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Mental

versão impressa ISSN 1679-4427

Mental vol.9 no.16 Barbacena jun. 2011

 

ARTIGOS

 

Trajetórias de mulheres que vivenciaram a gravidez/maternidade na adolescência

 

Trajectory of women who experienced pregnancy/motherhood in adolescence

 

 

Ana Letícia Pires MesquitaI; Bernardo Fernandes de Souza FontesI; Hélvio Borba de Oliveira FilhoI; Letícia Guedes Ferreira LopesI; Mariana Tenório GonçalvesI; Sebastião Rogério Góis MoreiraI; Suzana Maria Pires do RioI; Suzana Maria Pires do RioII; Sebastião Rogério Góis MoreiraIII

IAlunos de graduação da Faculdade de Medicina de Barbacena (FAME)
IIDoutora em Medicina pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Professora da Faculdade de Medicina de Barbacena
IIIDoutor em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCCAMP), Coordenador do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Presidente Antônio Carlos (UNIPAC), Professor da Faculdade de Medicina de Barbacena (FAME)

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O objetivo do presente estudo foi analisar vivências emocionais de mães adolescentes, refletidas na relação com seu filho, seu parceiro, membros da família, espaço escolar e demais espaços sociais. Foram participantes da presente pesquisa mães com idades entre 19 e 21 anos, tendo, na ocasião do seu parto, idades variando entre 15 e 17 anos, todas procedentes de classe social baixa e com grau de escolaridade entre 1º e 2º graus incompletos. Utilizou-se roteiro de entrevista semiestruturado e aparelho de MP3 como recurso para gravação das entrevistas. O significado da maternidade foi evidenciado pelas jovens em cinco eixos centrais: 1) aceitação da gravidez/maternidade; 2) sentimento de ser mãe; 3) mudanças percebidas ao vivenciarem a experiência de ser mãe; 4) cuidados com o filho; e 5) importância ou não da presença do parceiro. Assim, foi possível identificar que as adolescentes assumiram o papel de mãe com o apoio da família e do parceiro, superando muitas dificuldades no cuidado diário dos filhos, criando vínculo efetivo no binômio mãe-filho, apesar de relatarem comportamento preconceituoso por parte de pessoas inseridas no seu meio social.

Palavras-chave: Mãe-adolescente; aspectos emocionais; interação mãe-filho; presença/ausência de parceiro; preconceito.


ABSTRACT

The objective of this study was to analyze the emotional experience that adolescent mothers have gone through, reflected in the relationship with their children, their partner, members of their families, school and other social spaces. Participants of the actual research were mothers with age between 19 and 21 years old, whom, at the time of childbirth, were between 15 and 17 years old, all of them belonging to low income social class, and with educational level varying from uncompleted elementary school to uncompleted high school. We used a semi-structured interviewing script and a MP3 recorder device to record the interviews. The meaning of motherhood was evidenced by the young women in five categories: 1) acceptance of the pregnancy/motherhood reality; 2) the feeling of being a mother; 3) the changes perceived through the experience of being a mother; 4) the care taking of their children and 5) the importance or not of the physical presence of their partners. Thus, it was possible to identify that the adolescent mothers assumed the role of mother with the support of their families and partners, overcoming many difficulties in the daily caring of their children, therefore creating an effective link of the duo mother-child, although many of them have reported going through discriminative behavior from other people inserted into their social network.

Keywords: Adolescent mothers; emotional aspects; mother-child interaction; presence/absence of partner; prejudice.


 

1 INTRODUÇÃO

A juventude é um processo de transição para a vida adulta e, nessa trajetória, as mudanças ocorridas são interligadas por condições sociais muito distintas, como gênero e classe social. Nos dias de hoje, essa passagem vem sendo marcada por múltiplas situações expressas nas primeiras vezes em que os jovens realizam novas experiências, como a iniciação sexual, a primeira gravidez e o primeiro filho (DIAS; AQUINO, 2006).

A gravidez precoce e não planejada pode acarretar sobrecarga física, psíquica, emocional e social para o desenvolvimento da adolescente, contribuindo positiva ou negativamente para as modificações na sua vida futura, podendo perpetuar o ciclo de pobreza, a baixa escolaridade e a falta de perspectiva de vida, pois é sobre a mulher que recaem as principais atribuições e responsabilidades com os filhos (PARAGUASSÚ et al., 2005).

O contexto social no qual ocorre a maternidade/paternidade na adolescência e os principais desdobramentos na vida desses jovens advindos do nascimento da criança são questões fundamentais na análise da experiência de parentalidade juvenil (DIAS; AQUINO, 2006).

O Brasil é um país que possui grande número de mães/pais adolescentes; entretanto, poucos são os trabalhos que fazem uma análise dos sentimentos envolvidos na maternidade precoce e suas consequências emocionais a essa população de mães adolescentes (SANTOS, 2006). Assim, ao se fazer uma revisão em literatura brasileira sobre o tema, observou-se que publicações privilegiam a gravidez da adolescente (natureza obstétrica e pediátrica), e não a adolescente grávida/mãe (SANTOS, 2006; SANTOS; SCHOR, 2003). Portanto, foi dado enfoque aos estudos de envolvimento psicossocial para melhor entender os sentimentos gerados nesse grupo particular de pessoas, tentando compreender as condições de mães adolescentes no seu aspecto emocional.

Neste trabalho, pretendeu-se analisar a vivência emocional de mulheres que passaram por gravidez/maternidade na adolescência e como elas estabelecem a relação mãe-filho, com a presença ou ausência do pai da criança. Foram abordados temas relacionados ao cotidiano da adolescente, mudanças na sua vida, cuidado com o filho, educação, trabalho e aspectos afetivos e sociais. Assim, é possível identificar se a existência de uma relação estável com o parceiro é benéfica e importante, para que a mãe adolescente estabeleça uma interação mãe-filho de forma consistente e positiva.

 

2 MATERIAL E MÉTODOS

O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Presidente Antônio Carlos (UNIPAC) - CEP-UNIPAC - em 13 de novembro de 2008, de acordo com o protocolo nº 411/2008 (Apêndice A). Utilizou-se recurso da metodologia científica de caráter qualitativo e contendo algumas características básicas: o ambiente natural como fonte direta de dados, e o pesquisador como principal instrumento de pesquisa; os dados coletados são predominantemente descritivos; a preocupação com o processo é muito maior do que com o produto; o significado que as pessoas dão às coisas e à sua vida são focos de atenção especial para o pesquisador, levando o grupo de pesquisadores deste estudo a adentrar em aspecto de ordem subjetiva das participantes da pesquisa (SANTOS, 2006).

Os pesquisadores fizeram, por meio do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice A), um levantamento de todas as adolescentes que participaram do primeiro estudo "Gravidez na adolescência: cuidados pré-natais e resultados perinatais em grávidas adolescentes da rede pública de Barbacena-MG", para um contato inicial. Este estudo foi composto por 206 puérperas, sendo 98 adolescentes (10 a 19 anos) e 108 adultas (maiores de 19 anos), atendidas no pré-natal e parto da Santa Casa de Misericórdia. A pesquisa teve seu projeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNIPAC, em 24 de agosto de 2006, sob o protocolo nº 125/2006, e foi apresentado como trabalho de conclusão de curso, sendo aprovado pela banca examinadora (GABRIL et al., 2007).

As entrevistas, que, a princípio, seriam realizadas em uma sala cedida pela Pró-Reitoria de Pesquisa, Extensão, Pós-graduação e Cultura, foram agendadas em data, horário e local que melhor fosse para as participantes. Assim, todas as entrevistas foram realizadas em suas respectivas casas.

Após a localização da casa e do contato inicial com cada participante, eram expostos os objetivos do trabalho e o caráter de participação voluntária na pesquisa, utilizando-se o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

O roteiro utilizado para a entrevista foi semiestruturado, composto por 14 perguntas de caráter subjetivo, além de questões sociodemográficas e gineco-obstétricas, para que se conhecesse o perfil da participante do estudo. Dessa forma, cada participante se expressou livre e espontaneamente, de forma que se esgotasse o assunto. Quando parava de falar, eram solicitadas informações complementares ou esclarecimentos. O silêncio, quando presente, era respeitado e aguardado; em seguida, a entrevistada falava de sua vida de maneira mais elaborada. As entrevistas foram realizadas sempre pelos mesmos pesquisadores, gravadas em aparelho de áudio formato MP3 e, posteriormente, transcritas respeitando-se a linguagem das entrevistadas.

Em respeito ao anonimato das jovens mães, atribuíram-se nomes fictícios de flores, razão pela qual passaram a ser identificadas pelos seguintes nomes: Dália, Margarida, Rosa, Hortênsia, Camélia, Orquídea, Tulipa e Violeta.

Para tratamento dos dados, foram realizadas leituras superficiais, profundas e repetidas das entrevistas. A análise foi realizada com base em dados individuais e dados agrupados, de acordo com os eixos temáticos adolescente-mãe, mãe-filho e adolescente-companheiro, ressaltando-se os sentimentos e as percepções das entrevistadas.

O trabalho teve como critérios para suspender ou encerrar a pesquisa a recusa das mães em participarem das entrevistas e a impossibilidade de contatá-las.

 

3 RESULTADOS

Das 98 adolescentes que preencheram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido do estudo "Gravidez na adolescência: cuidados pré-natais e resultados perinatais em grávidas adolescentes da rede pública de Barbacena-MG", 21 foram excluídas por não terem telefone, sendo catalogados 77 números para um primeiro contato. Foram realizadas mais de 90 ligações, pois muitos foram os motivos que inviabilizaram o contato: telefone desligado, número inexistente, telefone público ou de hospitais e mercearias. Embora tenham sido feitas inúmeras tentativas de contato com as jovens mães para realização deste estudo, foi impressionante a aceitação imediata das mulheres que foram possíveis contatar. Assim, o grupo foi composto por 8 mães (entre 19 e 22 anos), sem distinção de etnia, sendo que as condições de saúde, a ocupação, o estado civil e o grupo social foram conhecidos e analisados durante a realização das entrevistas.

As dificuldades encontradas pelos pesquisadores foram, sobretudo, os telefonemas, já que muitos números não existiam mais ou eram de hospitais ou de telefones públicos.

Para o melhor entendimento do perfil dos sujeitos do estudo, segue-se um apanhado sobre as suas condições sociodemográficas e gineco-obstétricas.

Das 8 jovens entrevistadas, por ocasião da coleta de dados, 2 tinham 19 anos, 4 tinham 20 anos e 2 tinham 21 anos. Quanto ao estado civil, três eram solteiras e apenas uma ainda matinha relacionamento com o pai de seu filho, duas eram casadas e duas habitavam em união estável com o pai de seu filho. Sobre a situação escolar, duas tinham 1º Grau incompleto, quatro tinham 2º Grau incompleto e duas terminaram o 2º Grau, sendo que apenas 1 faz curso técnico. No que se refere ao trabalho, 5 não trabalham, 1 é diarista 3 vezes na semana, 1 é doméstica e outra é funcionária dos Correios, sendo que a renda média das 3 é 1,5 salário mínimo.  A residência onde mora a maioria delas é dos pais, sendo que duas têm casa própria e duas moram com a sogra.

