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Mental

versão impressa ISSN 1679-4427versão On-line ISSN 1984-980X

Mental vol.14 no.25 Barbacena jan./jun. 2022

 

EDITORIAL

 

Editorial

 

 

A Revista Saúde Mental e Subjetividade do UNIPAC apresenta nesta publicação o seu número 25, com a nossa satisfação e empenho em fomentar o debate sobre temas afins ao seu escopo. Esta edição apresenta oito artigos e uma resenha os quais mantêm a acuidade e a seriedade que requerem as discussões sobre o cuidado e as tratativas em saúde mental, envolvendo os que sofrem psiquicamente. O cuidado nesta área torna-se ainda mais relevante diante do cenário global atual, de instabilidade emocional agravada pela pandemia, além da nossa realidade de serviços, infraestrutura e recursos mais escassos.

Seis dos artigos aqui publicados tratam da disponibilidade de serviços às pessoas dependentes da atenção do poder público para minimizarem os seus conflitos. Eles são de ordem subjetiva e, indissociavelmente, de ordem psicossocial. Em pesquisa documental e descritiva, realizada por Sei, Trevisan, Skitnevsky e Tsujiguchi, do curso de Psicologia da Universidade Estadual de Londrina, foi realizado um levantamento sociodemográfico de usuários da clínica-escola e encontrados resultados semelhantes àqueles observados em outras unidades de atendimento do mesmo tipo. O artigo reforça a importância desse tipo de pesquisa para o planejamento de ações e inovações de práticas psicoterapêuticas voltadas para os públicos identificados.

Ainda no âmbito da formação de psicólogos, temos o trabalho de Chamusca, Jucá e Rodrigues que relata uma interessante experiência de estágio na cidade de Salvador (BA), desenvolvida entre pessoas vulneráveis, em situação de rua e usuárias de substâncias psicoativas. O trabalho interdisciplinar, pautado pela lógica da redução de danos e pelo cuidado territorializado, ofereceu canais efetivos de expressão àquelas populações, canais muitas vezes bloqueados pelos velhos novos problemas do racismo estrutural, da necropolítica e do autoritarismo.

O trabalho de Dimenstein, Macedo e Fontenele traça um amplo panorama da atenção primária à saúde mental no Brasil e mostra que obstáculos macro e micropolíticos, historicamente construídos e atualizados, têm feito aumentar distorções, interrupções e esvaziamento das boas práticas. O artigo de Dias, Perez e Reuter, referente aos serviços prestados numa unidade de urgência e emergência psiquiátricas de um hospital do interior do RS, contribui com reflexões sobre os diferentes aspectos dos cuidados oferecidos, ilustra acertos e evidencia problemas com o uso prevalecente de medicação, que mais controla do que cuida dos pensamentos e comportamentos humanos, prática infelizmente corrente, que talvez explique em parte a não-adesão de usuários aos serviços de atenção psicossocial.

Lopes, Paulon e Pasche relatam uma pesquisa realizada em um CAPS de Porto Alegre que aponta pistas importantes sobre esse problema. Conforme observam as autoras, "sem um pouco de disposição para a escuta, os profissionais podem produzir maus encontros" e, consequentemente, os usuários não se movam para os tratamentos oferecidos; alguns procuram ou inventam outras formas de cuidarem de si. Infelizmente nem todos têm êxito nesse processo e o problema se coloca para os profissionais das RAPS, e eles precisam trabalhar no sentido de criarem os dispositivos para a "produção de vida", incluindo o "desejo do usuário", como assinalam as autoras.

Chegamos ao artigo de Santos, Lima e Motta que nos apresenta uma metodologia psicanalítica que mostra, através do exemplo de um usuário atendido em um hospital psiquiátrico estadual, que é justamente a escuta da voz desejante de alguém em sofrimento o que o possibilita romper com quaisquer absolutos e criar saídas inéditas. O caso é ainda mais relevante para pensarmos a atenção à singularidade de cada um, quando somos informados de que o caso apresentado é de um indivíduo em posição subjetiva psicótica.

Em uma perspectiva diferente, o trabalho de Rocha e Xavier chama a nossa atenção para uma tendência quase invisível, bem destacada pelos autores: a de que os discursos religiosos têm assumido formas e meios de expressão muito semelhantes aos das psicologias, quando midiatizadas, ainda que com outros fins. O artigo serve como um alerta a psicólogos e entidades representativas de que as fronteiras entre saberes religiosos e saberes psi possam talvez estar, como afirmam os autores, "esgarçadas".

O trabalho de Pastana e Bortolozzi traz abordagem igualmente interessante sobre o tema do prazer em intervenções de educação sexual com foco sobre os adolescentes, e sugere, dentre outras ideias, que a repressão sexual pode assumir formas inusitadas - como, por exemplo, a criação de um imperativo de prazer.

Fechamos este número com a resenha do livro "A vontade de sentido", de autoria do psiquiatra Viktor Frankl, como uma indicação de leitura. A obra traz aspectos dos sistemas da logoterapia; o vazio existencial percebido pelo autor em indivíduos da sua época é embasado por uma questão de fundo, que é o sentido de existirmos.

Por último, agradecemos sinceramente a todos os que colaboraram para esta edição - os autores que publicam conosco; os pareceristas do nosso Conselho Científico, generosos parceiros que contribuem para a qualidade dos trabalhos selecionados; a toda a equipe de secretaria, biblioteconomia, revisão de textos e editoração; ao Reitor e aos Pró-reitores do UNIPAC, por acreditarem e investirem neste projeto.

 

 

A todos que nos acompanham, desejamos uma proveitosa e crítica leitura!

Os Editores.

Barbacena, 2022.

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