto na histeria e na perversão (KLEIN, 1927/1948). Com a elaboração das fixações da criança na análise, é possível ver essas tendências destrutivas serem utilizadas para trabalhos construtivos, como obras de arte e outras atividades intelectuais, por meio da sublimação7.

 

A FANTASIA PARA LACAN: UM PERCURSO NAS OBRAS LACANIANAS

Lacan (2003, p. 364), em Alocução sobre as psicoses da criança, texto publicado nos Outros Escritos, anuncia que “o valor da psicanálise está em operar sobre a fantasia”. Ele defende a existência de uma fantasia fundamental, ou seja, de que a fantasia está na própria origem do sujeito e emana do que lhe falta, já que ele está permanentemente em busca de seu objeto perdido.

Para o autor francês, a fantasia entra em cena no momento do recalque originário, ou seja, quando a metáfora do nome-do-pai (não-do-pai) aparece na vida da criança, durante o segundo tempo do Édipo. A quebra desta relação simbiótica efetuada pelo pai impede a criança de desfrutar da Coisa8, do gozo9 absoluto. Desta forma, a fantasia, ao impedir o gozo total, permite à criança outra forma de gozo, dando-lhe em troca o gozo fálico10. Assim, é possível pensá-la como um escape à pulsão de morte11, já que situa o sujeito no mundo real, ao impedir o gozo total; ela faz uma espécie de ponte entre o inconsciente e a realidade. A fantasia começa, desta maneira, a reger o princípio do prazer12. Contudo, ela não é capaz de dominar a pulsão de morte por completo; uma parte permanece livre no inconsciente, dando origem ao mais além do princípio do prazer.

Existem três dimensões da fantasia, correspondentes às três instâncias psíquicas: a imaginária, correspondente às produções em imagens do sujeito; a simbólica, já que a fantasia se constroi por meio das leis da linguagem; e a dimensão real, que reflete sua impossibilidade de mudança.

A fantasia entra em cena, fazendo a articulação entre a dimensão simbólica e a dimensão real, por meio da dimensão imaginária. Logo após o nascimento, a criança entra em contato com a dimensão simbólica, imposta pelo signifi¬cante paterno, durante o segundo tempo do Édipo. A genitora, ao entrar em contato com seu bebê, inconscientemente o considera um objeto capaz de ser o seu “objeto fálico”, ou seja, capaz de lhe satisfazer todos os desejos. A criança vive então em uma constante tentativa de desvendar qual é o desejo de sua mãe, e, por conseguinte, vive imaginando objetos que sejam capazes de satisfazê-lo. Contudo, este desejo nunca poderá ser atendido, já que é pertencente à esfera do impossível, representada pela dimensão real.

É no artigo Kant com Sade que Lacan (1998) trabalha exaustivamente a relação da fantasia com o sujeito. Esse texto, momento privilegiado do ensino de Lacan referente ao tema da fantasia fundamental, representa o avanço propriamente dito do autor em relação à teorização freudiana. Nele, Lacan ressalta o fato de que, em sua estrutura, o sujeito humano procura um mestre para que sua vontade seja realizada, sendo essa a própria posição do sujeito na fantasia fundamental: a submissão em relação a um Outro, e o difícil é sair dessa posição (TOLEDO, 2003). A dificuldade está em reconhecer que essa liberdade absoluta conferida a um Outro é sua própria liberdade; é difícil assumir a própria liberdade porque ficar livre, sem a direção do mestre, provoca angústia.

Lacan trabalha a constituição do sujeito com base em duas operações: alienação e separação, e não a partir de um processo de desenvolvimento que segue uma ordem cronológica e atravessa etapas (LACAN, 1988). Por meio da primeira, o sujeito entra no campo do Outro, representado pela linguagem, o campo simbólico. Dessa forma, ele perceberá o que falta a esse Outro e, portanto, que este é um ser desejante, já que toda falta remete a um desejo.

Durante a operação de separação desse campo, o sujeito leva consigo o objeto a, que corresponde à intersecção entre as duas faltas: a dele e a do Outro; e este, a partir de então, será o objeto promotor de seu desejo. Pode-se concluir que o sujeito precisa se separar desse Outro para se tornar um ser desejante; o resultado dessas duas operações o coloca no campo de sujeito da fantasia fundamental.

É no Seminário V - Formações do inconsciente - que Lacan (1999) introduz o matema da fantasia: $ <> a (sujeito barrado na busca do objeto a), estrutura fundamental que está presente nas fantasias de todos os sujeitos, em qualquer idade, e é o resultado dos processos de alienação e de separação.