Observou-se que a idade da menarca ocorreu para todas entre os 12 e 13 anos, e o primeiro namoro ocorreu entre os 13 e 14 anos, sendo que apenas 1 começou a namorar aos 15. A gravidez ocorreu em duas adolescentes entre os 16 e 17 anos, sendo que, para as outras 6, ocorreu aos 15 anos. Quanto ao tipo de parto, foram quatro vaginais e quatro cesarianas. A idade dos filhos hoje varia entre dois e três anos, sendo quatro meninos e quatro meninas, e apenas duas delas têm dois filhos. Todas as crianças estavam presentes durante a realização das entrevistas. A idade paterna mediana é de 25 anos, sendo que apenas um dos pais tem 19 anos e 2 têm mais de 30.

Durante a entrevista foram abordados temas como a gravidez, o significado da maternidade, o cuidar do bebê e a relação com o companheiro.

Sobre a gravidez, eram questionados os fatores positivos e negativos pelos quais as jovens passaram e, na maior parte dos relatos, foram identificadas as dificuldades da aceitação dos pais das adolescentes. Seguem-se respostas típicas a essa questão.

Ah, ela não foi planejada. Foi um acidente, mas um acidente bom! (risos) Sabe, eu acho que a pior parte foi ter ficado na casa do meu pai e da minha mãe. Assim, não que eles me maltratassem nem nada... Porque deu um rolo muito grande, ai o meu pai não aceitava... Só que a minha mãe me apoiou... me ajudou. É que nem te falo, mãe é mãe. Lembro que meu pai me falou que não me aceitava morando dentro de casa e também que não queria conhecer a criança que nascesse, mas foi o primeiro a ver.  Ai ele ficou mais de vinte dias sem falar comigo. Ai já começou a incomodar, porque já é como se você não fosse bem vinda, então acho que a parte mais difícil mesmo é essa, porque ali tem discussão quase todo dia e aquilo ali você vai pondo na sua cabeça que cê vai ser mãe... é discussão dentro de casa... que a sua casa tem que ficar mais ou menos pra você entra pra dentro do que é seu. Então isso vai pesando muito e acho que foi a onde eu fiquei internada várias vezes... era dilatação atrás de dilatação. Passava muito mal. (Dália).

Me assustou um pouco porque eu era de menor, tive que enfrentar minha mãe... O pior de tudo foi enfrentar ela. Em relação a mim e o meu marido tava tranquilo, assim, ele assumiu... O pior de tudo foi mesmo enfrentar a mãe... Na hora de falar com ela eu lembro que ela chorou muito, se decepcionou... porque eu prometi pra ela estudar e, assim, ter uma profissão boa. E no que ela mais se decepcionou foi isso. Ela queria que eu casasse direitinho, sem ta grávida, que estudasse primeiro e tivesse minha casa. (Margarida).

Outra entrevistada relatou que:

No começo ninguém sabia... Depois com três meses todo mundo começou saber... Ai comecei a brigar muito com a minha família, ai começou a complicar um pouco... Mas com a minha mãe tive muita dificuldade, porque ela não aceitava filha nova grávida... ai ela não gostou da ideia não! Porque a mais velha até hoje não tem filho e eu fui a primeira a ter, ai ela não gostou muito da ideia não. Ai brigou muito... Ai foi difícil, porque até cheguei a sair da casa dela pra vim morar aqui, ai a gente não se falava mais... Foi muito ruim! Foi bem difícil porque a gente nem conversou mais, uma virava a cara pra outra, porque ela até chego a comentar com uns irmão dela que ia mandar eu tirar, que não sei quê que tem. A gente ficou bem com raiva mesmo uma da outra. Ai foi bem difícil... (Camélia).

Relatos de extrema agressão por parte da mãe puderam ser identificados na fala de Rosa:

...Eu tava de três meses ai minha irmã que é casada engravidou. Ai minha mãe virou pra mim e falou assim: "Só não vou matar seu filho que tá ai dentro da sua barriga porque eu não quero carregar a culpa". Quando a minha irmã falou que tava grávida ela abraçou e beijou e eu não superei isso até hoje! Me marcou muito! Mais coisa ruim do que coisa boa. (Rosa).

Para uma entrevistada, a maior dificuldade vivida por ela no período da gravidez, e ainda hoje, foi a mudança que o seu corpo sofreu:

Quando descobri que tava grávida eu não queria. Querer, querer, eu não queria. Nossa senhora! Pra mim até hoje é inaceitável, porque eu fiquei muito feia e a barriga ficou muito grande. Sabe, meu corpo mudou com a gravidez, nossa senhora! Até hoje eu tô transtornada da vida. Nossa senhora! Minha barriga ficou muito feia, estrienta... Fiquei muito gorda, nunca fiquei o que era antes. Tô horrorosa. Pra falar a verdade até hoje eu não aceito essa mudança. Eu engravidei muito nova né, ai eu fiquei com o corpo assim. (Violeta).

Outra dificuldade citada por elas foi o preconceito que a condição de mãe adolescente trouxe:

Mas foi muito difícil, porque existe muito preconceito dos outro... Uns povo falava demais: "nova, grávida já..."  (Camélia).

Pras mães você já passa a não ser mais boa companhia, porque a filha pode engravidar também. O pessoal ainda é bem preconceituoso. (Tulipa).

Eu tava conversando com pessoas do meu serviço que foram mães novas... aí homens se afastam porque você tem uma filha, ou chegam perto de você só pra querer transar com você. É muito ruim! Você querendo ou não, você vive um preconceito muito grande, porque as pessoas falam assim: "Ah, eu não tenho preconceito"... Mas têm. No fundo no fundo têm. E elas esquecem que elas têm telhado de vidro né. Passei por muito preconceito... Quando eu engravidei, eu tava no 2o ano do 2o grau e eu era a única grávida da escola. Em seguida de mim veio um monte, parece que teve uma febre. E todo mundo viu o que eu passei... E as pessoas falavam assim: "Uma criança cuidando da outra". Dá vontade de dar um murro na cara da pessoa... Não sabia o que é que eu tinha passado, a quantidade que eu sofri, a quantidade de coisa que eu tive que aprender, de crescer na marra... E vira pra mim: "Uma criança cuidando de outra"... Outra expressão que eu também detesto é "Mãe solteira... ah, mãe solteira". É horrível! Cê escuta isso a onde que cê vai... Às vezes entro em pânico e falo: "Gente vou ter que carregar o meu erro dos dezesseis anos pro resto da minha vida, pro resto da minha vida."  Gosto muito da minha filha e etc, mas eu vou ter que carregar pro resto da minha vida.  (Rosa).

Apenas uma entrevistada, quando questionada pela gravidez, mencionou como dificuldade a relação conturbada que viveu com o seu parceiro:

Um inferno! Um verdadeiro inferno! Foi uma gravidez planejada, minha mãe não gostava dele, a gente queria casar... Minha mãe não sabe que foi planejado e nem pode sonhar... Ai a gente queria casar, minha mãe não deixava, porque meu pai manda o dinheiro pra ajudar, e minha mãe não queria ficar sem o dinheiro da pensão... Eu não casei, ai ele brigou comigo... Ele tava comigo, mas me largava pra sair. Por fim eu pegava uma faca e ficava cortando meu braço. Eu ficava cortando meus braços, porque tinha uma criança dentro de mim e eu não podia morrer, eu queria morrer, eu queria sumir, eu queria sumir, eu queria tudo! E só o que conseguir fazer era me fazer sangrar pra ver se aliviava. (Rosa).

No quesito maternidade, foi proposta a seguinte pergunta: "a partir da sua experiência, como é ser mãe na sua idade?" As respostas foram:

Ah foi difícil né. Primeiro filho, cê não tem experiência nenhuma... Foi bem difícil... Porque no começo cê não sabe cuidar direito, não sabe o quê que a criança quer... (Camélia).

Nossa senhora! (risos desconcertados) No... Até hoje eu não sei explicar... (risos) Nossa senhora, eu não tava... ai, como é que fala..., eu não tava preparada pra nada não... Aliás, realmente até hoje eu não tô ainda né? Por isso ele fica mais com minha sogra, porque eu não tenho paciência pra ficar com ele, nossa senhora! Não tenho palavras pra dizer o que é ser mãe... é totalmente diferente agora... mudou muita coisa... ah, me deu um branco... (Violeta).

Ah... Nossa! Uma experiência e tanto! Nossa senhora... Passei um cado bom quando eu tive ele... Passei bem aperto, nossa senhora! Ah, porque a gente é muito nova né? A gente não tem aquela experiência assim de mãe pra ter um filho, pra cuidar, pra dar as coisas... é muito difícil. Ah... aí tive ajuda dos meus pais, do meu irmão, do meu namorado... eles ajudaram muito. Se não fosse eles nem sei...  (Orquídea).

Pra mim ser mãe foi um presente muito maravilhoso. Um filho é inexplicável as palavras, é muito bom mesmo ser mãe! E a gente amadurece muito na marra, porque quando eu era solteira eu não tinha tanto juízo igual agora. (Margarida).

Nossa... Eu quis morrer, eu quis matar minha filha, eu quis sumir do mundo, eu entrei em depressão... Eu sofri muito... eu fiquei sozinha... o pai dela me deixou. Eu fiquei... Imagina alguém em um fundo de um poço e alguém vem com bastante estrume e te cobre... Foi o que eu fiquei. Sinceramente ser mãe é uma coisa muito louca... (Rosa).

Quando a questão levantada era "o que significa ser mãe?", observou-se que a maioria reconhecia a maternidade e expressava o sentimento que a chegada do filho trouxe do seguinte modo:

Ser mãe é isso que falei pro cê... É uma dádiva muito grande e nem todas têm esse privilégio de ser mãe... Pra mim é a melhor coisa que aconteceu na minha vida! É uma responsabilidade muito grande porque desde a hora que nasce você tem que levar as criança na educação e ensinar elas a respeitar as pessoas. É maravilhoso! É inexplicável as palavras.... Na hora que você recebe um abraço, um beijo de um filho... Nossa! A gente se sente valorizada! É maravilhoso! Porque quando cê  é mãe, assim, é muito forte, mexe muito com o seu sentimento. É mais forte do que quando você conhece um namorado, do que quando você casa, é muito mais forte. Ser mãe é diferente, é um mistério de Deus. (Margarida).

Ser mãe é tudo! Tudo! Ah, é muito bom! Saber que é seu! É muito bom! É diferente! Quando ele chegou e peguei ele assim nos braços... foi muito bom! Marcante! A gente nunca esquece! Ai esqueci a vida que eu tinha... esqueci as briga, esqueci tudo! (Camélia).

Ah é difícil né... Assim, a gente tem um carinho muito grande, um amor que a gente é capaz de fazer qualquer coisa. Sei lá... eu acho que é isso, é a gente acolher... saber ta ali sempre nos momentos mais difíceis da vida dela. Desde quando nasce você tá ali cuidando. (Dália).

Tulipa, no encontro do significado da maternidade, reconheceu que o filho mudou sua vida e relatou entender melhor os pais:

Ser mãe... Ah! Não tem uma palavra assim sabe... Porque ser mãe é tudo de bom! Criança é meio levada assim né, mas é tudo de bom! E só sei que hoje ele é tudo pra mim! Sempre em primeiro lugar. É tudo! Minha vida é meu filho! Hoje sou mais responsabilidade... mais careta... Porque toda mãe acaba sendo careta né? É diferente daquela adolescente... A responsabilidade faz a gente amadurecer demais... demais! E filho com certeza é. Ah, a gente pensa mais, porque antes você só pensa em você. Você não liga pra pai, você não liga pra mãe... Liga assim, mais ou menos. Mas depois que você tem um filho não, você já pensa no seu filho. Qualquer coisa que você vai falar você pensa no seu filho... Você já sente igual pai e mãe sempre fala: "Oh, quando você tiver um filho você vai saber..." A gente nunca acredita, mas depois que você tem um filho, realmente é verdade! (Tulipa).

Apenas uma adolescente não conseguiu definir o significado da maternidade:

Ser mãe como é que vou falar... ah, mas eu não sei não. Não passei por nada ainda, porque meu marido não tem um pingo de paciência, aí quando ele chorava, ele não queria cuidar dele e não queria ouvir chororo né, ai nos peguemo e pensamo bem e demo a guarda somente por causa da responsabilidade dele. Porque eu não sou daqui, não conheço nada daqui. Ai ele mora lá e ele fala: "Minha casa é lá. A casa da mamãe e do papai." Não fala que é aqui a casa dele... . Porque como ela (refere-se à sogra) pediu a guarda dele, ele fica mais com ela e não dorme aqui, entendeu? Ai eu fico um pouquinho com ele... Ai, igual ela fala, mãe é aquela que cuida né, e não quem só pare. (Violeta).

Para Rosa, ser mãe é uma condição conflituosa:

Muda tudo... Muda tudo. Ser mãe é em parte um peso por conta de tudo que eu perdi, de tudo que tive que aprender na marra. Do fundo do meu coração, não queria aprender assim na marra não, mas tive. Em parte alegria, que é tão bom quando você chega em casa: "ah mamãe deixa eu te dar um beijo!

Ainda quando se analisava a maternidade, observou-se o reconhecimento/importância do apoio recebido dos familiares para cuidar do filho nas falas seguintes:

Aí tive apoio da minha mãe, da minha sogra, todo mundo me apoiou... Aí foi fácil né? Agora, se eu tivesse sozinha seria muito difícil! Mas eu tive apoio de todo mundo. Todo mundo me ajudou, todo mundo me apoiou... Meu namorado me ajudou, me apoiou na época, aí foi mais fácil. (Tulipa).

Mas assim, a minha mãe, eu achei que ia ser difícil, mas ela que mais me ajudou... É que nem te falo, mãe é mãe. (Dália).

Minha mãe me ajudou... Mãe é mãe né? Ela fazia tudo! Ela ficou comigo no hospital, ela que me ajudou... Ela que dava banho, ela que cuidava... ela deixou de trabalhar pra ficar comigo. Ai de noite minha mãe me ajudava também... No, minha mãe foi a mãe dele também. (risos) Ela me ajudava de noite, ela limpava, ela ficava com ele pra mim, ela balançava pra vê se ele dormia... (Orquídea).

Observou-se que duas jovens viram no apoio da sogra a acolhida materna:

Ai minha sogra me ajudava e a irmã do pai dele também, porque tava sem trabalhar. Era sempre eu e uma pessoa porque eu não tinha experiência com nada, e ainda não tenho né? Ai quem ajudava mesmo era a sogra. Minha sogra que largou tudo pra ficar com ele...  Ajudou a superar tudo, porque tudo que tenho e que eu sei fazer pra mim é ela. (Violeta).

Minha sogra me ajudou bastante. No começo ela que olhava... ela que dava banho... ajudou bem! Sempre tinha alguém pra me ajudar... Quando não era minha sogra, minhas irmã ajudava bastante. Sempre teve alguém ali querendo ajudar... Era muito difícil deu tomar conta sozinha... Hoje eu cuido dele, dou banho comida... Apesar que ele não gosta de ficar aqui com a gente, fica mais com a sogra né, porque já acostumou muito com ela. (Camélia).

Rosa relatou ambivalência ao falar do apoio materno:

A minha mãe significou o tudo e o nada! A minha mãe significou tudo porque quando ela tinha que me dar apoio ela me deu... E nada, porque quando eu precisei de um empurrãozinho pra cair no poço ela me deu... Cada um me empurrou de um jeito. Ela não quis ter me visto em depressão, ela não quis que eu entrasse em depressão, ela ficou muito sofrida, muito doida com aquilo. Mas na hora dela apedrejar né, ela apedrejou.

Na questão relativa a cuidar do filho, os relatos dão a perceber que, ao chegar em casa com a criança, as pessoas da família ajudaram as jovens mães nos cuidados com o filho, entre elas, a mãe, a irmã e também a sogra:

Foi difícil né! Ai no começo, durante três meses, como eu não sabia de nada quem cuidou dele mais foi minha sogra... Ela que dava banho, mamar... porque eu não tinha experiência nenhuma disso. Era bem difícil cuidar né (risos), mas eu ficava mais por conta de trocar fralda, levar pra tomar vacinas... assim. Mas esse negócio de banho, mamadeira era mais com ela mesmo, quando ele tava mais novo. (Camélia).

Mas antes, nossa senhora, eu sentia muita dificuldade, não sabia de nada, não sabia o que ele tava sentindo, se tava com dor de barriga... Ai não descobria o que ele tinha, ai eu chamava a sogra e ela resolvia... Ai ela vinha e dizia que era cólica, batia na bundinha dele e ele dormia. Era sempre ela. (Violeta).

Assim, um mês e pouco eu não dava banho nela não... Olha, acho que a parte mais triste era dar o banho, porque eu sei lá, até hoje, acho que é complicado... A minha mãe que me ajudou... Ela, todo dia ela vinha aqui na minha casa e dava banho na minha menina. (Dália).

Apesar do apoio materno, duas jovens mães relataram que já tinham experiência com o cuidar:

Eu que troquei fralda, eu que cuidei de bico, eu que dei banho. Eu sempre olhei meus irmãos, então já tinha experiência e quis fazer tudo sozinha. É bom! (Tulipa).

Pra mim cuidar dela foi tranquilo sabe por quê? Eu já tinha experiência, porque tomei conta de um menino de três meses pra mãe trabalhar, ai nesse ponto não tive muita dificuldade não. Ai não me assustou muito não. Ninguém me ajudou a cuidar não... (Margarida).

Diante de uma autocobrança, apenas Rosa assumiu o cuidar da criança como um requisito para assumir o papel de mãe:

Como foi cuidar?... Nossa! Foi... pra cê ter uma ideia, minha filha começava a gritar e eu não queria pedir ajuda pra ninguém, eu tinha que dá conta sozinha, eu que tinha colocado ela no mundo, todo mundo jogou isso na minha cara... Minha irmã, minha mãe e amigas ficavam do meu lado só perguntado se precisava de alguma coisa, mas no mais era eu e eu, Deus e minha filha..

Outro tema surgido no processo do cuidar do filho foram os relatos dos momentos de dificuldades para lidar com os problemas mais comuns do filho, como choro noturno, cólicas, além de dificuldades para amamentar, as dores no seio, o estresse do hospital:

Quando cheguei em casa com ela nos braços foi difícil! Parecia que eu tinha entrando numa depressão pós-parto... eu só chorava...  só chorava. Não sabia como é que eu ia fazer não. Estressei! Então cê vai panhando conhecimento de tempo a tempo. Porque assim que nasce cê não tem conhecimento nenhum. Tive dificuldade pra amamentar porque eu não dei leite. Eu acho que por eu ter ficado muito estressada mesmo, o leite não descia... eu não dava leite. Ai quando ela largou o peito, que eu comecei a dar mamadeira ela, o leite desceu. Isso foi com dez dia de vida... Acordar a noite pra cuidar dela era estressante porque cê tinha que acordar no outro dia pra trabalhar e chegava a noite ela não deixava eu dormir. Então era difícil! Era difícil mesmo! Ah é muito ruim ficar sem durmir! Sem durmir é a parte mais coisa mesmo, porque que nem eu tô te falando, chega a noite cê tem que ficar acordada e chega no outro dia cê é obrigada a dá conta de seus afazeres. Então, querendo ou não ocê tem que dá conta de virar dia e noite. Então era difícil! A vontade era de sacudir mesmo! (risos) (Dália).

Foi um aprendizado, aprendi muita coisa. A ir pro fogão, lavar a mamadeira, ferver a mamadeira, a esperar médico... Foi assim, um aprendizado, entendeu? Cê tem que ficar buscando as coisas... Amamentar, que isso! Foi uma porcaria! O pessoal da Santa Casa me obrigando, eu passando mal, eu passei muito mal depois do parto, vomitando, ficando tonta, ficando fraca, não conseguia segurar, não tinha experiência... " não que tem que por no peito, que tem que mamar, tem que mamar!" E aquilo eu passando mal... "porque tem, porque tem" Como tem?!  Eu não tava guentando uma gata pro rabo... Como tem? Não tinha jeito! Poxa dá um tempo! Um minuto, um segundo, qualquer coisa pra eu recuperar, botar minhas forças no lugar. Eu sangrando igual um porco e uma criança em de mim sugando o resto de energia que eu tinha! Foi péssimo! Foi péssimo! Foi muito difícil! Na vinda pra casa era muito difícil amamentar, minha filha fazia o bico do meu peito de chupeta e ninguém explicou isso, porque eles só ficavam com aquela ideia massacrante de que tinha que amamentar... O bico do meu peito rachado, sangrando e "não, tem que mamar, tem que mamar". E aquilo eu não aguentando, era muito nova, que isso! E o povo fazendo pressão. Achei injusto, não vê que do outro lado tem um ser humano sentindo as coisas! Não conseguia amamentar porque ficava muito nervosa, ai amamentei só 45 dias... Mas também achei ótimo amamentar só os 45 dias porque eu acho que isso é coisa pra vaca. Cê ficar cheirando leite... isso é péssimo! É péssimo! É desgastante, é um sofrimento... (Rosa).

Amamentei com os peito tudo rachado, mas amamentei... Nossa senhora! Chorava... Rachou e sangrava, ai ele mamava sangue, porque meus peito empedrou sabe? Era muito leite, então empedrou. Ai tinha que ir na Santa Casa pra tirar leite pra doar, ai mesmo assim dei... Não queria não, mas dei. Ai com o tempo meus peito foi melhorando né? (Orquídea).

... a noite foi terrível, porque você tá acostumada a dormir sem hora, sem nada e de repente cê tem que mudar... Mas ai dava mamar... responsabilidade né? Eu que fiz ele, eu que tinha que olhar... Mas depois cê acostuma... é, acostuma! Nunca dorme mais como era antes, nunca dorme mais! Sempre acorda. (Tulipa).

Pra mim o mais difícil foi não saber amamentar... ela chorava de fome de um lado e eu chorava do outro, e minha mãe não sabia quem acalmar... Foi horrível! Com quatro meses taquei mamadeira e mucilon nela... (Hortênsia).

Aconteceu de explodir meu peito, ai fui lá treinar, porque meu peito ficou muito saindo... saindo não, é coisando o bico do peito... machucando. Ai ele não pegou de jeito nenhum o outro peito, só queria o rachado que só tinha pus, nem tinha mais leite. Nossa senhora! Ai chorei demais... vivia doendo. Eu não conseguia comer, tava com febre, ai continuei dando mamar pra ele. Quando ele tava mamando, um peito ficou gordo, mas ele não aceitava pegar o outro peito... ai meus peito ficou um grande e outro pequeno. Nem dá pra vê muito não, mas foi o mais, mais triste da minha vida foi isso. Nossa senhora! Chorei demais!  (Violeta).