O autor utiliza o termo fantasma para referir-se à fantasia representada por sua fórmula matemática. No entanto, optei por utilizar somente o termo fantasia, por ser consagrado desde a psicanálise pré-lacaniana, principalmente na teorização kleiniana.

O objeto da fantasia (a) é o substituto a que o sujeito está privado simbolicamente – o gozo total. Ele impede a possibilidade de permanência atrelada à mãe. Já o sujeito barrado ($) representa o sujeito influenciado pelo significante, em uma espécie de relação imaginária com o objeto de desejo, quando o nome-do-pai já entrou na relação mãe-bebê, desfazendo a célula narcísica (LACAN, 1958-1959). Ele é o sujeito barrado, dividido pela entrada da linguagem em sua vida.

Lacan (1999) se refere ao losango presente nessa fórmula, dizendo que ele (LACAN, 1999, p. 451-452)

exprime a relação do sujeito – barrado ou não barrado, conforme o caso, isto é, conforme seja marcado pelo efeito do significante ou o consideremos simplesmente como um sujeito ainda indeterminado, não fendido pela Spaltung que resulta da ação do significante.

Esse losango é o que realmente exprime a relação do sujeito com a fantasia: nem fixação no polo do amor, nem fixação no polo da pulsão, mas sim estabelecimento na dimensão que liga ambos os polos: a dimensão do desejo (JORGE, 2006).

Por meio da fórmula da fantasia, é possível evidenciar que o sujeito se faz de instrumento do gozo do Outro (LACAN, 1998). Essa função de gozo é assegurada por meio da oscilação entre $ e a, já que esta faz da fantasia uma cadeia por meio da qual o investimento objetal é suspenso.

O sujeito anuncia em sua fantasia que enquanto se encontra na presença do Outro não é nada como pessoa. A estrutura geral da fantasia ($ <> a) mostra o sujeito irredutivelmente afetado pelo significante em uma relação específica com uma dimensão imaginária, o objeto do desejo. O sujeito está privado de algo de si mesmo, o que toma valor de significante, incluso em sua alienação. Esse objeto a é aquele no qual o sujeito encontra seu suporte, no momento em que ele se desvanece diante da carência significante no âmbito do Outro.

Mais do que um resto do psiquismo imaginário infantil no inconsciente, a fantasia está estruturada como linguagem, uma vez que é uma frase com estrutura gramatical, o que justifica que se possa falar sobre uma lógica da fantasia (LACAN, 1966-1967). Como exemplo, temos o texto de Freud (1919). Nele, a fantasia Uma criança é espancada não é nada além da articulação significante, representada pela frase Uma criança é espancada.

No texto Bate-se numa criança e a jovem homossexual, Lacan (1995) analisa minuciosamente o artigo de Freud (1919) - Uma criança é espancada: uma contribuição ao estudo da origem das perversões sexuais. A fantasia referida neste artigo – que é representada pela frase: Bate-se em uma criança – está relacionada ao aparecimento de irmãos, o que provoca no infante uma frustração decorrente do fato de que a atenção dos pais, antes dirigida somente a ele, terá de ser partilhada.

É daí que decorre essa fantasia, cujo conteúdo consta de três personagens: a criança que fantasia (uma menina, com maior frequência), o sujeito que é agredido e a figura que realiza a agressão (o pai). É dividida em três momentos: o primeiro pode ser traduzido pela frase: meu pai bate em meu irmão ou irmã por medo de que eu não acredite que o prefiram a mim. Já o segundo, que representa uma situação reduzida a dois personagens, pode ser sintetizado na frase: Eu sou espancado por meu pai. Finalmente, o terceiro representa o fantasma fundamental, expresso pela frase dessubjetivada: Bate-se em uma criança.

Lacan (1999) retoma essa análise no texto A fantasia para além do princípio do prazer, no qual a dimensão simbólica da fantasia é claramente exposta. Neste, o autor se remete de novo à divisão realizada anteriormente em três partes dessa fantasia. Primeiramente, ela se encontra no âmbito do pai, anterior ao Édipo, na medida em que seu significado é a ausência do amor paterno em relação ao Outro, onde reside o prazer do sujeito que fantasia. Já em seu segundo momento, encontra-se no âmbito do Édipo: é a representação do desejo da menina pelo pai, junto ao sentimento de culpa decorrente dele. É quando se origina a essência do masoquismo, e o caráter desta fantasia, até então consciente, torna-se inconsciente. O terceiro momento, enfim, encontra-se depois da saída do Édipo. Aqui os sujeitos se multiplicam e se tornam indefinidos, evidenciando a relação com os pequenos outros13.