Quanto à questão "sua vida hoje é melhor ou pior do que antes de ficar grávida?", as respostas variavam entre o arrependimento e a aceitação da maternidade:

Melhor! Melhor... completamente! Acho que ela é melhor do que antes. Porque meu sonho sempre foi ter minha família... Sempre! Desde quando eu brincava de boneca... O meu sonho era ter meu marido, a minha casa, a minha filha. Então pra mim, minha vida hoje é bem melhor do que quando eu morava com meus pais, que eu tava na adolescência. Nossa muito melhor! Então eu prefiro a minha vida hoje em dia. (Dália).

A minha vida é bem melhor! Porque antes eu não sei o que taria fazendo agora... Sô uma pessoa realizada com minha vida hoje. Sô muito feliz tenho que agradecer muito a Deus... (Margarida).

Acho que é melhor! Porque eu acho que amadureci mais... E outra, meu filho... Ai, agora tudo eu penso no meu filho. Eu acho que eu não tinha um motivo assim... eu não planejei, entendeu? Mas já que veio, hoje ele é tudo pra mim! (Tulipa).

Ah meu Deus do céu e agora?! Como vou falar isso?!... Assim, não é ruim sabe? Mas se eu pudesse escolher não ter tido ele agora eu não tinha não... Eu preferia minha vida como era... Podia sair, não tinha responsabilidade, não reclamo por ele entendeu? Mas eu preferia como era antigamente. Nossa senhora... Eu saia, divertia, ficava longe de casa semanas pra passear. Hoje em dia não posso fazê isso mais. Hoje é cuidar dele. Hoje é eu e ele. Cuido dele o dia inteiro. Isso me impede de sair... (Orquídea).

É melhor agora! Porque agora todo mundo me compreende sabe? Me entende melhor, ajuda bem... antes não, antes ninguém se importava... Ta bem melhor agora. Bem melhor... Nada de antes me faz falta. (Camélia).

Ah... xô vê... sei lá! Acho que melhorou um pouco... mas não muito não! Tá praticamente a mesma bosta! (Hortênsia).

Violeta vê no filho o resgate de sua identidade:

Agora é melhor. É melhor porque tenho meu filho e nossa senhora, sou muito apegada a ele. Pra mim ele é tudo pra mim. Aqui eu tenho só ele... Eu não tenho muita experiência com criança né... mas é melhor.

No entanto, foi de Rosa que partiu o discurso mais emocionado, relatando fatos de sua infância, suas expectativas e sua responsabilidade com a chegada da filha:

Minha vida hoje? Agora?... Ham... Na realidade eu nunca fui feliz... Eu nunca me senti feliz... Meus pais se separaram quando eu tinha dez anos e ele virou pra mim e falou que não queria mais ser meu pai, que ia ser pai dos filhos da mulher que ele arrumou. E nunca mais eu vi... Então eu nunca me senti realizada, satisfeita, alegre... eu sempre tive alguma coisa pra me jogar pra baixo, pra me deixar infeliz, pra me deixar chateada. Eu achei que com a vinda da minha filha a minha vida ia ser totalmente diferente... que eu ia casar, que eu ia viver com o pai dela... Não foi assim! E eu achei que depois, que as vezes que eu pedi e implorei pra ele voltar, eu ainda tinha esperança que tudo ia dar certo... E não foi assim! A sensação que eu tenho é de que sou uma pessoa frustrada, porque agora a cada dia eu tento recomeçar, lutar pra trabalhar, lutar pra cuidar dela, lutar pra pagar escola, comida, pra pagar todas as coisas e o pai dela não ajuda em nada e eu tenho medo dele brigar comigo entendeu? Então eu falo pra você, antes da minha gravidez eu não era assim extremamente feliz, mas eu ainda podia viver na minha faixa etária as coisas normais que as pessoas faziam... estudavam, saiam, namoravam entendeu? E depois da minha filha eu perdi isso tudo, mas com esperança de uma vida a dois. Mas eu não tive nada disso, eu tive foi uma vida sozinha e muito difícil!

No aspecto sentimento pelo filho, os relatos deixam transparecer que a maioria das mães gosta dos filhos ao verbalizar palavras que ilustram aspectos positivos nessa relação, como "carinho", "tudo em minha vida", "amor":

Ah sinto muito amor! Nossa Senhora! Amor de mãe, amor grande! (risos) Que é forte! Amor de mãe é diferente. Depois que a gente tem filho que a gente compreende o que a mãe da gente faz... O que ela sente de verdade pela gente... é só assim! Só depois que a gente tem o filho da gente! Foi isso que senti... (Camélia).

Nossa! Tudo! Amor, tudo! Carinho, tudo! No, ele é tudo na minha vida. Eu do a vida por ele. Nossa senhora! Não me imaginava sem ele momento nenhum, em momento nenhum! (Orquídea).

Nossa! É um carinho enorme que a gente nem sabe explicar. Porque a gente acha que ama demais, mas depois que a gente tem um filho é que a gente vê que é completamente diferente. Você acha que não tem limites! Gosto e gosto dele! Qualquer coisa que eu puder fazer por ele eu faço! (Tulipa).

Nossa Senhora! Eu não tenho palavras... É difícil pra explicar, é um mistério, sabe, que a gente tem dentro do coração... Eu não consigo explicar. Mas é uma coisa que te faz tremer, cê balança... Ai, é difícil explicar... Você  fica de perna bamba só de imaginar é meu filho... acho que é isso... As palavras é difícil. Nossa senhora, minha vida sem ela nem imagino... (Margarida).

Assim... O que puder fazer por ela cê faz... o que tiver ao seu alcance cê faz... Ah... sei lá... Você faz o que puder pra dá pro seu filho. Você deixa de comer pra dar pro seu filho. É amor de mãe, você dá carinho... atenção. (Hortênsia).

Apenas Rosa revelou uma relação que expressa sentimentos ambivalentes entre amor e ódio:

Ah! Eu sinto amor e raiva! Eu sinto amor, porque é incrível cê ter uma filha, é lindo, é tudo de bom! Mas como diz a frase: "é padecer no paraíso". É um paraíso ter uma criança sua cara, que te dá amor, te dá carinho, mais é padecer e o porquê que eu sinto raiva: pirraça, mau criação, não sei o que fazer pra educar, não sei qual o melhor caminho que devo seguir... Antigamente eu batia, batia muito! Ai eu tratei com psiquiatra e parei de bater. Só que agora eu discuto muito, agressão mais verbal... Eu preciso parar com isso, eu preciso me policiar até.

Observou-se que todas as jovens desejam um bom futuro para os filhos, traduzido em conquistas como as que as mesmas não realizaram, definindo como felicidade para os filhos realizações nos estudos, trabalho:

Desejo toda a felicidade do mundo pra ela... Desejo que ela estuda, se realize na profissão e... enfim, tudo! Ela se realizar na vida né, estudar, trabalhar... encontrar uma pessoa e que ela sejam muito feliz. É isso que eu desejo pra ela.  (Margarida).

Tudo de melhor né? Muita saúde! Tudo de bom! Que ele seja bem realizado na vida! Que ele estude bem! Que seja feliz! (Tulipa).

Violeta, Rosa e Hortênsia revelaram conflitos com a atual condição moral e desejam que os filhos tenham no futuro uma vida muito diferente da delas:

Eu desejo que ela estude, que estude! Que ela não fique uma ignorante, que isso que o pai dela é! Eu não desejo que ela fique uma pessoa ignorante, com falta de conhecimento. Que ela queira fazer qualquer coisa na vida dela, que ela decida... Que ela seja melhor no que ela faça. Então eu desejo assim, que ela estude, que seja feliz e que quando ela arrumar um namorado, ou eu vou ter uma arma pra apontar na cara dele e falar com ele: "Oh, se você fizer minha filha sofrer eu te mato!" Como o porte de armas não é permitido vai no cabo de vassoura mesmo! Eu vou pontar o cabo de vassoura na cabeça dele e falar assim: "Tu quer ficar com a minha filha tu andas na linha! Porque se não eu mesmo vou te dá uma cossa!" Porque homem nenhum vai fazer com a minha filha o que fizeram comigo. Nenhum! Que eu não vou deixar! Enquanto eu tiver viva, eu tiver perna, tiver braço, saúde, eu boto eles pra correr! (Rosa).

Eu quero um futuro muito melhor do que o meu pra ele... Porque pra falar a verdade, engravidar muito nova pra mim não foi nada bom e ficar longe da minha família... Nossa senhora! Quero que ele estude bastante né, não faça igual eu que fui até a oitava e parei, porque a gente sabe que sem estudo não é nada. (Violeta).

Desejo que ela alcance tudo de bom na vida dela. Que ela estude, faça uma faculdade, que tenha um bom futuro. Que case e que não encontre qualquer um na vida dela, que não dependa de homem pra sustentar ela que isso é muito ruim... Que ela seja independente de todo mundo. Porque eu já passei por muita coisa ruim... já passei fome... Ah... o que eu não quero é que ela seja criada sem mãe, porque isso é muito ruim, ser abandonado... porque é uma tristeza que não passa nunca sabe... Minha mãe me largou, assim quando tava na idade dela... Quando lembro me dá uma mágoa, um aperto no coração, minha mãe me abandonou, isso magoa muito... Eu nunca tive apoio, quero que ela tenha tudo de bom. A gente vai tá sempre do lado dela, que no futuro ela não tenha que reclamar do pai e da mãe dela. Minha mãe fez muita falta. Ela deixou uma mágoa muito grande... ela me pos no mundo, eu não pedi pra nascer e ela não quer me ver... é uma raiva que não passa. No futuro que ela se orgulhe do pai e da mãe dela, que tenha um futuro bom. (Hortênsia).

Quanto aos sentimentos de amparo e desamparo, foi perguntado às mães: "como foi a sua gravidez com a presença do pai de seu filho? E como é ser mãe na presença do pai de seu filho?" As respostas abaixo ilustram a relação mãe-parceiro:

Foi bom pra mim... Já tava morando com meu marido, ai a gente quis ela... Já tava morando junto oito anos. Ele me ajudava muito. Igual dentro de casa que não podia fazê as coisa, aí ele chegava do serviço e me tratava igual uma rainha. No início quando tinha dificuldade ele me ajudava muito... Ele me dava apoio... Agora que relaxou um pouco. (Hortênsia).

Quando a relação tava nós dois e eu tava grávida, ele sempre queria... Nossa senhora! Era a maior vontade dele! Porque eu não queria ter a criança tão cedo, mas aconteceu né? E ele queria. E ele me acompanhava nas consultas e até hoje vai. Ele curtiu muito a barriga crescer e ele mexer... aí quando ele saiu pra fora é que ele não curtiu mais, porque ele chorava demais e ele não tinha paciência com nada, ai demo ele pra minha sogra. (Violeta).

Eu me senti muito mais segura né, porque se fosse sem ele, igual pensando na educação dela, se ele não tivesse junto seria muito difícil né, muito complicado. Então, a presença do pai é muito importante! Sem o pai a mãe fica assim, sem apoio... Ai cai tudo na mãe né. Igual minha mãe, que cai tudo sobre os ombro dela pra criar os filho... ai não seria muito bom. Graças a Deus, Deus colocou uma pessoa muito boa na minha vida, que me apoia, quando ela fica doente ele vai junto comigo nas consulta; isso é uma força que cê se sente muito, como que eu posso dizer, cê se sente muito feliz por ter ele... Ter ele ali foi muito importante, saber que ele tava disposto a enfrentar tudo foi uma prova de amor muito importante, que realmente ele me amava... Pra assumir acho que é o amor mesmo. Nossa é maravilhoso ter ele aqui... (Margarida).

Ah, ele sempre me apoiou! Sempre me ajudou! Nunca rejeitou nem nada! Ele aceitou primeiro do que eu ainda... Ele gostou mais da ideia do que eu. Então foi bem fácil... ele adorou a ideia! Isso foi muito importante, porque a gente brigou com muita pessoa pra ficar junto, a gente até fugiu de casa... Então isso pra gente foi importante né, uniu a gente mais! É bom cê ter alguém que te ajuda, que te apoia, cê ta ali precisando... ta ali do seu lado pra qualquer hora. Ele sempre foi assim... ele sempre me apoiou em tudo... Ele ajuda olhar a criança de madrugada, ele ajuda em tudo, então ele é muito bom! Muito bom! (Camélia).

O apoio dele foi financeiramente e psicologicamente também. Ele trabalhava fora, mas sempre que podia tava comigo, participava da consulta pré-natal. Sempre fazia muito carinho na minha barriga. Nas horas de noite sempre dividiu, porque de noite incomoda, né? Eu quase não dormia, ai ficava acordado comigo. Participou de tudo! Isso foi muito importante porque você quando engravida muito nova né, acaba se sentindo assim... Acho que pra mim foi mais fácil por causa desse apoio. A presença dele marcou bastante! (Tulipa).

Ah foi incrível! Eu achei que tudo ia dar certo! Eu chorava com ele por causa das coisa que minha mãe falava e foi assim, eu achava que tudo mesmo ia dar certo. Foi bom ter ele perto. No nono mês de gravidez as coisas já tavam ruins e passou esse período do primeiro mês de vida e em seguida ele já foi embora. Por tudo ele brigava comigo, eu tava muito sensível, por tudo ele brigava comigo! Foi a beira do caos, tanto é que eu quis matá-la... Entrei em depressão pós-parto completamente mergulhada... Não comia, não vestia, não bebia, não tomava banho. Não fazia nada! Ela chorava e eu deixava ela chorando e falava "quem quiser que vai lá e olhe!". Não fazia nada. É o que eu falei eu mergulhei num poço e alguém veio com um balde de estrume e jogou em cima de mim. E eu fiquei lá afogada. (Rosa).

Quando questionadas "você acha que seria diferente se ele estivesse ausente?", todas reconheceram a importância da presença do companheiro, e Violeta, Dália e Camélia atribuem a eles a existência dos filhos:

Eu acho que seria muito difícil se não tivesse o apoio do pai porque o pai é fundamental na criação de um filho e na família. Seria diferente se ele não tivesse aqui, com certeza! Porque com certeza ela ia perguntar cadê meu pai, onde ta meu pai... Porque a mãe tando ali sozinha, ela faz de tudo pra ver um filho bem, feliz, mas vai sempre ta faltando alguma coisa que é a presença do pai, o carinho. A gente dá o carinho da gente mas eles tem um forma diferente, assim, não sei explicar... É um jeito diferente, acho que é o jeito de ser pai mesmo. (Margarida).

Mas seria muito diferente se ele não tivesse... sei lá... muito ruim! Tipo assim, por mim não trabalhar acho que não sei não, a gente não dá conta. Ah... ele me marcou muito porque ele foi uma pessoa muito presente na minha vida e na vida dela. (Hortênsia).

Se ele não tivesse comigo seria mais difícil ainda... Acho que eu não conseguiria nem ter... acho que pra mim seria muito difícil se ele não tivesse me apoiado. Acho que eu nem ia pensar ter esse filho! A presença dele marcou bastante! (Camélia).

Se meu marido não tivesse comigo faria muita falta, porque se não fosse por causa dele eu não taria com meu filho aqui. Porque eu tinha bebido, nossa senhora! Bebido coisa ruim, ai ele falava "quero esse menino" e eu pondo pressão nele "não quero, não quero" e ele sempre me animando. Se não era por causa dele esse menino não taria aqui. Ai ele sempre me apoiando, nossa senhora!  Ele sempre fala pra ele: "olha filho mamãe não queria você"...  Eu falo pra ele não falar isso que o menino é pequeno... Eu não queria porque fiquei gorda, feia.... Ai ele chamava pra sair e eu não queria porque tava estranha e gorda. Ai quando minha barriga cresceu demais pensei que ele nem ia me olhar mais, porque tava feia e gorda. Ai não foi nada, ai ele falou pra mim que queria eu e o meu filho de qualquer jeito. (Violeta).

Nem imagino se ele não tivesse comigo... não consigo. Então eu acho que hoje se nois não tivesse junto eu acho que eu taria trabalhando... Nossa! Mas eu acho que, assim, acho que a minha gravidez não ia ter nem chegado ao fim. Porque se com ele tando do meu lado já teve tanto poblema, eu acho que se ele não tivesse acho que eu não teria chegado ao fim não... E se tivesse chegado ao final hoje eu acho que eu não cuidaria da minha filha direito, taria aí jogada na mão de qualquer pessoa e eu ia querer curtir minha vida se ele não tivesse comigo que nem eu tô te falando. Então eu acho que eu não cuidar da minha filha o mínimo que ia acontecer era isso, ou eu cuidar dela e ter que deixar ela com alguém pra sair pra trabalhar pra sustentar ela... (Dália).

Tulipa e Rosa não estavam mais com os pais dos filhos e, atualmente, não estabelecem uma relação precisa de perda com a ausência dos mesmos:

A gente morou junto, mas assim... no começo foi bom, mas depois ele já não me entendia, ai a gente começou a brigar muito, ai foi melhor separar. Hoje, já não tem diferença não ter ele, porque não deu certo né? Ele não me entendia porque além de ser mãe, eu sou jovem, ai eu queria fazer coisa de jovem, queria sair, ai queria que ele dividisse as coisa, mas ele achava que tinha que só com a filho e casa. Eu não queria esse negócio pra mim não! Eu sou jovem, eu tenho uma vida inteira pela frente, se Deus quiser! Eu sei que sou mãe, eu tenho minha responsabilidade, mas também tenho que ter outra vida e ele não queria isso, entendeu? Ai foi mais por conta disso. Cada um tem que tocar sua vida mesmo, e ele continua a ver o menino, ele pega meu filho no domingo, ele dá pensão do meu filho, é super atencioso, por isso acho que não mudou muito sem ele aqui, porque meu filho sentiu que não mudou nada, entendeu? Apesar de tudo, por ele tá participando da vida do meu filho, acho que não mudou nada.  (Tulipa).

Se ele tivesse comigo seria diferente com certeza, e eu imagino de duas formas: seria ótimo, muito tranquilo ou eu também estaria na beira do caos! Poderia ter casado com ele e ficado com ele e ele revelado o monstro que ele é, que eu nunca quis enxergar ou que eu não consegui ver, não sei qual seria o correto. Mas... Ou eu taria muito bem, muito feliz! Eu iria ter virado uma doméstica, coisa que eu também já vi que eu não nasci pra ser doméstica. Ou eu ia ta trabalhando, ia ta casada com ele, ou uma coisa assim. Ou eu ia ta bem ou eu ia ta muito mal. Tanto é que eu te falei que ele tentou me bater, eu seria aquelas mulheres assim que o marido bate, que o marido bebe, que o marido tem consumo de drogas e bate nos filhos e ela não tem coragem de contar pra ninguém. Eu taria em uma ou outra situação, eu não consigo pensar exatamente em qual. Eu sei que em um das duas eu ia estar. (Rosa).

Sobre as dificuldades da vida atual, observou-se que a maior parte das jovens não concluiu o 2º grau, sendo que duas afirmaram que não querem mais estudar:

Não tenho vontade de voltar a estudar não. Parei mesmo porque eu tava grávida. Um ano antes de engravidar já não queria mais, mas meu pai não deixou... ai como tava morando com ele tive que continuar. Ai quando engravidei foi o ponto final mesmo... ai parei e não voltei mais. (Dália).

... Nunca gostei de estudo, nunca gostei de escola... Foi bem um pretexto pra mim sair da escola mesmo. Eu nunca gostei de estudar não. (Camélia).

Margarida disse que não retomou os estudos porque tem que trabalhar:

Voltar é difícil, porque assim estudar, trabalhar, criança pequena, casa pra cuidar é muito complicado. Não dá. Mas no fundo mesmo eu queria voltar a estudar, mas as condição é que não dá oportunidade.

Já Orquídea, Hortênsia e Tulipa afirmaram o desejo de fazer um curso superior:

Ai ano passado fiz supletivo e terminei o segundo e terceiro ano, mas eu quero fazer uma outra coisa. (Tulipa).

Penso em retornar agora pra frente... Passei pro 2o ano, só não continuei... Aí vou continuar pra fazer faculdade. (Hortênsia).

Estudo a noite, faço supletivo. Vô vê se faço alguma coisa pra frente... uma faculdade. (Orquídea).

Quando questionadas sobre a aceitação da situação presente, algumas jovens mães demonstraram arrependimento, mas aceitaram a maternidade, pois a maioria delas era "caseira" e "não saía muito", por isso, "não mudou muito":

Assim, é igual eu te falei... É porque não é que atrapalha a gente, mas é igual assim, antigamente eu saia numa sexta-feira e voltava só na segunda. Ia pra casa das colegas, pra balada e hoje em dia eu não posso fazer isso, entendeu? Eu não saio, assim, eu saio ai minha mãe olha ele... uma, duas, três horas da manhã já to em casa, entendeu? Não é aquela privacidade mais que a gente tem, de sair com os amigos e sentar num barzinho e tomar uma cerveja, esquecer do mundo, sabe? Hoje em dia eu penso, assim, eu vô sair mas tenho hora pra voltar, porque tenho meu filho. Ah, assim, mas eu não importo muito não, porque eu saia, mas não era aquela coisa assim de gostar mesmo de sair. Saia mais pra divertir mesmo, isso não me impediu muito assim não porque era mais caseira mesmo, de gostar de ficar em casa. Só saia assim de vez em quando mesmo. Mais assim, ah... pra mim foi tranquilo aceitar. Minha mãe fica sabe? Agora, se ela não ficasse quando eu quisesse sair, ai ia ser muito pior. Mas ela fica assim pra eu sair... ai ela fica.  (Orquídea).

A única coisa que fui obrigado a largar foi os estudos... porque fui obrigado mesmo. Agora de resto não mudou não. (Hortênsia).

Ah, sinceramente não foi fácil não! Mas ai eu pus na minha cabeça que era a minha responsabilidade mesmo, eu que sou mãe dele, que tinha que cuidar... agora já ta na hora de retomar a vida de novo. Não mudou muito porque eu já não era muito de sair, mas sentia falta igual na época que você tá estudando, você tem colegas que te chama pra sair. Com o filho, além de não chamar mais, quando chama você não pode sair. Mas eu não sentia muita falta nem sinto até hoje porque penso 'Meu filho é mais importante'. (Tulipa).

Aceitei bem, mas cê sente falta né. Quando cê vai pra festa e fica até três horas da manhã, ai hoje já não posso fazer isso mais, porque como cê vai pra festa com filho... ah, não tem como. Agora troco a noite pelo dia. Mas muda, muda muita coisa mas vale a pena. (Margarida).

Ah, foi diferente mas por um lado foi bem melhor... Porque quando eu era solteira eu não saia de casa, eu ficava só por conta de ajudar arruma casa, lavar roupa, só pra isso... Então não mudou praticamente nada. (Camélia).