 

LACAN X MELANIE KLEIN: COMPLEMENTARIDADE OU DISPARIDADE?

De que forma as teorizações kleinianas e lacanianas a respeito das fantasias se relacionam? Lacan foi leitor das obras de Melanie Klein e se remete a elas constantemente. Em relação às fantasias, pode-se dizer que ele considera as teorizações kleinianas, principalmente no que se refere à dimensão imaginária, porém vai além desta, abordando também a dimensão simbólica, complemen¬tando a autora. Embora discorde de várias considerações da obra de Melanie Klein, não deixa de considerá-la.

Pode-se dizer que Lacan (1995) eleva as fantasias do âmbito imaginário ao simbólico ao interpretar os significantes presentes nestas, com base na atividade de imaginação do infante, enfatizando o significado aí implícito. Isso pode ser visto nas fantasias do pequeno Hans, paciente de Jacques Lacan, mencionado em suas obras. Na fantasia das duas girafas, por exemplo, o menino imaginava uma girafa grande e uma pequena (LACAN, 1995). A grande representava o pai e a pequena, simbolizada em um papel amassado, representava a mãe – ou mais precisamente a falta desta, o falo materno. A partir deste par de girafas podemos interpretar a relação do casal parental. Esta fantasia encontra-se no período do complexo de Édipo; é o desejo da criança de retomar a posse da mãe e ser o falo desta, sob grande irritação por parte do pai, embora esta irritação nunca seja produzida no real, apenas na fantasia de Hans.

Por maiores que sejam as variações da fantasia no âmbito imaginário, simbolicamente elas expressam sempre o mesmo conteúdo. O autor francês ainda diz que (LACAN, 1995, p. 378): “todo o processo de fantasias de Hans consiste em restituir esse elemento intolerável do real ao registro imaginário no qual ele pode ser reintegrado”. Assim, as fantasias de Hans podem ser entendidas como uma fuga do real, impossível de ser representado, ao imaginário, onde pode ser escrita de diversas maneiras, ainda que tenham o mesmo significado simbólico.

É importante ressaltar que Lacan (1995) considera a função da fantasia muito mal articulada por Melanie Klein, uma vez que nem seus seguidores mais assíduos foram capazes de realizar uma teoria da fantasia propriamente dita. Afirma que a complementação faltante à sua teoria é justamente enunciada pela fórmula desenvolvida por ele: ($ e a).

É possível verificar que a teorização kleiniana a respeito das fantasias está atrelada a percepções sensoriais, ou seja, à presença da ação concreta, que pode ser observada. As pessoas e os objetos interessantes para a criança são transferidos para o plano de sensações corporais. Isso pode ser ilustrado através de fantasias imaginativas de introjeção de um objeto associadas à deglutição de algum alimento, que, se apresentar sabor agradável, será consi¬derado um objeto bom; ou, caso contrário, será considerado um objeto tenebro¬so. Ambos os processos de introjeção e projeção estão atrelados a fantasias que envolvem a presença concreta do objeto externo.

Já a teorização lacaniana considera a fantasia algo da ordem do abstrato, destacada da percepção, independentemente da presença de objetos concre¬tos. Neste sentido é possível afirmar que, além de elevar a fantasia do imagi¬nário ao simbólico, o autor ainda a eleva do âmbito concreto para o abstrato, ou seja, do plano perceptivo para o plano das ideias.

Com relação à fantasia no trabalho analítico, enquanto para Klein (1926/1948) a análise está relacionada à elucidação e interpretação de fantasias, Lacan defende a ideia de que a análise precisa atravessar a fantasia fundamen¬tal, sendo esta a sua função primordial. A travessia da fantasia é o mecanismo de tomada de consciência por parte do sujeito dos significantes que interme¬deiam sua relação com o real (JORGE, 2007). Ela permite a passagem do sujeito de sua dimensão simbólica, adquirida com a entrada da fantasia em sua vida, para a dimensão real, que sustenta toda a estrutura psíquica. Isto significa que com a travessia da fantasia vão embora as ilusões que a deter¬minam, as quais estão relacionadas à posse de coisas impossíveis de serem possuídas, como a si mesmo, o Outro, e tudo o que há na relação entre eles (NUBUS, 2001).

O autor considera impossível a interpretação de todas as fantasias, já que elas estão situadas na falta do significante, e ainda defende que o bom trabalho de análise é aquele capaz de atravessar a fantasia fundamental, e não a interpretar.