Até hoje não aceitei ele. Mas a vida tem que continuar... Minha sogra que largou tudo pra ficar com ele, eu não deixei de fazer muita coisa. Mas mudou muita coisa... eu saia, agora não posso sair. Mas eu não sou muito de sair... sou muito caseira. (Violeta).

Eu não aceito! Eu não aceito! Eu não aceito! Eu sou completamente depressiva, enlouquecida, eu tomo remédio pra dormir, tomo Rivotril pra dormir. Eu tratava com um psiquiatra, ele me tratou um tempo mas eu abandonei o tratamento. Eu puxava os meus cabelos, eu gritava, eu me batia. Ela foi pra casa do pai dela eu botei fogo na minha perna. Eu não admito ela ir pra casa dele, eu não admito não poder sair quando eu quero, eu fico superchateada, super depressiva, supertriste... e choro... taco fogo na perna e taco faca no braço e choro... grito, grito e esperneio... e fumo, fumo, fumo, fumo. Aliás foi com ele que aprendi a fumar depois da minha gravidez, porque na minha gravidez eu não fumava. E fumo desesperadamente, fico sem comer, fico sem tomar banho... Se ela vai pra lá eu fico supermal, se eu não posso sair eu fico supermal. Sento na frente da televisão e fico chorando... É horrível! Tem vez que ah eu to ótima, to conversando, to falando, mas tem hora que minha vontade é de sumir do mundo. Tanto é que esse ano no dia das mães fez um ano que eu tentei suicídio por causa do pai dela. Eu tomei mais de duzentos comprimidos... Você nada, nada, nada, sabe-se lá se cê vai ou não morrer na praia. Todo dia é uma briga com você mesmo. (Rosa).

Quando interrogadas sobre seus sonhos, observou-se que algumas jovens buscavam um futuro bom, enquanto outras revelaram que não sonham mais:

Continuar com meu marido, que a minha filha seja muito feliz e tenha uma educação boa e acabar de arrumar minha casa... (Dália).

Ah! Ultimamente não tô tendo nenhum! Não tenho sonho não! (Camélia).

Meu sonho é ter o meu negócio, trabalhar pra mim, ser independente. Ver minha filha estudada, realizada na vida né. (Margarida).

Sinceramente eu não tenho sonhos! É verdade, não tenho sonhos. Acho que namorei muito nova, então já não tinha sonho e ele me prendia muito, apesar de tudo sabe, ele me prendia muito, ai eu não tive sonho e ai logo engravidei. Sinceramente não tenho sonho e quando penso no futuro não penso em nada.... Todo mundo fica bravo comigo.! (Tulipa).

Meu sonho é trabalhar, dar coisa boa pra minha filha, roupa, de tudo... Ah, sem trabalhar não consegue nada, é muito difícil sem trabalho. Quero trabalhar, fazer faculdade boa, vê ela bem. Como diz os outro: "Quero ser alguém na vida. (Hortênsia).

Sonhos... ih! Não tenho mais nenhum. Ele fala que eu sou muito acomodada. Sou sem sonho. Mas eu quero mesmo é estudar, porque depender de homem é ruim. (Violeta).

Eu não sonho... Eu não sonho... Tudo que eu sonhei deu errado, tudo que eu planejei deu errado. Eu tenho medo de sonhar... medo de fracassar... medo de perder... medo de não conseguir, entendeu? Eu tenho medo... Eu não consigo fazer nada! Nada! Eu não tenho iniciativa pra fazer nada... Eu tenho medo de fraquejar... Eu tenho medo de sair e encontrar com ele na rua, entendeu? As coisas que eu tentei não deram certo! Não fico feliz com isso! Como que eu vou sonhar? Eu tava outro dia conversando com a minha mãe, eu não acho nada que me faça feliz, eu não consigo brincar... Eu sou uma pessoa que pra mim mesma eu tenho que parecer forte e na realidade eu devo ser muito fraca... Eu não sei, eu fico com medo de sonhar as coisa e tudo virar uma grande mentira de novo! E eu não quero passar por isso de novo! Acho que eu não mereço! Eu não pedi a Deus pra passar por isso... (Rosa).

Finalizando as entrevistas, as entrevistadas mandaram mensagens para adolescentes que também vivenciaram a maternidade na adolescência e para os seus pais:

É difícil é, mas a gente não pode abaixar a cabeça no primeiro obstáculo. Impossível não é, que muitas consegue passar... Não é um obstáculo, é só uma passagem difícil pro cê passar. (Dália).

Elas deveriam planejar a vida, não fazer igual eu fiz, porque eu era imatura e a minha mãe tinha vergonha de conversar comigo sobre sexo, de me explicar direito. Falava na escola né, mas quando você tem o apoio da família é diferente, porque se eu tivesse evitado talvez hoje eu tava estudando, teria formado na faculdade já, porque se ocê passar na frente de tudo cê vai sofrer as consequências com certeza. Cê tem que parar com tudo e dedicar ao filho. (Margarida).

Falar pra pensar duas vezes, porque é muita responsabilidade e realmente a gente não tá preparada pra isso. E hoje eu penso, acho que se tivesse com a cabeça que eu to hoje eu não teria engravidado.... Mas a minha mãe cansou de falar, mas adolescente tem mania de saber que a gente sabe tudo e só depois que a gente quebra a cara que a gente vê realmente como é que é. Eu acho meio difícil, acho que poderia pensar mais, que filho poderia ficar pra depois. Poderia ter me realizado mais, conseguido estudar.  Mas se engravidar é isso ai, batalhar, correr atrás, filho em primeiro lugar. (Tulipa).

Aconselharia pra essas meninas que ta assim na vida não engravidar tão cedo. Tipo assim, não ta ruim sabe, não reclamo, mas pra aproveitar mais a vida, aproveitar mais as coisas... preservativo ta ai pra não engravidar.... porque ter filho é responsabilidade pra vida toda... tem tanta gente que põe filho na porta dos outros.... ele não pediu pra nascer... e deixa lá. É isso... Ah, tem menina que fica grávida na hora errada e quer tirar... Tá errado! (Hortênsia).

Ah... não arrumar filho não. Não muito nova... Dá muito trabalho, nossa senhora! Só quem passa por isso é que sabe. Porque, graças a Deus, igual eu te falei a gente nunca passou dificuldade nem nada não, mas se eu pudesse voltar atrás eu não teria tido filho agora não, tinha esperado estabilizar a vida primeiro. É muito difícil sabe, tem que pensar muito para arrumar um filho. (Orquídea).

Ah... eu pra falar a verdade ia falar pra não engravidar cedo... pra estudar bastante. Estudar primeiro, porque engravidar e ter filho muito cedo, nossa senhora! É muito complicado! Porque até hoje eu não to preparada pra ser mãe. (Violeta).

Primeiro: não abortem, porque perder um filho é pior do que ter um filho! Não façam isso! Estudem! Não deixem de estudar jamais! Jamais! Porque vocês vão precisar de estudo pra poder ensinar as coisas pros seus filhos e pra poder ter o seu emprego e conseguir sustentar. Não planejem engravidar! Não engravidem! Tenha sua vida estruturada primeiro... Tenha dinheiro, tenha certeza de que é aquele homem que cê quer. Não deposite esperança em homem nenhum. Eu falo pra elas, não engravidem! Não engravidem! Não abortem! Porque é muito ruim você perder um filho. Mas se você vai ter um filho tenha força! E reze pra não encontrar qualquer um se não fica traumatizada... que eu fiquei! (Rosa).

Ah, eu acho que apoiar é fundamental. Porque eu já vi, tem muitos pais que não apóiam que colocam pra fora... Porque fico pensando que a gente já fica perdida e se você não tiver o apoio daquelas pessoas que conviveram com você, que é pai e mãe, você se perde mais ainda. (Tulipa).

Os pais devem conversar sempre com os filhos dentro de casa, ter o diálogo, porque hoje em dia não tem como o filho namorar e não ter relação. Se vai ter relação pra prevenir... Pros pais sempre ter o diálogo com os filhos, que é fundamental, porque se não tiver o diálogo dentro de casa com certeza eles procura na rua e com as pessoa errada. (Margarida).

Tem que falar pra esses pais dá apoio, mesmo que foi um ato sem pensar, não por pra fora de casa que a vida não é assim. Tem que apoiar, entendeu? (Hortênsia).

Que apóiem né! Se não depois se arrepende igual minha mãe se arrependeu... Apóia os filhos que depois é tarde também... Porque virar a cara não adianta. Não adianta tentar fugir do assunto. Tem que compreender o outro. (Camélia).

Oh eu acho assim, quando cê é pai, cê é mãe, ocê tem que apoiar seus filho. Falo principalmente pela mãe, porque quando você engravida o apoio maior vem da mãe. Então ela tem que sentar e conversar, explicar pra filha o que virá dali pra frente, porque o que aconteceu dali pra trás não adianta ocê explicar não. Cê explicar ali tudo que vai acontecer com que cê tem de agir, quando nascer como que cê tem que fazer... Então eu acho assim, o amor faz falta. O amor dos pais faz falta. Porque é uma trajetória muito difícil que cê tem que percorrer, então faz falta cê ter o carinho do pai e da sua mãe. (Dália).

Não abandonem! Não abandonem! Apoiem! Dêem apoio as suas filhas! Não virem as costas! Não apedrejem! Não julguem as suas filhas! A gente não é Deus pra julgar ninguém... Seja compreensivo, por mais que você não goste de quem é o pai da criança, não abandone nunca! Nunca! Esteja ali presente! Mas não queira que o filho seja seu. Apóie, dê a mão, mas não se intrometa! Não vem achando que o filho é seu que não é! Não vem com esse papo que avó é mãe duas vezes que não é! Você vai estragar o que a gente tenta construir. (Rosa).

 

4 DISCUSSÃO

Depois de apresentar as histórias de vida das jovens mães, algumas considerações sobre a trajetória da maternidade na adolescência devem ser feitas, visando, assim, compreender as mudanças ocorridas com a chegada do filho. O ponto fundamental para compreensão dos relatos feito pelas participantes leva em consideração a estrutura familiar e as circunstâncias que a maternidade na adolescência impõe.

O significado da maternidade foi atribuído pelas jovens em 5 eixos de vivência: 4.1. Aceitação da gravidez/maternidade; 4.2. Sentimento de ser mãe; 4.3. Mudanças percebidas ao vivenciarem a experiência de ser mãe; 4.4. Cuidados com o filho; e 4.5. Importância ou não da presença do parceiro na maternidade das jovens entrevistadas.

4.1 Aceitação da gravidez/maternidade

Em relação à gravidez na adolescência, assim como na literatura (AMAZARRAY et al., 1998; VIEIRA et al., 2007), não foi encontrado nesse estudo um padrão no que diz respeito ao impacto da notícia na família, havendo desde reações de apoio até reações de desaprovação. No entanto, foi possível observar que, quando comparadas aos pais, as mães aceitavam mais facilmente a nova condição da filha, fato esse justificado talvez pela relação de maior proximidade e cumplicidade que une mãe e filha.

A condição de mãe-adolescente trouxe à tona a questão do preconceito sofrido por meninas que engravidam novas. Todas as participantes disseram ter sofrido algum tipo de preconceito, seja na rua, na escola ou mesmo dentro casa. Não há na literatura pesquisada questões que remetam ao preconceito vivido por adolescentes grávidas. No entanto, sabe-se que, ao assumir a gravidez, a adolescente torna pública a vivência da sua sexualidade, o que, muitas vezes, é mal visto pela sociedade, pois há uma transgressão do status de menina para mulher. E ainda que para a sociedade exista o preconceito de que a adolescente seja considerada frequentemente incapaz de cuidar de uma criança, há na literatura controvérsias quanto ao resultado final do seu desempenho, pois estudos afirmam ser a jovem mãe capaz de cuidar com sucesso de seu filho (VIEIRA et al., 2007).

Considerando a aceitação da maternidade, muitas jovens reconheceram que a gravidez poderia ter ocorrido mais tarde, desvelando sentimentos de arrependimento, frustração por terem ficado grávidas tão jovens e acreditarem não poder mais ter a vida de antes. Entretanto, a maioria delas aceita os filhos, expressando felicidade por serem mães. Assim, é possível perceber que elas referem uma vida nova e têm a esperança de que o filho fará tudo mudar para melhor, depositando neles a possibilidade de um futuro bom. Dessa forma, muitas reconhecem o filho como uma propriedade sua, inferindo a ele a possibilidade de não viverem na solidão. Duas jovens disseram não aceitar a condição de mãe. Considerando-se Rosa, esse fato pode ser justificado pela sua história de vida, que se resume em grandes frustrações e muito sofrimento, já que nada do que planejou para sua vida deu certo. Já Violeta não teve a oportunidade de desempenhar o papel de mãe, que foi exercido pela sua sogra. Isso fez com que só restasse da maternidade para ela as mudanças ocorridas em seu corpo. Assim, a literatura aponta que primiparidade precoce repercute na vida pessoal, familiar, social e educacional da adolescente. Do ponto de vista pessoal, a adolescente defronta-se com as alterações corporais provocadas pela gestação, que afetam a sua autoimagem e autoestima. Esse estado de autodepreciação é agravado pela insegurança no cuidado com seu bebê, decorrente da sua inexperiência e imaturidade.

4.2 Sentimento de ser mãe

Em concordância com os dados da literatura, foi consenso neste estudo que a maternidade é uma vivência difícil, devido à falta de experiência e insegurança diante de uma nova situação que demanda muita responsabilidade, mas que pode ser desempenhada a contento pela mãe adolescente (SANTOS; SCHOR, 2003). Assim, ficou claro que a chegada do filho foi uma condição que despertou medo nas entrevistadas, pois elas se julgavam despreparadas para cuidar de um recém-nascido, mas também trouxe a superação com a vivência dos cuidados maternos que possibilitou a descoberta do sentimento de ser mãe.

Para Falcão e Salomão (2005), é muito significativo o suporte emocional oferecido pelos familiares para que as mães sejam mais responsáveis no exercício da maternidade. Dessa forma, observou-se que as jovens que tiveram o apoio materno apresentaram uma melhor aceitação da condição de mãe ao expressarem sentimentos como os de "felicidade", "carinho", "algo muito bom" e "amor muito grande". Somente para uma jovem mãe o sentimento de ser mãe é ambivalente, o que pode ser justificado pela falta do apoio materno e pela ausência da figura paterna em sua vida. Assim, é citado na literatura que mães-adolescentes que viveram situações de abusos na sua infância apresentam risco quanto à qualidade dos cuidados dispensados ao próprio filho, caracterizado por perturbações afetivas e cognitivas que impedem essas mães de serem atentas aos seus filhos (BIGRAS; PAQUETTE, 2007).

Violeta entregou a guarda de seu filho para a avó paterna e, por isso, afirma não saber o que é ser mãe, já que todas as atribuições do cuidado materno foram exercidas pela sogra. A análise de sua entrevista revela uma subordinação à figura da sogra, bem como a supressão da condição de mãe à qual foi submetida. Camélia, que também mora com a sogra, disse que o filho gosta mais de ficar com a avó porque foi ela quem cuidou dele. Nesse contexto, é fácil perceber que a falta de preparo/inexperiência das adolescentes é vista pelos familiares como um fator facilitador para que o papel de mãe passe a ser exercido pelas avós. Em acordo com a literatura, pode-se perceber que as jovens mães que moram com seus familiares de origem ou com familiares de seus companheiros sofrem uma subordinação à "dona da casa", que assume ou ajuda nas tarefas da maternidade, exercendo mais influência que elas na educação das crianças (FALCÃO; SALOMÃO, 2005).

No entanto, para as outras mães, a responsabilidade materna para cuidar do filho fez com que elas amadurecessem e foi o principal significado da maternidade. Assim, foi possível observar nos discursos que a aceitação da maternidade, a descoberta do amor materno e todos os cuidados atribuídos ao filho, como amamentar, dar banho, trocar, brincar, foram condições essenciais para que as nossas jovens passassem a ver a vida de uma forma mais compromissada e humana. Para essas adolescentes, o recém-nascido representa uma gama de sentimentos positivos, a extensão de sua própria vida e o responsável direto tanto pela motivação renovada e pelo crescimento psicológico, quanto pelo processo de amadurecimento materno, que as fazem perceber o compromisso da maternidade. Dessa forma, muitas afirmaram que hoje compreendem melhor seus pais e atribuem esse fato à chegada do filho. Assim, para elas, ser mãe é uma solicitude do ser, é aprender com o filho e, claro, é renunciar a muitas coisas por ele. Na literatura pesquisada, Amazarray et al. (1998) e Esteves e Menandro (2005) mostram que a maternidade vem sendo algo muito positivo e que fez com que as adolescentes amadurecessem, pois elas relatam que assumir e cuidar de seus filhos vem sendo a vivência mais importante pela qual já passaram, inclusive amenizando sentimentos de arrependimento por haver engravidado na adolescência.

Mães-adolescentes abusadas emocionalmente no seu ambiente são mais indiferentes aos sinais do bebê do que as outras mães, o que pode explicar tanto perturbações afetivas como cognitivas, que impedem essas mães de serem atentas aos seus filhos (BIGRAS; PAQUETTE, 2007). Condições e características maternas, como insensibilidade, distúrbios psicológicos depressivos crônicos, ansiedade extrema, manifestos nas relações iniciais ou durante o curso da infância, afetam adversamente o desenvolvimento infantil. Altos níveis de ansiedade materna, desinteresse maternal ou inconsistências nos cuidados são extremamente relevantes ao status de desenvolvimento emocional, social e cognitivo dos infantes (ZAMBERLAN, 2002). Assim, foi possível concluir que, para uma participante, o abandono do pai, que marcou sua infância, a rejeição da mãe pela sua condição de mãe adolescente e o abandono do pai de sua filha são condições que interferem na construção da sua identidade materna, fazendo com que ela transfira para a filha todo o sofrimento de uma vida difícil e infeliz, explicando, assim, uma relação mãe-filho conflituosa.

Sobre o sentimento pelo filho, todas disseram gostar do mesmo, atribuindo a ele um amor diferente de todos os outros, que é forte e que as tornam capazes de qualquer sacrifício pelo filho. Todas desejam um futuro bom para o filho, que é descrito aqui como a oportunidade para os estudos, trabalho e a construção de uma família feliz. Assim como na literatura (SANTOS; SCHOR, 2003), fica nítido o desejo de que os filhos não tenham a mesma vida sofrida que elas, e nos casos em que se têm meninas, que elas não dependam economicamente do homem e nem engravidem na adolescência.

4.3 Mudanças percebidas ao vivenciarem a experiência de ser mãe

É importante ressaltar aqui que, para a sociedade, conceber e criar filhos são papéis culturalmente atribuídos às mulheres, sendo que o exercício da maternidade requer reajustes das adolescentes tanto nas mudanças de postura quanto na aceitação das alterações do corpo (ZAMBERLAN, 2002). Assim, a adolescente defronta-se com as mudanças corporais que a gestação provoca, o que afeta sua autoestima, interfere no padrão do sono, no repouso, na alimentação e no lazer, sem contar a sobrecarga financeira que priva seus investimentos pessoais (FOLLE; GEIB, 2004). Para as participantes deste estudo, as mudanças no corpo, trazidas pela gravidez, foram consideradas normais, sendo que elas relatam ter se sentido bem durante a gestação. No entanto, apenas Violeta não aceita as transformações ocorridas em seu corpo, pois acha que ficou gorda e muito feia. Esse fato pode ser justificado pela gravidez indesejada e pelo medo de perder o namorado, pois havia o receio de que ele a achasse gorda e feia. Apenas as noites mal dormidas é que foram relatadas por muitas como uma experiência muito difícil, mas com a qual se acostumaram. Dessa forma, é possível concluir que a vontade de exercer a maternidade e a responsabilidade com o filho fez com que elas estivessem atentas a todas as necessidades do recém-nascido.

A maternidade foi um processo dotado de significados diversos: para Camélia, a chegada do filho fez com que as pessoas a sua volta dessem mais atenção a ela e a entendessem melhor; já para Rosa, a gravidez foi tida como uma oportunidade para se casar. Assim, a gravidez/maternidade envolve dimensões complexas, o que remete tanto à mudança de status, quanto à reafirmação de projetos de mobilidade social, sendo referida como parte de um projeto de vida, uma espécie de passaporte para entrar na vida adulta e ser reconhecida pela família e por colegas da escola como tal (PANTOJA, 2003). Para as outras jovens deste estudo, a maternidade trouxe mais responsabilidade em suas vidas, pois, para muitas, foi necessário "amadurecer da noite para o dia", abandonando a sua vida adolescente e assumindo o papel de mãe. De acordo com a literatura, tornando-se mães, essas adolescentes encontraram uma definição que, segundo imaginam, permite que saiam da condição de menina, identificando-se com a figura de sua própria mãe e cumprindo também a determinação social da maternidade (SILVA; SALOMÃO, 2003).

Neste estudo, foi possível observar que todas as mães adolescentes disseram ter largado os estudos na época da gravidez. Passado esse período, observou-se que apenas uma retomou os estudos, sendo que cinco delas manifestaram o desejo de voltar, mas não escondem a dificuldade que seria para conciliar estudo, trabalho e o cuidar do filho. Foi visto que algumas jovens relatam a impossibilidade de estudar como a única privação que a maternagem adolescente trouxe às suas vidas. Assim, a importância dos estudos para o projeto de mobilidade social assume lugar de destaque e encontra-se presente na fala da maioria como um fator propulsor para a conquista de um futuro melhor. No entanto, duas jovens revelaram que nunca gostaram de estudar e que a gravidez foi bem um pretexto para largarem a escola. Os achados da literatura (DIAS; AQUINO, 2006) permitem concluir que os jovens pais/mães apresentam baixa escolaridade e inserção mais precoce no mercado de trabalho, e essa situação não aparece como consequência direta da gravidez na adolescência. O percurso escolar desses jovens é marcado por interrupções do estudo que antecedem esse evento, assim como o início das atividades remuneradas. Assim, o nascimento da criança, muitas vezes, configura-se em mais um motivo de interrupção dos estudos dentro de um itinerário escolar já entrecortado. 

Neste estudo, chama atenção a falta de sonhos referida pela maioria. Em muitos relatos, foi possível perceber que as jovens não têm mais sonhos e que elas atribuem isso a sua nova condição, pois começaram a namorar muito novas, depois engravidaram e se tornaram precocemente mulheres. Não se achou na literatura pesquisada algo que pudesse justificar essa situação; no entanto, conclui-se que, para elas, toda a expectativa de um futuro está limitada por uma situação que não pode ser mudada - é como se a condição de mãe adolescente tivesse roubado dessas jovens o direito de sonhar.