Em consequência a tudo que foi refletido, pode-se pensar o conceito de fantasia como definido de maneira diferente para os autores em questão. Lacan define fantasia como uma busca eterna do sujeito ao encontro do significante que está no Outro, a situar-se no discurso dele (LACAN, 1991, 1966-1967, 1998). Já Melanie Klein define a fantasia como a representante do instinto, inata na vida sujeito, cuja matriz está na percepção sensorial, determinando a atitude da criança em relação a seus objetos (KLEIN, 1948, 1963, 1981). Ambos os autores partem da mesma teorização freudiana relativa à vida de fantasia; contudo se inclinam para diferentes aspectos: enquanto Melanie Klein se enfoca no aspecto imaginário, Lacan vai além deste, enfocando a dimensão simbólica presente na vida fantasmática.

 

 

REFERÊNCIAS

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Artigo recebido em: 20/8/2008
Aprovado para publicação em: 18/11/2008

 

 

1 De acordo com a teorização freudiana, o complexo de Édipo pode ser definido como um conjunto organizado de desejos amorosos e hostis que a criança sente em relação aos pais. Sob sua forma direta, positiva, o complexo apresenta-se como na história do Édipo-Rei: desejo da morte do rival, que é o personagem do mesmo sexo, e desejo sexual pela personagem do sexo oposto (LAPLANCHE e PONTALIS, 1988).
2 O falo, na teorização lacaniana, é o próprio significante do desejo, um atributo divino, inacessível ao homem (ROUDINESCO e PLON, 1998).
3 Termo criado por Jacques Lacan para designar o significante da função paterna. Em francês, Nom du père (ROUDINESCO e PLON, 1998).
4 Termo utilizado pela escola kleiniana, como sinônimo de pulsão, para designar o elo existente entre as origens biológicas do indivíduo e seu desenvolvimento psicológico (HINSHELWOOD, 1992). Freud optou pelo termo “pulsão” para se referir a este conceito, destacando a existência de um equivalente humano do instinto. Com esta opção, o Pai da psicanálise ressalta que os seres humanos vão além dos outros animais pela capacidade cognitiva.
5 Termo designado por Freud como a sede da consciência (ROUDINESCO e PLON, 1998). Para Klein, o ego já existe desde o nascimento e tem funções essenciais, como discriminações, introjeções, projeções, etc. (HINSHELWOOD, 1992).
6 Instância que exerce as funções de juiz e censor em relação ao ego (ROUDINESCO e PLON, 1998). A teoria de Klein desafiou o conceito de superego clássico como formado pelos pais internalizados, que representavam os padrões sociais. Para ela, o superego pode ser decomposto em um certo número de objetos internos, e é formado desde o nascimento, juntamente com o ego (HINSHELWOOD, 1992).
7 Termo conceituado por Freud para designar um tipo de atividade humana que não tem nenhuma relação aparente com a sexualidade, mas que extrai sua força da pulsão sexual, à medida que esta se desloca para um alvo não sexual, investindo objetos socialmente valorizados (ROUDINESCO e PLON, 1998).
8 A Coisa é, para o discurso psicanalítico, um “objeto absoluto” inatingível. Lacan diz que a Coisa é o real do qual o significante padece. O encontro com o real envolve essa Coisa impossível de dizer e de delinear. A pulsão de morte se exerce como tendência a querer encontrar a Coisa através da repetição (KAUFMANN, 1996).
9 O conceito de gozo implica transgressão à lei. Pode ser entendido como a tentativa de ultrapassar os limites do princípio do prazer (ROUDINESCO e PLON, 1998).
10 Gozo parcial, de origem sexual. É um gozo limitado, já que está submetido à ameaça da castração.
11 Representada pelo gozo total, impossível de ser alcançado.
12 Princípio que rege o funcionamento psíquico, junto ao princípio de realidade. Enquanto o primeiro tem por objetivo proporcionar prazer e evitar o desprazer, o segundo lhe impõe as restrições necessárias para a adaptação à realidade (ROUDINESCO e PLON, 1998).
13 Pequeno outro pode ser definido como o outro imaginário ou lugar da alteridade especular (ROUDINESCO e PLON, 1998).
* Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina e psicóloga graduada pela Universidade de São Paulo. Atua como docente na Universidade Paulista e como psicóloga clínica em consultório particular. Rua Heitor de Andrade, 1.032, casa 3, Jardim das Indústrias, São José dos Campos, SP. Telefones: (12) 3931-6360/(12) 9164-9171. Email: marcellapoliveira@gmail.com, marcellasjc2005@yahoo.com.br

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