Pela experiência vivida de maternidade precoce, nossas jovens amadureceram e estão prontas para aconselharem e, por isso, nas mensagens para adolescentes, aconselham que elas não engravidem tão cedo, que tenham juízo e que se previnam. Falam ainda que, se acontecer a gravidez, é necessário olhar para frente e seguir sempre firme. Para os pais, os conselhos são para que eles apóiem suas filhas, que não as julguem e que também pensem nas palavras que vão dizer a elas. Assim como sugere a literatura (SANTOS, 2006), fica claro que as jovens expressam nessas mensagens tudo o que elas viveram com a gravidez adolescente, pois, embora tenham sido comuns as palavras de arrependimento por serem mães tão novas, houve uma superação concretizada pela aceitação da maternidade. E quando elas afirmam que o apoio dos pais é importante, deixam transparecer que o sentimento de desaprovação/rejeição inicial por eles foi muito marcante e que foi fundamental a ajuda recebida nos primeiros cuidados para com o filho.

4.4 Cuidados com o filho

Folle e Geib (2004) e Esteves e Menandro (2005) retratam o cuidado materno como um exercício difícil e conflitivo, ora representado pela apropriação do filho, ora confrontado com a insegurança e o despreparo, a dependência, a infantilidade e, principalmente, com o conflito de identidade, que faz a adolescente perceber-se pouco competente como cuidadora do bebê. Neste estudo, muitas jovens reconheceram que tinham "insegurança", "medo de não saber cuidar", "de não saber o que ele queria", retratando, assim, a condição de adolescente despreparada que necessitava da acolhida materna. Assim, foi possível observar em quase todos os relatos que o cuidar do filho foi tido como um aprendizado diário, como uma busca pela superação e afirmação da condição de mãe. Foi evidente aqui que o apoio da família foi essencial para que as jovens mães aprendessem a cuidar dos seus filhos e estivessem atentas às suas necessidades, sendo muito relevante a presença da mãe, da irmã ou mesmo da sogra. Isto se justifica ao se analisarem as relações humanas, nas quais é possível observar que o apoio da figura dotada de maiores conhecimentos transmite confiança ao seu próximo, fazendo com que ele se sinta mais seguro e mais capacitado com a sua presença. A literatura revela que a participação dos avós maternos é sempre significativa, caracterizando práticas familiares de suporte financeiro, auxílio e solidariedade de pais com seus filhos, cumprindo, assim, em relação aos netos, as funções parentais (DIAS; AQUINO, 2006).

O nascimento do filho determina, para qualquer mulher, um conjunto de preocupações das quais é impossível eximir-se e que tem impacto óbvio, urgência e prioridade superior a qualquer outra atividade (ESTEVES; MENANDRO, 2005). Para as mães deste estudo, o cuidar do neném trouxe a necessidade do aprendizado diário e isso fez com que elas renunciassem às noites de sono tranquilo, o que foi descrito como algo muito difícil, e superassem as dificuldades e o medo de dar banho, trocar fralda e amamentar. Aqui, chama atenção o fato de o aleitamento materno ter sido descrito por todas as jovens como uma experiência terrível, muito incômoda e dolorosa. Foram inúmeras as dificuldades citadas: leite empedrado, fissuras no mamilo, infecções e falta de suporte emocional/social para realizarem a amamentação. Dados da literatura revelam que a experiência de amamentação é incômoda, aversiva e envolve dor e desconforto, mas é visível o reconhecimento da importância da amamentação para a saúde e o desenvolvimento dos filhos, assim como, é claro, o sentimento de que é um momento muito especial da ligação afetiva e de dependência entre mãe e filho (ESTEVES; MENANDRO, 2005). Aqui foi possível reconhecer que a importância da amamentação para o filho fez com que muitas jovens continuassem a realizá-la, superando suas dores e angústias, vencendo todo o sofrimento. No entanto, algumas jovens não prosseguiram o aleitamento por julgarem o leite fraco, sem sustento, ou mesmo por não superarem as dificuldades que essa condição trouxe. Fica evidente, então, a falta de conscientização sobre a importância do aleitamento materno e também a carência de programas assistenciais que deem apoio às mães para que elas realizem a amamentação.

4.5 Importância ou não da presença do parceiro na maternidade das jovens entrevistadas

Soares e Carvalho (2003) abordam que, culturalmente, a identidade da mulher é muito ligada ao casamento e ao papel de esposa e que ela enfrenta grandes dificuldades na ausência do companheiro com a chegada do filho. Dessa forma, constatou-se com o estudo que muitas jovens viam a presença do parceiro como uma condição básica para que não fossem rotuladas como mãe solteira e para que tivessem com quem dividir a responsabilidade de cuidar/educar os filhos. Foi unânime o reconhecimento da presença positiva do parceiro, bem como a segurança, o apoio e o amor que ele trouxe durante o período de maior sensibilidade que foi a gravidez. Para elas, esse foi um fator que amenizou o medo que a maternagem precoce traz e, dessa forma, foi possível superar as mudanças físicas e psicológicas acentuadas pela sua condição de gestante adolescente.

Também foi inquestionável que a ausência do companheiro seria muito sentida, a ponto de três jovens atribuírem a existência do filho a essa presença, pois, para elas, na ausência dele a gravidez não teria chegado ao fim e, se fossem mães solteiras, não seriam mães dedicadas e presentes. Não foi possível estabelecer uma associação direta desse achado com dados da literatura, mas considerando-se o grupo em estudo, conclui-se que há uma relação entre a presença do companheiro e cuidado integral para o filho, como se essas jovens necessitassem do suporte oferecido pelos parceiros para exercer o papel de mãe, não tendo que se afastar do lar para trabalhar. Assim, a literatura mostra que rapazes e moças em união conjugal apontam o pai como principal responsável pelo sustento da criança. Esse é um aspecto carregado de significados morais para os homens, pois a possibilidade de prover os filhos compõe, em grande medida, a identidade masculina (DIAS; AQUINO, 2006; JARDIM et al., 2009).

Dados da literatura afirmam que as situações que envolvem ruptura do vínculo conjugal são, muitas vezes, retratadas como momentos de muita dificuldade, que marcam de forma negativa a vida da mulher e geralmente ocasionam quadros depressivos (MACÊDO, 2001; SANTOS, 2006), pois a falta de suporte social, principalmente da mãe da adolescente e do companheiro, ou sua presença conflituosa, é considerada fonte importante de estresse (SOARES; CARVALHO, 2003). Em consenso com esses dados, foi possível concluir que o abandono pelo parceiro foi uma experiência traumática vivida por uma entrevistada, acabando com seus sonhos e suas expectativas de uma vida a dois. Dessa forma, a ausência do parceiro resultou na sua dificuldade em estabelecer uma relação mãe-filho de forma efetiva, na sua tentativa de suicídio, nos quadros depressivos que apresenta e na falta de perspectiva para sua vida.

 

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Trabalhar com a metodologia qualitativa foi muito gratificante, pois a coleta de dados despertou em nós a importância da condição de ouvinte vivida pelo entrevistador, tornando-nos mais sensíveis para vivenciarmos a relação médico-paciente.

Cada entrevista foi muito marcante, ora pela dificuldade de acesso às residências, ora pela simplicidade das casas e de seus moradores, e também pela história de vida de cada participante. Fomos sempre bem recebidos em todas as casas, sendo que, em algumas, tomamos café e falamos sobre a vida e, em outras, fomos convidados a voltar quando quiséssemos. Ficamos encantados com a satisfação que aquelas jovens tinham ao nos receber e também com a tamanha felicidade diante de uma vida tão simples. Por meio de tudo que se observou, foi possível conhecer uma realidade bem diferente da nossa, talvez nem imaginada por alguns, mas já citada nos versos de Gente Humilde, em 1969, por Chico Buarque de Holanda e Vinícius de Moraes:

... E aí me dá uma inveja dessa gente

Que vai em frente sem nem ter com quem contar

São casas simples com cadeiras na calçada
E na fachada escrito em cima que é um lar
Pela varanda flores tristes e baldias
Como a alegria que não tem onde encostar

E aí me dá uma tristeza no meu peito
Feito um despeito de eu não ter como lutar
E eu que não creio peço a Deus por minha gente
É gente humilde que vontade de chorar.

É preciso relatar ainda que, muitas vezes, ficamos sem entender como era possível uma jovem que acabara de nos conhecer falar da sua vida, dos seus sonhos e de suas frustrações. Observamos, então, que foi impressionante a necessidade que muitas tinham de se expressar. Assim, cada entrevista representou um momento de resgate de seu passado, a oportunidade para cada jovem analisar, do seu ponto de vista, uma história que só foi sentida e vivida por ela. Era como se, naquele momento, cada uma tivesse a possibilidade de refletir pela primeira vez sobre sua vida e sobre sua condição de mãe adolescente, além de ser escutada por alguém que estava ali só para ouvir e não para julgá-la ou recriminá-la.

Este estudo mostra que a adolescente é sim capaz de manter uma relação afetiva e efetiva com o seu filho, sendo o apoio dos familiares e do companheiro muito importante para que elas tenham um suporte emocional, social e econômico no exercício da maternidade. Assim, tomamos conhecimento do mundo que envolve a maternagem adolescente e, a partir disso, podemos tecer algumas considerações:

1)  o acompanhamento de gestantes adolescentes deve ser realizado buscando-se integrar a presença dos pais/companheiros nas consultas, pois é de conhecimento de todos que o suporte familiar para que a mãe-adolescente exerça plenamente a maternidade é muito importante;

2)  como ficou claro neste estudo e assim como relatos na literatura, o aleitamento materno é uma tarefa difícil e incômoda. Dessa forma, programas que estimulem a amamentação, que esclareçam sobre a importância do leite materno, bem como o suporte de bancos de leite devem ser aperfeiçoados, pois é senso comum que o aleitamento, muitas vezes, é realizado de maneira ineficaz e ainda é dotado de mitos como o "leite fraco, que não sustenta o filho";

3)  foi possível perceber que a mãe adolescente é capaz de estabelecer uma relação mãe-filho sólida, sendo que o paradigma que torna a adolescente incapaz de ser mãe pela sua pouca idade deve ser abolido da sociedade, por ser inconsistente e preconceituoso;

4)  a gravidez na adolescência é uma experiência difícil e conflituosa e, embora muitas jovens não tenham expressado claramente o arrependimento que essa condição lhe trouxe, todas dizem que as adolescentes deveriam se prevenir e só se tornarem mães mais tarde. Assim, campanhas sobre métodos contraceptivos devem ser mais abrangentes e conversas sobre sexo devem ser mais estimuladas no ambiente familiar.

Como sugestão para estudos futuros, é importante acrescentar no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido os maiores números de informações para localizar mais facilmente a participante, pois neste trabalho o único meio para contato que tínhamos era o número de telefone, sendo que muitos desses nem existiam mais ou eram de outros locais. E considerando-se ainda a maternidade na adolescência, é importante ressaltar que estudos que busquem a realidade dos filhos dessas jovens mães devem ser estimulados, a fim de se conhecerem aspectos semelhantes ou não na infância de cada um.

 

REFERÊNCIAS

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Artigo recebido em: 02/02/2011
Aprovado para publicação em: 12/03/2011

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